Pré-milenialismo e a Tribulação - Parte V: Teoria do Arrebatamento Parcial

por John F. Walvoord (1955)

Tradução: Nathan Cazé    E-mail: nhac27@hotmail.com        Blog: www.monoergon.wordpress.com  

 

Fonte: https://bible.org/seriespage/premillennialism-and-tribulation-%E2%80%94-part-v-partial-rapture-theory



Definição da Teoria

 

É geralmente assegurado entre pré-tribulacionistas de que toda a igreja, composta de todos os crentes nessa era, irá ser transladada e ressuscitada na vinda de Cristo para ela, precedendo a tribulação. Tem levantado-se no último século, no entanto, um pequeno grupo de pré-tribulacionistas que alegam que somente aqueles que são fiéis na igreja serão arrebatados ou transladados e o restante serão arrebatados em algum momento durante a tribulação ou em seu fim. Como afirmado por um de seus aderentes: “Os santos serão arrebatados em grupos durante a tribulação conforme eles são preparados para ir”.[1] Ele ainda afirma: “A base para a transladação deve ser a graça ou galardão. ...Nós acreditamos que exortações frequentes nas Escrituras para vigiar, ser fiel, estar preparado para a vinda de Cristo, viver vidas cheias do Espírito, todas sugerem que a transladação é um galardão”.[2] A teoria inclui o conceito de que somente os santos fiéis serão ressuscitados na primeira ressurreição.

 

Contexto histórico

 

A teoria moderna do arrebatamento parcial parece ter-se originado nos escritos de Robert Govett que publicou um livro estabelecendo a teoria em 1853.[3] Nessa obra ele expõe o entendimento dele de que a participação no reino é condicional e depende de conduta digna. O expoente mais hábil da teoria no século XX foi G. H. Lang.[4] Outros têm feito uma contribuição significante para a propagação da teoria. D. M. Panton, na qualidade de editor do The Dawn (Londres), usa a publicação dele para promover esse ensinamento. Tais escritores como Ira E. David, Sarah Foulkes Moore, William Leask, e C. G. A. Gibson-Smith contribuem para os artigos do The Dawn em apoio a essa teoria. Na maior parte das vezes, entretanto, essa teoria é limitada a alguns aderentes que são geralmente tratados como heterodoxos por outros pré-tribulacionistas.

 

Razões Gerais para Rejeitar o Arrebatamento Parcial

 

Os cristãos evangélicos geralmente acreditam que a salvação é pela graça ao invés de um galardão por boas obras. O crente em Cristo é justificado pela fé, e recebe os muitos benefícios da salvação bem à parte de seu mérito ou merecimento. Isso é normalmente levado para dentro da doutrina de transladação e ressurreição. A maioria dos pré-tribulacionistas bem como a maioria dos pós-tribulacionistas consideram que a transladação e ressurreição dos santos com base nisto. Em contraste, o ensinamento do arrebatamento parcial transfere a ressurreição e transladação, proveniente da obra da graça, para uma obra de galardão proveniente de fidelidade. Em defender isso, eles torcem os versículos principais e aplicam outros erradamente. A oposição ao ponto de vista do arrebatamento parcial nasce, não de textos particulares, mas da ampla doutrina da natureza da própria salvação. Torna-se, portanto, mais do que um argumento sobre profecia. Esta tem suas raízes na profundeza da perspectiva teológica geral das partes respectivas.

 

A oposição à posição do arrebatamento parcial também é relacionado à eclesiologia ou a doutrina da igreja. A maioria dos evangélicos distingue a verdadeira igreja do elemento meramente professante. É certo que a conformidade exterior e a filiação organizacional não garantem nenhuma benção no programa profético. Os pré-tribulacionistas, bem como os pós-tribulacionistas, distingue a relação divina com aqueles genuinamente salvos e aqueles que somente professam a salvação. Os que acreditam no arrebatamento parcial, entretanto, têm pontos de vista bem diferente do que geralmente acredita-se. Para eles, há duas classes de pessoas genuinamente salvas—aqueles dignos da transladação, e aqueles não dignos. Eles, portanto, dividem o corpo de Cristo em dois grupos com base em um princípio de obras. Em contrapartida, as Escrituras ensinam que o corpo de Cristo, composto de todos os verdadeiros crentes, é uma unidade e recebe promessas como tal. É inconcebível que a igreja, formada pela graça, seja dividida por obras.

