"Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto
mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?" (Mt 7:11)
Por
que Jesus classificou os homens que não entraram pela porta estreita como sendo
'maus'? Como é possível alguém ser 'mau' e fazer coisas boas? Como é possível não
haver quem faça o bem, se é possível ao homem fazer 'boas coisas'? Quando o homem
passou a ser mau?
Estas
e outras perguntas serão respondidas ao longo deste artigo. Boa leitura.
Antes
de demonstrar aos cristãos em Roma que todos os homens pecaram e que todos foram
destituídos da glória de Deus (Rm 3:23), o apóstolo Paulo citou algumas passagens
do Livro dos Salmos que dá sustentação à sua declaração, e dentre elas destacamos
a seguinte: "Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há
quem faça o bem, nem um se quer" (Sl 14:3 ; Ro 3:12).
O
apóstolo Paulo chegou à conclusão que 'todos os homens pecaram' com base no exposto
pelo salmista, visto que, 'todos os homens se desviaram e juntamente tornaram-se
imundos'. Ora, se a humanidade tornou-se imunda quando desviou do Criador, concomitantemente,
todas as ações dos homens foram e estão 'contaminadas'. Por torna-se imundo quando
se desviou, não há um homem se quer que faça o bem, ou seja, as ações dos homens
também se tornaram imundas.
Após
demonstrar que todos os homens pecaram (desviaram), o apóstolo dos gentios apresenta
as nuances de como todos os homens se fizeram imundos (pecaram). Ele demonstra que
por um homem (Adão) entrou o pecado no mundo (Rm 5:12), e que, 'em Adão' toda a
humanidade pecou "Pois, como pela desobediência de um só, muitos foram feitos
pecadores..." (Rm 5:19).
A
condição 'em pecado' além de comprometer a natureza, também comprometeu as ações
dos homens. Do mesmo modo que a lei de Moisés estabelecia que tudo quanto um homem
imundo tocasse tornava-se igualmente imundo, tudo quanto um pecador faz também é
tido como sendo imundo, ou seja, proveniente do pecado ou do mau, portanto, conclui-se
que não há quem faça o bem.
Ora,
quando Jesus apontou para os seus ouvintes e disse que eles eram 'maus', Ele fez
referência ao 'mal' que afetou todos os homens quando se desviaram: o pecado. Por
causa da ofensa de Adão todos os homens passaram a compartilhar de uma natureza
que é 'oposta' à natureza de Deus "A inclinação da carne é morte,
mas a inclinação do Espírito é vida e paz" (Rm 8:6).
Deus
é luz, e os homens passaram à condição de trevas. Deus é vida, e os homens divorciados
do Criador passaram à condição de mortos, ou seja, o homem passou a ter uma natureza
alienada da vida que há em Deus. Portanto, Deus é vida e paz, e a natureza herdada
de Adão é morta e em inimizade com Deus.
Tal
condição herdada de Adão é repassada de pai para filho, como bem declarou o salmista
Davi: "Certamente em iniqüidade fui formado e em pecado me concebeu
a minha mãe" (Sl 51: 5). O pecado é o elemento intrínseco à natureza do homem
sem Deus, e, por causa desta natureza sem Deus, Jesus nomeou os seus ouvintes, homens
que ainda não haviam entrado pela porta estreita (nascido de novo), de serem efetivamente
'maus'.
Por
causa da desobediência de Adão toda a geração dele é designada má diante de Deus
(Nm 32:14 ; Mt 12:39). E não somente isto, tudo que proferem e todas as suas ações
também são más "Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore
má produz frutos maus" (Mt 7:17).
Ao
declarar que os seus ouvintes eram 'maus', Jesus queria que compreendessem que é
impossível ao homem imundo, fruto de uma geração má, produzir o que é puro. Jesus
estava respondendo uma questão que desde os primórdios persistia: Como é possível
ao imundo produzir o que é puro? "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém" (Jó 14:4).
O
imundo não consegue produzir o que é puro! Embora muitos homens saibam 'dar boas
dádivas aos seus filhos', diante de Deus são 'maus', visto que, por serem gerados
segundo Adão, foram criados imundos, ou seja, na condição de vasos para desonra.
Mesmo sabendo dar boas dádivas aos seus filhos, as suas 'boas dádivas' diante de
Deus são comparáveis a trapos de imundície, visto que suas obras não são feitas
em Deus (Jo 3:19; Jo 3:20 e Jo 3:21).
Obs.:
Somente fazem 'boas obras em Deus' aqueles que estão 'em Cristo', ou seja, que crêem
na mensagem do evangelho. A todos que não aceitaram a Cristo persiste a declaração
do Salmista Davi: "Não há quem faça o bem"!
Por
ser impossível ao imundo produzir o que é puro, conclui-se que 'não há quem faça
o bem'. Por mais que um pecador (homem mau) se aplique em fazer coisas boas (dar
boas dádivas), todas as suas obras são más, pois elas não são feitas em Deus.
Conforme
o que Jesus ensinou fica demonstrado que não são as ações dos homens que determinam
quem é mau ou bom diante de Deus. Observe:
"Se
vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto
mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?" (Mt 7:11);
"Raça
de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do
que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt 12:34);
"Uma
geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal
do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se" (Mt 16:4).
Não são boas
ações e nem bons discursos que determinam quem é bom ou mau diante de Deus, visto
que, mesmo sendo maus, os homens sabem dar boas dádivas aos seus semelhantes. O
que determina se um homem é bom ou mau é a sua geração (Pv 30:12).
O evento
que estabeleceu o 'mau' sobre a humanidade (separação entre Deus e os homens) foi
a ofensa de Adão (Rm 6:19). Em Adão a humanidade tornou-se imunda (má). Através do nascimento natural todos os homens entram pela
porta larga (Adão) e seguem por um caminho que os conduz à perdição (Mt 7:13).
Quando a bíblia diz que o homem é mau, é o mesmo que dizer que o homem é imundo,
pecador, trevas, inimigo, em suma, todos esses adjetivos referem-se a uma única
condição: o homem separado de Deus.
Do mesmo
modo que toda árvore produz frutos segundo a sua espécie, assim também ocorre com
os homens. É impossível que o homem separado de Deus produza o bem, do mesmo modo
que é impossível que o homem unido a Deus por intermédio de Cristo produza o mau.
Jesus disse: "Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto" (Lc 6:43).
Jesus também
demonstrou que uma das funções do fruto é tornar possível identificar se uma árvore
é boa ou má "Ou fazei a árvore
boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo
fruto se conhece a árvore" (Mt 12:33). Ora, é impossível mudar a natureza de uma árvore através do fruto,
visto que através do fruto só é possível identificar se a árvore é boa ou má.
O que determina
se uma árvore é boa ou má? A resposta é simples: a semente. Do mesmo modo que as
espécies das árvores estão vinculadas à semente, assim também são os homens: através
da semente corruptível de Adão surgem os homens maus, e através da semente incorruptível,
que é a palavra de Deus, surgem os homens bons. Enquanto estes são árvores de justiça,
plantação do Senhor, aqueles são plantas que o Pai não plantou, fadadas a serem
arrancadas e lançadas no fogo (Mt 15:13).
Por causa
da transgressão de Adão pereceu da terra o homem piedoso. Desde a queda deixou de
existir entre os homens quem fosse reto por serem todos gerados segundo a semente
de Adão (Mq 7:2 ; Pv 30:12). Porém, através do último Adão, que é Cristo, os homens
piedosos, retos e bons surgiram sobre a terra.
O que determina
a condição de pecado do homem (mau) não são as suas ações e nem as suas convicções,
antes, ser gerado da semente corruptível, a semente de Adão. Não são os frutos que
determinam as espécies das árvores, porém, através do fruto somente é possível verificar
e conhecer se a árvore é boa ou má.
