Compreendendo a NOVA ERA


 
capítulo “RELIGIÕES E IGREJAS




O Avery Fisher Hall, com 2738 assentos, no Lincoln Center, na cidade de Nova Iorque estava repleto – como de costume – para o culto das onze horas do domingo. Uma multidão de pessoas bem vestidas,  desde garotas adolescentes de mini-saia, até vovós elegantemente trajadas, estava reunida na expectativa de ouvir o Ver. Eric Butterworth,  o ministro esguio, de cabelos encanecidos, da retraída Igreja da Unidade. E, ele começou a falar, em tons gentis e reasseguradores.
 
É nosso propósito permitir que as pessoas descubram suas profundezas divinas, desafiando-as para que derrubem as barreiras e desvencilhem- se da preocupação e do temor”. E então, parafraseando Shakespeare: “Nada há de bom ou de mal que não seja produto do pensamento” (Jeffrey A Trachtenberg e Edward Giltenan, “Mainstream Metaphysics, “Forbes Magazine, 1 de junho de 1987, pág. 156).
 
Assim descrito pela revista Forbes, Butterworth, que dirige um programa de espetáculo diário pelo rádio e é autor de dez livros, incluindo os títulos Life Is for Living e Discover the Power Withing You, vende um produto muito procurado  nestes dias: auto-ajuda através do consciente espiritual.
 
A mensagem é simples: “Somente nós temos poder, dentro de nós mesmos, para solucionar nossos problemas, aliviar nossas ansiedades e dores, curar nossas enfermidades, melhorar nosso jogo de golfe e obter uma promoção” (Idem).
 
Portanto, no que consiste a Nova Era, ou o que há de novo nesse movimento? A mensagem de Butterworth é duplicada em milhares de casas de adoração, semana após semana.
 
Essa mensagem é bastante parecida com a da Igreja da Ciência Cristã, fundada por Mary Baker Eddy, em 1879, além de manter notáveis semelhanças  com o tema de auto-valorização do ministro Norman Vicent Peale, da Igreja Reformada da América, cujo livro, Power of Positive Thingking, fez sucesso imediato em 1952, e até aos nossos próprios dias.
 
Essa mensagem também é reverberada nas preleções e escritos de um outro ministro da Igreja Reformada, Robert Schüller, cuja gigantesca Catedral de Cristal, em Garden Grove, na Califórnia, tornou-se um sinônimo do “pensamento da possibilidade” . Desde que o ebuliente profeta da felicidade montou um teatro drive-in com lanches, com teto de encerado, em 1955, e lançou a primeira igreja em drive-in da nação, que funciona sete dias por semana, Schüller vem dizendo que a falta de auto-valorizaçã o separa o crente ordinário de um Deus todo-compreensivo.
 
Porém, se retrocedermos cento e vinte e cinco anos, acharemos o “pensamento positivo” nos escritos de transcendentalistas americanos como Henry David Thoreau (1817 – 1862), Ralph Waldo Emerson (1803 – 1882) e Walt Whitman (1819-1892), bem como em movimentos religiosos indígenas como o espiritualismo, a Unidade e o Novo Pensamento.
 
O “eu” do livro Leaves Of Grass, de Whitman, “torna-se uma incansável presença divina em todas as coisas, um gânglio de poder criativo que escava miríades de experiências em uma visão pessoal e cintilante” (Carl A Raschke, Interruption of Eternity: Modern Gnosticism in the Origins of the New Religious Consciousness, Chicago: Nelson-Hall, 1980, pág. 175). Emerson, influenciado pela literatura religiosa do hinduísmo, falava sobre a “super-alma” a força mística existente em toda a natureza e na personalidade humana”  , governada e trazida  à existência pela Mente.
 
Os transcendentalistas buscavam Deus na natureza. E tanto o transcendentalismo quanto o unitarismo exaltavam as potencialidades humanas – o impulso transcendental para a auto-realizaçã o que chegou a ser o sine qua non da moderna psicologia pop.
 
