Este estudo se propõe a tratar objetivamente o dom de línguas, e
suas aplicações e implicações nos dias de hoje... Para este estudo, bem como
para qualquer outro assunto referente à religião, à vida, ao nosso
relacionamento com Deus, devemos ter a Sua Santa Palavra como autoridade máxima,
absoluta e final.
Os verdadeiros Cristãos têm na Bíblia Sagrada, a palavra de
Deus, sua única regra de fé e prática, isto implica que tudo o que cremos e tudo
o que fazemos está pautado pela palavra de Deus. Neste cenário, não cabe
discussão, quando a palavra de Deus estabelece algo, isto é final, é a palavra
de Deus:
"Mas o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda
a terra." (Habacuque 2:20 ACF 1)
Há algum ser humano que possa contradizer a palavra de Deus?
Alguém se julga capaz de contradizer o que o Deus Todo-Poderoso, o Senhor do
Universo, está dizendo? Não, nunca, nenhum ser humano pode contradizer a Deus:
Somos fracos demais, limitados demais, corruptos demais, para isto.
Assim, em circunstância alguma podemos colocar a experiência
humana, ou a palavra de homens, por mais espiritual que possa nos parecer, acima
dos ensinos bíblicos; e assim sigamos adiante:
"Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de
filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos
do mundo, e não segundo Cristo;" (Colossenses 2:8)
Muitos têm confundido talento natural, ou capacidade inata, ou
ainda um grande desejo de realizar uma determinada tarefa, com dons do Espírito
Santo. Outros ainda buscam determinados, por dons do Espírito Santo, deixando de
levar em conta que quem os dá é o próprio Espírito Santo e de acordo com a Sua
vontade:
"Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas,
repartindo particularmente a cada um como quer." (I Coríntios 12:11)
Os dons do Espírito Santo são algo distinto e específico, não
vinculado à vontade do homem:
"(7) Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do
dom de Cristo... (11) E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (12)
Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; (13) Até que todos cheguemos à unidade da fé, e
ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo." (Efésios 4:7, 11-13)
É imperioso que tenhamos em nossas mentes uma clara noção do que
vem a ser dom do Espírito Santo, qual sua função e necessidade e, portanto, sua
ocasião.
O dom é assim, um talento potencializado pela ação do Espírito
Santo, ou uma capacidade concedida por Sua ação, utilizado para a edificação do
corpo de Cristo, para a obra do ministério, sendo dado a cada um dos crentes na
"medida do dom de Cristo", e de acordo com a Sua vontade. (v.11)
Há dons que nos parecem naturais, como os dons de ensino e
pregação do evangelho, e outros dons que são miraculosos, como curas e línguas.
Mas, em nenhum caso, mesmo no dos dons que nos pareçam naturais, estes devem ser
confundidos com talentos naturais, que são habilidades carnais para a execução
de tarefas, pois se assim procedermos teremos, como infelizmente temos visto com
alguma freqüência, pessoas que nada tem a ver com o Espírito Santo recebendo
livre acesso ao corpo de Cristo, causando enorme destruição, discórdia e
divisão.
Devemos, portanto, tratar da questão dos dons com a mais
absoluta seriedade, e sempre discernindo os espíritos, isto, sempre provando o
que nos é apresentado, se vem ou não de Deus:
"Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os
espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no
mundo." (I João 4:1)
Não nos enganemos, devemos sim estar julgando todas as coisas:
"Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as
coisas pertencentes a esta vida?" (I Coríntios 6:2)
E devemos tirar do nosso meio tudo o que for impuro, tudo o que
não proceda de Deus. Pois toda ação da Igreja deve ser para que se apresente
santa e irrepreensível 2
diante de Cristo. Nada menos.
Antes de qualquer estudo, é fundamental a definição dos termos, ou palavras, que serão abordados, bem como um claro entendimento das circunstâncias em que estes termos são utilizados e o seu significado dentro de cada contexto específico. Assim, torna-se absoluta prioridade estudarmos o termo "língua", ou o seu plural, "línguas", em cada uma de suas ocorrências no Novo Testamento, tendo como base de estudo o seu significado na língua original em que foi escrito o Novo Testamento: o grego koiné. Existem algumas palavras gregas, no Novo Testamento, que foram traduzidas para o português como "língua", vejamos:
Neste ponto faz-se mister assinalar e destacar que em nenhum
léxico ou dicionário grego, quaisquer das palavras gregas, traduzidas para o
português como "línguas", têm o significado de um falar em êxtase ou falar uma
língua ou dialeto que não seja inteligível por um povo. Assim, das ocorrências
da palavra "língua" ou "línguas", no Novo Testamento, podemos certamente afirmar
que, quando esta palavra se refere a uma linguagem, é sempre, invariavelmente,
uma língua 3
humana falada e entendida por algum povo.
Também é importante registrar que a palavra portuguesa
"glossolalia" utilizada para representar a prática atual do "falar em línguas",
tão comum em meios pentecostais e neopentecostais, tem o seguinte significado
conforme o dicionário Houaiss:
Esta palavra vem de duas palavras gregas:
glwssa + lalia (glossa + lalia) que ao pé da
letra significam "língua + falar", e que em momento algum aparecem juntas no
Novo Testamento.
A palavra (lalia) é encontrada no Novo Testamento em duas
passagens:
"E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a
Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia."
(Mateus 26:73)
"Mas ele o negou outra vez. E pouco depois os que ali estavam
disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também
galileu, e tua fala é semelhante." (Marcos 14:70)
E como pode ser observado nos versos acima, não há qualquer
conjunção ou combinação da palavra "lalia", em suas ocorrências no Novo
Testamento, com a palavra "glossa".
Existe, contudo, uma conjunção da palavra "glossa" que é
encontrada, por exemplo, em I Coríntios 14:2, conforme segue:
"Porque o que fala em língua desconhecida não fala
aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala
mistérios." (I Coríntios 14:2)
"o gar lalwn glwssh ouk anqrwpoiv
lalei alla tw qew oudeiv gar akouei pneumati de lalei musthria" (I
Coríntios 14:2 TR 4)
lalew + glwssa
(laleo + glossa) significa ao pé da letra, "falar com uma língua". Esta
conjunção apesar de próxima à conjunção de "glossa" + "lalia", não tem a mesma
conotação que glossolalia, e não pode ser entendida como se fosse uma ocorrência
desta combinação de palavras. Ante estas constatações, podemos com segurança
afirmar que não há qualquer ocorrência, no Novo Testamento grego, de
glossolalia.
