[isto é: Apostasias
Que Se Retiraram Para Fora Dos Batistas]
Dr. W. C. Taylor
[da CBB]
Desde que voltei a esta cidade, em fevereiro, a pergunta que mais
freqüentemente ouvi foi esta: “Os batistas saíram da Igreja Católica Romana?” Minha resposta
foi: “Não.
Os batistas não saíram da Igreja Católica Romana. Pelo contrário, a igreja
Católica romana saiu da primitiva vida batista do primeiro século, por uma [des-]evolução
gradual e multissecular.”
Sua apostasia do cristianismo original que Deus nos deu, por Cristo, por Seus
apóstolos e pelo nosso Novo Testamento, foi uma de várias apostasias [retirando-se
dos] batistas, que se deram através dos séculos. Não foi a primeira, e
não será a última. Caveat! [Aviso está dado|]
Apostasia é o nome bíblico de desvios doutrinários da verdade e vida que
Cristo revelou, e ordenou, como a norma obediente do cristianismo.
A primeira apostasia [retirando-se dos] batista foi a dos judaizantes,
a doutrina de que, sem [obedecer a] um rito estipulado, não pode
ninguém ser salvo, Atos 15:1.
At 15:1 Então certos varões, havendo descido provenientes- de- junto- da
Judeia, ensinavam assim aos irmãos: "Se não fordes circuncidados conforme a maneira (prescrita)
de Moisés, então não podeis ser salvos."
Essa
foi a mãe de todas as heresias e apostasias. Começou primeiramente como uma
heresia dentro das igrejas, tornando-se uma apostasia aberta, na altura da
situação descrita na Epístola aos Hebreus e da Guerra dos Judeus contra Roma,
que terminou na queda de Jerusalém.
A segunda apostasia foi o gnosticismo, contra o qual Paulo e João
admoestaram as igrejas. Era uma filosofia, erguida como autoridade sobre o
espírito humano, em lugar da revelação. Geralmente ficava disfarçada no meio
das igrejas constituindo a forma mais perigosa de apostasia, pois os [disfarçados,
infiltrados] traidores e guerrilheiros do falso constituem pior e mais
perigoso inimigo da verdade do que o herege, que abertamente chefia uma
apostasia.
A terceira apostasia, [retirando-se da] da norma batista do primeiro
século, foi a dos nicolaitas, cuja doutrina e obras características o
Cristo da glória odeia. É a apostasia cujas obras Cristo afirmou odiar [Ap
2:6,15]. Oxalá todas as apostasias desaparecessem com igual rapidez.
A quarta apostasia, que posso discernir na história cristã, foi precisamente o velho
catolicismo. Sua essência se [começou a] se manifestar no
segundo século. Tornou-se multiforme, pois há e sempre houve numerosas seitas
católicas. Expandiu em forma, diminuiu em espírito e degenerou em doutrina.
Católicos romanos, e católicos gregos ou ortodoxos, católicos sírios, e
católicos cópticos, e católicos de estirpes (para cuja escravização o papa
abençoou as legiões de Mussolini), e católicos armênios, católicos sírios e
seus rivais de Mussolini, e católicos armênios, e católicos sírios e seus
rivais os católicos jacobitas de Malabar, Índia, os da Igreja Católica Velha,
sem infalibilidade papal, e as muitas Igrejas Católicas Nacionais, a Igreja
Católica Brasileira do bispo de Maura e a Igreja Católica Liberal de Dom
Salomão Ferraz, e os demais catolicismos que nasceram ontem. Todos esses são a
prole daquele primeiro catolicismo. Contei, há trinta anos [em 1917],
43 variedades de católicos no mundo, sem mencionar os 65 ritos ou
denominações dentro do romanismo e suas formas uniates [igrejas orientais
católicas anteriormente parte das igrejas ortodoxas orientais ou orientais ou
da Igreja Assíria do Oriente], e as ordens monásticas, que divergem entre
si muito mais do que os batistas e os presbiterianos. O catolicismo, de que
tudo isto evolui, em muitos lugares e em formas divergentes, é apostasia do
meio [do primeiro] milênio, principalmente, que durou de 150 D. C.
até 650 D. C. e culminou na Idade de Trevas. Adão não nasceu de Caim: o
primeiro assassino [foi quem] nasceu e degenerou de Adão.
Quando, pois, falamos da apostasia, falamos biblicamente. Paulo assim falou, na
sua segunda epístola. Alguém, com o pouco escrúpulo do herege, fizera
propaganda entre os tessalonicenses de que “Que não vos movais
facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito,
quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo
estivesse já perto.”,
II Tes. 2:2. Cristo está perto, o dia de Cristo não estava perto. Já passaram
2.000 anos e ainda não chegou. E Paulo preveniu os tessalonicenses de que ele [Paulo]
nunca fizera tal propaganda e que eles não fossem enganados. Disse ele que "... não
será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o
filho da perdição”, v.3. “Apostasia”, pois, é nome de movimento, e
assim usamos o termo. Não significa que todos que acompanham o movimento
estejam destituídos da salvação. Isto não é o assunto, nem é a verdade.
Trata-se de fidelidade doutrinária. Em muitas das grandes apostasias dos
séculos, o fato mais triste do caso é que muitas vezes homens salvos,
originaram, e outras vezes acompanharam, tais apostasias. Estou usando, pois, a
palavra apostasia no sentido bíblico, não no sentido católico romano da
linguagem.
Há muita filosofia de apostasia no coração crente. Graças a Deus que o coração
de muita gente, com o qual se creu em Cristo para justiça imputada e eterna, o
coração, digo, é melhor do que a cabeça, tão facilmente enganada por um
propagandista simpático. Muitas vezes, os filisteus da heresia e apostasia têm
lavrado sua roça eclesiástica com as novilhas dos nossos Sansãos; e, mais
tarde, esses próprios Sansãos, cegos, andam moendo o trigo dos incircuncisos,
na roldana da heresia. Oxalá Deus ainda lhes desse a coragem e a força de
empurrar as colunas do Templo de Dagom para a ruína.
[Desde] o princípio do meu ministério, há quase meio século [pouco
depois de 1907] , combati o bom combate, guardei a fé e guardei a
carreira no meio de lutas das nossas igrejas batistas, contra duas apostasias
batistas modernas que arrogantemente bloquearam o caminho do progresso de
nossas igrejas, ameaçando-as de aniquilamento e ruína. Estas duas apostasias
eram
(1) o movimento que, popularmente, foi conhecido de Batistas de Cada Dura, que
se chamavam a si mesmos, porém, Igrejas Batistas Primitivas, enganadas em supor
que sua atitude antimissionária era a fé primitiva batista; e
(2) o movimento de crasso sacramentalismo que optou pelo nome sectário de
cristão.
