Por Solano Portela
“Olhai, pois, por vós, e
por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (At 20.28)ACF
Há alguns anos, recebi uma
carta de um pastor recém ordenado solicitando conselhos. Respondi, compilando
exortações que tenho passado a alguns pastores que me têm abordado sobre essas
questões relacionadas com os seus ministérios. Acreditando que há a necessidade
de reforço dessas áreas, em muitos pastorados, transcrevo abaixo essas duas
cartas, omitindo e acrescentando alguns detalhes e, obviamente, colocando um
nome fictício...
O conselho que me pede é
difícil, pois nunca estive nessa situação, mas como já tenho alguns quilômetros
rodados e muita observação na igreja de Cristo, aventuro-me a dar-lhe algumas
orientações, certo de que esse passo que o irmão está dando - de pedir
conselhos, já mostra a mão de Deus sobre a sua vida.
Gostaria de animar o querido
irmão a perseverar firme na Palavra de Deus e a caminhar em santificação,
seguindo sempre as palavras de Paulo a Timóteo quando orientou aquele jovem
ministro a tomar cuidado dele próprio (em
todos os sentidos na vida física e espiritual, bem como ser firme nos caminhos
de Deus para com a família) e, subsequentemente,
da doutrina do ensino, do ministério na Casa do Senhor. Nunca descuide a vida
devocional e o estudo sério da Palavra, utilizando todas as ferramentas que
puder ter em mãos (livros, livros,
livros!). Estou presumindo
que tem o treinamento pastoral completado, mas esse nunca acaba - é preciso
SEMPRE estar estudando.
Espere algumas dificuldades
no ministério. Deus assim indica que isso ocorrerá. No entanto, além dele dar o
poder para suportá-las, as eventuais dificuldades, surgidas com alguns, não
devem desviar os seus olhos do objetivo de que a igreja caminhe em paz,
direcionada na trilha da sã doutrina. Procure preparar os novos convertidos e
adolescentes para declararem a sua fé e não descuide das frentes de
evangelização. Tente fundar um ponto de pregação, na casa de alguém que mora
mais distante, que poderá se tornar mais tarde em uma congregação e assim a
igreja irá crescendo. O seu ministério na igreja será formado pela pregação da
Palavra mas também
por vidas que deve aconselhar e visitar, bem como pela intercessão pelos
membros que Deus lhe confiar.
Agora vão alguns conselhos
práticos deste presbítero, que já sentou sob diversos ministérios e que
acumulou um pouco de experiência, não pela perspicácia, mas pela própria idade,
vivência e por intermédio de muitos erros dos quais Deus permitiu que lições fossem
extraídas:
1. A saúde: Minha esposa certamente diria que eu não
sou pessoa adequada para aconselhar nessa área,
mas isso não significa que
eu não sei o que deva ser feito. Assim, apoiando-me no conselho Paulino, já
aludido acima (1 Tm 4.16), cuide-se, porque cuidando de si mesmo
estará cuidando de sua família e também da sua igreja. É impossível funcionarmos
adequadamente quando nos sentimos mal fisicamente. Não use a prática nociva da automedicação,
pois isso só pode piorar as situações de desconforto, a médio prazo, e,
possivelmente, agravará os problemas. Muitas vezes estará lidando apenas com os
sintomas, em vez de com as causas. A automedicação não
significa cuidado adequado com a saúde. Portanto, pelo bem da sua família e da
igreja cuide-se, nessa área.
2. A memória: Devemos confiar menos nela. Eu tenho
anotado cada vez mais as coisas, pois vejo que já não me lembro dos detalhes
com a mesma facilidade de antigamente. Na sua condição de pastor a lembrança de
datas, nomes, fatos é solicitada com muita frequência e algo inevitavelmente
ficará para trás. Portanto, meu conselho é para que ande com um caderninho [hoje em dia, um iPad,
serve] e anote tudo o que for
pertinente. Sobretudo, nunca suba no púlpito sem anotações dos avisos que
pretende dar à congregação, com todos os seus detalhes importantes. A falta
disso resultará em momentos constrangedores nos quais procurará lembrar e,
muitas vezes não conseguirá. Alguém da congregação virá em auxilio, mas isso
não pega bem especialmente quando esse auxílio é solicitado do púlpito. Meu
conselho é que, anote, anote, anote...
3. As batalhas: Escolha
as batalhas que vai travar. Nem todas valem à pena. Obviamente que as que não
valem à pena não terão caráter doutrinário, mas meramente administrativos ou
podem ser questões socioculturais - que devem ser resolvidas, mas sem a avidez
e intensidade das questões explicitamente apontadas nas Escrituras. As questões
doutrinárias merecem, também, classificação de importância, para discernir o
tempo e época correta de tratá-las. Alguns territórios de somenos importância
podem ser concedidos para que outros maiores e mais importantes sejam ganhos.
