Por Clériston Andrade
"As festas bíblicas são ordens
sagradas do Senhor. Elas não são apenas judaicas; são, antes de mais nada, do
Senhor, declaradas como estatuto eterno (Lv. 23:1-44). Essas
festas não são um convite para que a Igreja volte à primeira aliança, mas para
sustentar a mensagem que elas transmitem. Elas apontam para o fim, para o
Cordeiro e falam da parusia, ou seja, a segunda vinda do Messias."
"Preste atenção ao que está sendo
ministrado, pois Roma não deseja que nossos olhos sejam abertos. Roma quer nos
prender ao paganismo. Esse paganismo se traduz na tentativa de deixar as festas
bíblicas no esquecimento e de pegar as festas pagãs e tentar cristianizá-las.
Porém, Deus abriu os nossos olhos. Não estamos mais debaixo da escuridão, pois
o Senhor nos trouxe para a luz."
(Apóstolo Renê Terra
Nova).
A frase do
autodenominado “apóstolo” René Terra Nova demonstra bem a necessidade de
estudarmos este assunto: a Igreja deve guardar festas e costumes judaicos? A
Bíblia deixa alguma evidência de que tais práticas são para os cristãos?
Independentemente de
dados históricos extra-bíblicos, devemos nos deter ao estudo das Escrituras
para esclarecermos tais questionamentos. É da Bíblia a Palavra final sobre o
assunto!
Para começarmos nosso
estudo, é interessante nos debruçarmos sobre a carta de Paulo aos gálatas, pois
os irmãos da Galácia estavam passando por uma situação semelhante a da igreja
de hoje.
Quando Paulo escreveu
aos gálatas, Os judeus estavam presentes em todo o Império Romano,
principalmente nas cidades mais importantes. Muitos deles se converteram ao
cristianismo e, dentre os convertidos, havia aqueles que queriam impor a lei
mosaica sobre os cristãos gentios. São os "judaizantes". Assim como
os fariseus e saduceus perseguiram Jesus durante o período mencionado pelos
evangelhos, os judaizantes pareciam estar sempre acompanhando os passos de
Paulo a fim de influenciar as igrejas por ele estabelecidas. Essa questão entre
judaísmo e cristianismo percorre o Novo Testamento.
Os judaizantes
estavam também na Galácia, onde se tornaram uma forte ameaça contra a sã
doutrina das igrejas.
Aqueles judeus davam
a entender que o evangelho estava incompleto. Para conseguirem uma influência
maior sobre as igrejas, eles procuravam minar a autoridade de Paulo. Para isso,
atacavam a legitimidade do seu apostolado, como tinham feito em Corinto.
Os
judaizantes chegavam às igrejas com o Velho Testamento "nas mãos".
Isso se apresentava como um grande impacto para os cristãos. O próprio Paulo
ensinava a valorização das Sagradas Escrituras. Como responder a um judeu que
mostrava no Velho Testamento a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à
lei? Além disso, apresentavam Abraão como o modelo para os servos de Deus.
Os judaizantes
ensinavam que a salvação dependia também da lei, principalmente da circuncisão.
Segundo eles, para ser cristão, a pessoa precisava antes ser judeu (não por
descendência, mas por religião). Foi para combater as heresias judaizantes que
Paulo escreveu aos gálatas e mostrou àqueles irmãos que voltar as práticas e
aos cerimoniais da Lei era cair da graça. (Gálatas 5:1-10) “1 Para a
liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos
submetais, de novo, a jugo de escravidão.
2 Eu,
Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará.
3 De
novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a
guardar toda a lei.
4 De
Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça
decaístes.
5 Porque
nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé.
6 Porque,
em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a
fé que atua pelo amor.
7 Vós
corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade?
8 Esta
persuasão não vem daquele que vos chama.
9 Um
pouco de fermento leveda toda a massa.
10 Confio de
vós, no Senhor, que não alimentareis nenhum outro sentimento; mas aquele que
vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação”.
Algo parecido tem
acontecido na Igreja brasileira nos dias atuais. Os judaizantes modernos
ensinam que devemos guardar as festas judaicas, ler a Torah nos cultos, etc.