Eram apostasias gêmeas. Ambas fingiam repudiar tudo que não encontrassem na
Bíblia. Os Casca-Dura alegaram estar contra todas as invenções humanas, como
juntas, convenções, sociedades bíblicas, colégios e seminários, escolas
dominicais, uniões missionárias femininas e de crianças, etc., etc. A outra
apostasia, a das “Igrejas Cristãs”, adotou o lema: “Onde a Bíblia
fala, nós falamos: onde a Bíblia se cala, nós calamos.” É esquisito
quanta falsa doutrina se esconde num lema sectário.
Ora, nenhum dos dois lemas era a verdade e nem eles viviam de acordo. Tinham
casas de culto, mas as igrejas bíblicas não tiveram casas de culto. Tinham
hinários mas os apóstolo não tiveram cantores impressos. Tiveram associações de
igrejas, que são apenas pequenas convenções, muitas vezes lhes disse eu: “No mesmo
versículo onde a Bíblia fala de associações batistas, fala de convenções dos
homens."
E esta lista se estende à vontade do freguês, ou de acordo com o que ele
precisa ouvir.
O outro lema era igualmente estúpido e hipócrita. Os tais “cristãos” falavam
muito da “lei de perdão”, que consistia em quatro elementos de salvação. Uma
salvação qual maná da peregrinação no deserto que facilmente se derretia
debaixo do sol de tentação. Essa “lei de perdão” de Alexandre Campbell,
enganador primeiramente dos presbiterianos da Escócia e, depois, dos batistas
da minha terra, era primeiramente a fé, no sentido de crença nas falsas
doutrinas dele e de sua seita antisectária. O segundo passo devia ser a
arrependimento, mas ele o traduziu reforma. Tenho exemplar do seu testamento
que traduziu imergir, o vocabulário do batismo e traduziu o verbo arrepender-se
com o verbo reformar-se. Fé, reforma, confissão (Eu creio que Jesus Cristo é o
Filho de Deus; a isso denominou Campbell “a boa confissão”, não falando onde a
Bíblia se refere a tal, pois nunca disse a escritura, que isso era “a boa
confissão”). Fé, reforma, confissão e o batismo eram a lei do perdão. Ao fim
dessa fé (opinião campbelista), reforma superficial, confissão de ser Jesus o
Filho de Deus e batismo à toa, pois o ministro era autocrata, batizando ao eu
bel prazer a quantos encontrasse na estrada – ao fim de tudo isso, digo, o
homem se tornava um tal “cristão”, alcançando suposta salvação, POR ORA. Nada
de regeneração – o batismo era o nascer de água, nada de arrependimento, nada
de fé em Cristo, pois meras opiniões sobre doutrinas não constituem fé
salvadora, nada de vida eterna, garantida por Jesus a nunca perecer. Um
cristianismo mais fraudulento nunca existiu. Mas o homem culto da Escócia metia
medo em nossa gente batista, quase toda rural e sem cultura. Ele capturou
igrejas batistas inteiras, quase associações inteiras. A segunda vez que fui
chamado ao pastorado de uma igreja, havia na pequena cidade duas casas de culto
construídas pelos batistas. Uma era da tal “Igreja Cristã” que proselitou a
igreja batista unânime, e roubou sua casa de culto de toda a sua propriedade,
sem que ficasse um sobrevivente do dilúvio sacramentalista. Um batista teria
conservado a propriedade, pois os tribunais dão a propriedade a um membro que
tenha ficado fiel à fé, tirando-a da maioria, mesmo quase total, que tenha
apostatado da fé. Mas nossa segunda casa de culto batista teve de ser edificada
por novo elemento que veio à cidade muito mais tarde.
O próprio romanismo não era um sacramentalismo mais anticristão. Mais tarde a
seita dividiu-se em meia dúzia de seitas, cada uma pior, sendo que a seita-mãe
degenerou no modernismo. Revoltaram-se outras. A mais forte é os
antiorganistas. A Bíblia não fala em orgão ou harmônio, logo é pecado ter
instrumento de música na igreja, se vamos falar [onde a Bíblia fala],
e calar onde a Bíblia se cala. Mas essas igrejas antiorganistas têm belos
coros, com dirigentes, também matéria do silêncio do Novo Testamento. Fogem
para o Velho. Mas o dirigente do coro tem um pequeno instrumento que ele põe na
boca para dar o tom, com que orienta tenores, baixos, etc. Nossa gente não
tardava em mostrar que no mesmo versículo onde ele encontrasse menção desse
pequeno instrumento, ali a Bíblia fala de harmônio, de piano para cada
departamento da Escola Dominical, de violinos, harpas e órgão Hammond. Que
tolice. A Bíblia é livro de verdades e princípios, não um catálogo de tudo que
se deve ter e fazer ou não ter e não fazer. Princípios, sim, são inumeráveis:
sua aplicação toma novas formas cada dia.
Quanto aos supostos “primitivos”, levaram a metade da denominação, talvez uns
cem mil membros. Depois de um século são os antimissionários ainda uns cem mil,
em número, e as igrejas batistas missionários têm uns 18.000.000 de membros
ali.
Li outro dia esta história, que me parece um tanto apócrifa, mas ilustra bem o
caso. Havia um avivamento unionista numa vila na outra América. Quanto pecado
apostasia e engano se veste do manto de avivamento! O dirigente era evangelista
do tipo unionista, que enquanto está na cidade, quer capturar todos, sem
distinção denominacional, e seus bolsos. Nessa propaganda, ele imaginou que
chegou ao céu e, não existindo nenhum fictício São Pedro à porta, perguntou a
um anjo: “Há
por aqui algum metodista? Não, disse o anjo, não há metodistas no céu.” Indagou ainda: “Há qualquer
batista por aqui?"
Disse o evangelista malevolamente olhando para o pastor batista: “Não”, tornou o anjo,
“não
há batistas no céu”.
“Idem
quanto aos presbiterianos.” Arrebatado com essa propaganda antidenominacional,
olhou para o pastor da tal "Igreja Cristã", que também não era do seu
tipo de unionismo, e gritou: “Anjo, há cristãos no céu?” O anjo ia dizer
a tolice que o unionista lhe colocaria na boca, quando de repente lhe veio o
sentido: “Não.
NÃO HÁ CRISTÃOS NO CÉU!”.
Mas a sentença ficou pela metade, parada no ar como dizem estar o caixão de
Maomé, meio distante entre o céu e aterra. “Não há cristãos no céu? Então quem para
lá entrará?"
Confundiu-se um bolo eclesiástico. No céu seremos quem fomos. Teremos nome, sem
dúvida, mas não será cristão, vocábulo da gíria pagã, em sua origem, e
que a Bíblia só menciona três vezes sempre em referência a essa origem pagã.
As piores seitas são as seitas antissectárias que ambicionam o nome de Igreja
Cristã.
Cada seita retirou-se de dentro de outra, a não ser o cristianismo que Cristo
relevou e perpetuou no Novo Testamento. Os metodistas retiraram-se de dentro
dos anglicanos, estes do romanismo, sendo o romanismo a [des]evolução
do catolicismo da primeira de todas as apostasias, e ele ainda está [des]evoluindo.