Outro ponto importante a se ter em mente é que o Cristianismo
não admite "transe religioso" (prática comum em várias religiões pagãs), nossa
religião exige entendimento, clareza de raciocínio, discernimento, temperança
(moderação, autodomínio), conhecimento e firmeza, conforme pode ser entendido
dos textos abaixo:
"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de
toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é
o primeiro mandamento." (Marcos 12:30)
"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis
os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional." (Romanos 12:1)
"Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente. (15) Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele
de ninguém é discernido." (I Coríntios 2:14-15)
"E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai
à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, (6) E à ciência a temperança, e à
temperança a paciência, e à paciência a piedade, (7) E à piedade o amor
fraternal, e ao amor fraternal a caridade. (8) Porque, se em vós houver e
abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de
nosso Senhor Jesus Cristo. (9) Pois aquele em quem não há estas coisas é cego,
nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos
pecados. (10) Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa
vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis." (II Pedro
1:5-10)
Além disto o falar em línguas foi citado na primeira carta do
apóstolo Paulo aos Coríntios.
Os sinais e milagres sempre foram utilizados com funções específicas:
"Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. (31) Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." (João 20:30-31 ACF1)
"Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; (19) Pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo." (Romanos 15:18-19)
"Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;" (Atos 2:22)
"Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim." (João 10:24-25)
"Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade." (I Reis 17:24)
"Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." (João 20:30-31)
É importante que tenhamos em mente que os sinais de Deus ocorrem em determinado momento, para validar Sua mensagem através de um mensageiro Seu, ou para cumprir um propósito específico determinado pelo próprio Deus, e depois desaparecem quando não são mais necessários. Podemos ver claramente este fato ao estudarmos a história de Moisés, de Josué e de Elias. Num determinado momento, Moisés foi capaz de abrir um caminho seco através das águas, de modo que o povo de Deus pôde passar a seco pelo Mar Vermelho. De modo similar, Josué pôde abrir as águas do Jordão para que o povo de Deus pudesse atravessá-lo a seco. Em nenhum outro momento o sinal de criar separação de águas ocorreu. O profeta Elias pediu, e Deus fez com que descesse fogo dos céus para queimar o holocausto:
"Sucedeu que, no momento de ser oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se aproximou, e disse: O SENHOR Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas. (37) Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo conheça que tu és o SENHOR Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração. (38) Então caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego." (I Reis 18:36-38)
Além desta, não houve mais nenhuma outra ocorrência de Deus enviando fogo dos céus para queimar holocaustos.
Podemos também observar o momento em que o Sol parou a pedido de Josué:
"Então Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detem-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. (13) E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr, quase um dia inteiro. (14) E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o SENHOR assim a voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel." (Josué 10:12-14)
A própria Palavra de Deus nos apresenta o fato de ser esta, uma ocorrência única, que nunca mais tornaria a se repetir.
Estes exemplos, e tantos outros que podemos encontrar através
das Escrituras Sagradas, nos mostram de forma inequívoca que os sinais de Deus
são isto mesmo, de Deus, utilizados por Ele para fins específicos, em momentos
específicos, de acordo somente com Sua soberana vontade, e não pertencem ao
homem, nunca pertenceram e nunca pertencerão.
O sinal de línguas foi a capacidade sobrenatural de se falar um
idioma estrangeiro sem prévio estudo ou conhecimento deste, e o dom de línguas é
a facilidade para se falar vários idiomas diferentes.
Como vimos no estudo das ocorrências da palavra "línguas" no
Novo Testamento, a palavra de Deus nos apresenta estes idiomas, sempre, como
idiomas humanos existentes. Por exemplo, quando da descida do Espírito Santo no
dia de Pentecostes, os discípulos transmitiram a mensagem do evangelho nas
línguas nativas daqueles que os estavam ouvindo (Atos
2:1-11) !
Paulo ao repreender os coríntios sobre a necessidade de ordem no
culto, disse que os indoutos, aqueles sem estudo, não entenderiam os que estavam
falando línguas (I
Coríntios 14:16 e
23), demonstrando de modo inequívoco que, ao contrário, os doutos, aqueles
que tem erudição, poderiam entender, e portanto, os coríntios estavam falando um
idioma humano existente e inteligível (pelo menos para aqueles que tivessem
cultura suficiente para entendê-lo). Também em
I Coríntios 14:21 Paulo, citando Isaías, especifica que "por outros lábios
falarei a este povo", descrição esta que também aponta diretamente para uma
linguagem humana existente.
Em
I Coríntios 14:18, Paulo afirma categoricamente que falava mais línguas que
os coríntios. Ora, Paulo falava hebraico, aramaico, grego, latim, e
possivelmente ainda outras línguas mais, como o copta. Mas, eram todas línguas
humanas existentes... (Iremos tratar de forma mais detalhada a questão da igreja
de Corinto mais abaixo no tópico "O falar línguas em Corinto").
Reforçando mais uma vez segundo o testemunho da Palavra de Deus,
o falar línguas ou é um sinal sobrenatural de falar línguas ou dialetos humanos,
existentes, sem que tenham sido previamente estudados, ou como ocorreu na Igreja
de Corinto, a capacidade ou a facilidade para falar em várias línguas
(diversidade de línguas).
"Mas recebereis a virtude do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra."
(Atos 1:8 destaque acrescentado)
O sinal miraculoso de línguas sempre foi um sinal para os judeus
que não criam primeiramente no derramamento do Espírito Santo de Deus, e depois
não criam que o derramamento do Espírito Santo atingisse também aos gentios e
não somente aos judeus.
O verso 45 de Atos 10 nos mostra este fato:
"E os fiéis que eram da circuncisão, todos
quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo
se derramasse também sobre os gentios."
Assim, espantaram-se os judeus, todos os que eram da
circuncisão, quando gentios demonstraram os mesmos sinais que os discípulos
haviam demonstrado em Jerusalém!
Em Éfeso (Atos
19:3-20) grande foi a disputa de Paulo para apresentar o Caminho aos judeus
ali reunidos. E o falar línguas dos discípulos que lá estavam mostrava a estes
judeus que através de "outros lábios" e de "outras línguas" Deus estava lhes
falando Sua mensagem:
"Está escrito na lei: Por gente de outras
línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão,
diz o Senhor." (I Coríntios 14:21)
Após estas três ocorrências não há qualquer outra referência ao
falar línguas como um sinal de Deus para o seu povo. Surge, contudo, uma outra
referência ao falar línguas no Novo Testamento: durante o período de desordem
que ocorreu na Igreja de Corinto; Igreja esta que foi exortada pelo apóstolo
Paulo a retornar à ordem e à decência, quando de sua primeira carta a ela
endereçada.