É muito comum vermos
cristãos usando kipás (bonezinho usado pelos judeus), buscando ligações
genealógicas com o povo israelita para que possam obter nacionalidade judia,
entre outras coisas. Até mesmo nos cultos de algumas igrejas, músicas e danças
judaicas foram inseridas.
Em nome do amor a
Israel a bandeira da nação é colocada na igreja (será que um árabe desejoso por
conhecer Cristo entraria nesta igreja?), o shofar é tocado e promovem-se as
festas com a promessa de uma nova unção sobre a vida de quem participa de tais
celebrações.
Há igrejas onde as
pessoas não podem adentrar ao templo de sandálias ou sapatos e são orientadas a
tirar os calçados, pois, segundo ensinam, irão pisar terra santa.
Há notícias de
denominações no Brasil onde os assentos foram retirados dos templos e os crentes
ficam de joelhos em posição semelhante à usada pelos judeus nas sinagogas.
Uma famosa “apóstola”
apregoa inclusive a necessidade da Igreja Evangélica brasileira guardar o
sábado. Em uma entrevista a antiga revista Vinde, ela declarou: "Meu
contato com Israel me mostrou várias coisas, como os dias proféticos, as
alianças: seis dias trabalharás e ao sétimo descansarás. Êxodo 31
declara que o sábado é o sinal de uma aliança perpétua e da volta de Cristo”.
Afinal, devemos ter a
preocupação de celebrar as festas judaicas, usar kipá, colocar pano de saco,
banhar-se de cinzas? O cristão tem essas obrigações? O que diz a Palavra sobre
o assunto?
Sobre a idéia da
guarda do sábado e a sugestão da pastora de que isso faz parte de uma aliança
perpétua, verifiquemos o seguinte:
Usar a expressão
"aliança perpétua" para referir-se à aliança feita entre Deus e
Israel é desconhecer a transitoriedade dessa aliança apontada pela Bíblia. Se
não, vejamos. A Bíblia menciona a existência de duas alianças. A primeira foi
firmada entre Deus e o povo de Israel (Êxodo 19.1-8), logo que saiu da terra do
Egito e se acampou junto ao Monte Sinai. A aliança foi ratificada com o sangue
de animais como se lê em Êxodo 24.1-8. No livro de Hebreus, o escritor se
reporta a esta aliança, dizendo: "É por isso que nem a primeira
aliança foi consagrada sem sangue. Havendo Moisés anunciado a todo o povo todos
os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com
água, lã púrpura e hissopo, e aspergiu tanto o próprio livro como todo o povo
dizendo: ‘Este é o sangue da aliança que Deus ordenou para vós’" (Hebreus
9.18-20).
Essa aliança não
integrava o povo gentio (Salmo 147.19 e 20): "Mostra a sua palavra a
Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma
outra nação; e, quanto aos seus juízos, não os conhecem”.
Embora o povo de
Israel tivesse prontidão em responder que observaria essa aliança, na verdade,
não a cumpriu, de modo que Deus prometeu nova aliança. Essa promessa foi
registrada por Jeremias: "Vêm dias, diz o Senhor, em que farei uma
aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança
que fiz para com seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da
terra do Egito, porque eles invalidaram a minha aliança, apesar de eu os haver
desposado, diz o Senhor" (Jeremias 31.31 a 34).
Novamente, o escritor
do livro de Hebreus se reporta a essa nova aliança, afirmando que ela já tinha
sido estabelecida por Jesus Cristo: "Mas agora alcançou Ele
ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de superior aliança, que
está firmada em melhores promessas. Pois se aquela primeira aliança tivesse
sido sem defeito, nunca se teria buscado lugar para a segunda", (Hebreus
8.6 e 7). Ainda Paulo, falando sobre a antiga aliança, declara: "Ele
nos fez também capazes de ser ministros de uma nova aliança, não de letra, mas
do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2 Coríntios 3.6).
Logo, não se pode falar em "aliança perpétua", referindo-se à
primeira aliança entre Deus e Israel.
