OS PRINCÍPIOS E AS DISPENSAÇÕES DE DEUS



 

Uma das primeiras lições que todo aquele que estuda a Bíblia deve aprender é a diferença entre os princípios e as dispensações de Deus.

Os oponentes ao dispensacionalismo têm-nos acusado muitas vezes, afirmando por exemplo, que nós ensinamos que sob o Velho Testamento os homens eram salvos pelas obras da lei, enquanto que hoje são salvos pela graça por meio da fé.

Esta acusação é, pelo menos, ilusória, pois nenhum dispensacionalista inteligente ensinaria que as obras da lei em si mesmas poderiam salvar, ou mesmo ajudar a salvar alguém.

Nós compreendemos com clareza que "nenhuma carne será justificada diante de Deus pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rom. 3:20). Nem sequer supomos que as obras da lei cerimonial tenham qualquer poder essencial para salvar. Não nos temos esquecido que as Escrituras também ensinam que "é impossível que o sangue dos toiros e dos bodes tire os pecados" (Heb. 10:4).

Não alimentamos quaisquer ilusões quanto à incapacidade total do homem em agradar a Deus pelas obras, como tal, em qualquer época. O homem tem sido sempre salvo, essencialmente, pela graça de Deus, por meio da fé. Não poderia haver outro modo de ser salvo. Este é um princípio fixo o qual Hebreus 11 testemunha repetidas vezes e que deveria ser clarividente para aqueles que aceitam como factos a depravação total do homem e a infinita santidade de Deus.

Porém isto não altera o facto de que o modo de Deus tratar com os homens e os termos de aceitação estabelecidos por Ele têm sido mudados repetidas vezes através dos séculos e que a fé n’Ele seria portanto expressa de modos diferentes. Hebreus 11 também testemunha consistentemente este facto.

É mais do que certo que a fé nos aproxima de Deus, segundo o Seu plano, em qualquer altura, e procurar ganhar a Sua aceitação doutro modo certamente que seria incredulidade e egoísmo. Assim, apesar das obras nunca terem salvo nem poderem salvar, como tal, puderam, uma vez, salvar como expressões de fé.

 


OS PRINCÍPIOS DE DEUS


Um princípio, como em cima usamos a palavra, é uma regra fixa de moralidade ou de conduta. Nós respeitamos os homens de princípios; homens que se levantam pela verdade custe o que custar. Certamente que Deus possui os mais elevados princípios e nunca se desvia deles. Ele sempre odiou e odiará o pecado. O pecado sempre foi e sempre será contrário à Sua natureza santa. Nunca em qualquer época este facto se verificou duma forma mais acentuada que noutra. Semelhantemente Deus sempre se deleitou e sempre se deleitará na justiça, na misericórdia e no amor. Deus nunca se desviou, nem se desviará no mais leve grau, destes princípios.

O princípio da lei, ou de justiça, por exemplo, tem continuado imutável ao longo dos séculos. Em qualquer dispensação, quando o erro é cometido, o sentido de justiça é ofendido. Isto pode ser demonstrado duma forma simples por três exemplos bíblicos:

Caim viveu antes da dispensação da lei dispensada por Moisés. Caim matou o seu irmão Abel. Estaria certo ou errado? Será que ele se meteu em dificuldades devido a isso? É claro que sim, embora a lei escrita não tivesse sido ainda dada.

David viveu sob a lei de Moisés. Ele também cometeu homicídio. Estaria certo ou errado? Errado, certamente, e ele também se meteu em dificuldades devido a isso.

 Tu e eu vivemos depois da lei, sob a dispensação da graça. Suponhamos que cometíamos o acto de homicídio. Estaria certo ou errado? Meter-nos-íamos em dificuldades - com Deus? O facto de Cristo ter levado sobre si os nossos pecados no Calvário tornará o homicídio menos errado? Contemplará Deus esse acto como menos pecaminoso porque ocorreu sob a dispensação da graça?

Talvez diga que actualmente, para o verdadeiro crente, a plena condenação legal do pecado foi suportada por Cristo, e, ainda que o não soubesse, David também foi perdoado na base desse fundamento. Mas o mesmo facto de que os pecados de David e os nossos foram pagos, em vez de passados por alto não prova que os princípios da lei e da justiça permanecem fixos?

O princípio da graça é igualmente imutável. Isso pode ser demonstrado duma forma igualmente simples por meio duma passagem bíblica: Romanos 4:1-6:

Abraão viveu antes da dispensação da lei. Como foi ele justificado? "Abraão creu a Deus e isso lhe foi imputado como justiça" (Rom. 4:3).

David viveu sob a lei. Como foi ele justificado? "Assim também David declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras" (Rom. 4:6).

Tu e eu vivemos depois da lei, sob a dispensação da graça. Como somos nós justificados? "Aquele que não pratica, mas crê n’Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rom. 4:5).

Ora nos casos de Abraão e de David, as obras eram requeridas para a salvação; enquanto que no nosso caso as obras para a salvação são claramente proibidas; ainda assim e apesar de tudo as passagens acima citadas evidenciam com clareza que Abraão, David e nós fomos todos salvos essencialmente pela graça por meio da fé e que as obras como tais nunca tiveram em si qualquer valor salvador.

