O Pastor sem Respostas


(
The Pastor With No Answers)
Vlad Kedrovsky



 

         Em maio de 1996, um pastor batista informou sua congregação que, dentro em breve, num culto vespertino de domingo, haveria uma noite de “perguntas ao pastor”, que as perguntas deveriam ser submetidas com antecedência e por escrito.

As perguntas abaixo foram entregues por um membro da congregação:

1. - O que é Escritura? - Ao longo dos sermões e das conversas, observei algumas contradições em sua posição a respeito da inspiração da Escritura. E, uma vêz que o senhor nos pediu por perguntas...

Creio que sua posição é que somente os autógrafos originais são inspirados. Então, vamos começar. Acho que podemos concordar que os autógrafos originais, a partir de sua existência, teriam sido classificados como “escritura”. Mas, conforme o senhor disse, no domingo à noite, esses manuscritos já não existem. Provavelmente, eles deixaram de existir há uns 1.700 anos. Mas a Bíblia ainda usa a palavra “Escritura(s)”, especialmente na 2 Timóteo 3:16, que diz: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. O senhor definiu bem o que é inspiração e o que não é. Então eu pergunto novamente: O QUE É ESCRITURA, a fim de saber, exatamente, qual é a [Escritura] “inspirada”.

Se eu adotar a sua declaração de que somente os autógrafos originais são inspirados, então devo concluir que “toda a escritura” a eles se referem. Mesmo que eu o fizesse, como poderia uma coisa que já não existia no tempo em que Paulo escreveu estas palavras ter valor algum para pessoa alguma? Voltemos ao verso 15, afirmando que Timóteo conhecia as Escrituras: E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus ”.  Timóteo conhecia os autógrafos originais? Ele os possuía? Ele os teria visto e lido em algum lugar? Vamos conferir em alguns outros lugares. Vejamos Lucas 4:21: Então [Jesus] começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”. A sinagoga em Nazaré [onde aconteceu este episódio] possuía os autógrafos originais de Isaías?  Vejamos João 5:39: Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”. Será que Jesus estava dizendo àquelas pessoas que elas examinassem os autógrafos originais? Como poderiam elas saber se as “Escrituras” haviam se cumprido, se os autógrafos originais já haviam se transformado em pó, há séculos?  Vejamos João 19:36: Porque isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado”.

            Em Atos 8:29-32, lemos que Felipe foi ordenado a se encontrar com o eunuco. Quando o encontrou, ele estava lendo alguma coisa chamada de Escritura, pois Atos 8:32 registra “E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca.” (At 8:32 ACF) Como poderia este homem da Etiópia ter em mão o autógrafo original de Isaías? E por que a sinagoga em Nazaré lho havia dado? E o que dizer dos homens de Bereia mencionados em Atos 17:11? Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Essa estória de que a sinagoga em Nazaré possuía os autógrafos me deixa maluco! E ainda os deu ao eunuco? A não ser que o eunuco os tivesse furtado (do mesmo modo como Tischendorf furtou o Sinaiticus dos frades do mosteiro de Santa Catarina!). De qualquer modo, aprendemos agora que os bereanos tinham todos os autógrafos originais do Velho Testamento! Beleza!!! Mas, se eles os possuíam, o que o eunuco tinha em mão?

         Se a palavra “escrituras” se refere apenas aos “autógrafos originais”, então Jesus praticou uma tremenda fraude contra os que O escutavam. Vamos conferir, por exemplo, entre outros [versos]: Mateus 21:42; 22:29; Marcos 12;10, 24; Lucas 24:27; João 2:22; 7:38,42; 19:37; 20:9; Como poderiam essas pessoas conferir ou conhecer as Escrituras, se estas já haviam se transformado em pó, há séculos? Quando chegamos a Lucas 24, temos uma dúvida sobre o que Jesus disse em Lucas 24:32: “E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras? Por acaso, Jesus possuía os originais? De fato, será que Ele tinha algum livro á mão? Ou Ele apenas falava? No verso 45, Jesus abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras”. Mas, quais Escrituras? Os autógrafos originais? Mas eles haviam sido enviados aos bereanos?