O que talvez a
apóstola quisesse, mas não o fez, era dizer que o sábado é um mandamento
perpétuo, como se lê em Êxodo 31. 16 e 17. Todavia, ainda assim, ela estaria
incorreta. Não procede dizer que a guarda do sábado deva ser observada pelos
cristãos hoje. Isto porque a palavra perpétuo não se aplica só ao sábado, mas
também a vários outros preceitos que os guardadores do sábado nunca se
dispuseram a cumprir, como, por exemplo, a circuncisão pois Gênesis 17.13-14
diz o seguinte: “Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa
e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será
aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do
prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança”.
E agora, teremos que nos circuncidar também? Ou não seria mais coerente guardar
o significado espiritual de tais ordenanças e não o seu aspecto cerimonial?
Um outro argumento da
“apóstola” é a de que o domingo tem origem pagã, ela diz: “"Roma teve um
imperador que adorava o sol. Daí Sunday (dia do sol) [do inglês, domingo]. Por
essa questão pagã, a tradição chegou até nossos dias...”.
Entretanto, esse é um
argumento pueril, freqüentemente citado por eles para imprimir a idéia de que a
guarda de outro dia que não o sábado é de origem estritamente pagã. Tão pagã
quanto a palavra Sunday é Saturday (dia de Saturno), sábado, em inglês. O dia
era dedicado ao deus Saturno e prestava-se culto com orgias e muita bebida. Os
dias da semana levavam nomes pagãos e não só o domingo.
Constantino, por sua
vez, foi o primeiro imperador romano a adotar o cristianismo. Quando o fez
promulgou vários decretos em favor dos cristãos, destacando-se o de 7 de março
de 321. Se vale o argumento de que a guarda do domingo é de origem pagã por ter
sido Constantino quem firmou o primeiro dia da semana como dia de guarda, então
teria que reconhecer que a doutrina da Trindade também tem origem pagã, pois
foi o mesmo Constantino quem presidiu o Concílio de Nicéia, em 325, quando foi
reconhecida biblicamente a deidade absoluta de Jesus. Jesus sempre foi Deus
verdadeiro ou passou a sê-lo depois do Concílio de Nicéia? E o domingo passou a
ser dito como dia de adoração em decorrência do decreto imperial ou os cristãos
já o tinham como dia de adoração?
Quanto ao uso do Kipá,
atente para o significado desta indumentária judaica segundo judeus
messiânicos:
“Kipá - Simboliza que há alguém acima de
você - O significado da palavra kipá é "arco", que fica compreensível
quando pensamos em seu formato. A kipá é um lembrete constante da presença de
Deus. Relembra o homem de que existe alguém acima dele, de que há Alguém Maior
que o está acompanhando em todos os lugares e está sempre o protegendo, como o
arco, e o guiando. Onde quer que vá, o judeu estará sempre acompanhado de
Deus”.
“É costume judaico
desde os primórdios um homem manter sua cabeça coberta o tempo todo,
demonstrando com isso humildade perante Deus. É expressamente proibido entrar
numa sinagoga, mencionar o nome Divino, recitar uma prece ou bênção, estudar Torá
ou realizar qualquer ato religioso de cabeça descoberta”.
Fica o
questionamento: é necessário para um cristão usar um kipá para lhe lembrar a
presença de Deus? É preciso usar esse gorrinho para não esquecer de que Deus é
Soberano e está acima de todos?
Não basta para o
verdadeiro cristão o fato de que o próprio Deus habita em nós por meio do Seu
Espírito? Fica o questionamento de Paulo aos coríntios: (1 Coríntios 3:16) “Não
sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.
1o – A lei de Moisés foi dada
aos filhos de Israel (Êx.19,3,6). Nós, cristãos gentios, não somos filhos da
nação Israel.
2o – Jesus cumpriu a lei
cerimonial. Tal cumprimento significa não apenas sua obediência, mas a
satisfação das exigências da lei cerimonial através da obra de Cristo.
