QUEM MUDOU O SÁBADO?

Por Richard Jordan

 

«Lembra-te do dia do sábado, para o santificar» (Êx. 20.8).

 

 

FACTOS BÁSICOS ACERCA DO SÁBADO

 

O quarto mandamento do decálogo é semanalmente lido em público em muitas reuniões de igreja. Mas os que observam esta prática chamam sábado ao Domingo, e quando são pressionados quanto à razão porque “guardam” o primeiro dia da semana em vez do sétimo, o Domingo em vez do Sábado, estabelece-se logo a confusão.

 

Apesar de serem poucos os que argumentam a favor da guarda do Sábado hoje, a maioria parece, contudo, pensar que o sábado foi mudado e que agora o Domingo é o “Sábado Cristão”. Mas será que o Sábado foi mesmo mudado? Será que, realmente, o Sábado agora é o Domingo?  Vejamos o que a Palavra de Deus diz sobre este assunto.

 

Embora a maioria das pessoas que procuram observar o Sábado não se encontrem familiarizadas com Êxodo 31, este capítulo contem uma das passagens da Bíblia mais descritivas e instrutivas no concernente à observância do dia de Sábado.

 

«Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:

 

«Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis Meus sábados, porquanto isso é um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que Eu sou o SENHOR, que vos santifica.

 

«Portanto, guardareis o sábado, porque santo é para vós; aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo.

 

«Seis dias se fará obra, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer obra, certamente morrerá.

 

«Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo.

 

«Entre Mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e restaurou-se.

 

«E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus» 

 

Moisés revela claramente ali que a observância do dia de Sábado era “um sinal” entre o Senhor e os filhos de Israel (Vs. 13,17; Cf. Ez. 20.20) que deveria ser guardado em todas as suas gerações para que Israel soubesse que «Eu sou o Senhor que vos santifica».

 

O “sábado de descanso” deveria ser guardado «santo ao Senhor» como uma observância cerimonial[1], dada como uma memória perpétua do concerto de Israel com o Senhor, em termos de relacionamento e separação. Recordemos as palavras que o Senhor lhes disse por intermédio de Moisés.

 

«Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos trouxe a Mim;

 

«Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a Minha voz e guardardes o Meu concerto, então, sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é Minha.

 

«E vós Me sereis reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel» (Êx. 19.4-6).

 

Israel seria o Seu «tesouro peculiar», e como tal, lembrou-lhes do seu lugar, do seu privilégio e da sua responsabilidade para com este «sinal» da observância do dia de Sábado. Não existe uma única linha das Escrituras que indique que Deus tivesse dado a observância do Sábado aos Gentios, ou aos membros do Corpo de Cristo neste século de graça.  De facto, as Escrituras parecem claras no facto de não ter sido dado a ninguém antes de Moisés, pois lemos em Ne. 9.13,14:

 

«E sobre o monte de Sinai desceste, e falaste com eles desde os céus, e deste-lhes juízos rectos e leis verdadeiras, estatutos e mandamentos bons.

 

«E o Teu santo sábado lhes fizeste conhecer; e preceitos, e estatutos, e lei lhes mandaste pelo ministério de Moisés, teu servo».

 

 

UMA PARTE INTEGRANTE DA LEI

 

A observância do Sábado, então, era parte da Lei dada por meio de Moisés, e isto explica tanto as instruções exactas como as penalidades severas que a acompanham.

 

Tratava-se de um particular dia que deveria ser guardado, não meramente “um em sete”. «O sétimo é o sábado do descanso» (Êx. 31.15). E os regulamentos que o acompanhavam eram tão exigentes que Israel recebeu as seguintes ordens:

 

«Não acendereis fogo em nenhuma das vossas moradas no dia de sábado» (Êx. 35.3).

 

Isto tornaria difícil cozinhar no dia de sábado - para já não falar do problema do aquecimento no inverno!  Em passagens como Êx. 16.22-26, transparece que eles tinham de fazer todos os preparativos necessários para o sábado de descanso no dia de véspera para que os regulamentos não fossem violados.

