Por
Antônio Pereira da Costa Júnior
Há alguns dias entrei numa livraria evangélica. Olhando as novidades, vi,
estupefato, que as obras que estavam à vista eram aquelas que falavam sobre o poder
inerente da língua. Como: “Há poder em suas palavras”, “Zoe: a
própria vida de Deus”, “A sua saúde depende do que você fala”, etc.
Conversando com a atendente perguntei-lhe sobre os livros que estavam mais
escondidos, como por exemplo, os livros de teologia, de referências, de
história da Igreja, etc. Ela respondeu-me que são livros que não saem das
estantes, a não ser que algum pastor, professor ou seminaristas venham a
adquiri-los. E disse-me que mais de 90% das pessoas que freqüentam a livraria
só compram livros dessa “nova teologia”.
É lamentável que isto seja um reflexo da falta de conhecimento da Igreja
hodierna. As pessoas não querem mais pesquisar a fundo o que se vende ou se
escuta por ai. Só querem bênçãos, sem se importar com o abençoador. Querem as
coisas de Deus, embora não pensem em conhecê-Lo. Buscam o pão da terra, mas
rejeitam o pão do céu. Nestas poucas linhas tentarei demonstrar que, apesar de
estar impregnada na Igreja como um todo, a confissão positiva é uma
falha grave da chamada “teologia moderna”.
O que é o Movimento do Pensamento Positivo? É a
crença em que o pensamento de uma pessoa é o fator primordial em relação a suas
circunstâncias. Só em ter pensamentos positivos todas as influências e
circunstâncias negativas serão vencidas.
E o Movimento de Confissão Positiva? É a versão
cristianizada do pensamento positivo que essencialmente substitui a fé em Deus
pela habilidade de ter fé em si mesmo. O simples fato de confessar
positivamente o que se crê faz com que o desejo confessado aconteça. (1)
O verbo decretar está sendo conjugado dia-a-dia pelas mais variadas
denominações. Não são poucas as pessoas que usam o jargão evangélico: “Tá
decretado!” Não faz muito tempo às famosas frases de efeito no meio evangélico
eram outras bem menos danosas para a fé cristã, como, por exemplo: “O sangue de
Cristo tem poder” – nem sempre usada no contexto correto –, “Tá amarrado!” etc.
Mas, qual o motivo da frase “tá decretado” – e suas variações – estar errada?
Não temos que reivindicar os nossos direitos junto ao Pai? Não somos filhos do
Rei? As nossas palavras não possuem poder?
Para responder, sinceramente, a estas e outras perguntas, gostaria de dar
algumas explicações do por quê não creio na assim chamada “confissão positiva”.
Devemos também lembrar-nos de que o termo “decreto” pertence somente ao Senhor
de Toda Glória, como bem falou Rubens Cartaxo Junior: “ Os Decretos eternos de
Deus é exclusivo de Sua pessoa o qual fez desde a Eternidade - Sl
33.11; Is 14.26-27; 46.9-10; Dn 4.34-35; Mt 10.29-30; Lc 22.22; At 2.23;
4.27-28; 17.26; Rm 4.18; 8.18-30; I Co 2.7; Ef 1.11; 2.10; II Tm 1.8-9; I Pe
1.18-20. Estes textos demonstram que Deus tem um propósito, ou um plano, para o
Universo que criou. Este plano existe antes da criação. É um
plano sábio, de acordo com o conselho de Deus. Ninguém pode anulá-lo, pois é
Eterno”. (2)
A “confissão positiva” é parte da “teologia da prosperidade”, tão divulgada e
recebida pela Igreja brasileira. Esta doutrina vem sendo divulgada há alguns
anos no Brasil, especialmente por R. R. Soares que é o responsável pela
divulgação dos livros de Kenneth E. Hagin, principal expositor desta doutrina.
Hagin diz que recebeu a fórmula da fé diretamente de Jesus, e mandou escrever
de 1 a 4 esta “fórmula”. Com ela, diz, pode-se conseguir tudo. Consiste em:
(1) "Diga a coisa" , positiva ou
negativamente, tudo depende do indivíduo.
(2) "Faça a coisa" , o que nós fazemos irá
determinar a nossa vitória.
(3) "Receba a coisa", a fé irá dinamizar a
ação e Deus tem que responder, pois está preso a “leis espirituais”.