Precisamos
entender que os mandamentos da lei mosaica se dividem em vários tipos. Vamos,
basicamente, dividi-los em mandamentos morais, civis e cerimoniais:
Os mandamentos morais
dizem respeito ao tratamento para com o próximo: Não matarás; Não adulterarás;
Não furtarás, etc. Tais ordenanças estão vinculadas à palavra amor.
Os mandamentos civis
são aqueles que regulamentavam a vida social do israelita. São regras diversas
que se aplicam às relações da sociedade. Um bom exemplo é o regulamento da
escravidão.
Os mandamentos
cerimoniais são aqueles que se referem estritamente às questões religiosas. São
as ordenanças que descrevem os rituais judaicos.
A classificação de um
mandamento dentro desses tipos nem sempre é fácil. Algumas vezes, uma lei pode
pertencer a dois desses grupos ao mesmo tempo, já que a questão religiosa está
por trás de tudo. A sociedade israelita era essencialmente religiosa. O Estado
e o sacerdócio nem sempre se encontravam separados. Contudo, tal proposta de
classificação já serve para o nosso objetivo.
A lei moral se resume
no amor a Deus e ao próximo, como é dito em Gálatas 5.14 “Porque toda a
lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo”.Os princípios morais permanecem válidos no Novo Testamento.
Hoje, não matamos o próximo, mas não por causa da lei de Moisés e sim por causa
da lei de Cristo (Gálatas 6.2) “Levai as cargas uns dos outros e, assim,
cumprireis a lei de Cristo” à qual os gálatas deviam obedecer. A lei de
Cristo é a lei do amor a Deus e ao próximo.
As leis civis do povo
de Israel não se aplicam a nós. Além dos motivos já expostos, nossas
circunstâncias são bastante diferentes e temos nossas próprias leis civis para
observar. O cristão deve obedecer as leis estabelecidas pelas autoridades
humanas enquanto essas leis não estiverem ordenando transgressão da vontade de
Deus (Rm.13.1) “Todo homem esteja sujeito
às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e
as autoridades que existem foram por ele instituídas”.
As leis cerimoniais
judaicas foram abolidas por Cristo na cruz (o significado de cada uma delas se
cumpriu em Cristo). Por esse motivo, mesmo os judeus que se convertem hoje ao
cristianismo estão dispensados da lei cerimonial judaica. Por isso, não fazemos
sacrifícios de animais, não guardamos o sábado, não celebramos as festas
judaicas, etc.
Se alguém quiser
observar algum costume judaico, isso não constituirá problema, desde que a
pessoa não veja nisso uma condição para a salvação e nem prometa através destas
coisas tornar alguém mais espiritual. (Rm 14.-8) “1 ¶ Acolhei ao que é
débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.
2 Um crê
que de tudo pode comer, mas o débil come legumes;
3 quem
come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come,
porque Deus o acolheu.
4 Quem és
tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas
estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.
5 Um faz
diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha
opinião bem definida em sua própria mente.
6 Quem
distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come,
porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não come e dá graças a
Deus.
7 Porque
nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si.
8 Porque,
se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer,
pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor ”.
O problema é
justamente a conotação dada a essas festas e aos costumes judaicos por pessoas
de movimentos judaizantes. Por exemplo, dizem que se não celebrarmos as festas
estaremos sendo devedores ao Senhor e que celebrar seria repreender o “espírito
de Roma” da Igreja, que o Evangelho estaria de volta a Jerusalém, etc.
Celebrar uma festa
judaica na igreja como representação simbólica do período vetero-testamentário
nada tem de mais, no entanto, colocar isso como obediência de mandamento é
certamente abandonar a graça de Deus e voltar a Lei.
Já há gente se
vestindo de pano de saco e banhando-se de cinzas para mostrar arrependimento.
Em certos ambientes, para se aproximar do púlpito é preciso que os crentes
tirem os calçados, pois estariam pisando em “lugar santo”. Com isso, a obra de
Cristo estará sendo colocada em segundo plano, como algo incompleto e
insuficiente, como fica claro em Gálatas 5.4-6 “De Cristo vos
desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes.
5 Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém
da fé. 6 Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão
têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor”.
Além de tudo isso, é bom
que citemos as palavras de Paulo: "..não estais debaixo da lei mas
debaixo da graça." (Rm.6.14).