O transcendentalismo tomou os livros santos orientais, o Bhagavad Gita e o Upanishads, que pouco antes haviam sido traduzidos para o inglês, e criou o que o historiador de religiões, J. Gordon Melton, chamou de “uma forma singularmente americana de misticismo.. . o primeiro movimento religioso substancial na América do Norte com um componente asiático proeminente”. (Encyclopedic Handook of Cults in América, Nova Iorque e Londres: Garland Publishing, 1986, pág. 108).
 
Em termos religiosos, a teologia da “cura pela mente”, com freqüência “vincula a mente pessoal e finita com a Mente divina ou transcendental, que haverá de assimilar forçosamente a consciência ordinária”, segundo escreveu Carl Raschke (Interruption  of Eternity, pág. 178) .
 
O movimento do New-Thought, que se vale tanto da sabedoria vedanta hindu quanto da filosofia de Emerson, rebentou em denominações como aquelas chamadas Divine Science Church, a Church of Religious Science e a Unity School of Christianity.
 
Adicionemos a isso a onda do espiritismo, a preocupação do ocultismo com as comunicações entre os vivos e os mortos que varreu a nação como um incontrolável fogo de palha, na década de 1850. Juntamente com o eclético New Thought, o espiritismo contribuiu de modo decisivo para o surgimento do gnosticismo de variedade norte-americana, que alguns historiadores pensam estar dando frutos maduros somente agora, no movimento da Nova Era da década de 1980.
 
Vamos sondar um pouco as esdrúxulas noções orientais e de ocultismo da volátil mística russa, Helena Blavatsky, cujo livro Isis Unveiled, publicado em 1877, divulgou “doutrinas secretas” que lançaram os alicerces para a teosofia. A “verdade velada” de madame Blavatsky declarava a capacidade da alma humana tornar-se Deus, mediante um conhecimento interior crescentemente refinado, “até ser engolfado pela grande visão cósmica da realidade”. (Citado por idem, pág. 197). Ela ensinava que “antigos mestres ascendidos” guiam o destino da humanidade.
 
A teosofia, o espiritismo e o New Thought estilhaçaram- se em facções quando Blavatsky morreu, em 1891. E Alice Bailey, uma influente e prolífica escritora, abandonou a Sociedade Teosófica a fim de formar a Arcane School (Escola para Estudos Esotéricos), no começo do século XX. Talvez ela tenha sido a primeira autora a usar as palavras “Nova Era”, a fim de descrever as forças que geraram o “movimento”; essa expressão figura na nona página de seu livro de 1948, Reappearance of the Christ. Entrementes, a herdeira nomeada por Blavatsky, Annie Besantque ensinava que cada pessoa é o resultado de seu próprio ato de “auto-criação”nomeou o mestre indiano, Krishnamurti Jeddu, como a corporificação da visão teosofista de um novo mestre religioso mundial. Mas o desiludido Krishnamurti posteriormente abjurou do papel que lhe fora imposto.
 
Então, na década de 1930, Guy Ballard fundou o movimentoEu Sou”, que serviu de modelo para a Igreja Universal e Triunfante, de Elizabeth Clare Prophet, fundada na década de 1960.
 
Essa história comprimida enfoca os precursores do movimento da Nova Era, relembrando- nos que uma grande diversidade de organizações, como igrejas neo-pagãs, metafísicas e espiritualistas, como também a Sociedade Teosófica – que atualmente está desfrutando de uma espécie de renascença – e o Universalismo – Unitário, tem modelado a corrente principal da religião norte-americana, ao mesmo tempo em que tem sofrido a influência dessa religião, ao longo de um período de tempo comparativamente extenso.
 
Por um lado, motivos da Nova Era estão sendo abertamente adotados por algumas alas da cristandade liberal; e, por outro lado, o movimento da Nova Era está “sugando, como um buraco negro, muitas das mais familiares doutrinas e ortodoxias, religiosas e políticas, das igrejas liberais dos últimos vinte anos” , conforme explica Carl Raschke (em entrevista concedida ao autor, em Denver, Colorado, a 2 de dezembro de 1987).
 
Ao mesmo tempo, grupos metafísicos simpáticos à Nova Era, com freqüência cooptam a linguagem e as armadilhas das igrejas cristãs tradicionais, assim fazendo os recém-chegados sentiram-se mais à vontade em sua transição para formas alternativas de crenças e práticas.
 