 

As passagens na Escritura [Todas as citações das Escrituras, exceto quando indicado, são da American Standard Version (1901)[a]] lidando com a transladação e ressurreição da igreja não ensina o arrebatamento parcial. Aqueles pelos quais Cristo está vindo, de acordo com João 14:3, são identificados, em João 14:1, como aqueles que creem. Aqueles transladados e aqueles ressuscitados na última trombeta de 1 Coríntios 15:52 são descritos, em 1 Coríntios 15:51, como “todos nós”. De acordo com 1 Tessalonicenses 4:13-18, aqueles ressuscitados são descritos como “os que morreram em Cristo” (v. 16) e o “nós”, os que são arrebatados, são identificados como aqueles que “creem que Jesus morreu e ressuscitou” (v. 14). O ensinamento explícito das Escrituras aponta para a conclusão de que a transladação inclui todos os santos vivos e a ressurreição inclui todos os “mortos em Cristo”. Outras Escrituras confirmam que a transladação não é dependente da expectativa ou vigilância (1 Ts 1:9-10; 2:19; 5:4-11; Ap 22:12). Os partidários do arrebatamento parcial, no entanto, defendem o ponto de vista deles usando várias porções das Escrituras que são interpretadas como se sustentasse a doutrina deles. Estas devem ser examinadas antes que o caráter completo do ensinamento deles se torne aparente.

 

Base Bíblica para a Teoria do Arrebatamento Parcial

 

Grande parte da base Bíblica da teoria do arrebatamento parcial é encontrada, por seus aderentes, em exortações para vigiarem ou esperarem pela vinda do Senhor juntamente com o ensinamento de que alguns, que falharem em vigiar, não estarão preparados quando    Ele voltar. Passagens geralmente usadas inclui Mateus 24:40-51; 25:13; Marcos 13:33-37; Lucas 20:34-36; 21:36; Filipenses 3:10-12; 1 Tessalonicenses 5:6; 2 Timóteo 4:8; Tito 2:13; Hebreus 9:24-28; Apocalipse 3:3, 12:1-6. Ao citar essas passagens, pouca distinção é observada entre referências a Israel e referências à igreja, e passagens que referem-se à segunda vinda de Cristo para estabelecer o reino milenar são folgadamente aplicadas ao arrebatamento ou transladação. Na verdade, muitos dos pontos de vista dos aderentes do arrebatamento parcial também são assegurados pelos pós-tribulacionistas. O estudo dessas passagens, como interpretado por aderentes do arrebatamento parcial, irá mostrar a confusão de interpretação.

 

Mateus 24:40-51; Marcos 13:33-37. A passagem de Mateus é essencialmente uma exortação para vigiar. O tema é afirmado, “Vigiai, pois: porque vocês não sabem em que dia vem o seu Senhor” (v. 42). Outro comando é dado, “Por isso ficai também vós preparados; porque numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem” (v. 44). Aquele que não estiver vigiando é descrito como alguém que será separado e dado à porção dos hipócritas (v. 51). Essa passagem é corretamente interpretada como pertencendo à segunda vinda ao invés da igreja, embora expositores, em geral, nem sempre concordam sobre isso. O povo, em análise, é a nação israelita. Destes, alguns estão vigiando e são fiéis, tomando conta da casa de Deus. Eles são contrastados com aqueles que batem nos seus conservos, e “comem e bebem com os ébrios” (v. 48). É óbvio que algo mais que mero descuido está em vista. A fidelidade daqueles que estão vigiando é evidência de verdadeira fé em Cristo, enquanto que a infidelidade daqueles que são ébrios é indicativo de fracasso em crer para a salvação da alma. Embora as obras estejam em vista, elas são indicativas da fé vital ou a falta dela. É duvidoso que haja qualquer referência específica ao arrebatamento ou transladação no contexto inteiro de Mateus 24-25.

 

 

Os aderentes do arrebatamento parcial apoderam-se de Mateus 24:40 como fundamentação da posição deles: “Então, estando dois homens no campo; um é levado e o outro é deixado”. É argumentado que aquele que é levado foi transladado. Robert Govett afirma que a palavra grega que corresponde a “levar” (paralambano) significa “levar como um companheiro” —“comumente como resultado de amizade”.[5] Nisto, ele encontra um contraste à palavra grega “levou” (eren), descrevendo o julgamento sobre os descrentes nos dias de Noé (Mt 24:39). Ele oferece sustentação em que a palavra ‘paralambano’ é usada em João 14:3 do arrebatamento, “recebê-lo-ei para mim mesmo”. O que foi deixado, de acordo com Govett, é deixado para passar pela tribulação.