O Pastor Isaltino
Gomes Coelho Filho escreveu o seguinte sobre a rejudaização da Igreja:
A rejudaização do
evangelho tem um lado comercial e outro teológico. O comercial se vê nas
propagandas para visita à "Terra Santa". O judaísmo girava ao redor
de três grandes verdades: um povo, uma terra e um Deus. No cristianismo há um
povo, mas não mais como etnia. A Igreja é o novo povo de Deus, herdeira e
sucessora de Israel, composta de "homens de toda tribo, e língua e
povo e nação" (Ap 5.9). Há também um Deus, que se revelou em Jesus
Cristo, sua palavra final (Hb 1.1-2). Mas não há uma terra santa. No
cristianismo não há lugares e objetos santos. O prédio onde a Igreja se reúne e
que alguns chamam, na linguagem do Antigo Testamento, de "santuário",
não é santuário nem morada de Deus. É salão de cultos. O Eterno não mora em
prédios, mas em pessoas. Elas são o santuário (At 17.24, 1Co 3.16, 6.19 e Hb
3.6). Deus não está mais perto de alguém em Jerusalém que na floresta
amazônica, nos condomínios, favelas e cortiços das grandes cidades. No
cristianismo, santo não é o lugar. São as pessoas. Não é o chão. É o crente. E
Deus pode ser encontrado em qualquer lugar. Não temos terra santa, e sim gente
santa.
A propaganda gera uma
teologia defeituosa. Pessoas vão à Israel para se batizar nas águas onde Jesus
se batizou. Ora, o batismo é único, singular e sem repetição. Ele segue a
conversão e mostra o engajamento da pessoa no propósito eterno de Deus. Uma
pessoa que foi batizada, após conversão e profissão de fé, numa igreja bíblica,
não se batiza no rio Jordão. Apenas toma um banho. E, sem o sentido filosófico
do ser e do vir a ser de Heráclito, aquele não é o Jordão onde Jesus foi
batizado porque as águas são outras. As moléculas de hidrogênio e oxigênio que
compunham aquele Jordão podem estar hoje em alguma nuvem. Ou na bacia
amazônica. Ou no mar. Até no Tietê. É mero sentimentalismo e não identificação
com Jesus. É lamentável que pastores conservadores em teologia
"batizem" crentes já batizados no Jordão. Isto é vulgarizar o
batismo, tirando seu valor teológico.
Não sou contra
turismo. Faça-o quem puder e regozije-se com a oportunidade. Sou contra o entortamento
da teologia como apelo turístico. Temos visto pastores com sal do mar Morto,
azeite do monte das Oliveiras (há alguma usina de beneficiamento de azeitonas
lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos, sim!). Há
um fetichismo com terra santa, areia santa, água santa, sal santo, folha de
oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são santas, mas as coisas não.
A rejudaização caminha paralelamente com a superstição e feitiçaria. É parente
da paganização. Não estou tecendo uma colcha de retalhos. Tudo isto é produto
de uma hermenêutica defeituosa, que não compreende as distinções entre os dois
Testamentos, os critérios diferentes para interpretá-los, a pompa e liturgia do
judaísmo em contraposição à desburocratização do cristianismo e que a palavra
final de Deus foi dada em Jesus Cristo. É o NT que interpreta o AT e não
o AT que interpreta o NT.
Um outro fator
abordado pelo pastor Isaltino é a tal “restauração do sacerdócio”. O pastor
visto como um intermediário da relação do homem com Deus. Sabemos que no NT o
sacerdócio universal do crente fica claro, nem um filho de Deus precisa de
sacerdotes humanos para ter acesso ao Pai. Temos a Cristo como o nosso
Mediador:
Entretanto, a
incidência do uso do termo "leigo" para os não consagrados aos
ministérios é reveladora. Todos nós somos ministros, pois todos somos servos. E
todos somos leigos, porque todos somos povo (é este o sentido da palavra
"leigo", alguém do povo). Não temos clero nem laicato. Somos todos
ministros e somos todos povo. Mas cada vez mais as bases ministeriais são
buscadas no Antigo Testamento e não no Novo. Usamos os termos do Novo com a
conotação do Antigo. O pastor do NT passa a ter a conotação do sacerdote do AT.