É por isso
que Jesus apontou a necessidade dos homens nascerem de novo. Todos precisam ser
gerados da semente incorruptível (Jo 3:5 ; 1Pe 1:23), para que possam escapar da
condenação proveniente da semente de Adão.
Sobre esta
verdade profetizou o profeta Isaias: "A ordenar acerca dos tristes de Sião que se
lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de
louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça,
plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado" (Is 61:3).
Quando
Jesus anunciou no Sermão do Monte que os que choram (tristes) são bem-aventurados,
ele estava oferecendo aos seus ouvintes a Glória de Deus em lugar de destruição
(cinza). Para tanto, eles precisariam receber a semente incorruptível (a palavra
de Deus) para tornarem-se árvores de justiça, plantação do Senhor. Somente os nascidos
de Deus não serão arrancados "Toda planta que meu Pai celestial não plantou,
será arrancada" (Mt 15:13).
Fica
demonstrado através dos versículos acima que todos que nasceram segundo Adão são
maus e não fazem o bem. Porém, todos que nascerem de novo através da palavra (água)
do Espírito Eterno são bons diante de Deus, e produzem o bem (Jo 3:5 ; Ez 36:25
- 27) "Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore
má produz frutos maus" (Mt 7:17).
Em
resumo: quando Jesus nomeou os homens de 'maus', ele estava fazendo referência à
natureza pecaminosa herdada de Adão, visto que a sujeição ao pecado é proveniente
da desobediência (ofensa) de Adão.
"Assim,
toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus" (Mt 7:17).
Durante
a exposição no Sermão do Monte Jesus apresentou algumas figuras para ilustrar princípios
espirituais.
Ao
perguntar: "Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" (Mt 7:16), Jesus
evidencia aos seus ouvintes um princípio espiritual. Ora, que não se colhem uvas
dos espinheiros e figos dos abrolhos é evidente, porém, muitos desconhecem que através
desta pergunta Jesus tornou evidente que este princípio também rege a humanidade.
Assim
como é próprio das árvores produzirem frutos, Jesus demonstra que toda a árvore
boa, sem exceção, produz bons frutos, e que, toda árvore má, sem exceção, produz
frutos maus. Produzir fruto não depende de esforço por parte da árvore, como se
fosse meritório produzi-los. Produzir fruto conforme sua espécie é próprio à natureza
da árvore, do mesmo modo que é próprio ao homem sem Deus produzir o mau, e ao homem
que está em Deus produzir o bem (Mt 7:17).
O
princípio da impossibilidade aplica-se tanto a árvore boa quanto a árvore má: ambas
não podem produzir algo diverso à sua natureza. É impossível a árvore má produzir
bom fruto, assim como é impossível a árvore boa produzir maus frutos (Mt 7:18).
Como mensurar esta impossibilidade? Ora, através da declaração de Jesus: "Colhem-se
uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?" (Mt 7:16). Não! Portanto, você
pode receber boas ações ou dádivas dos homens sem Deus (maus), mas apesar das boas
dádivas, os seus frutos não são bons.
Toda
árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo! (Mt 7:19). Como produzir
bom fruto não é algo meritório, antes é algo pertinente à natureza
da árvore, conclui-se que o homem não será lançado no fogo eterno por se aplicar
ou não as 'boas dádivas', antes será lançado no fogo eterno por não pertencer à
plantação do Pai Eterno "Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada" (Is 61:13).
Quando
Deus estabeleceu a sua plantação de árvores de justiça? Qual a semente que dá origem
a plantação do Senhor? Como conhecer aqueles que são plantação de Deus?
Jesus
é claro: pelo 'fruto' se conhece a árvore, ou seja, é possível conhecer os falsos
profetas pelo fruto. É necessário reconhecer os falsos profetas (principalmente)
porque eles vêm disfarçados de ovelhas (Mt 7:15 - 16). Não basta ao homem clamar:
"Senhor! Senhor!", como faziam os escribas e fariseus, antes é preciso
fazer a vontade de Deus. E qual é a vontade expressa de Deus? Que os homens creiam
naquele que Ele enviou! (Jo 6:29 ; Jo 20:31 ; 1Jo 3:23).
Somente
após crer em Cristo como diz as escrituras, ou seja, após fazer a vontade de Deus,
torna-se possível ao homem produzir bons frutos.
Qual
é o fruto de um falso profeta? Professar a Cristo, porém, não segundo a verdade
do evangelho! Operar milagres, expulsar demônios e profetizar em nome do Senhor
é a pele de ovelha que os lobos devoradores utilizam para enganar os incautos.
Reiterando:
nem todos que clamam, operam milagres e profetizam são falsos profetas, mas, o fruto
do falso profeta surge dos seus lábios, pois não professam a Cristo conforme a verdade
do evangelho.
Qual
é o fruto bom que produz os que crêem em Cristo? O fruto bom é proveniente dos lábios
dos que crêem em Cristo, onde está contida a semente da verdade do evangelho, ou
seja, o fruto é professar a Cristo segundo as escrituras. É por isso que Jesus protestou
contra os escribas e fariseus que era impossível eles dizerem boas coisas sendo
maus, visto que, quem não é nascido da semente incorruptível (evangelho), não pode,
ou melhor, não consegue professar a verdade do evangelho "Raça de
víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que
há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt 12:34). "Portanto,
ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios
que confessam o seu nome" (Hb 13:15).
Somente
os nascidos da semente incorruptível possuem um novo coração. Somente os que crêem
são bons diante de Deus e produzem frutos bons que contém a semente incorruptível.
Diferente são os falsos profetas, que mesmo clamando 'Senhor, Senhor', o fruto que
produzem é mau e não contém no seu interior a semente incorruptível, ou seja, a
verdade do evangelho.
Profetizar,
expulsar demônios e fazer milagres não é o mesmo que fazer a vontade de Deus. Somente
são 'conhecidos do Senhor' aqueles que fazem a sua vontade, ou antes, aqueles que
têm o seu prazer na lei de Deus (Sl 1:1 - 6).
É
neste ponto em específico que a doutrina de Cristo difere da doutrina de todas as
religiões existentes. Enquanto Jesus demonstra que é impossível aos homens que não
aceitam a mensagem do evangelho fazer o bem, todas as religiões apontam que é possível
ao homem ser salvo fazendo boas ações.
"Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão
um, que é Deus" (Lc 18:19)
O
que motivou aquele homem rico a chamar Jesus de 'Bom Mestre'? Ele estava reconhecendo
a divindade de Cristo? Como conhecedor da lei (Lc 18:21), o homem de 'posição' bem
sabia que somente Deus é bom. Se o homem cumpridor da lei estava querendo pegar
Jesus nalguma questão para acusá-lo, Jesus demonstrou estar atento sobre o real
motivo de aquele homem utilizar aquele qualificativo.
Se
aquele homem houvesse alcançado a mesma revelação que teve o apóstolo Pedro ao professar
que Cristo é o Filho do Deus Vivo, jamais seria questionado por Jesus acerca da
sua bondade "E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo" (Mt 16:16). Porém, a tristeza do homem em tela demonstra que ele não
reconheceu Cristo como sendo o 'Bom Mestre', ou seja, ele não reconheceu Jesus como
sendo enviado de Deus, caso contrário haveria de seguir a Cristo (Jo 3:2).
Na bíblia não encontramos uma definição de Deus, porém, há várias referências que
apontam atributos pertinentes à divindade. Através de Cristo é possível o homem
compreender Deus, visto que, o Verbo encarnado que está no seio de Deus foi quem
O revelou aos homens (Jo 1:18).
Encontramos na bíblia que Deus é Luz, Amor, Vida, Justiça, Ira, Justo, Santo, Reto,
Verdadeiro, Fiel, Imutável, Bom, etc.
De todos os atributos enumerados anteriormente, analisemos a imutabilidade de Deus.
A palavra imutável é proveniente do latim 'immutabile' e refere-se aquilo que não
muda.
