Macumba Pega No Cristão?


Por Vinicius Couto


A crença de que crentes estão sendo atacados por trabalhos de macumba, mau-olhado, despachos ou coisas assim, é muito comum. Vez ou outra, aparece alguém perguntando se o cristão pode “pegar” macumba. Esse “pegar” dá a ideia de adquirir uma doença, uma maldição ou algo parecido. É como se o feitiço lançado fosse propagado por um canal invisível e atacasse o casamento, as finanças, a saúde, a família, entre outras áreas, assim como o vírus da gripe, que entra no organismo humano pelas vias respiratórias e ataca o funcionamento regular do corpo. Milhares de brasileiros têm essa mesma dúvida e não são poucos os que se perguntam: “O que é macumba? Ela funciona? O cristão pode ser alvo de macumbaria? Ela terá efeito na vida dele? O que a Bíblia tem a dizer de tudo isso?”. São questionamentos que assombram muitos cristãos e pretendemos, nesta oportunidade, com a ajuda de Deus, saná-las!

O que é macumba?
A definição de macumba não é fácil de se conseguir. A ideia popular, normalmente, está associada a feitiços, trabalhos para atrasar a vida de alguém, despachos, mandingas, entre outras coisas do tipo. A ideia geral da sociedade é que a macumba é algo malévolo, maligno e, até mesmo, diabólico. Oliveira sugere que esta fama ruim possa ter sua origem na provável “associação ao adjetivo feminino de mau: ‘má’”. Na visão dele, se fosse, então, “boacumba”, a religiosidade afro-brasileira poderia ter tomado outro rumo.
Não há um significado concreto para o termo macumba, etimologicamente falando. O wiktionary sugere que o termo, talvez, venha do quimbundo (idioma banto falado na Angola), significando ma (“o que assusta”) e kumba (“soar assustadoramente”). Quando se fala nesse assunto, generaliza-se, portanto, todas as religiões afro-brasileiras em um único termo: macumba. A ideia geral também é que essas religiões trabalham com feitiçarias, magias, encantamentos, consulta a mortos, bruxarias, vodus e coisas assim.
A ideia não está totalmente errada. Champlin explica que as religiões praticantes de magias e feitiçarias partem da ideia de “que certas pessoas têm a capacidade de manipular poderes sobrenaturais, para que possam alterar, para melhor ou para pior, a sorte de alguém, tanto do próprio indivíduo como de outras pessoas”. 
Certo representante do candomblé, por exemplo, publicou um livro em que traz ensinamentos sobre como prejudicar outras pessoas por meio de feitiços e encantamentos. Alguns desses feitiços, seriam: colocar uma pessoa louca, destruir, arruinar, colocar feridas, causar separações matrimoniais, fazer perder tudo o que se tem, fazer ir embora, fazer vingança e, até mesmo, matar.
Gaarder comenta que o candomblé não é uma religião ética, mas mágica e ritualística. Nela, não há a ideia de salvação da corrupção do pecado e muito menos há espaço para negação deste mundo em prol de uma vida eterna. “No candomblé, o que se busca é a interferência concreta do sobrenatural ‘neste mundo’ presente, mediante a manipulação de forças sagradas, a invocação das potências divinas e os sacrifícios oferecidos às diferentes divindades, os chamados orixás”. 
Embora o candomblé adote a prática de fazer o mal explicitamente, Lourenço Braga alega que a umbanda se dedica à prática do bem (magia branca), ao passo que a quimbanda se dedica à prática do mal (magia negra). 
O esforço de Braga cai por terra após o relato de Camargo, segundo o qual, os espíritos maus, que ele chama de “quimbandeiros”, são mais fortes do que os “bons”. E diz que, às vezes, os umbandistas têm necessidade de apelar para aqueles. 
O dicionário Melhoramentos define macumba como candomblé, feitiçaria e, ainda, como um instrumento de percussão dos negros. Trindade, sacerdote umbandista, explica que uma das possibilidades para a origem da macumba, talvez, seja a ligação que as pessoas fizeram dos praticantes das religiões afro com o instrumento predominante de suas religiões. Ou seja, como na maioria das religiões afro usava-se o instrumento de percussão “macumba”, e quem os tocava eram “macumbeiros”, daí a fama popular genérica de que todas as religiões afro sejam “macumba”.
