"A incapacidade de discernir o ensinamento das Escrituras não anula o
ensinamento."
Fonte: Dr.
J. Dwight Pentecost – Manual de Escatologia, Ed. Vida, pg. 212 a 229.
Uma teoria
que tem ganhado espaço no presente como explicação do momento de translação da
igreja no período tribulacional é a teoria do arrebatamento
pós-tribulacionista. Ela diz que a igreja continuará na terra até a segunda
vinda, no final desta presente era, e será levada às nuvens para encontrar o
Senhor que veio pelos ares, vindo do céu no segundo advento, para retornar
imediatamente com Ele.
Reese, um
dos principais expoentes dessa teoria, declara assim sua proposição:
A igreja
de Cristo não será retirada da terra até o segundo advento de Cristo, bem no
final desta presente era: o arrebatamento e o aparecimento ocorrem no mesmo
momento de transição; consequentemente, os cristãos desta geração serão
expostos às aflições finais sob o anticristo. (Alexander REESE, The approaching
advent of Christ, p. 18)
I. A base Essencial do Arrebatamento Pós-Tribulacionista
Antes de
examinar os argumentos usados pelos defensores dessa posição, devemos observar
as bases essenciais sobre as quais repousa o pós-tribulacionismo.
1) O
pós-tribulacionismo precisa basear-se numa negação do dispensacionalismo e de
todas as distinções dispensacionalistas. Só assim pode colocar a igreja naquele
período que é particularmente chamado "tempo de angústia para Jacó"
(Jr 30.7).
2) Consequentemente,
a posição pós-tribulacionista repousa na negação das distinções entre Israel e
a igreja.
3)
Aposição precisa repousar na negação do ensinamento bíblico concernente à
natureza e ao propósito do período tribulacional. Embora as Escrituras usem
termos como ira, julgamento, indignação, provações, problemas e destruição para
descrevê-lo, e declarem que o propósito divino nesse período é derramar o
julgamento sobre o pecado, os defensores dessa posição têm de negar esse
ensinamento essencial da Palavra.
4) O
pós-tribulacionista precisa negar todas as distinções observadas nas Escrituras
entre o arrebatamento e o segundo advento, fazendo dos dois um e o mesmo
acontecimento.
5) O
pós-tribulacionista precisa negar a doutrina da iminência, que diz que o Senhor
pode voltar a qualquer momento, substituindo-a pelo ensinamento de que vários
sinais devem ser cumpridos antes que o Senhor possa vir.
6) O
pós-tribulacionista nega qualquer cumprimento futuro da profecia em Daniel
9.24-27, alegando para ela um cumprimento histórico.
7) O
pós-tribulacionista precisa aplicar à igreja grandes passagens das Escrituras
que esboçam o plano de Deus para Israel (Mt 13; Mt 24 e 25; Ap 4-19), a fim de
manter suas concepções. Observamos, assim, que a posição apoia-se essencialmente
num sistema de negação das interpretações sustentadas pelos
pré-tribulacionistas, e não numa exposição verificável das Escrituras.
II. Os Argumentos Essenciais do Pós-Tribulacionista
A. O
argumento histórico. Existem vários grandes argumentos nos quais se apóia o
pós-tribulacionista. O primeiro é um argumento histórico. Sua posição é que o
pré-tribulacionismo é uma doutrina nova, surgida nos últimos cem anos, e, consequentemente,
deve ser rejeitada pois não é apostólica. Reese declara:
Em torno
de 1830 [...] nova escola surgiu dentre o prémilenarismo buscando derrubar o
que, desde a era apostólica, tinha sido considerado por todos os
pré-milenaristas resultados estabelecidos e instituir em seu lugar uma série de
doutrinas que nunca tinham sido ouvidas antes. A escola a que me refiro é a dos
"irmãos" ou "irmãos de Plymouth", fundada por J. N. Darby.