Afirmei, no começo, que esta apostasia afastou-se do regime apostólico, de fé e
prática batista. Isto é afirmação a provar, não meramente a proclamar
dogmaticamente. O cristianismo é forma e espírito. A este respeito, talvez a
parábola mais batista do novo Testamento é a doutrina de Jesus em Mat. 9:14-17;
Mar. 2:18-22; Luc. 5:33-39. A revelação do Velho Testamento é classificada de
vestido velho, com roturas – brevemente estaria em farrapos. É classificada
como vinho velho em odres velhos, forma e espírito, incapazes de ser ou conter
o cristianismo de Cristo.
Notai que a revelação mosaica é vinho, é pano. Mas o pano envelheceu, os odres
ficaram duros, igualmente capazes de rotura, como o vestido cujo dia de uso
passou. O Velho Testamento está cheio do cristianismo, mas está ali em
revelações parciais, preparatórios, passageiras, de profecia, tipos, metáforas,
homem e ofício, que serviam de figuras do porvir messiânico, de holocaustos e
cerimônias que eram o Calvário dramatizado. Nunca Jesus (ou Paulo ou Pedro)
pregava um sermão que não fosse a exposição do cristianismo do Velho
Testamento. Todavia, passou. “... todos os
profetas e a lei profetizaram até João.”, Mat. 11:13, até João Batista, não além.
Com João Batista, estamos no Novo Testamento, no cristianismo de fato prestes a
ser consumado, de história redentora logo cumprida, da plenitude dos tempos e
da revelação. São vestido novo para novo cristianismo, o cristianismo do Cristo
presente, cujo cristianismo é vinho novo em odres novos, numa revelação final
perfeita que criou tanto seu espírito como suas formas, tanto sua experiência
própria como suas igrejas próprias, ordenanças novas e ministério novo. Em
forma e espírito, o cristianismo de Cristo é novo. Não é da marca A. C., nem
dos séculos D. C. posteriores que seguiram o século da revelação final. Esta
revelação foi, e é, perfeita, uma vez para sempre manifestada em Jesus Cristo,
interpretada e historiada na sua plenitude inspirada no Novo Testamento. Todas
as Igrejas Católicas e as Igrejas Nacionais Protestantes são odres velhos, do
Velho testamento, com três qualidades de vinho misturadas, o cerimonialismo, o
sacerdotalismo e o ritualismo do regime mosaico, em primeiro lugar; algo de
história, idéias e nomenclatura do Novo testamento, em segundo lugar; e graus
diferentes das tradições dos homens, em terceiro lugar. Cada odre tem mistura
desses três elementos em grau mais nojento ou menos nojento, para o homem
espiritual, conforme o gosto da seita. Quando se formou um clero católico, este
inventou um vasto Odre Católico e misturou, com uns restinhos do Vinho de
Cristo, o conhaque do sacerdotalismo romano, a aguardente do sacramentalismo
pagão, o álcool natural da tirania medieval, e tantas outras bebidas
intoxicantes quantas lhe convieram e o vendeu como vinho do cristianismo único.
Nosso Senhor recebeu queixas de fariseus e de alguns discípulos de João.
Queriam que Jesus inventasse novos jejuns, ou apoiasse jejuns que eles
inventaram ou imitaram. A resposta de Jesus foi que Ele não veio para costurar
remendo de um jejum novo sobre o vestido do mosaísmo, nem iria Ele usar as
velhas formas mosáicas para conter a nova revelação cristã. O cristianismo de
Cristo já era, e continuaria a ser, seu vinho novo em seus odres novos, uma
revelação autônoma, nova e completa em si, em forma e espírito, para a era do
evangelho. O catolicismo voltou para os odres sacerdotais de Arão, e meteu neles
o vinho da filosofia de Platão e Aristóteles. Então transferiu tudo para um
vasto Odre Católico, modelado no Império romano pagão.
Como começou o catolicismo original, que evoluiu nos ramos gregos, romanos,
etc.? Foi uma apostasia [que se retirou para fora dos] batistas.
Depois da morte do último apóstolo, apareceu o germe de todos os catolicismos.
Principiou tudo na corrupção do batismo, na idéia de que o ato salva. Não
buliram ainda com o ato do batismo. Continuou a ser a imersão. A imersão e o
batismo são uma só palavra, em duas línguas. Mas nas filosofias correntes havia
muita superstição sobre o poder místico dos elementos primários da natureza. A
água, pois, possuía poder mágico. Água batismal fica sendo água benta, três
vezes benta. Aí tendes o germe do romanismo e de todos os demais catolicismos e
de muito protestantismo. É a apostasia-mor, apostasia mortal, a apostasia-mãe.
Uma vez generalizada esta superstição, que destrói o evangelho, veio uma
sucessão anti-apostólica de mudanças – é a qualidade de sucessão que Roma e Canterbury.
Já corromperam o vinho, não lhes importa mudar o odre. Se a água regenera,
então haja mais água no ato. Passaram de uma só imersão para a trina imersão,
que uma parte do catolicismo subseqüentemente evoluído ainda retém, até no seu
atual batismo infantil. E adicionaram mais pompa e publicidade. O episcopado
inchou-se, como fez o batismo. Só o bispo de diocese batizava, agora.
Construíram vastos batistérios, espécie de catedrais do sacramentalismo
pomposo. Reservaram os batismos para a semana santa. Alguns destes prédios
imensos de batistério ainda existem, monumentos daquela loucura de glorificar
água batismal para tudo. Neles a talha pagã [quartinha de barro para guardar
água] passou para o cristianismo nominal.
Outra evolução pagã, cujo monumento é a arte medieval do assunto, foi vergonhosa
nudez dos batismos dessa apostasia. Os homens foram batizados à parte, e as
mulheres, em bloco, todas completamente nuas. Para prepará-las e cercá-las,
inventou-se uma ordem de diaconisas, e os diáconos leigos do primeiro
século passaram a ser auxiliadores dos padres, e mais tarde seriam padres
também, pois funcionaram no sacramento da vida. Warfield descreve o batismo de
prosélitos em Israel, rito que acompanhava a circuncisão do estrangeiro,
dizendo que os judeus lhes tiraram os anéis, a roupa toda e qualquer coisa que
viesse impedir o contacto da água santa com a pessoa a ser purificada por ela.
Essa superstição invadiu tanto o judaísmo como o cristianismo apóstata, de fato
ambos apóstatas, um tendo rejeitado seu Messias, outro, o evangelho deste mesmo
Messias.
Quando Deus criou o sacerdócio genuíno de Israel, impôs a modéstia no ofício.
No mesmo capítulo 20 de Êxodo que contém a lei moral, lemos: “Não
subirás também por degraus no meu altar, para que a tua nudez não seja
descoberta diante deles”,
v.26. Ora o Deus que legislou sobre a arquitetura de Sua casa, a fim de que não
se visse a batata da perna de um sacerdote, teria enviado João Batista para
gente quase nua, teria levado Seu Filho unigênito numa procissão vergonhosa dos
nus para as águas do Jordão? É afronta à majestade divina do Salvador, é
insulto a memória do maior homem nascido de mulher, que perdeu sua própria vida
porque exigiu a pureza no palácio real. Arte mentirosa e imoral não é arte
cristã. É meramente medieval. É parte da suprema apostasia.
