Pr Airton Evangelista da Costa
A doutrina aniquilacionista defende cessação total da
vida no ato da morte. A alma, princípio vital, sucumbe com o corpo na
sepultura. Ao descer ao pó, o homem, desaparece por completo. Todavia, segundo
essa teoria, os justos ressuscitarão no tempo oportuno e voltarão à condição
original de alma vivente.
O castigo dos ímpios seria o de não viver para sempre com Jesus. A morte para
estes seria realmente a separação eterna de Deus. Neste caso, não haveria os
diferentes graus de castigo, segundo as obras de cada um.
"O aniquilacionismo defende que, após a morte, a alma do ímpio não será
punida eternamente num inferno literal, mas, ao invés disso, simplesmente
deixará de existir. O aniquilacionismo constitui um meio termo entre o
universalismo indiscriminado e a doutrina cristã tradicional da condenação
eterna. É defendido pelas testemunhas de Jeová, pelos adventistas do sétimo
dia, pela Igreja Mundial de Deus, e muitos outros grupos religiosos em atividade
atualmente" (Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, George A.
Mather).
O Antigo Testamento é pouco elucidativo quanto à vida após a morte. É no
Novo Testamento que vamos encontrar indicações mais claras a respeito do
assunto. Comecemos pela formação do homem no Éden, onde pela primeira vez, a
palavra alma é registrada:
"Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego
da vida, e o homem tornou-se alma vivente. Então da costela que o Senhor Deus
tomou do homem, formou a mulher, e a trouxe ao homem" (Gn 2.7,22).
Deus criou os animais sem soprar em suas narinas e os chamou de "répteis
de alma vivente [criaturas que vivem e se movem]" (Gn 1.20,21), diferentes
do homem que recebeu o fôlego diretamente de Deus. Os seres humanos possuem
portanto algo que veio diretamente da substância de Deus. A esse fôlego damos
o nome de alma. Vejamos agora o significado das palavras "alma" e
"espírito" no hebraico e no grego, línguas originais do Antigo e do
Novo Testamento, respectivamente.
Alma, hebraico "nephesh". Significados principais: alma, ego, vida,
pessoa, coração; refere-se à essência da vida, ao ato de respirar, tomar fôlego.
Alma, grego psyche. Significados principais: a vida natural do corpo; vida; a
parte imaterial, invisível do homem, o homem interior (Mt 10.28; At 2.27; 1 Rs
17.21).
Espírito, hebraico "ruah". Significados principais: respiração,
ar, força, vento, brisa, ânimo, humor, Espírito. Vejamos alguns exemplos:
respiração que, quando volta, a pessoa é reavivada:
"E [Sansão] bebeu [água];
e o seu espírito [literalmente, respiração] tornou, e reviveu" (Jz
15.19); elemento de vida no homem, o seu "espírito" natural:
"E
expirou toda carne que se movia sobre a terra [...] Tudo o que tinha fôlego de
espírito de vida em seus narizes" (Gn 7.21.22). Estes versículos dizem
que os animais também possuem "espírito", porém o homem recebeu o
"fôlego" de forma diferente.
Espírito, grego pneuma. Significados principais: vento, respiração; parte
imaterial, invisível do homem (Lc 8.55; At 7.59; 1 Co 5.5; Tg 2.26); o Espírito
Santo; o homem interior, com relação aos crentes; os espíritos imundos, demônios;
o corpo da ressurreição (1 Co 15.45; 1 Tm 3.16; 1 Pe 3.18). (Fonte: Dicionário
VINE, W.E.Vine, Merril F. Unger, William White Jr., CPAD, 2002, 1a. Edição).
Em
Isaías 26.9 o profeta apresenta nephesh e ruah como sinônimos:
"Com
minha alma te desejei de noite e, com o meu espírito, que está dentro de mim,
madrugarei a buscar-te". Parece indicar que a alma está ligada aos
sentimentos ("te desejei"), sendo o espírito o elemento vital de
comunicação com Deus.
A Bíblia não faz uma nítida distinção entre alma e espírito. Maria, mãe
de Jesus, orou assim:
"A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito
se alegra em Deus meu Salvador" (Lc 1.46-47). Jesus, no Getsêmani:
"A
minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal" (Mt 26.38). Na
cruz, Ele bradou:
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc
23.46). Por isso, para efeito deste trabalho, chamaremos de alma ou espírito a
parte imaterial que se separa do corpo na hora da morte.
A alma foi doada ao homem no momento de sua formação, conforme Gênesis 2.7,
onde se lê que o homem tornou-se "alma vivente". A condição
expressa no verso 17 - "certamente morrerás" - sugere uma
imortalidade humana. Subtende-se que se o primeiro casal não comesse do fruto
proibido, não passaria pela morte física nem perderia a comunhão com o
Criador.
O primeiro casal não morreu logo após desobedecer, ou seja, não desceu ao pó,
mas ficou potencialmente sujeito à morte física. Contudo, a sua morte
espiritual foi imediata (Gn 3.7-13). Depois que o pecado afetou de forma
negativa a raça humana, passou a haver separação da pessoa, na morte, em
corpo, que volta à terra, e em espírito que volta a Deus (Ec 12.7).
Analisemos
Eclesiastes 12.7- “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”
... O
pneuma-espírito não desce à sepultura. Ele é parte inerente ao homem, mas não
o é do corpo sem vida. Na morte há uma separação. Os contradizentes
argumentam que se todos os espíritos voltam a Deus, então, como defende o
universalismo, todos se salvam. Tal argumento não deve prevalecer. Basta ler o
verso anterior:
“6 ¶ [Lembra-te também do teu Criador] ...
Antes que se rompa o cordão de prata, [isto é, antes que a morte chegue e
se desmanche a coluna vertebral] " (v.6). É nessa condição de homem
arrependido e voltado para Deus, que a alma imortal, separada do corpo na hora
da morte,
"volta para Deus, que a deu".
O contexto ressalta a fragilidade da vida do homem que vive sua vida sem temer a
Deus, sem sequer se lembrar do seu Criador, sem nenhuma preocupação com a vida
espiritual futura. A imagem de um corpo que se transforma em pó contrasta com a
situação de vaidade e orgulho dos que não se submetem à vontade do Criador.
Eclesiastes 12.7 mostra que a alma é imortal, e não morre com o corpo, nem com
o corpo dorme na sepultura, mas segue imediatamente para Deus.
Dando mais luz ao contido em Gn 3.19 e Ec 12.7, Jesus disse que quando descemos
ao pó a nossa parte imaterial e invisível sobrevive, não morre:
"E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo" (Mt
10.28).
Seus discípulos aprenderam a lição. Sabiam que a morte não era o fim de
tudo. Herodes poderia degolar João Batista, mas jamais poderia extinguir a sua
alma. Pedro poderia ser crucificado de cabeça para baixo; outros poderiam ser
brutalmente assassinados, mas suas almas permaneceriam intocáveis. Jesus não
deixa dúvida quanto à imortalidade e sobrevivência da alma. Por isso, na parábola,
disse que
"Lázaro morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão".
O rico, que vivia na opulência, poderia até ter tirado a vida do mendigo, mas
a alma deste não seria atingida.
Conhecedor desta verdade, o apóstolo Paulo afirma que
"para mim o viver é
Cristo, e o morrer é ganho...mas de ambos os lados estou em aperto, tendo
desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor" (Fp
1.21-23). Estava Paulo realmente consciente de que iria apodrecer no sepulcro e
nada dele sobraria até a ressurreição? Neste caso não haveria qualquer lucro
imediato. Melhor seria continuar vivo e pregando o Evangelho. Mas ele tinha a
promessa do Autor da Vida: a sua alma não morrerá. "Partir e estar com
Cristo" transmite uma idéia de trânsito sem interrupção. Esta
interpretação se torna mais consistente quando consideramos Lucas 23.43, 46, e
Atos 7.59.
Os mortalistas alegam que se os que morrem em Cristo seguem diretamente para
o céu, por que motivo Deus os tiraria de lá para se unirem a seus corpos?
Considerando que defendem a total extinção dos ímpios, respondemos com outra
pergunta: "Por que Deus tiraria os ímpios de suas sepulturas (Ap 20.5)
para em seguida aniquilá-los? Eles já não estão mortos? Ora, na ressurreição
do corpo - uns para a vida de eterna comunhão com Deus, outros para a eterna
separação de Deus - ocorre uma recomposição alma-corpo, e o homem retorna à
condição original de alma vivente (Gn 2.7), porém agora, quanto aos salvos,
num estado de glorificação.
Li em determinado endereço na internet que o objetivo da segunda ressurreição,
a dos ímpios (Ap 20.5) é "simples regresso à vida, à vida física, prelúdio
de destruição total e definitiva (Dn 12.2 - 2a parte)". Vejamos o que diz
o texto:
"E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida
eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno" (Dn 12.2).
Os contradizentes desejam aniquilar a alma do homem, na morte, e também
aniquilar os ímpios após a ressurreição destes. Mas o texto apresentado não
aprova tal raciocínio. Os ímpios ressuscitarão "para vergonha e desprezo
eterno", ou seja, estarão eternamente envergonhados e desprezados,
afastados de Deus. Jesus fala que os maus sofrerão a ressurreição "da
condenação" (Jo 5.28,29). O inferno é lugar de "tribulação e angústia"
(Rm 2.9) e de "pranto e ranger de dentes" (Mt 22.13; 25.30). Tais
castigos só podem ocorrer em corpos vivos. A ressurreição dos ímpios dar-se-á
para serem julgados e castigados segundo as más obras de cada um. É um exagero
afirmar que a ressurreição dos ímpios é um "prelúdio" do extermínio.
A doutrina da pena de morte para os ímpios não consegue responder
satisfatoriamente como serão aplicados os diferentes graus de castigo. Ora, se
os ímpios sofrerem a pena capital, não haverá diferentes graus de punição.
"Assim como haverá diferentes graus de glória no novo céu e na nova
terra, também haverá diferentes graus de sofrimento no inferno. Aqueles que
estão eternamente perdidos sofrerão diferentes graus de castigo, conforme os
privilégios e responsabilidades que aqui tiveram" (Notas Bíblia de Estudo
Pentecostal). Vejam os textos pertinentes:
"Virá o Senhor daquele servo no dia em que o não espera e numa hora que
ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis". E
o servo que soube da vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme
a sua vontade, será castigado com MUITOS AÇOITES. Mas o que a não soube e fez
coisas dignas de açoites com POUCOS AÇOITES será castigado..." (Lc
12.46-48).
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas
das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações. Por isso, SOFREREIS MAIS
RIGOROSO JUÍZO" (Mt 23.14). (Mc 12.40 diz:"...Estes
receberão juízo muito mais severo"; Lucas 20.47 diz"... Estes
receberão maior condenação").
"De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que
pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi
santificado, e ultrajar o Espírito da graça?" (Heb 10.29).
"Uma é a glória do sol, e outra, a glória da lua; e outra, a glória das
estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a
ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em
incorrupção. " (1 Co 15.41,42).
