Recentemente, vi um debate entre um defensor do batismo infantil e outro que
defende o lado contrário, do batismo consciente, a partir de quando a pessoa
tem a capacidade de discernir entre o bem e o mal e que possa se arrepender de
seus pecados. Meus argumentos contra o batismo infantil já foram sumariados em http://heresiascatolicas.blogspot.com.br/2012/08/devemos-batizar-os-bebes.html,
de modo que não vale a pena repetir novamente os mesmos argumentos que já foram
apresentados. Neste artigo, apenas me limitarei a comentar sobre toda a (única)
base argumentacional do debatedor favorável ao batismo infantil, o qual
debatedor admitiu que o batismo de crianinhas não se encontra explicitamente na
Bíblia, mas crê que ele é dedutível a partir da tipologia entre circuncisão e
batismo.
Dito em termos simples, na visão dele, como a circuncisão tipifica o batismo e
as crianças eram circuncidadas ao oitavo dia, segue-se necessariamente que os
bebês devem ser batizados também. Essa lógica aparenta fazer algum sentido, e
até certo ponto pode complicar a contra-argumentação de alguém que seja menos
instruído, mas não resiste a um exame crítico do argumento. Mesmo trabalhando
em cima da premissa dele de que a circuncisão era uma tipologia do
futuro batismo, devemos destacar que:
• Apenas as crianças do sexo masculino eram batizadas, as mulheres nunca
passavam por qualquer tipo de circuncisão. Se a tipologia entre circuncisão e
batismo for levada aos extremos que o debatedor se utiliza, então obviamente apenas
os bebês do sexo masculino deveriam ser batizados, negando assim o batismo
às mulheres, o que seria um absurdo.
• A circuncisão não podia ser praticada em “qualquer dia”, mas repetidamente
era reiterado que tinha que ser sempre no oitavo dia de vida da criança
(Lv.12:3). A coisa era tão séria e rigorosa sobre isso que até mesmo quando o
dia da circuncisão caía em um Sábado ela tinha que ser efetuada neste dia,
mesmo sendo considerado um “trabalho” que teoricamente não poderia se fazer no
Sábado (Jo.7:22,23). Assim, deveríamos esperar o mesmo rigor em fazer com que o
batismo fosse efetuado sempre ao oitavo dia da criança, mas essa regra não
existe nas igrejas que batizam recém-nascidos.
• A circuncisão não era praticada por todas as nações, mas pelos israelitas, já
o batismo é efetuado em judeus e em não-judeus indistintamente.
Portanto, a questão não é tão simples como alegar que:
(1) a circuncisão tipifica o batismo;
(2)crianças eram circuncidadas; então:
(3) crianças devem ser batizadas.
Por essa mesma lógica,
as mulheres não poderiam ser batizadas,
nem os não-judeus,
e todos os que fossem batizados deveriam ser especificamente no
oitavo dia, nem antes nem depois.
A verdade é que o batismo cristão possui um elemento importante que não pode
ser ignorado e que o distingue essencialmente da circuncisão, que é a
necessidade do arrependimento.
Ninguém precisava se arrepender para ser circuncidado, bastava que fosse hebreu
e do sexo masculino. O batismo, porém, apresenta esse pré-requisito básico,
razão pela qual o batismo é chamado repetidas vezes de “batismo de
arrependimento”
(Lc.3:3; At.13:24; Mc.1:4), mas a circuncisão nunca é chamada de
“circuncisão de arrependimento”. Isso implica que o arrependimento é
necessário para o batismo na Nova Aliança, ainda que não fosse necessário para
a circuncisão no Antigo Pacto. Na Nova Aliança, é preciso primeiro crer,
e somente depois ser batizado (At.8:36-38; At.18:8; Mc.16:16), já na
circuncisão não havia qualquer necessidade de crer para depois ser
circuncidado. Esse elemento novo, chamado arrependimento, não apenas distingue
o batismo da circuncisão, mas também lhe confere pré-requisitos distintos
dela.
Enquanto os pré-requisitos da circuncisão era de ser judeu do sexo masculino e
de se circuncidar ao oitavo dia, os pré-requisitos do batismo é crer em
Cristo e arrepender-se dos seus pecados. É por isso que o batismo só
seria conferido ao etíope se ele cresse (i.e, condicional a crer
– At.8:36-38), é por isso que somente aqueles que criam eram batizados
(At.8:36-38; At.18:8; Mc.16:16), é por isso que antes de se batizar
confessavam-se os pecados (Mt.3:6), é por isso que apenas “homens e mulheres foram
batizados” (At.8:12)
e não crianças [as palavras "homens" e "mulheres" implicam
que eram já bem crescidos, exclui menininhos e menininhas], é por isso que o
batismo é chamado de “batismo de arrependimento” (Lc.3:3; At.13:24; Mc.1:4), e por isso que o
próprio Jesus somente se batizou quando adulto, e não quando recém-nascido
(Mt.3:13). Indiscutivelmente, o batismo cristão possui pré-requisitos
básicos diferentes da circuncisão.
Alguém poderia alegar que isso seria “injustiça” com os bebês, mas o mesmo
poderia ser dito sobre os pré-requisitos da circuncisão: alguém poderia fazer o
mesmo e alegar que isso é “injusto” para com as mulheres. E isso muda alguma
coisa? É claro que não. Da mesma forma que Deus aceitava as mulheres no AT
mesmo sem serem circuncidadas, Ele aceita as crianças no NT, mesmo sem serem
batizadas. É tudo questão de lógica e bom senso. Foi por isso que Jesus
aceitou as criancinhas que vieram a Ele (Mt.19:14), mas jamais mandou batizar
alguma criança. Aliás, em lugar nenhum das Escrituras aparece alguma
criança sendo batizada, razão pela qual eles se veem forçados a lançarem mão do
ambicioso porém pouco útil “argumento da circuncisão”, sustentando em cima de
premissas fracas e superficiais aquilo que constitui toda a base argumentativa
deles.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por
Cristo e por Seu Reino,
Lucas
Banzoli
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