Francisco Nunes
Posted
in March 2nd, 2013
Reconheço que esta série de artigos (leia os artigos 1, 2 e 3) foge bastante
do que eu havia proposto como objetivo do Campos de Boaz. No entanto, creio que
seja necessário alertar os filhos de Deus sobre o assunto, pois, como penso já
ter demonstrado, trata-se de um produto editorial que visa enganar ao leitor,
além de ser de qualidade altamente questionável.
Neste
artigo, comentarei mais algumas questões do ponto de vista editorial e
analisarei alguns aspectos acerca da tradução ou dos critérios (ou falta deles)
nela usados.
Antes
disso, veja a imagem abaixo, de http://s533.photobucket.com/user/detudo/media/campos/mktrastrosdooculto_zps0e908f1a.jpg.html
Este
livro é publicado pela BVBooks, a mesma editora da King James Atualizada. Vamos
considerar rapidamente o fato do livro ser de autoria de Daniel Mastral
(pseudônimo de Marcelo Agostinho Ferreira) e de sua esposa, Isabela Mastral
(pseudônimo de Cynthia Gonçalves Rosa Lotti). Além de sua teologia espúria
sobre satanismo e batalha espiritual, ambos são acusados de terem inventado
suas histórias, entre muitas outras coisas. Um pequeno exemplo das coisas
estranhas que envolvem a dupla: aqui você encontra
um número de CPF atribuído à Cynthia. No entanto, clicando aqui, no sítio da
Receita Federal, você poderá conferir que esse CPF é de outra pessoa, Orpheu
Lotti. Curiosamente, aqui o mesmo número
de conta bancária é fornecida, com outro CPF da Cynthia. A alegação para o uso
do pseudônimo era que os satanistas são muito poderosos e poderiam fazer mal a
ele. Argumento insustentável por duas razões simples:
1. Se os
satanistas são tão poderosos e espalhados por todo canto, como ele alega, não
seria um pseudônimo que o iria proteger.
2. Depois
de vídeos no YouTube e seminários pelo Brasil afora, não é difícil para ninguém
identificá-lo e saber onde encontrá-lo.
E por que
manter um nome falso depois de já se tornar tão conhecido? Veja aqui, quando ele
fala do certificado para quem faz seus seminários, da importância que é dada a
esse falso nome.
Neste
livro, Daniel/Marcelo ensina, entre outras coisas, a existência de portais
dimensionais permanentes, os últimos dos quais serão abertos agora em 2013.
Confira essa “profecia” aqui, além da defesa
desse ensinamento, apesar de não ser encontrado na Bíblia.
Não lhe
parece estranho ser essa a editora responsável pela King James no Brasil? Eu,
particularmente, considero, sim, estranho.
Mas vamos
considerar que não houvesse nenhum problema pessoal ou teológico com o
Daniel/Marcelo. Mesmo assim, ao ler o anúncio acima, ficaríamos apreensivos com
o conteúdo, dados os erros ali encontrados: “contra qual” em vez de “contra o
qual”; na frase em vermelho, há separação por vírgula entre sujeito e verbo;
acentuação errada da palavra demoníaca; falta de vírgula após “fundamentais”. Além
disso, a redação é ruim, sem coesão. O que é “riqueza de detalhes” nesse caso?
O que é “nosso meio”? O que é “como o apóstolo Paulo”? Aprender princípios
fundamentais? Mas ele não leu este livro! Adquirir a (destaque para o artigo
definido) autoridade espiritual? Por ler esse livro? Então, antes deste livro
ninguém teve autoridade espiritual?
Muito
estranho…
Fechemos o
parêntese e voltemos à KJA.
Nas págs.
1244 e 1245 está a introdução a Eclesiastes. É citado o título hebraico do
livro: Cohélet. Logo depois, é dito que seu equivalente grego é ekklesiastes. O
problema é que nenhuma das palavras está em itálico, como orienta a regra
culta. Desse modo, o leitor “tropeça” em palavras estranhas no meio do texto.
Parece uma coisa sem importância, mas isso se repete ao longo das notas de
rodapé, gerando dificuldade e no conseguinte entendimento do texto.
No
parágrafo seguinte lemos: “Seu estilo sapiencial, exclusivo e incomparável
revelado nos mais antigos e reconhecidos manuscritos originais a que o Comitê
de tradução da Bíblia King James teve acesso…”. Lendo até aqui, pode-se pensar
que isso se refira à BKJ original, de 1611. Mas haveria uma contradição, pois,
como mostramos nos artigos anteriores, os editores da KJA não creem que os manuscritos
usados pela BKJ fossem os melhores e mais confiáveis. Um leitor atento
perceberá essa contradição aqui. Mas há mais.
O restante
da frase é assim: “… (fragmentos do sêfer, rolo, livro de Eclesiastes
encontrados [sic] nas cavernas de Qunram, no Mediterrâneo)…”. Como o achado de
Qunram se deu em 1947, esses
fragmentos não poderiam ter sido usados pelos tradutores da BKJ. Entende-se,
então, que o texto se refere, na verdade, à KJA. E, mais uma vez, leva-se o
leitor a pensar que KJA é igual à BKJ. (Há erros de português e de
uniformização nessa Introdução que não comentarei.)