Antes de avançar o exército, avalie bem o terreno pisado, conheça os detalhes e
as personalidades daqueles que estão nas redondezas. Acima de tudo, peça
constantemente a Deus sabedoria sobre como tratar questões administrativas [vale a pena, mesmo,
"expulsar" os diáconos da sala que ocupam há mais de uma década?]. Quando delegar delegue, mesmo,
estabelecendo os limites da delegação, mas disposto a aceitar as ações e
decisões dos que receberam a responsabilidade de decidir. Não se envolva em
todos os detalhes administrativos da Igreja. Ache quem tem talento para isso e
descanse, concentrando-se nos aspectos maiores do seu ministério, ainda que
você ache que, se fosse você, faria algo de maneira diferente [o mundo não vai acabar, porque o
portão instalado é deslizante e não de bandeira, como você acharia melhor].
4. Os Cânticos: Via de regra, a
congregação precisa de uma voz forte que lidere a igreja na melodia. Na
realidade, ela espera isso de quem está cantando lá na frente. Quando isso não
ocorre é possível que ela fique perdida. Se
o irmão não tem esse dom, ache quem tem, mas não deixe que lhe usurpem o
púlpito e passem a fazer sermões e "passar pitos" na
igreja - isso é função do pastor. Tenha cuidado com as letras, pois muita
doutrina errada entra pelos cânticos. Não se entusiasme com algo só porque tem
o nome "Jesus" no meio. Lembre-se das palavras de Cristo
que muitos dirão "Senhor! Senhor!" Não escolha melodias muito
complicadas. Simplifique. O cântico congregacional é
algo bonito e que envolve a todos - creio que Deus se agrada muito nele. Muito
mais do que quando alguém faz um solo, ou exagera no tocar de algum
instrumento, quase como um espetáculo, às vezes, chamando atenção para a
própria pessoa que canta ou toca, em vez de para a música e mensagem cantada.
Contudo, creio que alguns solos, duetos ou conjuntos - bem cantados e
ensaiados - "com arte e júbilo" podem fazer parte da
liturgia.
5. Pregação: Essa é
a grande área do ministério. Pela pregação os pecadores serão alcançados e os
propósitos de Deus realizados. Procure sempre falar um bom português,
comunicar-se bem, exercite o seu vocabulário e a fluência verbal. Pregue com
autoridade e procure alicerçar as mensagens em sã doutrina e na palavra. Essas
são qualidades raras nos dias de hoje e muitos pregadores gostariam de tê-las -
e nunca é tarde para obtê-las. Ainda,
dentro desse tema da pregação, aconselho:
a. Objetivo: Deixe claro, no início, o que quer ou o que
pretende ensinar. A igreja seguirá melhor se souber onde o
irmão quer chegar.
b. Lições/Aplicação: É melhor transmitir poucos pontos (um ou dois; no máximo três), mas que sejam bem substanciados pelo
texto exposto (ou pela Palavra
de Deus, em geral). Quando se
procura transmitir mais do que isso, corre-se demais e o ensino fica
superficial.
c. Duração: Procure desenvolver o sermão em 30-40
minutos. Essa é a minha luta, também, mas a atenção da congregação será melhor aproveitada quando há essa
perspectiva. Quando a expectativa dela é de uma hora ou mais de sermão, já se
cansa, ou se desliga de véspera. Muitos pregadores expressam com orgulho mal
disfarçado: "nunca prego
menos de uma hora"! Isso
alimenta o ego e podemos até argumentar que deveria existir maior interesse na
exposição da Palavra de Deus, mas podemos também receber essa limitação como
sendo o tempo que Deus nos deu para trabalharmos com máxima eficiência e
eficácia. Ou seja, concentrarmo-nos no que deveríamos fazer, em vez de
ficar lamentando uma eventual atitude de impaciência na congregação.
d. Introdução: Tenha introduções curtas, sempre ligadas ao
propósito da mensagem. Às vezes as introduções podem virar verdadeiros sermões,
mas confundem o povo, pois o sermão vem depois.
e.
