Erasmo de Roterdã
Erasmo de Roterdã é um dos eruditos
mais famosos e criticados que já viveram. Ele foi um indisputável líder do
Reavivamento do Aprendizado e o maior intelecto de sua geração. Durante sua
vida foram-lhe oferecidas riqueza e posições além dos sonhos mais audaciosos
que se possam acalentar. Os reinos da Inglaterra e da Alemanha lhe ofereceram
qualquer posição dentro deles; a França e a Espanha colocaram suas terras à sua
disposição e o Papa Paulo II outorgou-lhe a posição de Cardeal. Sem
dúvida, o ofício de papa e a liderança da Cristandade poderiam ter sido dele,
se ele o tivesse desejado. Contudo, ele recusou todas estas ofertas.
Desiderius Erasmus nasceu em 1466,
em Roterdã, Holanda, filho ilegítimo de um padre holandês. Ele se tornou um
monge agostiniano aos 21 anos, porém, mais tarde, foi dispensado dos votos,
tendo ido estudar Teologia na Universidade de Paris. Mais tarde, ele se tornou
professor de Grego na Universidade de Cambridge. Ele foi distinguido com a
publicação do seu primeiro Novo Testamento Grego, em 1516. Embasadas neste seu
trabalho vieram as principais traduções da Bíblia, na Inglaterra, Alemanha,
França, Itália, Holanda, Suécia e Dinamarca, inclusive a de Lutero, (1522), a
de Tyndale (1525), a versão francesa Oliveton (1535), a italiana Diodati (1607)
e a mais famosa de todas, a Versão Autorizada de 1611 - a King James - em
Inglês.
Erasmo, o Reformador
Erasmo tornou-se uma figura líder na
tentativa de realizar uma reforma dentro da Igreja Católica Romana. Ele
criticava publicamente as grandes e inúmeras corrupções e os abusos que via
dentro dos mosteiros e entre o sacerdócio, especialmente em sua obra “Praise
of Folly” (1510) – Elogio da Tolice. Ele se opôs à Inquisição e ao
tratamento da Igreja contra os chamados “hereges”. Rejeitou as imagens,
relíquias, orações a Maria, celibato clerical, peregrinações e outras
superstições da Igreja de Roma, muitas dessas críticas através de notas, ao
longo do seu texto.
O Cristianismo [Catolicismo], dizia Erasmo, fora feito não para demonstrar amor
ao próximo [Gál.5.14], mas para se abster de manteiga e queijo durante a
Quaresma. Tal foi o impacto que ele causou que as hierarquias da Igreja lhe
ofereceram bispados, a fim de silenciá-lo, porém sem resultado algum. Ele não
temia a controvérsia. Ele produziu o seu Texto Grego com o objetivo de realizar
a tão necessária reforma na Igreja. Apesar da oposição, Erasmo sempre gozou de
poderoso apoio, tanto dentro como fora da Igreja. Talvez um dos seus aliados
mais fortes tenha sido o papa Leão X. Leão ajudou Erasmo imensuravelmente e
este, agradecido, dedicou-lhe o seu Novo Testamento Grego. Somente depois de
sua morte foi que houve alguma reação oficial da Igreja contra ele. Até então,
tinha havido apenas reações particulares de indivíduos. Após sua morte, suas
obras, inclusive o Texto Grego, foram colocados no Index de Livros Proibidos
pelo Concílio de Trento (1545-1563), quando ele foi rotulado como “herege
ímpio”.
Ao contrário de Lutero, Erasmo achava que a reforma poderia vir mais
facilmente com a melhoria da compreensão intelectual do povo e com o
retorno aos ensinos morais de Cristo. Por sua vez, Lutero buscava uma reforma
não entre os gigantes intelectuais da Europa, mas entre o povo simples. Para
isto ele confiava não apenas no aprendizado erudito, mas no poder do Evangelho,
que era loucura para os sábios e eruditos deste mundo (1 Coríntios 1:25-27).
Contudo, Erasmo foi um reformador moral, não doutrinário. Os males que ele
combatia eram: a hipocrisia, o orgulho, a ambição, o egoísmo, a imoralidade, a
injustiça e a ignorância. Nisto ele foi muito influenciado pelos ensinos de
Cristo, os clássicos e os pais da igreja primitiva. Acima de tudo, ele queria
moderação de ambos os partidos [Reforma Protestante e Catolicismo Romano]. Ele
odiava o fanatismo e a intolerância encontrados nos clérigos da ICAR,
temendo, ao mesmo tempo, que a intolerância de Lutero pudesse simplesmente
entrincheirar os dois partidos no mesmo erro. Embora tendo simpatia pelas
idéias do grande reformador alemão, Martinho Lutero, e acreditasse que muitas
críticas de Lutero eram justas, Erasmo achava que o seu estilo de reforma de
Lutero corria o perigo de destruir toda a obra de tolerância, pela qual os
humanistas vinham se empenhando em conseguir, há tanto tempo. Inicialmente,
Erasmo havia visto Lutero e a reforma favoravelmente, mas, à medida em que as
coisas evoluíam, Erasmo não pôde se juntar a um movimento que havia falhado em
viver segundo os preceitos morais de Cristo: “Nunca esperei por moderação em
Lutero, mas também nunca estive preparado para uma calúnia tão maldosa” (1).