(Ibid., p. 19)
Cameron
fala na mesma linha:
Agora,
devemos lembrar que, antes desta data, nenhuma pista de qualquer tratamento
dessa crença pode ser encontrada na literatura cristã de Policarpo em diante
[...] Certamente, uma doutrina que não encontra expoente ou defesa em toda a
história e literatura do cristianismo, por mil e oitocentos anos depois da
fundação da igreja — doutrina que nunca foi ensinada por um pai ou mestre no
passado da igreja — que não tem a apoiá-la um comentador ou professor da língua
grega em nenhuma escola teológica até a metade do século XIX, e que não tem um
amigo, mesmo que se mencione o seu nome entre os mestres ortodoxos ou entre as
seções heréticas do cristianismo — tal doutrina sem pai nem mãe, quando se
ergue exigindo aceitação universal, deve ser submetida a minucioso exame antes
de admitida e tabulada como parte "da fé entregue de uma vez por todas aos
santos". (Robert CAMERON, Scriptural truth about the Lord's return, p.
72-3)
Em
resposta a esse argumento, muitas coisas devem ser ressaltadas.
1) Tal
argumento é um argumento de silêncio. Se a mesma linha de raciocínio fosse
seguida, não se aceitaria sequer a doutrina de justificação pela fé, pois ela
não foi claramente ensinada até a Reforma. A incapacidade de discernir
o ensinamento das Escrituras não anula o ensinamento. [N.T. Destaque acrescido]
2) A
igreja primitiva vivia à luz da crença do iminente retorno de Cristo. (Cf. G.
H. N. PETERS, Theocratic kingdom, I, 494-6) Sua expectativa era de que Cristo
poderia retornar a qualquer momento. O prétribulacionismo é a única posição
coerente com a doutrina da iminência. Se um argumento de silêncio for seguido,
o peso da evidência favorece a visão pré-tribulacionista.
3) Devemos
observar que cada era da história da igreja foi permeada por certa controvérsia
doutrinária que se tornou objeto de discussão, revisão e formulação, até que
ocorresse aceitação geral do que as Escrituras ensinavam. Todo o campo
teológico foi, então, formulado através dos séculos. Não foi senão no último
século que a escatologia se tornou questão para a qual a igreja voltou a
atenção. Isso foi bem desenvolvido por Orr, que escreve:
Já lhe
ocorreu [...] que existe um paralelo singular entre o curso histórico do dogma,
por um lado, e a ordem científica dos livros de teologia sistemática do outro?
A história
do dogma, como você rapidamente descobre, é simplesmente o sistema de teologia
espalhado através dos séculos [...] e isso não apenas no que diz respeito ao
assunto geral, mas até mesmo com respeito à sucessão definitiva de suas partes
[...] Uma coisa, penso, isso mostra inconfundivelmente, ou seja, que nenhum dos
dois arranjos é arbitrário — existe uma lei e um raciocínio que o apóia; e
outra coisa que se nos impõe é que a lei desses dois desenvolvimentos — o
lógico e o histórico — é a mesma.
[...] o
segundo século na história da igreja —o que foi ele?
A era dos apologistas
e da vindicação das idéias fundamentais de todas as religiões —da cristã
especialmente — em conflito com o paganismo e gnosticismo.
Passamos
ao próximo estágio no desenvolvimento, e o que encontramos lá? O que vem em
seguida no sistema teológico —teologia propriamente dita —a doutrina cristã de
Deus e especialmente a doutrina da Trindade. Esse período é abrangido pelas
controvérsias monarquiana, ariana e macedônica do terceiro e do quarto século.
[...] O
que vem em seguida? Como no sistema lógico a teologia é sucedida pela
antropologia, também na história do dogma as controvérsias que citei são
seguidas no começo do quinto século pelas controvérsias agostiniana e
pelagiana, nas quais [...] o centro de interesse passa de Deus para o homem.
[...]
Desde a morte de Agostinho vemos a igreja entrando numa longa e perturbadora
série de controvérsias conhecidas como cristológicas — nestoriana, eutiquiana,
monofisista, monotelita— que a manteve numa agitação contínua e a dividiu,
promovendo as paixões mais anticristãs durante o quinto e sexto e até mesmo o
final do sétimo século.
[...]