Exposição: Pregue
expositivamente. Escolha um texto e abra o seu entendimento para que ele possa
ser internalizado nas mentes e corações de suas ovelhas. Estude o seu contexto,
suas ligações, verifique quais aspectos não são tão claros assim, para a
congregação e os explique. Creio firmemente que quando Deus nos coloca na
posição de pregadores da Palavra, ele nos dá insights sobre o texto fruto de
nosso estudo e meditação nele, que devem ser transmitidos à congregação (não confunda! isso não tem nada a
ver com novas revelações). Quando
pregamos expositivamente, não significa que não erramos, mas erramos menos,
porque estamos presos ao texto. A pregação tópica tem o seu lugar na igreja uma
vez ou outra, mas creio que a norma deveria ser a pregação expositiva, pois
todas as doutrinas podem ser ensinadas, dependendo do texto. Muitos entendem
pregação expositiva como sendo pregação sequencial (quando o pregador fica em um livro
da Bíblia domingos à fio). Essa sistemática pode ser importante,
mas não é mandamento divino e é possível que nem sempre essa pregação sequencial - se praticada com exclusividade,
atenda às necessidades ou edifique a igreja. Utilizada de vez em quando, em uma
sequência de domingos, usados na exposição de um livro da Bíblia, é uma boa ideia.
f. Referências paralelas: Tenha cuidado para que os textos paralelos,
de apoio, não virem um sermão dentro do sermão. É possível nos perdermos quando
vamos a textos que deveriam apoiar a lição principal a ser transmitidas e,
quando vemos, estamos expondo outros pontos que confundem e não auxiliam. Acho
que sempre ajuda estarmos nos perguntando, quando usamos outros textos fora
daquele que estamos expondo ajuda a esclarecer, a ilustrar a substanciar; ou
desvia a atenção dos pontos principais?
g. Aplicação: Procure aplicações simples, pertinentes à
vida dos membros, às situações vivenciadas no dia a dia. É importante
mostrarmos a situação atual do mundo evangélico, das igrejas que nos cercam,
dos desvios doutrinários que estão no nosso meio. No entanto, se colocarmos na
maioria das vezes a aplicação nessa área, podemos gerar apenas sentimentos de autojustiça e deixamos de atingir os corações
daqueles a quem ministramos.
h. Ilustrações: Utilize-as em profusão, mas com muito cuidado
e critério - elas devem ser pertinentes ao tema e ao texto (você já deve ter ouvido pastores
falarem que encontraram um membro que fez referência a um sermão ouvido há
anos, e não se recordavam de nada da mensagem principal, mas a ilustração havia
sido sensacional!). Ilustrações
pessoais são sempre as melhores, mas seja cuidadoso e não se coloque
indevidamente, como uma criatura perfeita - Paulo, que se colocava como
exemplo, admitia, ao mesmo tempo que era "o
principal" dos
pecadores.
i.
Dicção: às
vezes o sistema de som é deficiente. Procure, portanto, articular bem as
palavras para que elas sejam realmente bem entendidas. Isso parece um ponto não
tão importante assim, mas é importantíssimo, pois de que adianta ter o que
transmitir se a congregação não consegue entender? Em algumas igrejas que frequentei
esse tem sido um problema constante: o som e a inteligibilidade da mensagem e
das palavras do pastor. Não sei como enfatizar isso o suficiente (também não sei como Spurgeon consegui falar para 5.000 pessoas sem
sistema de som, mas ele conseguia!). Já
ouvi de várias pessoas, principalmente de idade mais avançada, dizer que não
conseguem entender o pastor. Um outro casal
visitante disse-me, certa vez, que conseguiu compreender uns 25% do que o pastor falou. Portanto, é
preciso cuidado nisso. Procure trabalhar com quem domina o sistema de som para
chegar a uma equalização que gere inteligibilidade à mensagem. Procure,
igualmente, não falar com muita rapidez (isso
geralmente ocorre nos dez minutos finais do sermão, quando ficamos agoniados
para comprimir tudo o que queríamos dizer e que não deu tempo até aquele
momento nesse caso, volto aos pontos b e c, acima
transmita menos, mas transmita com mais intensidade). A rapidez na fala também prejudica a
inteligibilidade, da mesma maneira que a fala lenta e pausada demais (ou com as abomináveis "pausas
vocais" - "eh..", "uh...",) coloca as pessoas para dormir.
Não esqueça que todo o seu
pastorado é veículo para a transmissão do verdadeiro evangelho, de "todo o conselho de
Deus". Cuide de você, de
sua família, dos pilares da fé cristã e do ensino Espero que essas observações
ajudem. Desejo-lhe imensa felicidade no seu ministério e durante toda sua vida.
“Aos presbíteros, que estão
entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das
aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o
rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas
voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo
domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando
aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória” (1Pe 5.1-4)
ACF
Em Cristo Jesus
Solano Portela
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.