Ora, quando a bíblia diz que Deus é imutável, tal atributo vincula todos os outros,
ou seja, jamais Deus deixará de ser amor, vida, justo, santo, etc."Porque
eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" (Ml 3:6).
Através da imutabilidade podemos destacar que Deus jamais há de pecar.
Também entendemos que o pecado refere-se à separação que se estabeleceu entre Deus
e as suas criaturas "Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso
Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça" (Is
59:2). De outra maneira podemos concluir que Deus não pode pecar porque não há como
Deus estar à parte de si mesmo. Não há como se estabelecer uma separação na divindade.
Deus é uno e não há como surgir e inserir na divindade divisão. A unidade da divindade
é algo singular, visto que o vinculo perfeito que une as pessoas da divindade é
o amor (Cl 3:14).
Quando o Verbo encarnado fez referência ao Pai, Ele disse: "Eu
e o Pai somos um" (Jo 10:30), ou seja, mesmo quando Cristo estava em carne, a unidade
com o Pai não se desfez.
Jesus também anunciou que os seus seguidores seriam inclusos nesta unidade, para
que fossem um do mesmo modo que o Pai e o Filho 'são' um"E
eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um"
(Jo 17:22).
Quando o apóstolo Paulo descreveu que todos os homens pecaram e foram destituídos
da glória de Deus, ele enfatizou que o pecado fez com que o homem deixasse
de estar unido a Deus (Rm 3:23). Neste mesmo diapasão, Jesus orou dizendo que, ao
dar aos seus seguidores a glória que lhe foi conferida pelo Pai, todos os
seus seguidores igualmente passariam a ser um com o Pai e o Filho.
Através da análise anterior verifica-se que a glória de Deus concedida aos homens
é o que os tornam unidos a Deus, e o fato de o homem ter sido destituído da glória
de Deus, por causa da desobediência de Adão, ocasionou a separação entre Deus e
os homens (Is 59:2).
Como Deus não pode alienar-se da sua glória, pois a Ele pertence, segue-se que Deus
jamais será sujeito do pecado. Através desta pequena análise conclui-se que o pecado
é o mesmo que separação, alienação, destituição da glória de Deus.
Portanto, quando lemos que Deus é vida, qualquer ser que não esteja unido a Deus
está morto; quando lemos que Deus é Luz, qualquer ser que não esteja unido a Deus
está em trevas; quando lemos que Deus é paz, qualquer ser que não é participante
da glória de Deus está em inimizade com Ele; como lemos que Deus é bom, qualquer
ser que não está em comunhão com Deus é mau.
Deus é bom, e o diabo, por não estar unido a Deus, é mau. Deus é bom, e todos os
anjos que foram destituídos da glória de Deus são maus. Deus é bom, e todos os homens
gerados de Adão são maus porque foram destituídos da glória de Deus. Do mesmo modo
que ser 'bom' é um atributo intrínseco à natureza de Deus, o 'mau' vincula-se a
natureza destituída da glória de Deus, ou seja, o mau designa e é pertinente à natureza
separada de Deus.
Quando a bíblia diz que Deus é bom, ela apresenta o atributo 'bom' em pé de igualdade
com o atributo 'vida'. Do mesmo modo que Deus é 'vida', 'paz' e 'luz', Ele é 'bom'.
Portanto, temos que considerar o atributo 'bom' do mesmo modo que consideramos que
Deus é 'vida'. Como? Ora, não podemos considerar que o atributo 'bom' é algo pertinente
a Sua 'personalidade', ou a um 'caráter' ou que Deus tenha uma 'moral', antes refere-se
a natureza de Deus. O atributo 'bom' vincula-se diretamente à natureza de Deus,
ou seja, por natureza Deus é bom do mesmo modo que Ele é luz, vida, santo, etc.
Deus é bom e retribuirá todos os homens segundo as suas obras. Não é porque Deus
retribuirá os seus adversários com ira que Ele deixará de ser bom. A bondade é um
atributo da divindade que não impede que Ele retribua os homens separados d'Ele
(maus) com ignomínia, e os participantes da sua glória (bons) com alegria eterna "Jubilai, ó nações,
o seu povo, porque ele vingará o sangue dos seus servos, e sobre os seus adversários
retribuirá a vingança, e terá misericórdia da sua terra e do seu povo" (Dt 32:43).
Há muitos estudiosos
que questiona a bondade de Deus por permitir que pessoas sofram com guerras, catástrofes,
pestes, etc. Neste diapasão temos uma resposta dada pelo apóstolo Paulo aos que
questionam a justiça de Deus do mesmo modo que muitos fazem questionando a bondade
de Deus. Paulo reproduz a pergunta que faziam e demonstra que a questão está envolta
em conceitos humanos de justiça "E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos?
Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.)" (Rm 3:4). Analisando do ponto de vista
dos homens: se a injustiça dos homens dá ocasião à justiça Deus, será Ele injusto
trazendo a recompensa merecida (ira) sobre os injustos? (Rm 3:5). A resposta é clara
e precisa: "De
maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?" (Rm 3:6).
Ora, sabemos
que a justiça dos homens é como trapo de imundícies diante de Deus, e que a justiça
de Deus se estabelece em Cristo. A bíblia nos informa que todo homem é mentiroso
por causa de Adão, e que somente em Cristo o homem é verdadeiro (Rm 3:4). Em Adão
estabeleceu-se a injustiça, e em Cristo a justiça. Em Adão deu-se as trevas, em
Cristo há luz. Em Adão todo homem é mentiroso, injusto, trevas e mau, em Cristo
o homem é justo, verdadeiro, luz e bom.
Deus é injusto
quando traz ira sobre os homens? O Apóstolo Paulo demonstra que não! Deus permanece
fiel ante da incredulidade dos homens (Rm 3:3). Do mesmo modo, Deus é bom quando
permite ou retribui com o mal os homens, pois este é o modo justo de Deus tratar
com os homens "De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?" (Rm 3:6). A maldade dos
homens aniquila a bondade de Deus quando Ele retribui com ira os maus? De maneira
nenhuma! Deus é justo e bondoso, mesmo quando retribui com ira e mal os homens maus.
O homem foi criado à imagem e semelhança do Criador, e uma das semelhanças conferida
pelo Criador à criatura foi a impossibilidade de alterar a sua natureza. Deus é
Deus porque é bom, luz, vida, imutável, longanimidade, etc. Sabemos que Deus é único,
em quem não há mudança e nem sombra de variação "Toda a boa dádiva
e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança
nem sombra de variação" (Tg 1:17). Diferente de todas as suas criaturas,
que muitas vezes querem mudar a própria natureza. Exemplo: O querubim da guarda
ungido desejou a semelhança do Altíssimo, porém, ao levar a efeito o seu intento,
não guardou o seu principado e foi precipitado (Is 14:14).
Os homens desejam voar como os pássaros, serem invencíveis, serem como os seres
angelicais, porém, por mais que desejem, não podem alcançar. O Criador, perfeito
em todos os seus caminhos, nem de longe cogitaria em deixar de ser o que é: Deus.
Por quê? Porque ser bom, vida, paz, luz, onisciente, em suma: ser Deus é algo pertinente
à sua natureza imutável.
"Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal;
eu, o SENHOR, faço todas estas coisas" (Is 45:7)
Sabemos que Deus é bom e que todos quantos não compartilham da glória de Deus são
maus. Sabemos que Deus é bom porque Ele é o que é, ou seja, a bondade de Deus está
atrelada a sua natureza. Qualquer que não compartilha da vida que há em Deus, também
não é participante da sua bondade, e, portanto, é mau.