 


AS DISPENSAÇÕES DE DEUS

O QUE É UMA DISPENSAÇÃO?

Enquanto os princípios de Deus têm a ver com o Seu carácter, com a Sua natureza, as dispensações de Deus dizem respeito às Suas formas de tratar com os que a Ele estão sujeitos, especialmente com a homem.

Muitas pessoas têm sido espantadas do dispensacionalismo devido ao comprimento da própria palavra, especialmente desde que alguns que procuram dividir bem a Palavra de Deus têm sido rotulados de Ultradispensacionalistas! Contudo a raiz desta palavra enorme possui um significado muito simples, pois a palavra dispensar apenas quer dizer distribuir. A palavra dispensação, portanto, significa o acto de dispensar ou de distribuir, ou aquilo que é dispensado ou distribuído. Existem por exemplo dispensários médicos onde os medicamentos são dispensados aos pobres. Por vezes essas dispensações são conduzidas num dia particular de cada semana. Ora tal dispensação de medicamentos pode durar umas doze horas completas cada semana, porém isso não quer dizer que uma dispensação seja um período de doze horas! Ainda assim e apesar disso há alguns que quando pensam em dispensações não conseguem pensar em nada mais senão em períodos de tempo! Na verdade, um dos maiores ensinadores bíblicos da passada geração definiu uma dispensação como se segue: "Uma dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado no que respeita à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus".

Isso está incorrecto, pois uma dispensação não é um período de tempo, mas o acto de distribuir ou aquilo que é distribuído. O ensinador bíblico acima referido sem dúvida que queria dizer uma dispensação cobre um período de tempo.

A palavra dispensação não é um mero termo teológico. É muitas vezes usada na Bíblia, ainda que nem sempre seja assim traduzida. Em Ef. 3:2, por exemplo, Paulo escreve acerca da "dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada". Precisamente como a dispensação da lei fora confiada a Moisés (João 1:17), a dispensação da graça de Deus foi confiada a Paulo.

O significado orgânico da palavra "oikonomia" - palavra original donde vem a palavra dispensação - é a administração ou governo da casa. Esta palavra é traduzida algumas vezes por mordomia na nossa versão. Isto é interessante porque a palavra mordomo (oikonomos), em vez de significar servo, como alguns supõem, significa antes administrador ou governador da casa. O mordomo era o dirigente, o cérebro, aquele em cujas mãos o governo da casa era depositado. Era ele que distribuía o dinheiro para as necessidades da casa, dispensava a comida e o vestuário para os servos e para as crianças, pagava os salários, etc. Tudo lhe estava entregue para que dispensasse sábia e fielmente. Ele era o dispenseiro designado dos bens do seu senhor e dos negócios da casa. 1

Deste modo lemos em Lucas 12:42:

"E disse o Senhor: Qual é pois o mordomo (oikonomos) fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?"

Em Lucas 16:1-2 onde as palavras oikonomos e oikonomia são novamente traduzidas por mordomo e por mordomia, temos a mesma ideia:

"E dizia também aos Seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens.

"E ele, chamando-o disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo".

Em I Cor. 9:16-17 esta mesma palavra é novamente traduzida por dispensação, e uma vez mais exprime o mesmo pensamento:

"Porque, se anuncio o evangelho não tenho de que me gloriar, pois ME É IMPOSTA ESSA OBRIGAÇÃO; e ai de mim se não anunciar o evangelho!

"Porque se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, (mesmo) se de má vontade (EU DEVO FAZÊ-LO, pois) APENAS UMA DISPENSAÇÃO ME É CONFIADA".

Notemos que em cada um desses casos a idéia de responsabilidade está envolvida. Foi um "mordomo fiel e prudente" que o Senhor procurou colocar sobre a Sua casa. O homem rico despediu o seu mordomo porque ele dissipou os seus bens. A responsabilidade pesava sobre Paulo porque "uma dispensação do evangelho" lhe tinha sido confiada.

Uma da passagens mais claras nesta relação é encontrada em I Cor. 4:1-2 onde o apóstolo Paulo diz:

"QUE OS HOMENS NOS CONSIDEREM COMO MINISTROS (SERVOS) DE CRISTO, E DISPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DE DEUS.

"ALÉM DISSO, REQUER.SE NOS DISPENSEIROS DE DEUS QUE CADA UM SE ACHE FIEL".

Mantenhamos claramente fixo nas nossas mentes este significado da palavra dispensação. Ao constatarmos que uma dispensação envolve e denota mais responsabilidade que um mero período de tempo, se sinceramente desejarmos estar na vontade de Deus, procuraremos compreender com clareza e levar a cabo fielmente, a dispensação da graça de Deus que nos foi confiada.



MUDANÇAS NAS DISPENSAÇÕES DE DEUS

Deve ser evidente para o leitor menos atento das Escrituras que na queda do homem ocorreu uma grande mudança nos tratos de Deus com ele. Antes disso Adão e Eva tinham gozado comunhão ininterrupta com Deus, habitando na inocência extática, no belo jardim do Éden.

