Thomas Ice
Ao longo dos anos tem havido muitas argumentações contra o pré-tribulacionismo.
Algumas tentativas são exegéticas, outras são teológicas, e algumas são práticas.
Embora eu venha escutando este argumento prático específico (do preparo para a
Tribulação) desde o início dos anos 1970, eu o ouvi apresentado com uma
frequência muito maior no ano passado do que em todos os anos anteriores
juntos. A questão que levantam é a seguinte: “Se o Arrebatamento pré-Tribulação
não for verdadeiro, então a Igreja não estará preparada para passar pela
Tribulação e muitos se perderão no tempo da perseguição por causa desse falso
ensino”.
O trailer de um vídeo contra o pré-tribulacionismo pergunta:
E o que acontecerá se a Igreja não for arrebatada aos céus antes da Grande
Tribulação como muitos estão ensinando? E o que acontecerá se a Igreja for
deixada com preparo insuficiente para encarar o Anticristo e a marca da besta?
E o que acontecerá se as afirmativas de Tim LaHaye sobre o Arrebatamento
pré-Tribulação forem falsas? Então, a bendita esperança se tornará a infeliz
esperança para milhões de pré-tribulacionistas? E o que acontecerá se os milhões
que foram conduzidos ao erro pelo ensino pré-tribulacionista se tornarem parte
da grande apostasia que Jesus advertiu que iria acontecer naquela hora?[1]
O mesmo trailer apresenta o anti-pré-tribulacionista Joel Richardson,
declarando:
A questão do Arrebatamento pré-Tribulação versus o Arrebatamento pós-Tribulação
é uma das questões pastorais mais importantes dos nossos dias. Se você é um
pastor que neste momento não está preparando seu povo para enfrentar
potencialmente o Anticristo e a Grande Tribulação, simplesmente porque sua
denominação ensina isso, ou por outro motivo qualquer, acho pessoalmente que
você está fracassando em seu papel como pastor.
De acordo com essa maneira de pensar, aparentemente, há algum ensinamento
especial ou algum preparo especial em que os pastores devem estar engajados
para que possam preparar seu povo para os rigores de enfrentar a Tribulação.
Certamente, a Tribulação será como Jesus disse que seria:“Porque haverá
então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora,
nem tampouco há de haver.” (Mt 24.21). Mas, esta visão (da necessidade
de preparo para a Tribulação) pressupõe, incorretamente, que o Novo Testamento
não ensina o Arrebatamento da Igreja antes da Tribulação. Durante os últimos
vinte e cinco anos tenho apresentado o ensino do Novo Testamento apoiando o
pré-tribulacionismo. Contudo, mesmo que eu pressupusesse, para fins de
argumentação, que a Igreja iria enfrentar a Tribulação, seria verdade que os
pastores pré-tribulacionistas não teriam preparado seus rebanhos para
suportarem aquele momento? A resposta é “não”!
A chave para todo cristão sobre como tratar com a perseguição de qualquer tipo
não é algum conhecimento especial de que tal perseguição está chegando; em vez
disso, a chave depende do nível de maturidade do indivíduo que está passando
pelas dificuldades. Na noite antes de ser crucificado, Jesus disse aos Seus
discípulos no Cenáculo: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do
que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do
mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (Jo 15.18-19). Todas as
instruções do Discurso do Cenáculo (João 13-16) são instruções especiais finais
aos Seus discípulos que logo se tornariam os fundadores, juntamente com Cristo,
da nova era que chamamos de Igreja. A mensagem de Jesus foi que o mundo O
odiava e também odiaria e perseguiria Seus seguidores. O versículo final do
Discurso do Cenáculo foi projetado para encorajar aqueles que estavam
destinados a se tornarem parte da Igreja. Disse Jesus naquele momento: “Tenho-vos
dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).
O apóstolo Paulo ressoa a advertência de Jesus sobre a perseguição durante a
Era da Igreja quando declara: “E também todos os que piamente querem
viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” (2Tm 3.12). Os crentes
que realmente viverem a vida cristã são aqueles que sofrerão perseguição, seja
a perseguição mais branda da mera rejeição social, ou a perseguição severa que
leva à morte. O motivo para tal perseguição foi revelado por Cristo no Discurso
do Cenáculo, quando Ele observou que o mundo O odeia e também odiará aqueles
que viverem como Jesus. Esta verdade é ilustrada em todo o Livro de Atos à
medida que a igreja primitiva divulgava o Evangelho por todo o mundo antigo. A
perseguição é frequentemente a razão pela qual um escritor do Novo Testamento
foi inspirado pelo Espírito Santo a escrever uma epístola a muitas das
recém-formadas igrejas do primeiro século. O fato é que as dificuldades, as
tribulações e a perseguição são coisas que vêm acontecendo desde a fundação da
Igreja do Novo Testamento, quase dois mil anos atrás. Então, como os crentes da
era presente devem tratar com essa questão?