Por exemplo, O Instituto de Metafísica de Los Angeles, fundado em 1976 por James Thomas, pôde anunciar-se como um dos centros do movimento da Nova Era, ao mesmo tempo em que mantém um programa de festas ruidosas onde são recolhidos fundos, com “a música despertadora do evangelho dos velhos tempos... que exibem figuras como a pastora Ketina Brown e o bispo James Davis”. (Notícia divulgada em novembro de 1987, pelo Instituto de Metafísica de Los Angeles, Califórnia).
 
Enquanto isso, a ex-senhora Califórnia, casada por quatro vezes, Terry Cole-Whittaker, que foi ordenada pela Igreja da Ciência Religiosa, em Los Angeles, pôde despedir-se de sua congregação gigante de San Diego, retirar o título de “reverenda” que lhe antecedia o nome, e proclamar um individualismo saudável e rico (“Seja seu próprio guru”), por meio de sua Fundação de Aventuras na Senda da Iluminação – sem jamais perder o ritmo e sem perder ao menos um de seus seguidores. A agora leiga Cole Whittaker insiste em que, apesar de ter-se despido de sua manta religiosa, o seu trabalho continua sendo “espiritual” (Armando Acuna, “Cole-Whittaker Returns to Conduct “Spiritual Tours”, Los Angeles Times, edição de San Diego, de 28 de fevereiro de 1986, col. 2 pág.1).
 
Na década de 1980, as técnicas de auto-aprimoramento, visualização e fantasia controlada – incluindo a ioga meditacionalconseguiram afetar muitas denominações protestantes liberais, alguns círculos católicos-romanos, e não poucas igrejas cristãs pentecostais/ carismáticas conservadoras. (Examinaremos mais de perto as tendências da oração visualizada, das “curas interiores”, e das “curas de memórias” (no vigésimo-século capítulo).
 
A ala reconstrucionista do judaísmo também tem aberto os braços para as idéias da Nova Era. E a fé Baha’i, uma religião mundial independente que ensina a evolução espiritual da sociedade humana e da unidade de Deus e de todas as religiões, selecionou algumas idéias da Nova Era, no campo da ciência mística, promovendo-as em conferências e em diálogos entre cientistas e eruditos do grupo Baha’i (Baha’i International Comunity, Office of Public Information, Nova Iorque, 9 de Outubro de 1987, notícia veiculada). Através dos anos, a Associação Unitária – Universalista, uma denominação destituída de credo, tem exercido uma poderosa influência sobre a política, a ciência, as artes e as letras da América do Norte, ao mesmo tempo em que mantém uma autêntica lista de “Quem é Quem” de figuras notáveis do movimento. Ainda recentemente, enamorou-se da “nova física”. O presidente dessa associação, William F. Schulz declarou que está aumentando o reconhecimento do paralelo entre o misticismo oriental e a física ocidental, nos círculos da Associação-Universali sta. Ele e um outro elemento dessa associação cada vez mais compartilham da visão global monista do físico Fritjof Capra, que diz que todas as coisas estão relacionadas em uma “ecologia em profundidade” do “Um divino” (William F. Schlz, entrevista ao autor, em Pasadena, Califórnia, a 14 de fevereiro de 1986).
 
A Igreja Católica Romana também tem servido de solo fértil para a teologia e para os pressupostos associados ao movimento da Nova Era.
 
O psicoterapeuta judeu, Ira Progoff – lisonjeado por sua organização como “o Freud de nossa época” e como “o Einstein da psicologia” -  tem conseguido grande penetração por meio de seus seminários de “Jornalismo Intensivo.” Cerca de trinta e cinco por cento deles são efetuados sob auspícios romanistas, incluindo sessões em mosteiros e centros de retiro. E outros trinta e cinco por cento dos quatrocentos seminários que ele e seu grupo de cento e vinte e cinco líderes efetuam pelo país inteiro, a cada ano, são patrocinados por outros grupos religiosos ou igrejas.
 