Teologia, antropologia, cristologia; cada um teve seu dia — na ordem do sistema
teológico, que a história ainda segue cuidadosamente, [mas] a vez da
soteriologia não chegou [...] [até] o próximo passo, que foi tomado pelos
reformadores no desenvolvimento da doutrina da aplicação da redenção. Essa […]
é a grande divisão seguinte no sistema teológico.
O que devo
falar agora do ramo restante do sistema teológico, o escatológico? Uma
escatologia, certamente, existia na igreja primitiva, mas ela não era concebida
teologicamente; e existia uma escatologia mística na igreja medieval —
escatologia do céu, do inferno e do purgatório [...] mas a Reforma varreu isso
e, nos seus contrastes agudos de alegria e de aflição, não se pode dizer que
tenha colocado alguma coisa no lugar, ou mesmo que tenha encarado distintamente
as dificuldades do problema […]
Talvez eu
não erre ao pensar que, além da revisão necessária do sistema teológico como um
todo, que não poderia propriamente ser empreendida até que o desenvolvimento
histórico citado tivesse seguido seu percurso, a mente moderna tem debatido com
seriedade especial questões teológicas, movida, talvez, pela solene impressão
de que nela os fins do mundo vieram, e que alguma grande transição nas questões
da história humana se aproxima. (James ORR, The progress of dogma, p. 21-31)
Todo esse
conceito de dogma seria nosso argumento contra o pós-tribulacionista que
defende que a doutrina deve ser rejeitada por não ser claramente ensinada na
igreja primitiva.
B. O
argumento contra a iminência. Um segundo grande argumento dos
pós-tribulacionistas é contra a iminência. (Cf. REESE, op. cit., p. 108-19) É
evidente que, se a crença no iminente retorno de Cristo for doutrina bíblica,
então a igreja deve ser arrebatada antes do desdobramento dos sinais do período
tribulacional. O partidário dessa posição desconsidera todas as exortações
bíblicas à igreja para aguardar o aparecimento de Cristo e insiste em que
devemos buscar sinais. Sua posição repousa no argumento de que os anúncios de
acontecimentos como a destruição de Jerusalém, a morte de Pedro, o
aprisionamento de Paulo e o plano anunciado para os séculos vindouros, como
encontrado em Mateus 28.19,20, junto com o curso esboçado desta era e o
desenvolvimento da apostasia, tornam impossível um retorno iminente; por
conseguinte o Senhor não poderia vir até que se dessem esses acontecimentos.
Tais argumentos não levam em conta que os mesmos homens que receberam tais
anúncios acreditavam que o curso natural da história poderia ser interrompido
pela translação dos crentes para fora da esfera e sustentavam o conceito do
retorno iminente de Cristo.
A doutrina
da iminência é ensinada nas Escrituras em trechos como João 14.2,3; 1 Coríntios
1.7; Filipenses 3.20,21; 1 Tessalonicenses 1.9,10; 4.16,17; 5.5-9; Tito 2.13;
Tiago 5.8,9; Apocalipse 3.10; 22.17-22.
Embora as
concepções sobre a igreja primitiva venham a ser estudadas adiante, podemos
fazer muitas citações a esta altura para mostrar que a igreja primitiva se
apegava à doutrina da iminência. Clemente de Roma escreveu na Primeira epístola
aos Coríntios:
Vocês vêem
como em pouco tempo o fruto das árvores chega à maturidade. Verdadeiramente,
logo e de repente Sua vontade será cumprida, assim como o testemunham as
Escrituras, dizendo "Certamente venho sem demora e não tardarei"; e
"... de repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais". (Alexander
ROBERTS & James DONALDSON, The ante-Nicene fathers,I, p. 11)
Ainda
Clemente escreve:
Se
fizermos o que é justo perante os olhos de Deus, entraremos no Seu reino e
receberemos as promessas que olho algum jamais viu, ou ouvido ouviu, ou jamais
entrou no coração do homem. Logo, esperemos a cada hora o reino de Deus em amor
e em justiça, porque não sabemos o dia em que o Senhor aparecerá. (Ap. J. F.