A macumba, também, é popularmente associada ao feitiço. Quando alguém diz: “Fizeram uma macumba para meu vizinho”, tal pessoa está, na verdade, dizendo que fizeram um trabalho de feitiçaria (macumbaria) contra aquela pessoa.

A macumba na sua forma primitiva
De acordo com Oliveira, alguns pensadores da religião acreditam que a umbanda deriva-se dos cultos hindus e egípcios, além de outros povos da antiguidade. Champlin comenta que “a magia desempenhava um papel dominante nas religiões da Babilônia, do Egito, de Roma, do hinduísmo brâmane e nas formas tântricas, tanto do hinduísmo quanto do budismo”. 
Lourenço Braga definiu a umbanda da seguinte forma: “É magia, e fazer magia é saber jogar com as forças ocultas existentes no Universo, quer sejam providas de espíritos de categoria diferentes, quer sejam de vibrações oriundas de planetas, em ondas diversas; quer sejam emanadas dos corpos fluídico, eletrônico, gasoso, líquido e sólido; quer sejam provindas dos seguintes elementos: éter, fogo, ar, água e terra, por intermédio dos elementais etéreos, salamandras, silfos, ninfas e gnomos”. 
Partindo do pressuposto de que a “macumba” é um sistema de crença animista, fetichista e espírita, suas formas primitivas, por assim dizer, podem ser encontradas em alguns relatos bíblicos das religiões babilônicas e egípcias.
Essas religiões atuavam com técnicas práticas, cerimoniais e combinadas entre as duas, semelhantemente à macumba moderna. Na magia prática, o indivíduo executava algo que foi declarado pelo feiticeiro ou sábio e realizava certos atos, como, por exemplo, banhos com ervas, entrega de oferendas e uso de poções. Na magia ritualística, havia encantamentos e agouros, algumas vezes acompanhados por ritos sacrificiais elaborados. Para esses rituais, divindades, demônios, forças cósmicas, forças da natureza, entre outras, eram invocados como auxílios. Acreditava-se, ainda, que certas palavras revestem-se de poder, e, também, que certas orações ou declarações atrairiam os poderes superiores. 
No Egito, a crença mística, envolvida nos encantamentos e fórmulas mágicas, era grande. Champlin comenta de um manual de instruções mágicas, intitulado Instruções para o rei Merikare (datado, aproximadamente, de 2200 a.C.). Segundo ele, esse manual “é um bom exemplo das antigas fórmulas mágicas egípcias”. As técnicas medicinais também faziam parte do sistema egípcio de crença. Seus mágicos eram conhecidos como homens santos e operadores de prodígios. 
Biblicamente, podemos ver esses fatos no episódio em que Faraó sonhou com as sete vacas magras e as sete vacas gordas, bem como com as sete espigas boas e as sete secas. Como narra o texto sagrado, antes de ter a interpretação de seu sonho pelo patriarca José, Faraó recorreu aos magos do Egito (Gn 41.24). 
Nos dias de Moisés, ele e seu irmão foram visitar Faraó, a fim de que o monarca libertasse o povo hebreu. Chegando lá, Arão lançou sua vara no chão e ela se transformou em serpente. Um sinal como esse poderia espantar qualquer um que não estivesse envolvido com magia, porém, para o Faraó, aquilo não era nenhuma novidade, tanto é que ele chamou seus feiticeiros, que reproduziram tal transformação material por meio de seus encantamentos (Êx 7.10,11). 
Balaão ficou entusiasmado com a recompensa financeira prometida por Balaque. Enquanto se dirigia para encontrar-se com o rei de Moabe, sua jumenta lhe deu trabalho todas as vezes que se desviava do Anjo do Senhor, por isso, Balaão a espancou repetidamente. A jumenta teve a boca aberta pelo Senhor e questionou as agressões de seu dono, perguntando: “Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?”. Ryrie comenta que Balaão, provavelmente, tenha tido envolvimento com rituais de feitiçaria, pois não se assustou um pouco que fosse com o fato de sua jumenta ter falado. 
Nas religiões assírias e babilônicas, os deuses eram invocados por meio de fórmulas mágicas. Acreditava-se que, por encantamentos, Marduque exercia seu poder com mais força do que qualquer outro deus ou deusa. Nos dias de Daniel, podemos ver Nabucodonosor, rei da Babilônia, ficando perturbado por conta de alguns sonhos. Nenhum mago, adivinhador ou encantador teve a capacidade de revelar qual era o seu sonho, tampouco seu significado. Apesar da ineficácia dos rituais desses homens e de suas entidades, Daniel disse que “há um Deus no céu, o qual revela os mistérios” e, desta forma, contou-lhe o sonho e seus significados escatológicos (Dn 2).