Porém agora tudo mudou. O pecado separara-os de Deus. Adão e Eva foram expulsos do jardim. Um profundo sentimento de vergonha passou a dominá-los, o qual, desde então, governaria grande parte das suas acções. Agora, envergonhados de aparecerem diante de Deus, como se encontravam, tiveram de se vestir. Adão tinha de ganhar a vida para si e para a sua família trabalhando arduamente, e Eva teria filhos com dor. Pior de tudo, o pecado entrara no mundo, e a morte pelo pecado. Certamente que tudo isto envolveu uma mudança nas responsabilidades dos homens para com Deus e com os outros.

Daqui em diante os tratos de Deus com os homens mudaram repetidas vezes. O Governo Humano foi instituído após o dilúvio, com Noé (Gen. 9:6), a dispensação da promessa começou com Abrão (Gen. 12:1-3), "a lei foi dada por Moisés" (João 1:17), " a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (João 1;17) e foi dispensada por Paulo, o principal dos pecadores salvo pela graça (Ef. 3:1-3).

já mencionado representa algumas das proeminentes mudanças dispensacionais até à data, mas estas podem ser subdivididas e há ainda outras futuras.

Assim, enquanto os princípios de Deus nunca mudam, as Suas dispensações, os Seus tratos com os homens, mudam de tempos a tempos. Isto inclui mesmo os termos de aceitação para com Deus. No princípio eram requeridos sacrifícios cruentos (com sangue) (Gén. 17:14; Heb. 11:4): depois, mais tarde, foi acrescentada a circuncisão (Gên. 17:14); depois a obediência a toda a lei Mosaica foi exigida (Ex. 19:5-6; Rom. 10:5); depois "o baptismo do arrependimento para a remissão de pecados" (Mar. 1:4; Act. 2:38) e hoje é:

"ÀQUELE QUE NÃO PRATICA, MAS CRÊ NAQUELE QUE JUSTIFICA O ÍMPIO, A SUA PÉ LHE É IMPUTADA COMO JUSTIÇA" (Rom. 4:5)

Chart

Esta carta não pretende indicar o término de qualquer dispensação, mas antes as mudanças ou

avanços nos tratos de Deus para com os homens, pois algumas das dispensações ainda não

terminaram. Por exemplo: apesar da chamada de Abraão Ter introduzido a dispensação da

promessa, não trouxe a dispensação precedente a um fim, pois o governo humano ainda hoje se

encontra em vigor.

Notemos cuidadosamente que apesar de hoje Deus recusar obras para a salvação requereu-as contudo sob outras dispensações. Isto não aconteceu, como já explicamos, porque as obras em si mesmas pudessem salvar, mas porque elas eram a expressão de fé necessária quando assim requeridas.

A tradição diz que os homens foram sempre salvos por meio da fé no sangue derramado de Cristo; que mesmo aqueles que viveram antes da cruz tiveram de olhar pela fé, para diante, para a morte de um Cristo que havia de vir, para a salvação.

É tempo dessa falsa noção, tão profundamente enraizada nas mentes até de crentes sinceros, ser despedaçada, pois não tem a mínima base bíblica.

Não descompreendamos. É verdade que todos os santos dos séculos passados foram salvos por meio dos méritos do sangue derramado de Cristo, mas não por meio da sua nesse sangue derramado. Aos santos dos séculos passados só lhes era requerido crerem no que Deus tinha revelado até eles, ou no que Ele lhes tinha revelado a eles. Por outras palavras, eles eram salvos simplesmente porque confiavam em Deus e criam no que Ele dizia. O plano pleno da salvação foi revelado desde então, mas as Escrituras tornam claro como a água cristalina que esses crentes foram salvos sem mesmo terem compreendido que Cristo morreria por eles.

I Pedro 1: 10-11, apenas torna isto claro:

"DA QUAL SALVAÇÃO INQUIRIRAM E TRATARAM DILIGENTEMENTE OS PROFESTAS que profetizaram da graça que vos foi dada, INDAGANDA QUE ou que ocasião de tempo O ESPÍRITO DE CRISTO, QUE ESTAVA NELES, INDICAVA, ANTERIORMENTE TESTIFICANDO OS SOFRIMENTOS QUE A CRISTO HAVIAM DE VIR, E A GLÓRIA QUE SE LHES HAVIA DE SEGUIR".

Notemos bem que eles não indagaram meramente a respeito da "ocasião de tempo", isto é, do carácter dos tempos, durante os quais essas coisas transpirariam. Eles indagaram e inquiriram diligentemente a fim de descobrirem "O QUE ... o Espírito ... indicava", isto é, o que Ele queria dizer, quando de antemão testificou "os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir". E o versículo a seguir continua a explicar que Deus revelou-lhes que eles estavam a ministrar, não a si mesmos mas aos dum tempo futuro.

Poderia alguma coisa clarificar mais isto, que o facto de que nem eles mesmo compreendiam o que o Espírito queria dizer quando Ele predisse os sofrimentos de Cristo? Como é que então eles poderiam ter sido salvos por meio da fé no Seu sangue derramado?