         Em João 10:35, Jesus afirma que a Escritura não pode ser anulada”. Ora, se Ele disse “a Escritura” referindo-se aos autógrafos originais, então cometeu um erro! Todos os autógrafos originais já haviam se tornado pó! O senhor vê o problema que temos aqui? Se a 2 Timóteo 3:16 afirma que os autógrafos originais eram inspirados, então como o senhor explica todos os outros lugares onde a palavra “Escritura(s)” aparece, quando, possivelmente, elas se referem aos autógrafos originais? Pergunto novamente: O QUE É ESCRITURA?

2. - O que é Bíblia? - O senhor disse, claramente, no domingo à noite, que não há contradições na Bíblia. Contudo, nem faz um mês que nos encontramos para o almoço e o senhor declarou que a Bíblia King James contém contradições. Se não me falha a memória, o senhor apontou João 19:36 e 1 Coríntios 11:24. Ora, se eu aceitar ambas as declarações [do senhor, pastor] como verdadeiras, devo concluir que a V.A. 1611 King James não é “A Bíblia”. Daí, minha pergunta: Se a V.A 1611 BKJ não é “A Bíblia”, então qual versão é “A Bíblia”? A NASV, a NVI, a RSV, a NKJV, a NRSV, a LB, a NEB, a ASV, a RV e qualquer uma das mais de 100 traduções que têm aparecido no mercado, nos últimos 100 anos? Ou talvez sejam a 23ª e 26ª, versões [do Texto Crítico] de Nestle-Aland; ou os textos de Westcott & Hort; ou a 1ª. Edição da UBS; ou a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª. edições do texto de Beza; ou o texto de Estéfano; ou o texto de Erasmo; ou o texto do Latim Antigo; ou a Vulgata Latina?; ou a Douhay Rheims; ou A Mensagem; ou a Bíblia Politicamente Correta. Enfim, o que é “A Bíblia”?

         Será que eu posso conseguir uma? Posso ter uma em mão? Se não, posso ver alguma num museu ou em qualquer outro lugar? Existe algum seminário ou algum ministério onde eu possa ir, a fim de ver uma? Será que o livro que o senhor segurava no domingo à noite era “A Bíblia”? Creio que era uma BKJ! Então esse livro era “A Bíblia”? Se era, então o que faziam aqueles livros amarelos colocados à frente dos bancos? Eles são “A Bíblia”? São NIVs, não são? Vi que eram diferentes do livro que o senhor tinha nas mãos. [N.T. - Por que uma BKJ para o senhor e as cópias da NIV para os membros da igreja? Porque custam mais barato?]

3. - Qual é a sua Autoridade Final”?  - No domingo à noite, o senhor declarou meridiana e absolutamente, que, quando alguém encontra passagens em “A Bíblia” que não são inspiradas, então esse alguém se torna a sua própria autoridade. Correndo o perigo de colocar palavras na sua boca (e o senhor tem toda a liberdade de rejeitá-las), eu poderia supor que quaisquer erros e contradições que se encontrem em “A Bíblia” não seriam por Deus inspirados.  Não me refiro às dificuldades ou passagens incompreensíveis, à primeira vista, sem um estudo apropriado. Então, se alguém pudesse encontrar um erro ou contradição, ele não se tornaria a sua própria autoridade? Vamos cobrir todas as áreas. Se alguém pudesse encontrar erros, contradições, más traduções, más colocações ou coisas perdidas nas traduções, não deveria ser a sua própria autoridade? Órfã, o senhor nos admoesta, e muito corretamente, a crer em “A Bíblia”, por causa de todos os críticos detratores. Mas, se a V.A. King James contém erros, contradições, más traduções, entregas faltosas e coisas do gênero, então ela não pode ser “A Bíblia”. Contudo, o senhor nos disse para crer em “A Bíblia” e ponto final. E nos disse que para não sermos nossa própria autoridade, pois “A Bíblia é”. E o senhor levantou um livro físico, quando falou.  Eu vi, por isso repito as perguntas, porque não posso separar as duas: O que é “A Bíblia”? O que é a Autoridade Final?      

