Origem dos Batistas
Oséas Costa Oliveira [Oseas]
19/09/2005
CAPÍTULO I
A ORIGEM DO APELIDO "CRISTÃO"
Que Significa a Palavra "Cristão"
O significado para a palavra cristão hoje é bem
diferente do significado usado nas escrituras. Hoje,
qualquer um que segue uma religião denominada "cristã",
acha se no direito de dizer que é um cristão. Alguns são
tão depravados em sua forma de viver que de maneira
nenhuma fazem jus a essa palavra. Outros são tão errados
biblicamente e mesmo assim insistem em achar-se
cristãos. E aí está o problema: O próprio indivíduo
achar-se um cristão quando não o é.
A palavra cristão como é usada na bíblia é um apelido. E
este apelido referia-se aos crentes que andavam de uma
forma digna. A conduta (dentro da família e da
sociedade), a transformação interior e exterior,
sucediam a profissão de fé destes crentes. Tamanha era a
transformação que se tornavam impossíveis de não serem
notados. Então a própria sociedade, testemunhando esta
transformação, chamava-os de "cristãos". Assim, ser
apelidado de cristão seria uma grande honra a qualquer
crente.
É errado, mesmo numa igreja considerada correta, chamar
pessoas não regeneradas de cristãos. Não vemos na Bíblia
um só exemplo dos apóstolos considerarem verdadeiros
crentes aqueles que ainda viviam no pecado. Paulo nos dá
um grande exemplo disso em I Co 6,9-11; quando fala que:
"Os injustos não herdarão o reino de Deus", e numa lista
muito ampla dá exemplo do que é ser um injusto: "Não vos
enganeis, nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem
efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos,
nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores, herdarão o
reino dos céus, e tais fostes alguns de vós". Alguns
Coríntios foram achados nos pecados mencionados acima.
Foram! Mas o sangue de Jesus lavou-os, santificou-os e
os justificou. O pecado era coisa do passado na vida
destes crentes. Achar que se é um cristão por pertencer
a uma igreja denominada de cristã é um grande erro. A
maior igreja cristã do mundo tem um bilhão e duzentos
milhões de fiéis. Todos idólatras, ou então não estariam
lá. Herdarão os mesmos o reino dos céus? Se não herdarão
os reino dos céus porque é certo chamá-los de cristãos?
O verdadeiro significado da palavra "cristão" não está
tanto neste lindo apelido. Está na pessoa que aceita
Jesus como seu salvador e vive dignamente como um
verdadeiro discípulo do Senhor Jesus Cristo.
A palavra cristão também não é um nome próprio dado por
Jesus aos seus discípulos. Ele jamais chamou um de seus
apóstolos ou qualquer outra pessoa de "cristão". Ele
simplesmente chamava-os de "discípulos" ou "seguidores".
Esta palavra, no sentido que é usada na Bíblia, é nada
mais e nada menos que um apelido dado aos discípulos ou
membros da igreja de Jesus Cristo.
Onde Surgiu Pela Primeira Vez
O apelido "cristão" surgiu pela primeira vez na cidade
de Antioquia em referencia aos discípulos de Cristo
naquela cidade (At 11,26). Foram assim chamados pelos
moradores daquela grande metrópole devido ao bom exemplo
que davam e por sempre testemunhar a respeito de Jesus.
Desde então o apelido pegou e suplantou os outros
apelidos que eles tinham, como por exemplo o de
"nazarenos", apelido pelo qual eram conhecidos os
discípulos pelos judeus (At 24,5). O apelido cristão
generalizou-se de tal forma que em pouco tempo todos os
membros das igrejas de Cristo foram assim chamados. Não
houve outro que representasse tão bem os discípulos de
Cristo até meados do terceiro século, período no qual
houve a necessidade de acrescentar um sobrenome a este
apelido.
Até o século terceiro não havia nenhuma instituição
denominacional como temos hoje. Não havia a Igreja
Católica, ou a Igreja Batista, ou a Igreja Anglicana.
Havia apenas a Igreja de Jesus Cristo, e como vimos,
seus membros foram apelidados de cristãos. Jesus, ao
instituir sua igreja, nunca chamou-a por um nome como
Católica ou Batista. Chamava-a de "minha igreja" (Mat.
16,18), ou quando muito, colocava o nome da cidade onde
ela se encontrava, "Igreja de Esmirna" (Apoc. 2,8).
O Crescimento Dos Cristãos Primitivos
O crescimento dos cristãos foi espantoso. O núcleo
formado por Cristo em Jerusalém se espalhou para a
Judéia, Galiléia e Samaria. Não tardou muito e o
evangelho atravessou as fronteiras da Palestina
atingindo a Síria, Chipre e toda a Ásia Menor. Mais
algum tempo e toda a costa norte e sul do mediterrâneo
possuía grandes centros de cristãos. Nos lugares mais
longínquos não seria tão difícil encontrar um cristão
professando a fé bíblica. O crescimento inicial foi
conseqüência do espírito missionário que havia no
coração dos apóstolos.
Esse espírito foi transmitido a primeira geração de
convertidos, os quais, até o segundo século, conseguiram
espalhar o evangelho em quase todo o mundo conhecido. O
fator de não ter um local específico para a reunião de
cultos (ainda que havia um lugar especial onde eles se
reuniam aos domingos, e a julgar pelo que diz Paulo era
sempre no mesmo local - I Co 11,18 e 20 ), facilitava o
esparramar do evangelho. O costume de prédios par as
igrejas favorece no conforto e na questão
denominacional, mas desfavorece no sentido de trazer
novas pessoas a Jesus. A julgar pelas escrituras será
preciso as igrejas verdadeiras repensarem o fator
prédio.
As Perseguições Sofridas Pelos Cristãos até 313 d.c.
O crescimento veio acompanhado do ciúme do judaísmo e
das religiões pagãs, sendo as últimas protegidas pelo
império. De princípio o judaísmo perseguiu e fez vítimas
como Estevão e o apóstolo Tiago. Décadas depois o
paganismo entrou em ação, e com o apoio dos imperadores,
suas vítimas chegaram aos milhões. Trajano, imperador
entre 98 a 117, decretou um ofício em que o cristianismo
em si já constituía um crime, e todos que nele fossem
encontrados deveriam ser julgados e punidos com a morte.
Ofícios como este voltaram a ser decretados por outros
imperadores, e bem como este davam força às religiões
pagãs para tentarem destruir a igreja de Cristo.
Entretanto as igrejas permaneciam de pé e aumentando
cada vez mais. Tertuliano, escreveu certa vez que: "o
sangue dos cristãos era uma semente. Quanto mais matava
mais crescia."
A perseguição teve seu lado positivo. Muitos por verem
que os cristãos sofriam atrocidades calados tiveram
curiosidade de conhecer o movimento. Ao conhecerem
diversos se convertiam ao Senhor. A perseguição ajudou a
fortalecer a fé de muitos crentes. Ë certo que muitos se
desviaram, mas os fiéis se tornaram ainda mais fiéis.
Além do que, foi preciso formar um cânon do Novo
Testamento, pelo qual, foi regida a igreja primitiva e
tem sido regidas as verdadeiras igrejas de Jesus até o
presente.
Estas igrejas eram na sua maioria igrejas fiéis. Sempre
houve as erradas. Desde o tempo apostólico as heresias
entraram e permaneceram em algumas igrejas de Cristo.
Infelizmente as heresias cresceram de tal forma que por
causa delas houve no terceiro século uma grande
desfraternização das igrejas cristãs.
CAPÍTULO II
A GRANDE DESFRATERNIZAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS
O terceiro século é marcado por um acontecimento muito
importante na história das igrejas de Cristo. Mais
exatamente no período que vai desde o ano de 225 até o
ano de 253. Neste tempo houve uma declaração de
desfraternização entre as igrejas por motivos
doutrinários e organizacional. Eram tempos difíceis.
Apesar das conversões acontecerem em grande número as
igrejas sofriam externa e internamente. Externa devido
as perseguições já mencionadas. Internamente porque as
igrejas estavam sendo corrompidas por dois erros
absurdos totalmente antibíblicos. Um deles chegava ao
ponto de substituir a salvação pela graça. O outro
tirava a chefia de Cristo sobre sua própria igreja.
Os dois erros que dividiriam as igrejas entre 225 a
253 a.d.
O Batismo Como Meio de Salvação
Desde os primórdios da igreja sempre foi um problema a
questão de como o homem poderia alcançar o céu. O
ensinamento de Jesus e posteriormente dos apóstolos eram
unanimes: "Pela graça somos salvos". O Novo Testamento
nunca deixou dúvidas sobre este assunto. Mesmo nas
igrejas primitivas esse foi um problema sério. O
primeiro concílio das igrejas em Jerusalém foi realizado
justamente para resolve-lo. O próprio apóstolo Pedro,
vendo que havia contenda sobre o assunto, deixou claro
que: "cremos que seremos salvos pela graça". Portanto, o
ensinamento bíblico sobre a questão é que o único meio
de se chegar ao céu é por Jesus, pela graça, e, usando
como meio de alcançá-la, a nossa fé.