Os crentes fiéis receberão galardões: Mt 5.11,12; 25.14-23; Lc 19.12-19;
22.28-30; 1 Co 3.12-14; 9.25-27;2 Co 5.10; Ef 6.8; Hb 6.10; Ap 2.7,11,17,26-28;
3.4,5;12,21. Os crentes menos fiéis receberão poucos galardões, ou nenhum (Ec
12.14; Mt 5.19; 2 Co 5.10).
Ainda sobre o "extermínio dos ímpios, convém esclarecer que o verbo
"perecer" em Mateus 10.28 não significa exterminar. Vejamos seu real
significado no grego, língua original do Novo Testamento, tudo conforme o
conceituado Dicionário VINE, de W.E. Vine, Merril F. Unger, William White Jr.,
CPAD, edição 2002, Rio.
"Perecer"
1 - apollumi, "destruir", significa, na voz média, "perecer", e é usado acerca de:
(a) coisas (por exemplo, Mt 5.29.30; Lc 5.37; At 27.34 [em alguns textos piptõ, "cair"]; Hb 1.11; 2 Pe 3.6; Ap 18.14-segunda parte...
(b) pessoas (por exemplo, Mt 8.25; Jo 3.15, 16; 10.28; 17.12, "se perdeu"; Rm 2.12; 1 Co 8.11; 15.18; 2 Pe 3.9; Jd 11). Em 1 Co 1.18 ["Porque a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo..."], literalmente, "perecendo", onde a força perfectiva do verbo implica a conclusão do processo. Quanto ao significado da palavra, veja DESTRUIR".
"Destruir"
1 - apollumi, forma fortalecida de ollumi, significa "destruir totalmente"; na voz média, "perecer". A idéia não é de extinção, mas de ruína, perda, não de ser, mas de bem-estar. Isto é claro pelo uso do verbo, como, por exemplo, o estrago dos odres de vinho (Lc 5.37); a ovelha perdida, ou seja, perdida do pastor, estado metafórico de destituição espiritual (Lc 15.4,6, etc.); o filho perdido (Lc 15.24); o perecimento da comida (Jo 6.27), do ouro (1 Pe 1.7). O mesmo com relação às pessoas (Mt 2.13; 8.25; 22.7; 27.20); à perda da felicidade no caso dos não-salvos (Mt 10.28; Lc 13.3,5; Jo 3.15, em alguns manuscritos; Jo 3.16; 10.28; 17.12; Rm 2.12; 1 Co 15.18; 2 Co 2.15; 4.3; 2 Ts 2.10; Tg 4.12; 2 Pe 3.9).
2 - kataluõ, formado de kata, para baixo, elemento intensivo, e o n. 4, "destruir totalmente", "subverter completamente", é verbo que ocorre em Mt 5,17 duas vezes acerca da lei); Mt 24.2; 26.61; 27.40; Mc 13.2; 14.58; 15.29; Lc 21.6 (acerca do templo); em At 6.14, diz respeito a Jerusalém; em Gl 2.18, fala acerca da lei como meio de justificação; em Rm 14.20, da ruína do bem-estar espiritual de uma pessoa (em Rm 14.15, o verbo appolumi, n. 1, é usado no mesmo sentido). Em At 5.38,39, acerca do fracasso dos propósitos; em 2 Co 5.1, da morte do corpo".
Portanto, nem sempre a expressão PERECER
significa destruição, extermínio, eliminação do ser. Vejamos o que diz o
evangelho sinótico de Lucas:
"Temam aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar
no inferno" (Lc 12.5b).
Eis a Bíblia se explicando a si mesma. O sinótico de Lucas, para não pairar dúvidas,
não usa o verbo apollumi-perecer, mas emballõ-lançar (separar, lançar,
arremessar, atirar, jogar, lançar em). Ballõ-lançar é um sinônimo traduzido
como lançar, arremessar, jogar (Mt 5.29; 18.8; Ap 2.10.24; 20.3,10,14,15). Então
Mateus 10.28b deve ser lido assim:
"...tem o poder para lançar no inferno
alma e corpo". Logo, lançar ou perecer no inferno não significa
aniquilamento.
Os mortalistas apresentam também o seguinte texto como prova do extermínio dos
maus:
"Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do
Senhor e a glória do seu poder" (2 Ts
1.9).
Contestação - O versículo diz exatamente o contrário do que desejam os
defensores da pena de morte. Os ímpios serão banidos da face do Senhor, para
serem castigados (cf.Ap 20.10)."Destruição/perdição/banimento" (elethros)
nesse caso, como já vimos, significa perda de bem-estar, ruína, separação
eterna da comunhão de Deus, tal como já explicado a análise de Mateus 10.28b
("perecer no inferno"). Neste sentido é usado em Mt 7.13, Jo 17.12, 2
Ts 2.3. Adão foi expulso do Éden, banido da face do Senhor, e experimentou
imediata perdição/morte espiritual.
"Pois assim como em Adão todos
morrem, também da mesma forma em Cristo serão vivificados" (1 Co 15.22).
Ademais, o próprio texto diz: "separados/banidos da presença do
Senhor". A advertência do Senhor continua válida nos dias de hoje. Se
formos desobedientes, certamente morreremos (Gn 2.17).
Mais um: "Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os
soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e pisareis os
ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia
que estou preparando, diz o Senhor dos Exércitos" (Ml 4.1,3).
Contestação - Realmente, os ímpios serão destruídos. O texto fala de
pessoas vivas que serão exterminadas no Dia do Senhor ("aquele dia").
Esses ímpios a serem aniquilados ressuscitarão no tempo devido (Jo 5.29; Ap
20.5). Depois, corpo e alma serão lançados no inferno (Mt 10.28; Lc 12.5),
onde
"serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos"
(Ap 20.10,14,15). Malaquias 4.1,3 se coaduna com outras passagens que falam das
últimas coisas. Vejamos:
"Porque como um fogo purificador ele é..." (Ml 3.2-a);
"Colocarei sinais nos céus e sobre a terra, sangue e fogo e colunas de
fumaça" (Jl 2.30); "Os céus e a terra que agora existem, estão
reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e da destruição dos ímpios
(2 Pe 3.7). Um terça parte dos homens serão mortos ao soar da sexta trombeta,
por fogo, fumaça e enxofre (Ap 9.15,17). No Dia do Senhor, no tempo em que Deus
derramará seus juízos sobre a terra, os ímpios que existirem na terra
experimentarão a primeira morte, a morte física. Depois da ressurreição, virá
a morte eterna, a eterna separação de Deus (Ap 20.14,15;21.8; 22.15).
Portanto, o texto sob análise não reforça a tese do aniquilamento. Dentro do
mesmo contexto e interpretação estão os demais textos que falam em extermínio
e perdição dos ímpios (Sl 34.16;37.9.10,38; 145.20. Fp 3.19). Em tais casos,
"perecer", "destruir", "perdição" falam da
destituição e alienação espirituais provenientes de Deus. São exemplos João
3.16 ("não pereça, mas tenha a vida eterna") e Mateus 10.6
("ovelhas perdidas da casa de Israel").
A tese do extermínio dos ímpios enfrenta outra dificuldade. Jesus revelou que
os justos ressuscitarão "para a vida", e os ímpios, "para serem
condenados" (Jo 5.29); na carta aos romanos Paulo indica que
"haverá
tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal" (Rm 2.9);
em Daniel 12.2 lê-se que os ímpios ressuscitarão
"para a vergonha e
desprezo eterno"; Apocalipse 14.11 diz que não haverá descanso "nem
de dia nem de noite" para os adoradores da besta; Apocalipse 20.10 anuncia
que os que forem lançados no lago de fogo
"serão atormentados dia e
noite, para todo o sempre"; Jesus declara que os insensatos e hipócritas
serão punidos severamente num lugar
"onde haverá choro e ranger de
dentes" (Mt 8.12; 24.51; 25.30), e onde estarão amarrados, em trevas, para
todo o sempre (Mt 22.13).
Convenhamos, defunto não chora, não se angustia, não range dentes, não passa
por tribulação, não se atormenta, não sente vergonha ou desprezo. Logo, não
deve prevalecer a idéia de que os ímpios serão exterminados. Deus não
ressuscitará os ímpios para exterminá-los em seguida (Ap 20.5). Agiria assim
para que morram "conscientes" da punição? De maneira alguma. É uma
impropriedade alegar que a ressurreição é um prelúdio da morte. Reviver para
morrer, sair da sepultura para, em seguida, retornar à sepultura -
sinceramente, se trata de um pensamento que colide frontalmente com a Palavra. A
ressurreição do corpo é para que viva; não para que morra. Não fosse assim,
não haveria razão para ressuscitar os que já se acham mortos.
Em resumo, a tese do extermínio dos ímpios é incompatível com a doutrina dos
diferentes graus de castigo e contrária ao ensino da Bíblia. O assunto voltará
a ser tratado mais adiante.
A separação alma-corpo por ocasião da morte está expressa, por exemplo,
nas palavras de Jesus:
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E,
havendo dito isto, expirou". Havendo morrido como homem, e não como Deus,
a alma de Jesus também separou-se do seu corpo na morte. O primeiro mártir
cristão, Estevão, também entregou seu espírito:
"Senhor Jesus, recebe o
meu espírito" (At 7.59). Salomão tinha razão quando disse que o corpo
desce ao pó, mas o espírito segue seu destino (Ec 12.7), confirmando haver uma
separação na hora da morte.
"E disse [o ladrão] a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no
teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
Paraíso" (Lc 23.42,43).
A declaração de Jesus ao ladrão arrependido é a mais clara aplicação da
salvação pela graça, mediante a fé, conforme Efésios 2.8-9. Além disso, o
texto revela a dualidade do homem, a separação e sobrevivência da alma por
ocasião da morte. Tão grande pedra no caminho dos mortalistas não poderia
deixar de ser rejeitada com muito alarido e pouca consistência. Apresentam as
seguintes objeções, cabalmente refutáveis.
Primeiro - Dizem que em algumas versões está escrito "quando vieres no
teu reino" , e não "quando entrares no teu reino". Assim,
desejam convencer que a alma do ladrão não iria imediatamente para o céu, mas
esperaria a volta de Jesus para ressuscitar.
Contestação -
(a) A segunda parte do texto dirime qualquer dúvida que possa
existir com relação à primeira. Jesus declara que o ladrão arrependido
subiria para o céu naquele mesmo dia. Em nenhuma hipótese devemos duvidar das
palavras de Jesus, a menos que renunciemos à nossa condição de cristãos.
(b)
O ladrão arrependido passou a fazer parte do reino de Deus no momento em que
aceitou o senhorio de Jesus. Sabendo que o ladrão morreria naquele mesmo dia, e
que, na qualidade de salvo, sua parte imaterial iria para o céu, Jesus declarou
sem rodeios: "Hoje estarás comigo no paraíso". É muito provável
que o ladrão não conhecesse o ensino da volta de Jesus. A interpretação mais
provável, portanto, é "quando entrares no seu reino".
(c) De
qualquer modo, Jesus nos ensinou que as almas dos crentes seguem direto para o céu.
Com isto, o ladrão morreu com a certeza de se encontrar com Ele no paraíso.