Gradualmente, após tempo, a superstição, como a lepra, se estende para novas
regiões do corpo eclesiástico e suas doutrinas. Se água benta salva, então
usemo-la quanto antes. Vamos aplicá-la na infância. Com o advento da idéia, o
medo exigiu o batismo para as criancinhas doentes, e também para os doentes
adultos. Mas a água fria pode fazer piorar certas doenças. O doente não pode
esperar até a semana santa e não pode ir ao grande batistério. Resultou uma
abundante derramação de água na cama, que teria o efeito o efeito da imersão. E
veio o batismo infantil. Com estas modificações, alguém lembrou que, se é a
água que regenera, e se a abundante efusão [ação de abundantemente derramar
alguns litros de água sobre uma pessoa, abundantemente molhando cada parte de
seu corpo] serve para os doentes, então a efusão é forma permissível.
Ora, o preguiçoso sempre toma o passo que menos energia exige. Daí a mudança
gradual do ato, [primeiro] para trina efusão, depois para uma
[só] efusão, tendo o protestantismo recuado [ainda
mais,] para a aspersão.
A apostasia muda de modas, do inverno para o verão, do outono para a primavera.
Logo ficou de ir adiando, adiando o batismo, para o homem sadio, até quase à
hora da morte. Assim fez Constantino, o Grande pagão, o não-batizado-bispo dos
bispos de Nicéia. Na bem calculada véspera da morte, foi submetido ao rito
pagão chamado batismo. Seu clero podia lhe garantir que assim se removia seu
pecado original, os rios de sangue que ele derramara, seus homicídios sem conta
da família para fora, suas traições sem mercê, e se tornaria assim filho de
Deus, membro do corpo de Cristo, herdeiro da salvação. Com essas modas mil de
corrupção do batismo, tudo mais no cristianismo se corrompeu. O mundo entrou na
noite medieval. A religião nominal de Cristo ficou mais bárbara do que os
bárbaros que saquearam seus palácios em Roma. Esta vasta apostasia principal
abandonou a vida batista do Novo Testamento, pouco a pouco, passo a passo, para
a perdição medieval.
Em todos os séculos, quando a Bíblia fica nas mãos do povo regenerado, muitos
voltam para Cristo e o cristianismo de Cristo, mesmo que lhes custe o
ostracismo, o banimento, a roubalheira dos bens ou o martírio.
Independentemente da vinda dos Bagby e Taylor para o Brasil, veio outra
missionária batista: foi uma Bíblia católica, duas aliás, e toda Bíblia
católica está cheia de doutrina batista. Para o padre Teixeira de Albuquerque,
em Olinda, a missionária batista era um exemplar da Vulgata, e ele saiu, qual
Abraão a peregrinar, até que encontrasse o cristianismo do Novo Testamento. E o
encontrou, numa igreja batista de colônia estrangeira, em Santa Bárbara. E
outra missionária, da mesma fé e ordem, veio de Portugal para Inocêncio Frias,
pai da primeira mulher brasileira a ser missionária. Essa missionária impressa
também foi uma Bíblia católica, que sua tia lhe enviou de Lisboa. E Inocêncio
Frias ia à feira e à missa cada domingo, levando um grande tomo de sua Bíblia
católica e sempre com a mesma pergunta: “Por que o nosso cristianismo hoje não é
como o cristianismo do Novo Testamento?” era apontar cada vez um elemento do
cristianismo batista do Novo Testamento. Afinal, irritado com sua peregrinação
espiritual para a fé batista original, sem que ele soubesse existir batista no
mundo, alguém lhe disse: “Lá no Recife na Rua da Aurora, no primeiro andar de
um sobrado, há pequeno grupo de hereges como você. Por que não vai unir-se a
eles, se assim pensa?”
E imediatamente ele foi e jubiloso achou, de fato, o cristianismo do seu Novo
Testamento, na pequena igreja batista pastoreada por Entzminger. Nós, como
poucas nações no mundo, temos tido contínuos e muitos casos desta natureza, em
que as almas sinceras, uma vez encetando aquela peregrinação para o
cristianismo de Cristo e do Novo Testamento, o descobriram numa igreja batista
humilde.
Nada mais claro. Desde João Batista até o mártir Antipas nada se vê, nada [diferente]
houve como batismo, senão o ato de imersão. As duas cidades a que Paulo enviou
epistolas, sem as ter visitado, foram Roma e Colosso. Ele bem sabia, porém, e
podia escrever com absoluta certeza, que cada membro de uma igreja de Cristo
fora sepultado pelo batismo. Era uma certeza unânime. Nenhuma efusão ou aspersão
surgiu para destruir o batismo genuíno, pela circulação de batismo contrafeito [falsificado].
Nada de batismo infantil. Nada de salvação depois do batismo, mas sempre
salvação pela graça, mediante a fé, resultando na vida eterna, antes do
batismo, sendo o batismo um ato desta vida eterna, expressando votos de andar
na mesma novidade de vida. As mesmas doutrinas da Confissão de fé adotada pelas
igrejas batistas brasileira é o que Lucas chama “a doutrina dos apóstolos” em
que os salvos obedientes andaram, e andam, perseverando. As doutrinas são as
mesmas, o ministério é o mesmo, a natureza congregacional das igrejas, desde
Mateus até o Apocalipse, e a pluralidade das igrejas é o mesmo cristianismo
batista do Novo Testamento. O evangelho é o mesmo, a Grande Comissão, a santa
cooperação das igrejas em grande escala, mediante mensageiros que, nesta afã se
tornam “a glória de Cristo”. As apostasias [retirando-se dos]batistas
consistem em abandonar este cristianismo original, para seguir os homens.
E não pensemos que os casos de Inocêncio Freias e Teixeira de Albuquerque e dos
[Nogueira] Paranaguás de Corrente são casos excepcionais. A busca do
cristianismo original é o fenômeno mais comum de nossa vida batista. Os volumes
das Atas da Aliança Batista Mundial historiam a mesma peregrinação de
investigadores sinceros em todos os continentes e muitas nações. Na Coréia e na
Venezuela, recentemente, foram descobertos grupos isolados, vivendo uma vida
batista, sem saber dos outros batistas do mundo, mas que com alegria ficaram em
nossa comunhão, após visita investigadora e orientadora de uma batista que
ouvira dos casos.
Ouvi ilustre batista, H. A. Porter, dizer como visitou os batistas de um país
balcânico, os quais colocaram reclame [anúncio do tipo
"procura-se"] num grande diário europeu, enumerando as
doutrinas que acharam no Novo Testamento e perguntando se havia um povo que
advogasse tais verdades. Viajou para eles um pastor batista irmão e os batizou
e serviu.
No congresso da Aliança, em Estocolmo, o Pres. João Clifford não pode assistir.