O que tem preparado os crentes de qualquer época para tratarem com as
dificuldades e a tribulação? Pode-se afirmar simplesmente que é a maturidade na
fé. Os crentes que são amadurecidos na fé conseguem lidar com qualquer tipo de
teste que Deus permita acontecer em suas vidas. Portanto, um pastor é
responsável por alimentar seu rebanho com a Palavra de Deus, a qual capacita os
crentes a suportarem as dificuldades que possam encontrar em seu caminho, seja
dentro ou fora da Tribulação. Não fui capaz de encontrar, tampouco alguém foi
capaz de me mostrar, passagens bíblicas especiais que tenham o objetivo de
capacitar uma pessoa a passar pela Tribulação. Como disse Paulo aos anciãos de
Éfeso em seu encontro de despedida: “Agora, pois,
irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é
poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os
santificados.” (At 20.32). É o ensinamento da Palavra de Deus, sob a
supervisão de Deus Pai, através do poder do Espírito Santo, que é capaz de
edificar os crentes individualmente, preparando-os para suportarem qualquer que
seja a circunstância.
Durante dois mil anos de história da Igreja, tem havido dezenas de milhões de
crentes que já suportaram tremenda perseguição imposta a eles por aqueles que
odeiam nosso Senhor e Salvador, sim, há dezenas de milhões que deram suas vidas
por amor a Cristo. Como eles foram capazes de perseverar? Eles perseveraram
porque eram sólidos na fé. Assim também será depois do Arrebatamento: aqueles
que vierem à fé em Cristo perseverarão ao passarem por semelhantes
perseguições, confiando no Senhor. Se a Igreja estiver “despreparada”, como os
críticos do pré-tribulacionismo afirmam que acontecerá por causa do
pré-tribulacionismo, será, na verdade, porque seus membros não cresceram
adequadamente na fé.
É verdade que há muitíssimos crentes professos hoje, tanto pré-tribulacionistas
quanto não pré-tribulacionistas, que não estão crescendo na fé como deveriam.
Mas isto não acontece porque tenham uma determinada visão do momento do
Arrebatamento. Em vez disso, é porque não amadureceram na fé como deveriam ter
amadurecido. Vemos isto refletido por Paulo em sua primeira carta aos
coríntios:“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a
carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque
ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais;
pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura
carnais, e não andais segundo os homens?” (1Co 3.1-3). Esses crentes
tinham tido tempo para superar a infância espiritual e se tornarem crentes
amadurecidos, mas escolheram não crescer. Existem muitos cristãos assim na
igreja de hoje. O objetivo de muitíssimas igrejas hoje é aumentar em número e
entreter o rebanho, não é ver os crentes amadurecerem e se tornarem adultos na
fé.
Lembro-me de assistir, no início dos anos 1970, a Pat Robertson em seu programa
de televisão chamado “O Clube 700”. Robertson sempre foi um pós-tribulacionista
fervoroso e, portanto, um anti-pré-tribulacionista militante. Assisti a um
programa no qual Corrie ten Boom era a convidada. Ela juntou-se a Robertson na
crítica ao pré-tribulacionismo e contou sua tão frequentemente repetida
história sobre como, na China, o Arrebatamento pré-Tribulação era ensinado aos
crentes e, portanto, estes não estavam adequadamente preparados quando os
comunistas tomaram o poder e impuseram uma severa perseguição aos cristãos.
Recentemente, um pós-tribulacionista enviou-me um e-mail com a seguinte
citação, supostamente de ten Boom a respeito desse assunto: “Fracassamos.
Deveríamos ter feito com que o povo ficasse mais forte para a perseguição, em vez
de dizer-lhe que Jesus voltaria primeiro. Digam ao povo como ser forte em
tempos de perseguição, como permanecer firme quando a tribulação vier, como
perseverar e não desanimar”. Ela disse em muitas ocasiões que os cristãos
chineses não estavam preparados para a perseguição que lhes sobreveio em 1949,
quando os comunistas tomaram o controle da China, porque eles estavam esperando
ser arrebatados. Este simplesmente não é o caso!
O trabalho missionário evangélico teve início na China no começo dos anos 1800,
e estima-se comumente que houvesse cerca de 750.000 crentes na China quando os
missionários foram expulsos de lá no começo dos anos 1950. Nos anos 1970,
quando foi restabelecido o contato da China com o mundo exterior, diz-se que
havia dezenas de milhões de chineses cristãos lá. Hoje, estima-se que haja
algumas centenas de milhões. Se a Igreja na China foi derrotada por causa do
pré-tribulacionismo, então como é possível que o Evangelho tenha se espalhado e
se multiplicado tão tremendamente quando lá não havia missionários de fora?
Seja o que for que tenha acontecido nesses vinte e cinco anos depois que os
missionários partiram de lá, o que vemos não é o resultado de uma igreja
derrotada, despreparada, como a Corrie ten Boom sempre afirmou.
Desta forma, é falsa a noção de que, se o pré-tribulacionismo estiver errado –
e tenho certeza de que não está errado – os crentes não estarão adequadamente
equipados para a perseguição que acontecerá na Tribulação. Tal visão não é
verdadeira, uma vez que a habilidade para lidar com provações e tribulações
está relacionada com a maturidade espiritual das pessoas, e não simplesmente
por serem avisadas que terão que passar pela tribulação. Isto é demonstrado na
história pelos muitos pré-tribulacionistas que têm sido capazes de permanecer
fortes em meio à perseguição durante nossa atual Era da Igreja. Maranata!
(Thomas Ice — Pre-Trib Perspectives — Chamada.com.br)
Nota:
1. Trailer do vídeo “Left Behind or Led Astray?” [Deixados
Para Trás ou Enganados?] que está por ser lançado. www.leftbehindorledastray.com –
acessado em 25 de fevereiro de 2015.
Citações bíblicas alteradas para ACF (2011).
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em http://BibliaLTT.org, com ou sem notas.
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