É importante estabelecermos alguns pontos antes de prosseguirmos
nesta análise. Primeiramente, quanto ao termo utilizado pelo apóstolo Paulo em
sua carta quando se referiu ao falar línguas. A palavra grega utilizada foi "glossa"
que, conforme já pudemos estudar, tem os seguintes significados:
2.1. A linguagem ou dialeto usado por um povo em particular,
distinto do de outras nações.
Ou seja, a palavra grega "glossa", no contexto em que foi
utilizada pelo apóstolo Paulo, tem um único significado: "uma língua
estrangeira", ou "uma linguagem de um povo de outra nacionalidade".
Assim, fica determinado que o que estava acontecendo em Corinto
é o falar línguas estrangeiras, línguas de outros povos distintos daqueles que
lá habitavam.
Como exposto acima, esta afirmação corrobora a declaração do
apóstolo Paulo no verso 21 do capítulo 14:
"Está escrito na lei: Por gente de outras
línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão,
diz o Senhor." (I Coríntios 14:21)
Bem como, também, o fato de o apóstolo, um pouco antes em sua
exortação àquela Igreja, ter afirmado que falava mais línguas que todos os que
lá estavam:
"Dou graças ao meu Deus, porque falo mais
línguas do que vós todos." (I Coríntios 14:18)
Há também o fato de que doutos, ou seja, pessoas de grande
cultura, poderiam entender o que diziam os que falavam línguas, indicação
assertiva de que eram faladas línguas inteligíveis, ou seja, línguas
estrangeiras, com as quais os doutos poderiam ter familiaridade:
"Se, pois, toda a igreja se congregar num
lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão
porventura que estais loucos?" (I Coríntios 14:23)
Estabelece-se assim, de forma definitiva, que o falar línguas
conforme ocorreu na Igreja em Corinto e do qual o apóstolo Paulo trata em I
Coríntios é o falar uma língua estrangeira e humana. E esta é a característica
do falar línguas conforme nos apresenta a Palavra de Deus: Falar uma língua
estrangeira! Seja diretamente por ação divina (sem que houvesse prévio estudo),
como foi descrito em Atos 2, seja pelo dom, dado por Deus, de com facilidade se
falar várias línguas, como ocorreu com o apóstolo Paulo (I
Coríntios 14:18).
Ainda como uma confirmação adicional à conclusão acima, temos
que Lucas ao escrever o livro de Atos dos Apóstolos, estava com Paulo em seu
exílio em Roma. Lucas, quase com certeza, também esteve em Éfeso quando o
apóstolo Paulo escreveu sua primeira carta aos coríntios, já que desde Atos 16
Lucas se apresentou como estando ao lado de Paulo em suas viagens. Mas, uma
coisa é certa: Lucas tinha conhecimento do conteúdo da carta de Paulo aos
coríntios antes de escrever o livro de Atos dos Apóstolos, uma vez que I
Coríntios foi escrita por volta de 56 d.C. e Atos somente foi escrito por volta
de 61 ou 62 d.C. Este raciocínio foi apresentado aqui pelo fato de Lucas ter-se
utilizado em Atos dos Apóstolos da mesma palavra grega, e no mesmo contexto, que
Paulo utilizou em I Coríntios para indicar o falar línguas, "glossa":
"E todos foram cheios do Espírito Santo, e
começaram a falar noutras línguas (glossa), conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem." (Atos 2:4)
E não havendo distinção do termo grego utilizado para um caso ou
para o outro, fica estabelecido, também através deste raciocínio, que o falar
línguas descrito em I Coríntios tinha esta mesma natureza, ou seja, era o falar
um idioma estrangeiro.
Frente a todas estas evidências, fica definitivamente
determinado que o falar línguas descrito pelos textos em I Coríntios não é o
falar uma língua "celestial", ou "de anjos" (Veja
o Apêndice A sobre este assunto), ou qualquer outra manifestação extática
2, mas
sim o falar um idioma humano existente e inteligível.
O dom de línguas foi dado com o propósito específico de ser um
sinal (Marcos
16:17).
Esta interpretação é confirmada por Paulo quando cita a Isaías
em
I Coríntios 14:21-22. A passagem citada por Paulo é
Isaías 28:11, onde o profeta está repreendendo os bêbados de Efraim que não
aceitaram a palavra do profeta, e por esta razão Isaías lhes disse que Deus os
faria ouvir através do falar do exército que estava por invadi-los. E isto lhes
seria por sinal. Este sinal, o falar línguas estrangeiras, é sempre apresentado
pela palavra de Deus como sendo para que judeus incrédulos viessem a crer, tanto
no Velho quanto no Novo Testamento. Pode-se verificar que em todos os registros
de ocorrência do dom miraculoso de línguas (todas em Atos dos Apóstolos), a
audiência era composta de judeus.
Já no caso específico da Igreja em Corinto, deve-se lembrar que
a natureza do falar línguas lá foi diferente, não tendo a característica de
milagre, mas sim, de um dom dado por Deus para a obra do ministério e para a
edificação do corpo de Cristo, como o são todos os dons:
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e
outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores, (12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,
para edificação do corpo de Cristo;" (Efésios 4:11-12)
Mas, se o dom miraculoso de línguas foi um sinal, foi um sinal
do quê e para quem? Podemos ver que foi um sinal de confirmação aos judeus da
aceitação dos gentios no plano de salvação (Atos
10:45-46;
11:15), isto porque apesar de alguns judeus terem crido em Jesus, não criam
na possibilidade de gentios também o crerem, e este foi o propósito dos sinais
relatados no livro de Atos.
O dom de línguas, como meio edificação pessoal, é um dos
despropósitos sobre o objetivo deste dom. Não há qualquer registro do uso
privado do dom de línguas no Novo Testamento. A referência do apóstolo Paulo ao
fato daquele que fala em língua desconhecida se edificar a si mesmo, e não à
Igreja, é repreensão, declarada e direta ao que assim procede, pois os dons são
unicamente para a edificação do Corpo como um todo, e não para uso individual:
"Assim também vós, como desejais dons
espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja." (I Coríntios
14:12)
"Aquele que desceu é também o mesmo que
subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. (11) E ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros
para pastores e doutores, (12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a
obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;" (Efésios 4:10-12)
A edificação pessoal procede da edificação do corpo, uma vez que
cada indivíduo é parte do corpo, ao se edificar o corpo edifica-se juntamente
cada um de seus membros componentes.