(d) A palavra grega erchomai é traduzida também como "vir" (Mt 2.2;
24.46), "ir" (Jo 20.1; 1 Co 4.19), chegar (Mt 8.14; 13.54), partir (Mc
8.10; 9.33). Em razão disso, algumas versões registram, "quando vieres no
seu reino", e outras, "quando entrares no seu reino".
(e) O ladrão
leu a placa com a declaração em grego, romano e hebraico: "Este é o Rei
dos judeus" (Lc 23.38) que fora colocada na cruz, teve certeza de que Jesus
reinaria em algum lugar e manifestou o desejo de participar desse reino. Na
verdade Jesus começou a reinar ali mesmo no coração do arrependido malfeitor.
Então, quando estiveres, chegares, entrares no seu reinado, lembra-te de mim.
Qualquer dúvida que possa subsistir desvanece diante da declaração de Jesus:
"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso".
Segundo - Os contradizentes alegam que na Tradução Trinitariana, em português,
editada em 1883, pela "Trinitarian Bible Society" de Londres, Diz:
"Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso".
Contestação - A versão apresentada atende aos interesses dos contradizentes.
É importante registrar que em edições mais recentes, em português, da SBTB -
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, o versículo está redigido assim:
"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso". Então, se
torna inconsistente o argumento que defende a transcrição correta somente na
edição de 1883, sem esclarecer o porquê de tal discriminação. Eleger uma
versão em detrimento de outras, somente porque determinado registro atende a
determinada crença, não me parece um sólido argumento.
Terceiro - Alegam também, em defesa da inexistência da alma imortal, que a expressão "hoje" ligada ao verbo não é redundante, mas enfática,
tal como encontrada em Zacarias 9:12 e Atos 20:26. Justificam assim a versão
"digo-te hoje: estarás comigo no paraíso". Contestação - Devemos
buscar a ênfase no contexto. Logo após garantir que o malfeitor estaria com
Ele no paraíso, Jesus, para confirmar tal assertiva, entregou ao Pai seu próprio
espírito. Os textos apresentados (Zc 9.12 e At 20.26) não servem para elucidar
a questão. Vários exemplos podem ser citados em que inexiste a expressão
"digo hoje": "Em verdade vos digo que eles já receberam..."
(Mt 6.2); "Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm
nascido..." (Mt 11.11).
Quarto - Para contornar o problema, alegam que o ladrão não morreu naquele
mesmo dia. Dizem que os crucificados passavam até sete dias sofrendo. Afirmam
que "Cristo foi caso excepcional e que sabemos que não morreu dos
ferimentos ou da hemorragia, mas do quebrantamento do coração. Morreu de dor
moral por causa dos pecados do mundo. Mas os outros, não, e as crônicas
descrevem o condenado esvaindo-se lentamente durante dias". Alegam mais que
"de acordo com o costume, quebravam as pernas dos criminosos depois de os
haverem removido da cruz, deixando-os estendidos no chão, até que o sábado
passasse. Depois do sábado haver passado, sem dúvida esses dois corpos foram
outra vez amarrados na cruz, e lá ficaram diversos dias até morrerem..."
Contestação - Como não podem negar a morte de Jesus na sexta-feira, apelam
por alongar a agonia dos malfeitores crucificados. Ao dizer que Jesus morreu de
"dor moral", negam a existência de hemorragia no Seu corpo, a
asfixia, o enfraquecimento físico. Tal afirmação colide com diagnósticos de
profissionais. O Dr. Barbet, médico francês, professor e cirurgião, que por
treze anos viveu na companhia de cadáveres, após dissertar sobre o sofrimento
de Jesus, dá o seu diagnóstico:
"Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos
medianos, lhe arrancaram um lamento: "Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes?". Jesus grita: "Tudo está consumado!". Em seguida
num grande brado disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".
E morre".
O Professor Pierluigi Baima Bollone diretor do Instituto de Medicina Legal da
Universidade de Torino - Itália, relata em seu último livro, "Os últimos
dias de Cristo". que a causa final da morte de Jesus foi "asfixia,
complicada por ataque cardíaco terminal, e trombose coronária, ocorridas
depois de poucas horas sobre a cruz, pois Jesus se encontrava fraco, devido as
torturas recebidas. Todos estes dados são perfeitamente compatíveis com o que
se lê nos evangelhos".
Vejamos o relato bíblico a respeito da morte dos ladrões:
"Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz,
visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado) rogaram a
Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Foram, pois, os
soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele
fora crucificado. Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as
pernas" (Jo 19.31-33).
Quebrar as pernas dos crucificados tinha o objetivo de apressar a morte. Sem o
apoio dos pés, o corpo ficava seguro apenas pelos pulsos, o que causava forte
pressão sobre o tórax. A morte viria rapidamente.
Quinto - Alegam que Jesus não foi para o Pai logo após a morte. Apresentam
como justificativa o que Jesus disse a Maria Madalena: "Não me detenhas,
porque ainda não subi para meu Pai" (Jo 20.17 a). Sob a ótica da não
sobrevivência da alma, dizem que Jesus devolveu ao Pai o sopro, a vida dele
recebida. Assim explicam: "Era este fôlego que Cristo e Estevão não
podendo reter, quando estavam prestes a expirar (e expirar significa soltar o fôlego,
exalá-lo definitivamente), pediram ao Pai que o recebesse de volta. (Atos 7:59
e Lucas 23:46). Mas não era parte consciente, pois Cristo, dias depois,
ressurreto, dissera: "Ainda não subi para Meu Pai."
Contestação - Creio que todas as afirmações de Jesus são verdadeiras. Os
mortalistas se agarram na frágil argumentação segundo a qual o espírito de
Jesus não subiu ao Pai porque Ele mesmo o revelou a Madalena (Jo 20.17).
Somente em duas hipóteses Jesus não entregou seu espírito ao Pai. Primeira,
Ele não falou isso, e os evangelhos mentem; segunda, de fato Ele entregou seu
espírito, mas o Pai não o recebeu. Nenhuma dessas hipóteses é viável.
"Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai" diz respeito
à subida de seu corpo ressurreto. Passados quarenta dias é que se deu sua
ascensão corporal.
Na ótica dos mortalistas não existe separação entre corpo e espírito por
ocasião do falecimento. Admitem que o retorno à vida, como no caso de Lázaro
(Jo 11.43) e da ressurreição coletiva (1 Ts 4.16-17), é resultado de novo
sopro de Deus.
Jesus e Estevão não entregaram um simples sopro, nem Jesus disse ao ladrão
que o seu "sopro" estaria subindo para o céu juntamente com o seu próprio
"sopro". Nem sempre se pode traduzir psyche como "sopro".
Vejamos se seria possível tal construção:
"Não temais os que matam o corpo, e não podem matar o "sopro";
temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto o "sopro"
como o corpo" (Mt 10.28).
Após a morte a alma continua existindo. Na sua visão apocalíptica, o apóstolo
João validou essa realidade:
"E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo
do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus...e clamavam
com grande voz..." (Ap 6.9-10). De nenhum modo se pode deduzir que os
"sopros" dos mortos estavam vivos e conscientes. As "almas dos
que foram mortos" estavam no céu, e oravam para que os ímpios que
rejeitaram a Deus e mataram os seus seguidores recebessem a justiça divina.
Para Apocalipse 6.9-10 os mortalistas afirmam que é tudo simbólico, mas depois
apresentam uma bizarra interpretação: "Estas "almas" eram as
pessoas vítimas da matança do cavaleiro chamado Morte, descrito no quarto
selo. Queremos dizer que as "almas" que aparecem sob o quinto selo
foram mortas sob o selo precedente, dezenas ou mesmo centenas de anos antes,
portanto os perseguidores já estavam mortos, e ainda de conformidade com a
teologia popular deveriam já estar no inferno, portanto já sofrendo a punição,
sendo inócuo, pois, o clamor por vingança" (http://www.jupiter.com.br/iasd/pmc2/outras2.htm
[este é um site dos adventistas do sétimo dia])
Contestação - O que dizer de:
"E vi almas daqueles que foram degolados
pelo testemunho de Jesus..." (Ap 20.4)? Se são "almas das
pessoas", confirma-se a sobrevivência das almas, pois não há registro de
que essas pessoas haviam ressuscitado. Se a Bíblia diz que eram almas dos
mortos, então realmente o eram. Seriam elas o "sopro" dos que foram
degolados?. Claro que não.
A mensagem nos diz que as almas se separam dos corpos, e sobrevivem, conforme
referendado em outros textos. Não procede o argumento de que as almas referidas
são de pessoas que morreram centenas de anos antes. Esses eventos ocorrerão
num período de sete anos, tempo de duração da grande tribulação, a
"septuagésima semana de Daniel" (Dn 9.27;Ap 11.2; 13.5).
Em Lucas 16.22 está escrito, conforme palavras de Jesus, que o mendigo Lázaro
morreu e
"foi levado pelos anjos para o seio de Abraão". A alma do
injusto rico seguiu para um lugar de tormentos. O apóstolo Paulo desejou
"partir e estar com Cristo, o que é muito melhor" (Fp 1.23). Esta
afirmação denota mudança imediata, sem interrupção, sem intervalo.
Demonstra que Paulo sabia que a sua alma entraria imediatamente na presença de
Deus.
A imortalidade da alma não é doutrina estranha às sagradas Escrituras. Creio
na verdade dita por Jesus: podem matar o corpo, mas a alma não morrerá.
Vejamos mais uma vez:
"E não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o
corpo" (Mt 10.28).
"Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas
eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem
poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei". (Lc 12.4-5).
O texto acima contradiz duas teses dos aniquilistas:
(a) A da morte da alma com
o corpo;
(b) A do extermínio dos ímpios. Alegam que "matar o corpo e não
podem matar a alma" significa não poder matar o transcendente, a mente ou
ego. Alegam também que se Jesus declara que Deus pode fazer perecer no inferno
alma e corpo, é porque a alma é mortal.
Contestação - Os contradizentes afirmam que quando o homem morre, tudo se
acaba. Somente na ressurreição é que ressurgem corpo, consciência e todo o
complexo ser humano. O texto, por sua clareza, dispensaria comentários.
"Matar o corpo, mas não podem matar a alma", dar autenticidade a
Lucas 16.22 (Lázaro levado pelos anjos), Atos 7.59 (Estevão entregando seu espírito),
Filipenses 1.23 (Paulo desejando morrer para estar com Cristo), Lucas 23.43 (o
malfeitor arrependido sendo levado para o céu), Lucas 23.46 (o próprio Jesus
entregando o seu espírito), Eclesiastes 12.7 (a alma se desliga e volta a
Deus), Apocalipse 6.9 (almas dos mortos), Tiago 2.6 (corpo sem o espírito),
Mateus 17.3 (Moisés na transfiguração), 2 Coríntios 5.8 (deixar o corpo e
habitar com o Senhor), Mateus 22.32 (Deus não é Deus dos mortos, mas de
vivos).
Examinemos algumas das provas apresentadas pelos mortalistas.