 

E a penalidade para a transgressão deste «sábado santo» era semelhantemente pesada (Ver Êx. 31.14,15).

 

Em Números 15.32-36 vemos esta sentença rigorosamente cumprida num homem que «apanhava lenha no dia de sábado» - naturalmente para acender lume.

 

Uma das razões porque o Dia de Sábado foi usado como «sinal» do Concerto Mosaico depreende-se das palavras de Êx. 31.17:

 

«Entre mim e os filhos de Israel será um sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e restaurou-se».

 

Assim como Deus aperfeiçoou a obra da criação em seis dias e depois «descansou, e restaurou-se», assim também deu a Israel uma obra para fazer como Sua nação representante - sua testemunha diante das nações, resultando esta obra nos prometidos «tempos de restauração de tudo» (At. 3.21). É claro que o Dia de Sábado de Israel era apenas um tipo do futuro reino de bênção e descanso, o século vindouro em que esta criação que geme será finalmente «libertada da servidão da escravidão», encontrando o verdadeiro descanso. Lemos a respeito desse tempo em Isa. 32.16-18:

 

«E o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no campo fértil.

 

«E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre.

 

«E o meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso». 

 

 

O FRACASSO DE ISRAEL

 

Israel fracassou tristemente na sua responsabilidade. Daí o Senhor, ao ter surgido em cena, ter sido forçado a lamentar-se do templo (Mr. 11.17).

 

Num tocante convite, vemo-Lo a oferecer-SE aos que tão futilmente operaram sob o “peso” da observância da Lei:

 

«Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei (ou, darei descanso).

 

«Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.

 

«Pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve» (Mt. 11.28 e 30).

 

A única esperança de Israel encontrar o seu verdadeiro sábado de descanso jaz no seu Messias, “o Senhor do sábado”. É interessante notar aqui que a primeira vez que as Escrituras mencionam a palavra «descanso» é após a consumação da obra da criação, em Gn. 2.1-3. Porém o descanso de Deus foi cedo quebrado, pois no capítulo seguinte vemo-LO a procurar o homem decaído e a operar em seu favor matando um animal inocente para lhe suprir uma cobertura.

O nosso Senhor veio assim a Israel para «buscar o que se havia perdido» e dizer:

«... Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também» (Jo. 5.17).

 

Quão comovente é ouvir as palavras que Ele dirigiu ao Pai na véspera da Sua crucificação: «Eu tenho consumado a obra que Me deste a fazer» (Jo. 17.4), e depois, quando já na cruz:

 

«... ESTÁ CONSUMADO; e inclinando a cabeça, entregou o espírito» (Jo. 19.30).

 

De facto, Ele consumou a obra da redenção por meio do Seu sacrifício todo-suficiente pelo pecado. E He.10.12 diz que Ele, tendo oferecido «um único sacrifício pelos pecados, ESTÁ ASSENTADO PARA SEMPRE À DEXTRA DE DEUS».

 

Quão bendito! Nosso Senhor «assentado» - porque a obra da redenção foi completa, consumada, sem que tenha ficado algo por fazer.

 

 

O NOSSO DESCANSO

 

«Portanto resta ainda um repouso (Gr.  SABBATISMOS, da raiz SABBATA, sábado) para o povo de Deus.

 

«Porque Aquele que entrou no Seu repouso, Ele próprio repousou das Suas obras, como Deus das Suas» (He. 4.9.10).

 

Assim como Deus descansou na Sua obra perfeita da criação assim também o Senhor Jesus ascendeu ao céu e assentou-Se para descansar na Sua obra perfeita da redenção, e assim nós somos agora convidados a «entrar no Seu descanso».

 

Cristo, hoje, é o único Sábado do crente, o nosso único lugar de descanso. Nós cessámos dos nossos trabalhos, não no Dia de Sábado, mas em Cristo, no momento em que entrámos pela fé no Seu descanso, resultado da Sua obra consumada no Calvário, onde Ele morreu «O JUSTO pelos injustos, para nos poder levar a Deus».