(4) "Conte a coisa", para que outras pessoas
possam crer. Deve-se usar palavras como: decretar, exigir, reivindicar,
declarar, determinar, e não se pode pedir “se for da tua vontade”, pois isso destrói
a fé.
Não são poucos os líderes que adotam e pregam essa doutrina. Como disse o
próprio R. R. Soares em uma entrevista para a Revista Eclésia, quando
perguntado se ele era adepto da teologia da prosperidade, ele respondeu:
“...Agora, eu prego a prosperidade. Prefiro mil vezes pregar teologia
chamada da prosperidade do que teologia do pecado, da mentira, da derrota, do
sofrimento... A teologia da prosperidade, pelo que se fala por aí, eu bato
palmas. Não creio na miséria. Essa história é conversa de derrotados. São tudo
um bando de fracassados, cujas igrejas são um verdadeiro fracasso”. (3)
Para muitos, ganhar e ter dinheiro viraram sinônimos de vitória. E o que mais
nos impressiona é a suposta “base bíblica” para defender seus devaneios. Um
exemplo clássico é o texto de Filipenses 4:13 – que virou um moto na boca dos
cristãos hodiernos – que diz: “Posso todas as coisas em Cristo que me
fortalece” . Só que os adeptos da teologia da prosperidade ignoram por
completo o contexto da passagem. Veja o que diz os versos 11 e 12: “Não
digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que
tenho. Sei estar abatido, e sei também ter em abundância; em toda a maneira, e
em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto
a ter abundância, como a padecer necessidade”.
Em outras palavras Paulo diz-nos que poderia passar por qualquer situação –
fome, abatimento, necessidade, ter de tudo e não ter nada – pelo simples fato
de que a sua força, em momentos de tribulação ou não, era Jesus Cristo.
Esse movimento pensa que a língua e a mente têm um poder que pode criar as
circunstâncias ao nosso redor. Não é mais do que uma “parapsicologia
evangélica”. Muitas das coisas que os “doutores da fé” dizem são clones dos
ensinamentos do poder da mente, muito explorado pelo Dr. Joseph Murphy anos
atrás. Ele escreveu alguns livros como: “Como usar as leis da mente”,
“Conversando com Deus”, “As grandes verdades da Bíblia”, “A magia do poder
extra-sensorial”, “O poder do subconsciente”, dentre outros.
Vou apenas citar um trecho do livro “A paz interior”, do Dr. Murphy para vermos
que se parece muito com os “doutores da fé”. Comentando João 1:5-7 ele
diz: “As trevas referem-se à ignorância ou falta de conhecimento da
maneira como a mente funciona. Estamos nas trevas quando não sabemos que somos
o que pensamos e sentimos. O homem está num estado condicionado do
Não-condicionado, com todas as qualidades, atributos e potenciais de
Deus . O homem está aqui para descobrir quem é. Não é um autônomo. Tem
a capacidade de pensar de duas maneiras: positivamente e
negativamente . Quando começa a descobrir que o bem e o mal que
experimenta são decorrentes exclusivamente da ação de sua própria
mente, começa a despertar do senso de escravidão e limitação ao mundo exterior.
Sem conhecer as leis da mente , o homem não sabe como produzir
seu desejo”. (4) (grifo nosso)
Vejamos ainda o que Jorge Linhares diz em seu livro: “Bênção e Maldição”, onde
mostra um Deus dependente do homem, este é o Evangelho da Confissão Positiva e
do Evangelho da Maldição – “Palavras produzem bênção... [ou] maldição...
Palavras negativas... dão lugar a opressão demoníaca... ...Palavras positivas
(confissão positiva), amorosas, de fé, de confiança em Deus, liberam o poder
divino para desfazer a opressão...” (5)
Existem algumas supostas bases bíblicas que os defensores da confissão Positiva
usam para defender esta doutrina, vamos dar apenas três passagens para não
tomar muito tempo, no entanto, as demais passagens seguem basicamente esta
linha de interpretação.
Marcos 11:22-23 – “E Jesus, respondendo,
disse-lhe: Tende fé em Deus; Porque em verdade vos digo que qualquer que disser
a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas
crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito”.