Não contentes com esse princípio, e querendo fazer uma
mudança não autorizada nas escrituras, muitos pastores
começaram a ensinar que a salvação não era apenas pela
graça. Implantaram um novo meio de salvação: O batismo.
Pensavam: "A Bíblia tem muito a dizer em relação ao
batismo. Muita ênfase é colocada na ordenança e no dever
concernente a ela. Evidentemente ela deve ter algo a ver
com a salvação". Dessa forma criou corpo a idéia de
REGENERACÃO BATISMAL, ou seja, o indivíduo precisa ser
batizado para ir ao céu. Colocou-se a água do batismo no
lugar do sangue de Jesus. Esse erro é pai de um futuro
que ainda demoraria a aparecer: O batismo infantil.
Formação de Uma Hierarquia Temporal
Hierarquia Dentro das Igrejas
Além desse grave erro houve um outro. Foi o surgimento
dentro das igrejas de uma hierarquia temporal. Um erro
que fere a autoridade única do Senhor Jesus Cristo sobre
sua igreja. Nenhum dos apóstolos, jamais, em versículo
algum do Novo Testamento, quis a primazia entre os
outros na igreja primitiva. Não vemos na Bíblia homens
como Pedro, Paulo, ou qualquer outro apóstolo subjugar
seus irmãos na fé, ou ainda requerer deles uma cega
sujeição. Eles se consideram homens comuns, sujeitos aos
desejos da carne e com possibilidade de queda (At
10,15-16; Rom 7,24;). Mas alguns pastores não entendiam
dessa forma. Viam no cristianismo um meio de alcançar a
primazia entre seus semelhantes. Muitos começaram a se
desviar do ensinamento de que todos os membros são
iguais dentro da igreja. O pastor começou a exercer um
papel de "chefão". Alguns historiadores relatam esse
erro da seguinte forma:
O pastor de Hermas (cerca de 150 A.D.): "Mestres dignos
não faltam, mas há também tantos falsos profetas, vãos,
cúpidos (desejosos) pelas primeiras sés, para os quais a
maior coisa na vida não é a prática da piedade e da
justiça senão a luta para o posto de comando."
O Historiador Mosheim: "Os pastores aspiravam agora a
maiores graus de poder e autoridade do que possuíam
antes. Não só violavam os direitos do povo como fizeram
um arrocho gradual dos privilégios dos presbíteros..."
Os membros já não eram considerados irmãos, mas súditos
do "bispo". Comandavam a igreja como se comanda um
exército. João cita o exemplo de um crente chamado
Diotrefes. O apóstolo deixa claro que esse homem
"buscava a primazia entre eles", referindo-se é claro
aos irmãos na fé. Diotrefes tornou-se tão audacioso,
que, quando João escrevia para a igreja ele impedia que
os irmãos lessem a carta. Esse é só um simples exemplo
do que acontecia já no tempo dos apóstolos. Pedro ao
comentar o assunto diz que o pastor é o servo e não o
senhor da igreja (I Pedro 5,1-4). Aliás, a palavra por
ele usada é muito clara: "Não como tendo domínio sobre a
herança de Deus". O pastor jamais deve ser o chefe da
igreja, mas o servo que irá conduzir o rebanho.
Essa terrível idéia de um bispo monárquico governar os
demais pastores teve início na pessoa de Clemente (95
A.D.), pastor da igreja em Roma. Foi ele o primeiro a
buscar a primazia entre os demais. Chegou a envolver-se
num problema que não lhe pertencia por direito, querendo
mandar numa igreja a qual não pastoreava, que foi a
igreja de Corinto. Depois dele foi Inácio, bispo de
Antioquia na Síria, que viveu entre o I século. - II
século. Ele exorta todos os cristãos a obedecerem o
bispo monárquico e aos presbíteros (20,2). Chegou a
comparar a obediência ao bispo monárquico com as cordas
de uma harpa. Ele é o primeiro a contrastar o ofício do
bispo ao do presbítero e a subordinar os presbíteros ou
anciãos ao bispo monárquico e os membros das igrejas a
ambos. Mas deve-se a Cipriano, bispo de Cartago (morto
em 258), que foi um dos principais autores desta mudança
de governo da igreja, pois pugnou pelo poder dos bispos
com mais zelo e veemência do que jamais fora empregada
nessa causa.
Como se pode observar não foi uma lei feita do dia para
a noite. Foi uma heresia que aos poucos penetrava dentro
das igrejas, a saber, nas igrejas maiores dos grandes
centros.
Hierarquia Entre as Igrejas
Esse erro veio a favorecer a outro de tamanha maldade.
Foi o erro de uma igreja ter autoridade sobre outra
igreja. A Bíblia ensina que a igreja deve ser
independente ou seja: a igreja de Antioquia não tinha
autoridade sobre a igreja de Éfeso. A igreja de Éfeso
não tinha autoridade sobre a igreja de Laodicéia, e
assim por diante. No livro de apocalipse, quando Cristo
conversa com as sete igrejas da Ásia, ele trata cada uma
individualmente. Cada uma tem seu próprio anjo (pastor),
e nenhuma será recompensada ou corrigida pelo erro da
sua co-irmã.
Acontece que os pastores de muitas igrejas não viam as
coisas como Deus ensinou. Viam a sua ganância acima da
vontade de Deus. Os pastores das grandes igrejas como a
de Roma, Alexandria, Antioquia, e muitas outras,
iniciaram um processo de subjugar as igrejas menores.
Eram tempos difíceis. O imperador perseguia a igreja.
Junto com as perseguições vinha a fome. Com isso as
igrejas maiores engrandeciam-se, e numa falsa humildade,
ajudavam as menores. Foi assim que principalmente Roma
passou a gozar de uma distinção especial. Essa ajuda
tinha um preço muito alto: A submissão de muitas igrejas
menores. A igreja co-irmã deixava de ser uma igual para
tornar-se vassala.
Na luta para ver qual igreja ia ser a maior entre as
igrejas erradas, prevaleceu a igreja de Roma, mas é
claro, sem o consentimento dos grandes bispos
monárquicos, iniciando-se assim uma luta interna entre
as igrejas heréticas. Esse assunto será tratado mais
cuidadosamente na origem da igreja Católica.
A DIVISÃO DAS IGREJAS TORNA-SE INEVITÁVEL
As Igrejas Erradas Recusam-se a Voltar as Origens
Apesar destes dois erros terem invadido as igrejas de
Cristo, houve muitas, senão a maioria, que não admitiam
os tais. Houve tentativas no sentido de trazer as
igrejas desviadas de volta ao verdadeiro costume
bíblico. Entretanto o poder político das igrejas fiéis
era quase nada. A maioria destas igrejas eram pequenas
congregações, e seus pastores, homens simples com o
único objetivo de fazer a vontade de Deus. Alguns não
eram tão simples assim, como o pastor Montano, que
veementemente pregou em toda a Ásia contra essas
heresias (160 d.C.) e Tertuliano (a partir de 202 d.C.)
no ocidente. Este último chegou mesmo a desafiar várias
vezes os pastores heréticos, principalmente o de Roma, a
voltar a obedecer as escrituras.
As Igrejas Fiéis Resolvem Tomar Uma Atitude
O fato é que as igrejas erradas ou heréticas não
voltaram a obedecer a Bíblia. Pior. Conforme os anos
passavam mais erradas elas se tornaram. O assunto chegou
a um ponto que as igrejas certas deixaram de aceitar os
membros vindos das igrejas heréticas. Essa não
aceitação, que a luz das escrituras é recomendada - pois
se alguém crê que o batismo salva deixa de acreditar que
só Jesus salva - foi acrescida com o rebatismo dos
membros vindos das igrejas desobedientes. Daí ter
surgido o apelido "anabatista" para os seguidores de
Montano e principalmente para as igrejas da Ásia Menor.
A Exclusão das Igrejas Erradas é o Único Caminho
O rebatismo dos membros vindos das igrejas erradas
acabou se tornando o objeto da divisão da cristandade.
As igrejas erradas por serem grandes, mais famosas e
politicamente mais aceitas, não aceitaram passivamente a
atitude das igrejas que rebatizavam seus membros.
Iniciou-se grandes controvérsias a respeito do assunto.
Realizaram muitos concílios para tentar resolver a
situação. Dois deles se deram em Cartago em 225, um
composto de 18 e o outro de 71 pastores, em ambas as
assembleias ficou decidido que o batismo dos heréticos -
que pregavam a salvação pelo batismo e iniciavam o
sistema hierárquico católico - não devia ser considerado
como válido.