Um indignado oponente do dispensacionalismo perguntou-nos uma vez: "Quereis dizer-nos que Moisés mandou edificar o tabernáculo com a sua porta, as suas cortinas, o seu altar e pia de cobre, a sua mesa dos pães da proposição, o seu castiçal e altar de incenso, a sua arca do concerto e propiciatório, e não lhes disse que todas estas coisas eram típicas de Cristo e da Sua obra consumada?

A nossa réplica foi simplesmente, "O que dizem as Escrituras?" Há alguma indício, qualquer que seja, de que Moisés lhes disse que aquelas coisas apontavam para Cristo ou que ele próprio tinha alguma idéia acerca do seu significado? Nós agora sabemos que aquelas coisas eram típicas de Cristo e da Sua obra redentora, e regozijamo-nos ao vermos que Deus teve sempre isso em mente; que a cruz não constituiu nem um acidente nem um remédio, porém essa revelação encontra-se visivelmente ausente do registro do Velho Testamento. Não há qualquer indício de que mesmo Moisés soubesse, muito menos ensinasse, que aquelas coisas eram típicas de Cristo. 2

Se é verdade que Moisés e os profetas conheciam e compreendiam algo acerca da morte futura de Cristo e tinham de confiar no Seu sangue derramado para a sua salvação, isso não deveria ser verdade também em relação aos doze apóstolos? Ainda assim e apesar de tudo, eles labutaram com Cristo durante um tempo considerável, pregando o evangelho do reino, antes mesmo que Ele principiasse a dizer-lhes que Ele deveria sofrer e morrer, e quando Ele lhes disse, Pedro repreendeu-O pela Sua atitude "derrotista"!

Mateus 16:21-21: "Desde então começou Jesus a mostrar aos Seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.

"E Pedro, tomando-O de parte, começou a repreendê-lO, dizendo: Senhor, tem compaixão de Ti; de modo nenhum Te acontecerá isso".

Mais tarde, quando Ele lhes disse de novo que essas coisas deveriam acontecer, como preditas pelos profetas, eles não tinham a mais leve idéia do que Ele lhes dizia. Este facto é imprimido em nós por meio de uma ênfase tripla em Lucas 18:34:

1. "E ELES NADA DISTO ENTENDIAM:

2. "E ESTA PALAVRA LHES ERA ENCOBERTA,

3. "NÃO PERCEBIAM O QUE SE LHES DIZIA."

Nesta altura eles estavam associados a Cristo, pregando o evangelho do reino e operando milagres, há pelo menos dois anos, ainda assim e apesar disso, não sabiam sequer que Ele havia de sofrer e morrer. Significará isto que nenhum deles estava salvo? Certamente que não Simplesmente confirma o que Pedro diz acerca dos profetas inquirirem e tratarem diligentemente o que o Espírito, que falava por meio deles, queria dizer quando testificava de antemão os sofrimentos de Cristo e a glória que se lhes deveria seguir.

Pode surpreender alguns dos nossos leitores a descoberta de que mesmo após a ressurreição em Pentecostes, o próprio Pedro não viu na morte de Cristo o que nós hoje vemos nela. É certo que ele a gora conhecia a crucificação como um facto histórico, mas ele não baseou qualquer oferta de salvação nesse facto. Na verdade, ele culpou Israel por isso e quando os seus ouvintes foram convencidos dos seu pecados e perguntaram o que deviam fazer, ele replicou:

"ARREPENDEI-VOS, E CADA UM DE VÓS SEJA BAPTIZADO EM NOME DE JESUS CRISTO, PARA PERDÃO DE PECADOS ..." (Actos 2:38).

Isto aconteceu porque ele se encontrava fora da vontade de Deus ou cego pela incredulidade? Não, ele estava "cheio do Espírito Santo" (Actos 2:4). Aconteceu simplesmente que "o tempo devido" ainda não tinha chegando para que essas coisas se tornassem conhecidas.

Isto leva-nos de novo à importância do reconhecimento do ministério distinto de Paulo. Não é antes de Paulo que temos aquilo que é propriamente chamado "a pregação da cruz". É ele que diz primeiro:

"MAS AGORA SE MANIFESTOU SEM A LEI A JUSTIÇA DE DEUS ...

"Isto é a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem ...

"SENDO JUSTIFICADOS GRATUITAMENTE PELA SUA GRAÇA, PELA REDENÇÃO QUE HÁ EM CRISTO JESUS,

"Ao qual Deus propôs para propiciação PELA RÉ NO SEU SANGUE, para demonstrar A SUA JUSTIÇA PELA REMISSÃO DOS PECADOS DANTES COMETIDOS, 3 sob a paciência de Deus;

"Para demonstração da Sua justiça NESTA TEMPO PRESENTE, para que Ele seja JUSTO E JUSTIFICADOR DAQUELES QUE TÊM FÉ EM JESUS" (Rom. 3:21-26.