Os defensores apregoam que o verso acima ensina que devemos ter a fé de Deus,
ou seja, a confissão que gera as coisas. Declarar a existência de coisas que do
nada virão a existir, podendo assim criar a realidade que quisermos.
O Pr. Jorge Issao Noda explica muito bem esta passagem em seu livro: “Somos
deuses?”, ele diz; “Copeland editou uma Bíblia de referência onde este
texto tem uma leitura alternativa: ‘Tende a fé de Deus'. Capps, Price, Hagin,
são unânimes nesta interpretação. Hagin afirma, inclusive, que ela está de
acordo com a visão dos eruditos em grego. O texto diz: echete (tende) pistin
(fé) theou (de Deus). De Deus? Então Deus tem fé! Sendo assim, os mestres da Fé
têm razão. Os cristãos, através dos séculos, estiveram interpretando
erroneamente este texto. Xeque-mate? De maneira nenhuma. Robertson, um dos
maiores eruditos em grego, afirma que o texto deve ser traduzido para ‘tende fé
em Deus' porque se trata de um genitivo objetivo. Neste caso Deus não é o
sujeito da fé (fé de Deus), mas o objeto da fé (fé em Deus). Os eruditos em
grego maciçamente concordam com Robertson, contrariando a afirmação de Hagin”.
(6)
Temos que ter fé em Deus, essa nossa fé em Deus é que faz com que os montes que
enfrentamos a cada dia sejam superados, não pelo poder inerente a fé, mas no
poder inerente do doador da fé, ou seja, o nosso Deus. Sem essa fé não
venceremos, mas com Ele somos mais do que vencedores.
Provérbios 6:2 – “E te deixaste enredar pelas próprias
palavras; e te prendeste nas palavras da tua boca”.
Este texto, dizem, significa que o poder de não passar por problemas está na
língua. No entanto, Salomão está falando da pessoa que ficou por fiador de
outro, como expressa o versículo anterior: “Filho meu, se ficasse por fiador
do teu companheiro, se deste a tua mão ao estranho, e te deixaste enredar
pelas próprias palavras; e te prendeste nas palavras da tua boca”. (grifo
nosso)
A Bíblia de Genebra explica o termo “enredado”: “Pedir dinheiro emprestado é
uma coisa, mas prover segurança para outrem é caminhar para dentro de uma
armadilha feita pelo próprio indivíduo”. (7)
Provérbios 18:21 – “A morte e a vida estão no poder da
língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”.
Este versículo explica que devemos ter o cuidado de que nossas palavras não
venham a nos trazer situações embaraçosas. Temos que saber como dizer as
coisas, pois certamente colheremos situações que são causadas por nós mesmos.
No entanto, este verso não dá margem para dizer que são as palavras em si que
nos dá o controle das circunstâncias da nossa vida. São situações específicas e
não o destino do ser humano que é traçado pela verbalização dos nossos desejos
interiores.
Para uma compreensão melhor do que eu quero dizer, deixe-me mostrar-lhes
algumas implicações práticas sobre a Confissão Positiva. Se você crer nesta
doutrina, então terá que desconsiderar aquilo que eu irei falar a seguir. Mas
se você quer ponderar o assunto, leia com atenção as frases seguintes.
Citaremos algumas implicações preocupantes que comprovam a periculosidade desta
doutrina para os cristãos menos desavisados:
Deus não depende das palavras dos homens para agir. Deus é e
sempre será Soberano. Soberania é o atributo pelo qual Deus possui completa
autoridade sobre todas as coisas criadas, determinando-lhe o fim que desejar
(Gn 14:19; Ne 9:6; Ex 18:11; Dt 10:14-17; I Cr 29:11; II Cr 20:6; Jr 27:5; At
17:24-26; Jd 4; Sl 22:28; 47:2,3,8; 50:10-12; 95:3-5; 135:5; 145:11-13;
Ap.19:6).
Já imaginou um Deus que depende do homem para agir? Com certeza Ele entraria em
enrascada se estivesse sujeito às oscilações da vontade humana. Eu mesmo não
queria um Deus desse tipo. Prefiro o Deus da Bíblia que “tudo faz como lhe
apraz”. (Sl 115:3).