É o "ungido", detentor de uma relação especial com Deus que os outros
não têm. Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como o sacerdote do AT.
Por exemplo, batismo e ceia só podem ser celebrados por ele. Assumimos isto
como postura, mas não é uma exigência bíblica. Na batalha espiritual isto é
mais forte. Os pastores tornam a igreja dependente deles. Só eles têm a oração
poderosa, a corrente de libertação só pode ser feita por eles e na igreja, só
eles quebram as maldições, etc.
O sentido teológico
do sacerdote hebreu parece permear fortemente o sentido teológico do pastor neotestamentário
na visão destas pessoas. Este conceito convém ao pastor que prefere ser chamado
de “líder”. Ele se torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que
deve ser acatado. Tem uma autoridade espiritual que os outros não tem. O Antigo
Testamento elitiza a liderança. O Novo Testamento democratiza. Para os líderes
destes movimentos, o Novo Testamento, a mensagem da graça e a eclesiologia
despida de objetos, palavras e gestual sagrados não são interessantes. Assim,
eles se refugiam no AT. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de
sete braços e estrelas de Davi no lugar da cruz, bandeira de Israel,
guardando festas judaicas, e até incensários em seus salões de cultos. Há
evangélicos que parecem frustrados por não serem judeus. A liturgia pomposa do
judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe acima dos
outros. Concluindo, a atração pelo poder é maio dor que o desejo de servir.
A perniciosidade
da influência judaica na Galácia estava no fato de atentar contra a essência do
evangelho. Os judeus queriam acrescentar a circuncisão como condição para a
salvação. Se assim fosse, o cristianismo seria apenas mais uma seita do
judaísmo. Então, Paulo vem reforçar o ensino de que a salvação ocorre pela fé
na suficiência da obra de Cristo. Para se conhecer a suficiência é preciso que
se entenda o significado. Em sua exposição, Paulo toma Abraão como exemplo,
assim como fez na epístola aos Romanos, afirmando que o patriarca foi
justificado pela fé e não por obediência à lei. Tal exemplo era de grande peso
para o judeu que lesse a epístola. Na seqüência, o apóstolo expõe diversos
aspectos da obra de Cristo e do Espírito Santo na vida do salvo sem as
imposições da lei.
A
lei mosaica se concentrava em questões visíveis, embora não fosse omissa com
relação ao espiritual. Os pecados ali proibidos eram, principalmente, físicos.
Assim também, a adoração era bastante prática. Seus preceitos determinavam o
local, a postura, a roupa, o tempo apropriado, etc. No Novo Testamento, Jesus
vem transferir a ênfase para o espiritual, embora não seja omisso em relação ao
físico. Ao falar com a mulher samaritana, Jesus observa que ela estava muito
preocupada com os aspectos exteriores da adoração a Deus. Isso era
característica da ênfase do Velho Testamento. Jesus lhe disse: "A
hora vem e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito
e em verdade” (João 4.23). Vemos nisso a ênfase do Novo Testamento: que
é espiritual.
Contrastes
entre a Lei e a Graça
LEI / MOISÉS
Mostra o pecado
Enfatiza a carne
Traz prisão e morte
Infância
Traz maldição
GRAÇA / JESUS / CRUZ
Perdoa o pecado
Enfatiza o espírito
Traz libertação e
vida
Maturidade
Leva a maldição
Aponta pra Cristo
Conduz ao Pai
Paulo
admoestou os gálatas para que se lembrassem do significado da obra de Cristo, a
qual teve o objetivo de libertá-los. Agora que eram livres, não deveriam voltar
ao domínio da lei.
Voltar à lei é negar
a graça e perder os seus efeitos, ele mostra isso enfaticamente no Capítulo 5.
É renunciar aos direitos de filho e voltar a viver como servo (Sara e Hagar). É
renunciar à liberdade cristã, a qual foi comprada pelo precioso sangue do nosso
Senhor. A história de Israel foi uma seqüência de cativeiros e libertações. Não
podemos permitir que a nossa vida seja assim.