A origem da macumba
As religiões afro-brasileiras tiveram sua origem no sincretismo das religiões africanas, ameríndias e católicas. É difícil precisar a enorme variedade dessas religiões. Entre as principais, podemos destacar o babaçuê, (jeje-nagô), batuque, candomblé, culto aos egunguns, culto de ifá, pajelança, catimbó-jurema, omolokô, xangô do nordeste, xambá, umbanda e quimbanda. Em contrapartida, é muito fácil fazer confusão com essas religiões, pois suas crenças são aparentemente parecidas, talvez, aí, esteja a razão pela qual se chama genericamente todas essas religiões de macumba.
Bastos reforça essa similaridade dizendo que “os cultos afro-brasileiros disseminados no Brasil tomam nomes diferentes, pouco se distinguem entre si pelos ritos admitidos, pelas divindades ou categorias protetoras ou pelas finalidades a que se destinam. De maneira geral, se confundem”. Segundo ele, o que é candomblé na Bahia é o mesmo que xangô em Pernambuco e Alagoas, canjerê em Minas, no Pará e no Rio Grande do Sul, babaçuê no Norte, encanteria, cabula ou tambor de mina no Maranhão, cambinda, linha de mesa ou catimbó no Nordeste e macumba, no Rio de Janeiro.
De acordo com Lima, a formação da macumba brasileira ocorreu a partir do sincretismo do fetichismo africano, oriundo das culturas sudanesas e, também, do bantu, do fetichismo ameríndio, com suas lendas e entidades míticas; do espiritismo kardecista, com a ideia da transmigração de almas e o conceito de mediunidade; e do catolicismo europeu, na apresentação dos santos e crendices populares. 
O sincretismo católico ocorreu por causa da perseguição que os escravos sofreram durante a era Brasil colônia, devido às suas crenças. Uma vez que a missão jesuítica era estabelecer o cristianismo romano, os escravos associaram seus orixás com os santos católicos, e essa tradição perdura até hoje. Como exemplos, podemos citar a fusão de Oxalá em Jesus, Oiá em Santa Clara, Oxum em Aparecida, Oxumaré em São Bartolomeu, Oxóssi em São Sebastião, Obá em Santa Joana D'Arc, Xangô em São Jerônimo, Ogum em São Jorge, Iansã em Santa Bárbara, Iemanjá em senhora da Conceição, senhora da Glória e/ou senhora dos Navegantes e Nanã em Sant’Ana.
Gaarden assevera que “as religiões afro-brasileiras formaram-se em diferentes regiões e Estados do Brasil e em diferentes momentos da nossa história. Por isso, elas adotam não só diferentes formas rituais e diferentes versões mitológicas derivadas de tradições africanas diversificadas, mas, também, nome próprio diferente”. 
Ainda conforme Gaarden, as nomenclaturas diferenciadas regionalmente seriam: o candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba (posteriormente, umbanda) no Rio de Janeiro.
A “macumba umbandista” vem da mitologia Iorubá. Os iorubás compreendem a região Sudoeste da Nigéria e as partes adjacentes do Benin e Togo. O tráfico de escravos, na época da colonização brasileira, principalmente da região citada, contribuiu para a formação das religiões afro-brasileiras.
Conforme relata Almeida, “os iorubás acreditam num criador supremo, chamado Olodumare ou Olorun, que, além de criar o céu e a terra com todos os seus habitantes, criou as divindades (orisa ou imole) e os espíritos (ébóra)”. Esses seres (divindades e espíritos) são de naturezas diversas. “Alguns estão com o Criador desde o princípio, antes da criação da terra, e são chamados de divindades primordiais. Outros são figuras históricas de reis, heróis, guerreiros, etc., que se transformaram em orixás por seus feitos. Há, ainda, aqueles que representam elementos da natureza: árvores, rios, lagos”. 
A crença iorubá era uma espécie de henoteísmo com elementos panteístas. Para os iorubás, Olorum era o criador e possuía atributos naturais, como, por exemplo, imortalidade (embora não haja o conceito de sempiterno), onipotência, onisciência e transcendência. Esta última, é a que mais favorecia a ideia henoteísta, pois a divindade principal estava muito longe e não podia ser incomodada. Olorum não atuava de forma imanente. E, ainda, é visto como um rei muito importante, um juiz imparcial e único.