Outro despropósito observado é o de se alegar que o milagre do
falar línguas se deu como meio de facilitar a pregação do evangelho. Em nenhum
momento isto foi aventado no Novo Testamento. Ao contrário, após sua ocorrência,
os judeus ficaram atônitos com o sinal de línguas! Estes homens eram pelo menos
bilíngües, pois entenderam a pregação antes do dom de línguas se
manifestar, ou seja, antes de ouvirem os discípulos falarem em sua língua natal.
Sendo assim, caso o sinal de línguas, conforme vemos em Atos dos Apóstolos,
fosse para ser utilizado com o propósito de pregação, teria sido mantido intacto
durante toda a existência da Igreja, se tornando lugar comum até nossos dias, e
todos os salvos em Cristo poderiam falar qualquer língua (humana e existente)
para a qual houvesse audiência presente.
Isto não quer dizer que tal milagre não possa ocorrer, ao
contrário, Deus é soberano e faz como lhe apraz. Mas, ocorrendo o milagre, será
exatamente isto: um milagre de Deus, e não lugar comum, ou qualquer tipo de
atestado desta ou daquela condição na vida daquele que se coloca como
instrumento para que Deus, através dele, execute o milagre. Deus faz milagres
quando quer e através de quem quer. Deus é soberano, Deus é Senhor!
Podemos afirmar com segurança que enquanto um sinal para judeus
incrédulos (primeiro atestando a ação direta do Espírito Santo sobre os próprios
judeus, e depois atestando que a ação do Espírito Santo não estava restrita
somente a judeus, mas que atingia também aos gentios), o sinal miraculoso de
línguas desapareceu no primeiro século.
Alguns afirmam que esta passagem não pode ser utilizada como
base para afirmar-se que o sinal de línguas cessaria em algum momento próximo.
Não há pleno consenso quanto a isto, e há argumentos vários em ambas as
direções. Mas, independentemente da disputa teológica que se trava em torno
desta passagem, ela nos informa, sim, de que o sinal de línguas cessou, pelo
menos enquanto milagre de Deus para validação da mensagem bíblica.
Como vimos os sinais de Deus tem funções específicas, e o sinal
de línguas teve a função de validar a mensagem dos apóstolos de Jesus Cristo. E
isto foi necessário até que se completasse o cânon bíblico, o que ocorreu entre
o final do primeiro século e o início do segundo. Neste ponto veio o que é
perfeito (I
Coríntios 13:9-10), ou seja, a palavra de Deus, inerrante, infalível,
dispensando qualquer sinal posterior de validação do seu conteúdo além do
milagre de sua própria inerrância e de sua miraculosa preservação pela mão de
Deus.
Há aqueles que querem dizer que "o que é perfeito" refere-se a
Jesus Cristo, e que esta passagem fala sobre o segundo advento de nosso Senhor.
Mas, nos aprofundando no texto grego, vemos que:
"Mas, quando vier o que é perfeito,
então o que o é em parte será aniquilado." (I Coríntios 13:10 ACF
1)
"otan de elqh to
teleion tote to ek merouv katarghqhsetai" (I Coríntios 13:10
TR 2)
A construção em grego é neutra, o que descarta a possibilidade
de estar tratando de alguém, não é, assim, uma referência a Jesus, nem, como
querem alguns outros, ao Espírito Santo, esta construção trata de algo, de um
objeto, e não de alguém. Não há outro entendimento possível senão o de que este
texto está tratando da palavra de Deus, que ainda estava, à época em que este
texto foi escrito, sendo confeccionada.
Na carta aos Hebreus temos:
"Como escaparemos nós, se não atentarmos
para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor,
foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; testificando também Deus com
eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo,
distribuídos por sua vontade?" (Hebreus 2:3-4)
Esta passagem indica claramente que:
Assim temos que estes dons miraculosos, incluindo aí o sinal de
línguas, foram sinais utilizados para autenticar a revelação do evangelho, até
que fosse completado o cânon do Novo Testamento, tornando-se, após isto,
desnecessários uma vez que já estava ratificada a palavra de Deus junto à Igreja
de Cristo. Este fato pode ser visto por haverem traduções feitas já em 150 d.C.
que possuíam cânon idêntico ao que hoje encontramos em nossas Bíblias.
Temos assim, através da análise de todas as passagens bíblicas
relevantes, que o sinal de línguas foi um acontecimento específico, em um
momento específico, com uma finalidade específica; tendo sido extinto por
completo após sua ocorrência em
Atos 19:6.
Não devemos, contudo, estar aqui descrentes quanto ao poder de
Deus em executar milagres! Deus é infinito em poder, Deus não está limitado a
nada, e pode fazer, como tem feito, milagres em qualquer época, e por qualquer
meio que lhe aprouver, de acordo apenas com Sua soberana vontade; E a nós,
criaturas suas, cabe aceitar qual seja o Seu supremo desígnio.
Como exemplo, seria importante citar que há testemunhos da
ocorrência de um outro tipo de sinal de línguas, com finalidade distinta da que
foi registrada em Atos. Relatam estes testemunhos que em determinadas situações
no campo missionário Deus proveu um entendimento miraculoso por parte da
audiência do que um pregador falava em uma língua não conhecida por esta.
Este sinal não desrespeita o que já vimos sobre os sinais de
Deus, já que tem a função de fazer com que pessoas creiam na Bíblia, em momentos
em que não há outro meio de propagação da mensagem. Como um exemplo disto, temos
o que foi relatado por marinheiros russos, ainda durante o período da cortina de
ferro, quando era extremamente difícil o acesso às pessoas por trás da cortina
comunista. Estes marinheiros ouviram um pastor batista brasileiro pregando em
inglês, em determinado porto dos EUA, onde atracaram seu navio, mas entenderam o
que estava sendo pregado como se estivesse sendo falado em russo, ou seja, o
pastor pregava em inglês e os marinheiros ouviam em russo! Milagre de Deus, com
propósito divino: Estes três marinheiros se converteram a Jesus Cristo e se
tornaram líderes de Igrejas na Rússia.
Já o dom de falar várias línguas (diversidade de línguas,
existentes e inteligíveis, como relatado em I Coríntios) é algo que acompanha
algumas pessoas até os dias de hoje, assim como também ocorre com o dom da
palavra ou com o dom do ensino ou ainda com o dom de repartir liberalmente o que
se tem. Entretanto, mesmo tendo isto em mente, vemos que existem várias
passagens, relatando dons espirituais, que foram escritas após 56 d.C., onde o
dom de línguas não é mencionado. Vejamos:
"De modo que, tendo diferentes dons,
segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o
que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o
que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria." (Romanos
12:6-8)
"Cada um administre aos outros o dom como
o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar,
fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o
poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a
quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém." (I Pedro 4:11)
I Coríntios foi escrita enquanto Paulo planejava mudar-se para
Éfeso (I
Coríntios 16:8), indicando que o ano era então 56 d.C.