Com base em orações, meditação e exercícios de escrita (psicografia), os intensivos seminários de Progoff entram em contacto com “uma qualidade de sabedoria que está em nós, mas também além de nós... uma expressão do contacto com um nível de profundidade onde sentimos verdades que, em seu significado, são mais amplas do que se fossem pessoais”. Aos participantes é dito que meditem sobre alguma auto-escolhida “mantra cristal”, uma frase curta que visa a criar um “ritmo pendular” e expressar “a essência cristalizada da vida e da experiência de vocês”. (Dialogue House/National Intensive Journal Workshop, Los Angeles, Califórnia, 15 de maio de 19981.
 
Em uma entrevista, Progoff insistiu em que a técnica é teologicamente neutra, não estando limitada por qualquer doutrina ou conceito religioso em particular. Mas segundo ele disse, há uma dimensão sobrenatural: uma “Pessoa sábia” toca na pessoa que medita com uma verdade, na “corrente interior” do ser da pessoa. (Ira Progoff, entrevista por telefone com o autor, a 17 de maio de 1981).
 
Wabun, um associado do místico nativo americano, o mestre Sun Bear, expõe as preocupações ecofeministas da Nova Era a grupos católicos e outros. Ela disse que falou a um grupo de três mil mulheres católicas, em 1987, “as quais estão agora desafiando o patriarcado da Igreja” (Bear Tribe Medicine Society Workshop, Medicine Wheel Gathering, Santa Mônica Mountains, Califórnia, 31 de outubro de 1987).
 
Um dos elos mais controvertidos entre o misticismo oriental e a cristandade é certa “espiritualidade criativa”, desenvolvida pelo padre dominicano Matthew Fox, de Oakland, Califórnia. Além de opiniões  similares às da Nova Era, sobre o caráter sagrado da natureza, a espiritualidade criativa postula a visão global místico-cientí fica da Nova Era e a evolução do consciente projetada pelo padre jesuíta Pierre Teilhard de Chardin.
 
Com um estilo popular e casual, Fox fala por muitas vezes em conferências em igrejas e ensina em seu Institute in Culture and Creation Spirituality, no Colégio Holy Names de Oakland, embora esteja sob investigação do Vaticano, por motivo de possíveis heresias em seus copiosos escritos. (Quando este livro estava sendo escrito, Fox disse que seu caso ainda continuava pendente, mas negou que suas obras não sejam ortodoxas).
 
Entre o corpo docente do instituto Fox, em Oakland, há uma mulher que se declara bruxa e se diz chamar Starhawk, que dá aulas de ritos, sexualidade e espiritualidade de religiões nativas, e que se declara especialista na Bíblia, físico, massagista, terapista gestalt e mestre de danças africanas.
 
Fox, que afirma que “noventa e oito por cento dos eruditos da Bíblia concordam comigo... que precisamos voltar à ‘bênção original’, e não ao ‘pecado original’”, com freqüência refere-se a Deus chamando-o de “Ela”, além de afirmar crer no panenteísmo, que ele descreve como a posição que diz que “tudo está em Deus e Deus está em tudo”. (Ele rejeita o panteísmo, que afirma que “tudo é Deus e Deus é tudo”). (Russell Chandler, “Oakland Priest May Be Next in Line for Vatican Censure”, Los Angeles Times, 20 de dezembro de 1986, col. Pág. 1). 
 
“A religião poderia estar desempenhando um papel fundamental no campo das curas e anunciando as boas-novas, ao invés de preocupar-se com o controle de natalidade e com agendas antropomórficas” , declarou o padre de voz suave, com um leve tom de travessura, enquanto dialogávamos ao lado de uma lareira crepitante, na sala da Igreja Episcopal de Todos os Santos, em Beverly Hills, onde ele estava prestes a iniciar um seminário de fim de semana. (Idem).
 
Uma das indicações que a teologia relacionada à Nova Era está influenciando fortemente o mundo das religiões organizadas é o fato de que metade dos estudantes que freqüentavam o instituto Fox procede das comunidades religiosas católicas-romanas; os demais vêm, quase sempre, dentre os “inquiridores religiosos” de todas as outras fés, da classe média, desde donas de casa até clérigos episcopais (estatísticas de 1986).
 