Os historiadores McClintock e Strong comentam como se
deu essa desfraternização: V.I pg 210. "Na Ásia Menor e
na África, onde por muito tempo rugiu amargamente o
espírito da controvérsia, o batismo só foi considerado
válido quando administrado na igreja correta. Tão alto
foram as disputas sobre a questão, que dois sínodos se
convocaram para investigá-la. Um em Icônio e outro em
Sínada da Frígia, os quais confirmaram a opinião da
invalidade do batismo herético. Da Ásia passou a questão
à África do Norte. Tertuliano concordou com a decisão
dos concílios asiáticos em oposição à prática da igreja
Romana. Agripino convocou um concílio em Cartago, o qual
chegou a uma decisão semelhante aos da Ásia. Assim ficou
a matéria até Estevão, bispo de Roma, no ano de 253,
provocado pela ambição, que procedeu em excomungar os
bispos da Ásia Menor, Capadócia, Galácia e Cilícia,
aplicando-lhes os epítetos de rebatizadores e
anabatistas".
Fica evidente que entre as igrejas erradas estava a de
Roma. Sendo assim ela foi excluída no ano de 225
juntamente com as outras igrejas heréticas. A atitude do
bispo romano de excluir os pastores da Ásia mostra a que
ponto estava sua vontade de assenhorar-se do rebanho de
Deus. Mas sua atitude de nada valeria, pois, um membro
excluído não pode excluir ninguém.
Outro historiador, Neander, V.I pg 318, tem o seguinte
relato sobre estes acontecimentos: "Mas aqui, outra vez
foi um bispo romano, Estevão, que instigado pelo
espírito de arrogância eclesiástica, dominação e zelo,
sem conhecimento, ligou a este ponto (salvação pelo
batismo), uma importância dominante. Daí, para o fim do
ano de 253, lavrou uma sentença de excomunhão contra os
bispos da Ásia Menor, Capadócia, Galácia e Cilícia,
estigmatando-os como anabatistas, um nome, contudo, que
eles podiam afirmar que não mereciam por seus
princípios: porque não era o seu desejo administrar um
segundo batismo aqueles que tinham sido batizados, mas
disputavam que o prévio batismo dado por hereges não
podia ser reconhecido como verdadeiro. Isto induziu
Cipriano, o bispo a propor o ponto para a discussão em
dois sínodos reunidos em Cartago em 225 A.D. um composto
de 18, outro de 71 pastores, ambas as assembleias
declarando-se a favor das idéias de que o batismo de
heréticos não devia ser considerado como válido".
Num resumo simples destes dois relatos verifica-se que,
no ano de 225 A.D., as igrejas reúnem-se em concílios e
decide a exclusão das igrejas que administravam o
batismo como forma de salvação, que eram, justamente, as
igrejas que admitiam um bispo monárquico sobre as
igrejas. Entre as igrejas erradas estão as de Roma,
Antioquia, Cartago e muitas outras. Entre as igrejas
fiéis estão uma muito conhecida pelos estudantes da
Bíblia, a igreja de Éfeso.
O RESULTADO DA DESFRATERNIZAÇÃO DOS CRISTÃOS
A partir desta data, 253 d.C. as igrejas de Cristo se
dividiram em dois grandes blocos. Os anabatistas, assim
chamados por não aceitarem o batismo das igrejas
erradas, e os católicos, nome dado as igrejas heréticas
desde o ano de l70 por Inácio, pastor de Antioquia. O
futuro destes dois grupos deu razão aos fiéis o fato de
terem excluído os demais. Com o passar do tempo as
igrejas erradas, como veremos, multiplicou ainda mais
suas heresias. Enquanto isso, vivendo conforme as
escrituras, os cristãos anabatistas lutavam para
sobreviver e manter de pé as chamas do evangelho.
CAPÍTULO III
A ORIGEM DOS "ANABATISTAS"
Como vimos no final do capítulo dois, com a
desfraternização dos cristãos entre os anos de 225 a 253
A.D., surgiu dois grandes blocos de cristãos. O bloco
dos anabatistas e o bloco das igrejas erradas. Neste
capítulo trataremos especificamente com o futuro que
tomou as igrejas fiéis cognominadas de "anabatistas".
Quem foram os Anabatistas?
Nos livros de história e em muitas enciclopédias
encontraremos algumas notas sobre quem foram os
anabatistas. Em alguns livros são chamados de
"dissidentes", e em outros de "seita de heréticos". Há
escritores que não querendo se comprometer com sua
maioria de leitores católicos ou protestantes, chama-os
de "fanáticos religiosos".
Observando estas poucas entre muitas referencias erradas
sobre eles, podemos analisar cuidadosamente. Eram
dissidentes? Não. Dissidente é uma pessoa que se separa
de outro por algum motivo. Eles não se separaram de
ninguém. Apenas não concordavam com heresias dentro da
igreja. Se uma igreja tem 20 membros. Quinze resolve
mudar a fé. Cinco permanecem fiéis. Quem dissidiu? Os
quinze que estão no erro ou os cinco que permaneceram
fiéis? É evidente que dissidente é aquele que saiu
daquilo que está certo e firmado.
Chamá-los de um ajuntamento de heréticos é o mesmo que
chamar os apóstolos de heréticos. Não foram os
anabatistas que mudaram de fé. Nunca foi a intenção de
um anabatista mudar aquilo que Deus ordenou. Heréticos
foram os pastores e membros das igrejas erradas, os
mesmos que posteriormente foram conhecidos como
católicos. Os anabatistas não eram uma facção de
cristãos. Eles eram os verdadeiros cristãos. Portanto,
seita foi a igreja - Católica - que surgiu tendo como
membros indivíduos e pastores excluídos por motivos
biblicamente corretos.
Também não eram fanáticos religiosos. Seguir a Cristo
como manda as escrituras não é ser fanático, é ser
discípulo verdadeiro. Discordar de heresias não é
fanatismo, é zelo pela palavra de Deus. Seria os
apóstolos fanáticos? Zaqueu foi um fanático por querer
fazer a vontade de Deus? Paulo foi um fanático quando
condenou a idolatria? Pedro foi um fanático quando
discordou da salvação pelas obras? De forma alguma. A
maior prova de que os anabatistas não eram fanáticos
está no exemplo dos primeiros cristãos mencionados no
livro de Atos.
Podemos afirmar com certeza que os anabatistas foram os
verdadeiros seguidores de Jesus entre os anos de 225 até
os anos de 1600. Homens que amavam servir a Cristo. Eram
cristãos que não concordavam com o erro grotesco de ver
pessoas acreditando que o batismo ajudava na salvação;
Cristãos que não aceitavam em ver um bispo monárquico
querendo mandar no rebanho de Deus. Igrejas que tiveram
a coragem de excluir do meio cristão original as igrejas
heréticas. Foram eles os autênticos sucessores dos
apóstolos na obediência a Jesus e a sua Palavra.
O que significa este apelido?
O próprio título confessa que o sobrenome dado aos
cristãos fiéis - anabatistas - é um apelido, e tem tudo
a ver com o propósito para o qual ele foi dado.
Anabatistas é uma palavra grega que significa "batizar
outra vez". O prefixo "ana" quer dizer outra vez, e a
raiz "batista" significa mergulhar ou batizar nas águas.
Assim, quando uma igreja era chamada de anabatista por
outra, significava que ela batizava outra vez os membros
vindos das igrejas erradas.
Onde e quando surgiu este apelido?
Este apelido foi usado pela primeira vez na Ásia Menor
para distinguir nesta região as igrejas fiéis das
erradas. O local mais aceito como sua origem é na
Frígia, local de onde saiu o pastor Montano para pregar
contra os dois erros mencionados no segundo capítulo, os
quais, corrompiam as igrejas cristãs. Montano foi um
pastor muito itinerante, e por isso sua mensagem se
esparramou por toda Ásia Menor, fazendo que as igrejas
dessa região permanecessem fiéis a doutrina recebida
pelos apóstolos. Montano viveu cerca de 156 A.D. Foi
justamente nessa época que as igrejas da Ásia Menor
resolveram rebatizar membros vindos de igrejas erradas.
Então pela primeira vez uma igreja foi conhecida como "anabatista".
Oficialmente ele é usado em 253 A.D., pelo bispo romano
Estevão que, indignado com o fato de ver sua igreja
excluída pelas igrejas da Ásia, resolveu chamá-las de "anabatistas".
O fato é que depois do bispo romano ter se manifestado,
todas as igrejas que não concordavam com a idéia de
Salvação através do batismo e da necessidade de um bispo
monárquico, foram conhecidas como anabatistas.