 

Um estudo cuidadoso do uso aqui, entretanto, não sustenta a exegese dele. O contexto é judaico, e de nenhuma forma refere-se à igreja. A discussão está lidando com o fim da era, isto é, toda a era do interadvento, não o período da igreja como tal. O terminus ad quem é a segunda vinda, não a transladação da igreja. A palavra grega ‘paralambano’ não é especificamente uma palavra que descreve uma relação amigável. Também é utilizada em João 19:17: “Eles tomaram, pois, a Jesus: e ele saiu, carregando a sua própria cruz...” Esse ato de tomar a Jesus certamente não foi uma associação amigável é compara-se a um tomar em ira. O ato de tomar/levar em Mateus 24:41 é interpretado melhor como o mesmo no verso 39. Em ambos os versículos, o que é levado, é levado em julgamento. Isso é precisamente o que é feito na segunda vinda de Cristo quando aqueles que permanecerem entram na benção do milênio, e aqueles levados/tomados são julgados. A evidência, então, para o arrebatamento parcial nessa passagem é completamente dissolvida por meio da examinação da evidência.  A passagem paralela em Marcos 13:33-37 tem, se é que tem, menos evidência do que o relato de Mateus, e é respondido da mesma forma.

 

Lucas 21:36. Essa passagem é citada por Lang como uma das provas conclusivas para a teoria do arrebatamento parcial.[6] A exortação que esse versículo apresenta é outro comando para vigiar: “Vigiai, pois, vós, em todo o tempo, fazendo suplicação, para que possais prevalecer para escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e estar em pé na presença do Filho do homem”. O apelo é feito particularmente à Versão Rei Tiago [King James Version] que utiliza a expressão, “para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas...”. Lang sumariza o argumento dele nestas palavras: “Isso declara distintamente: (1) De que o escape é possível de todas aquelas coisas das quais Cristo tem falado, isto é, de todo o Fim dos Tempos. (2) Que aquele dia de provação será universal e inevitável por qualquer um que, nesse tempo, esteja na terra, e envolve a remoção, da terra, de qualquer um que esteja para escapar de lá. (3) Que aqueles que estão para escapar serão levados para onde Ele, o Filho do Homem, nessa época estará, isto é, no trono do Pai nos céus. Eles estarão diante dEle lá. (4) Que há uma temido perigo dos discípulos tornarem-se mundanos no coração e assim serem emaranhados naquele último período. (5) Que, portanto, é necessário vigiar e orar incessantemente para que possamos prevalecer sobre todos os obstáculos e perigos e, assim, escapar aquela era”.[7]

 

Todos os pré-tribulacionistas concordarão que o escape da era vindoura de provação é providenciado para os crentes em Cristo. Todos também concordam que aqueles que acreditam em Cristo durante a própria tribulação, embora não esteja fora do período, pode ter livramento desta na vinda do Senhor que estabelecerá o Seu reino. O ponto de disputa está completamente na conclusão de que alguns dos verdadeiros crentes serão deixados para passarem pela tribulação enquanto outros são trasladados antes dela.

 

Embora a exegese dessa passagem é admitidamente difícil, um estudo cuidadoso do contexto providencia um indício para a interpretação dela. O contexto tem haver com os sinais que precedem a segunda vinda, obviamente destinada a pessoas que estarão vivendo na terra naquela época. A possibilidade de interpretação baseado no contraste de “vós” no verso 36 e “eles” no verso 35 seria que a exortação, em questão, é endereçada à igreja nos dias precedendo a tribulação. Entretanto, a frequente troca da segunda e terceira pessoas em toda a passagem não providencia muita base para essa distinção (cf. segunda e terceira pessoas no vv. 27-28). O contexto maior lida com aqueles vivendo nos dias dos sinais e as exortações, principalmente, concernem a estes (cf. “olhai” no v. 28) ao invés da igreja na era presente. O caminho mais seguro seria de identificar o verso 36 como sendo direcionado àqueles na tribulação que antecipam a vinda do Senhor para estabelecer o Reino dEle. Eles, de fato, irão “vigiar”, pois a vinda dEle é a única esperança deles. Eles certamente irão orar, pois somente por meio da ajuda divina eles sobreviverão o período. Uma observação deve ser feita de que essa passagem não fala de livramento do período ou da hora da provação (cf. Ap 3:10), mas somente do livramento de “todas essas coisas que hão de acontecer”.