Perceba que o 'mau' é pertinente à natureza do homem caído, e não à sua moral, comportamento
ou caráter (Mt 16:4). É na geração que se determina quem é bom ou mau. Como? Quando
se lê que os homens sendo maus sabem dar boas dádivas, temos que o 'mau' vincula-se
a natureza herdada de Adão. Ora, o mau vinculado à natureza proveniente de Adão
não submete a vontade do homem com relação a dar boas dádivas aos seus semelhantes,
tanto que Jesus notificou os seus ouvintes da capacidade do homem fazer boas ações
aos seus semelhantes.
Mesmo não tendo feito bem ou mal o homem é concebido e gerado em pecado (Sl 51:5).
Por causa da condenação estabelecida em Adão todos os homens desviaram-se e juntamente
tornaram-se escusáveis diante de Deus. Ora, este mau que atingiu a humanidade não
é proveniente de questões morais, comportamentais ou de caráter como muitos entendem.
Quando Miquéias anunciou que pereceu da terra o homem piedoso e que não havia um
homem se quer entre os filhos dos homens que fosse reto, ele estava fazendo alusão
à queda de Adão, onde pereceu da terra o homem piedoso e todos deixaram de ser retos
perante Deus (Mq 7:2).
Sabemos que o mau refere-se a natureza de todas as criaturas alienadas de Deus,
e que Deus é bom em essência, ou seja, jamais Deus será mau, visto que Ele jamais
vai alienar-se de si mesmo, sendo assim, esta condição só é possível às suas criaturas.
Porém, há algumas perguntas que surgem da leitura de alguns versículos, principalmente
daqueles versos que não são analisados dentro do seu contexto. Dentre eles destacamos
o que Deus anunciou por intermédio de Isaias: "Eu faço a paz, e crio o mal".
Para algumas pessoas este verso é utilizado como pretexto para dizer que o Deus
do Antigo Testamento é moralmente maldoso e perverso se comparado a Cristo,
o Deus bondoso do Novo Testamento. Para outros sistemas religiosos Deus é um ser
equilibrado, bom e mau; composto por forças opostas, o 'yin-yang'.
Porém, quando lemos a mensagem transmitida por Deus por intermédio de Isaias na
totalidade, a idéia que nos sobressalta é maravilhosa, e totalmente diversa do pensamento
de alguns homens maus.
No capítulo 43 de Isaias Deus anuncia que é o único salvador de Israel, faz uma
promessa maravilhosa aos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó (Is 43:1 - 6), anuncia
que criou o povo de Israel para a sua própria glória "...aos quais formei e
fiz" (v. 7); anuncia que estabeleceu Israel por testemunho, porém, eles eram
um povo cego e mudo (v. 8 e 10); e reitera que, por causa da transgressão de Adão
e pela desídia dos interpretes, Israel seria destruído (v. 28).
No capítulo 44 Ele reitera a condição de Israel: escolhidos (Is 44:1), e aponta
os Seus atributos como garantia de redenção (v. 6). Porém, os Israelitas estavam
confiados em seus ídolos (v. 11- 20), e a repreensão divina persiste.
No capítulo 45 Deus anuncia que Ciro haveria de reinar sobre os reis da terra (Is
45:1), e reedificar a cidade de Jerusalém, que havia sido entregue por Deus para
ser destruída (Is 43:28).
Dentro deste contexto é anunciado que Deus forma maravilhosamente a luz e as trevas,
ou seja, Deus aponta o seu poder criativo (Is 43:19 ; Is 45:7); Do mesmo modo que
o poder de Deus fez os céus e a terra, o dia e a noite, Ele detém o poder de fazer
nova todas as coisas. Ele reitera que através de Ciro seria restabelecida a paz
sobre Israel (Is 44:28), do mesmo modo que anteriormente Ele havia estabelecido
o mal sobre Jerusalém (Is 43:28). Deste contexto vem a fala: "eu faço
a paz, e crio o mal".
Quando o texto diz: "eu (Deus) crio o mal", está mostrando que Deus trouxe
punição à transgressão dos interpretes de Israel, ou seja, Deus faz justiça. O texto
não está dizendo que Deus cria a malignidade dentro de suas criaturas. Deus cria
o "mal", o que é diferente de criar o "mau". Deus jamais cria
o mau, porém, o mau surgiu após algumas de suas criaturas distanciarem-se d'Ele.
A separação que surgiu entre Deus e algumas criaturas não foi criada por Deus, portanto,
Deus não criou e nem estabeleceu o mau.
Deus trouxe calamidade, punição (mal) sobre Israel por causa da transgressão de
Adão e pela falha dos interpretes de Israel (Isaias 43: 27- 28).
Portanto, segue-se que Deus é Deus porque Ele é bom, vida, paz, amor, longânime,
justo, reto, santo, etc. Jamais Deus será mau, visto que, somente o que está desvinculado,
separado ou alienado de Deus é mau. Como é impossível Deus estar aparte d'Ele mesmo,
segue-se que Ele jamais será mau, mesmo quando Ele cria o mal (punição).
"Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau
o teu olho porque eu sou bom?" (Mt 20:15)
Até este ponto estávamos falando da natureza de Deus e dos seus atributos. Deus
é bom, e todos os seres (angelicais e humanos) que existem à parte d'Ele são maus.
Deus é bom, e todos os seres (angelicais e humanos) que conhecem a Deus são bons.
Agora analisaremos como é possível Deus sendo bom conhecer o bem e o mal "Então
disse o Senhor Deus: O homem agora se tornou como um de nós, conhecendo o bem
e o mal" (Gn 3:22).
Sabemos que o homem sem Deus é mau e conhecedor do bem e do mal, e que Deus é bom
e conhecedor do bem e do mal. Quando o homem aceita a verdade do evangelho, ele
passa a compartilhar da natureza divina, sendo bom em essência. Ora, na regeneração
o homem torna-se livre do mau herdado de Adão, porém permanece conhecedor do bem
e do mal.
A
bíblia aponta dois tipos de conhecimento:
a)
"estar unido a", ou;
b)
"saber acerca de".
Quando
o homem conhece a Deus, ou antes, é conhecido D'Ele, a palavra 'conhecer' indica
união intima com o criador (Gl 4:9). Agora, 'conhecer' o bem e o mal vincular-se
ao saber, ter ciência de algo, o que difere de união íntima, comunhão.
Como vimos anteriormente, é impossível Deus 'conhecer' (estar unido a) o mau, pois
é impossível Deus pecar. Temos dois motivos:
a) Deus é imutável, e;
b) não pode estar a parte de si mesmo.
Porém, Ele nos informa que é conhecedor do bem e do mal, assim como os homens tornaram-se
conhecedores do bem e do mal por causa do fruto da árvore do conhecimento do bem
e do mal (Gn 3:22).
Como Deus não pode estar unido (conhecer) ao mau, por exclusão, temos que Deus sabe
acerca (conhece) do bem e do mal. No que consiste o conhecimento de Deus do bem
e do mal? No que resulta tal conhecimento?
Novamente precisamos analisar os atributos de Deus. Por natureza Deus é bom, reto,
santo, justo, imutável, onipresente, onisciente, onipotente, etc. Estes atributos
são nomeados naturais.
Sabemos que Deus imutável relaciona-se com suas criaturas, e que o seu relacionamento
com as suas criaturas não depõe contra a sua imutabiblidade. Também sabemos que
Deus é justo, e que ele relaciona-se com suas criaturas, sejam elas justas (participante
da sua natureza) ou não.
Como bem sabemos, os homens sem Deus são injustos por não compartilharem da natureza
divina, por causa da desobediência de Adão. Em Adão Deus exerceu juízo sobre os
homens e todos foram destituídos de sua glória "Pois assim como
por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também
por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de
vida" (Rm 5:18).
Cristo é a justiça de Deus concedida aos homens para que possam voltar a compartilhar
da glória de Deus. Ou seja, em Adão estabeleceu-se a injustiça e em Cristo a justiça
de Deus, porém, haverá também um julgamento com relação às obras de todos os homens.