SILVER, The Lord's return, p. 59.).
No
Didaquê lemos:
Vigiai por
amor às vossas vidas. Não se apaguem as vossas lâmpadas, nem estejam
descingidos os vossos lombos; mas estejais prontos, pois não sabeis a hora em
que o Senhor virá. (ROBERTS & DONALDSON, Op. cit, VII, p. 382)
Cipriano
diz:
"Seria
contraditório e incompatível para nós, que oramos para que o reino de Deus
venha rapidamente, estarmos procurando uma longa vida aqui... ". (Ap.
SILVER, op. cit., p. 67)
Essas
citações evidenciam que a exortação à vigilância dirigida à igreja tornou-se a
esperança da igreja primitiva, e que eles viviam à luz do retorno iminente de
Cristo. O testemunho das Escrituras e a evidência da igreja primitiva não podem
ser negados.
C. A
promessa da tribulação. O terceiro grande argumento dos pós-tribulacionistas
baseia-se na promessa de tribulação dada à igreja. (Cf. George ROSE,
Tribulation till translation, p. 67-77) Passagens como Lucas 23.27-31, Mateus
24.9-11 e Marcos 13.9-13, que são dirigidas a Israel e lhe prometem tribulação,
são usadas para provar que a igreja passará pelo período de tribulação. Além
disso, trechos como João 15.18,19 e João 16.1,2,33, que são dirigidos à igreja,
também são usados. Seu argumento é que, à luz de tais promessas específicas, é
impossível dizer que a igreja será arrebatada antes do período tribulacional.
Seu argumento é fundamentado pela citação de perseguições presentes em Atos,
das quais a igreja foi vítima (At 8.1-3; 11.19; 14.22; Rm 12.12) como
cumprimento parcial daqueles alertas.
1. Em
resposta a esse argumento, é necessário notar, primeiramente, que as Escrituras
estão repletas de promessas de que Israel passará por um tempo de purificação
que o preparará como nação para o milênio seguinte ao advento do Messias.
Contudo, como Israel deve ser distinguido da igreja na economia de Deus, as
passagens que prometem tribulação para Israel não podem ser usadas para ensinar
que a igreja passará pelo período tribulacional. Israel e a igreja são duas
entidades distintas no plano de Deus e assim devem ser consideradas.
2. Além
disso, devemos notar que o termo tribulação é usado de maneiras diferentes nas
Escrituras. E usado em sentido não-técnico e não-escatológico referindo-se a
qualquer período de sofrimento ou provação pelo qual alguém passa. Assim
aparece em Mateus 13.21; Marcos 4.17; João 16.33; Romanos 5.3; 12.12;
2Coríntios 1.4; 2Tessalonicenses 1.4; Apocalipse 1.9. É usado no seu sentido
técnico ou escatológico em referência a todo o período de sete anos da
tribulação, como em Apocalipse 2.22 ou Mateus 24.29. É assim usado em
referência à última metade desse período de sete anos, como em Mateus 24.21.
Quando a
palavra tribulação é usada em referência à igreja, como em João 16.33, aparece
em sentido não-técnico, na qual a igreja é vista como uma oposição duradoura ao
deus deste século, mas não ensina que a igreja passará rigorosamente pelo
período conhecido como tribulação. De outra maneira, alguém teria de ensinar
que a tribulação já existe há mil e novecentos anos. Visto que os
pós-tribulacionistas insistem em que a igreja, além de ter promessas de
tribulação, está experimentando essa tribulação, assim como a igreja através
dos tempos, eles devem dar àquele período caráter diferente do encontrado nas
Escrituras. Será mostrado em detalhes mais adiante que a caracterização daquele
período, de acordo com as Escrituras, é descrito por palavras como ira,
julgamento, indignação, provação, problema e destruição. Essa caracterização
essencial precisa ser negada pelo seguidor dessa posição.
D. O
cumprimento histórico de Daniel 9.24-27. Um quarto grande argumento do
pós-tribulacionista é o cumprimento histórico da profecia de Daniel. (Cf.