A epístola aos Romanos foi escrita por Paulo em 57 d.C., durante
sua permanência de três meses na Grécia (Atos
20:1-3), especificamente em Corinto. Lá Paulo residia com Gaio (Romanos
16:23 e
I Coríntios 1:14) e Erasto era o procurador da cidade de Corinto (Romanos
16:23). Especial atenção deve ser dada ao fato desta carta ter sido escrita
em Corinto e de não haver nela qualquer menção ao dom de línguas! A inferência
direta disto é a de que a Igreja já havia sido exortada e corrigida quanto ao
uso indevido e desordenado deste dom!
Já I Pedro foi escrita, provavelmente, pouco antes de se iniciar
a perseguição de Nero aos Cristãos em 64 d.C.
Estes fatos nos sugerem que, através do ensinamento do apóstolo
Paulo o dom de línguas foi colocado como sendo secundário no seio da Igreja, a
qual deu preferência à profecia e ao ensino:
"E eu quero que todos vós faleis em
línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o
que fala em línguas..." (I Coríntios 14:5)
E, sendo assim, não haveria mais a prática deste dom na Igreja,
pelo menos não como algo comum. Podemos, entretanto, vê-lo ainda hoje em ação
quando, por exemplo, há alguém que tenha a facilidade de aprender línguas, como
o italiano ou seus diversos dialetos, e pregar em italiano, ou aprender alemão,
e pregar em alemão, e que se disponha a assim agir para glória de Deus e
edificação do corpo de Cristo.
Vária.s denominações consideram que o falar em línguas descrito
pela palavra de Deus , é um falar extático, ou seja, algo que ocorre sem que a
pessoa tenha pleno controle do que acontece consigo mesma, ocorrendo em uma
espécie de transe. Mas, como já vimos, uma das características do Cristão é o
autodomínio, se algo acontece que tira a pessoa do seu estado de sobriedade, de
autocontrole, de consciência dos eventos à sua volta, não pode ser atribuído ao
Espírito Santo, mas, a outros fatores externos que estão afetando o pleno
domínio das faculdades desta pessoa. Na Bíblia em várias ocasiões somos
exortados a sermos sóbrios:
"Mas nós, que somos do dia, sejamos
sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a
esperança da salvação;" (I Tessalonicenses 5:8 ACF
1)
"Portanto, cingindo os lombos do vosso
entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu
na revelação de Jesus Cristo;" (I Pedro 1:13)
A palavra sóbrio tem o seguinte significado:
1.1 não amante ou dependente de bebidas alcoólicas;
Atentando para os significados 3 e 4, vemos que há total
incompatibilidade entre a ordem bíblica de ser sóbrio e as ações que privam a
pessoa de seu autodomínio, de seu controle pessoal. Não há como estar em transe
e ser fiel à palavra de Deus ao mesmo tempo, são ações mutuamente excludentes.
Revendo os testemunhos daqueles que apresentam o "dom", vemos
que alguns relatam este transe como "flutuar", outros como "estar fora do seu
corpo", outros ainda como "estando dominados por um poder superior", e outros
como tendo sido possuídos "pelo Espírito Santo", além de vários outros eventos
que sempre ocorrem de modo concomitante à ação da glossolalia.
Apenas este testemunho já seria suficiente para descaracterizar
a glossolalia como uma obra do Espírito Santo de Deus, mas, continuemos no
estudo.
Os que praticam o falar em êxtase afirmam que este falar não se
dá em uma linguagem humana existente e inteligível (por exemplo, em alemão, ou
em japonês, ou em tupi-guarani), mas, afirmam ser esta uma espécie de linguagem
"divina" ou "de anjos", a qual tem na maior parte das vezes um máximo de 10
vocábulos, combinados de umas 20 formas diferentes.
Isto, na verdade, está muito longe de poder ser considerado como
uma língua, um dialeto, ou qualquer coisa que se assemelhe à comunicação. Só
para se ter uma idéia comparativa, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
traz mais de 228.000 verbetes (palavras), e a conjugação de 15.000 verbos. Isto
mesmo só de verbos existem mais de 15.000 (quinze mil) relatados por este
dicionário! A língua inglesa arcaica (como era falada por Shakespeare) tinha
mais de 50.000 palavras diferentes, e no Novo Testamento foram utilizadas nada
menos que 5.624 palavras diferentes em grego. Não há como se considerar um
conjunto de 10 ou 20 ou, mesmo que fossem, 100 vocábulos diferentes como sendo
uma língua. Simplesmente não é possível se estabelecer qualquer nível de
comunicação lingüística com tão poucas palavras.
Para que tenhamos uma idéia ainda mais clara, somente neste
estudo que ora fazemos há em torno de 10.000 palavras, sendo mais de 2.600
palavras diferentes!
É importante que tenhamos em mente que o falar línguas extático,
é prática pagã, e existe em praticamente todas as religiões e seitas, do
espiritismo ao islamismo, do mormonismo à umbanda.
Todas estas religiões, ou práticas religiosas, alegam possuir o
"dom" espiritual de falar línguas estranhas. E muitas, mesmo estando afastadas
de Cristo e do Seu Santo Espírito, como o caso dos Mórmons ou dos carismáticos
Católicos, alegam possuir o "dom" através de ação do Espírito Santo de Deus.
Mais aterrador ainda, é ver um terrorista, com fuzil em punho e máscara sobre o
rosto, "falando línguas" (glossolalia), pouco antes de explodir-se em uma
lanchonete cheia de crianças.
Hoje, muitos têm perdido a noção de que nem tudo que é
espiritual provém de Deus, e que muitas manifestações espirituais, mesmo que
assim pareçam, não procedem de Deus, vejamos novamente a advertência que nos faz
o apóstolo João:
"Amados, não creiais a todo o espírito,
mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm
levantado no mundo." (I João 4:1)
O falar em línguas extático não se iniciou com Cristãos, na
verdade é uma prática muito mais antiga. A primeira referência histórica que se
tem de uma fala religiosa frenética remonta a 1.100 a.C. através do relato de
Wenamon, onde um jovem adorador do deus Amon, após ter oferecido sacrifícios ao
seu deus, foi possesso por ele e iniciou a falar freneticamente. Esta ação,
segundo este relato, durou toda uma noite.