 

Então, e que diremos à observância do Dia de Sábado hoje? Gálatas 3.19 diz-nos que a Lei foi ordenada «até» que algo acontecesse - e este  algo aconteceu«Nós estávamos guardados debaixo da lei», diz o apóstolo, «encerrados para a fé que se havia de manifestar» (Gá. 3.23). Porém agora, com a revelação do mistério por meio de Paulo, essa veio, pois foi Paulo e apenas Paulo que primeiro declarou por inspiração divina:

 

«Mas agora se manifestou SEM A LEI a justiça de Deus ...

 

«Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus» (Ro. 21-26; e cf.  Gá. 3.23-25).

 

E é Paulo que contínua a dizer:

 

«Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê» (Rom. 10.4).

 

«Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos SÁBADOS.

 

«Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo (a substância) é de Cristo» (Cl. 2.16,17).

 

Quem mudou o Sábado? Bem, o Dia de Sábado permanece imutável; ainda é o sétimo dia - Sábado. Contudo, Deus mudou o Sábado - o nosso lugar de descanso - de um dia para uma Pessoa.  Nós agora devemos descansar n'Aquele que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou como prova de que a nossa dívida foi completamente saldada.

 

Sem dúvida que isto explica a razão porque as Escrituras revelam Paulo e os discípulos a reunirem-se no «primeiro dia da semana» (At. 20.7; Cf. 1 Co. 16.2). Reunindo-nos no dia da Sua ressurreição, celebramos a Sua obra consumada da redenção - e a nossa nova vida, achada «em Cristo Jesus».

 

Ah, mas ATENÇÃO, o Domingo nunca foi um “dia de descanso”, longe disso!  Pelo contrário, é o dia em que os servos de Deus mais trabalham, para que os outros possam «encontrar descanso n'Ele».

 

 

UMA ÚLTIMA PALAVRA

 

Os crentes hoje são livres para porem de parte qualquer dia particular para adoração e estudo em conjunto. Na dispensação da graça nenhum dia está acima de outro. Acerca disso Paulo escreveu aos crentes Romanos:

 

«Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo.

 

«Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus» (Rom. 14.5,6).

 

Ao longo da história da Igreja, e mesmo ainda hoje em alguns pontos do globo, os crentes têm achado dificil pôr de parte um tempo definido para comunhão cristã, estudo Bíblico e adoração.  Como devemos louvar a Deus pelo privilégio que tão graciosamente nos tem concedido neste “país de liberdade”, ao termos reuniões regulares semanais em que nos podemos devotar mais plenamente à adoração e serviço de Cristo! E quão triste é vermos multidões de crentes cada vez maiores a abandonarem a assembleia dos santos, e a usarem a oportunidade maravilhosa que lhes é concedida para se reunirem, para seu próprio prazer e gratificação pessoal! É claro que todas as desculpas alegadas para tal comportamento serão insignificantes e desprovidas de significado quando «comparecermos perante o tribunal de Cristo» e “apresentarmos contas” de nós mesmos a Deus.

 

Em vez de usarmos a nossa liberdade para «darmos ocasião à carne», que «nos sirvamos antes uns aos outros pelo amor» (Gá. 5.13), tomando a peito a exortação de Paulo:

 

«Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te de entre os mortos, e Cristo te esclarecerá.

 

«Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios,

 

«Remindo o tempo; porquanto os dias são maus» (Ef.. 5.14-16).

 


 

[1] Alguns objectam a nossa afirmação de que o dia de Sábado se trata de uma observância cerimonial. Apontam para uma suposta divisão tripla da Lei: moral, cerimonial e civil. Porém este argumento cai por terra quando se descobre que os Dez Mandamentos contêm os três elementos.

 









A Igreja em Quinta do Conde, http://www.iqc.pt.vu/



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