Escreveu carta de saudação aos batistas ali reunidos, de que cito estas
palavras: “Uma
das necessidades primaciais da Europa, na minha opinião, a primeira e mais
urgente necessidade, é a interpretação batista do cristianismo de Cristo Jesus,
no Novo Testamento. Por mais de trinta anos esta convicção se forçou sobre mim.
Deus para isto nos chama. Este é o dia que o Senhor fez para nós e triste será
nossa sorte se lhe formos falsos nesta hora de premente necessidade. O domínio
do catolicismo romano em certas áreas, da Igrejas Ortodoxa Grega em outras, e a
prevalência das idéias e práticas do controle de religião pelo Estado, não
obstante pretensão de ceder à liberdade da consciência; estes fatos constituem
chamadas urgentes para nosso testemunho”, Londres, 13 de junho de 1923, p. 44,
das Atas da Aliança do mesmo anos.
Disse, no mesmo espírito, o operoso e culto Rushbrooke, em Berlim, no ano de
1934: “Em
muitas partes do mundo surgiram comunidades batistas, sem que seus membros
soubessem existir em canto algum do mundo outros que lhe fossem semelhantes.
Nasceram do estudo do Novo Testamento sob a direção do Espírito, como o
intérprete”
(p.23, das Atas).
No segundo congresso, ouvi o imortal Robertson dizer o seguinte: “Existindo
Bíblia, alma regenerada e mente sem preconceitos, o resultado inevitável é um
batista. Se não és batista, meu irmão, qual a razão?” Assim falaram
mil vezes Carey, Judson, Spurgeon, Truett ante multidões de crentes humildes,
que tudo sacrificaram pela lealdade a Cristo, a qual o Dr. Mullins definiu como
o supremo princípio batistas, em várias reuniões da Aliança.
Se o conselho Mundial das Igrejas falsas conseguir formar outra Babel, com a
costumeira intolerância, no dia seguinte, depois de todos os cristãos nominais
formarem esta união, eis o que vai surgir. Cairá na mão de alguém um Novo
Testamento e ele irá perguntar, para si mesmo e para outros; “Por que esta
cristandade unida está tão diferente do cristianismo de Cristo, revelado no
Novo Testamento?”
E daí, lhe repetirá o mesmo processo que nos deu os batistas Inocêncio Frias,
Teixeira de Albuquerque, os Nogueira Paranaguá e milhares de outros.
Em lugar deste cristianismo de Cristo, revelado no Novo Testamento, para o qual
a consciência iluminada sempre voltará, alguns querem limitar as convicções
batistas à norma de homem. Houve um vai-vem de homens sinceros, procurando
achar este testemunho do cristianismo original, vai-vem entre a Inglaterra e a
Holanda, no começo do Século XVII. Grupos que acabavam de repudiar o
angloromanismo apalpavam para achar o cristianismo original, e já em existência
como igrejas, se isso fosse possível.
Paremos aqui para comentar este tipo de pessoas. Não são a norma de nossa vida.
Desnorteados, ainda buscam eles mesmos a norma apostólica. “The Converted
Catholic”, mensário de uma organização de ex-padres de Nova Iorque, disse
há pouco de um ex-padre: “Até depois de sair da Igreja Romana, sua mente
estava envolvida numa garoa de confusão quase total. De fato. Um homem pode
sair de Roma, por uma só doutrina provocante, como Lutero revoltou-se contra as
indulgências. Seríamos tão estúpidos que abandonaríamos o exemplo, o ensino e a
autoridade de Cristo, para estabelecer como norma batista um peregrino que
acaba de tomar dois passos fora de erro, na senda da verdade? Colocaremos
perante nossos olhos um João Smythe, um Tomás Hewys, ou um João Murton e seu
vai-vem entre Inglaterra e Holanda, entre a verdade e o erro? Que direito têm
eles de decidir para nós o que significa ser batista? Quem provará que tiveram
semelhante desejo ou função? Morreu João Smythe em nosso lugar? Disse Tomás
Helwys: “Toda a autoridade me foi dada”, ide, pois, e fazei como fiz na Holanda
e em Londres? Servem de norma para nós as hesitações de um ex-padre, ou
ex-católico qualquer ou ex-anglicano? Pereça esta noção! Isso seria fazer-nos
discípulos dos homens. Eu não daria meia pataca por um milhão de João Smythes
ou João Murtons ou Rogério Williams, como norma da vida batista. Não conheço
pessoalmente um grupo de igrejas batistas na face da terra que mão tenha ido
muito além desses principiantes na verdade, no conhecimento da soma de
doutrina, que constitui a fé uma vez para sempre entregue aos santos, para qual
devemos batalhar, viver e testemunhar, individual e coletivamente."
E será isso mera noção minha? Vejamos. O Dr. George McDaniel, Presidente da
maior convenção batista do mundo. E pastor da histórica Primeira Igreja Batista
de Richmond, disse: “Nós,
com justiça, nos ufanamos de nossa origem antiga e bíblica. Diversos homens são
apontados como fundadores de denominações. Mas não é assim com os batistas.
Nenhuma personalidade existe, aquém de Jesus Cristo que sirva de explicação
satisfatória de sua origem. As igrejas do Novo Testamento eram independentes,
governavam-se a si mesmas [não havia nenhuma árvore de hierarquia sobre
uma igreja] e eram de natureza democrática [as decisões eram tomadas
por todos os membros reunidos], precisamente como as igrejas batistas de
hoje. Nós não principiamos na Idade das Trevas, nem na Reforma, nem em qualquer
século depois dos apóstolos, mas achamos nossas ordens de marcha na Grande
Comissão. A primeira Igreja Batista foi a Igreja de Jerusalém. Nossos
princípios são tão velhos como o cristianismo e nenhum Fundador confessamos
senão a Jesus Cristo.”
Ouvi o famoso F. B. Meyer, de Londres, dizer em Baltimore, no ano de 1910, à
nossa convenção batista reunida ali: “Meus irmãos, nenhum dia, deste lado de
Pentecoste é nosso dia natalício.” E declarou Spurgeon: “Não me
envergonho da denominação a que pertenço, que veio, como cremos, diretamente da
pessoa de Jesus Cristo, sem ter jamais passado através do manancial lamacento
do romanismo. Temos uma origem à parte de todos os dissidentes ou do
protestantismo, porque nós temos existido antes de todas as demais seitas.”
E o Dr. Mullins une sua voz com as vozes de Clifford e Rushbrooke,
testemunhando que a Bíblia lida faz batistas em toda parte: “Sem outro guia
senão o Espírito Santo e o Novo Testamento, o florescente movimento batista
começou na Rússia. Outros casos do mesmo princípio são numerosas na história
moderna. No México e no Brasil e alhures, igrejas batistas surgiram
espontaneamente, como resultado do simples estudo do novo Testamento sob a
tutela única do Espírito Santo.” E ele narra como, em 1834, em Hamburgo, Alemanha,
Oncken e um pequeno grupo estavam sem guias eclesiásticos. Fecharam-se com o
Novo Testamento, isolando de outros contatos. Uma igreja batista resultou. E,
como sabeis, desta igreja e deste princípio, originou grande parte da história
batista moderna na Europa, onde a perseguição unida de Romanista, Ortodoxo e
Protestante [já tinha exterminado ou escravizado os cérebros de] os
anabatistas.