É neste julgamento e nas relações com as suas criaturas que o conhecimento de Deus
do bem e do mal se aplica.
Observe: "Mas,
segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da
ira e da manifestação do juízo de Deus; O qual recompensará cada um segundo as suas
obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória,
honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes
à verdade e obedientes à iniqüidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do
homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e
honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego;
Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas" (Rm 2:5 - 11).
Destes versículos
temos:
a) Para Deus não há acepção
de pessoas, ou seja, Deus não tem nenhuma das suas criaturas em preferência;
b) Ele recompensará todas as
suas criaturas conforme as suas obras: tanto justos quanto injustos;
c) Serão dois tipos de recompensa,
a saber: 1) tribulação e angustia para os desobedientes à verdade do evangelho,
e; 2) glória, honra e paz para quem herdar a vida eterna;
d) Qualquer
que procurar glória, honra e incorrupção herdará a vida, ou seja, só é possível
herdar a vida eterna aqueles que nascerem de semente incorruptível, a palavra de
Deus; por ser uma planta plantada pelo Pai, será como a árvore plantada junto a
ribeiros, produzirá o bem segundo a sua espécie. Qualquer contencioso e desobediente
à verdade do evangelho herdará indignação e ira, e, por serem más as suas obras,
terá também tribulação e angustia;
e) Haverá
dois tribunais, a saber: tribunal de Cristo, onde os salvos serão julgados quanto
ao que houver feito por meio do corpo (obras), bem ou mal (2Co 5:10); Grande Trono
Branco, onde os perdidos serão submetidos ao julgamento das obras, e elas não lhes
aproveitarão, pois não foram feitas em Deus (Ap 20:13 ; Jo 3:21).
Como vimos anteriormente, Deus não é injusto por trazer ira sobre os descrentes,
do mesmo modo que Ele não é mau por retribuir os homens com bem e mal. As
injustiças dos homens não torna Deus injusto ao trazer a sua ira e nem a sua bondade
é aniquilada por ele trazer glória, honra e incorrupção sobre os bons e ira e indignação
sobre os maus.
A pergunta do apóstolo Paulo persiste: "Doutro modo, como julgará Deus o mundo?"
(Rm 3:6). Doutro modo, como é possível Deus bom retribuir a cada um segundo as suas
obras, se for mau conceder a uns bem e a outros o mal? (Pv 13:21).
O homem natural, por não compreender as coisas de Deus, questiona a justiça de Deus
do mesmo modo que os trabalhadores questionaram o pai de família que contratou trabalhadores
para sua vinha (Mt 20:1 – 16).
A parábola dos trabalhadores na vinha demonstra que:
a) O Pai de família ao contratar trabalhadores para sua vinha fixou o
valor de um dia de trabalho em um denário (Mt 20:2);
b) Porém, durante o dia de trabalho contratou mais trabalhadores sem fixar
valores, e disse que pagaria o que fosse justo (Mt 20:4);
c) Os trabalhadores que foram contratados e trabalharam desde a madrugada
fizeram mal juízo do pai de família por pensarem que receberiam mais que os seus
companheiros (Mt 20:10);
d) Para os trabalhadores, o pai de família estava sendo injusto por dar
o mesmo valor a todos os que trabalharam em sua vinha;
e) Por sua vez o pai de família contra argumentou que:
1) Não era injusto, visto que estava pagando o combinado (Mt 20:13);
2) Ele estava agindo conforme a sua vontade e não conforme a vontade dos
trabalhadores (Mt 20: 14);
3) Ele agiu conforme a sua vontade porque tinha direito de fazer o que
bem entendesse do que lhe pertencia, e por último, o problema não estava no pai
de família, que é bom, antes, no olho do trabalhador, que era mau (Mt 20:15).
Como compreender a última declaração do pai de família?
No Sermão do Monte Jesus demonstrou que, se o olho do homem é mau, todo o corpo
estará em trevas (Mt 6:22 ; Lc 11:34). Este é um princípio que remete a uma conclusão:
"Portanto, se a luz que em ti há são trevas, quão grandes são
essas trevas" (Mt 6:23).
Ora, todos os descendentes de Adão são maus por natureza, pois não são participantes
da natureza divina. Qualquer que não é nascido de Deus anda em trevas, pois tenta
orientar-se através dos seus olhos maus.
Daí advém a necessidade do novo nascimento (nascer da água e do Espírito), pois
só após o novo nascimento o homem passará a andar na luz, pois lhe é iluminado os
olhos do entendimento (Ef 1:18).
Ora, o fato de o pai de família ser bom não impede que ele faça o que quiser com
o que lhe pertence. O fato de o pai de família dar um mesmo salário a todos os trabalhadores
não depõe contra a sua bondade e justiça. O olho de quem observa a maneira de agir
do pai de família é que é mau, o que não permite o observador compreender as leis
pertinentes ao reino dos céus (Mt 20:1).
Do ponto de vista do homem natural Deus é mau (falo como homem) por estabelecer
o inferno como destino final aos pecadores, porém, Deus é bom mesmo estabelecendo
o inferno para o diabo, seus anjos e todas as gentes que se esquecem d'Ele.
A pergunta persiste: É mau o teu olho porque Deus é bom? Ora, aos homens maus é
mau que Deus dê a cada um conforme as suas obras, porém, Deus é bom e justo ao contemplar
a cada um conforme as suas obras.
Do que foi exposto e analisado conclui-se que Deus é bom e conhecedor do bem e do
mal, visto que jamais a sua bondade será conspurcada enquanto Ele discerne o bem
e o mal. Através do conhecimento do bem e do mal Deus discerne os seus anjos e neles
acha loucura (Jó 4:18).
A concepção dualística não corresponde a verdade, visto que Deus é bom e o mau,
por sua vez, não é co-eterno. Na eternidade o mau nunca existiu, visto que Deus
não existiu à parte de si mesmo. O mau só passou a existir quando Deus criou as
suas criaturas, e elas de moto próprio se lançaram da presença do Criador, tornando-se
más. Lembrando que o mau refere-se a ausência, ou seja, o não compartilhar da natureza
do Criador.
Deste modo temos que o mau não é eterno e nem co-existe com Deus, como apostam os
dualistas. Porém, como sabemos que as criaturas de Deus são imortais, segue-se que
Deus não quer e não eliminará aqueles que existem à parte da sua natureza (o mau).
Tais criaturas existirão para sempre num lugar estipulado por Deus (Sl 9:16 ; Mt
25:41 ; Ap 12:9).
O fato de existir locais distintos para justos e ímpios não depõe contra a bondade
de Deus, visto que nem a impiedade aniquilará a justiça de Deus e nem o mau aniquilará
a bondade de Deus.
Apesar dos evangélicos e protestantes serem contrários ao pensamento dualista de
que o bem e o mau co-existem em Deus, acabam por apregoar que a dualidade do bem
e o mal é uma realidade intrínseca a cada ser humano. Tremendo engano, visto que,
ou o homem é bom por ser nascido de Deus, ou é mau, por ser descendente de Adão.
Jesus foi claro quanto a este posicionamento: "Ou fazei a árvore
boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore
má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore" (Mt 12:33). Não
há como fazer a árvore com duas naturezas: boa e má, ou seja, ou o homem é mau ou
é bom.
Para defenderem o posicionamento da dualidade do bem e do mal no
homem, muitos teólogos lançam mão até de pensamentos rabinos, que por sua vez pensavam
que Deus teria dado a Adão dois desejos em conflito, exigindo que ele se apegasse
a um e rejeitasse o outro.
Mas, o que diz as escrituras? Que a carne e o Espírito militam um
contra o outro. Ou seja, carne e Espírito referem-se a dois reinos espirituais distintos
e antagônicos, e não como interpretam alguns, de que o espírito e a carne dos homens
estão em conflito constante.
Não há conflito algum entre o corpo (carne) e o espírito do homem.