 

Deve ser observado que aqui, assim como em outras passagens frequentemente usadas pelos aderentes do arrebatamento parcial, o arrebatamento não é especificamente mencionado; de fato, não é indicado nenhuma vez. Lang está inserindo dentro do texto o que este não diz, quando ele afirma que estar diante do Filho do Homem deve necessariamente significar no céu. Todos os homens estarão diante de Cristo na terra na segunda vinda (cf. Mt 25:32). Insistir na ideia de escapar do julgamento, como indicado nessa passagem para provar o arrebatamento parcial, requer invenção dos componentes principais da doutrina. É melhor concluir que essa passagem não ensina o arrebatamento parcial porque ela não se refere, de nenhuma forma, ao arrebatamento.

 

Mateus 25:1-13. A parábola das dez virgens é interpretada pelos pré-tribulacionistas de várias formas; alguns entendem que refere-se à tribulação dos santos[8] e outros da igreja.[9] Os aderentes do arrebatamento parcial, supondo que esta refere-se à igreja, encontra na passagem o conceito de uma transladação seletiva—as virgens insensatas sendo deixadas para trás porque estavam despreparadas e as virgens prudentes transladadas porque estavam preparadas. A resposta dada aos aderentes do arrebatamento parcial depende na interpretação das passagens como um todo. Se Chafer estiver correto de que a passagem lida com o fim da era do interadvento, a tribulação, ao invés da igreja, então a passagem não tem relação com a doutrina do arrebatamento parcial. Muito está em favor da posição de Chafer. A igreja é geralmente a noiva, e na figura de uma festa de casamento seria incongruente conceber a igreja como representada por virgens participando da festa. A própria passagem não usa nenhuma dos termos característicos relacionados à igreja, tal como noiva, corpo, ou a expressão em Cristo. Não há nenhuma referência de transladação ou ressurreição. O noivo vem ao lugar onde as virgens estão esperando em uma cena terrena e permanece naquela cena terrena até onde concerne a figura. Essa e muitas outras observações apontam para excluir essa passagem da consideração.

 

Entretanto, mesmo se as virgens representassem a igreja na era presente, onde está a prova que essa é a igreja verdadeira, a companhia daqueles que são salvos? Como é comumente interpretado por escritores como H. A. Ironside,[10] as virgens representam a igreja professora.[b] Os verdadeiros crentes são interpretados como tendo azeite nas lâmpadas deles, típico do Espírito Santo. Os meros professores têm a aparência, mas não o azeite, isto é, não são genuinamente regenerados e habitados pelo Espírito. Se a vigilância é necessária para obter merecimento, como os aderentes do arrebatamento parcial caracteristicamente argumentam, então nenhuma das dez virgens qualificam, pois “todas elas tosquenejaram e dormiram”. O comando para “vigiai” no verso 13 tem, então, um significado específico de ser preparado com azeite—sendo genuinamente regeneradas e habitadas pelo Espírito ao invés de terem espiritualidade incomum. O claro ensinamento é que “vigiando” não é suficiente. Essa passagem serviria para refutar os aderentes do arrebatamento parcial ao invés de sustentar o ponto de vista deles. Somente pelo poder e presença do Espírito Santo uma pessoa pode ser qualificada para entrar na festa de casamento, mas todas as virgens prudentes entram na festa.

 

Lucas 20:34-36. Essa passagem é usada pelos aderentes do arrebatamento parcial principalmente por causa da expressão “mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura...são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (Lucas 20:35-36). O contexto indica que a passagem lida com a questão do estado daqueles ressuscitados dentre os mortos. Aqueles que são havidos por dignos da ressurreição dos justos no começo da era milenar, indicada na passagem, são evidentemente os salvos que têm morrido e são, naquele tempo, ressurretos dentre os mortos. Não somente a ideia do arrebatamento parcial é estranha à passagem, mas a passagem, em nenhum momento, lida com o sujeito do arrebatamento. Se o arrebatamento ocorrer antes da tribulação, essa cena seria relacionada à ressurreição pós-tribulacional. De acordo com Daniel 12:1-2, naquele tempo—o fim da tribulação—“todos achados no livro da vida” serão livrados, estejam esses vivos ou mortos. Não há arrebatamento parcial aqui e nem é a ressurreição dos justos dividida pelo princípio de ser digno. Essa passagem pode, portanto, ser completamente excluída do argumento.