Mas a tenda da Igreja não tem sido invadida por monstro maior do que aquele compêndio em três volumes, com um total de mil e duzentas páginas, publicado pela Nova Era, intitulado A Course in Miracles. No espaço de doze anos, o que começou como um obscuro manuscrito foi-se tranqüilamente transformando em um fenômeno de ensino que atingiu vendas de mais de meio milhão de cópias, produzindo a criação de centenas de grupos de estudos em igrejas, instituições e lares por toda a América do Norte. Somente no sul da Califórnia, cento e cinqüenta e três classes separadas, que estudam “A Course in Miracles”, estavam funcionando em setembro de 1987. Catorze dessas classes estavam operando somente em San Diego! Coleções de texto, sob forma de manuais do aluno ou manuais do professor, ocupam as prateleiras das principais cadeias de livrarias (se antes o preço era de quarenta dólares, agora há uma oferta de capa mole a vinte e cinco dólares por coleção). E seus ensinos estão firmemente entrincheirados nos círculos da Nova Era.
 
Minha esposa, Marjorie Lee, e eu guiamos até Tiburon, uma comunidade no condado de Marin, uma lindíssima enclave logo ao norte da ponte Golden Gate, em um radioso dia, em novembro de 1967, para nos encontrarmos com os principais atores do drama que se está processando. Tiburon é uma pequena comunidade-dormitó rio para artistas e pessoas abastadas, que fica a um curto lance coberto por barcas, do outro lado da baía, de onde se enxergam os arranha-céus do centro da cidade de São Francisco. É  o tipo de localidade cujos habitantes compreendem e apreciam o senso de humor do movimento da Nova Era, como a tabuleta afixada na entrada da loja de presentes da rua principal: “Roubar a loja faz o seu karma merecer o inferno”.
 
Em primeiro lugar, paramos no Centro de Cura de Atitudes, do Dr. Gerald C. Jampolsky, que esse psiquiatrae também autor de um sucesso de livraria, Love Is Letting Go of Fear  - fundou em 1975, em resposta a uma visão que ele teria recebido enquanto estudava o manual “A Course in Miracles”. (A obra foi oficialmente publicada por outros, um ano mais tarde). Atualmente, quarenta e cinco de seus centros enxameiam o mundo, ajudando crianças e adultos a enfrentarem enfermidades que ameaçam a vida, além de outras crises, tudo inteiramente grátis.
 
Jampolsky, que já foi um ateu militante de origem judaica, tem-se recuperado de uma vida destroçada por um divórcio e pelo alcoolismo. Os princípios de suas terapias incluem: “amor, perdão e maneiras de obter a unidade com Deus e com outras pessoas... Não podemos sentir a paz de Deus enquanto dermos lugar ao temor e aos sentimentos negativos”, disse ele, estando nós sentados em seu escritório, na sede compacta do centro, defronte do embarcadouro.
 
Por detrás da escrivaninha de Jampolsky há um cartaz grande que sumaria a “cura atitudinal”: “A verdadeira amizade é um estado de bem-aventuranç a onde vemos somente o eu de Deus uns nos outros; é um estado de conhecimento interior de que estamos sempre ligados pelo amor, uns com os outros e com Deus, para sempre”.
 
Jampolsky, que já se apresentou em espetáculos como o “Phil Donahue Show”, “Today”, “60 Minutes” e “Hour of Power”, de Robert Schüller, e que já falou diante de uma boa variedade de grupos religiosos denominacionais, disse que em seus centros não se faz uso dos materiais do “Course in Miracles”, em seus programas de tratamento. E acrescentou: “Eu mesmo não usaria a expressão Nova Era”.
 
No entanto, Jampolsky escreveu queThe Course”, conforme usualmente é referido, é inegavelmente “um sumário da cura pelas atitudes”. E também: “Uma única Fonte une todas as mentes” (Gerald G. Jampolsky, Teach Only Love, Nova Iorque: Bantam Books, 1983, págs. 25 e 40).
 