"Certamente morrerás", castigo prometido ao homem, em caso de
desobediência (Gn 2.17), versículo muito usado na defesa do dogma da pena de
morte para a alma. Alegam que como o homem foi feito "alma vivente"
(Gn 2.7), ao morrer, morre a alma vivente e tudo se extingue. Alguns alegam que
o homem, por não haver comido da árvore da vida (Gn 4.22-24), não se tornou
imortal.
Contestação - Os contradizentes se apegam ao termo "alma vivente" na
tentativa de demonstrar que o homem sendo uma alma que vive, morrendo o homem,
morre a alma. Ocorre que o hebraico nephes, mencionado mais de 780 vezes no AT,
é traduzido por alma, ego, vida, pessoa, coração. A mesma palavra nephes é
usada para descrever animais da terra, em distinção aos pássaros e peixes.
Nesta concepção, são seres ou criaturas viventes (Gn 1.24,28,30). Quanto ao
homem, a palavra passa a significar pessoa que vive. Uma importante diferença
existe na criação de homens e animais. O homem foi criado de um modo todo
especial. Além de haver sido feito à imagem e semelhança do Criador, Deus
soprou em suas narinas. Não houve sopro nas narinas dos animais. Temos,
portanto, em nosso ser uma substância divina que veio diretamente do Ser
Divino. A isso chamamos alma, que, segundo as palavras do próprio Criador,
Jesus, é imortal e transcendente (Mt 10.28).
É possível que a árvore da vida seja símbolo das bênçãos espirituais a
serem desfrutadas pelos que são lavados e remidos no sangue do Cordeiro. Após
a queda, Adão foi lançado "fora do jardim do Éden" para que não
tome da árvore da vida, e "viva eternamente" (Gn 3.22-23). O
ressurgimento simbólico da árvore no tempo futuro (Ap 2.7;22.2,14), para
desfrute dos santos imortais, desencoraja a tese de que ela seja símbolo de
imortalidade. O Novo Comentário da Bíblia, assim interpreta: "Qualquer
que seja a verdadeira explicação sobre a árvore, não há dúvida sobre a
significação da ação de Deus ao remover o homem do jardim. O homem estava
agora cortado de Deus e, portanto, no sentido mais real estava cortado da
"vida": isso foi simbolizado mediante a separação entre ele e a árvore
da vida". Somente quando a redenção aparece consumada é que a árvore da
vida reaparece dentro do alcance do homem. Note-se que a `árvore da vida´ era
símbolo do estado abençoado do homem; enquanto que a árvore da ciência do
bem e do mal simbolizada o teste a que foi sujeitado o homem".
Gênesis 2.17 não fala em mortalidade da alma. Somente a partir de Eclesiastes
12.7 o assunto começa a ser revelado, até chegar na palavra de Jesus, conforme
Mateus 10.28, onde diz que a alma não pode morrer.
Adão passou por duas qualidades de morte, após sua queda: em primeiro lugar e
imediatamente, adveio a morte espiritual, ou seja, a eterna separação de Deus
(Gn 3.6-12). Em segundo lugar, a morte física, isto é, Adão ficou sujeito a
morrer fisicamente. Daí a sentença em
Gênesis 3.19: "Pois és pó, e ao
pó tornarás". Por isso,
"certamente morrerás" (Gn 2.17)
contempla a morte física e a morte espiritual. Esses dois tipos de morte
passaram a todos os homens (Rm 5.12, cf. Mt 13.49; 25.41). A alma imortal de Adão
não ficou sujeita à morte.
Os mortalistas dizem que na morte o fôlego se evapora, perde-se no ar.
Eclesiastes 12.7 chama "espírito" a parte invisível que sai do corpo
sem vida, e que volta para Deus. Salomão não se estendeu muito no assunto, mas
nota-se que ele estava falando dos justos, cujas almas vão diretamente para
Deus. Portanto, não vale dizer que Salomão ensinou a salvação universal,
salvação para todos. Para colocar as coisas nos devidos lugares, Jesus explica
que os justos são levados para o céu, e os desobedientes para um lugar de
tormentos (Lc 16.19-31).
Continuemos na análise de alguns versículos apresentados pelos mortalistas em
defesa do dogma da mortalidade da alma.
"A alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18.4,20).
Contestação - A Bíblia está falando de pessoas, de filhos com relação
aos pais. .... Citar esse versículo como prova da mortalidade da alma é um
lamentável equívoco. "Morte" nesse caso tem o mesmo significado que
teve com relação a Adão, o de morte espiritual, compreendendo a separação
de Deus. Os que estão mortos em seus pecados, afastados de Deus, porém vivos,
têm ainda oportunidade de se arrependerem e aceitarem os termos da Nova Aliança
em Cristo Jesus (Ez 18.21). Se, porém, não se arrependerem experimentarão a
morte eterna, ou seja, a eterna separação de Deus. Estes sofrerão o eterno
castigo (Ap 20.10; 14,15; 21.8).
"O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23).
Contestação - Cabe a mesma refutação do tópico anterior. Vejamos o que
diz o conceituado Dicionário VINE, sobre thanatos-morte: "É usado nas
Escrituras para descrever:
(a) a separação da alma (a parte espiritual do
homem) do corpo (a parte material), o último cessar de funções e a volta para
o pó (Jo 11.13; Hb 2.15; 5.7; 7.23).
(b) separação do homem de Deus; Adão
morreu no dia em que desobedeceu a Deus (Gn 2.17), e, por conseguinte, todo o gênero
humano nasce na mesma condição espiritual (Rm 5.12.14,17,21) da qual, porém,
aqueles que crêem em Cristo são livres (Jo 5.24; 1 Jo 3.14). A morte é o
oposto da vida; nunca denota não-existência. Assim como a vida espiritual é
"a existência consciente em comunhão com Deus", assim, a morte
espiritual é "a existência consciente na separação de Deus".
"O único que possui a imortalidade que habita em luz inacessível..."
(1 Tm 6.16). Este versículo é muito usado na defesa da mortalidade da alma.
Dizem que o homem somente adquire imortalidade na ressurreição para a vida
eterna com Cristo. Argumentam que na ressurreição o que é mortal se reveste
de imortalidade (1 Co 15.54). Os outros, os que morreram sem salvação não terão
tal privilégio.
Contestação - Na ressurreição dar-se-á uma recomposição do homem; o corpo
volta à vida, reunindo-se à alma, e o homem retorna à condição original de
ser vivente. Os crentes terão um corpo semelhante ao de Cristo (Rm 6.5; Fp
3.21). É preciso lembrar que os ímpios também ressuscitarão, e se tornarão
imortais, porém terão vida de má qualidade.
"O termo athanasia expressa mais que imortalidade, sugere a qualidade da
vida desfrutada, como está claro em
2 Co 5.4: ...não queremos ser despidos,
mas vestidos de novo, para que o mortal seja recolhido pela vida. O estado do
crente de ser despido não se refere ao corpo no sepulcro, mas ao espírito que
aguarda o "corpo da glória" na ressurreição" (Dicionário
VINE, pg 703). O apóstolo Paulo faz talvez a mais importante revelação sobre
a imortalidade da alma e futura união desta com o corpo. Ele fala da sua
esperança não apenas de "partir e estar com Cristo" (Fp 1.23), mas
de poder ser "vestido de novo", quando será consumada a redenção
completa, "a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).
A imortalidade de que trata 1 Timóteo 6.16, refere-se a um atributo intrínseco
da Divindade; uma imortalidade que pode ser traduzida por eternidade, isto é,
Deus não teve começo nem terá fim. Por outro lado, Paulo assevera que os
cristãos ressuscitarão em corpos físicos "imortais" (1 Co 15.53).
Logo, o homem possui em potencial essa imortalidade não inerente ao seu ser,
mas derivada, adquirida, doada. A imortalidade humana difere da de Deus porque não
é eterna: a nossa não terá fim, mas teve um princípio.
Mortalistas há que usam o argumento do silêncio, afirmando que em lugar nenhum
da Bíblia diz que as almas que estão no céu ou no inferno sairão de seus
lugares para um encontro com seus corpos. Como vimos em 2 Coríntios 5.1,8, e em
outras passagens, esse silêncio não é total. Se a alma não morre com o corpo
(Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 23.43,46; At 7.59; Fp 1.23), sem dúvida ela se unirá ao
corpo e formará na ressurreição um corpo espiritual e imortal.
Não sejais ignorantes acerca dos que já dormem... (1 Ts 4.13,14; cf. Dn
12.2; Mt 27.52; Mc 5.39; Lc 8.52; 1 Co 11.30; 15.6,18). A expressão "os
que dormem", referindo-se aos mortos em Cristo, tem sido usada para
justificar a inconsciência após a morte e a inexistência de uma alma
sobrevivente e imortal. Dizem que a situação dos mortos até a ressurreição
é de completa inexistência. Citam como prova irrecusável a resposta de Jesus
aos discípulos: "Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo" (Jo
11.11). Alegam também que Jesus nada disse sobre a situação do espírito do
falecido. Para Marta e Maria seria um consolo saber que seu irmão morreu e foi
para o céu.
Contestação - Primeiro, é impróprio o argumento com base no silêncio de
Jesus. Não se pode firmar doutrina sobre o que não foi dito. A Bíblia aponta
na direção de que somente os salvos tiveram o privilégio de voltar a viver.
Estamos falando em ressuscitar, ter uma vida normal, porém mortal. São
exemplos: "os santos que dormiam" (Mt 27.52-53); o filho da viúva de
Serepta, (1 Rs 17.19-22); o filho da sunamita, (2 Rs 4.32-35); o defunto na cova
de Eliseu (2 Rs 13.21); a filha de Jairo (Mc 5.21-23, 35-41); o filho da viúva
de Naim (Lc 7.11-17); a discípula chamada Tabita, ressuscitada por Pedro (At
9.36-43); a ressurreição do jovem Êutico (At 20.9). Temos aí cinco
ressuscitações provavelmente de crianças ("delas pertence o reino de
Deus" - Lc 18.16).
Lázaro não estava num lugar de tormentos, condenado (Lc 16.22.23). Não
podemos imaginar um ímpio, condenado, vivendo já em tormentos, retornar à
vida por um milagre de Deus. Entendemos que Lázaro, ao morrer, fora levado
pelos anjos para o céu, tal como aconteceu com o outro Lázaro, o mendigo (Lc
16.22).
Segundo, sempre que a Bíblia fala em dormir está se referindo,
metaforicamente, ao corpo, porquanto a parte imaterial do homem não morre, nem
dorme. O corpo do malfeitor arrependido ficou "dormindo", mas seu espírito
foi para o céu (Lc 23.43).