O Por Que Deste Apelido
Talvez o leitor esteja confuso e pergunte o por que dos
cristãos ter a necessidade de receberem outro apelido
além de cristão. Um crente fiel ao Senhor tem muito amor
aos ensinos da Bíblia. Jesus ao enviar a grande comissão
dá três ordens: Fazer discípulos; batizar; e ensinar as
coisas que ele ordenou; Então, uma igreja fiel irá:
pregar, batizar e ensinar o que ele ordenou. Note que
ele diz: "vos tenho ordenado". Ordem é ordem.
Mandamentos são mandamentos. A igreja não pode fazer
aquilo que não lhe foi ordenado, mas somente o que Jesus
mandou. Por isso as igrejas fiéis não podiam e nem podem
se submeter a erros heréticos como mudar o plano de
salvação e a chefia da igreja!
A exclusão das igrejas erradas em 225 A.D. pelas igrejas
fiéis foi uma atitude necessária para a conservação do
evangelho puro e original. Assim como um membro profano
deve ser excluído do seio da igreja, da mesma forma uma
igreja profana deve ser excluída da comunhão com as
outras igrejas fiéis. O próprio Senhor Jesus nos ensina
no livro de Apocalipse que o simples fato de uma igreja
não ser fria nem quente é motivo de ser "vomitada".
Queiram os ecumênicos ou não, já no segundo século havia
dois tipos de cristãos: os fiéis ao evangelho e os
infiéis. Os infiéis, excluídos em 225, já não tinham
mais o direito de batizar, ao menos que se
reconciliassem. Como isso não aconteceu perderam
totalmente a ordem do batismo. Aceitar o batismo de uma
igreja excluída é o mesmo que aceitar que um crente
excluído saia por aí batizando todo mundo. Conclui-se
que o rebatismo de membros vindos de uma igreja excluída
é algo necessário, pois quem não recebe o batismo de uma
igreja biblicamente aceita, não recebeu o batismo
cristão.
Portanto, o apelido anabatista, só apareceu porque as
igrejas erradas não quiseram arrepender-se de seus
erros. Além do que, não se chamaram assim, mas foram
pelas igrejas erradas assim chamados. O fato dos
anabatistas não terem repudiado o apelido significa que
o mesmo estava de acordo com uma realidade da época, ou
seja, precisava ter rebatizadores para enfrentar as
heresias das igrejas erradas.
CAPÍTULO IV
AS PERSEGUIÇÕES CONTRA OS ANABATISTAS
Como vimos nos capítulos anteriores, as igrejas fiéis, a
partir do ano de 253.A.D., foram decididamente
conhecidas pelas igrejas erradas pelo apelido de
anabatistas. No presente capítulo estudaremos as
aflições que esses crentes passaram para permanecerem
leais ao ensino de Jesus. Foram duas fases distintas de
perseguição. Na primeira fase a perseguição foi sofrida
juntamente com as igrejas erradas, pois, para todos os
efeitos, os pagãos não saberiam bem distinguir quem era
o certo e quem era o errado. Aos pagãos o que
interessava era eliminar o cristianismo. Essa fase durou
até o ano de 313 A.D. A partir desta data, o Imperador
Constantino fez uma proposta de casar o Estado com a
Igreja. As igrejas erradas aceitaram o convite. As fiéis
não. Começou então a segunda fase de perseguição. Neste
período vemos as igrejas fiéis sofrendo perseguições nas
mãos de igrejas erradas. Abaixo temos um breve relato
destas duas fases de perseguição.
Perseguidas junto com as igrejas erradas até 313 a.d.
Até o ano de 3l3 A.D. os cristãos - fiéis ou errados -
sofriam as perseguições vindas com os editos lançados
pelos imperadores. As primeiras conhecidas foram as de
Nero (54-68). Pedro e Paulo morreram nesse período. A
perseguição estourou pela segunda vez em 95 durante o
governo despódico de Domiciano. Foi nesse período que o
apóstolo João ficou preso em Patmos. Outras se deram em
ll2 por Plínio e em 161-180 por Marco Aurélio. Estas
perseguições foram locais e esporádicas até o ano de
250, quando se tornaram gerais e violentas, começando
com uma dirigida por Décio. Muitos pastores se desviaram
nesta perseguição. Em 303 Diocleciano ordenou o fim das
reuniões cristãs, a destruição de igrejas, a deposição
dos oficiais da igreja, a prisão daqueles que
persistissem em seu testemunho de Cristo e a destruição
das escrituras pelo fogo. Um ultimo édito obrigou os
cristãos a sacrificarem aos deuses pagãos sob a pena de
morte caso recusassem.
Esta primeira fase de perseguição criou dois problemas
internos que necessitavam de solução. Um dos problemas
foi as duas duras controvérsias que tiveram lugar no
Norte da África e em Roma, envolvendo a maneira de
tratar aqueles que tinham oferecido sacrifícios em
altares pagãos, quando da perseguição movida por Décio,
e aqueles que entregaram Bíblias na perseguição dirigida
por Diocleciano. As igrejas fiéis depuseram do cargo os
pastores que caíram durante este período. Foi o caso do
bispo de Cartago, Felix. Já as igrejas erradas achavam
que estava tudo bem, afinal de contas eram tempos de
perseguição. Assim, apoiado pelo bispo de Roma, Felix
manteve-se no cargo de pastor. Esta atitude separou
ainda mais as igrejas fiéis das erradas. Os donatistas
surgiram desta questão.
A perseguição movida por Diocleciano provocou o segundo
problema, que foi o do Cânon do Novo Testamento. Se o
possuir epistolas podia levá-los a morte, os cristãos
precisavam estar seguros de que os livros pelos quais
poderiam padecer a morte eram realmente livros
canônicos. Esta preocupação ajudou nas decisões finais
acerca de qual literatura era sagrada. Foi assim que
resolveu-se aceitar os atuais vinte e sete livros do
Novo Testamento seguindo a seguinte idéia: Verificar se
ele tinha sinais de apostolicidade; Verificar se foi
escrito por um apóstolo ou por alguém ligado intimamente
aos apóstolos; Verificar a eficácia do livro na
edificação da igreja quando lido publicamente; e
verificar sua concordância com a regra de fé dos
apóstolos.
Perseguidas pelas igrejas heréticas a partir de
313A.D.
Em 313, com o edito de Milão, Constantino fez cessar a
perseguição aos cristãos em todo o império e
gradualmente foi cumulando-os de favores. O imperador
logo percebeu a clara divisão entre os cristãos.
Percebera a importância de ser apoiado pela hierarquia
de uma religião poderosa. Mas precisava que essa
hierarquia fosse unanime em sua fidelidade ao Estado.
Assim, embora pagão, presidiu concílios da Igreja e
obrigou-a a unificar-se. Devido a essa atitude foi
prontamente contrariado pelos anabatistas. Indignado, e
aliando-se aos cristãos errados, baniu e perseguiu os
fiéis que não concordaram com sua unificação das
igrejas. Começaram as terríveis perseguições das seitas
cristãs oficiais - protegidas pelo imperador - contra as
não oficiais, os anabatistas, que se mantiveram
independentes do governo. Pela primeira vez na história,
a partir do ano 313, encontramos a página mais triste da
história das igrejas. Encontramos cristãos errados
perseguindo os cristãos fiéis. Esta perseguição, além de
visar o extermínio dos anabatistas, também foi a mais
longa. Durou mais de mil e trezentos anos, vindo a
terminar após a Reforma no século XVII.
As heresias que levaram as igrejas erradas a serem
excluídas eram de princípio duas: Salvação pelo batismo
e a idéia de um bispo monárquico. Agora, com a igreja se
tornando a religião oficial do Estado, e estando sob a
orientação e o comando do Imperador, temos mais uma
heresia, e esta feriu a independência da igrejas para
com o Estado. Para a infelicidade dos fiéis, era esta
uma heresia que dava muita força aos cristãos errados.
Os pastores das igrejas heréticas tornaram-se mais
fortes do que já eram. O bispo de Roma logo despontou
como soberano sobre os demais. Até algumas igrejas
fiéis, vendo neste casamento o cessar da perseguição,
debandaram de lado, diminuindo consideravelmente o
número das igrejas fiéis às escrituras.
Protegidos e armados com o apoio dos imperadores as
igrejas heréticas mostraram sua verdadeira face. A face
da intolerância. A face de um caráter depravado que não
tinha nada de Cristo. A face do ódio contra quem era
fiel a Cristo. Liderados pelo bispo Romano no Ocidente e
pelo bispo de Constantinopla no Oriente as igrejas
heréticas passaram a perseguir cruelmente as igrejas
fiéis. Proibiu-se o direito de culto; proibiu-se a livre
interpretação das escrituras; proibiu-se o rebatismo;
Quem não pertencesse a igreja oficial - ou Católica -
seria perseguido e condenado a morte. Qualquer pessoa
que fosse rebatizada pelos anabatistas sofreria a pena
de morte. Os pastores anabatistas foram a uma condenados
à fogueira, ao afogamento, a tortura e toda sorte de
assassinado e extermínio possível.