Essas são vozes batistas, e é um coro mundial. Mas cito também o testemunho de
observador. As autoridades do recenseamento nos EE. UU. Publicam um vasto livro
de estatística religiosa. Tem uma breve história de cada denominação. Cada qual
das maiores denominações protestantes se liga a um fundador humano. Mas o livro
do recenseamento declara: “É um princípio distinto entre os batistas que não
reconhecem fundador humano, não confessam autoridade religiosa humana [sobre
eles] e não acatam credo humano algum. Para todos estes fins, os batistas
de todos os nomes e de toda ordem se voltam [exclusivamente] para o
Novo Testamento. E, embora nenhum historiador batista competente alegue ser
possível traçar uma sucessão de igrejas batistas através dos séculos [como
uma genealogia registrada e atestada em cartórios de 20 séculos], a maior
parte deles estão de acordo em crer que, se pudéssemos conseguir os dados,
seriam encontrados, em todas as épocas da história cristã, grupos que
mantiveram, com seu testemunho e, em muitos casos com suas vidas, os grandes e
notáveis princípios das igrejas batistas hodiernas” (Census of
Religious Bodies, 1926, Vol. II, p. 77).
Notai que esta declaração afirma que a origem batista, a partir do Novo
Testamento, não depende de uma sucessão de batismos batistas e de igrejas
batistas [sucessão
como uma genealogia registrada e atestada em cartórios de 20 séculos]. [A afirmação
acima] absolutamente nada tem com tal assunto [sucessão em corrente
com cada elo documentado em cartório]. É a razão porque os mesmos
batistas que afirmam isto [acima] recusam ver em João Smythe, na
Inglaterra, ou Rogério Williams, em Rhode Island, ou Oncken, na Alemanha, ou
qualquer outro, o fundador da denominação batista. Não cabe, nas fraldas
doutrinárias desses bebezinhos em Cristo, o movimento batista. Esses
investigadores do Novo Testamento apelaram a Cristo e à Bíblia. Não se
arvoraram em ser o Moisés de nosso Israel, em sua peregrinação. Somente queriam
voltar para Cristo, do desvio em que se encontravam. Longe estavam de fundarem
nova religião ou seita.
O batismo é como o matrimônio. A monogamia tem sua lei em Cristo. Quando
aparecem filho ilegítimo e pais ilegítimos, a norma não está perdida. É que
ainda não houve casamento civil. E esse filho ilegítimo se casará civilmente e
estabelecerá um lar legal. Assim fizeram Carey e Fuller acerca do batismo,
vindo dos anglicanos; assim fizeram Teixeira de Albuquerque e mais uns quarenta
sacerdotes de Roma, vindos do romanismo no Brasil; assim fizeram Spurgeon e
Ginsburg, vindo dos congregacionais; assim fizeram um milhão de batistas
russos, vindos da pseudo-ortodoxia grega. Assim fazem e farão milhares ou
milhões de outros, através dos séculos, se Jesus tardar na Sua vinda.
E, como a vasta doutrina batista não se pode limitar aos poucos assuntos e à
insuficiente investigação e crença de um Smythe ou Williams ou de qualquer
outro principiante em nossa fé, de igual modo a doutrina batista não abrange
erros e heresias e apostasias do Novo Testamento. Uma associação batista no Estado
da Virgínia elegeu doze apóstolos. Isto foi apostasia, oriunda de um entusiasmo
pela reprodução exata do cristianismo do Novo Testamento. Mas enganaram-se. Por
que não elegerem outro Cristo, e outro Espírito Santo, marcando no calendário
outro Pentecoste? Como não provisionaram outro Calvário, como Roma faz em seus
altares e dramatiza em sua semana santa? É porque parte vastíssima da doutrina
de Cristo e dos batistas é a grande frase inspirada: “Uma
vez para sempre,”
“de uma só vez”,
da Epístola aos Hebreus e da Epístola de Judas. Não se repete Belém ou o monte
da transfiguração ou Calvário e os atos históricos da nossa religião. Um
nervosismo, que procura repetir o que já, de uma vez por todas, ocorreu, não é
doutrina batista, mas apenas aberração, de algum batista, das doutrinas de sua
fé. Benjamim Warfield escreveu que soube de casos em que um batista insistiu
muito na imersão, como único batismo, mas não acreditava na existência de Deus.
Acho que eu poderia localizar tais ateísta batistas, mas nem por isso ficou
sendo o ateísmo uma doutrina batista, simplesmente porque alguns batistas o
adotaram. E assim com qualquer outra apostasia da fé. A fé e sua negação nunca
foram, ambas, doutrinas batistas. A fé, que a massa do nosso povo tem
adquirido, como convicção geral, é a doutrina batista. Um grupo é capaz de
errar, quanto mais [o pode] um indivíduo. Mas a doutrina corrige-se
pelo Novo Testamento. Sua negação é apostasia; não é outra doutrina batista.
Existem lá nos museus, preservados em álcool, fetos com duas cabeças, ou de
sete dedos na mão, ou de uma só perna ou olho, e de todas as demais
deformidades. Conheço duas senhoritas, um tendo um só rim, a outra tendo
quatro. Mas a norma do corpo humano fica a mesma, a despeito dessa
anormalidades.
Anormalidades doutrinárias, porém, se podem generalizar. Uma ou duas crianças
em cada década que nascessem com duas cabeças não afetariam a vida humana. Mas
se alguém descobrisse jeito de fazer nascer, por qualquer arte mágica, um
milhão de crianças de duas cabeças, isto seria um perigo para a raça [humana].
Seria apostasia física, como o romanismo é apostasia espiritual, ao criar um cristianismo
com duas cabeças, o papa e Cristo Jesus.