O conceituado Dicionário VINE nos oferece uma clara definição do termo grego
koimaomai-dormir: "É usado acerca do "sono" natural (Mt 28.13);
da morte do corpo, mas só daqueles que são de Cristo...; dos santos que
partiram antes da vinda de Cristo (Mt 27.52; At 13.36); de Lázaro, enquanto
Jesus ainda estava na terra (Jo 11.11). Este uso metafórico da palavra sono é
apropriado por causa da semelhança na aparência entre um corpo dormente e um
corpo morto; tranqüilidade e paz normalmente caracterizam ambos. O objetivo da
metáfora é sugerir que assim como aquele que dorme não deixa de existir
enquanto o corpo dorme, assim a pessoa morta continua a existir, apesar de sua
ausência da região na qual aqueles que ficaram podem ter acesso ao corpo
morto, e que, assim como sabemos que o sono é temporário, assim será a morte
do corpo. É evidente que só o corpo está sob consideração nesta metáfora:
(a) por causa da derivação da palavra koimaomai, de keimai, `deitar-se´;
(b)
pelo fato de que no Novo Testamento a palavra ressurreição é usada somente em
alusão ao corpo;
(c) porque em Dn 12.2, onde os fisicamente mortos são
descritos como `os que dormem no pó da terra', a linguagem é inaplicável
à parte espiritual do homem; além disso, quando o corpo volta de onde veio
(Gn 3.19), o espírito retorna a Deus que o deu (Ec 12.7). É evidente que a
palavra `dormir´, onde é aplicada aos cristãos que partiram, não tem a intenção
de transmitir a idéia de que o espírito está inconsciente".
Portanto, o argumento do "sono da alma", como é conhecido, para
justificar a visão holística do adventismo, é um dos mais insustentáveis.
Somente o corpo fica inconsciente.
Para atestar que os mortos estão inconscientes, os defensores da alma
mortal apresentam os seguintes razões: Salmos 94.17, 115.17 e Isaías 38.18,
que falam em "silêncio"; Salmos 6.5, fala em
"esquecimento"; Eclesiastes 9.5, 6 e 10, de "inconsciência";
Daniel 12.2; Jó 14.12; Salmos 13.3, João 11.11 a 14; 1 Ts 4.13-15, falam de
"sono"; Dn 12.13; Ap 6.11; 14.13, falam de "repouso".
Contestação - A Bíblia ensina que ao separar-se do corpo a alma sobrevive e
permanece num estado consciente de conhecimento. Portanto, quando a Bíblia fala
em silêncio, esquecimento, descanso está se referindo à situação do corpo
na sepultura, uma vez que a Palavra não pode contradizer-se. Já examinamos a
questão do "sono da alma", em tópico anterior. Os textos citados
podem ser esclarecidos unicamente através do exame de
Eclesiastes 9.5:
"Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma...a sua memória ficou entregue ao esquecimento".
O próprio Salomão explica onde se dá essa falta de memória dos mortos.
Vejam: "Tudo o que te vier à mão fazer, faze-o conforme as tuas forças,
pois na sepultura, para onde vás, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma" (v.10). Então, a palavra se refere ao
corpo morto, inconsciente, que não mais terá qualquer atividade "debaixo
do sol" (Ec 9.6), na terra, mas com certeza saberá o que estiver ocorrendo
no céu (cf Lc 16.19-31; 2 Co 5.8; Fp 1.13; Ap 6.9).
Por outro lado, de nada adiantaria subir para Deus uma alma inconsciente, morta,
sem memória. Mas vejam que Jesus e Estevão entregaram o seu espírito. Não
entregaram a sua respiração, o sopro de seus pulmões. Também de nada
adiantaria ao ladrão subir para o céu, e lá não gozar conscientemente das
bem-aventuranças. Os argumentos da extinção total do ser humano na hora da
morte não devem prosperar por falta de embasamento bíblico.
Dito isto, analisemos algumas questões levantadas pelo adventista Dr. Samuele
Bacchiocchi, um dos expoentes da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), no
artigo intitulado "Dualismo e Holismo no Exame da Consciência após a
Morte". Suas considerações são um retrato ampliado do pensamento da
senhora Ellen Gould White (1827-1915), co-fundadora e profetiza da IASD. Os
argumentos e textos bíblicos do Dr. Bacchiochi são, regra geral, os mesmos da
referida profetiza, que assegurou o seguinte: "Depois da queda, Satanás
ordenou a seus anjos que inculcassem a crença da imortalidade natural do
homem" (Ellen, "O Grande Conflito", Edição Condensada, Casa
Publicadora Brasileira, S. Paulo, p. 317).
Não se sabe como a profetiza soube o que se passava no reino das trevas. Ora,
todos sabemos que os homens morrem, mas sabemos também que todos ressuscitarão,
uns para a ressurreição da vida, outros para a ressurreição da condenação"
(Jo 5.29). O problema reside em refletirmos a respeito dessa condenação. Os ímpios
ressuscitarão para a ressurreição da morte? Ou para receberem a devida punição,
"e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre" (Ap
20.10)? A imortalidade que defendemos não é a do homem, mas a da alma do
homem. Jesus soube muito bem definir o que significa corpo mortal e alma imortal
(Mt 10.28).
Mas adiante, Ellen White declara: "Se fosse verdade que a alma passa
diretamente para o Céu na hora do falecimento, bem poderíamos anelar mais a
morte que a vida" (p. 319). Argumento exatamente igual vem sendo usado
pelos admiradores da profetiza.
O apóstolo Paulo sabia que não existe, para os salvos, nenhum espaço de tempo
indefinido entre a morte e a vida futura. Vejam: ..."enquanto estamos no
corpo, vivemos ausentes do Senhor; mas temos confiança e desejamos, antes,
deixar este corpo, para habitar com o Senhor" (2 Co 5.6,8); "Porque
para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho; mas de ambos os lados estou em
aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito
melhor" (Fp 1.21,23).
Vejamos os argumentos do Dr. Bacchiocchi:
"Não existe na Bíblia qualquer dicotomia entre um corpo mortal e
uma alma imortal que "se separa" quando da morte. Tanto o corpo quanto
a alma são unidades indivisíveis que deixam de existir ao tempo da morte, até
a ressurreição".
Não procede tal tese. Ocorre exatamente o contrário. Na morte, há uma
separação. Corpo e alma são unidades divisíveis. Conquanto o corpo se
corrompa no pó, a alma, dada por Deus, sobrevive. A questão é que na visão
holística o que se separa do corpo é o sopro; na visão dualista, o que se
separa é a parte imaterial do homem.
"Abandonar o dualismo também provoca o abandono de todo um conjunto de
doutrinas que resultam disso, especialmente a acariciada crença na consciência
da vida após a morte. Isso pode se chamar "efeito dominó". Se uma
doutrina cai, várias cairão junto".
Não há como os aniquilistas abandonarem a crença da pena de morte para a
alma sem que sofram o "efeito dominó". Abandonariam também a crença
da inconsciência da alma, do extermínio dos ímpios, do sono da alma. Todavia,
considero ser possível - em prol da liberdade de pensamento -, que um
adventista se convença do ensino bíblico da imortalidade da alma, e continue
adventista.
"O evangelho não nos dá base para uma doutrina de redenção que salva
a alma à parte do corpo ao qual pertence. A comissão evangélica não é
salvar almas, mas pessoas inteiras".
Os evangélicos não ensinam o contrário. A redenção contempla o homem,
corpo e alma. Para isso ocorre a ressurreição do corpo. É o corpo físico que
ressurge. O mortal se revestirá de imortalidade (1 Co15.53-54).
"...gememos, aguardando a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23). As
almas imortais não precisam ser revestidas de imortalidade. Elas estão num
lugar de descanso, ou num lugar de tormento (Lc 16.19-31). Na ressurreição a
alma volta a unir-se ao corpo e o homem retorna à situação original de ser
vivente (cf Rm 8.11).
"Essas crenças têm enfraquecido e obscurecido a expectativa da segunda
vinda de Cristo".
Não procede o argumento de que a "crença popular" dualista não
valoriza a vinda de Cristo, uma vez que as almas dos crentes já estão no céu.
A redenção só se completa com a ressurreição do corpo, que está garantida
pela ressurreição de Cristo (Mt 28.6; At 17.31; 1 Co 15.12,20-23). A ressurreição
do corpo é necessária:
(a) porque o corpo é parte essencial e total da
personalidade do homem (Rm 8.18-25);
(b) na ressurreição o corpo voltará a
ser templo do Espírito (1 Co 6.19);
(c) para vencer a morte, o último inimigo do homem (1 Co
15.26).
"O homem não recebeu uma alma de Deus; ele foi feito uma
alma vivente. Os animais também foram feitos "almas viventes" (Gn
1:20, 21, 24, 30; 2:19), contudo, não foram criados à imagem de Deus".
Entenda-se "almas viventes" como criaturas viventes ou seres
viventes que têm vida, que respiram vivem e se movem. Há, sim, uma grande
diferença na forma como Deus criou homens e animais. Somente o homem recebeu o
sopro de Deus em suas narinas (Gn 2.7). Isto é muito significativo. Para que os
animais respirassem e vivessem não foi necessário o sopro de Deus. O respirar
faz parte da mecânica do ser vivente. Os homens possuem algo provindo do seu
eterno e imortal Criador. Esse algo se chama alma. Homens e animais se
assemelham na morte porque os corpos de um e de outro descem ao pó e são
consumidos. Mas com relação aos animais não se diz que o "espírito
volta a Deus, que o deu" (Ec 12.7).
"O que retorna para Deus não é a alma imortal humana, mas o Espírito
divino que transmite vida e que nas Escrituras são igualadas ao fôlego de
Deus: "Se Deus. . . recolhesse o seu espírito [ruach] e o seu sopro
[neshamah], toda carne pereceria juntamente, e o homem retornaria ao pó"
(Jó 34:14-15). O paralelismo indica que o fôlego de Deus é o Seu Espírito
transmissor de vida".
Vejamos a versão Trinitariana:
"Se ele pusesse o seu coração contra
o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, toda a carne
juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó" (Jó 34.14-15).
...
O Espírito de Deus é Deus. O Espírito Santo é Deus. Não faz sentido dizer
que o Espírito divino retorna para Deus. Na verdade, o texto nos diz que se
Deus não amasse a humanidade ["pusesse seu coração contra o
homem"], e tirasse o fôlego de todos e o espírito que nos foi doado,
todos pereceriam. A passagem não serve como argumento para defender a
mortalidade da alma.
A afirmação de que quem "retorna para Deus não é a alma imortal humana,
mas o Espírito divino que transmite vida e que nas Escrituras são igualadas ao
fôlego de Deus", é uma velada negação do Espírito Santo como terceira
pessoa da Trindade. As testemunhas de Jeová dizem que o Espírito é uma força,
uma energia.
"Quando, porém, o sopro se vai, tornam-se almas mortas. Isso explica
porque a Bíblia freqüentemente se refere à morte humana como a morte da alma
(Lv. 19:28; 21:1, 11; 22:4; Nm. 5:2; 6:6,11; 9:6, 7, 10; 19:11, 13; Ag
2:13)".
A exemplo de Lv 19.28: "Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne;
nem fareis marca alguma sobre vós", e Ageu 2.13: "Se alguém vier a
tornar-se impuro, por haver tocado um corpo morto...", nenhum dos textos
citados diz que a alma morre junto com o corpo. Nada que possa robustecer a tese
mortalista está nesses versículos, que apontam para o "corpo" sem
vida, morto. No voto de nazireu havia a restrição de não tocar num corpo
morto, que transmitia impureza (Nm 6.6). A mesma restrição é admitida pelo
profeta Ageu, ao falar aos sacerdotes, porque fazia parte da lei (cf Nm
19.11-14).