Assustados com a perseguição e na busca da
sobrevivência, as igrejas fiéis fugiam de lugar a lugar.
Iniciou-se o período de migração dos anabatistas para os
países onde havia a tolerância religiosa. Portanto, a
partir do século. IV vamos encontrá-los em diversos
países e com diversos nomes. No capítulo seguinte será
estudada estas fugas mais detalhadamente.
A fuga dos Anabatistas: A INQUISICÃO
Foi visto no capitulo anterior que o motivo da fuga dos
anabatistas deveu-se ao plano de extermínio por parte
das igrejas heréticas. O plano, primeiramente elaborado
pelo imperador Constantino, foi seguido pelos seus
sucessores e levado a cabo pelos bispos das principais
igrejas heréticas como a de Roma e Constantinopla. Em
qualquer enciclopédia o leitor poderá encontrar como foi
feito este plano. Chamava-se INQUISICÃO. Durou mais de
1200 anos e matou mais de 50.000.000 (cinqüenta milhões)
de anabatistas em todo o mundo.
Vejamos o relato da enciclopédia BARSA sobre a
Inquisição: "Se bem que a Inquisição só se apresentasse
em plena pujança no século XIII, suas origens, contudo,
remontam o século IV. A partir de então data a
perseguição aqueles que não aceitavam o credo católico.
Tinham seus bens confiscados e eram condenados a morte.
As perseguições foram acentuadas no século IV e V. Do
século VI ao IX as perseguições diminuíram. Aumentou
porém, a partir da ultima parte do século X, registrando
então numerosos casos de execuções de hereges, na
fogueira ou por estrangulamento. O papa Inocencio III
(1198-1215) foi responsável por uma cruzada contra os
albingenses (anabatistas do sul da Franca), após a qual
praticou execuções em massa".
Note na frase acima: "suas origens remontam o século
IV". Foi justamente neste período - após 313 A.D - que
os cristãos heréticos, por terem unido a Igreja com o
Estado, conseguiram forcas para destruir os cristãos
fiéis. Fica claro segundo este relato da BARSA que o
motivo ou a intenção dos cristãos heréticos era a de
exterminar os anabatistas, e método que usaram foi a
famosa INQUISICÃO.
No mesmo relato mencionado somos informados que as
perseguições foram acentuadas nos séculos IV e V. Só
Deus sabe quantos cristãos fiéis foram rudemente
assassinados. Quando diz que "do século VI ao IX as
perseguições diminuíram", não foi pelo fato de haver
misericórdia por parte dos católicos. Quer dizer que não
tinham tantos anabatistas para eles matarem, pois, após
trezentos anos de perseguição e genocídio, ficaram
poucos para contarem a história. A partir do século X,
lá pelos anos 900, quando em alguns países o números de
anabatistas aumentava, a perseguição recrudescia, ou
seja, era mais sanguinária.
Um dos motivos que no século XVI os anabatistas
apareceram em grande número na Alemanha, Boêmia, Países
Baixos e Inglaterra, é que nestes lugares a Inquisição
era bem menor. No sul da Europa, devido a influencia
papal, era quase impossível um anabatista sobreviver.
Sem a liberdade de cultos e com a vida constantemente
ameaçada os anabatistas só tiveram uma saída. Fugir para
os montes e lugares distantes. Fugir da inquisição
promovida pela ira e maldade papal.
O motivo pelo qual os anabatistas eram perseguidos
foram:
- insubmissão a hierarquia religiosa;
- Não aceitação do batismo como um sacramento ou algo
que tenha a ver com a salvação;
- pregar que a salvação é só pela graça sem a ajuda das
obras;
- negar o culto aos santos;
- negar que Maria é mãe de Deus;
CAPÍTULO V
IDENTIFICANDO OS ANABATISTAS ATÉ O SÉCULO XII
Não é fácil traçar um lugar exato para o movimento dos
anabatistas, pois os mesmos mudavam-se durante os
períodos de graves perseguições. Outro problema é o
apelido que eles levavam. Houve tempo em que mais de um
apelido foi usado para designar o mesmo grupo de
pessoas, é o caso dos montanistas na Ásia, Paulicianos
na Armênia e Donatistas na África do Norte, todos
viveram na mesma época entre os séculos IV ao VIII. No
período que vai desde o ano 160 até 1100, houve pelo
menos quatro grandes e influentes grupos de anabatistas.
São eles: Os Montanistas - principalmente na Ásia Menor;
Os Novacianos - Na Ásia Menor e na Europa; Os Donatistas
- por toda a África do Norte; e os Paulicianos -
primeiramente no oriente médio, indo para o centro
europeu e de lá para os Alpes no sul e regiões
campestres no norte da Europa.
Os apelidos que receberam derivavam-se ou de um nome
pessoal (exemplo: Donatistas de Donato) ou podia ser
derivado de um lugar (exemplo: Albingenses da cidade de
Albi no sul da Franca). Porém, o que mais importava
nestes quatro grupos, não era o nome que recebiam, mas
se realmente eram fiéis às doutrinas da Bíblia.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO "MONTANISTAS"
Oficialmente os "montanistas" foram os primeiros
cristãos a serem chamados de anabatistas pelos cristãos
infiéis ou hereges. O apelido montanista vem do nome
próprio MONTANO, que foi um pastor frígio que viveu aí
por volta de 156 A.D. Foi um movimento que varreu toda
Ásia Menor num momento em que as igrejas estavam sendo
destruídas pelas heresias da Salvação pelo batismo e a
idéia de um bispo monárquico. Os montanistas insistiam
em que os que tivessem decaído da primeira fé deveriam
ser batizados de novo.
O historiador contemporâneo Earle E. Cairns diz que o
movimento "foi uma tentativa de resolver os problemas de
formalismo na igreja e a dependência da igreja da
liderança humana quando deveria depender totalmente do
Espirito Santo." E também acrescentou que o "montanismo
representou o protesto perene suscitado dentro da igreja
quando se aumenta a força da instituição e se diminui a
dependência do Espirito Santo." (O Cristianismo através
dos Séculos, pg 82 e 83).
Como sua mensagem era uma necessidade para as igrejas o
movimento espalhou-se rápido pela Ásia Menor, África do
Norte, Roma e no Oriente. Algumas igrejas grandes
chegaram mesmas a serem chamadas de Montanistas. Foi o
caso da igreja de Éfeso. Tertuliano, considerado um dos
maiores Pais da Igreja, por ser bom estudante da Bíblia,
atendeu aos apelos do grupo e tornou-se montanista.
Apesar de serem radicais quanto as regras de fé de uma
igreja era povo humilde e manso.
As igrejas erradas logo reagiram contra esse movimento.
No concílio de Constantinopla, em 381 (portanto nesta
época a igreja e o Estado já estavam casados um com o
outro), os pastores das igrejas heréticas ou católicas
declararam que os montanistas deviam ser olhados como
pagãos, serem julgados e mortos.
As igrejas erradas tinham verdadeiro ódio aos
montanistas. O próprio Montano é visto como um
arqui-herege da Igreja. Os livros inventam e condenam o
movimento chamando-o de pagão e anti-cristão. Na verdade
pagãos e anti-cristãos eram os membros das igrejas
erradas. Assim que as igrejas erradas se casaram com o
Estado veio a perseguição das mesmas contra os
montanistas.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO "NOVACIANOS"
O segundo grupo de anabatistas oficialmente conhecidos
são os "novacianos". Assim como os montanistas este
apelido é proveniente do nome próprio "Novácio". Novácio
foi um pastor da Ásia Menor que viveu cerca de 251 A.D.
Pouco sabemos sobre sua pessoa, mas a julgar pelos
membros de sua igreja foi um homem fiel a Deus. Os
novacianos foi o primeiro grupo a ser chamado de
catharis, ou seja, os puros. Isso devido a pureza de
vida que levavam. Temos algumas informações a respeito
destes anabatistas pelos maiores historiadores da
historia da Igreja: Mosheim, Vol. I, pag 203
"Rebatizavam a todos que vinham do Catolicismo".
Orchard em Alix’s Piedmont C 17, pg.. 176 "As igrejas
assim formadas sobre o plano de comunhão restrita e
rígida disciplina obtiveram a alcunha de puritanos.
Foram a corporação mais antiga de igrejas cristãs das
quais temos qualquer notícia, e uma sucessão delas,
provaremos, continuou até hoje. Tão cedo como em 254
esses dissidentes (cristãos verdadeiros) são acusados de
terem infeccionado a França com as suas doutrinas, o que
nos ajudará no estudo dos albingenses...