Platão demonstrou conhecer o falar em línguas extático ao
descrevê-lo em vários de seus diálogos. No Phaedrus ele tratou de famílias que
estavam participando de santas orações, ritos e pronunciamentos inspirados. Os
participantes eram indivíduos que ao serem possessos perdiam o juízo (perdiam o
controle das faculdades mentais, porém não ocorria enlouquecimento). A
participação nestes eventos segundo o relato de Platão chegava a produzir a cura
física de doenças nos adoradores. A essa "loucura" religiosa ele chamou de
dádiva divina. Também afirmava que a profetiza de Delphos e a sacerdotisa de
Dodona, quando fora de si, podiam exercer grande influência benéfica sobre
certos indivíduos, porém quase nenhuma quando em domínio de suas faculdades
mentais. Relatou fatos semelhantes no Ion e no Timaeus. Neste último, relata que
quando um homem recebe a palavra inspirada, sua inteligência é dominada ou
possessa, e essa pessoa passa a não poder se lembrar do que falou, sendo que
estas falas são muitas vezes acompanhadas de visões, as quais a pessoa possessa
também não pode julgar, necessitando assim de intérpretes ou profetas para
exporem as declarações daquele que tem a fala "inspirada".
Já Vergílio relata que a sacerdotisa Sibelina adquiriu seu falar
extático em visita a uma caverna onde os ventos encanados produziam sons
estranhos que pareciam, às vezes, música.
Já a Pitonisa de Delfos é descrita por Crisóstomo
2,
desta forma:
"...diz-se então que essa mesma Pitonisa, sendo uma fêmea, às vezes senta-se escarranchada na trípode de Apolo, e, por conseguinte, o espírito mau, subindo debaixo e entrando na parte baixa do seu corpo, enche de loucura a mulher, e ela, com o cabelo desgrenhado, começa a tocar o bacanal e a espumar pela boca, e assim, estando num frenesi, fala as palavras de sua loucura".
A história não registra entre Cristãos a ocorrência de um falar
em línguas extático antes do início do século XX, quando do início do
pentecostalismo. Porém, em alguns grupos pequenos e isolados, os quais se diziam
cristãos, houve a ocorrência de um falar em línguas extático. Vejamos alguns
destes que alegaram ter tido este "dom":
Pelo exemplo da postura doutrinária e moral destes que alegaram
através dos tempos serem cristãos, e terem falado línguas enquanto em êxtase,
podemos afirmar seguramente que não se tratava de verdadeiros Cristãos, pois
desdenhavam da palavra de Deus como Sua máxima revelação.
O falar em línguas extático entrou para o Cristianismo, através
do movimento pentecostal iniciado por Spurling, Tomlinson e Parham, no início do
século XX. Charles Parham foi tido como o pai do pentecostalismo moderno, tendo
criado o Lar de Curas Betel e o Colégio Bíblico Betel, o qual ensinava que a
evidência do batismo com o Espírito Santo seria sem dúvida a glossolalia. Deste
ponto em diante se desenvolveu o movimento pentecostal, perseguindo o batismo
com o Espírito Santo e sua evidência visível, a glossolalia. Em 1o de janeiro de
1901, Agnes Ozman, uma das alunas do colégio falou em línguas após ter buscado
freneticamente pelo batismo com o Espírito Santo. Ela foi a primeira pessoa dita
Cristã a demonstrar a glossolalia.
O movimento pentecostal, teve um crescimento gradual, mas lento,
e somente surgiu como um movimento de grandes proporções a partir de meados do
século XX. E daí até aos dias de hoje, os distintivos pentecostais, que antes
estiveram restritos aos meios pentecostais, começaram a invadir as igrejas
tradicionais, e muitas estão sucumbindo a algumas das práticas pentecostais.
Frente a estes fatos devemos tecer algumas considerações:
Mesmo tendo claro em nossa mente que muitos crentes sinceros e
dedicados têm buscado e apresentado este "dom", precisamos entender que qualquer
experiência que contradiga o que nos é ensinado pela palavra de Deus deve ser
considerada como anátema, e devemos nos afastar dela:
"A vós também, que noutro tempo éreis
estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos
reconciliou (22) No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos
apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, (23) Se, na verdade,
permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do
evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo
do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro." (Colossenses 1:21-23)
Bem como devemos estar firmemente fundamentados na Palavra de
Deus para através dela podermos ensinar a outros as maravilhosas verdades de
nosso Deus:
"Retendo firme a fiel palavra, que é
conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã
doutrina, como para convencer os contradizentes." (Tito 1:9)
Isto posto, prossigamos em analisar este falar em línguas
"moderno":
Segundo as declarações daqueles que dizem possuir o "dom", este
vem acompanhado de ventos, perfumes, tremores, convulsões físicas, sensação de
flutuação, choques elétricos, luzes, transpiração (devido ao calor do Espírito
Santo), visões, curas, ver e ouvir a Cristo e tocar nele, etc. Algumas ou todas
estas coisas podem acontecer concomitantemente à glossolalia. Contudo, não há
nenhuma referência no Novo Testamento sobre quaisquer destes eventos como ações
concomitantes ao falar em línguas, o que descarta estas experiências adicionais
como sendo bíblicas.
Também, segundo testemunho dos que têm apresentado o falar em
línguas "moderno", sua vida se transformou depois de terem começado a demonstrar
o "dom". Mesmo sem compreender as palavras que proferem, surge uma luta interior
contra os pecados pessoais, um grande interesse pela igreja, pelo dizimar, pelo
aconselhar e pelo falar de Cristo, desejo de estudar a palavra de Deus, e uma
grande alegria interior, e alguns chegam a experimentar até curas físicas e
mentais.
Claro que os resultados aqui descritos são extremamente
desejáveis e recomendáveis a qualquer crente no Senhor Jesus Cristo, contudo
devemos ter claramente diante de nossos olhos que o resultado de uma experiência
espiritual não constitui um teste válido de sua origem divina. Todas as
experiências devem ser julgadas pela Palavra de Deus. O fim não justifica nem
revela os meios! Ou uma experiência espiritual está completamente de acordo
com a palavra de Deus ou deve ser descartada, por melhor ou por mais promissora
que possa parecer!