 

Filipenses 3:10-12. Nessa passagem, Paulo fala do desejo dele de conhecer a Cristo, “para, de algum modo, eu possa alcançar a ressurreição dentre os mortos” (v. 11). É a contenção dos aderentes do arrebatamento parcial de que Paulo tinha em mente a necessidade de fidelidade na esperança de merecer a ressurreição no tempo da primeira ressurreição, isto é, antes do milênio, ao invés de esperar por depois. Govett traduz Filipenses 3:10-11 da seguinte forma: “Para que eu possa conhece-lo, e o poder de sua ressurreição, e a comunhão de seus sofrimentos, sendo conformado à sua morte, para que, de algum modo, eu possa alcançar à ressurreição seleta dentre os mortos”.[11]

 

É comumente aceito pelos pré-tribulacionistas que a ressurreição, da qual Paulo referia-se, de fato era uma “ressurreição seleta”, mas a tradução de Govett é uma interpretação ao invés de uma tradução literal. Uma tradução literal seria “para, de algum modo, eu possa alcançar a ressurreição daquele dentre os mortos”. É claro que a passagem refere-se a uma ressurreição que inclui somente os mortos justos, embora isso seja geralmente negado por amilenistas. A ressurreição nesse ponto de vista é, sem dúvida, a ressurreição dos “mortos em Cristo” (1 Ts 4:16). A ambição de Paulo não era, no entanto, que ele pudesse morrer e em seguida, talvez, ser havido por digno da ressurreição naquele momento. A esperança dele era que ele pudesse alcançar a ressureição no sentido de ainda estar vivo quando o evento ocorresse, que significaria que ele seria transladado ao invés de ressuscitado. Paulo não tinha dúvida que ele seria incluído no evento. Depois ele escreveu a Timóteo, “não estou envergonhado; pois, eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2 Tm 1:12).

 

A ressurreição da qual Paulo refere-se não é galardão, como Govett argumenta. Govett escreve: “É evidente à primeira vista, que a ressurreição da qual o apostolo fervorosamente buscava não era a ressurreição geral. Os ímpios participarão disto, quer desejam ou não. Paulo, portanto, não poderia expressar quaisquer dúvidas do alcance dele da ressurreição, ou falar disto como um objeto de esperança. Portanto, isto é uma ressurreição peculiar: a ressurreição do galardão, obtida pelos justos, enquanto os ímpios permanecem em seus túmulos”.[12]

 

Em refutação a esse erro, 1 Tessalonicenses 4:16 é claro: a ressurreição incluirá todos os mortos em Cristo, todos que, pela graça por meio da fé, têm confiado em Cristo e têm, até agora, recebido essa nova posição em Cristo no lugar de sua velha natureza em Adão. Não há justificação para construir, em cima da esperança de Paulo, uma ressurreição de galardão a ser alcançada somente por uma pequena porção da igreja de Cristo nascidos do Espírito e lavados no sangue do Cordeiro. A ressureição é parte do dom de Deus, nunca um galardão por obras humanas; entretanto, a mesma pode justificar a fidelidade e, até mesmo, o martírio por parte do crente. O ponto de vista de Paulo é que se a ressurreição é certa, o que importa se a estrada perante ele é de sofrimento e, até mesmo, morte. Os meios, por mais difíceis, são justificado pelo fim.

 

A posição do arrebatamento parcial dessa passagem traz, em alto relevo, que a posição deles não somente envolve um arrebatamento parcial, mas uma ressurreição parcial dos crentes. Embora os crentes possam não ser ressuscitados no mesmo tempo, o princípio dos estágios da ressurreição —alguns na transladação da igreja e, outros, depois da tribulação—é baseado no programa soberano de Deus para a igreja e para os santos do Velho Testamento, e não sobre um princípio de obras ou avaliação de fidelidade entre os santos. Haverá galardões, mas a ressureição é prometida a todos os crentes.

 

1 Tessalonicenses 5:6. Essa passagem é outra exortação para vigiar: “Assim, pois, não durmamos como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios”. O contraste aqui, de novo, não é entre alguns crentes que vigiam e outros que não vigiam. Ao invés, os crentes são exortados a fazer aquilo que esteja de acordo com a expectação deles—esperar pela vinda do Senhor. Aqueles que dormem são obviamente os não salvos, como descritos em 1 Tessalonicenses 5:7: “Porque os que dormem, dormem de noite; e os que se embebedam, embebedam-se de noite”. Em contrapartida, aqueles que “são do dia”, isto é, aqueles que são verdadeiros crentes, devem viver conforme a fé deles. A passagem, bem como as outras que têm sido consideradas, não ensina o arrebatamento parcial de alguns crentes. A distinção é entre aqueles salvos e não salvos.