Ibid., p. 24-66) Sustentam os pós-tribulacionistas que a profecia,
particularmente a de Daniel 9.24-27, foi já cumprida na sua totalidade.
Rose
escreve:
Toda a
evidência do Novo Testamento e da experiência cristã concorda com os maiores
mestres da igreja de que a septuagésima semana da profecia de Daniel foi
totalmente cumprida há mais de mil e novecentos anos. Isso não deixa nenhuma
septuagésima semana futura a ser cumprida na "grande tribulação depois do
arrebatamento". (Ibid., p. 62) Ele defende a idéia de que não há intervalo
entre a sexagésima nona e a septuagésima semana da profecia, dizendo:
Se
existissem "espaços" e "intermissões", a profecia seria
vaga, ilusória e enganosa [...] As "sessenta e duas semanas"
imediatamente ligadas às "sete semanas", combinando-se para formar
"sessenta e nove semanas", chegaram "ATÉ O MESSIAS". Além
de Seu nascimento, mas não até sua "entrada triunfal"; apenas
"ATÉ" sua consagração pública. Não existia "espaço" entre a
"sexagésima nona e a septuagésima semana" [...] A "uma
semana" das "setenta semanas" proféticas começou com João
Batista; na sua primeira pregação pública sobre o reino de Deus, começou a
dispensação do evangelho. Esses sete anos, adicionados aos quatrocentos e
oitenta e três anos, somam quatrocentos e noventa anos [...] de modo que o todo
da profecia, desde os tempos e acontecimentos correspondentes, foi cumprido ao
pé da letra. (Ibid., p. 46-7)
Ele
sustenta ainda que João começou o seu ministério com a chegada da
"septuagésima semana", e Cristo foi batizado, tentado e começou a
pregar meses depois. A primeira metade da semana foi usada para pregar o
evangelho do reino [...] O meio da semana foi alcançado na Páscoa […]
A Páscoa
[...] ocorreu exatamente no "meio da septuagésima semana", ou
quatrocentos e oitenta e seis anos e meio depois "do mandamento para
RESTAURAR e construir Jerusalém". (Ibid., p. 64-6)
Cristo, de
acordo com essa teoria, é Aquele que confirma a aliança, e no período de Seu
ministério as seis grandes promessas de Daniel 9.24 já foram cumpridas.
1. Em
resposta a essa interpretação podemos notar que as seis grandes áreas da
promessa em Daniel 9.24 estão relacionadas ao povo e à cidade santa de Daniel,
ou seja, à nação de Israel. As promessas são a conseqüência lógica das alianças
de Deus com essa nação. Israel, como nação, não pode estar cumprindo agora
essas promessas. Desse modo, devemos concluir que essas seis áreas aguardam
cumprimento futuro.
2. Ainda
mais, o "ele" de Daniel 9.27 deve ter como antecedente "o
príncipe que há de vir" do versículo anterior. Pelo fato de estar
relacionado ao povo que destruiu a cidade e o santuário, isto é, os romanos,
isso confirma que a aliança não pode ser Cristo, mas deve ser o homem da
iniqüidade, mencionado por Cristo (Mt 24.15), por Paulo (2 Ts 2) e por João (Ap
13), que fará aliança falsa com Israel. O fato de continuarem a existir
sacrifícios depois da morte de Cristo até o ano 70 d.C. apontaria para o fato
de que não foi Cristo que causou o término desses sacrifícios. É interessante
notar que o Senhor, no grande trecho escatológico que lida com o futuro de
Israel (Mt 24 e 25), fala de um futuro cumprimento da profecia de Daniel (Mt
24.15) depois de Sua morte.