O conflito que existe, ocorre entre a carne 'versus' o Espírito de Deus.
A tradução literal do texto grego demonstra que um deseja contra
o outro: carne x Espírito. Não diz do crente dividido entre duas tendências, antes
diz do Espírito de Deus que é contrário à carne, como bem demonstra o apóstolo Paulo:
"A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz"
(Rm 8:6). A inclinação, a luta, o desejo, o conflito se estabelece entre a Vida
e a morte, o Espírito e a carne, o pecado e a justiça.
Como co-existir a velha e a nova natureza no homem se só é possível
a existência do novo homem quando o velho é crucificado e sepultado com Cristo?
O
jugo do pecado é proveniente da desobediência de Adão, porém, além de ter sido destituído
da glória de Deus, ou seja, tornar-se mau, o homem passou a ter conhecimento do
bem e do mal, visto que o fruto da árvore proporcionou tal conhecimento "Ordenou
o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás, pois no dia em
que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:16 - 17).
A
morte (destituição da glória de Deus, mau) foi a penalidade imposta à desobediência
de Adão, porém, o homem adquiriu algo que antes não possuía ao tornar-se participante
(comer) da árvore do conhecimento do bem e do mal. Sabemos que a desobediência de
Adão sujeitou a humanidade ao jugo do pecado (mau), porém, além do mau (morte) estabelecido
na ofensa, o homem comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal.
Não
podemos confundir a origem do mau com a origem do conhecimento do bem e do mal.
A) O conhecimento
do bem e do mal foi proporcionado ao homem quando comeu do fruto da árvore, o que
tornou o homem igual a Deus, conhecedor do bem e do mal (Gn 3:22);
B) O mau estabeleceu-se
sobre o homem em decorrência da penalidade pela desobediência de Adão.
A
desobediência de Adão sujeitou o homem a morte, ou seja, fez com que o homem fosse
destituído da vida que há em Deus. O homem deixou de ser bom e passou a ser mau
diante de Deus. Porém, além do mau que é pertinente a natureza do homem sem Deus,
ele passou a ter conhecimento do bem e do mal, sendo como Deus.
De
que modo o conhecimento do bem e do mal influenciou e continua a influenciar o homem?
É
impossível ao homem por si só livrar-se do jugo do pecado, ou seja, da sua condição
de mau. Sem a intervenção divina toda a humanidade estaria perdida pela eternidade,
visto que, para ser salvo é preciso o homem nascer de novo, obra que só Deus pode
realizar por meio da sua palavra.
Ou
seja, o mau a quem o homem se sujeitou assumiu a condição de senhor. O homem é pecador,
não porque comete pecado, antes é pecador porque é servo do pecado (Jo 8: 34). A
desobediência de Adão levou toda a humanidade a esta condição.
Podemos
inferir das Escrituras que os efeitos dos frutos das duas árvores que Deus fez brotar
da terra (árvore da vida e árvore do conhecimento do bem e do mal) e que estavam
no meio do jardim do Éden eram permanentes, visto que, após a queda, foi vetado
ao homem o acesso a árvore da vida (Gênesis 2: 9 e 3: 22), para que o homem não
vivesse eternamente.
O
homem foi feito conforme a imagem e semelhança Deus (Gn 1:26 - 27), porém, após
a queda (desobediência) o homem foi:
a) Destituído da
glória de Deus, e;
b) Tornou-se conhecedor
do bem e do mal, ou seja, como Deus (Gn 3:22).
No
que implica ser conhecedor do bem e do mal? Qual a diferença entre ser pecador
(mau) e ter o conhecimento do 'bem e do mal' proveniente da árvore?
Para
compreendermos faz-se necessário analisarmos todos os eventos antes, durante e após
a queda de Adão.
a) A tentação estabeleceu
a desconfiança – "Então a serpente disse a mulher: certamente não morrereis" (Gn 3:4) – O pecado
se estabeleceu sobre o homem por causa da falta de confiança. A falta de fé fez
com que o homem deixasse de guiar-se pela palavra de Deus, passando a guiar-se pelos
seus próprios instintos. Por não confiar em Deus o homem deixou de ser participante
da vida que há em Deus;
b) Antes da queda
a concupiscência já existia – "Vendo a mulher que aquela árvore era boa para
se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento..." (Gn 3:6) – Há
uma grande diferença entre desejar e o pecado, conforme aponta o apóstolo Tiago "Mas cada
um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois,
havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado,
gera a morte" (Tg 1:14 - 15);
c)
Após
a queda – "Então disse o Senhor Deus: O homem agora se tornou como um
de nós, conhecendo o bem e o mal..." (Gn 3:22) – Além de ser destituído da
glória de Deus (pecado), o homem passou a ser conhecedor do bem e do mal, algo que
vai além da pena imposta pela desobediência de Adão. O homem preferiu o conhecimento
do bem e do mal à ter vida eterna (Gn 2:9);
d) Apesar da condição
de (em) pecado, o homem passou a ser como Deus – "O homem agora se tornou
como um de nós, conhecendo o bem e o mal..." (Gn 3:22); Satanás
era conhecedor do que haveria de acontecer com o homem, caso pecasse (Gn 3:5), porém,
o 'pai da mentira' fez o que lhe é próprio ao dizer que o homem não haveria de morrer,
antes seria como Deus (Gn 3:4); O Querubim da guarda ungido era participante da
natureza divina, e após 'querer' lançar mão da 'semelhança' do Altíssimo, foi destituído
da glória de Deus e perdeu o seu principado. Satanás foi destituído da vida que
é proveniente de Deus (pecado), porém, não deixou de existir. Satanás continuou
sendo anjo e de posse do conhecimento que possuía antes da queda, porém, sem compartilhar
da vida que é proveniente de Deus (pecado);
e) Conhecimento
do bem e do mal – O Conhecimento (saber) do bem e do mal é que torna o homem como
Deus (um de nós). A bíblia aponta dois tipos de conhecimento: "estar unido
a" ou "saber acerca de". Quando o homem conhece a Deus, ou antes,
é conhecido D'Ele, a palavra conhecer indica união intima com o criador (Gl 4:9).
Agora, 'conhecer' o bem e o mal vincular-se ao saber, ter ciência de algo, o que
difere de união;
f)
O
mau e o conhecimento do bem e do mal – após desobedecer ao Criador, Adão passou
a ser mau diante de Deus, sem qualquer alusão as suas ações. O homem destituído
de Deus sabe fazer boas ações e más ações, porém, não são as suas ações que estabelecem
se ele é mau ou bom diante de Deus, antes a sua geração.
Após
a queda, 'conheceu' (união intima, um só corpo) Adão a sua mulher, e Eva teve filhos:
Caim e Abel. Ora, Caim e Abel, por serem descendentes de Adão eram pecadores, maus
diante de Deus. Tal condição os atingiu, não porque fizeram algo de certo ou errado,
antes, eram pecadores por serem descendentes de Adão. Já foram concebidos e gerados
em pecado (Sl 51:5).
Num
determinado dia, Caim trouxe dos frutos da terra uma oferta a Deus (Gn 4:3). Abel
agiu de igual modo, e trouxe uma de suas ovelhas e ofertou ao Senhor (Gn 4:4), porém,
Deus atentou para Abel e não foi favorável a Caim, e este, por sua vez, ficou triste.
Em
seguida veio o alerta divino para Caim "Então disse o Senhor: Por que te
iraste? E por que descaiu o seu semblante? Se procederes bem, não serás aceito?
E se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas
sobre ele deves dominar" (Gênesis 4: 6- 7).
Analisando
os versículos acima, temos que Deus fez duas perguntas: Qual o motivo da ira e da
tristeza de Caim. Porém, as frases seguintes precisam de uma análise mais apurada,
visto que, há discrepâncias entre a tradução do texto com a idéia que o Novo Testamento
nos apresenta.