Era a isto que Paulo se referia pela

"FÉ QUE SE HAVIA DE MANIFESTAR" (Gál. 3:23).

Era a isto que ele se referia quando escreveu de Cristo:

"O Qual se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos, PARA SERVIR DE TESTEMUNHO A SEU TEMPO.

"PARA O QUE (DIGO A VERDADE EM CRISTO, NÃO MINTO) FUI CONSTITUÍDO PREGADOR, E APÓSTOLO, E DOUTOR DOS GENTIOS NA FÉ E NA VERDADE (I Tim. 2:6-7).

Contudo isto será discutido numa lição adiante. Tudo o que estamos a procurar estabelecer aqui é o facto da revelação progressiva e o completo anti-biblicismo da tradição que diz que os que viveram antes de Cristo foram salvos por terem olhado para diante, em fé, para a Sua obra consumada.

Isto não é estabelecido nas Escrituras somente negativamente; também o é positivamente. Não é meramente tornado claro que os santos dos séculos passados não compreendiam nada acerca da morte de Cristo, mas em muitos casos é-nos dito exactamente o que eles sabiam e criam para encontrarem a aceitação de Deus.

Nós já declaramos que Hebreus 11 torna claro que a salvação tem sido sempre a recompensa da fé. Há uma constante que corre ao longo do capítulo: "Pela fé ... Pela fé ... Pela fé." Na introdução à longa lista de actos de fé operados por indivíduos, lemos que "Por ela (fé) os antigos alcançaram testemunho" e que "sem fé é impossível agradar-Lhe (a Deus)" e a longa lista termina com a declaração: "Todos estes, tendo tido testemunho pela fé" (vers. 2, 6, 39).

Mas em Hebreus 11 também há inconstantes ou variáveis, pois em quase todos os casos estes heróis da fé creram numa revelação de Deus diferente e expressaram a sua fé diferentemente. Porém em parte alguma desta lista de santos lemos de alguém que fosse salvo pela fé na morte de um Cristo que havia de vir. Somos nós que agora sabemos que eles foram salvos por meio da morte de Cristo. E quando Cristo nos é pregado, nós revelamos a nossa fé cessando as nossas obras e aceitando com humilde gratidão o que Ele fez por nós.

Em Heb. 11:4 é-nos dito com precisão como Abel obteve testemunho divino de que era justo:

"PELA FÉ ABEL OFERECEU A DEUS MAIOR SACRIFÍCIO DO QUE A CAIM, PELO QUAL ALCANÇOU TESTEMUNHO DE QUE ERA JUSTO; DANDO DEUS TESTEMUNHO DOS SEUS DONS, e por ele depois de morto ainda fala".

Isto concorda com o registro de Gên. 4:4-5:

"E atentou o Senhor para ABEL E PARA A SUA OFERTA, mas para CAÍM E para A SUA OFERTA não atentou".

Não há aqui uma única palavra acerca da fé na morte de Cristo. Abel teve testemunho de que era justo porque trouxe o sacrifício requerido e Deus testificou, não da sua fé em Cristo, mas das suas ofertas.

Em Heb. 11:7 é-nos dito também com exactidão como Noé se tornou herdeiro da "justiça que é pela fé".

"PELA FÉ NOÉ, divinamente avisado das coisas que ainda se não viam, temeu, e, para a salvação da sua família, PREPAROU A ARCA, PELA QUAL CONDENOU O MUNDO, E FOI FEITO HERDEIRO DA JUSTIÇA QUE É SEGUNDO A FÉ".

Poderia alguma coisa ser mais clara que isto? Como é que Noé se tornou herdeiro da justiça que é pela fé? Ao confiar na morte de Cristo que havia de vir? Não, mas ao crer no que Deus dissera acerca do dilúvio, e da edificação da arca.

E assim até ao fim do capítulo. Cada um dos antigos obteve um bom testemunho porque creu na Palavra de Deus dirigida a si.

Que dizer acerca de Abraão, o grande exemplo de fé da parte de Deus? Como foi ele justificado?

"Pois que diz a Escritura? CREU ABRAÃO A DEUS, E ISSO LHE FOI IMPUTADO COMO JUSTIÇA" (Rom. 4:3).

Mas o que tinha Deus dito que Abraão creu? Tinha-lhe Deus falado acerca dum Cristo que havia de vir e que morreria numa cruz por ele? Será bom lermos o registro e vermos, pois esta passagem de Romanos é uma citação de Gén. 15:5-6:

"Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua semente.

"E CREU ELE NO SENHOR, E FOI-LHE IMPUTADO ISTO POR JUSTIÇA"

Perguntemos de novo: poderia alguma coisa ser mais clara que isto? Existe aqui alguma palavra a respeito da morte de Cristo? Certamente que não. Deus aqui simplesmente prometeu multiplicar a semente de Abraão e Abraão creu em Deus e confiou n’Ele guardando a Sua Palavra. Foi esta simples fé em Deus que Deus lhe contou por justiça. Nós agora sabemos que foi na base da futura morte de Cristo que Deus podia fazer isto justamente, mas isso ainda não tinha sido revelado a Abraão.