3. É
importante notar que as profecias das primeiras sessenta e nove semanas foram
cumpridas literalmente. Desse modo, é necessário um cumprimento literal da
septuagésima semana, quanto ao tempo e quanto aos acontecimentos. Walvoord
escreve:
O ponto
importante [...] é que as primeiras sessenta e nove semanas tiveram cumprimento
literal, no que diz respeito aos detalhes e à cronologia. Ao abordar a tarefa
de interpretar a profecia sobre a septuagésima semana, para fazer justiça aos
princípios aprovados pelo cumprimento das sessenta e nove semanas, precisamos
aguardar cumprimento literal da septuagésima semana, tanto em detalhe quanto em
cronologia. (JOHN F. WALVOORD, IS the seventieth week of Daniel future?,
Bibliotheca Sacra, 101:35, Jan. 1944)
Visto que
o arrebatamento pós-tribulacionalista está em desarmonia com o princípio da
interpretação literal, pois as profecias precisam ser espiritualmente
interpretadas para que possam cumprir-se pela história, tem de ser rejeitado.
E. O
argumento baseado na ressurreição. O quinto argumento, do qual o pós-tribulacionista
depende muito, provém da ressurreição. (Cf. REESE, op.cit, p. 34-94.) O
argumento, baseado em Reese, é resumido por McPherson, que diz:
Evidentemente
a ressurreição dos santos mortos ocorre no arrebatamento da igreja (l Ts 4.16).
Conseqüentemente, "onde quer que houver ressurreição, lá também estará o
arrebatamento". Examinando passagens que falam sobre a ressurreição dos
santos mortos, que é a primeira ressurreição (Ap 20.5,6), encontramos que a
primeira ressurreição está associada à vinda do Senhor (Is 26.19), à conversão
de Israel (Rm 11.15), à inauguração do reino (Lc 14.14,15; Ap 20.4-6), à
entrega dos galardões (Ap 11.15-18), vindo antes disso a grande tribulação (Dn
12.1-3). (S. MCPHERSON, Triumph through tribulation, p. 41) Stanton resume
claramente o pensamento de Reese quando escreve:
O
argumento de Reese toma a forma de silogismo, sendo as premissas principais:
1) as
passagens do Antigo Testamento provam que a ressurreição de seus santos
ocorrerá na revelação de Cristo, logo antes do reino milenar; sendo a premissa
menos importante que
2) todos
os darbyistas concordam em que a ressurreição da igreja é sincrônica à
ressurreição de Israel; conseqüentemente, chega-se à conclusão
3) de que
a ressurreição da igreja marca a hora do arrebatamento como
pós-tribulacionalista. (Gerald STANTON, Kept from the hour, p. 320.)
1. Em
resposta à conclusão de Reese, devemos apenas apontar que muitos
pré-tribulacionistas atuais não concordam com a posição de Darby de que a
ressurreição do arrebatamento inclui os santos do Antigo Testamento. Parece
melhor colocar a ressurreição desses santos do Antigo Testamento no momento do
segundo advento. Essa posição será examinada em detalhes mais tarde. Mas, se
alguém separar a ressurreição da igreja da ressurreição de Israel, não existe
força no argumento de Reese. O silogismo correto de Stanton esclarece isso:
1) Os
santos do Antigo Testamento são ressuscitados depois da tribulação;
2) Darby
diz que a ressurreição de Israel e da igreja ocorre antes da tribulação;
3) logo,
Darby estava errado com respeito ao momento da ressurreição de Israel. (Ibid.,
p. 321)
Parece
estranho que Reese, que tão freqüentemente sustenta que Darby está errado,
insista em que ele é infalível nesse aspecto sobre a relação entre a
ressurreição de Israel e a da igreja.
2. Outra
linha de argumento seguida por Reese é insistir em que todo o plano de
ressurreição ocorre em um dia. Isso é feito com base em João 5.28,29; 11.24.
Ele argumenta:
...
conseguimos localizar, com relativa exatidão, a hora dessa ressurreição. Ela
deve ocorrer no dia do Senhor, quando o anticristo for destruído, Israel for
convertido e a era messiânica for introduzida pela vinda do Senhor [...] A
"ressurreição dos justos" [...] em todos os casos [...] ocorre
"no último dia". Aqui está um momento muito definido [...] não deve
haver dúvida de que "o último dia" é o dia final da era que precede o
reino messiânico de glória. (REESE, op. cit., p. 52-4)
3. Em
resposta a essa alegação, é suficiente destacar que o termo dia do Senhor, ou
aquele dia, não se aplica a um período de 24 horas, mas a todo o plano de
acontecimentos, incluindo o período de tribulação, o segundo advento e toda a
era milenar. Pode-se dizer que assim será todo o período começando com os julgamentos
da septuagésima semana até a era milenar.