Pior, porém, do que criar um tipo monstruoso é a tendência para o suicídio
batista, em várias terras. A última vez que falei na vossa presença, esta união
de autores, o assunto que me destes foi o suicídio. O suicídio de um indivíduo
é triste, criminoso, anti-social, injusto à família, ao Estado e à sociedade e
a Deus, supremamente. Mas o suicídio batista é vastamente mais sério. A perda
de um indivíduo de nosso meio é trágica. Mas a perda de um povo, grupo que era
forte e agressiva testemunha do evangelho, da verdade revelada, de Cristo e do
cristianismo do Novo Testamento, a perda deste povo, digo pelo suicídio batista
é perda infinitamente mais trágica. É o que se vê em várias terras. Há meio
século havia mais de 400.000 batistas na Inglaterra. Hoje [1957], há
uns 300.000, se tantos. Em muitas igrejas há numeroso grupo dos que nunca foram
batizados e entraram [para a membresia da igreja] com a aspersão, ou
a efusão, ou com nada, como batismo. Há pessoas de muitas denominações [que
se passaram para] dentro de igrejas batistas, por conveniência. A
denominação começou a diminuir com o unionismo de J. H. Shakespeare e diminuiu
a cada ano, por uma ou mais décadas. Isto é suicídios coletivo. No Canadá, na
última estatística que tive à mão, ao escrever isto, o número de membros
diminuiu quatro mil, o ano anterior. A convenção Batista do Norte, do meu país [Estados
Unidos], teve 13.000 igrejas há poucas décadas, número que ficou reduzido
a 7.000 [, hoje]. Neste caso, felizmente, não foi a denominação que se
suicidou, mas quase a metade das igrejas abandonaram o grupo porque deu abrigo
a toda a sorte de modernismo e já faz parte do Concílio Mundial de Igrejas. No
país da Índia [do missionário batista William] Carey, o Seminário Teológico
de Serampore, [que já foi] um dos mais excelentes [e mais
respeitados] nomes na história batista, agora é um centro unionista, para
a educação de obreiros luteranos, anglicanos, metodistas, presbiterianos,
ortodoxos sírios, a Igreja Ortodoxa Síria Mar Tomá e quejandos, inclusive
batistas das missões inglesas. O presidente [reitor] deste
educandário é um católico ortodoxo sírio, que é seita pouco diferente do
romanismo nas doutrinas fundamentais. O volume da [Atas da] Aliança
Batista [Mundial] reunida na Suécia, em 1952, afirma haver 60.000
batistas na Suécia. Mas, poucos anos depois, o número passou a 20.000, subindo,
em 1947, para 40.000. Onde a razão dessa diferença? Apostasia. Foi para um
seminário teológico modernista, em outra terra, um rapaz sueco. Ali aprendeu
que Jesus não nasceu de virgem-mãe, que a Bíblia não é inspirada, só seus
autores sendo inspirados, em ebuliente experiência que com eles evaporou, não
afetando suas palavras, ou seus escritos. Quando ele voltou à Suécia revelou
seus novos conhecimentos modernistas, conseguiu apoio ou tolerância oficial.
Então, milhares de batista se revoltaram contra essa apostasia e, não tendo
para onde virar, se fizeram pentecostais. Deste grupo pentecostal, veio o
pentecostalismo para o Brasil. Roubou grande parte dos frutos do trabalho de Eurico
Nelson [pastor da Igreja Batista de Belém do Pará] e [roubou]
muitos outros batistas enganados. Fui um dia ao pastor Emílio Conde, “pastor”
pentecostal nessa cidade, e lhe disse o seguinte: “Nós nunca
havemos de concordar sobre a doutrina do batismo no Espírito Santo. Creio,
porém que ambos nós amamos a Bíblia e seriamos zelosos na sua defesa. Fui
informado, mas não tenho uma história dos batistas suecos com que possa atestar
a informação, do seguinte.” (Narrei o que foi dito em cima e perguntei-lhe se,
segundo a história de seu povo, a tal versão se confirmava. Ele me declarou que
era também assim informado.) Esses 150.000 pentecostais no Brasil [em 1957]
são frutos de modernismo num seminário batista, em outra terra. Um seminário
modernista nos fez este grande mal. A apostasia modernista é praga, cujo
contágio é mundial.
E não parou aí o efeito desse caso de modernismo. Estou lendo um livro sobre as
maiores vozes da teologia americana, sendo que um dos seis é Nels F. S. Ferré.
O pai dele foi batista sueco. O filho alega ter experimentado três conversões.
Frans Ferré pregou o evangelho por 50 anos crendo a Bíblia. A família morava
numa zona rural vizinha da fazenda de Greta Garbo. Nels foi “convertido” em
1920, e no ano seguinte foi para os EE.UU., já cheio de dúvidas. Não sei se
vieram do novo modernismo da Suécia. Encontrou mais, da mesma espécie, na outra
América. Repudiou o evangelho e a Bíblia. Esta segunda “conversão” ele chama a
conversão para a sinceridade. É uma das esquisitices do modernismo imaginar que
só uma incredulidade é sincera, embora tais apóstatas não tenham a sinceridade
de deixar uma religião em que não crêem. Vivem do dinheiro de crentes, enquanto
procuram aniquilar sua fé. Para mim, isso é o cúmulo da hipocrisia. Ferré
deixou os batistas e ensina agora na University of Vanderbilt, foco de
ultra-modernismo metodista. Agora, ele alega que uma das explicações possíveis
do nascimento de Jesus é que Maria era prostituta, ou ficou prostituída, num
acampamento de soldados romanos, Jesus séria filho da judia nazarena e um
soldado romano, vil [nojenta] calúnia dos judeus primitivos, [que
foi] desenterrada por Ferré. A única desculpa da blasfêmia é que há
pinturas de artistas da Europa do Norte que pintam Jesus como tipo loiro. Logo,
teve de ser filho de soldado alemão e Maria Nazarena. Está aprovado, por essa
mesma arte medieval, que faz do batismo de Cristo uma colônia de nudismo.
Hitler e Ferré se converteram para este Cristo germânico. A terceira conversão
de Ferré foi para agápe. Os modernistas hodiernos não podem usar o vocabulário
cristão. Advogam kerigma, não pregação, e, mensagem, kerugmática, não pregação
da verdade. Agora Ferré só anda pregando ágape. O próprio livro que estou lendo
diz que seu pensamento seria mero sentimentalismo, sem a teologia companheira
de Reinhold Niebuhr. Há propagandistas de modernismo, comunismo e toda sorte de
ismos que só andam, agora, falando em amor, ou ágape. O amor, que é fruto do
Espírito, ama primeiramente a Deus e ao homem, em segundo lugar. Ama a Jesus
Cristo e o prova guardando Suas palavras e obedecendo Seus mandamentos. Ama aos
pecadores, pregando-lhes o único evangelho. E pregar a verdade, em amor, inclui
pelo menos amor à verdade. Mas esse amor modernista reduz Jesus Cristo,
possivelmente – Ferré apenas representa esta hipótese como uma das maneiras
possíveis do nascimento de Jesus – ao fruto da quente carnalidade de uma
ex-virgem nazarena. Imaginai, quando essas blasfêmias chegaram aos ouvidos do
clero e dos pentecostais no Brasil, como partindo de um dos seis maiores
teólogos da outra América, como isso afetará o evangelho que amamos. Cuidado
com o tipo de pregador que só anda falando de amor, como bandeira de seu
liberalismo, sem amor à pessoa de Jesus, às Suas palavras e aos Seus
mandamentos. “O amor sem hipocrisia.”
Numa convenção da mocidade, no Estado de Carolina, fora convidado o tal Ferré,
para orador. A Convenção Batista do Estado interveio, cancelou o lugar de Ferré
no programa, nomeou uma comissão para investigar a razão do convite, demitiu
três secretários de sua mocidade e, nisto, teve o apoio da vasta maioria do seu
povo. São algumas das ondas, em quatro países, de uma classe modernista de
teologia e seus efeitos sobre um estudante. O irmão Neprah, batista russo que
nos visitou há poucos anos, narrou como outro professor, educado no
estrangeiro, no modernismo, voltou a um seminário na Europa. Quando os alunos
afinal perceberam que seu professor era incrédulo, na hipocrisia de um
professorado cristão, tomaram-no literal, fisicamente, em seus braços e o
lançaram fora do prédio. Ali, não houve suicídio batista. Haverá no Brasil?