"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do
céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja
anátema" (Gálatas 1:8)
A experiência da glossolalia contradiz completamente os ensinos
da Bíblia Sagrada com relação ao propósito, duração e natureza do dom de
línguas, bem como quanto à regulamentação do seu uso. Logo, este "moderno falar
línguas" NÃO pode ser de Deus, pois Deus não contradiz sua palavra:
"Porque em verdade vos digo que, até que o
céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja
cumprido." (Mateus 5:18)
"Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e
eternamente." (Hebreus 13:8)
Se encontrarmos uma manifestação legítima de "falar línguas",
veremos que ela estará plenamente de acordo com o estabelecido pelo Espírito
Santo ao redigir a Bíblia Sagrada, através da inspiração de homens santos, e
veremos que a língua falada então será humana e inteligível, não haverá nenhum
evento concomitante dissonante do descrito pela Palavra de Deus, e a ação terá o
propósito de edificar o corpo de Cristo como um todo e haverá alguém para
interpretá-la (traduzi-la), se for o caso.
E se não for assim, então, a obra não é de Deus, restando então
apenas três outras fontes para esta manifestação de erro: o coração humano,
Satanás e a fraude, razões estas que veremos em detalhes mais à frente.
O "dom" de línguas é hoje uma febre que tem tomado conta de
denominações pentecostais, neopentecostais e dos assim chamados "carismáticos",
evangélicos ou não. Todos estes acreditam que se não for possível falar "línguas
estranhas" (ou seja, o falar em êxtase, a glossolalia) não é possível que se
alcance a felicidade e a plenitude como cristão, pois não teria havido o batismo
com o Espírito Santo, estando este crente, portanto, desprovido do Espírito de
Deus, lutando com suas próprias forças para vencer o pecado e todo o mal, em uma
situação de total desespero e desalento, sem discernir as coisas de Deus, pois
estas se discernem espiritualmente, lutando cego, uma luta em que lhe é
impossível obter a vitória, pois todo o poder está em Jesus Cristo e chega a nós
através do Seu Santo Espírito. Que triste a condição deste pobre crente, pois,
trata-se de engano, já que todo aquele que foi transformado pelo sangue de
Cordeiro de Deus recebe o Espírito Santo como selo para o dia da redenção:
"Em quem também vós estais, depois que
ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele
também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. (14) O qual é o
penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da
sua glória." (Efésios 1:13-14)
"E não entristeçais o Espírito Santo de
Deus, no qual estais selados para o dia da redenção." (Efésios 4:30)
"Mas o que nos confirma convosco em
Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, (22) O qual também nos selou e deu o penhor
do Espírito em nossos corações." (I Coríntios 1:21-22)
Mas, por este engano, colocado no coração destas pessoas, tem-se
estabelecido uma verdadeira corrida ao "dom". Daí o enorme desespero e a
profunda tristeza que muitos crentes (grande maioria deles, sinceros) enfrenta
enquanto não conseguem exibir o tão almejado "dom".
Como ficou amplamente demonstrado acima o dom de línguas bíblico
se refere ao falar línguas humanas e inteligíveis. E sendo assim, como
poderíamos explicar que crentes em Cristo, resgatados por Seu sacrifício
vicário, tenham apresentado um "dom" que está tão longe da verdade Bíblica? Ou,
por outro lado, como explicaríamos pessoas completamente estranhas à Igreja de
Cristo, apresentando o mesmo "dom" que estes crentes?
No primeiro caso, uma das explicações possíveis é que
isto pode estar sendo causado pela enorme necessidade que o Cristão sente de
fazer parte da sua congregação, de estar unido a ela. Esta necessidade pode
causar tal pressão sobre o subconsciente desta pessoa que ela passa a apresentar
o "dom", passando assim a ser completamente aceita pelo grupo com o qual
congrega.
Uma outra explicação para este mesmo caso, e uma das mais
óbvias, é que seria uma falsa ocorrência, uma fraude produzida para enganar.
Mas, vamos descartar esta alternativa, enquanto pejorativa, pois, cremos
piamente que não há intenção de dolo por parte dos crentes que professam ter
este "dom", eles o têm, e o têm de forma sincera. Mas, podemos imaginar que
alguns, por tamanha frustração e infelicidade em seus corações amargurados por
não terem ainda apresentado o "dom", possam chegar a imitar os que apresentam o
"dom", de modo a terem a compensação psicológica que isto lhes venha a dar.
Por outro lado, a glossolalia pode ser (e em muitos casos é) um
fenômeno psicologicamente induzido: Pois, ao contrário do que aconteceu no
primeiro século, hoje as pessoas são ensinadas a falar em "línguas estranhas", o
que se dá através de uma forma de indução que leva ao delírio e ao êxtase,
fazendo então com que a pessoa fale sem parar. É também digno de nota que
ninguém seja capaz de executar este "falar línguas" sem que antes o tenha
ouvido.
Há ainda a posição duvidosa de certos humanistas, que atribuem a
busca pelo êxtase da glossolalia, e de outras práticas concomitantes, à
repressão sexual existente no meio Cristão, que coloca o sexo como sendo prática
válida somente dentro do casamento. Isto impeliria as pessoas a buscarem dar
vazão às suas necessidades através de ações substitutas ao êxtase sexual.
Relatam estes humanistas que por diversas vezes estas pessoas chegam ao clímax
através do êxtase religioso, satisfazendo-se e dispensando assim as práticas que
são proibidas pela doutrina Cristã.
No segundo caso, como foi citado anteriormente, este
"fenômeno" ocorre também em meios não evangélicos, como no caso dos católicos
carismáticos, de alguns monges orientais e até de esquimós. Poderíamos crer que
o Espírito Santo de Deus tenha dado dons espirituais a incrédulos, idólatras e
hereges os quais duvidam que a morte do Senhor Jesus tenha sido suficiente para
remir nossos pecados? Ou ainda que crêem ser Cristo apenas uma pessoa
"iluminada"? Ou que simplesmente nunca ouviram falar de Jesus? Lembremo-nos que
os dons são para a edificação do Corpo de Cristo (a Igreja de Jesus) e sendo
assim, em que um grupo de idólatras e hereges falando "línguas estranhas" pode
vir a edificar este Corpo?
Há também a ocorrência do falar "línguas estranhas" através de
inspiração demoníaca. Não são poucas as ocorrências em que demônios falam
através de pessoas possuídas:
"Quando, pois, vos disserem: Consultai os
que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram:
Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á
aos mortos?" (Isaías 8:19)
"Porventura a minha palavra não é como o
fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que esmiuça a pedra? Portanto, eis que eu
sou contra os profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao
seu próximo. Eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que usam de sua
própria linguagem, e dizem: Ele disse." (Jeremias 23-29-31)
E muitos que falam em nome de Deus, e que clamam em nome do
Senhor Jesus, não são de Cristo, e destes o fogo eterno se incumbirá:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos
céus. (22) Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em
teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos
muitas maravilhas? (23) E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." (Mateus 7:21-23)
E há algumas doenças que também podem causar o "dom de línguas
estranhas", como é o caso de certos tumores cerebrais.
