Desde muito criança, aprendi a ser devoto ardente da Senhora
Aparecida, padroeira do Brasil...
Como bons católicos, meus pais
enviaram-me, aos seis anos de idade, ao catecismo
paroquial na igreja matriz de São Joaquim da Barra (Estado de São Paulo), minha
terra
natal.
Lembro-me perfeitamente. Foi no
último domingo do mês de maio de 1931. Nossa
aula de catecismo precisou terminar mais cedo, antes das três horas, por causa
da
procissão
do encerramento de maio, o mês de Nossa Senhora. As naves do templo reboavam com
a
celeuma da azáfama enorme. As filhas de Maria davam os retoques finais nos
andores. O
da Imaculada Conceição estava sendo ornamentado na casa de Dona Sara, a
presidente da
Pia União das Filhas de Maria. Iríamos vê-lo na hora da procissão sair. Reinava
irriquieta
curiosidade na expectativa de uma grande e agradável surpresa. A imagem
precisava ser
mesmo um deslumbramento porque seria coroada ao final da procissão, sob a chuva
intensa dos multicoloridos fogos de artifício.
Rarissimamente nosso vigário, o padre
Eugênio, aparecia no catecismo. Nos
domingos à tarde, o seu grande compromisso se resumia em, cervejando, jogar
baralho no
bar do Paulo Trombini, ao lado do cinema local.
Naquele domingo ele foi. Insofrido,
depois de haver explicado que cada país, cada
estado, cada cidade tem um santo protetor, contou-nos que o papa declarara Nossa
Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Elucidou, ainda, que Maria Santíssima é
uma
só e
que as diversas e muitas denominações a ela atribuídas não supõem diversas
"nossas
senhoras". É uma só! Tendo, porém, se manifestado em Lourdes, é chamada "Nossa
Senhora de Lourdes"; tendo aparecido em Fátima é dita "Nossa Senhora de Fátima";
etc.
Relatou-nos, também, como apareceu "Nossa Senhora Aparecida" no Rio Paraíba.
Explicou
que o Rio Paraíba não ficava no Estado desse mesmo nome, porém, sim no Estado de
São
Paulo. Informou-nos, ainda na sua pressa, que no dia 31 daquele mesmo mês de
maio, no
Rio de Janeiro, a então Capital da República, haveria uma grande festa, com a
presença de
todos os bispos do país, para coroar rainha do Brasil a Senhora Aparecida.
Lembro-me, outrossim, do meu
encantamento quando, na procissão, vi o andor, o
mais lindo de todos: Todo iluminado, ornamentado de lantejoulas e ladeado de
duas
bandeiras brasileiras, e a imagem sobre o globo terrestre onde apareciam os
contornos do
mapa de nossa Pátria.
No sermão, o padre convidou os fiéis
para assistirem à missa do dia 31 em regozijo
pelas solenidades a se darem no Rio de Janeiro, oportunidade em que, a
propósito,
informou, contaria os fatos relacionados com a aparição da miraculosa santa.
Com efeito, nesse dia, relatou: Certa
ocasião, o Governador da Capitania de São
Paulo,
Conde de Assumar, em viagem para Minas Gerais, pernoitou em Guaratinguetá, no
Norte
do nosso Estado. Então a Câmara local decidiu oferecer-lhe um banquete com uma
grande
variedade de pratos à base de peixe. Os três pescadores, Domingos Martins
Garcia, João
Alves e Felipe Pedroso foram ao Rio Paraíba (Em cuja margem direita se localiza
a
Cidade
de Guaratinguetá). Principiaram a lançar suas redes no Porto de José Correia
Leite,
descendo até o Porto de Itaguassu, onde João Alves, ao lançar sua rede, de
rasto,
tirou o
corpo de uma imagem, sem cabeça, e, lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou
a
cabeça
da mesma estátua. Os esforços, antes improfícuos, tornaram-se recompensados de
êxito
com pescaria abundante. A cabeça ajustou-se exatamente ao corpo da imagem e,
maravilhados, os pescadores viram ambas as partes colarem-se fixamente, apenas
encostadas. Foram os dois primeiros milagres da Senhora Aparecida no Rio
Paraíba,
aos 13
de outubro de 1717.
E prosseguiu o vigário no seu conto:
Felipe Pedroso, piedosamente, levou o achado
para sua casa, onde o conservou pelo espaço de seis anos. Muita gente da
redondeza ia,
especialmente aos sábados, rezar diante do oratório.