"O que distingue os seres humanos dos animais não é a alma, mas o fato
de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, isto é, com
possibilidades semelhantes às de Deus, não disponíveis aos animais".
Uma característica importante, a mais importante, distingue os homens dos
animais: somente a respeito dos homens Eclesiastes diz que quando o corpo desce
ao pó, o espírito volta a Deus (Ec 12.7). Somente com relação ao homem,
Jesus revelou que a sua alma é imortal: "Não tenham medo daqueles que
podem matar o corpo e não podem matar a alma" (Mt 10.28a). Portanto, não
somos semelhantes aos animais nem na criação, nem na vida, nem na morte.
"Para impedir à humanidade pecadora a possibilidade de "viver para
sempre" (Gn 3:22), após a Queda Deus barrou o acesso à árvore da vida
(Gn 3:22, 23)". "Após a Queda, Adão e Eva não mais tiveram acesso
à árvore da vida (Gn. 3:22-23) e, conseqüentemente, começaram a experimentar
a realidade do processo da morte".
A alta simbologia da "árvore da vida" não ficará restrita ao
conceito da imortalidade. O assunto foi desenvolvido em tópico anterior, onde
lembrei que a mesma árvore surge na nova morada dos justos: "Ao que
vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus (Ap
2.7). A árvore da vida representa a plenitude da vida eterna. A desobediência
do homem resultou não na perda da imortalidade de seu espírito, mas em sua
morte física e espiritual, como já explicado. A árvore da vida manifesta-se
nos dias de hoje para o homem redimido, e estará na Jerusalém celestial,
indicando o pleno retorno às condições no Éden.
"A advertência divina (G. 2:17) estabelece uma clara ligação ética
entre a vida e a obediência versus morte e desobediência. A natureza humana não
foi criada com uma alma imortal, mas com a possibilidade de tornar-se imortal. A
desobediência resultou em morte, não apenas para o corpo, mas para a pessoa
inteira. Deus não disse: "no dia em que comerdes dela, vossos corpos
morrerão enquanto vossa alma sobreviverá num estado desincorporado".
Antes, declarou: "Vós", ou seja, a pessoa inteira,
"morrereis".
A declaração "certamente morrereis" não revela tudo a respeito
do complexo ser humano. Aprendemos que na Bíblia, a exemplo do Messias que começou
a ser revelado em Gênesis 3.15, as revelações são progressivas, como foi
progressiva a revelação a respeito da imortalidade e sobrevivência da alma.
Após a queda, Adão experimentou a morte espiritual ao ver-se afastado de Deus,
e ficou potencialmente sujeito à morte física.
"Sumariando, a expressão "o homem se tornou uma alma vivente-nephesh
hayyah" apenas significa que em resultado do sopro divino, o corpo
inanimado fez-se um ser vivente, que respirava--nada menos do que isso. O coração
começou a bater, o sangue a circular, o cérebro a pensar, sendo todos os
sinais vitais ativados. Declarado em termos simples, "uma alma
vivente" significa "um ser vivo", e não "uma alma
imortal". O que distingue os seres humanos dos animais não é a alma, mas
o fato de que os seres humanos foram criados à imagem de Deus, isto é, com
possibilidades semelhantes às de Deus, não disponíveis aos animais."
"Possibilidades semelhantes às de Deus" é uma afirmação dúbia.
Quais possibilidades? Poderíamos dizer que uma dessas possibilidades seria a
imortalidade. O próprio Deus destacou a alma como o elemento que distingue os
homens dos animais. O animal morre, e nada sobrevive; morre o homem, o espírito
imortal sobrevive (Ec 12.7; Mt 10.28). Portanto, é exatamente o contrário do
que foi dito.
"A Bíblia traz um relatório de sete pessoas que foram levantadas
dentre os mortos (1 Reis 17:17-24; 2 Reis 4:25-37; Lucas 7:11-15; 8:41-56; Atos
9:36-41; 20:9-11), mas nenhuma delas teve uma experiência de pós-morte para
compartilhar.
"Não existe forma de vida consciente entre a morte e a ressurreição. Os
mortos repousam inconscientemente em suas sepulturas até que Cristo os chame no
glorioso dia de Sua vinda".
Mais uma vez tenta-se firmar tese com base no silêncio das Escrituras. Não
é boa essa hermenêutica. As doutrinas devem ser apresentadas com base no que a
Bíblia diz, e não no que ela não diz. Porque a Bíblia não relata experiências
pós-morte, então não existe vida espiritual logo após a morte? Poderíamos
dizer que os animais também ressuscitam, pois a Bíblia nada diz a respeito.
O argumento acima desconsidera o fato de que Moisés, apesar de haver morrido há
mais de mil anos, apareceu em sã consciência e conversou com Jesus na
transfiguração, estando presentes Pedro, Tiago e João (Mt 17.1-9). O profeta
Elias, que subiu ao céu num redemoinho, também ali estava. O registro da
presença de Moisés no monte da transfiguração é bastante para demolir o
dogma da inconsciência dos mortos. Na tentativa de contornar mais esse obstáculo,
alegam que é possível que Moisés haja ressuscitado, considerando-se que
"o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do
corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele..."
(Jd 9). Mas onde está escrito que Moisés ressuscitou? O que está escrito na Bíblia
é que ele morreu e foi sepultado.
Todos os justos que já morreram estão na presença do Senhor, porque
"Deus não é Deus de mortos, mas de vivos" (Mt 22.32). Esta é uma
declaração da sobrevivência da personalidade após a morte. Entre a morte e a
ressurreição os justos continuam como que vivos para Deus, e aguardam o
momento glorioso da redenção do corpo, quando enfim a morte será vencida.
Leiam:
"Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para ele
vivem todos" (Lc 20.38). A passagem explica que depois que os patriarcas
morreram em seu estado corpóreo continuaram vivendo em outro estado.
"Nenhum texto bíblico autoriza a declaração de que a 'alma' é
separada do corpo no momento da morte. O ruach, 'espírito', que faz do homem um
ser vivente (cf. Gn 2:7), e que ele perde por ocasião da morte, não é,
falando-se apropriadamente, uma realidade antropológica, mas um dom de Deus que
retorna a Ele ao tempo da morte. (Ec 12:7)".
Nesse caso o argumento do silêncio das Escrituras erra o alvo. A visão
adventista da inconsciência após a morte assenta-se sobre dois pilares: Gênesis
2.7, "o homem se tornou alma vivente", e Gênesis 2.17,
"certamente morrerás". Os dois textos são citados à saciedade no
decorrer do artigo sob análise. Em tópico anterior dissertamos sobre essa
questão. A expressão "alma vivente" significa um ser que vive, que
se move, que respira. O homem é uma alma no sentido em que ele é um ser
vivente, uma pessoa, uma personalidade. O próprio Deus, na Pessoa do Filho, que
criou o homem e disse "certamente morrerás", e que veio trazer Boas
Novas, nos ensinou que o homem possui uma parte imaterial, o espírito, que se
separa do corpo na hora da morte (Mt 10.28). Com isso, Jesus deu mais luz ao
contido em Eclesiastes 12.7. Ao dizer ao ladrão arrependido:
"Hoje estarás
comigo no paraíso", Jesus não se referia ao "dom de Deus", à
vida do malfeitor. Referia-se à sua personalidade, ao seu espírito, parte
invisível e imaterial do seu ser. Ele foi recebido no céu pelo Deus dos vivos,
e não dos mortos.
"Primeiramente, não há lembrança do Senhor na morte: "Pois na morte
[maveth] não há recordação de Ti; no sepulcro quem te dará louvor?"
(Sal. 6:5)".
Já comentamos e refutamos diversos textos apresentados como prova de que não há
memória na morte. A contestação e explicação está no próprio versículo.
É "no sepulcro", onde jaz o corpo, que ocorre a falta de memória.
"Alguns argumentam que a intenção das passagens que acabamos de citar e
que descrevem a morte como um estado de inconsciência "não é ensinar que
a alma do homem é inconsciente quando ele morre", e sim de que "no
estado de morte o homem não mais pode participar nas atividades do mundo
presente". Em outras palavras, uma pessoa morta é inconsciente no que
concerne a este mundo, mas sua alma é consciente no que concerne ao mundo dos
espíritos. O problema com essa interpretação é que tem por base o
pressuposto gratuito de que a alma sobrevive à morte do corpo, um pressuposto
que é claramente negado no Velho Testamento. Descobrimos que no Velho
Testamento a morte do corpo é a morte da alma porque o corpo é a forma
exterior da alma".
"Em vários lugares, maveth [morte] é usada em referência à segunda morte.
"Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer
na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho, e viva.
Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que haveis de
morrer, ó casa de Israel" (Ez 33:11; cf. 18:23, 32). Aqui a "morte do
ímpio" obviamente não se refere à morte natural que toda pessoa
experimenta, mas aquela infligida por Deus no Fim aos pecadores impenitentes.
Nenhuma das descrições literais ou referências figuradas da morte no Velho
Testamento sugere a sobrevivência consciente da alma ou espírito à parte do
corpo. A morte é a cessação da vida para a pessoa integral."
Houve um lamentável equívoco na exposição da idéia. Em primeiro lugar, por
que buscar apoio somente no Velho Testamento? A Palavra de Deus não se estende
ao Novo Testamento? Segundo, o texto citado como exemplo não dá suporte à
eliminação do corpo e alma juntos. As lentes dos aniquilacionistas enxergam
extermínio em qualquer tipo de morte. Mas não é bem assim. Adão morreu, mas
não foi exterminado. Nós morremos em Adão, por causa de sua desobediência (1
Co 15.22); os crentes morrem para o pecado, isto é, afasta-se de toda associação
espiritual com o sistema pecaminoso do mundo (Rm 6.2; 1 Pe 2;24); morremos de
morte natural (Mt 9.24); os ímpios morrem em seus pecados (Jo 8.24).
Vejamos o que diz o verso apresentado como prova: "Dize-lhes: Vivo eu, diz
o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio
se converta do seu caminho e viva; convertei-vos, convertei-vos dos maus
caminhos; pois por que razão morrereis, ó casa de Israel" (Ez 33.11). Em
outras palavras, o texto repete Ez 18.20: "A alma que pecar, essa morrerá".
Agora, vejamos o que o articulista disse acima:
"Descobrimos que no Velho Testamento a morte do corpo é a morte da alma
porque o corpo é a forma exterior da alma".
Se a descoberta foi em decorrência dos versículos acima, vê-se claramente
que nada foi descoberto. Ezequiel 18.20 e 33.11 falam em morte dos ímpios, isto
é, morrem em suas iniqüidades (vv.10,13,18). Não diz que a morte do corpo é
a morte da alma, nem diz que se trata de um extermínio nos tempos do fim. A
"morte do ímpio" se caracteriza em dois planos:
(a) aqui na terra,
pela quebra da comunhão com Deus (Tg 1.15), significando morte espiritual, tal
como aconteceu com Adão logo após desobedecer (Gn 3.7-10);
(b) a morte eterna,
caracterizada pela separação definitiva e irremediável entre o pecador e
Deus, após a ressurreição de que trata Jo 5.29 e Apocalipse 20.5. A morte
eterna é entendida como a segunda morte, o lago de fogo - mais adiante
explicado -, onde serão atormentados para todo o sempre (Ap 20.10).