Não nos deixemos enganar pelo inimigo. Esta febre chamada de
"dom de línguas" tem provocado a divisão de muitas igrejas. Este alegado "dom"
que deveria ser uma bênção, algo para a edificação do corpo de Cristo, está na
verdade enfraquecendo e dividindo as igrejas de nosso Senhor Jesus, e está
levando crentes ao vício das "línguas estranhas", e ficam de tal forma
transtornados, que perdem completamente a razão, a ponto de que caso seja
provado - biblicamente - o seu erro, como o foi acima, abandonam
prontamente a palavra de Deus em favor de uma experiência de "maior
espiritualidade", alegando que a Bíblia Sagrada está limitando o poder de Deus,
e que esta experiência, este "dom", é a verdadeira revelação de Deus aos homens,
e qualquer que não a tenha experimentado não pode ser considerado como
verdadeiro Cristão. Esquecem-se eles que o coração humano é traiçoeiro e
perigoso, e não merece confiança:
"Enganoso é o coração, mais do que todas
as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9)
Citando Iain H. Murray: "Nossa visão de
Deus precisa ser controlada não pelo que vemos no mundo, mas pelo que a Bíblia
nos autoriza a crer." E como disse Erroll Hulse: "Toda experiência precisa ser
subordinada à disciplina das Escrituras."
Repetindo: todos os dons são dados por Deus para que sejam úteis
ao corpo de Cristo como um todo. E qual tem sido a utilidade deste dito "dom",
além de provocar a divisão e a discórdia?
"Mas a manifestação do Espírito é dada a
cada um, para o que for útil." (I Coríntios 12:7)
Finalmente, tenhamos muito cuidado nestes tempos de apostasia,
pois há muitos que tentarão nos enganar:
"Porque surgirão falsos cristos e falsos
profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora,
enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito." (Mateus 24:24-25)
E estejamos firmes, perseverando naquilo que de Cristo
recebemos:
"... Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; (32) E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (João 8:31-32)
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor." (Efésios 4:11-16)
A BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida Fiel ao Texto Original, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, São Paulo, 1995;
AUTENRIETH, Georg, A Homeric Dictionary, electronic version;
GARDNER, Calvin, As "Línguas" no Novo Testamento, Wooster Baptist Temple, Wooster, EUA;
GROMACKI, Robert G., Movimento Moderno de Línguas, 2a edição, JUERP, Rio de Janeiro, 1980;
HOUAISS, Antonio, Dicionário Houaiss da língua portuguesa, versão eletrônica;
LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert, A Greek-English Lexicon, electronic version;
SANTOS, Paulo S., Dons do Espírito Santo, Igreja Batista Esperança, São Paulo, 2001;
SLATER, William J., Lexicon to Pindar, electronic version;
STRONG, James LL.D., S.T.D, Strong's Concordance of the Whole
Bible, Abingdon, Nasville, EUA, 1981.
"Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o
sino que tine. (2) E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que
transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." (I Coríntios
13:1-2 ACF
1)
A questão da existência ou não de uma língua falada pelos anjos
é uma questão interessante e que merece uma atenção especial de nossa parte.
Há consenso entre os cientistas que uma das formas mais simples
de se reconhecer a presença de inteligência em uma determinada espécie, e qual é
o seu nível de desenvolvimento, é através da existência ou não de comunicação
entre os indivíduos desta espécie. Quanto mais complexa for esta comunicação,
maior é a inteligência atribuída aos que a executam.
Por exemplo, os golfinhos são reputados como tendo grande
inteligência, e isto pode ser verificado através do fato deles se comunicarem
entre si através de um complexo sistema de sons. Ainda não foi possível à
ciência desvendar sua língua, mas, é possível determinar com precisão que é
bastante complexa, composta de diversas estruturas construtivas que formam seu
padrão de comunicação.
Verificamos através da Palavra de Deus que os anjos são seres de
grande inteligência, capazes de executar tarefas extremamente complexas, capazes
de falar aos homens não importando qual a língua da pessoa com quem estão
falando, enfim, seres que são poderosos também em seus atributos intelectuais.
Assim, usando de raciocínio semelhante ao anteriormente apresentado, entendemos
que os anjos têm uma ou mais línguas próprias, através das quais se comuniquem
entre si. Também através deste mesmo raciocínio, podemos ter certeza de que é
extremamente rica e complexa.
Não queremos entrar no mérito de serem estas línguas mais
complexas que as línguas humanas, mas, podemos ter absoluta convicção de que
elas têm pelo menos o mesmo nível de complexidade da mais simples língua humana
existente, pois, menos que isto, impediria a comunicação dos anjos com os
homens, além do que, denotaria uma falta de desenvolvimento intelectual por
parte dos anjos, o que sabemos pela Palavra de Deus não ser verdade.
O apóstolo Paulo, em seu texto em I Coríntios 13, está exortando
aquela Igreja, que em uma demonstração de falta de Cristianismo, estava falando
em vários idiomas desconhecidos por aquelas pessoas, afrontando com isto os que
eram indoutos e aqueles que procuravam a Igreja a fim de conhecer a mensagem do
Evangelho.
Algumas coisas ficam claras por parte do texto:
Seria algo tão glorioso falar-se em todas as línguas dos homens
e dos anjos quanto seria transportar os montes através da fé. São eventos
colocados pelo apóstolo lado-a-lado como sendo equivalentes.
Alguns têm afirmado que a atual glossolalia é a língua dos
anjos. A glossolalia é um falar em êxtase, composto de 10 ou 20 vocábulos
combinados de 20 ou 30 formas distintas. Na verdade a glossolalia não passa de
uma série de sílabas desconexas, colocadas ao acaso, sem a formação de
estruturas lingüísticas definidas. E isto a desqualifica primeiramente como uma
língua, já que não tem nenhuma das estruturas necessárias para ser assim
considerada, e deste modo, isto também a desqualifica como sendo uma das línguas
dos anjos.
Devemos estar cientes de que os lingüistas são capazes de
observar em uma comunicação falada estruturas como substantivos, expressões
adverbiais, pronomes, adjetivos, conjunções, preposições, etc. Assim, se as
pessoas que alegam falar a língua dos anjos estivessem de fato falando uma
língua poderíamos reconhecê-la como sendo uma língua verdadeira e real, ainda
que celestial, o que definitivamente não acontece.
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
(retorne a http://solascriptura-tt.org/Seitas/
Pentecostalismo/
(retorne a http://solascriptura-tt.org/
Seitas/
retorne a http://
solascriptura-tt.org/
)
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.