 

2 Timóteo 4:8. Esse verso é uma afirmação gloriosa da esperança de Paulo de galardão: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”. Essa passagem claramente profetiza galardão para Paulo e outros que “amam a sua vinda”. Essa revelação não diz nada sobre o arrebatamento parcial como sendo parte desse galardão. É, ao invés, que todos os crentes em Cristo são arrebatados e, em seguida, é distribuído os galardões de acordo com as obras deles.

 

Tito 2:13. A esperança dos crentes é expressado graficamente neste verso conhecido: “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa atitude de expectação é normal para os verdadeiros cristãos, mas não é, aqui ou em qualquer outro lugar, feito uma condição para ser arrebatado. Somente lendo para dentro do texto uma doutrina preconcebida é que o arrebatamento parcial poderia ser encontrado aqui.

 

Hebreus 9:24-28. A entrada de Cristo no céu e sua vinda quando Ele “aparecerá uma segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (v. 28) é o tema dessa porção das Escrituras. Os aderentes do arrebatamento parcial apoderam-se da frase “aos que o aguardam”, como indicando que somente tais crentes, que estão ativamente esperando por Cristo, serão arrebatados. A resposta óbvia é que aqueles que são aqui descritos são cristãos retratadas em atitude característica de espera or antecipação do cumprimento da salvação da qual eles, agora, têm os primeiros frutos.Todos os cristãos dignos do nome antecipam o cumprimento futuro do program de Deus da salvação para eles. A frase sobre a qual os aderentes do arrebatamento parcial põem tanto êmfase é mais um detalhe do que a revelação principal da passagem. O ponto principal é que Cristo voltará e completará, na sua segunda vinda, a salvação que Ele providenciou em Sua morte em Sua primeira vinda. A figura é aquela do sacerdote que, tendo sacrificado, entra no santo dos santos e, em seguida, aparece pela segunda vez para aqueles para quem Ele esteve ministrando. No sentido usado nesta passagem, todos os verdadeiros cristãos estão esperando por Cristo em Sua segunda vinda.

 

Apocalipse 3:3. Essa passagem, desginada à igreja em Sardes, é outro comando para vigiar: “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei sobre ti”. Essa passagem é endereçada à igreja local em Sardes na qual, sem dúvida, havia tanto os verdadeitos cristãos quanto aqueles meramente professores. A igreja tinha, em certo momento, uma testemunha viva, mas desviaram-se disso (vv. 1-2). O desafio agora é de corrigir essa falta fundameltamente espiritual sob pena de que Cristo virá em julgamento quando eles não estiverem prontos para Ele. O julgamento que cairá sobre a igreja em Sardes irá, obviamente, lidar com aqueles que não são salvos. Aqueles que não acaterem a mensagem de Cristo e ignorarem a advertência estarão demonstrando sua falta fundamental de fé e salvação.

 

Apocalipse 3:10. Esse texto favorito dos aderentes do arrebatamento parcial é uma promessa à igreja em Filadélfia: “Porque guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”. D. M. Panton declara em conexão com seu apoio da teoria do arrebatamento parcial baseado neste texto: “Ele baseia-o unicamente na palavra ‘guardaste’. Ele abre a porta para o arrebatamento para céu.... A verdade do Segundo Advento, em que nosso Senhor baseia o escape do Anjo, está longe de ser ‘guardado’ por todos os filhos de Deus...o  Senhor, portanto, baseia o arrebatamento diretamente na fidelidade, não conversão”.[13]

 

Essa passagem mostra claramente que a teoria do arrebatamento parcial depende de um princípio de obras—o arrebatamento não é um fruto de salvação, mas um galardão para boas obras. Como em outras passagens, o problema é se isso é o ensinamento fundamental das Escrituras. A salvação é frequentemente rastreada à fé somente—como em Romanos 4, e em outras passagens a evidência da salvação, boas obras, são apontadas como necessárias para a salvação (Tiago 2:21-26). A promessa de Apocalipse 3:10 cai dentro da mesma categoria de Tiago 2. A evidência da fé, guardar a Palavra de Deus, é o terreno para promessa. Aqui, como em outros lugares, a distinção não é entre crentes com obras e crentes sem obras. O pensamento principal da passagem é que aqueles sem obras não são crentes verdadeiros. Aceitar o princípio da transladação com base nas obras transtorna toda a doutrina de justificação e a falta de toda a condenação para o crente. Ademais, vicia todas as promessas dadas à igreja como um todo com relação com a ressurreição e transladação. A proeminência de obras como evidência de fé nunca pode ser prova da negação de fé como o único fundamento da graça de Deus.