Mais tarde Deus deu a lei e exigiu obediência perfeita à mesma a fim de se poder ser aceite n’Ele (Êx. 19:5-6; Rom. 10:5). Certamente que Ele sabia que ninguém a poderia guardar perfeitamente, mas Ele também sabia que os verdadeiros crentes procurariam guardá-la fervorosamente e Ele honraria a fé deles n’Ele. Ele também tinha Cristo em mente para pagar a punição duma lei quebrada de modo a que a Sua justiça pudesse ser imputada àqueles que tinham tomado a sério a Sua Palavra.

Que Ele teve sempre o plano da redenção em mente é indicado pelo facto de Ele ter de lhes pôr o concerto da lei num caixão 4 e de se encontrar com eles, por meio do seu sumo sacerdote, no propiciatório espargido com sangue; contudo Ele não lhes explicou o significado de tudo isto. Ele teve de demonstrar primeiramente a completa incapacidade da parte do homem em guardar a santa lei de Deus.

Nós sabemos, por exemplo, que David foi realmente salvo pela graça de Deus, e não pelas suas próprias obras frágeis, mas suponhamos que ele tivesse proclamado a salvação "sem a lei" ou, como Paulo, tivesse dito: "Ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Col. 2:16)! Ele depressa teria sido forçado a abdicar do trono e teria sido morto por desprezar a lei de Deus escrita.

É-nos também dito com exactidão como os ouvintes de João Baptista receberam a remissão de pecados. Teria sido pela fé na morte de Cristo, que entretanto já tinha aparecido em cena? Analisemos as Escrituras e vejamos:

"Apareceu João Baptista no deserto, e pregando O BAPTISMO DE ARREPENDIMENTO, PARA A REMISSÃO DE PECADOS" (Mar. 1:4.

Se estas palavras não querem dizer o que dizem, então as Escrituras não servem para nada como revelação de Deus ao homem. 5

Suponhamos que enquanto João pregava o baptismo de arrependimento para remissão de pecados, se erguia um Israelita para dizer: "Àquele que não pratica, mas crê n’Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rom. 4:5)! Ele seria logo tomado e apedrejado de acordo com a lei.

Sim, e positivamente é-nos igualmente dito como os cerca de 3000 em Pentecostes encontraram a remissão de pecados:

"E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?

"E disse-lhes Pedro ..."

O que é que ele lhes disse? Notemo-lo cuidadosamente. Será que disse: "Cristo morreu pelos vossos pecados. Confiai simplesmente n’Ele e a vida eterna será vossa"? Ele não disse isso. Procuraremos em vão em toda a sua mensagem Pentecostal uma tal declaração. Na verdade, os ouvintes de Pedro tinham-se tornado convictos porque ele os tinha acusado de culpa pela morte de Cristo. E quando eles perguntaram o que deveriam fazer, Pedro replicou:

"ARREPENDEI-VOS, E CADA UM DE VÓS SEJA BAPTIZADO EM NOME DE JESUS CRISTO, PARA PERDÃO DOS PECADOS; E RECEBEREIS O DOM DO ESPÍRITO SANTO" (Actos 2:37-38).

Isto encontrava-se em perfeita conformidade com os requisitos da chamada "grande comissão" que a Igreja de hoje procura levar a cabo a meio fôlego:

"E disse-lhes: ide por todo o mundo e pregai o evangelho 6 a toda a criatura.

"QUEM CRER E FOR BAPTIZADO SERÁ SALVO; MAS QUEM NÃO 7 CRER SERÁ CONDENADO" (Marcos 16:15-16).

Sabemos que alguns, para defenderem as suas próprias teorias sobre o baptismo, têm interpretado isto como significando "Quem crer e for salvo, deve ser baptizado", mas num tal torcer das palavras claras das Escrituras não se pode senão desagradar a Deus e perverter a nossa compreensão do Seu programa.

Tanto positiva como negativamente esperamos novamente pelo levantamento de Paulo para apreendermos "o evangelho da graça de Deus" (Actos 20:24), "a dispensação da graça de Deus" (Ef. 3;1-2) e "a pregação da cruz", como boas novas a serem aceites pela fé para a salvação (I Cor. 1:18, 23; Gál. 6:14; Rom. 3:25-26).

É então evidente que os santos dos séculos passados não eram todos salvos ao crerem nas mesmas coisas, pois Deus não lhes revelou a todos as mesmas coisas. Na realidade, até mesmo os termos declarados de salvação eram mudados de tempos a tempos.

 


ANTECIPAR REVELAÇÃO


Um dos primeiros princípios da sã interpretação da Bíblia é o não antecipar revelação; ainda assim e apesar disso quantos inconscientemente o fazem! Lêem os registros do Velho Testamento e dos evangelhos como se os santos desses tempos compreendessem tudo acerca da morte de Cristo como nos apresenta Romanos, Gálatas e Efésios!

Pensemos um momento: Se Abel tivesse compreendido a morte de Cristo pelo pecado, ter-lhe-ia sido requerido um sacrifício cruento (com sangue)? Em tal caso ele não deveria ter descansado na redenção consumada que seria operada por Cristo? Em tal caso a negligência em não trazer um sacrifício cruento não seria indicação de incredulidade em vez de fé?