Os judaizantes
estavam querendo impor a marca da circuncisão como se esta fosse um valor
cristão. Entretanto, Paulo conduz os gálatas a um exame mais profundo da
questão. O sinal exterior tem valor quando corresponde à condição interior.
Como disse aos Romanos, "a circuncisão é proveitosa se tu guardares
a lei" (Rm 2.25). Então, o que seria evidência fiel do interior
humano? As obras da carne e o fruto do espírito. São marcas do caráter e se
revelam nas ações. Estas são as marcas mais importantes na vida de um ser
humano. Entretanto, se os judaizantes faziam mesmo questão de marcas físicas,
Paulo possuía as "marcas de Jesus", sinais de todo o seu sofrimento
pela causa do Evangelho “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu
trago no corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6.17).
O mesmo Paulo,
escrevendo aos irmãos em Colossenses 2:16-17, diz: “Ninguém, pois, vos
julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados,
porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o
corpo é de Cristo”.
Cristo é a Luz do
mundo, quem está em Cristo não anda em trevas. Por que então voltarmos às
sombras? É isso que Paulo deixou claro. Portanto, fica evidente o quanto é
descabida a idéia de introduzir costumes dos judeus nas atividades cristãs como
cumprimento de mandamento, promessas de nova unção e coisas desse tipo.
Deus estabeleceu uma
Nova Aliança em Cristo, pois na primeira os homens se apegaram muito mais aos
rituais e aos símbolos do que ao significado dos mesmos. Passaram a viver uma
religiosidade vazia e já no período do Antigo Testamento, o Senhor mostrava a
sua tristeza com relação a isso: Isaías 1:13-14 “Não continueis a trazer
ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova,
os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade
associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas
solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as
sofrer”.
Usam mal Mateus
5:17, em que Jesus diz: “Não penseis que vim
revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”.
A palavra cumprir utilizada aqui vem do grego plérõsai,
que significa “encher”, “completar”. Jesus não veio revogar ou destruir nenhuma
palavra que Deus ensinara aos fiéis do passado no AT. Veio cumprir plenamente o
propósito de Deus revelado no AT dando à Lei e aos Profetas aquilo que faltava:
o Espírito Santo para interpretá-lo e o poder para pô-lo em prática, pela sua
obra salvadora.
Cristo representa o
fim do legalismo de se tentar cumprir a Lei, como está escrito em Romanos
10:3-4 “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a
sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo,
para justiça de todo aquele que crê”.
Cristo tirou o véu
que encobria a Antiga Aliança. Ele revelou o “espírito” da Lei tornando-se
carne. Cumpriu fielmente todas as ordenanças impostas pela Lei, dando a
verdadeira interpretação a elas.
Ainda que Lei
ordenasse o apedrejamento de adúlteras, Cristo perdoou uma mulher apanhada em
adultério. Ainda que a Lei designasse o afastamento dos considerados “puros’
dos leprosos, Cristo se aproximada deles, os tocava e os curava”.
Cristo trouxe luz
sobre o que eram sombras. Por que, então, voltar à escuridão do legalismo
judaico?
Paulo resume esse
comportamento da seguinte forma: “Mas os sentidos deles se embotaram.
Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu
permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido”. (2 Coríntios 3:14
).
Com auxílio de textos do Pastor Isaltino
Gomes Coelho Filho, Anísio Renato de Andrade e Natanael Rinaldi, e site dos
Judeus Messiânicos.
Clériston Andrade
Juazeiro-Ba
Todas as
citações bíblicas são da ACF (Almeida Corrigida Fiel, da SBTB). As ACF e ARC (ARC
idealmente até 1894, no máximo até a edição IBB-1948, não a SBB-1995) são as
únicas Bíblias impressas que o crente deve usar, pois são boas herdeiras da
Bíblia da Reforma (Almeida 1681/1753), fielmente traduzida somente da Palavra de
Deus infalivelmente preservada (e finalmente impressa, na Reforma, como o Textus
Receptus).
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.