Observe:
1)
Basta ao homem proceder bem (bom comportamento) que será aceito por Deus?
2)
Deus aceita o homem pela fé ou pelas obras?
3)
Quando Deus disse que o pecado jaz à porta, o que foi dito:
a)
Que o pecado jaz (está morto)?
b)
Que o pecado ainda não ocorreu, mas que estava prestes a ocorrer?
c)
Ou, que o pecado exerce domínio sobre o homem (estar à porta = local onde se exerce
domínio)? (Jó 29:7)
4) É possível o
homem exercer domínio sobre o pecado (... mas sobre ele deves dominar.)?
5) O desejo do pecado
será sobre o homem (... sobre ti será o seu desejo...)?
6) Mesmo sob domínio
do pecado é possível o homem proceder bem e mal (Se procederes bem, não serás aceito?
E se não procederes bem...)?
Quantas
perguntas retiradas de um pequeno trecho bíblico, porém, sem respondê-las é impossível
progredir em nossa empreitada. Antes de prosseguir, devemos considerar as seguintes
verdades bíblicas:
a) Quando Deus falou
com Caim a humanidade já estava sob o jugo do pecado, pois por Adão o pecado entrou
no mundo, e por ele a morte (Rm 5:12), ou seja, Caim já havia sido julgado, condenado
e apenado com a morte, destituído da vida que há em Deus (Rm 5:18);
b) A obediência
e o pecado são senhores que exercem domínio sobre os homens (Rm 6:16). Observa-se
através deste versículo que é impossível aos homens exercerem domínio sobre o pecado
ou sobre a justiça.
Respostas:
1) Sabemos que
não basta ao homem proceder, ou comportar-se bem ou de modo honesto, que será aceito
diante de Deus. Todos os homens precisam nascer de novo (Jo 3:3), ou conforme a
linguagem do Antigo Testamento, é necessário circuncidar o coração, obtendo um
novo coração e um novo espírito (Sl 51:10 ; Ez 36:26), para que possam serem aceitos
por Deus;
2) Todos que se
aproximam de Deus precisam crer que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam
(Hb 11:6). Abel foi aceito por Deus por meio da fé (Hb 11:4), e não por obras, sacrifícios
ou pela oferta. Caim foi rejeitado e sua oferta também, por outro lado Abel foi
aceito e a sua oferta aceita. A ordem não pode ser invertida: Deus aceita o ofertante
que se aproximar dele pela fé (evangelho) e por fé (descansar na esperança proposta).
Não é a oferta que torna o homem agradável a Deus;
3) Sabemos que o
mundo jaz no maligno, ou seja, o mundo está morto no maligno. O mesmo
não podemos dizer do pecado, pois através de Adão ele continua a exercer o seu domínio
sobre os homens. Também sabemos que quando Deus conversou com Caim, o pecado não
estava por acontecer (as portas, prestes a), antes já havia subjugado o homem, inclusive
o próprio Caim. Sabemos também que, caso o homem proceda bem ou não, continuará
sob a égide do pecado, e Caim e Abel estavam vinculados a este fato;
4) Sabemos que é
impossível o homem exercer domínio sobre o pecado ou sobre a injustiça – Com base
nesta verdade, como seria possível Deus orientar Caim a subjugar o pecado? (Rm 6:16);
5) Se a vontade
do pecado na condição de senhor submete o homem, como seria possível o homem na
condição de escravo subjugar o seu senhor (pecado)? (Rm 6:18);
6) Caim já era escravo
do pecado, porém Deus o orientou a 'proceder bem', ou seja, quanto ao procedimento
o homem tem autonomia para decidir entre o bem e o mal, porém, tais decisões não
livram o homem (escravo) do seu senhor (pecado)
7) A desobediência
de Adão trouxe conseqüências funestas para toda a sua descendência (morte), porém,
além da separação que se estabeleceu entre Deus e os homens, o homem passou a ser
como Deus, conhecendo o bem e o mal (Gn 3:22).
Problemas
de traduções e interpretações à parte, qualquer entendimento do texto em questão
deve-se levar em conta o que analisamos anteriormente, porém, não me atrevo a apresentar
aqui uma proposta de emenda à tradução em tela.
Logo
após a ofensa que trouxe o juízo de Deus sobre todos os homens (Rm 5:18), Adão conheceu
(tomou ciência) que estava nu. Ora, na ofensa ele conheceu o pecado, ou seja, passou
a estar unido ao pecado, e tomou ciência (conheceu) que estava nu.
Ora,
após a queda Deus não estabeleceu nenhuma lei, porém, Adão de pronto reconheceu
o seu estado e recriminou-se. De pronto procuraram um modo de cobrir a nudez, e
só após serem interpelados por Deus esconderam-se.
Deste
evento podemos destacar que:
a) O pecado sempre
foi e será pecado, e se a nudez de 'per si' fosse pecado, o que separaria o homem
de Deus, antes mesmo da queda a nudez teria sido recriminado por Deus;
b) Se a nudez fosse
o 'pecado' que estava separando o homem de Deus, logo teria sido proibido por Deus
o homem andar nu no Éden e fora do Éden, o que não ocorreu;
c)
A
desobediência estabeleceu o juízo de Deus (separação entre Deus e os homens), e
o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal proporcionou conhecimento, entendimento,
e o homem passou a se esconder de Deus; não por causa da desobediência (ofensa),
antes, escondeu-se por ver, entender que estava nu (Gn 3:10).
A
ofensa do homem estava na desobediência, porém, após comer da árvore do conhecimento
do bem e do mal, o homem passou a guiar-se pelo entendimento adquirido. Deus não
havia proibido a nudez de Adão e Eva, porém, para eles, a gravidade residia no fato
de estarem nus, e não na desobediência.
Ora,
após o homem crer em Cristo é criado um novo homem em verdadeira justiça e santidade,
porém, mesmo após estar livre da condenação estabelecida em Adão, o crente ainda
permanecerá conhecedor do bem e do mal. Quando o homem aceita a verdade do evangelho
deixa de compartilhar do mau herdado da natureza de Adão, e passa a compartilhar
da Luz, da Paz, do Bem, porém, jamais deixará de ser conhecedor do bem e do mal,
visto que tal conhecimento é que o torna como Deus (Gn 3:22).
Sobre
este mister destacou o apóstolo aos Hebreus: "Mas o mantimento sólido
é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidosexercitados para discernir
tanto o bem como o mal" (Hb 5:14). O que é o mantimento sólido? A figura 'alimento
sólido' equivale a verdade do evangelho em profundidade (Ef 3:18), contrastando
com os rudimentos (princípios) do evangelho.
Os perfeitos, neste caso específico, referem-se aos cristãos que possuem uma compreensão
apurada do evangelho de Cristo. Após o cristão adquirir conhecimento maior que os
ensinos elementares da doutrina de Cristo, tem em si a capacidade de discernir tanto
o bem como o mal, porque os seus sentidos estão e são exercitados continuamente.
Percebe-se através da exposição do escritor aos Hebreus que:
a) O conhecimento do bem e do mal está atrelado aos sentidos dos homens;
b) Os sentidos podem e devem ser exercitados;
c) O exercício dos sentidos, discernimento, é individual;
d) O exercício dos sentidos tem por parâmetro o conhecimento do bem e
do mal.
A capacidade de discernir tanto o bem como o mal equivale a conhecer
o bem e o mal. O conhecimento adquirido quando o homem tornou-se participante da
árvore do conhecimento do bem e do mal é o que lhe concede discernimento para identificar
tanto o bem como o mal.
Ora, surge a pergunta: Tanto o justo quanto o injusto possuem esta capacidade?
Sim! Esta capacidade, este discernimento é pertinente aos filhos de Adão e aos filhos
de Deus, visto que a humanidade passou a ser como Deus, conhecedora do bem e do
mal.