Estas igrejas existiram por sessenta anos sob um governo
pagão, durante cujo tempo os velhos interesses corruptos
em Roma, Cartago e outros lugares não possuíam meios
senão os da persuasão e da censura para pararem o
progresso dos dissidentes. Durante este período as
igrejas novacianas foram muito prósperas e foram
plantadas por todo o império romano. É impossível
calcular o benefício do seu serviço a comunidade.
Conquanto rígidos na disciplina, cismáticos no caráter,
foram achados extensivos e numa condição florescente
quando Constantino subiu ao trono em 306 A.D."
W. N. Nevins, comenta que: "Na conclusão do quarto
século tinham os novacianos três ou quatro igrejas em
Constantinopla, assim como em Nice, Nicomédia, Cocíveto
e Frigia, todas elas grandes e extensivas corporações,
além de serem muito numerosas no Império Ocidental.
Havia diversas igrejas em Alexandria no século quinto.
Aqui Cirilo, ordenado bispo dos Católicos Romanos,
trancou as igrejas dos novacianos. O motivo foi o
rebatismo dos católicos. Foi lavrado um édito em 413
pelos imperadores Teodósio e Honório declarando que
todas as pessoas rebatizadas e os rebatizadores seriam
punidos com a morte. Conformemente, Albano, zeloso
ministro com outros foi assim punidos por batizar. Como
resultado da perseguição nesse tempo muitos abandonaram
as cidades e buscaram retiro no país e nos Vales do
Piemonte, onde mais tarde foram chamados de valdenses.".
O Dr. Robinson em Eclesiastical Reserches, 126 traça a
sua continuação até a reforma e a aparição do movimento
anabatistas do século. XVI. E acrescenta: "Depois quando
as leis penais os obrigaram a se esconder em lugares
retirados e a adorarem a Deus secretamente, foram
designados por vários nomes".
Parece que o movimento dos novacianos, apesar de iniciar
um século depois do movimento montanista, cresceu mais
que o primeiro, pelo menos no ocidente. Enquanto o
Montanismo crescia na Ásia Menor e no Oriente, os
novacianos cresciam mais no ocidente. Um terceiro grupo,
os donatistas, cresciam mais na África do Norte.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO "DONATISTAS"
Os donatistas foram o terceiro grupo a serem
oficialmente chamados de anabatistas. Foram assim
chamados devido serem da mesma opinião que Donato,
pastor na cidade de Cartago por volta do ano 311 A.D.
A Origem dos Donatistas
Este movimento apareceu em Cartago durante a perseguição
de Diocleciano. O motivo foi simples: Recusaram comunhão
comum com os pastores apóstatas como foi o caso de
Felix, pastor da maior igreja em Cartago. Felix
sacrificou aos ídolos e ao imperador na perseguição de
Diocleciano. Muitos fiéis morreram na mesma época por
recusar agir da mesma forma. Findada a perseguição Felix
ordenou ao ministério Ciciliano, acusado de ser um
traidor. Donato solicitou a sua deposição, pois,
sustentava que o fato de não ter sido fiel no tempo da
perseguição invalidava a possibilidade de Felix ordenar.
Esta solicitação é justa e bíblica. Se um pastor é
deposto de seu cargo por cair na apostasia que direito
ele terá de ordenar alguém? Apoiado pelos pastores das
grandes igrejas do ocidente, Felix permaneceu no cargo.
Desapontados em ver as escrituras sendo atropeladas os
cristãos fiéis do norte da África fizeram o mesmo que os
do Oriente, Ásia Menor e do Ocidente, excluíram da
comunhão os pastores e igrejas infiéis. Os que assim
agiram foram conhecidos como Donatistas.
A Identificação dos Donatistas com os outros grupos de
anabatistas
Donatistas e Novacianos eram idênticos em sua doutrina e
disciplina. Crispim, historiador francês, diz deles que
concordavam: "Primeiro, pela pureza dos membros da
igreja, por afirmarem que ninguém devera ser admitido na
igreja senão tais como verdadeiros crentes santos e
reais. Depois pela pureza da disciplina da igreja.
Terceiramente, pela independência de cada igreja.
Quartamente, eles batizavam outra vez aqueles cujo
primeiro batismo tinham razão de por em duvida".
Não há dúvida de que a maior identificação que liga os
quatro grupos de anabatistas primitivos - montanistas,
novacianos, donatistas e paulicianos - foi a recusa em
aceitar as heresias pós-apostólicas das igrejas erradas.
Isso levou-os a rebatizar os membros vindos dessas
igrejas e consequentemente recusar a comunhão com as
mesmas. O certo é que todas, por defender as verdades
bíblicas, receberam o apelido de anabatistas.
Os Donatistas perseguidos verbalmente por Agostinho
Um fato interessante da história dos donatistas é a
disposição de Agostinho, o tão famoso pai da igreja, em
debater esses fiéis, mais precisamente ao bispo
donatista Petiliano. Agostinho tentou censurá-los em
palavras, mas diante da Bíblia não houve como vencê-los,
pois a Bíblia dava-lhes razão. Perdendo o combate em
palavras, Agostinho passou a persegui-los com a espada
imperial. Condenou os donatistas nas seguintes questões:
- Eram separatistas. Negavam-se a unirem com as igrejas
oficiais;
- Insistiam no rebatismo dos que passavam da igreja
oficial para a deles;
- Eram irredutíveis em questão de fé;
O bispo donatista Petiliano, contra quem Agostinho
debateu, assim respondeu ao bispo católico: - "Pensai
vós em servir a Deus matando-nos com as vossas mãos?
Enganais a vós mesmos. Deus não tem assassinos por
sacerdotes. Cristo nos ensina a suportar a perseguição,
não vingá-la". E o bispo donatista Gaudencio diz: -
"Deus não nomeou príncipes e soldados para propagarem a
fé. Nomeou profetas e pescadores".
Os bispos católicos (alguns na África) começaram uma
nova moda a partir de 370 A.D. Foi a de batizar
criancinhas recém-nascidas. Uma idéia prontamente
defendida por Agostinho, que fez o seguinte comentário:
" Quem não quer que as criancinhas recém-nascidas do
ventre das suas mães sejam batizadas para tirarem o
pecado original... seja anátema". Essa idéia tão
anti-bíblica foi totalmente recusada pelos donatistas.
Aumentou assim as divergências entre católicos e
donatistas.
O Crescimento dos Donatistas
O crescimento desse grupo de anabatistas foi espantoso.
No concílio feito por Teodósio II em 441 na cidade de
Cartago, compareceram 286 bispos da igreja oficial e 279
bispos donatistas. Robinsom declara que: "tornaram-se
tão poderosos que a corporação católica invocou o
interesse do imperador Constantino contra eles, pelo que
os donatistas inqueriram: - que tem o imperador a ver
com a igreja? Que tem os cristãos a ver com o rei? Que
tem os bispos a ver no tribunal?". O historiador
Orchard, relatou que: "tornaram-se quase tão numerosos
como os católicos romanos". E o historiador Jones diz na
sua Conferencia Eclesiastica, Vol. I, pg 474: "Rara era
a cidade ou vila na África em que não houvesse uma
igreja donatista".
A Perseguição contra os Donatistas
O crescimento foi tanto que espantou Constantino.. Este
imperador, que dizia-se cristão, encheu as igrejas
oficiais de favores. Na História da Igreja Católica,
página 20, temos o seguinte relato: "O clero foi
colocado no mesmo pé de igualdade dos sacerdotes pagãos
em matéria de isenção e obrigação civis. Eram permitidos
os testamentos em favor da igreja". No mesmo livro na
página vinte diz: "Constantino fez doações, saídas do
tesouro público a igreja que começava a acumular bens e
grandes rendimentos".
Estes favores porém, só eram concedidos as igrejas
oficiais, justamente aquelas que venderam a fé por
privilégios humanos, aquelas que desde o princípio
precisaram ser excluídas por mudarem até o plano de
salvação. Na página 24 do livro já mencionado, segue-se
o seguinte relato: "Aboliram a lei da crucificação,
porém, não estendeu nenhum desses favores aos cristãos
dissidentes, os montanistas por exemplo. No seu
entusiasmo de preservar a unidade de fé e disciplina, o
imperador mostrou-se tão ativamente hostil para com os
dissidentes, tais como os donatistas, que qualquer um
que novamente estivesse preocupado com a futura
liberdade da igreja teria passado um mal bocado". No
livro O Papado na Idade Média, pagina 24, esse relato é
confirmado: "Constantino não podia tolerar,
especialmente a diversidade das crenças e dos cultos que
caracterizava a igreja enquanto ainda vaga a
confederação. Manifestou essa resolução imediatamente,
quando, após os sínodos pouco categórico de Roma,
Cartago, e Arles, condenou pessoalmente os donatistas no
ano de 316 A.D.