Finalmente, a Igreja pressionou Erasmo a opor-se publicamente à Reforma de
Lutero, o que ele fez, relutantemente, quando publicou, em dezembro de 1525,
sua obra “De Libero Arbitrio” (O Livre Arbítrio). Deste modo, ele pôde
demonstrar publicamente sua discordância de Lutero, sem criticar os seus
propósitos válidos. No livro, Erasmo definia o “livre arbítrio” como um “poder
da vontade humana, pelo qual o homem pode aceitar ou se afastar das coisas que
conduzem à salvação eterna”. Lutero respondeu com o livro “Bondage of the
Will” (Escravidão da Vontade), no qual ele rejeitava toda a idéia do livre
arbítrio, ensinando que o homem não tem poder em si mesmo para responder ao
Evangelho. Ele se queixou que Erasmo usou de excessiva eloqüência e não de
bastante substância em sua obra, dizendo: “Ninguém pode sobrepujá-lo. Você é
como uma enguia, que escapa pelos dedos, ou como o fabuloso Proteu, que muda de
forma, exatamente nos braços de quem deseja prendê-lo”. Erasmo foi
capturado entre dois partidos intolerantes. Os protestantes mantinham um amargo
ressentimento contra ele, enquanto os romanistas o tratavam com progressiva suspeita.
O sonho de Erasmo era unir a Cristandade, purgar a superstição e ver uma Europa
com amplo humanismo cristão, onde o amor, a alegria, a retidão e a justiça
prevalecessem. Desse modo, suas visões da reforma diferiam das de Lutero e isso
causou um rompimento entre eles.
Erasmo, o Erudito
Erasmo foi o gigante líder
intelectual e humanista da Renascença (2). Mesmo tendo produzido o primeiro
Texto Grego e reverenciado o ensino da Escritura, ele não acreditava na
inspiração do texto, do mesmo modo como seria mais tarde entendido pelos
evangélicos. Ele rejeitava a autoria paulina da Carta aos Hebreus e duvidava
que as pastorais tivessem sido escritas por Paulo. Ele acreditava que o
Evangelho de Marcos era uma sinopse do Evangelho de Mateus e não acreditava que
as narrativas dos evangelhos fossem infalíveis em seus detalhes. Contudo,
Erasmo acreditava e aceitava os fatos centrais do Evangelho, conforme
declarados no Credo dos Apóstolos.
O texto produzido por Erasmo foi
chamado Textus Receptus ou Texto Recebido. Ele tinha compilado
cinco manuscritos, a fim de produzir este texto. Ele produziu cinco edições
conjuntas, em 1516, 1519, 1522, 1527 e 1535. A primeira edição foi compilada
apressadamente, mas edições seguintes corrigiam quaisquer erros
insignificantes. Seu trabalho foi continuado por Robert Stephen, o qual tinha
16 manuscritos para embasar a sua obra. (3). Ele produziu as edições de 1546,
1550, 1551 e 1559. Entre 1559 e 1598, Theodore Beza, sucessor de Calvino,
produziu cinco edições. Ele possuía alguns manuscritos antigos aos quais
Stephen não teve acesso. Finalmente, os irmãos Elzevir produziram um
Texto Grego em 1624, o qual foi chamado de Textus Receptus. Desse modo,
na Europa, por Textus Receptus se entende esta edição, enquanto na
Inglaterra a edição de 1550 de Stephen é assim entendida. (4) Deveria ser
observado que a vasta maioria das diferenças nestas versões se referia à
pronúncia, acentuação, ordem das palavras e outras diferenças menores.
Pela primeira vez, a Europa estava de posse de um texto puro do Novo
Testamento. Contudo, sua obra foi severamente criticada pelos eclesiásticos
conservadores, quando estes começaram a verificar o efeito que ela estava
produzindo nas mentes do povo, quando as tradições seculares caíram rapidamente
sob o escrutínio do Evangelho verdadeiro. Eles o chamavam “Behemote” ou
“Anticristo”. E a Sorbone condenou 37 artigos extraídos dos seus escritos, em
1527 (5). Erasmo queixou-se: “Fiz o melhor que pude com o Novo Testamento,
mas ele provocou disputas intermináveis. Edward Lee (Arcebispo de York)
pretendia ter encontrado 300 erros. Foi nomeada uma comissão, a qual afirmava
ter encontrado coleções deles. Cada mesa de refeição badalava erros de Erasmo.
Eu, particularmente, os busquei, porém não encontrei” (6).
O texto de Erasmo muitas vezes tem sido também criticado por confiar fortemente
em relativamente poucos manuscritos antigos. Eruditos competentes têm desafiado
tais suposições, tanto no passado como em nosso tempo. Embora Erasmo estivesse
de posse de poucos manuscritos, contudo ele teve acesso a muitos outros. Ele
tinha acesso a cada biblioteca da Europa, inclusive a do Vaticano e a ele foram
entregues as leituras do famoso manuscrito Vaticanus (Codex B), sobre o
qual se embasa a moderna crítica dos textos gregos. Erasmo rejeitou suas
leituras por considerá-las corrompidas. Embora tenha sido originalmente escrito
no século IV, ele foi retocado alguns séculos depois, antes de cair em desuso.