Visto que Olorum não devia ser importunado, o povo recorria a intermediários, que são os orixás. Na mitologia iorubá (embora haja outras histórias), Ogum, Xangô, Oxossi, Oxum e Eleqqua eram filhos de Olorum e Yembo. E todos os seus filhos eram orixás. 
Ainda na mitologia, Exu era também um dos orixás, um dos filhos de Orunmilá, outro orixá. Almeida conta que, “nessa época, havia muitos orixás, mas Exu era o mais corajoso, inteligente e brigão. Nas reuniões, tomava a frente em tudo, e brigava com os outros. Por isso, deixavam-no fazer o que quisesse, e concordavam com tudo o que dizia. Assim, Exu ficou sendo o braço direito de Orunmilá”. 
Outro nome conhecido é Iemanjá, “o orixá do rio Ogun, na Nigéria, sendo conhecida também como Orisa-Odo, e sua saudação é Odo-Iya — mãe do rio. O nome Yemoja significa Yeye-omo-eja — mãe dos peixes”. A mitologia conta que ela “era uma mulher honesta, forte e respeitada. Um dia, seu filho, já adulto, ficou perturbado [...] e tentou matá-la [...] Um dia, ele a violentou e ela, com vergonha, fugiu da cidade. O filho seguiu-a para matá-la com uma faca. Antes de ser atingida, Yemoja caiu para trás e morreu. Dos seus seios, brotou muita água, formando òsá, a lagoa. De seu corpo, saíram muitos orixás: Olosá, Olokun, Osoosi, Osun, entre outros menos conhecidos”. 
Para Costa, é mais provável que seja da “cabula” que venha a macumba, que, por sua vez, deu origem à umbanda. Cabula é uma fusão das práticas dos bantos com o espiritismo. Esse nome é uma deturpação do vocábulo cabala. Carneiro, por sua vez, sugere que macumba vem de “mcumba”, plural de cumba (mestre de uma dança semirreligiosa, o jongo), ou seja, uma reunião de jongueiros (dançarinos do jongo). 
Oliveira comenta que a macumba primitiva, “longe de ser um culto organizado, era um agregado de elementos da cabula, do candomblé, das tradições indígenas e do catolicismo popular, sem o suporte de uma doutrina capaz de integrar os diversos pedaços que lhe davam forma”. 
Neves diz que a “palavra macumba deriva de macumbo, que significa ‘casa de quilombola’, formada por negros refugiados em florestas (como em Palmares), que cultuavam os espíritos de seus antepassados e sonhavam com sua volta à África”. 
Realmente, é muito difícil trazer informações científicas e precisas sobre a origem da macumba. Nem mesmo os adeptos das religiões afro são unânimes quanto ao entendimento de coisas básicas de sua religiosidade. Trindade conta que “muita gente da umbanda desconhece o verdadeiro trabalho dos exus, confundindo os guardiões da lei com seres de baixo nível, que se passam por exus em alguns terreiros, mas, na verdade, são aqueles conhecidos como kiumbas”. 
Walter Martin comentou que “quando alguém passa a estudar os cultos afros, uma das coisas que observa é a impossibilidade de se fazer uma análise objetiva sobre a origem ou a atuação dos orixás, devido a tantas informações contraditórias”. Isso acontece porque a maioria das informações varia de um terreiro para o outro, de uma região para a outra, de um sacerdote para o outro e até mesmo de uma entidade para a outra.

A macumba e o espiritismo
O Dicionário de religiões, crenças e ocultismo diz que a palavra “espiritismo” tem sido usada para “descrever qualquer grupo que defenda a comunicação com os mortos”. 
Gaarden diz que “juntamente com a umbanda, o batuque, o xangô e o tambor de mina, o candomblé representa o melhor exemplo de politeísmo explícito que temos no Brasil”. Estas várias divindades são os orixás (ancestrais africanos divinizados) exus (orixá da comunicação), caboclos (espíritos de índios), pretos-velhos (espíritos de escravos), erês ou ibeijadas (espíritos de crianças) e espíritos de baianos, boiadeiros, mineiros e marinheiros. Sem falar das pombas-gira (forma equivalente feminina de exus).
A umbanda nasceria pela fusão “de representantes da classe mais pobre com elementos da classe média egressos do espiritismo kardecista”. 