No texto desse manual, li que Jesus fala na primeira pessoa do singular, e que isso “apresenta o homem à sua natureza divina” (Tara Singh, How to Learn from a Course in Miracles, Los Angeles: Life Action Press, 1988, pág. 17) Também fiquei sabendo que, em 1965, a psicóloga judia, Helen Schucman, empregada no Departamento da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, começou a “ouvir” aquela voz inaudível em sua cabeça e começou a ditar uma abrangente mensagem que prosseguiu por nada menos de sete anos. Declarando-se atéia e escritora relutante, não obstante Schucman anotou as revelações que detalham uma nova espécie de salvação metafísica, tipo “Novo Pensamento”, que a pessoa obteria por meio de seus próprios esforços.
 
Disse ela a seu colega, William Thetford, que era então professor de psicologia médica em Colúmbia, e que mais tarde se tornou colaborador e editor do material do Curso: “Você sabe sobre aquela Voz interior – ela não me deixa sossegada! Ela continua dizendo: “Este é um curso em milagres. Por favor, anote” (Robert Skutch, Journey without Distance: The Story behind a Course in Miracles, Berkeley, Califórnia: Celestial Arts, 1984, pág. 54). Na manhã seguinte ela mostrou a Thetford suas anotações taquigrafadas, que se tornaram a introdução do texto:
 
Este é um curso sobre milagres. Um curso requerido.
Só o tempo que você empregar será voluntário...
Este curso pode ser sumariado deste modo:
Nada que seja real pode ser ameaçado.
Nada existe que seja irreal.
Nisso consiste a paz de Deus.”
 
Mas se os ensinos do Curso são complexos, misteriosos e vasados em uma terminologia cristã com uma aplicação psicológica, o âmago da revelação canalizada de Schucman é que cada pessoa é Deus; que o universo é uno; que o mal é uma ilusão – uma espiritualidade que se ajusta às mil maravilhas com o antigo Vedanta  não-dualista do hinduísmo, e também com os princípios basilares da moderna Nova Era.
 
Kenneth Wapnick, que já foi um monge católico, mas criado como judeu, tornou-se um dos principais intérpretes do Curso. Além de vários livros que expõem seus ensinos, ele organizou uma fundação com o propósito de disseminar a mensagem do Curso, Wapnick, residente em Westchester, Nova Iorque, mostra-se franco ao dizer que o Curso é incompatível com o cristianismo bíblico – embora também tenha asseverado que há muitas veredas que conduzem a Deus, incluindo o cristianismo, e que, “no fim, todas as teologias serão derrubadas, e o que restará será somente o amor de Deus” (Dean Halverson. “A Matter of Course: Conversation with Kenneth Wapnick”, Spiritual Countefeits Project Journal 7, n. 1, 1987, pág. 16).
 
Em uma longa entrevista dada a Dean Halverson, que na época era pesquisador da Spiritual Counterfeits Project, Wapnick explicou por que o cristianismo bíblico é antitético aos ensinos enunciados pelo “Jesus”  do Curso:
 
Existem três razões básicas. Uma delas é a idéia do Curso de que Deus não criou o mundo. A segunda é o ensino do Curso de que Jesus não foi o único Filho de Deus. E a terceira envolve a afirmação do Curso de que Jesus não sofreu e morreu por nossos pecados... porque uma vez que se encare a morte Dele por esse ângulo, então vê-se a realidade do pecado. Uma vez firmado a realidade do pecado, será preciso expiá-lo. Mas a idéia inteira do Curso é de que o pecado é uma ilusão!
 
A Bíblia ensina que Deus criou o mundo e declarou ser ele muito bom. O Curso ensina que Deus não criou este mundo, mas que o “ego” o fez, e que isso é uma ilusão.
 
O Curso ensina que devemos perdoar a nossos irmãos por aquilo que eles não fizeram contra nós, e não por aquilo que eles fizeram...
 
O que eu faço com a minha culpa é projetá-la contra o próximo. E então ataco o próximo. Quando perdôo ao próximo e corrijo minha percepção errada sobre o próximo, o que significa que agora vejo o próximo como inocente, então estou fazendo a mesma coisa sobre mim mesmo. E isso me perdoa de minha culpa... Portanto, perdoar consiste basicamente em ver o nosso próprio “eu” como destituído tanto do pecado quanto da culpa...
 