Agora que a morte de Cristo tem sido proclamada para a salvação, será que Deus nos manda oferecermos animais em sacrifício? Suponhamos que oferecíamos tais sacrifícios apenas como símbolos da Sua morte a fim de nos ajudar a adorá-lO melhor: será que isso seria meramente desnecessário ou será que seria errado? À luz das epístolas de Paulo certamente que seria errado. 8 Ainda assim muitos têm uma ideia vaga de que os que viveram antes de Cristo ofereceram os seus sacrifícios com a compreensão plena de que eles tipificavam a morte de Cristo no Calvário. O facto, contudo, é que esses tipos nunca foram compreendidos antes do Antítipo ter aparecido. Nós agora regozijam-nos quando os consideramos, como prova de que Deus teve sempre o Calvário em mente; que a morte de Cristo não foi um acidente, nem uma solução de momento, mas Deus estava a ensinar uma lição de cada vez: primeiro as sombras, depois a substância; primeiro os sacrifícios, depois mais tarde Cristo o Sacrifício grande, todo-suficiente.

 


A HARMONIA ENTRE OS PRINCÍPIOS E AS DISPENSAÇÕES DE DEUS


Mas os princípios e as dispensações de Deus não se chocam? De modo algum. Em todas as dispensações os homens sempre se salvaram simplesmente por crerem em Deus e se aproximarem d’Ele da maneira por Ele requerida. Quando as obras eram requeridas para a salvação, elas não salvavam como tais, mas apenas como expressão de fé requerida. Com os santos do Velho Testamento a oferta dos sacrifícios requeridos, etc., constituía "a obediência da fé". Conosco, o descansar na obra consumada de Cristo para a salvação é "a obediência da fé". Ver Romanos 1:5; 6:17; 15:18; 16:26; Hebreus 5:9; 11:8.

Quando Deus diz: "Oferece um animal em sacrifício e Eu aceitar-te-ei", o que faz a fé? Certamente que a fé oferece um animal em sacrifício. Abel fez isso e foi aceite, não porque o sangue dos animais pudesse tirar os pecados, mas porque se aproximou de Deus da forma por Ele requerida. "A obediência da fé" é isto.

No caso de Caím temos uma indicação clara de que Deus não fica satisfeito com meras obras, como tais, pois Caim ofereceu um sacrifício muito mais atraente à vista que Abel, e foi rejeitado, porque não trouxe o sacrifício que Deus requerera (Gên. 4:5).

Quando Deus diz. "Constrói uma arca e salvar-te-ei a ti e aos teus dos dilúvio", o que faz a fé? Certamente que a fé constrói uma arca. E quando Noé a construiu revelou a sua fé em Deus e "tornou-se herdeiro da justiça que é pela fé".

Quando Deus diz: "Obedece à minha voz e serás Meu", o que faz a fé? A fé tenta obedecer fervorosamente. Dizes tu: Mas eles não podiam obedecer perfeitamente, por isso seriam rejeitados por Deus. Nós replicamos que já provamos que, em si mesmas, as obras não podem salvar. Era somente quando os Israelitas reconheciam a lei como a Palavra de Deus para eles e por essa razão procuravam obedecer-lhe que eram salvos. Um tal esforço em guardar a lei representava "a obediência da fé".

Quando Deus diz. "Arrependei-vos e sede baptizados para a remissão de pecados", o que faz a fé? Somente uma única coisa: arrepender-se e ser baptizada. Nós sabemos que oceanos de água não podem lavar um único pecado, no entanto quando João Baptista e Pedro pregaram o arrependimento e o baptismo para a remissão de pecados nenhum dos seus ouvintes interpretou as palavras deles como significando: "Confiai na morte de Cristo para a vossa salvação". Na verdade, quando Deus requeria o baptismo na água para a salvação a única maneira de se revelar fé era ser-se baptizado, e os que se recusassem a fazê-lo seriam condenados pela sua incredulidade:

"Mas os Fariseus e os doutores da lei REJEITARAM O CONSELHO DE DEUS CONTRA SI MESMOS, NÃO TENDO SIDO BAPTIZADOS POR ELE" (Lucas 7:30).

E quando Deus diz, "MAS AGORA se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus" (Rom. 3:21); "Aquele que não pratica, mas crê n’Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rom 4:5); "Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus" (Rom. 3:24); "Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça" (Ef. 1:7); "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou" (Tito 3:5); "Não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie" (Ef. 2:8-9) - quando Deus agora diz isto, o que fará a fé? A fé diz: "Esta é a oferta mais maravilhosa jamais feita por Deus ao homem. Não posso recusá-la. Confio em Cristo como meu Salvador e aceito a salvação como Dom gratuito da graça de Deus".