Existem diferenças consideráveis entre o espiritismo kardecista e o umbandista. Inicialmente, vale comentar que, no primeiro, há a postulação de um Deus criador, possuidor de atributos naturais (onipotência, onisciência e onipresença), transcendente e não imanente, inacessível aos homens. Mais próximos da humanidade estariam os espíritos dos mortos, cuja missão é ajudar os vivos como meio de expiação para suas faltas nas vidas passadas. 
A comunicação com esses espíritos se dá, segundo a doutrina kardecista, por intermédio de médiuns. Embora as duas linhas de espiritismo assumam a comunicação com mortos, Ortiz comenta que os espíritos consultados no umbandismo não podem ser confundidos com “um espírito de luz, como o é um espírito de médico, de padre, de freira, ou de um sábio qualquer, posto que, no universo kardecista, a cultura do espírito corresponde à cultura de sua ‘matéria’. Como poderia um analfabeto prescrever sabedoria? Quem levaria a sério a ignorância do espírito de um antigo escravo? – este deve permanecer em seu ‘lugar’”. 
O umbandismo já foi considerado baixo espiritismo, ao passo que o kardecismo, alto espiritismo. É a ideia de que os espíritos invocados nesta são superiores e mais evoluídos, enquanto naquela é justamente o oposto. 
O relato a seguir explica o raciocínio anterior: “É assim que, na umbanda, ouvem-se coisas inusitadas, como, por exemplo, o espírito de uma prostituta, que viveu e morreu na zona do Mangue, aconselhando uma dona de casa do Méier sobre como obter e proporcionar mais prazer no sexo. O mais interessante é que, prestar esse tipo de ajuda também conta pontos na escala umbandista da evolução espiritual”. 
A Bíblia, por sua vez, traz severas proibições às práticas de comunicação com os mortos. Era proibida a prática gentia de dilacerar o corpo em busca ou em favor de algum morto. Tampouco, o judeu deveria consultar alguém que já havia morrido (Lv 19.28-31): “Àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo”, dizia o Senhor (Lv 20.6).
Saul, em seus momentos de desespero, buscou o Senhor, mas não pôde achá-lo. Nessas circunstâncias, resolveu recorrer a uma espírita, a fim de ouvir uma resposta do já falecido profeta Samuel (1Sm 28.11-13). A lei divina, entretanto, era clara ao dizer que não deveria haver em Israel quem fizesse “passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos”. A opinião de Deus sobre essas práticas era de que “todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor” (Dt 18.10-12).
Conhecendo as religiões afro-brasileiras
De acordo com o censo de 2010, feito pelo IBGE, 588.797 brasileiros se identificaram como seguidores do animismo afro-brasileiro. Esse número não reflete, de forma real, a quantidade de adeptos que essas religiões possuem, pois, muitas pessoas de outras religiões frequentam centros de umbanda, quimbanda, candomblé e, até mesmo, kardecista. 
Alguns, talvez por vergonha de se intitularem nominalmente um religioso afro-brasileiro, e outros, por fazerem parte de outra denominação, como a católica, por exemplo, não entraram para a estatística do IBGE. Podemos citar, também, evangélicos que visitam tais centros, embora a quantidade, se comparada às demais religiões, seja consideravelmente menor.
Embora as religiões afro-brasileiras sejam generalizadas por parte dos leigos no assunto, elas são distintas entre si. Queremos, nesta seção, comentar, ainda que resumidamente, as particularidades das seis principais: catimbó-jurema, batuque, tambor de mina, candomblé, umbanda e quimbanda.
Catimbó-jurema: é um tipo de culto xamânico em que foram adotados elementos mágicos europeus, rituais indígenas e práticas católicas. Está mais presente no Nordeste brasileiro. Nesta religiosidade, cultuam-se os santos católicos, Jesus, ervas sagradas e a Jurema, uma árvore nativa do agreste e sertão nordestinos que possui grande concentração de uma substância alucinógena (dimetiltriptamina). Seus rituais consistem em cantigas, toques, ingestão da Jurema e de incorporações dos mestres da Jurema (adeptos que, depois de mortos, foram encantados e transportados milagrosamente para este estado espiritual, no qual aconselham e operam curas em seus atendimentos). Esses mestres seriam neutros no sentido de fazerem o bem ou o mal. Além dos mestres, há a possibilidade da incorporação dos caboclos, espíritos de pajés e guerreiros indígenas.