O Curso ensina que todos somos, igualmente, Cristo. A única diferença é que Jesus foi o primeiro a relembrar quem ele era...
 
O ponto crucial da questão inteira é que o nosso relacionamento com Deus nunca foi impedido. Somente em nossa maneira de pensar é que está impedindo. Para o Curso, o pecado realmente nunca aconteceu...
 
A definição do Curso sobre a ressurreição difere muito da definição cristã tradicional. Não é o corpo que ressuscita. Ali a ressurreição é definida como despertar do sonho da morte...
 
Algumas porções da Bíblia são oriundas do Espírito Santo. Mas outras partes procedem do “ego” (Idem, págs. 11-17).
 
Sintetizando, este é o lado de Helverson, na entrevista: “Apesar de haver similaridades superficiais entre o Curso e o cristianismo, os dois sistemas não poderiam ser mais opostos um ao outro”. A Bíblia fala da pecaminosidade dos homens, que estão separados de Deus e precisam de reconciliação por meio da obra expiatória de Jesus Cristo. O Curso rebate tais ensinos, ao dizer que eles não têm origem em Deus, mas no “ego” separatista, amaldiçoado pelo senso de culpa
Qualquer pessoa que acredita que o Curso é compatível com o cristianismo ou não entende o curso, ou não entende o cristianismo, ou nenhuma das duas coisas” (Dean Halverson, “A Course in Miracles: Seing Yourself as Sinless”, Spiritual Counterfeits Project Journal 7, n. 1, 1987, pág. 23).
 
Nossa própria parada, naquela tarde de novembro, foi a bela residência de Robert e Judith Skutch, na vertente de uma colina de Tiburon. A Foundation for Inner Peace, uma organização fins lucrativos que eles encabeçam, publica a obra A Course In Miracles. Vestido em malha de lã e calçando mocassins, Bob Skutch mostrou-me sua pitoresca sala de estar, onde um gigantesco cristal transparente é iluminado por raios de luz que passam por uma janela panorâmica que dá frente para a baía Marin.
 
Bob, ex-copirraiter de televisão, e Judy, que há muitos anos está interessada no estudo da paranormalidade, da visão remota e da fotografia kirliana, têm-se tornado os guardiões oficiais do legado de Schucman e de sua “voz interior”. (Schucman faleceu em 1981). O casal Skutch promove sem estardalhaços o Curso e supervisionam a sua tradução para onze idiomas diversos e coordenam sua distribuição a uma teia crescente e informal de professores e grupos de estudo. E Bob esclareceu que certos grupos eclesiásticos – particularmente a Unidade e a Ciência Religiosa, e alguns grupos episcopais, metodistas e presbiterianos – estão entre eles.
 
Algumas vezes, Judy conferencia acerca do Curso, mas o casal Skutche não encabeça nenhum culto organizado. E não estão dirigindo qualquer campanha comercial lucrativa, nem algum esquema organizacional altamente centralizado. Eles pensam que assim é que Helen Schucman gostaria que o movimento continuasse.
 
Gesticulando na direção de uma saleta na parte de trás, disse Bob: “A parte administrativa e o correio vêm para cá”. E acrescentou que as decisões são tomadas “por meio de orações”, orações essas que ele definiu como “dar ouvidos ao Espírito interior, ao Mestre, ao Espírito Santo, ou sabe lá o que”.
 
Observei que tínhamos visto a prisão de San Quentin, achatada em uma ponta de terra que fica do outro lado da baía, defronte da residência deles. E Bob observou que, realmente, quatro grupos de prisioneiros, dentro daquela prisão de segurança máxima, estavam correntemente estudando o Curso.
 
E ele respondeu: “Eles criaram o mundo que têm preferido”. Tudo é ilusório, exceto o mar. Deus não criou a matéria – nada, nada. A matéria é uma ilusão.






Russel Chandler

Escritor e Jornalista do Los Angeles Times.
Extraído do livro “Compreendendo a Nova Era” , editora Bom Pastor – 1988, traduzido pelo Pr. João Marques Bentes.
Este capítulo foi digitado por Elizabeth Figueiredo e publicado no grupo Espada.



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