Em 1743, construiu-se uma capela. Em
1846, iniciaram-se as obras de ocnstrução de
um templo mais vasto, concluídas em dezembro de 1888 e permanecem na atual
basílica.
Após o relato do seu conto, o nosso
vigário perorou a sua prédica, conclamando aos
presentes que se postassem de joelhos, para, em uníssono, repetirem uma reza à
Senhora
Aparecida coroada, naquela hora, lá no Rio de Janeiro, padroeira e rainha do
Brasil:
"Escolhendo por essencial padroeira e advogada da nossa Pátria, nós queremos que
ela
seja
inteiramente Vossa. Vossa a sua natureza sem par, Vossas as suas riquezas,
Vossos os
campos e as montanhas, os lares e os rios, Vossa a sociedade, Vossos os lares e
seus
habitantes, com seus corações e tudo o que eles têm e possuem; Vosso, enfim, é
todo o
Brasil... Por Vossa intercessão, temos recebido todos os bens das mãos de Deus e
todos os
bens esperamos ainda e sempre, por Vossa intercessão...".
Durante os anos do meu curso
primário, sempre assisti e participei de comemorações
de nossas datas nacionais, em cujos programas sempre se acentuou a Nossa Senhora
Aparecida. Para mim, ser devoto da Senhora Aparecida era condição indispensável
para
ser bom brasileiro.
Concluído o curso ginasial, fui para
Campinas (Estado de São Paulo) estudar no
Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, onde não se ouvia um sermão sem que
ela
fosse mencionada. A jaculatória: "Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!"
repetia-se ao
final de cada dezena do rosário. No altar-mor da capela, encontrava-se a sua
imagem.
Aconteceu, em setembro de 1942, o
Quarto Congresso Eucarístico Nacional, em São
Paulo. A Senhora Aparecida foi intitulada "Peregrina do Congresso". Programou-se
o
comparecimento da verdadeira imagem. Então, certa noite, o diretor do Seminário
foi à
capela pedir que rezássemos para que ela ficasse mesmo em São Paulo durante os
dias do
congresso. E, depois de haver eu ouvido pela centésima vez o relato de sua
aparição, o
padre destacou esta particularidade: "Depois de haver aparecido, os pescadores
levaram a
imagem para a casa de um deles, Felipe Pedroso, onde ficou alguns anos. Numa
manhã, a
família espantada deu pela falta da santa. Ansiosos, todos foram procura-la.
Encontrara-na,
depois de tanta angústia, no alto da colina. Levaram-na, de novo, para o seu
altarzinho
antigo, na casa do pescador. Poucas noites seguintes, ocorreu o mesmo incidente.
Desconfiaram os devotos que Nossa Senhora Aparecida queria ficar numa igreja
construída
no alto do morro. Vieram as contribuições, a capelinha foi edificada e a imagem
entronizada em seu altar, donde saíra uma única vez, em maio de 1931, quando
fora
levada
ao Rio de Janeiro para ser coroada Rainha e Padroeira do Brasil."
Receava-se agora, esclarecia o padre,
que Nossa Senhora, durante à noite, voasse de
São Paulo para a sua basílica em Aparecida do Norte.
Pedia-nos rezas e mortificações para
que a Santa Peregrina se dignasse permanecer na
Capital Paulista durante os dias do Congresso Eucarístico.
Fervoroso devoto, rezei muitos
rosários e fiz muitos sacrifícios nessa intenção.
Uma das festividades mais pomposas
daquele congresso foi a recepção da padroeira
que fora conduzida para a catedral da Praça da Sé, donde sai, processionalmente,
para o
Vale do Anhangabaú, com o fim de presidir as sessões solenes do certame.
Retornava, em
seguida, para receber as homenagens das multidões que se revezavam dia e noite.
O povo
devoto permanecia ali, aos pés da Santa Peregrina, no desígnio de venerá-la
condignamente porque – supunha-se – satisfeita permaneceria em São Paulo até o
fim das
solenidades.
A imagem ficou. Foi exaltada em
extremo. Dom José Gaspar de Afonseca e Silva foi
cognominado o arcebispo de Nossa Senhora Aparecida, que, para confirmar o mérito
desta
alcunha, erigiu, na Várzea do Ipiranga, uma nova paróquia dedicada à Nossa
Senhora
Aparecida.
Mas, qual não foi o nosso
desapontamento ao sabermos que a verdadeira imagem não
viera a São Paulo. Recebêramos apenas um fac-símile! Encerradas as festividades
do
congresso, fôra entregue a recém-instalada paróquia. Alguns seminaristas se
revoltaram e
se julgaram vítimas de um ludíbrio.