Apostasias [que se retiram dos] Batistas pululam. E seriam
mentirosos Jesus e Paulo e João, se isto não fosse [assim]. Foi
sempre a verdade e sempre será. É marca dos “últimos tempos”, frase que indica
o prazo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Jesus, quando falou a
respeito do bom Pastor, falou também do mercenário, assalariado pelo povo das
ovelhas, e as deixando para o lobo devorador; assalariado, diria Paul, pelo
povo na verdade, e servindo a doutrinas de demônios.
Falei-vos da apostasia antimissionária. Hoje em dia, isso é mania de incultos
Casca Dura? Não, irmãos. Hoje em dia, professores modernistas de teologia minam
toda a obra de missões, por negarem que Jesus proferiu a grande Comissão. Há
dúvida real sobre o texto grego da Comissão em Marcos, dúvida, digo, não motivo
de dogmatismo. Mas o criticismo textual não admite dúvida alguma sobre a
comissão de Mateus. Porém, o modernismo odeia mais a Grande Comissão de Mateus
do que a de Marcos. E seu forte apoio textual não influi. Rejeitam-no, por
motivos de puro subjetivismo modernista. Qual o resultado? Fica sem fundamento
o movimento missionário, se não foi Jesus que o ordenou. Se Jesus foi quem
disse: “Ide, fazei discípulos; toda a autoridade para vos enviar é minha”, então o jovem
missionário irá com gozo. Mas se foi um anônimo impostor do segundo século que
forjou de Mateus, então as missões são baseadas em fraude e miserável
hipocrisia. Demita-se nossa Junta de Missões Estrangeiras e o movimento missionário
está morto. Os “Casca Dura”, agora, já estão em cadeiras teológicas, não em
associações batistas de matutos e caipiras.
Analisei uma apostasia seca e fútil, do sacramentalismo. Já leio muita
literatura batista inglesa e de outros grupos, que advogam abertamente esta
mesma apostasia. Chamam isto uma doutrina “alta” do batismo, classificando-a
pela terminologia das divisões anglicanas.
Falei sobre a apostasia-mor, a apostasia-mater do catolicismo. Foi apostasia [retirando-se
dos] batistas, no fim do primeiro século. O catolicismo foi criado a
partir de igrejas [de governo] congregacional, com uma só ordem de
ministros, com diáconos que eram leigos, não padres principiantes, com a
imersão como o único batismo, para crentes, depois da salvação, com o Novo
Testamento já em circulação em suas várias partes, doutrinado o povo no que “o
Espírito diz às igrejas”.
Era um cristianismo nitidamente batista, que permitiu a apostasia do
catolicismo dos séculos, logo após os apóstolos. E esta mesma apostasia está
grassando entre os batistas, de novo, conduzindo para o novo catolicismo do Concílio
Mundial das Igrejas. A maioria das grandes convenções batistas já faz parte do Concílio
Mundial de Igrejas. Mentem para fazer isto. Fingem que uma convenção [isto
é, um acordo de cooperação entre igrejas independentes, autônomas] batista
é uma [organização com diretoria que manda nas filiais, chamada de A]
igreja batista, uma igreja nacional, como as igrejas protestantes. Isso é
mentira abominável. Uma convenção não é Igreja; não tem nem aspecto nem função
alguma de igreja; não batiza, não aceita nem membros, nem dá cartas demissórias;
não consagra, nem elege, nem despede pastores; não exerce disciplina, não
governa as igrejas. Nenhuma convenção batista é igreja, nem tem função alguma
de igreja. Mas essas convenções batistas no Concílio Mundial estão ali
disfarçadas de igrejas, em cada caso. Ou é hipocrisia ou é, nitidamente, a
velha apostasia do catolicismo incipiente.
Ao sair dos EE.UU., há pouco, comprei vinte livros, a maioria expondo a
teologia do unionismo modernista. Confesso-me pasmado com a ousadia avançada
dessa propaganda. Abertamente dizem que há uma só Igreja [isto é, a Igreja
Universal]. Dizem que ela é a extensão da encarnação de Cristo. Vão além.
Dizem que essa “Igreja Católica” [Universal] é Cristo, absolutamente
idêntica com Jesus Cristo. Brevemente a pequena oligarquia que governará essa
apostasia será seu próprio Cristo. Muitos deles vão secretamente apoiando
Schweitzer, ao pensar que a existência de Jesus é duvidosa. Todos concordam que
isso é de somenos importância. Se Ele nunca existiu, esse catolicismo [Igreja
Universal englobando todos os cristãos] será Sua encarnação e o Cristo
será o subjetivismo deles.
Que fazer? Que fizeram Cristo e Paulo e João? Avisai o povo, como fez Jesus, no
Sermão do Monte e em João 10, e falando com Judas e com Pedro. Falai como Paulo
deste perigo: “e eu sei que, depois de minha partida, entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho. Portanto, vigiai… Agora, pois,
encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça.” Falai, como João, contra os
anticristos. Dizei as mulheres cristãs, mulheres como Priscila que amam a
doutrina, “Se alguém vem ter conosco e não traz esta doutrina, não o recebais
em casa, nem lhe deis as boas vindas, porquanto aquele que lhe dá boas vindas
faz-se cúmplice das suas obras más.” Também exorto que nossa oposição ao
modernismo não seja nunca injusta. Citai o ensino falso, textualmente, ou
calai-vos. Assuntos doutrinários não são questões pessoas. Os heresiarcas
sempre querem ser tidos por mártires, arrastam tudo para o terreno pessoal. Não
lhes deis esta honra. Recusai combate aí. Notastes quão poucas vezes Paulo
declina o nome de algum líder judaizante? Combateu o erro, não o homem. E,
logo, não sejais arrastados para fora da denominação como o irmão – ia
declinar-lhe o nome, mas não o direi. Não sejais separatistas, pelo menos até a
apostasia ameaçar dominar a situação, que Deus proíba. Estas igrejas no Brasil
são de Jesus, são igrejas batistas, segundo o Novo Testamento. Fiquemos com
elas, para que fiquemos com a verdade. Lutemos, informemos o povo, mas não
tomaremos o fácil rumo de separar-nos da denominação cada vez que formos mal
entendidos ou sofremos derrota. Os Ários [de doutrina herética] têm
muitas vitórias provisórias sobre os Atanásios [de reta doutrina trinitariana].
Perseverai. O amor regozija-se com a verdade, é partidário da verdade, iça a
bandeira da verdade, veste suas cores. A verdade é nosso time. Soltemos foguete
quando marca um gol.
Revista Teológica do Seminário Teológica Batista do Sul do Brasil no Rio de
Janeiro.
Artigo escrito em Julho de 1957.
[Hélio M.S. acrescentou algumas explicações entre colchetes, para os não
seminaristas e não pastores poderem entender melhor]
Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.