O movimento foi praticamente exterminado com a chegada
dos muçulmanos. Em 722 A.D. o islamismo tomou conta do
norte da África. As igrejas cristãs na África, tanto
donatistas, como as católicas - tanto as de rito
ocidentais como as orientais - foram destruídas. O
movimento sobreviveu com outros nomes em outros lugares.
Os que conseguiram sobreviver foram para o sul da
França, em Albi, para os Alpes no sul da Europa, como o
Piemonte. Devido aos decretos de punição com a morte de
quem não batizasse as criancinhas, ficaram os donatistas
praticamente impedidos de entrar nas cidades ocidentais
e orientais da Europa.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO "PAULICIANOS"
Os Paulicianos podem ter sido o mais antigo grupo de
anabatistas que se conhece. A falta de dados sobre o seu
princípio, e o falso relato das igrejas orientais sobre
eles dificultam uma data exata para o inicio desse
movimento.
A Origem dos Paulicianos
As tradições narradas pelos monges da igreja grega,
dizem que os paulicianos surgiram na segunda metade do
século sétimo, tendo como fundador um tal Constantino.
Realmente Constantino , um pastor pauliciano, existiu.
Mas era simplesmente uma pastor, que, em 690 A.D., foi
morto por lapidação por ordem dos bispos gregos.
Na História de Gibbon, VI, pg 543, Gibbon classifica o
paulicianismo como a forma primitiva do cristianismo:
"De Antioquia e Palmira deve ter sido espalhada a
Mesopotâmia e a Pérsia; e foi nestas regiões que se
formou a base da fé, que se espalhou desde as
cordilheiras do Tauro até o monte Arará. Foi estas a
forma primitiva do Cristianismo.
Noutro lugar, V, pg 386, diz ele: "O nome pauliciano,
dizem os seus inimigos que se deriva de algum líder
desconhecido; mas tenho certeza de que os paulicianos se
gloriaram da sua afinidade com o apóstolo aos gentios".
No livro A Chave da Verdade, escrito pelos próprios
paulicianos, citado por Gregório Magistos no décimo
primeiro século, e descoberto pelo Sr. Fred C.
Conybeare, de Oxford, em 1891, na Biblioteca do Santo
Sínodo, em Edjmiatzin da Armênia, afirma nas páginas
76-77 que são de origem apostólica: "Submetamo-nos então
humildemente à Santa igreja universal, e sigamos o seu
exemplo, que, agindo com uma só orientação e uma só fé,
NOS ENSINOU. Pois ainda recebemos no tempo oportuno o
santo e precioso mistério do nosso Senhor Jesus Cristo e
do pai celestial: a saber, que no tempo de
arrependimento e fé. Assim COMO APRENDEMOS DO SENHOR DO
UNIVERSO E DA IGREJA APOSTÓLICA, prossigamos; e firmemos
em fé verdadeira aqueles que não receberam o santo
batismo (na margem: a saber, os latinos, os gregos e
armênios que nunca foram batizados); como assim nunca
provaram do corpo nem beberam do santo sangue do nosso
Senhor Jesus Cristo. Portanto, de acordo com a Palavra
do Senhor, devemos traze-los a fé, induzi-los ao
arrependimento, e dar-lhes o batismo - rebatiza-los."
Fica claro que eles não se denominavam paulicianos,
porém, "a igreja Santa, Universal e Apostólica". As
igrejas romanas, gregas e armênias, eram duramente
condenadas por eles. Condenavam principalmente o batismo
por imposição (praticado pelos imperadores) e o batismo
infantil.
Outro relato interessante é o do professor Wellhausen,
na biografia que escreveu sobre Maomé, na Enciclopédia
Britânica, XVI, pg 571, pois ali os paulicianos são
chamados de "sabian", que é uma palavra árabe que
significa "batista".
Crescimento e Perseguição dos Paulicianos
Na enciclopédia acima mencionada diz que os sabianos -
ou batistas - encheram com seus adeptos, a Siria, a
Palestina, e a Babilônia. O maior grupo estava fixado
nas regiões montanhosas do Arara e do Tauros. O motivo
de escolherem este lugar de tão difícil acesso é a
perseguição movida contra eles pelas igrejas gregas.
Enquanto Montanistas, Novacianos e Donatistas eram
perseguidos mais pelas igrejas romanas, as igrejas
gregas perseguiam os paulicianos no oriente.
O crescimento não podia deixar de despertar os inimigos.
No ano de 690, o já mencionado pastor Constantino, foi
apedrejado por ordem do imperador, e seu sucessor
queimado vivo. A imperatriz Teodora instigou uma
perseguição na qual, dizem, foram mortos na Armênia cem
mil paulicianos.
Por incrível que pareça foram tolerados por muito tempo
pelos maometanos. Isso deixou-os a vontade e foram eles
os grandes missionários da idade das trevas entre os
anabatistas. Espalharam-se pela Trácia em 970, pela
Bulgária, Bosnia e Servia após o ano 1100. Em todos
estes lugares foram como missionários enviados pelas
igrejas paulicianas. O historiador Orchard revela que
"um número considerável de paulicianos esteve
estabelecido na Lombardia, na Insubria, mas
principalmente em Milão, aí pelo meado do século onze e
que muitos deles levaram vida errante na Franca, na
Alemanha e outros países, onde ganharam a estima e
admiração da multidão pela sua santidade. Na Itália
foram chamados de Paterinos e Cátaros. Na França foram
denominados búlgaros, do reino de sua emigração, também
publicanos e boni homines, bons homens; mas foram
principalmente conhecidos pelo termo albigenses, da
cidade de Albi, no Languedoc superior".
Em 1154 um grupo de paulicianos emigrou para a
Inglaterra, tangidos ao exílio pela perseguição. Uma
porção deles estabeleceram-se em Oxford. Willyan
Newberry conta do terrível castigo aplicado ao pastor
Gerhard e o povo. Seis anos mais tarde outra companhia
de paulicianos entrou em Oxford. Henrique II ordenou que
fossem ferreteados na testa com ferros quentes,
chicoteados pelas ruas da cidade, suas roupas cortadas
até a cintura e enxotados pelo campo aberto. As vilas
não lhes deviam proporcionar abrigo ou alimento e eles
sofreram lenta agonia de frio e fome." É interessante
lembrar ao leitor, que João Wycliff (1320-1384),
considerado a "estrela d’alva" da Reforma, iniciou
justamente em Oxford sua luta para reformar a podridão
do catolicismo. Sem dúvida ele teve algum contato com
algum sobrevivente dos paulicianos.
A partir do século XII o nome pauliciano foi caindo em
desuso. Conforme suas emigrações e campos missionários,
foram recebendo novos nomes ou se fundindo com os outros
grupos de anabatistas da Europa. No sul o nome perdeu-se
entre os albingenses e valdenses. No centro e norte da
Europa foi aos poucos prevalecendo o nome de
"anabatistas".
CAPÍTULO VI
IDENTIFICANDO OS ANABATISTAS DO SÉCULO XII a XV
Os anabatistas dos séculos XII ao XV são a continuação
ou os descendentes diretos dos anabatistas primitivos. A
única coisa que vai mudar é o sobrenome do apelido.
Vimos que na primeira geração de anabatistas havia
quatro grandes correntes, que ia desde o Oriente Médio
até a Europa. A partir do século XII, a mais forte
destas correntes (os paulicianos) fundiu sua identidade
com os irmãos europeus que serão estudados neste
capítulo.
Dois grandes grupos de anabatistas apareceram neste
período. Esse número pode ser bem maior, mas me falta
conhecimento para integrá-los aos demais. Não é nossa
idéia trabalhar com hipóteses. Trabalhamos com
declarações e documentos de estudiosos no assunto de
história das igrejas. Por isso consideraremos apenas
dois grupos como autênticos anabatistas. São eles: Os
albingenses e os Valdenses. A história de amor pela
palavra de Deus, e a perseguição que sofreram decorrente
deste amor, é uma das histórias mais lindas e tristes
que já li.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO ALBIGENSES
Após os quatro grupos primitivos de anabatistas os
albigenses é o primeiro a se destacar como seus
descendentes. Já se notou que os montanistas, donatistas
e novacianos, após a investida de Roma e Constantinopla
sobre eles, foram obrigados a se refugiar na região dos
Pirineus, sul da Franca. Também os paulicianos a partir
do século XI se fixaram nestes lugares. Foi exatamente
assim que Deus guardou sua igreja pura e viva, para
descobri-la novamente ao mundo e pregar as boas novas.
