HERESIAS NEOPENTECOSTAIS
Pr. Airton Evangelista da
Costa
Pastores e demais líderes evangélicos começam a
demonstrar preocupação diante das extravagâncias que estão
surgindo nos púlpitos brasileiros. A cada dia que passa surgem
novas práticas anti e extrabíblicas. Não uso, como alguns, o
eufemismo de classificar esses descaminhos de “modismos”.
Coloco-os no rol das heresias.
As críticas que antes corriam apenas à boca pequena,
agora tomam corpo e são divulgadas em sites de expressão. A
Igreja Evangélica já não pode calar diante de tamanha
irracionalidade. Não desejamos ser julgados pelo pecado de
omissão. O povo brasileiro precisa saber que tais tolices, como
a seguir exemplificamos, estão à margem do evangelho que nos foi
ensinado por Jesus. Na verdade, se trata de um outro evangelho.
Em detrimento da Palavra, multiplicam-se os púlpitos
festivos. Encenações inusitadas, objetos ungidos e mágicos,
entrevistas com demônios, amuletos, “mercadorias” diversas, tudo
é válido no desvario em que se envolvem pregadores e ouvintes.
A impressão que se tem é que o evangelho, da forma
que foi anunciado pelos apóstolos nos primeiros tempos, já não
serve para os dias atuais. Falar de pecado, arrependimento,
perdão e santidade se tornou antiquado, obsoleto, repreensível.
É preciso entreter os ouvintes, apresentar uma nova atração a
cada semana, tudo semelhante ao que vemos na sociedade
consumista. Mas o que é preciso mesmo, e com urgência, é
botarmos a boca no trombone e denunciar o que estão fazendo com
o evangelho.
Ovelhas há que já perderam a noção do que é ser
cristão. Não sabem sequer por que Jesus morreu. Têm o dízimo
como meio de obter bênçãos espirituais e materiais. Não conhecem
o evangelho da renúncia, da resignação, do sofrimento, do
carregar a cruz, do contentar-se com o pouco. Certa vez,
conversando com um jovem neopentecostal, ele disse: “Se sirvo a
Jesus, quero ser rico, ter uma boa casa e carro importado”. Os
anos se passaram e nada disso aconteceu. Ele e seus pais pararam
de ofertar e estão com a fé em declínio. É o que está
acontecendo: gazofilácios cheios, pessoas vazias. O pai desse
jovem me revelou que entrou nessa porque acreditou nas
entrevistas que falam de riqueza fácil. Agora ele percebe que os
que estão mais pobres não são convidados a falar de sua
pobreza.
São de arrepiar os relatos que se encontram no site
http://webbethel.com/gondim09.htm, de autoria
do pastor Ricardo Gondim. É difícil de acreditar que um grupo
de cristãos, liderados pelo pastor, alugue um helicóptero e, com
dezenas de litros de óleo, passe a ungir a cidade do Rio de
Janeiro, derramando uma caneca de óleo aqui, outra ali. Fico a
meditar como o líder conseguiu envolver irmãos de boa fé nesse
projeto inusitado. O
óleo da “unção”
deve ter caído em lugares pouco recomendáveis para o mister,
tais como animais mortos, fezes e valas fétidas.
Mais incrível é o uso de
urina para demarcar
território.
Essa você não vai acreditar. Está no referido endereço. Em
Curitiba, um grupo de irmãos, liderado pelo pastor da igreja,
entendeu que deveria demarcar seu território com urina, como
fazem os leões e lobos. Após beberem muita água para encher bem
a bexiga, seguiram para pontos estratégicos da cidade e passaram
a URINAR. Quando li a notícia, pensei que a palavra estivesse
errada. Talvez fosse REUNIR. Mas era urinar mesmo. Foram horas e
horas urinando. O comboio de veículos parava em pontos
preestabelecidos, e, ali, a um sinal, um deles aliviava a
bexiga. Ora, esse tipo de lógica poderá levar irmãos a
situações mais degradantes ainda. Degradantes, patéticas e
irracionais. Algum irmão desse grupo poderá descobrir que
determinada espécie animal demarca seu território com suas
próprias fezes. Certamente não atentaram para o contido no Art.
233 do Código Penal que trata da prática de “ato obsceno em
lugar público”, e estipula a pena de detenção de três meses a um
ano, ou multa. A jurisprudência indica que a micção em lugar
público configura o crime previsto no referido Artigo, ainda que
não haja intenção de vulnerar o pudor público.