Cristo é um exemplo claro desta verdade! Observe esta profecia: "Portanto o
mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e
dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, quando
ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Na verdade, antes que este menino saiba
rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos
seus dois reis" (Is 7:14 - 16). O Cristo haveria de ser concebido de uma virgem – concepção
virginal. Ela traria ao mundo um filho (homem) e seria nomeado Emanuel, ou seja,
'Deus Conosco', o mesmo que, 'Deus com os homens'.
A profecia destacada contrasta a dieta do Emanuel com a dieta de seu precursor,
João Batista. Quando o menino souber (saber, conhecimento) rejeitar o mal e escolher
o bem, a sua dieta será de manteiga (gordura) e mel (o melhor da terra), contrastando
com o seu precursor, que comeu gafanhotos e mel silvestre (Mt 11:19).
Diferente dos filhos de Adão, Cristo veio ao mundo participante da natureza divina
– O Filho de Deus encarnado. O Emanuel, o Verbo de Deus, a Luz verdadeira, Santo,
Verdadeiro, Bom, etc. Em Cristo não houve trevas nenhuma! Em resumo, Cristo é o
mesmo ontem, hoje e eternamente: Bom!
Mesmo sendo Bom, sem nunca ter se conspurcado com o mau, Cristo teve que escolher
o bem e rejeitar o mal. Para tanto, o Bom menino Jesus cresceu e soube (conhecimento)
rejeitar o mal e escolher o bem.
Há que se ter tal conhecimento, se não, não haveria o alerta solene: "Ai
dos que ao mal chamam bem, e ao bem chamam mal, que
fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" (Is 5:20).
O fato de Jesus ter escolhido o bem e rejeitado o mal não é o que O tornou 'Bom',
antes, o Cristo é Bom porque foi gerado de Deus.
É por estes motivos que o apóstolo Paulo faz o alerta solene: "Quanto
à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero
que sejais sábios no bem, mas simples no mal" (Rm 16:19). A
obediência dos cristãos, da qual o apóstolo faz referência, diz da obediência à
verdade do evangelho, que é a fé anunciada a todo o mundo (Rm 1:8). Ora, através
da obediência à verdade do evangelho o homem torna-se agradável a Deus, perfeito
para toda a boa obra, visto que, após crer em Cristo, as obras do cristão são
feitas em Deus (Jo 3:21).
Com
relação à verdade do evangelho o apóstolo tinha satisfação em ver os cristãos, porém,
Paulo desejava ardentemente que eles fossemperfeitos, capacitados, exercitados
para saberem rejeitar o mal e escolher o bem, ou seja, sábios no bem e simples no
mal.
Todos
que crêem em Cristo tornam-se perfeitos, visto que foram novamente criados em verdadeira
justiça e santidade (Ef 4:24 ; Cl 2:10; 2Co 2:6), porém, aos gerados de novo falta-lhes
alcançar a medida da estatura completa de Cristo (Ef 4:13 ; 2Co 13:11).
Por
que o cristão deve ser simples com relação ao mal e sábio quanto ao bem? Temos dois
motivos:
a) Para que deixassem
de serem meninos, aptos para alimento sólido e não fossem levados por ventos de
doutrinas - "E EU, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais,
como a meninos em Cristo" (1Co 3:1).
O fato de haver
entre os cristãos contendas e porfias depunha claramente contra eles, demonstrando
que eram neófitos na fé. Por não crescerem na graça e conhecimento de Cristo, Paulo
ainda não podia exortá-los como espirituais, antes como se eles ainda fossem carnais,
o mesmo que meninos em Cristo.
Qual o problema
em ser menino em Cristo? Estar sujeito a ser levados por ventos de doutrinas (Ef
4:14). Na igreja de Corinto havia contendas e dissensões porque os cristãos ainda
não eram exercitados em rejeitar o mal. Embora perfeitos em Cristo, não eram perfeitos
para saber rejeitar o mal e promover o bem.
Paulo ensinou
aos Cristãos em Roma como procederem quando ao discernimento do bem e do mal (Rm
12:9 e Rm 12:21). É de bom alvitre os cristãos não tornar mal por mal, antes deve
ater-se as coisas honestas, perante todos os homens (Rm 12:17).
Se for possível,
o cristão deve estar em paz com todos os homens, porém, deve desviar-se daqueles
que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina do evangelho (Rm 16:17).
b) Porque todos
comparecerão ante o Tribunal de Cristo para serem recompensados quanto as suas ações:
boas ou más - "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou
mal" (2Co 5:10).
Quando
escreveu aos cristãos de Corintos, Paulo expressa a sua esperança em Deus, certo
de que haveria de deixar este mundo para habitar eternamente com Deus (2Co 5:8).
Com relação à salvação em Cristo, a obra perfeita do evangelho (fé), ela é atribuída
a Deus (2Co 5:5), porém, além da salvação, Paulo buscava ser agradável aos cristãos,
visto que, tal renúncia haveria de ser retribuída no Tribunal de Cristo (2Co 5:10).
Por
que ser agradável a todos e principalmente quanto aos irmãos? Porque todos comparecerão
ante o mesmo Tribunal! Para que cada um receba o que houver feito por meio do corpo,
ou seja, receberá de acordo com o bem e o mal que fizeram (Rm 12:20).
Quando o homem desobedeceu e comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal rejeitando o alerta divino, ele passou à condição de pecado (mau). Porém, além
de pecar (destituído da glória de Deus por causa da desobediência), não podemos
esquecer que Adão comeu do fruto da árvore que lhe concedeu o conhecimento do bem
e do mal, algo diferente de pecado.
O conhecimento do bem e do mal não se vincula ao pecado, antes ao fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal. O pecado adveio da desobediência de Adão e o conhecimento
do bem e do mal adveio do fruto da árvore que foi posta no meio do jardim do Éden.
Não podemos confundir a origem do pecado com a origem do conhecimento do bem e do
mal, visto que, Deus é conhecedor do bem e do mal, algo que não deriva do pecado
(mau). O Filho do Homem aprendeu rejeitar o mal e escolher o bem, porém, sem pecado.
O conhecimento do bem e mal são provenientes do mesmo fruto e capacita o homem a
discernir tanto o bem quanto o mal, porém, tal discernimento não capacita o homem
para distinguir o que é bom e o que é mau. Porém, a bíblia nos informa que Deus
é bom e se for necessário conhecer quem é bom ou mau, basta verificar o fruto que
os homens produzem.
Jesus liberta o homem do pecado (condição oriunda da desobediência de Adão), porém,
ele não 'liberta' o homem do conhecimento do bem e do mal, visto que o homem após
tornar-se participante do fruto da árvore que estava no meio do jardim do Éden tornou-se
como Deus. O efeito do fruto é permanente sobre o homem do mesmo modo que seria
se ele houvesse comido do fruto da árvore da vida.
O conhecimento do bem e do mal é algo proveniente do fruto e o pecado da desobediência.
Embora estivesse relacionado ao fruto, o pecado (mau) é totalmente distinto do conhecimento
do bem e do mal.
Enquanto o homem não consegue dominar o pecado (antes é sujeito do pecado na condição
de escravo), o conhecimento do bem e do mal está na alçada do homem dominar.
Ora, por mais que alguém se aplique a fazer o bem, dar boas dádivas, não estará
livre do pecado. Não é porque alguém faz o mal contra o próximo que está condenado,
antes é rejeitado por Deus por causa da desobediência de Adão. Só é aceito perante
Deus aqueles que nascerem de novo. Perceba que os cristãos receberão no Tribunal
de Cristo conforme as suas ações, boas ou más e os descrentes semelhantemente receberão
conforme as suas ações boas ou más quando do Grande Tribunal do Trono Branco.
Claudio Crispim
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por
equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras
perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611,
Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto
Tradicional), que v. pode ler e obter em http://BibliaLTT.org,
com ou sem notas.
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