 

O princípio das obras imediatamente quebra-se quando a questão é feita: Quantas obras? Evidentemente nenhum cristão vive perfeitamente e a igreja em Filadélfia não é uma exceção. Fazer a doutrina da volta do Senhor ser a mesma coisa que “guardar a palavra da minha paciência”, é inteiramente injustificável. Muitos comentaristas identificam a frase, “palavra da minha paciência”, como sendo simplesmente uma referência à firmeza dos filadelfianos na prova.[14]

 

James Moffatt escreve: “O sentido preciso, portanto, não é ‘minha palavra sobre paciência’ (i.e., meu conselho de paciência como a suprema virtude destes últimos dias, então Weiss, Bousset, etc.), mas ‘a palavra, ou a pregação, dessa paciência que refere-se a mim’ (i.e., perseverança paciente com a qual, entre as provações presentes, Cristo será servido; então Alford, Spitta, Holtzm.). Ver Salmos xxxviii (xxxix).... A segunda razão para elogiar os cristão filadelfianos é a paciência leal sob perseguição, bem como a confissão leal de Cristo (v. 8) que tinha possivelmente trazido aquela perseguição”.[15]

 

A interpretação do arrebatamento parcial é, então, uma identificação arbitrária de uma expressão que parece claramente ter um significado mais amplo do que a esperança de volta do Senhor. A área básica de desentendimento, entretanto, é se um cristão salvo pela graça pode ter a transladação ou ressurreição negada ao mesmo tempo em que eles estão dentro único corpo de Cristo.

 

Apocalipse 12:1-6. Essa passagem final a ser considerada, enquanto ela não exausta as Escrituras usadas pelos aderentes do arrebatamento parcial, será suficiente para mostras o principal fundo Bíblico para a teoria deles. Essa revelação da mulher a descreve como “uma mulher vestida do sol, e tendo a lua debaixo dos seus pés, e sobre a sua cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Ap 12:1). A criança que nasceu dessa mulher é descrito como “um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro: e o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono” (Ap 12:5). A interpretação mais óbvia é que a mulher é Israel e o filho é Cristo. Os aderentes do arrebatamento parcial argumentam que a mulher é a igreja e o filho varão representa os crentes fiéis que são arrebatados antes da tribulação. Depois do arrebatamento dos crentes fiéis, a besta é retratada como fazendo guerra com “o restante de sua semente” (Ap 12:17). G. H. Lang, ao apresentar essa posição, afirma que essa interpretação do capítulo 12 de Apocalipse é o cerne do livro inteiro: “Esse c. 12 é o crux interpretum para todo o Apocalipse e os Tempos do Fim, especialmente em relação ao povo de Deus estar, então, vivendo....”. As duas escolas principais de expositores futuristas têm falhado; um deles insiste que todos os cristãos devem ser levados da terra antes do tempo da Besta, e o outro por insistir que nenhum dos santos pode escapar aquele período.[16]

 

A dificuldade aparente com a interpretação do aderente do arrebatamento parcial é que o ponto de vista deles de nenhuma forma é necessário. Se a mulher obviamente é Israel e o filho é obviamente Cristo, porque tentar fazê-los qualquer outra coisa. A descrição de Cristo em Apocalipse 12:5 é tão claro que não deveria ter nenhum argumento sobre isto. Israel, é claro, tem uma semente física, representada em Apocalipse 12:17. Não há nenhuma justificação para importar, aqui, a ideia da igreja como indivíduos grandemente composto de gentios em origem racial.

 

É verdade que a igreja está posicionalmente em Cristo e alguns pré-tribulacionistas têm argumentado que a igreja em Cristo será também levada e que o arrebatamento é prefigurado em Apocalipse 12:5. Ironside diz, “O filho-varão simboliza tanto a Cabeça quanto o corpo—o Cristo completo”.[17] Mesmo se esse ensinamento for permitido, está claro que todo, não parte, do filho varão é levado. O “resto da sua semente” não é nem Cristo e nem a igreja, mas é a semente física de Israel não salvo no momento do arrebatamento e, assim, são jogados para dentro do período da tribulação da qual essa passagem fala. O contexto não dá nenhuma base para a conclusão de que o filho varão representa o elemento espiritual da igreja arrebatada enquanto que o elemento não espiritual é deixado para trás.