Pelas perguntas e respostas a seguir é possível
comparar o evangelho de ontem com o de hoje. Após ouvirem a
pregação de Pedro, muitos, compungidos, perguntaram: “Que
faremos?” Pedro respondeu: “Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo”
(At 2.37-38). A resposta, hoje, seria: “Participe das campanhas,
faça o sacrifício do dar tudo, e seja próspero”. Atendendo à
curiosidade de Nicodemos, Jesus disse: “Quem
não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo
3.3). A resposta no outro evangelho: “Seja dizimista fiel”. Se
alguém perguntasse a Tiago o que deveria fazer para livrar-se
dos encostos, ele prontamente diria: “Sujeitai-vos
a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7).
A resposta do evangelho festivo seria: “Use sal grosso, sabonete
de descarrego, vassouras, fitas, colares, cajados, pedras, e
seja dizimista fiel”. Se o pecado do rei Davi – adultério e
co-autoria num homicídio - fosse nos dias de hoje, a culpa seria
do encosto que estaria nele. Uma série de exorcismos, cinqüenta
quilos de sal grosso, uma dúzia de sabonetes seriam necessários
para pôr o encosto em retirada. Às indagações sobre como ter o
necessário à vida, Jesus respondeu: “Não
pergunteis que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não
andeis inquietos.
Buscai antes o reino de Deus, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas” (Lc
12.29,31). A resposta no evangelho da prosperidade: “Toque no
lençol mágico”.
O Apóstolo Paulo confessa que “orou
três vezes ao Senhor” para que o livrasse de um espinho
na carne. Mas o Senhor, em vez de atendê-lo, respondeu: “A
minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.
Reconhecendo a vontade soberana de Deus, Paulo se conforma e
continua com seu espinho. E declara: “Portanto,
de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas”, pelo que
“sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois quando
estou fraco, então é que sou forte” (2 Co 12.7-10). A
orientação para esses casos, nos púlpitos festivos, é a
seguinte: “Exija de Deus seus direitos”. Sofredores como o
Apóstolo, o servo Jó e muitos outros desconheciam esse caminho
“legal” para exigir direitos assegurados.
Com relação à substituição do "pedir" pelo "exigir",
como fazem alguns neopentecostais, vejam o seguinte. Pedir, do
grego aiteõ,
sugere a atitude de um suplicante que se encontra em posição
inferior àquele a quem pede. É esse o verbo usado em João 14.13
– “E tudo quanto pedirdes em meu nome...”
– e 14.14 – “Se pedirdes alguma coisa em
meu nome, eu o farei”. “Pedir”, do grego
erõtaõ, indica com
mais freqüência que o suplicante está em pé de igualdade ou
familiaridade com a pessoa a quem ele pede, como, por exemplo,
um rei fazendo pedido a outro rei. “Sob este aspecto, é
significativo destacar que o Senhor Jesus NUNCA usou o verbo
aiteõ na questão de
fazer um pedido ao Pai”, por ter dignidade igual Àquele a quem
pedia. (Jo 14.16; 17.9,15, 20 – Fonte: Dic. VINE). Por essas e
outras, há muita gente confundindo alhos com bugalhos.
Repassa-se a idéia de que crente não deve chorar nem
passar por qualquer tipo de sofrimento. Crente deve ser
próspero. A verdade, por muitos desconhecida, é que a fidelidade
a Deus não nos garante uma vida livre de dores, aflições e
sofrimento. Dizer que aos crentes e fiéis dizimistas está
garantia uma vida de flores, sem lágrimas, sem luta espiritual,
sem aperto financeiro, é conversa para boi dormir. Jesus disse
que seus seguidores deveriam carregar sua própria cruz, caminhar
por um caminho apertado e passar por uma porta estreita “No
mundo tereis aflições; na verdade todos os que desejam viver
piamente em Cristo padecerão perseguições” (Jo 16.33; 2
Tm 3.12). Era da vontade de Deus que Paulo pregasse o evangelho
em Roma. Apesar de sua fidelidade a Deus, os caminhos lhe foram
difíceis. Enfrentou provações várias, naufrágio, tempestade,
prisões.
Não podemos fazer ouvidos moucos à zombaria e piadas
em torno desse “outro evangelho”. As pessoas tendem a nivelar
todas as Igrejas Evangélicas pelo que vê na televisão, ou pelo
que vê num ou outro culto. Eu pensaria da mesma forma se não
fosse evangélico. É preciso esclarecer a opinião pública sobre o
que diz a Bíblia a respeito de cada nova idéia extravagante. Que
se façam ouvir as vozes e o protesto dos líderes que defendem a
pregação de um evangelho livre de heresias e irracionalidade.
Sem conhecer a verdade bíblica se torna difícil
detectar as heresias. Ouça este conselho: não coma pela mão dos
outros, mas examine você mesmo se o que o seu pastor prega está
de acordo com a Palavra. Se você não estiver devidamente
preparado para esse exame, consulte outros irmãos.
19.01.2004