Assim as dispensações de Deus de forma alguma se chocam com os Seus princípios, pois os santos do Velho Testamento, apesar de salvos instrumentalmente 9 pelas obras, foram salvos essencialmente pela graça por meio da fé. Mas agora a justiça de Deus se há manifestado sem a lei (Rom. 3:21). Foi "testificada a seu tempo" por intermédio do Apóstolo Paulo (I Tim. 2:6-7)). Ele diz que lhe foi dado a demonstrar "a Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja Justo e Justificador d’Aquele que tem fé em Jesus" (Rom. 3:26). Assim, o trazer hoje obras a Deus para a salvação seria incredulidade.

Um proeminente adversário destas verdades tem argumentado que a verdade é horizontal, e não vertical, isto é, que ela atravessa os séculos inalterável e imutável. Isso é verdade. A verdade é horizontal, mas a revelação da verdade é vertical, isto é, Deus tem revelado a verdade ao homem, não duma só vez, mas pouco a pouco, progressivamente, historicamente. Noé conhecia mais da revelação de Deus que Adão, Abraão que Noé, Moisés que Abraão, os doze que Moisés, Paulo que os doze.

Assim, também os princípios de Deus são horizontais; continuam imutáveis e inalteráveis ao longo dos séculos. Mas as dispensações são verticais e seguem-se umas após outras à medida que Deus comunica novas revelações ao homem. 10

 

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1 Eliezer e José eram mordomos deste tipo (Gên. 15:2; 24:2; 39:4).

2 É algumas vezes presumido de Deut. 18:15-19 que Moisés deve ter tido um bom grau de conhecimento acerca do redentor que havia de vir, mas isto é acrescentar às Escrituras. Aqui não há nada acerca dum Redentor. Esta passagem declara meramente que Deus deu a Israel um Profeta a quem eles deveriam dar ouvidos ou sofreriam as conseqüências. Deve ser disto assumido que Moisés ensinou o seu povo a confiar na futura morte de Cristo para a sua salvação? E se aos próprios profetas que mais tarde predisseram a morte de Cristo não lhes foi compreendido compreenderem as suas próprias predições e as dos outros, havemos nós de supor que Moisés compreendeu mais do que aquilo que lhes foi revelado a eles? Tenhamos cuidado em assumirmos que os santos do Velho Testamento "devem ter compreendido" aquelas coisas, e perguntemos sempre, "O que dizem as Escrituras?".

3 Isto é, "As transgressões que havia debaixo do primeiro testamento" (Heb. 9:15).

4 A arca do concerto foi realmente o caixão do concerto. A mesma palavra original é traduzida por caixão em Gên. 50:26.

5 Tivesse João compreendido tudo aquilo que agora nós vemos na sua declaração inspirada em João 1:29, e toda a sua mensagem seria diferente, contudo o tempo para tal ainda não tinha chegado.

6 Aqui muitos, antecipando revelação, supõem que os onze foram enviados a pregar "o evangelho da graça de Deus", o qual não é mencionado sequer antes de chegarmos a Paulo.

7 Quer seja baptizado ou não.

8 E à luz das epístolas de Paulo é igualmente errado observar qualquer cerimônia que foi uma vez requerida para a salvação. Ver Col. 2:14, 20.

9 Se eu utilizar uma chave e fendas para apertar um parafuso num pedaço de madeira, quem é que efectua a obra, a chave de fendas ou eu? Deveremos dizer que cada um de nós fez parte da obra? De modo algum. Num certo sentindo a chave de fendas fez tudo, pois eu nem sequer toquei no parafuso para efectuar a operação. Mas na realidade, a chave de fendas foi meramente o instrumento que eu utilizei, e essencialmente fui eu que fiz tudo.

Foi também assim com a salvação antes da dispensação da graça ter sido introduzida. Quando, por exemplo, Deus requeria o baptismo na água para a remissão de pecados, os homens só podiam conseguir o perdão dos seus pecados submetendo-se ao baptismo. Assim, instrumentalmente, foi o baptismo que lhes trouxe o perdão de pecados, no entanto, essencialmente, foi Deus que os salvou pela graça quando viu a fé deles.

Pode ser argumentado que num tal caso o crente exercitou fé no seu coração antes de ser baptizado, de tal forma que o baptismo não teve nada a ver com a sua salvação. A resposta é que ele creu que sendo baptizado seria aceite, e assim, no seu coração, foi já baptizado.

Esta é a resposta para os problemas onde as impossibilidades de se cumprirem os requisitos estabelecidos se encontram envolvidos. Suponhamos, por exemplo, que um homem, que exercia fé genuína, se dispunha a oferecer um sacrifício ou a ser baptizado, quando, de repente, cai morto. Ele não seria aceite? Certamente que sim; simplesmente porque ele viera em fé cumprir o requisito. Assim o ladrão na cruz foi salvo sem o baptismo na água numa época em que o baptismo na água ser requerido para a remissão de pecados, mas quem duvidará que ele se regozijaria se tivesse a oportunidade de ser baptizado, não tivesse sido crucificado a uma cruz?

10 Ver a carta numa página anterior. Este assunto também é discutido no opúsculo do autor, O Plano de Salvação de Deus Clarificado.

 

 


 CRS

 






A Igreja em Quinta do Conde, http://www.iqc.pt.vu/



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