Os velhos nomes morreram, mas a fé permaneceu a mesma. A
doutrina também não mudou. Também não mudou o costume de
rebatizar os católicos, e por isso todos os dois grupos
eram identificados como seus antecessores, ou seja,
"anabatistas".
A Origem dos Albigenses
Alguns historiadores traçam a origem dos albigenses como
tendo provindo dos paulicianos (Enc. Brit. I pg 45),
enquanto outros afirmam que eles se achavam no sul da
França desde os primeiros dias do cristianismo. Este
apelido não provém do nome de um pastor famoso, como por
exemplo os novacianos. É um apelido proveniente do lugar
onde os anabatistas se encontravam. Albi era uma cidade
no distrito de albigeois, no sul da França.
Após a perseguição desencadeada por Roma e
Constantinopla sobre os montanistas, novacianos e
donatistas, estes três grupos, sem exceção, ficaram
impedidos de pregar nas cidades do ocidente e do oriente
onde prevalecia o poder papal. A prática de rabatizar os
católicos era punida com a morte. Então, num gesto de
conseguir a sobrevivência da fé e da ordem apostólica,
estes grupos procuraram esconder-se nos Alpes e nos
Pirineus. Ao chegarem nestes lugares perderam o antigo
apelido e foram conhecidos por outros apelidos:
ALBIGENSES - pelo lugar onde se refugiaram; CÁTAROS -
Devido a pureza de vida que levavam; HOMENS BONS - Pela
inegável integridade desses crentes; e ANABATISTAS - por
rebatizaram os que vinham do catolicismo romano ou
ortodoxo.
Não existia diferença entre as doutrinas dos
recém-chegados a esse refugio - como foi o caso dos
paulicianos - e os anabatistas já instalados ali há
quase um milênio - a saber, os montanistas, novacianos e
donatistas. Mesmo vindos de cantos totalmente diferentes
e de diversos lugares do mundo antigo, ao chegarem nos
vales dessas montanhas, uniam-se facilmente uns com os
outros. O crescimento dos anabatistas neste lugar fez o
dr. Allix calcular o seu número em três milhões e
duzentos mil pessoas só nos Pirineus. (O batismo
Estranho e os Batistas, pg 63). É maravilhoso saber como
Deus guardou os anabatistas por tantos séculos e depois
ajuntou-os num mesmo lugar. É maravilhoso saber que a
podridão do catolicismo não conseguiu penetrar nessas
igrejas de Jesus Cristo por todos estes séculos.
Perseguição contra os albigenses
Qualquer pessoa pode por si mesma fazer um estudo
minucioso sobre as atrocidades cometidas contra os
albigenses. O que o catolicismo fez por mais de um
século contra esse grupo de anabatistas pode ser lido em
qualquer biblioteca de uma simples escola pública. Basta
pegar uma enciclopédia e abrir na página de Inocêncio
III. Este papa católico foi um dos muitos que mataram
friamente anabatistas por mais de mil e trezentos anos.
Só que as atrocidades deste papa foram todas registradas
e não podem ser escondidas da sociedade. Para a igreja
católica ele é um santo. Para mim o mais usado por
Satanás de seu tempo.
O Papa Inocêncio III (1198-1216) desencadeou contra os
anabatistas de albi o que foi chamada de "a quarta
cruzada". A chacina, iniciada em fins do século XII,
iria se prolongar até meados do século XIII. Centenas de
milhares de albigenses - também chamados de cátaros e
bons homens, foram cruelmente assassinados pelo mandato
papal. Houve em 1167 na cidade de Toulouse o chamado
"concílio albigense". Assunto: Tratar simplesmente dos
hereges anabatistas que lá viviam. O resultado desse
concílio foi a quarta cruzada posta em vigor pelo papa
Inocencio III. Em 22 de Julho de 1209, quase toda a
população de Béziers foi massacrada. O papa Inocêncio e
seus sucessores, em nome de Deus, matava anabatistas
como se mata porcos. Alguns albigenses que conseguiram
se refugiar em Montségur (foram estes os últimos
albigenses anabatistas a assim serem chamados),
conseguiram sobreviver até o ano de 1244.
O escritor Nicolas Poulain assim descreveu o seu fim: "A
16 de Marco de 1244, os sitiadores prepararam uma enorme
fogueira no sopé do rochedo de Montségur. Então, os 200
sobreviventes saíram do refúgio e desceram em lenta
procissão até seus carrascos. Os sãos sustinham os
enfermos; de mãos dadas, entoavam hinos religiosos.
Entre eles, havia uma mãe com sua filha doente...
impassíveis, todos entraram nas chamas... o local onde
foi erguida a fogueira ainda é conhecido como o "campo
dos queimados"; ali se erigiu uma esta funerária onde
foi gravada a seguinte inscrição: "EM MEMÓRIA DOS
CÁTAROS, MÁRTIRES DO PURO AMOR CRISTÃO."
E ainda há quem defenda um homem como Inocencio III. E
ainda há quem ache a igreja católica ser a igreja que
Jesus deixou. Não, não é. Deus não tem assassinos como
pastores. Sua igreja não é uma igreja assassina, pois,
"a porta do inferno não prevalecerá contra minha
igreja." Se leitor duvida do que aqui está escrito
procure saber por si mesmo a verdade. Mas busque a
verdade.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO VALDENSES
A perseguição que o papado moveu contra os albigenses
durante várias décadas fez os anabatistas a se
deslocarem para muitos lugares. O nome albigense era
sinônimo de morte. Surgiu então um outro apelido para
designar os anabatistas deste tenebroso período. Foram
chamados de Valdenses.
A Origem dos Valdenses
Os livros relatam que os valdenses se originaram de um
rico comerciante de Lion em ll76. Seu nome era Pedro de
Valdo, daí valdenses. Mas a verdade é que esse grupo é
uma continuação dos albigenses. Vendo os anabatistas
albigenses que a perseguição no sul da França não ia ter
fim - como não teve - fugiram para outras localidades.
Em suas fugas iam evangelizando e rumando sempre para o
norte da Europa. Foi onde Pedro de Valdo se converteu, e
por ser famoso, os inimigos logo apelidaram os antigos
albigenses de Valdenses.
Significativo é o depoimento de Raisero Sachoni. Ele foi
por dezessete anos um dos mais ativos pregadores dos
"Cátaros" ou "Valdenses". Mais tarde uniu-se à ordem
dominicana apostatando da fé. Tornou-se um acérrimo
inimigo dos Valdenses, e por isso o papa fe-lo
inquisitor da Lombardia. Por muitos anos, até sua morte,
acusou e mandou matar seus ex-irmãos anabatistas. Foi um
judas. Sua opinião sobre a origem dos valdenses é como
se segue: "Entre todas as seitas não há mais perniciosa
à igreja (católica é claro) do que os valdenses. Por
três razões: Primeira, porque é a mais antiga, pois
alguns dizem que data do tempo de Silvestre, 325 A.D.
(Silvestre foi o papa que junto com Constantino condenou
os donatistas, montanistas e novacianos), outros ao
tempo dos apóstolos. Segunda, é a mais largamente
espalhada, porque dificilmente haverá um país onde não
existam. Terceira, porque, se outras seitas horrorizam
aos que a ouvem, os valdenses, pelo contrário, possuem
uma grande aparência de piedade. Como matéria de fato,
eles levam vidas irrepreensíveis perante os homens e no
que respeita a sua fé, aos artigos do seu credo, são
ortodoxos. Sua única falta é que blasfemam contra a
igreja e o seu credo".
O testemunho desse apóstata é muito importante. Não é
fácil para um legado católico dizer que "datam do tempo
de Silvestre ou dos apóstolos". Outro escritor, dessa
vez um francês, Michelet, diz na Historie de France, II,
pg 402, Paris 1833: "Os valdenses criam numa
continuidade secreta através da Idade Média, igual a da
Igreja Católica". E Neander adiciona na History of the
Christian, pg 605, Vol. IV, 1859: "Não é sem fundamento
a afirmação dos valdenses deste período (1100 em
diante), a respeito da antigüidade de sua seita, e que
tinha havido, desde o tempo da secularização da igreja,
a mesma oposição (a igreja Romana) que eles
sustentavam".
Os historiadores que se tem especializado na história
dos valdenses sustentam a idéia de que as doutrinas dos
valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Diz Faber,
The Waldenses and Albigenses: "A evidencia que acabo de
produzir, prova, não somente que os valdenses e
albigenses existiram antes de Pedro de Lião; mas também,
que no tempo do aparecimento dele nos fins do século
doze, havia duas comunhões de grande antigüidade (O
autor refere-se aos albingenses e valdenses ao dizer que
existias duas comunhões).
Segue-se, portanto, que mesmo nos séculos doze e treze,
as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem
remota foi atribuída, mesmo pelos seus inimigos
inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem.
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