Batuque: é uma religião com maior concentração no Estado do Rio Grande do Sul. Nesta religião, os orixás são adorados e recebem oferendas, inclusive de aspectos culturais, como chimarrão, polenta, batata-inglesa assada e churrasco. Uma das possibilidades da origem dessa religião é a implantação, por intermédio de uma escrava vinda de Pernambuco. As semelhanças do batuque gaúcho com o xangô pernambucano são grandes e o alcance chegou a países como Argentina, Uruguai e Paraguai, entre outros. Não existe uma hierarquia estruturada em cargos sacerdotais. Seus médiuns são “filhos de santo” e podem ser chamados de babalorixá ou iyalorixá. Há, ainda, rituais de culto destinados aos eguns (espíritos dos mortos). Nos rituais, as rezas para os orixás e os eguns são feitas na língua iorubá ao som de tambores. Em seus rituais, são usadas folhas e ervas sagradas e interpretação do jogo de búzios.
Tambor de mina: é uma religião mais forte no Maranhão, Pará e Amazonas. À semelhança das demais, é um culto aos vodus, orixás e caboclos, além de possuir características de transe e incorporação. Os vodus são filhos e descendentes da deusa Mawu (deusa suprema dos povos Ewe e Fon) com Lissá. Recebem oferendas de alimentos e de animais. São incorporados e dão conselhos. Nos rituais do tambor de mina, há também danças e batucadas nos tambores. Nesta religião, há hierarquia sacerdotal. Outro culto associado ao tambor de mina é a encantaria ou terecô.
Candomblé: as duas principais religiões afro-brasileiras são o candomblé e a umbanda. Dos 588.797 adeptos de todas as religiões afro-brasileiras, 407.331 (69%) são umbandistas, 167.363 (28%) candomblecistas e 14.103 (3%), de outras declarações de religiosidades afro-brasileiras. O candomblé está mais concentrado no Estado da Bahia e é uma religião na qual se cultuam orixás, vodus e minkisi (divindades da mitologia bantu). Também, está presente em outros países, como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha. Suas entidades recebem oferendas por meio de animais, vegetais e minerais, cânticos, danças, roupas especiais e jogo de búzios. Seus sacerdotes são o babalorixá (pai de santo) e a iyalorixá (mãe de santo). Depois que os pais e mães de santo morrem, são chamados de egunguns e recebem cultos. No candomblé, são feitos despachos (também chamados de ebó ou sacrifício), tanto para o bem quanto para o mal. Há oferendas de pipocas e farofa de azeite de dendê e sacrifícios de animais: cão, galo ou bode, de preferência pretos.
Umbanda: esta religião é de origem brasileira. Nasceu por volta de 1908. Os umbandistas se reúnem em templos, centros, tendas ou terreiros. O médium incorpora pretos-velhos, caboclos, exus, marinheiros, baianos e ciganos, entre outros. E as pessoas que buscam essas entidades agem dessa forma a fim de obterem ajuda e conselhos para suas vidas, além de curas, descarregos e soluções para problemas espirituais diversos. Os umbandistas se autointitulam como espiritismo de magia branca.
Quimbanda: trata-se de uma ramificação da umbanda em que as forças negativas (espíritos atrasados) são manipuladas. Nas oferendas, são colocadas bebidas alcoólicas, como cachaça, uísque ou conhaque, além de charutos, velas, comidas e animais. É, também, chamada de magia negra. Despachos para prejudicar ou atacar a vida de terceiros são praticados nesse ramo da religiosidade afro-brasileira. Tendo em vista esses despachos, adotados neste e em outros segmentos afro-brasileiros, pergunta-se: o cristão pode “pegar” macumba?

Concepções sobre os efeitos da macumba 
conforme as correntes evangélicas
A ideia sobre a influência da macumba no crente pode variar no meio dos grupos evangélicos. Alguns representantes, principalmente de linhas neopentecostais, cuja ênfase recai no movimento de batalha espiritual, acreditam que sim. Em contrapartida, as igrejas históricas, tradicionais e pentecostais históricas (isso de uma forma genérica) acreditam que não. É difícil rotular, porque, atualmente, algumas igrejas históricas e tradicionais são influenciadas pelas ideias que estamos discutindo.