4. - É verdade que nenhuma tradução é inspirada?  Porque se for assim, 40 versos do Novo Testamento não são inspirados, visto como, mesmo estando nos estágios originais, eles eram traduções gregas do Velho Testamento. Como o senhor reconhece a “inspiração verbal” do Novo Testamento e, contudo, permite 40 versos não inspirados?

         Êxodo 5-11 é inspirado? Todas aquelas conversas que aconteceram entre Moisés e Faraó foram em egípcio. Mesmo assim, quando Moisés escreveu o Livro de Êxodo, todas as conversas aparecem em Hebraico. Todas elas foram traduções. Ele falava em egípcio para esconder sua identidade dos irmãos. Mesmo assim, escreveu o Pentateuco em Hebraico, portanto, uma tradução.

         E como ficam os decretos de Antaxerxes, de Dario e de Nabucodonosor? Esses caras não falavam o Hebraico! E os livros de Daniel e Ester? Traduções, portanto não inspirados?

         Todo o estofo linguístico de Atos 2 foi tradução, pois cada homem falava em sua própria língua. Portanto, não inspirado? E como ficam os dizeres pregados na cruz, [a mando de Pilatos], em Latim, Grego e Hebraico, portanto, traduções, não inspirados? E quanto a Mateus 27:46? Jesus falou em Aramaico e nos mesmos versos foi dada uma tradução aos autógrafos originais. Suponhamos que “eloí, eloí lamá sabactâni” seja inspirado. Mas em Grego não está sendo uma tradução?

         O senhor tem certeza de que TRADUÇÃO NENHUMA É INSPIRADA? Ora, no contexto de nossas discussões normais, estamos tratando das traduções inglesas de “A Bíblia” (ou o que seja). Mas, o material acima deve neutralizar a noção de que nenhuma tradução pode ser inspirada. Então, deixando de lado as atuais mais de 100 traduções especiais no Inglês, hoje disponíveis no mercado, como é possível afirmar que NENHUMA TRADUÇÃO PODE SER INSPIRADA?

         Não foi o senhor mesmo quem disse: “Deixem que Deus seja Deus!”. Então, o senhor não quer, pelo menos, permitir que Ele seja, realmente, o que Ele deseja ser, não esquecendo o que Ele fez? E nem sequer permite que Ele o faça? Por que não? Como proibir Deus de dar ao mundo uma tradução inglesa inspirada, para ser usada durante uns 400 anos, antes da Segunda vinda do Seu Filho, a este mundo, cuja língua universal é o Inglês? Peço, novamente, para não se esquecer do que Ele fez. Qual a dificuldade em admitir, pelo menos, este projeto?

5. - QUEM DIZ QUE SOMENTE OS AUTÓGRAFOS ORIGINAIS FORAM INSPIRADOS NÃO ESTÁ, NO MÍNIMO, PREGANDO UMA FORMA DE DEÍSMO? - Se negarmos uma proposta deísta à preservação da(s) “Escritura(s)”, então Deus deve estar envolvido em algo além dos autógrafos originais. E qual é este envolvimento? E até que ponto ele vai?  Se Deus não esteve envolvido nas cópias e traduções, então, como alguém pode adiantar a teoria de que somente os autógrafos originais eram inspirados e que o homem dali tendo retirado a inspiração, pode evitar a acusação de deísmo? [Mil, não entendi!]

         Grato por me permitir a oportunidade de perguntar ao pastor. Se eu pensar em mais algumas perguntas, tenha certeza de que as enviarei ao senhor.

Nota: - O pastor levou mais de seis meses, sem sequer admitir ter recebido as perguntas. Lá pelo mês de julho de 1996, ele não havia remetido resposta nem sequer a uma pergunta. Mas, durante todo esse tempo, ele prosseguiu repetindo sua posição ilógica a respeito das “Escrituras”. Repetidas exigências de respostas sobre esclarecimentos de suas ilógicas declarações resultaram apenas na repetição das mesmas. [N.T. Imagino que ele será incluído naquela advertência de Jesus, contida em Mateus 7:21-23: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.




Vlad Kedrovsky

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Traduzido por Mary Schultze, em 17/02/2012.





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