"Não há qualquer indicação de que a alma de Lázaro, ou das demais
seis pessoas levantadas da morte, tenha ido para o céu. Nenhuma delas teve uma
"experiência celestial" para narrar. A razão disso é que nenhuma
ascendeu ao céu. Isso é se confirma na referência de Pedro a Davi em seu
discurso no dia de Pentecoste: "Irmãos, seja-me permitido dizer-vos
claramente, a respeito do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado e o seu
túmulo permanece entre nós até hoje" (Atos 2:29). Alguns poderiam
argumentar que o que estava na sepultura era o corpo de Davi, não sua alma que
havia ido para o céu. Essa interpretação, porém, é negada pelas explícitas
palavras de Pedro: "Porque Davi não subiu aos céus" (Atos 2:34). A
tradução de Knox assim reza: "Davi nunca subiu para o céu". A Bíblia
de Cambridge traz a seguinte nota: "Pois Davi não ascendeu. . . Ele desceu
à sepultura e 'dormiu com os seus pais'". O que dorme na sepultura,
segundo a Bíblia, não é meramente o corpo, mas a pessoa integral que aguarda
o despertar da ressurreição".
O simples fato de não haver relato das "experiências celestiais"
não prova nada. Não é boa a hermenêutica que busca apoio no silêncio da Bíblia.
Vejamos o contexto em que se insere "Porque Davi não subiu aos céus":
"A respeito dele [de Cristo] disse Davi: Porque tu não me abandonaste no
sepulcro, nem permitirás que o teu Santo sofra decomposição... Posso dizer
que o patriarca Davi morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até
o dia de hoje... Prevendo isso, ele falou da ressurreição do Cristo, que não
foi abandonado no sepulcro e cujo corpo não sofreu decomposição. Pois Davi não
subiu aos céus..." (At 2.25-34).
Pedro explicou que a afirmação de Davi (Sl 16.10) não se referia ao próprio
Davi, e sim a Jesus, que realmente ressurgiu dos mortos. Conclui dizendo que não
foi o corpo de Davi que ressuscitou, pois o patriarca morreu e foi sepultado, e
o seu túmulo está entre nós até o dia de hoje" (v.29). ... "Porque não foi Davi quem subiu para o
céu" (anabainõ-subir, ascender, levantar-se). Que o espírito de Davi foi
imediatamente para o céu não há dúvida, à vista das diversas passagens bíblicas
aqui citadas, e também porque ele era "homem segundo o coração de
Deus" (At 13.22). É da vontade de Deus que os seus, a exemplo de Moisés,
Elias, Enoque e o ladrão arrependido subam logo para o céu.
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito,
para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João
3:16). O destino dos que recusam crer é a destruição ("perecer"), e
não a salvação universal".
No tópico sob o título "extermínio dos ímpios" o assunto foi
amplamente analisado e refutados os argumentos contrários. Faz parte da visão
dos mortalistas ver extermínio em tudo. O mesmo verbo apollumi-perecer, de João
3.16, é usado, por exemplo, em Romanos 14.15: "Não destruas [ou faças
perecer] por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu"; e em 1 Co
8.11: "E, pela tua ciência, perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo
morreu". Não se há de admitir que o irmão seja exterminado nesta vida
terrena ou depois de ressuscitado. Então, entenda-se "perecer", em João
3.16, como arruinar-se, afastar-se de Deus, perder a fé, perder-se, desviar-se
do caminho.
"A solução sensata aos problemas do ponto de vista tradicionalista
deve ser encontrada, não por rebaixar ou eliminar o quociente de dor de um
inferno literal, mas aceitando-se o Inferno por aquilo que realmente é - a punição
final e permanente aniquilamento dos ímpios. Como declara a Bíblia, "Mais
um pouco de tempo e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar, e não
o acharás", porque "o destino deles é a perdição" (Fil.
3:19).
A tese sobre o aniquilamento está mal formulada ou mal explicada. A morte
natural é considerada como aniquilamento? Considerando que os ímpios
ressuscitarão (Ap 20.5), a pena capital ocorrerá logo após ressuscitarem?
Neste caso, qual seria a finalidade da ressurreição deles? Ressuscitariam,
seriam castigados por um tempo de acordo com suas obras, e depois seriam
exterminados? Neste caso, não seria melhor não revivê-los? 3
Referindo-se a Ezequiel 33.11, o articulista afirma que a "morte" ali
referida "obviamente não se refere à morte natural que toda pessoa
experimenta, mas aquela infligida por Deus no Fim aos pecadores
impenitentes".
Depreende-se que ao afirmar que "o destino deles é a perdição" o
adventismo admite que o extermínio será o do corpo ressurreto, uma vez que não
admite a existência de uma alma em sofrimento consciente. Retornamos ao
seguinte questionamento: os ímpios reviverão para morrer? Sairão da sepultura
para morrerem em seguida? Qual seria a finalidade da ressurreição dos ímpios
(Ap 20.5)?
O inferno/lago de fogo e enxofre é lugar de prisão, desprezo, vergonha. Os
anjos que pecaram foram lançados no inferno, presos em "abismos
tenebrosos" (2 Pe 2.4; cf. Jd 6;cf Ap 20.7). O tormento é eterno,
"para todo o sempre" (Ap 20.10).
"Mas não há ressurreição da segunda morte, pois os que a
experimentam são consumidos no que a Bíblia chama "o lago de fogo"
(Ap. 20:14). Esse será o aniquilamento final".
A refutação está no próprio capítulo,
verso 10: "E o diabo, que os
enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso
profeta [e para onde irão os ímpios, cf. verso 15]. De dia e de noite serão
atormentados, para todo o sempre". Todas as versões consultadas falam num
tormento sem fim. O comentário da Bible Online (GILL), assim traduz: "E
serão atormentados dia e noite para sempre; quer dizer, não só o diabo, mas a
besta e falso profeta, porque a palavra está no plural: e este será o caso de
todos os homens maus, de todos os inimigos de Deus e Cristo; é uma prova da
eternidade de tormentos do inferno".
"Não há existência independente do espírito ou alma à parte do
corpo. A morte é a perda do ser total, e não meramente a perda do bem-estar. A
pessoa inteira repousa na sepultura num estado de inconsciência caracterizado
na Bíblia como "sono". O "despertar" desse sono terá lugar
quando Cristo vier e chamar de volta à vida os santos adormecidos".
Então, anulemos tudo aquilo o que na Bíblia define como visão dualista,
sobrevivência e consciência da alma após separar-se do corpo. Desprezemos,
por exemplo, o relato dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas que falam da
Transfiguração de Jesus, onde apareceu Moisés, que havia morrido há mais de
mil anos (Mt 17.1-8; Mc 9.1-8; Lc 9.28-36). Quem estava ali? Uma saída honrosa
seria dizer que era o "sopro" personificado de Moisés ou um fantasma.
Nada disso. Era Moisés mesmo, confirmando que na morte a parte imaterial
chamada espírito se separa e segue o seu destino: os de Cristo seguem
diretamente para o céu. Sobre Moisés, escrevi numa determinada lista de
discussão, onde o assunto entrou em debate:
Pensei pudesse receber melhor contribuição dos adventistas, ainda que contrária à minha crença, com relação ao aparecimento do falecido Moisés no monte da Transfiguração. O argumento contrário é bem vindo para que possa refutar com responsabilidade.
O que vi, todavia, foi a alegação de que Jesus não iria participar de uma sessão espírita, haja vista a proibição para tal prática (Is 8.19). Ora, o que está em pauta não é isso. Essa argumentação seria mais válida para ser apresentada por um espírita, em defesa da comunicação com os mortos.
O que sobressai é que a Palavra diz que Moisés, falecido, apareceu no monte da Transfiguração e falou com Jesus. Dizer que isso equivale a uma sessão espírita e que por isso mesmo não pode ser levado em conta, é não encarar de frente a questão.
Mas vamos lá. Na Transfiguração não se caracterizou uma sessão espírita como a conhecemos. Não houve intermediário, um médium entre o morto Moisés e Jesus. Não ocorreram manifestações mediúnicas. Moisés conversou com o Senhor Jesus como se estivesse no céu. Os apóstolos que presenciaram o fato não conversaram com o morto Moisés nem com Elias. Estes e Jesus conversaram entre si.
A Transfiguração (metamorphoõ) de Jesus se caracterizou por uma mudança radical do seu corpo; o termo denota alteração substancial, mudança completa. Então, o Filho de Deus se apresentou ali com a Sua natureza divina plena, da mesma forma como os apóstolos O viram na ascensão. Somente nessa condição falou com o morto Moisés. Não cito Elias porque este não passou pela morte; foi trasladado. Vejam que o rosto de Jesus "resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz" (Mt 17.2).
Menos desastroso argumento, embora natimorto, seria dizer que ali estava o "sopro personificado de Moisés", ou que tudo isso é um simbolismo, que na verdade Moisés quer dizer Lei, e Elias quer dizer profetas. Seriam argumentos completamente refutáveis, mas muito mais dignos do que dizer que não podia ser Moisés porque Jesus não iria participar de uma sessão espírita.
"Como no serviço típico do Dia da Expiação, os pecadores
impenitentes eram "eliminados" e "destruídos", assim no
cumprimento antitípico do juízo final, os pecadores "sofrerão penalidade
de eterna destruição banidos da face do Senhor" (2 Ts 1:9).
A palavra "destruição" e as equivalentes perecer, eliminar e
aniquilar ocorrem 66 vezes no artigo sob exame. Portanto, estamos realmente
diante da doutrina do aniquilacionismo.
...
Apõleia-destruição/perdição tem o significado de separação, "perda
de felicidade, de bem-estar, não de ser". Poderíamos traduzir assim:
"Sofrerão a pena da eterna separação de Deus". .... São expulsos, perdem o
privilégio de viverem para sempre com o Senhor. .... Deus elimina e separa? Ora, se vão ser
exterminados não há porque separá-los. Os ímpios ficarão eternamente
separados.
Em nenhum momento o autor do artigo sobre a visão holística faz qualquer
comentário sobre os castigos diferenciados. Como conciliar a doutrina da
punição proporcional às faltas cometidas com o conceito holístico o
extermínio puro e simples? Ora, a punição diferenciada como resultado do
julgamento segundo as obras espelha a reta justiça de Deus. A pena capital
nivelaria todas as faltas cometidas. Todos pagariam igualmente com a morte,
qualquer que fosse o nível de suas culpas.
Sobre a ressurreição dos ímpios, revela o artigo:
"Mas não há ressurreição da segunda morte, pois os que a
experimentam são consumidos no que a Bíblia chama "o lago de fogo"
(Ap 20:14). Esse será o aniquilamento final". A Bíblia, contudo, faz uma
distinção entre a primeira morte, que todo ser humano experimenta em resultado
do pecado de Adão (Rm 5:12; 1 Co 15:21), e a segunda morte experimentada após
a ressurreição (Ap 20.5) como salário pelos pecados pessoalmente cometidos
(Rm 6.23).