Para os adeptos do movimento de guerra espiritual, o cuidado deve ser muito grande, pois, objetos que tenham sido supostamente consagrados a espíritos malignos podem afetar a vida dos crentes. Essa crença é chamada de fetichismo; isto é, o culto supersticioso aos fetiches, amuletos e talismãs. Koch define fetiche como “um objeto artificial que se adora ou venera ou que é levado em cima para a segurança pessoal. Crê-se que os fetiches estão dotados ou animados de certo poder”. 
Rebecca Brown, por exemplo, autora conhecida do movimento de batalha espiritual, ensina que, quando um feiticeiro coloca objetos da pessoa que quer enfeitiçar (pedaço de cabelo, botão ou fragmentos de roupa, unha ou o nome escrito ao invés de objetos pessoais) em seu ritual, faz isso com, pelo menos, cinco propósitos: 1) reclamar o local que está realizando o feitiço para si e para Satanás; 2) colocar demônios ao redor de todo o limite da propriedade com o objetivo de guardá-la; 3) colocar demônios especiais (abridores) que dão acesso à entrada para que o agoureiro possa chegar à propriedade em projeção astral; 4) colocar demônios como sentinelas, a fim de vigiar e informar tudo o que se passa naquela propriedade; e 5) colocar demônios que vão amarrar e cegar todos os que entrarem na propriedade, aprisionando-os em jau¬las. 
Nas religiões afros, esses demônios seriam os guias, os orixás, os caboclos, pretos-velhos, os exus, etc. O meio para desfazer, ou quebrar essas maldições, seria examinar a área onde foi feito o feitiço, andar sobre ele como um ato profético baseado na promessa mosaica (Dt 11.24), declarar que o local é santo e pedir que Deus envie anjos para aquele local.
Brown diz, ainda, que o crente deve tomar cuidado com os pertences que tem. É bom que vasculhe a casa, pois muitos objetos que possui podem ter sido consagrados a demônios, até mesmo brinquedos infantis. 
De acordo com Linhares, tais objetos devem ser lançados fora, preferencialmente queimados ou destruídos. Existe até uma contradição com esse ensino, pois, em alguns livros de batalha espiritual, seus autores colocam fotos como ilustração para seus leitores. Será que seus livros também deveriam receber tal destinação?
As maldições, provenientes de encantamentos, mandingas, macumbas, ou de qualquer outro meio, traria efeitos não apenas às pessoas, mas aos locais também. Partindo desse pressuposto, teríamos de ter muita cautela, porque hospitais, escolas, prefeituras, lojas, fábricas, restaurantes, hotéis e até mesmo nossas igrejas podem estar sob a influência de uma macumba que alguém fez. 
Ao contrário do estereótipo popular, a maioria dos praticantes das religiões afros no Brasil está concentrada no Estado do Rio Grande do Sul. Se aceitarmos a ideia de que os feitiços (macumbas) trazem influência sobre locais, poderíamos, então, concluir que a rivalidade entre gremistas e colorados está muitíssimo equilibrada nos terreiros gaúchos, visto que seus times não têm tido muita expressividade no futebol brasileiro.

A macumba pega no crente?
O Brasil é um país místico por natureza. O medo de “pegar” macumba é grande por parte de algumas pessoas. Por isso, alguns andam com galhos de arruda na orelha, não saem de casa sem fazer o sinal da cruz (“em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”), passam longe de uma oferenda na encruzilhada e fazem até simpatia para afastar o mau-olhado. 
Existem, também, os evangélicos que estão sempre atribuindo, à obra de macumbaria, o fracasso de seus casamentos, o mau negócio que foi empreendido, o filho que está nas drogas, etc. Sempre temos alguns membros em nossas igrejas com dúvidas e, até mesmo, com medo de ficarem “macumbados”. Alguns adotam posturas supersticiosas e alguns ensinos têm fortalecido essa prática no arraial evangélico. 
Respondendo à pergunta que encerra esta matéria, categoricamente declaramos: não! O crente não pega macumba. Melhor dizendo, o cristão autêntico, aquele tem vida com Deus, que não dá lugar ao diabo (Ef 4.27), que anda sóbrio e vigilante (1Pe 5.8), que resiste ao tentador (Tg 4.7), este, jamais, ficará “macumbado”. 
O apóstolo João bem nos lembra: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” (1Jo 5.18). Balaque bem que tentou, mas “não há magia que possa contra Jacó, nem encantamento contra Israel” (Nm 23.23a

 



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