Chafer
diz:
Esse
período estende-se desde a vinda de Cristo "como um ladrão na noite"
(Mt 24.43; Lc 12.39,40; l Ts 5.2; 2Pe 3.10; Ap 16.15) até a passagem dos céus e
da terra que agora existem e a fusão dos elementos com calor fervente [...]
Poderá ser visto que esse dia inclui os julgamentos de Deus sobre as nações e
sobre Israel, e que esses julgamentos ocorrerão no retorno de Cristo. Isso
inclui o retorno de Cristo e o reino de mil anos que segue. Ele se estende
certamente até a dissolução final com que o reino termina... (Lewis Sperry
CHAFER, Systematic theology, VII, p. 110)
O próprio
Reese é forçado a concordar, pois diz:
Algo pode
ser dito a favor disso, pois Pedro diz que um dia com o Senhor é como mil anos;
e o dia do Senhor no Antigo e no Novo Testamento às vezes se refere não apenas
ao dia em que o Messias virá em glória, mas também ao período de seu Reinado.
(REESE, op. cit., p. 55)
Assim, é
errado concluir que "aquele dia" ou "o último dia" precisa
ensinar que todos os santos ressuscitarão no mesmo momento. Devemos observar
também que todos os trechos dos evangelhos usados por Reese (Jo 6.39-54; Lc
20.34-36; Mt 13.43; Lc 14.14,15) são aplicados ao plano de Deus para Israel. Se
for demonstrado que a ressurreição ocorre no segundo advento, ela não prova o
arrebatamento pós-tribulacionalista, a não ser que a igreja seja ressuscitada
na mesma hora. Essa premissa é infundada.
4. Ao
lidar com a ressurreição nas epístolas (Rm 11.15; 1 Co 15.50-54; l Ts 4.13-18;
1 Co 15.21-26), Reese trata do momento da ressurreição de 1 Coríntios 15.54:
"E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o
que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está
escrita: Tragada foi a morte pela vitória". Seu argumento é:
A
ressurreição e transfiguração dos mortos na fé será em cumprimento a uma
profecia do Antigo Testamento. Isso ocorre em Isaías 25.8 [...] A ressurreição
dos santos e a vitória sobre a morte sincronizam-se com a inauguração do reino
teocrático, a vinda de Jeová e a conversão dos israelitas que estiverem vivos.
(Ibid., p. 63.)
5. Em
resposta a essa alegação, frisaríamos que Paulo não está citando a passagem de
Isaías para estabelecer o momento da ressurreição. A instituição da era milenar
necessita da abolição da morte para aqueles que nela entrarão. Israel
experimentará a ressurreição quando instaurado o milênio, mas a igreja já terá
sido ressuscitada antes. O erro de Reese é supor que todos os mortos justos serão
ressuscitados ao mesmo tempo.
6. A
respeito da ressurreição mencionada em Apocalipse 20.4-6, Reese sustenta que,
como ela é chamada primeira ressurreição, tem de necessariamente ser a primeira
em número. Ele escreve:
Nenhuma
palavra é dita por João sobre tal ressurreição em todo o Apocalipse. Nada pode
ser encontrado a respeito de uma ressurreição anterior, seja aqui seja em
qualquer outra parte da Palavra de Deus. Se tal ressurreição anterior fosse
conhecida por João — como a teoria [pré-tribulacionista] pressupõe — então como
é concebível que ele chamasse a essa ressurreição primeira? [...] Mas o fato de
ele ter escrito primeira ressurreição será a prova para todos os leitores
imparciais de que ele não conhecia nenhuma anterior. (Ibid., p. 81.)
Observamos
aqui que Reese emprega um argumento de silêncio. Mal se poderia esperar que
João mencionasse a ressurreição dos mortos em Cristo, que tinha acontecido
anteriormente, em relação aos acontecimentos no final do período tribulacional,
relacionados apenas aos santos da tribulação.