Quando entendemos biblicamente quem na realidade é o homem,
ficamos sobremaneira conscientes de nossas falhas e limitações. Quanto mais a
confissão Positiva enaltece o homem, mais eu vejo o seu erro. A Bíblia nos
mostra claramente que o homem nada é comparado ao Senhor nosso Deus.
A Bíblia retrata como na verdade é o homem (Ezequiel 16:4-5; Is 1:6 Rm 3:10-18;
Sal 51:5; 58:3; Is 48:8; João 5:40; Rm 1:28; 3:11, 18; II Pedro 3:5; Rm 8:8; Jr
13:23; João 6:44-45; Rm 8:6-8; Ef 4:18; Rm 1:21; Jr 17:9).
Onde fica a luta de reformadores como Lutero? Muitos foram
aqueles que lutaram para que hoje tivéssemos a Palavra de Deus em nossas mãos.
Muito sangue foi derramado para que pudéssemos ler às Escrituras sem a
interferência da vontade humana. Onde fica o princípio da “Sola Scriptura”? A
Bíblia deixou de ser relevante para as nossas vidas? Creio firmemente que não e
os textos bíblicos confirmam isso - Sl 19:7-11; Sl 119; Jo 5:39; Rm 15:4; II Tm
3:16-17.
Amado irmão, se precisássemos apenas falar e declarar para que as
circunstâncias adversas fossem resolvidas e vivêssemos rica e abundantemente
sem problemas, então porquê a Bíblia dá tanta ênfase a suportar o sofrimento?
Se Paulo tivesse o poder de parar de sofrer decretando, então como foi que ele teve
que ficar com o espinho na carne? Deixemos de incoerência e vivamos a verdade
da Palavra do Senhor!
“Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias,
nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque
quando estou fraco então sou forte”. II
Co 12:10.
O evangelho de Cristo é o evangelho da cruz, da renúncia, do arrependimento, do nascer de novo. O cristianismo de hoje é um cristianismo sem cruz, sem sacrifícios. Gosto de dizer que é o “evangelho boa vida”, evangelho “não-faça-nada-e-ganhe-tudo”. Esse não é o evangelho de Cristo. Basta vermos alguns textos para comprovar o que estou dizendo – Jo 3; Mt 16:24; Mc 8:34; Lc 9:23; Gl 6:12; Mt 3:8; Lc 5:32; II Pd 3:9, etc.
Fico imaginando Lutero ou Calvino orando da seguinte
maneira: “Eu decreto que a partir de hoje o papado vai morrer, reivindico que
todos os inimigos do evangelho sejam transportados para o inferno. Declaro
explicitamente que não mais haverá mais heresias e que os inimigos da cruz de
Cristo vão desaparecer da face da terra. Está decretado em nome de Jesus!”
Essa oração nunca aconteceu. Dentro da História da Igreja não se tem notícia de
coisas absurdas como essa. Será que todos os grandes homens de Deus estavam
enganados a respeito de sua fé? Quando examinamos biografias diversas dos
homens de Deus, seja de quem for, notamos uma única nota coerente em todos: Verdadeira
humildade. Todos foram humildes em afirmar a soberania de Deus e a fraqueza do
homem. Agora, o homem quer mandar em Deus? Meus amados somos servos e não
senhores. E basta para nós sermos apenas servos.
Conclusão: Estude a Palavra e não fique por ai repetindo, como papagaio,
aquilo que você escuta na televisão. É muito fácil pregar heresias. É muito
prático dizer um “abracadabra” evangélico para que tudo se resolva. Difícil é
estudar com afinco às Escrituras, passar horas debruçado sobre as páginas
santas desse livro. Buscar de Deus o verdadeiro sentido da vida, entender às
verdades centrais desse livro, no entanto, é salutar.
Como a Igreja do Senhor está precisando de bereanos hoje em dia. Você quer ser
um deles? Oxalá que sim! Deus o abençoe.
SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER
NOTAS:
(1) A Sedução do Cristianismo, pg 268.
(2) Retirado da Internet - http://br.geocities.com/ipnatal
(3) Revista Eclésia, Ano V, Nº 67, Junho de 2001, pg 26.
(4) A paz Interior, pg 14-15, 8 a . edição, Record, Rio de Janeiro - 1979.
(5) Linhares, Pg. 16, 18.
(6) Somos Deuses? P. 28
(7) Bíblia de Genebra, p.732
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.