Na pág.
1247, em Ec 1.1, lemos: “Eis as palavras de Cohéllet ben David, o mestre, filho
de Davi, rei de Jerusalém”.
A primeira
coisa que chama a atenção é a grafia Cohéllet, diferente da usada na
Introdução, Cohélet. Afinal, qual é a correta? Descuido editorial?
Mas o
realmente estranho é que esse versículo não é uma tradução, mas uma ampliação
ou uma versão bilíngüe. Uma tradução traria apenas a texto em português, quer
usando transliteração ou não; mas aqui temos a transliteração do hebraico mais
a tradução para português! O leitor menos apercebido vai entender que original
traz todas aquelas palavras. É como se os tradutores tivessem acrescentado
palavras aos manuscritos. A nota de rodapé, além da confusão causada pela falta
de itálico nas palavras estrangeiras, não esclarece o método utilizado na
tradução, que conserva o “original” ao lado da versão.
O problema
continua ao longo do livro. Em 1.12 há: “Eu, Cohéllet, o sábio fui rei de
Israel”. Não tem o leitor a impressão de ser Cohéllet um nome próprio? Em 7.27
lemos: “Então declara Cohéllet, o mestre”. De novo, o termo hebraico parece ser
um nome próprio. O leitor não lembra, se é que leu e entendeu, a nota de rodapé
que (quase) explica o uso da palavra transliterada e, por isso, é levado a
pensar nela como nome do tal sábio ou mestre. E a falta de uniformidade no uso
do termo ou da proposta de tradução aumenta a confusão, por exemplo, em 8.1:
“Quem é como o sábio?” O leitor pensará: “O sábio é o tal do Cohéllet.” Por que
não usaram aqui o termo transliterado, para ser coerente com o que se
propuseram a fazer nessa tradução? E para confirmar como é falho essa forma de
tradução e como o leitor é levado, sim, a entender o termo hebraico como nome
próprio, veja 12.8-10: “”Que absurdo! Que futilidade! Tudo é ilusão, vaidade!”
exclama Cohéllet, o sábio. [...] Além de ter sido sábio e mestre, Cohéllet
também ministrou [...] O sábio procurou achar palavras [...] “.
A tradução
diz que Cohéllet é o sábio, que ele é sábio e mestre; portanto, é nome próprio.
Se os tradutores o entenderam como nome próprio (escolha questionável, mas que
poderia ter sido feita), deveriam ter deixado isso claro na nota de rodapé e
serem coerentes com esse entendimento em toda a tradução. Se consideram a
palavra no sentido de “mestre” ou “sábio” tinham, igualmente, de ser coerentes
e não poderiam, em hipótese alguma, conservá-la na tradução, como um acréscimo.
Para
concluir, mais alguns erros de edição em Eclesiastes:
1. Na
nota 1 do cap. 3
a. “… estamos todos sujeitos a (sic) força do tempo”. O correto é “à força”.
b. “O Mestre faz, (sic) um paralelo…”. Na frase anterior, sábio está com
minúscula; aqui, mestre está com maiúscula. Por quê? Depois, há o erro da
separação entre sujeito e verbo por vírgula.
c. “… com o estado de eterno e imutável da soberania de Yahweh…”. Em
outro artigo falarei sobre o uso de Yahweh nessa tradução. Aqui, o problema
está na falta de sentido da frase: eterno e imutável o quê?
2. Na
nota 1 do cap. 4
a. “A opressão é outro componente do drama humano de todos os dias e já foram
(sic) mencionado (sic) anteriormente…”
b. “… a tristeza da vida sem sentido (nonsense)…”. O que faz essa palavra em
inglês aqui? Além de não estar em itálico, é completamente desnecessária. Não
seria ela sinal de que a nota é, na verdade, uma tradução, apesar da introdução
dizer que não?
3. Na
nota 1 do cap. 5
a. “Essa sessão trata da “soft religion” a (sic) religião universal (ecumênica)
bem ao gosto do mundo…”. Por que o termo em inglês? Mesma observação feita
acima… Logo depois, há um “ego” com maiúscula.
4. Na
nota 1 do cap. 6
a. “… há muitas pessoas que… não sabe (sic) ser feliz com elas.”
5. Na
nota 1 do cap. 7
a. A abreviatura de Filipenses é indicada como Fl, que não é de nenhum livro da
Bíblia.
6. Na
nota 1 do cap. 8
a. “… que criou com tanto (sic) carinho e planos. O homem rico da parábola
conta (sic) por Jesus… não passa de vaidade, inutilidade “nonsense” “.
7. Na
nota 1 do cap. 12
a. “… cumpriu, em si mesmo, toda a Bíblia e as Profecia (sic).” Pouco depois,
há outra vez “nonsense”, desta vez sem aspas.
Estes são
apenas alguns exemplos. Há vários casos de erro de conjugação, mal uso de
maiúsculas, problemas de redação…
Até o
próximo artigo.
Francisco Nunes
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo
link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
(retorne a
http://solascriptura-tt.org/ Bibliologia-Traducoes/
retorne a http:// solascriptura-tt.org/ )
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.