Um fato
essencial que Reese parece ter negligenciado em toda a discussão sobre a
ressurreição é o ensinamento de 1 Coríntios 15.23, "cada um por sua
própria ordem". A primeira ressurreição é composta de grupos diferentes:
os santos da igreja, do Antigo Testamento e da tribulação. Apesar de esses
grupos serem ressuscitados em momentos diferentes, são parte do plano da
primeira ressurreição e são "ordens" nesse plano. Conseqüentemente, a
ressurreição dos santos da tribulação no momento do segundo advento (Ap 20.4-6)
não prova que todos os que ressuscitam para a vida são levantados nesse
momento. Toda essa doutrina de ressurreição será examinada mais tarde, mas foi
dado o suficiente para mostrar que a doutrina da ressurreição não apóia o
póstribulacionismo.
F. O
argumento baseado ao trigo e no joio. Um sexto argumento usado pelos
pós-tribulacionistas baseia-se na parábola do trigo e do joio de Mateus 13.
Reese expõe o que ele acredita ser a interpretação pré-tribulacionista desta
parábola. Citando Kelly, ele esboça a posição:
... a
expressão "'hora da colheita' implica certo período, ocupado com vários
processos de agrupamentos". No começo desse período os anjos são mandados
de maneira puramente providencial, imediatamente antes da vinda do Senhor 'para
a igreja'. De alguma maneira misteriosa, secreta e providencial, os anjos
agrupam os meramente professos em montes preparados para o julgamento. Mas
nenhum julgamento é realmente feito. O Senhor então vem para a verdadeira
igreja, simbolizada pelo trigo, e a agrupa para si. Os meros professos,
contudo, que tinham sido agrupados pelos anjos, permanecem no mundo por vários
anos, até que o Senhor venha para julgar. (Ibid., p. 96-7)
Assim,
Reese faz com que a interpretação pré-tribulacionista diga que os anjos agrupam
o joio no final dos tempos, antes do arrebatamento, mas só transladarão a
igreja, representada pelo trigo do campo, deixando o joio confinado para
julgamento no seu lugar no segundo advento. Reese observa que essa explicação parece
violar as palavras do Senhor: "Deixai-os crescer juntos até à colheita, e,
no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em
feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro" (Mt
13.30). Parece que Reese tem uma reclamação justificável contra essa
interpretação.
Devemos
ter em mente que o propósito de Mateus 13 não é divulgar a história da igreja,
mas a história do reino na sua forma misteriosa. O período não é o da igreja —
de Pentecostes ao arrebatamento — mas toda a era desde a rejeição de Cristo até
a Sua futura aceitação. Logo, parece ter havido um erro, no qual muitos
escritores caíram, ao dizer que o trigo da parábola representa a igreja, que
será arrebatada. Se tal for o caso, a posição do arrebatamento
póstribulacionista parece encaixar-se mais coerentemente com a interpretação
normal e literal da parábola. Contudo, o Senhor está mostrando que nessa era
haverá a semeadura da boa semente (parábola do semeador) e também uma semeadura
da má semente (parábola do joio), e essa condição continuará através dos
séculos. No final dos tempos haverá a separação dos que foram filhos do reino
em relação aos que foram filhos do maligno. Visto que o arrebatamento não está
sendo tratado na parábola, não pode ser usado para apoiar o arrebatamento
pós-tribulacionalista. O período tribulacional termina com o julgamento de
todos os inimigos do Rei. Assim, todos os descrentes são retirados. Após esses
julgamentos, é instituído o reino, ao qual todos os justos são levados. Isso é
perfeitamente coerente com o ensinamento da parábola.
Das
considerações apresentadas anteriormente a respeito dos argumentos
pós-tribulacionistas, podemos observar que estão longe de ser "quase
irrefutáveis". (Cf. MCPHERSON, loc. cit) Apesar de muitos argumentos
parecerem sérios, podem ser refutados mediante interpretação coerente do
texto.”
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
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