 

Conclusão

 

Oposição à posição do arrebatamento parcial, além da refutação da interpretação deles de versículos-chave, é baseada em três amplos princípios: Primeiro, a posição do arrebatamento parcial é baseado em um princípio de obras em oposição ao ensinamento das Escrituras sobre a graça. A transladação e ressurreição da igreja faz parte da salvação providenciada pela fé e é um galardão somente no sentido de que é um fruto da fé em Cristo. Aceitar o princípio das obras para esse importante aspecto da salvação é enfraquecer todo o conceito da justificação pela fé por meio da graça, a presença do Espírito Santo como o selo de Deus “para o dia da redenção” (Efésios 4:30), e todo o tremendo compromisso de Deus representando aqueles que confiam nEle. A questão de galardão é propriamente resolvido no tribunal de Cristo, não antes em uma transladação parcial resultando na inflição da tribulação contra outros crentes.

 

Segundo, a posição do arrebatamento parcial divide o corpo de Cristo. Enquanto as Escrituras retratam diferença no trato de Deus com os santos do Velho Testamento quando comparado com os santos da era presente, e também a diferença entre a igreja e os santos da tribulação, não há justificação Bíblica para dividir a unidade divina do corpo de Cristo juntado em união orgânica com Cristo e todos os amados irmãos. Uma divisão, tal como os aderentes do arrebatamento parcial ensinam, é impensável diante da doutrina do único corpo.

 

A terceira objeção à posição do arrebatamento parcial é o fato de que eles ignoram o ensinamento claro concernente à transladação de todos os verdadeiros crentes quando o evento ocorrer. Atenção foi chamada, anteriormente, ao “todos nós” de 1 Coríntios 15:51 e a expressão “os mortos em Cristo” em 1 Tessalonicenses 4:16. A identidade daqueles transladados é descrito como aqueles que “acreditam que Jesus morreu e ressuscitou” (1 Ts 4:14). Versículos que confirmam isso também são encontrados em outros lugares (1 Ts 1:9-10; 2:19 ; 5:4-11 ; Ap 22:12). A posição do arrebatamento parcial tem sido aceita por somente um fragmento pequeno de cristãos evangélicos e não tem sido reconhecido por nenhum grupo Protestante. É uma interpretação limitada a alguns e não pode ser considerado como dentro dos limites do pré-milenialismo Bíblico normal.

 

Dallas, Texas

 

(A ser continuado em outubro-dezembro, 1955)

  Esse artigo foi adquirido do Theological Journal Library CD e postado com permissão do Galaxie Software

Traduzido por Nathan H. Cazé


 

 



[a] Este aviso, entre colchetes, pertence ao autor original;

[N.T.] Os versículos serão traduzidos dessa versão de língua inglesa, exceto quando for indicado.

[b] [N.T.] ‘Professora’ ou ‘professor’ no sentido de professar uma crença.



[1] Ira E. David, “Translation: When Does It Occur?” The Dawn, November 15,1935, p. 358.

[2] Ibid., pp. 358-59.

[3] Cf. Robert Govett, Entrance into the Kingdom.

[4] Cf. G. H. Lang, The Revelation of Jesus Christ; Firstborn Sons: Their Rights and Risks.

[5] Robert Govett, “One Taken and One Left,” The Dawn, 12:11, February 15, 1936, p. 516. O artigo lista o autor somente pelas iniciais “R. G.”.

[6] G. H. Lang, The Revelation of Jesus Christ, pp. 88-89.

[7] Loc. cit.

[8] L. S. Chafer, Systematic Theology, V, p. 131ff.

[9] H. A. Ironside, Matthew, p. 327.

[10] Loc. cit.

[11] R. Govett, Entrance into the Kingdom. I, p. 31.

[12] Ibid, I, p. 34.

[13] D. M. Panton, “An Open Door,” The Dawn, 26:11, November 1948, p. 327.

[14] Cf. F. W. Grant, Revelation of Jesus Christ, p. 206.

[15] James Moffatt, The Expositors Greek Testament, V, p. 367-68.

[16] G. H. Lang, op. cit., p. 219; cf. pp. 197-219 para a discussão inteira.

[17] H. A. Ironside. Lectures on the Revelation, p. 212.






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