Seu texto jamais foi comparado independentemente por qualquer outro manuscrito,
sendo que o mais próximo dele é o Alexandrino, do qual ele difere em
incontáveis lugares. Ele foi escrito em um Grego clássico e seus textos exibem
muitas marcas de corrupção e omissão. Em vez disso, Erasmo confiou nos
manuscritos orientais escritos no Grego comum do Novo Testamento e não usou a
tradução do Vaticanus. Outro texto grego chamado Complutensian
Polyglot, produzido pelo erudito espanhol Ximenes, antes de Erasmo, embora
publicado somente depois, continha virtualmente as mesmas leituras do Textus
Receptus, tendo usado os códigos antigos disponibilizados pela Biblioteca
do Vaticano. (7).
Erasmo havia examinado muitos manuscritos gregos e estava familiarizado com os
comentários e traduções de Orígenes, Cipriano, Ambrósio, Basil, Crisóstomo,
Cirilo, Jerônimo e Agostinho.
Embora os manuscritos possuídos por Erasmo fossem poucos, houve uma boa seção
de cruzamento da principal fonte dos textos gregos disponíveis. O
presidente do Comitê de Revisão de 1881, Bispo Ellicott, um crítico do Textus
Receptus, disse: “Os manuscritos que Erasmo usou, em sua maior parte,
diferem apenas em pequenos e insignificantes detalhes do âmago dos
manuscritos cursivos. O caráter geral dos textos deles é o mesmo. Por esta
observação, o pedigree do Textus Receptus vai além dos manuscritos individuais
usados por Erasmo... Esse pedigree recua à antiguidade remota. O primeiro
ancestral do Textus Receptus foi, pelo menos, contemporâneo dos nossos mais
antigos manuscritos existentes, se não mais antigo do que qualquer um deles”.
(8).
As duas primeiras adições omitiam a “Johannini Comma”, o verso da 1 João 5:7,
presente na Vulgata Latina, o qual falava das três testemunhas celestiais. Por
causa disso ele foi severamente criticado. Edward Lee, mais tarde Arcebispo de
York, o chamou ariano. Em resposta, Erasmo disse: “Teria sido negligência e
impiedade, se não consultei manuscritos que simplesmente não estavam ao meu
alcance? Pelo menos eu reuni tudo que pude conseguir. Que Lee produza um MS
Grego, que contenha o que minha edição não contém e que ele mostre que esse
manuscrito esteve ao meu alcance. Só então ele pode me censurar por negligência
em assuntos sagrados” (9). Desse modo, foi montado o palco para o que tem
se tornado o grande grito de batalha da crítica contra Erasmo: sua inserção do
Comma no seu texto embasado num manuscrito antigo. Ora, ele havia concordado em
colocar o verso numa futura edição, se o verso fosse encontrado em qualquer um
dos manuscritos gregos. (10). Um manuscrito grego (61) da Grã Bretanha contendo
o verso foi-lhe apresentado. Ele suspeitava que o manuscrito tivesse sido
escrito de propósito, mas fiel à sua promessa, as edições subseqüentes
continham o verso (11).
Erasmo, o crente
“Temos certeza da vitória sobre a morte, vitória sobre a carne, vitória
sobre o mundo e Satanás. Cristo nos promete remissão de pecados, muitos frutos
nesta vida e, portanto, vida eterna. E por qual razão? Por causa do nosso
mérito? Claro que não, mas através da graça da fé que está em Cristo Jesus... Cristo
é nossa justificação... Creio que existem muitos não absolvidos pelos padres,
não tomando a Eucaristia, não sendo ungidos, não tendo recebido sepultamento
cristão, que descansam em paz; enquanto muitos que receberam todos os ritos da
Igreja e tiverem um sepultamento próximo ao altar, foram para o inferno...
Corram para as Suas feridas e estarão seguros!”
Erasmo sucumbiu vítima de pedra, gota e disenteria, tendo falecido aos 70
anos de idade, em Basiléia, Suíça, no dia 12/07/1536. Quando estava morrendo,
ele disse estas palavras: “Ó Jesus, tem misericórdia; Senhor, me liberta;
Senhor, dá-me o fim; Senhor, tem misericórdia de mim!”
Erasmo foi sepultado na catedral protestante de Basiléia. Seu sepultamento
foi assistido por homens eminentes, tanto do campo católico romano como do
campo protestante.
autor desconhecido (copiado de http://SolaScriptura-TT.org/PessoasNosSeculos/ErasmusOfRotterdam-ROfLife.htm)
Traduzido por Mary Schultze, 24/12/2008.
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
(retorne a http://solascriptura-tt.org/ PessoasNosSeculos/
retorne a http:// solascriptura-tt.org/ )
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.