Admitem os mortalistas que os ímpios, após ressuscitarem (Jo 5.29; Ap
20.5), serão eliminados. Determinado adventista disse que "a
ressurreição do ímpio é o prelúdio de sua destruição". Deus agiria
assim para que os ímpios morram "conscientes" de sua punição? Ora,
na morte não há consciência. Apesar de já estarem mortos, Deus faria
ressurgir bilhões de corpos para em seguida queimá-los no lago de fogo e
enxofre. Para quê, se eles já estavam mortos?
O lago de fogo não é uma espécie de matadouro, um lugar de extermínio. É um
lugar de vergonha, desprezo, angústia, tristeza por que passarão os que lá
estiverem, pelos séculos dos séculos. A mesma expressão grega usada em
Apocalipse 20.10, "serão atormentados para eis tous aiõnas ton
aiõnõn-todo o sempre", é usada em Hebreus 1.8, referindo-se à duração
do trono de Deus, eterno no sentido de interminável; em 1 Pedro 4.11,
concercente à Sua glória e domínio para sempre; em Apocalipse 1.8, sobre a
eternidade do Cordeiro.
Acompanhem a seguinte seqüência de eventos e comprovem que a "segunda
morte" não é uma aniquilação, mas um estado eterno de separação de
Deus:
Apocalipse 19.20 - A besta e o falso profeta são lançados vivos no lago de
fogo.
Apocalipse 20.2 - Satanás é amarrado por mil anos.
Apocalipse 20.5 - Os outros mortos reviveram após os mil anos.
Apocalipse 20.7 - Satanás será solto da sua prisão.
Apocalipse 20.10 - O diabo foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a
besta e o falso profeta. De dia e de noite serão atormentados para todo o
sempre.
Apocalipse 20.15 - Serão lançados no lago de fogo todos os não inscritos no
livro da vida.
Observem que passados mil anos (Ap 19.20) a besta e o falso profeta ainda se
encontravam vivos no lago de fogo (Ap 20.10) e continuarão no mesmo eterno
estado de ruína, sendo atormentados dia e noite. Diante das evidências,
falece, porque não bíblica, a tese da aniquilação dos ímpios.
"Descobrimos que tanto o Velho quanto o Novo Testamento claramente
ensinam que a morte é a extinção da vida para a pessoa integral. Não há
lembrança nem consciência na morte (Sl 9:5; 146:4; 30:9; 115:17; Ec 9:5). Não
há existência independente do espírito ou alma à parte do corpo. A morte é
a perda do ser total, e não meramente a perda do bem-estar. A pessoa inteira
repousa na sepultura num estado de inconsciência caracterizado na Bíblia como
"sono". O "despertar" desse sono terá lugar quando Cristo
vier e chamar de volta à vida os santos adormecido".
Sobre o "sono da alma" já discorremos em análise anterior, neste
estudo. O simples fato de a Bíblia usar a expressão "dormir" para os
crentes mortos não pode ser traduzido como uma declaração de não
sobrevivência da alma. Eclesiastes 9.5 deve ser entendido com os versos 6 e 10
seguintes: não há entendimento "debaixo do sol" nem na
"sepultura". Nesta, morrem os projetos humanos. Há, sim, vida após a
morte, em razão da imortalidade da alma. A vontade dos adventistas e demais
contradizentes é que os homens, na morte, sejam iguais aos animais. Todavia,
somente no caso dos homens se diz que o corpo desce à sepultura, mas o
espírito volta a Deus. Ora, os animais também receberam o fôlego de vida
diretamente do Criador. Por que razão ao morrerem seus "espíritos"
não se separam?
Salmos 9.5 fala da vitória de Davi sobre os inimigos do Deus de Israel, que
pode ser uma alusão aos Amalequitas, quase totalmente aniquilados no reinado de
Saul (1 Sm 15.1-9). Os sobreviventes dessa nação inimiga foram exterminados
pelo salmista Davi (1 Sm 30). O exemplo não pode servir para estabelecer
doutrina sobre o aniquilamento dos ímpios. Nem todos os ímpios são
exterminados da mesma forma. A maioria morre de morte natural, como morrem
também os justos. O salmista diz que seus nomes estão apagados para sempre.
Sim, seus nomes, aqui na terra estão apagados. Serão lembrados na
ressurreição (Ap 20.5) para receberem o castigo eterno. Portanto, o exemplo do
Salmo 9.5 é inadequado como apoio ao ensino do aniquilamento, quer da alma,
quer dos ímpios.
Salmos 146.4, citado pelo adventista, diz que na morte perecem os pensamentos
dos homens. A mensagem fala da fragilidade dos propósitos humanos, que em
decorrência da morte não conseguem dar-lhe curso. Por isso, o salmista diz
para não confiarmos em homens (v. 3), mas depositarmos a nossa esperança no
Senhor (v.5). "Naquele dia perecem os seus pensamentos" nada diz sobre
a inconsciência do espírito que na morte se separa do corpo.
Salmos 30.9 ressalta uma realidade: "Porventura te louvará o pó?".
Trata-se de um "cântico para a dedicação do templo". A palavra
hebraica yãdãh-louvar é usada como expressão de adoração, agradecimento ou
louvor público-congregacional. Na morte, o salmista estaria impedido de dar
testemunho público no meio da congregação (cf. Sl 22.12,22; 35.18). Nesta
concepção, somente os vivos louvam (Is 38.18-19). O salmista conclui
afirmando:
"Senhor, Deus meu, eu te louvarei para sempre" (Sl
30.12).
Todavia, "as almas dos mortos", cuja redenção ainda não se
completou pela ressurreição do corpo, estão no céu louvando a Deus
continuamente (Ap 6.9,10; cf Ap 19.4-7).
Quando a Bíblia diz que os mortos não louvam ao Senhor (Sl 115.17) e sua
memória jaz no esquecimento (Ec 9.5), está falando de não haver memória
neste mundo, mas certamente há memória deste mundo. Salomão esclarece ao
dizer que "na sepultura, para onde vais, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma" (Ec 9.10). Na morte, os projetos
humanos são findos. A Bíblia ensina que a alma sobrevive à morte num estado
consciente de conhecimento.
"Outro bom exemplo se acha em 2 Ts 1:9 onde Paulo, falando a respeito
dos que rejeitam o evangelho, declara objetivamente: "Estes sofrerão
penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do Seu
poder".
Evidentemente a destruição dos ímpios não pode ser eterna em duração
porque é difícil imaginar um processo eterno, inconclusivo de destruição. A
destruição pressupõe aniquilamento. A destruição dos ímpios é eterna,
não porque o processo de destruição continue para sempre, mas porque os
resultados são permanentes. Do mesmo modo, os resultados da "punição
eterna" de Mat. 25:46 são permanentes. É uma punição que resulta em sua
eterna destruição ou aniquilamento".
Entenda-se "destruição eterna" como eternamente arruinados,
perdidos, abandonados, banidos da face do Senhor. Estarão destruídos porque
separados para sempre do Senhor: ...
O termo olethros-perdição, ruína, destruição é usado no Novo Testamento em
quatro casos, e em nenhum deles significa extermínio (1 Co 5.5; 1 Ts 5.3; 2 Ts
1.9; 1 Tm 6.9). Exemplo:
"Os que querem ficar ricos caem em tentação, e
em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens
na perdição e ruína" (1 Tm 6.9). Na Bíblia, nem sempre a palavra
original traduzida como destruir/destruição significa literalmente exterminar
ou aniquilar:
"O meu povo foi destruído porque lhe faltou o
conhecimento...também eu te rejeitarei..." (Os 4.6). Vejam o termo
hebraico shahat-destruir com o significado de ser vencido, rejeitado, derrotado,
arruinado espiritualmente. Os israelitas eram "destruídos" porque
rejeitavam deliberadamente a verdade que Deus lhes revelara através dos
profetas e de sua Palavra escrita. Outro exemplo:
"Porque no Filho do Homem
não veio para destruir [apollumi] as almas dos homens, mas para
salvá-las" (Lc 9.56).
Então, banidos da presença de Deus, de sua majestade e glória, estarão em
ruína, destruídos, desprezados, envergonhados, punidos com eterno castigo (2
Ts 1.9; Dn 12.2; Mt 25.46; 2 Pe 2.9; Ap 20.10).
"Antes de analisarmos a parábola, precisamos nos lembrar que
contrariamente a uma alegoria como O Peregrino, onde cada detalhe conta, os
detalhes de uma parábola não têm necessariamente algum significado em si
mesmos, exceto como "pontos de apoio" para o relato. A parábola tem o
propósito de ensinar uma verdade fundamental, e os detalhes não têm um
significado literal, a menos que o contexto indique doutra forma. A partir deste
princípio outro se desenvolve, ou seja, somente o ensino fundamental de uma
parábola, confirmado pelo teor geral das Escrituras, pode ser legitimamente
usado para definir doutrina.
A tentativa de Peterson de extrair três lições da parábola ignora o fato de
que a sua principal lição é dada na linha conclusiva: "ainda que
ressuscite alguém dentre os mortos" (Luc. 16:31). Esta é a principal
lição da parábola, ou seja, nada ou ninguém pode superar o poder convincente
da revelação que Deus nos concedeu em Sua Palavra. Interpretar Lázaro e o
homem rico como representantes do que ocorrerá aos salvos e perdidos
imediatamente após a morte significa querer captar da parábola lições
estranhas a sua intenção original.
O articulista fez uma ampla exposição da parábola do rico e Lázaro (Lc
16.19-31), do que extraímos algumas referências, como acima. Em suma, diz que
não devemos levar em conta tudo o que foi dito por Jesus. Estabelece como
principal lição da parábola "o poder convincente" da Palavra de
Deus.
Todos esses argumentos objetivam contornar uma preocupante e incômoda
afirmação:
"Morreu o mendigo [Lázaro] e foi levado pelos anjos para o
seio de Abraão" (Lc 16.22). Simples e bela como uma flor, a afirmação de
Jesus atinge em cheio a tese dos mortalistas de completa inconsciência depois
da morte e de não sobrevivência da personalidade do homem.
Jesus teria cometido o deslize de causar tremenda confusão entre as gerações
futuras ao dizer que três almas - Abraão, Lázaro e o rico - haviam se
apartado do corpo, na morte, e estavam, conscientes, em seus devidos lugares,
mesmo sabendo que a alma morre com o corpo? Improvável.
Na parábola do rico e Lázaro não há apenas uma verdade. Há várias lições
que dela podemos extrair. A primeira, é que na morte o espírito se separa do
corpo, e os salvos irão imediatamente para a presença do Senhor (Cf. Ec 12.7;
Mt 10.28; Lc 8.55; 23.43,46; At 7.59; Fp 1.21,23; 2 Co 5.1,8; Ap 6.9; 20.14). A
segunda, é que o estado de tormento ou de bem-aventurança após a morte é um
estado consciente e irreversível. A terceira, é que os espíritos dos mortos
não podem sair de onde estão para auxiliar os vivos. A quarta, é que o meio
eficaz de salvação é crer em Jesus e na sua Palavra.
(22.04.2003)
Airton Evangelista da Costa E-Mail:
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