- "Rezamos tanto diante daquela
imagem, supondo-a verdadeira..."
Conformei-me por estar convicto de que o povo não merecia sua augusta
presença... E
porque as autoridades eclesiásticas agiram com prudência...
Afinal, todas essas circunstâncias suscitaram em minha alma um afeto entranhado
à
Padroeira do Brasil...
Ao ser ordenado padre, em 1949, senti-me no dever de ir à sua basílica cantar
uma
missa, por sinal a segunda, porque cantara a primeira em minha terra natal.
Nesse
ensejo,
adquiri uma sua imagem, fac-símile, benta pelo padre superior do convento,
destinada
por
mim para me servir de companhia e penhor constante das bênçãos celestiais em
favor do
meu sacerdócio.
Completados dez anos de sacerdócio, recebi como uma verdadeira promoção, minha
transferência para Guaratinguetá (Localizada à margem direita do Rio Paraíba, no
Estado de São
Paulo. Dista, pela Via Dultra, aproximadamente, 220 Km do Rio de Janeiro, 185 Km
de
São Paulo e
8 Km de Aparecida do Norte.), a cidade mais próxima de Aparecida do Norte.
Fui nomeado pároco da novel Paróquia de Nossa Senhora da Glória, no Bairro do
Pedregulho. Sua igreja, que, de tão pequena, o povo a cognominava de
"igrejinha", não
oferecia condições para, realmente, ser uma matriz paroquial. Decidi, por isso,
construir
um vasto templo. Constituía-se, a mim, uma imensa prerrogativa edificar essa
obra
consagrada à Virgem Maria, e sonhava com um templo majestoso erguido naquele
outeiro
do Pedregulho a olhar a Basílica Nacional da Padroeira, plantada na colina de
Aparecida
do Norte. Lá do alto da torre da minha matriz, fiquei muitas vezes contemplando
a
Basílica
da Rainha do Brasil.
Eu odiava os evangélicos, aos quais chamava de hereges.
Nesse tempo, apareceu lá em Guaratinguetá, um pastor. Nos seu desejo de
esclarecer
o povo, contratou, numa das emissoras radiofônicas locais, um horário para um
programa
evangélico.
Descontentaram-se, com as explicações, muitos católicos.
Um meu colega decidiu responder ao pastor por meio de um programa seu, numa
outra emissora.
Estabelecida a polêmica, a cidade inteira se transformou em estádio para
assistir a
contenda.
O coitado do padre pediu água em menos de uma semana.
Evidentemente, qualquer jovem das Escolas Bíblicas Dominicais, com a Bíblia na
mão,
põe qualquer padre a correr.
Nós os padres em Guaratinguetá, estávamos acuados, arrasados, com o fracasso do
colega. E na certeza absoluta de que, se qualquer um de nós fosse responder ao
pastor,
cairíamos no mesmo ridículo.
O pastor João de Deus prosseguia dando os seus esclarecimentos bíblicos. Nessas
alturas, o assunto girava em torno de Maria.
Naquela oportunidade, encerrara eu, com uma retumbante procissão, as
festividades
da padroeira da minha paróquia. O pastor evangélico botou água na fervura do meu
entusiasmo, criticando o meu desfile mariano e citando Isaías 45:20.
Fiquei fulo!
Noutro dia, o Pastor resolveu apresentar aos seus radiouvintes os pontos
coincidentes
entre a Diana dos efésios e a Aparecida dos brasileiros - Atos 19:23-41.
Nós não tínhamos força de argumento. E o jeito foi apelar para o argumento da
força!
A mentira, a calúnia, o achincalhe são os melhores argumentos para os covardes
sem
argumento.
Incubiram-me de resolver o problema.
Apelei para a violência, comandando um batalhão de fanáticos. E, em menos de uma
hora, num domingo à noite, foi destruído, inteiramente, o templo do Pastor João
de
Deus,
lotado de gente que assistia a um culto.
No dia imediato, no programa "Marreta na Bigorna", da Rádio Aparecida, o padre
Galvão, desatou uma gargalhada satânica e parabenizou os católicos de
Guaratinguetá
pela
façanha...
Um bispo congratulou-se vivamente comigo e, hora após ao nosso encontro,
declarou,
por um grande jornal de São Paulo, que lamentava os fatos ocorridos em
Guraratinguetá!?
Estreitíssimas mais ainda se tornaram minhas relações com os padres responsáveis
pela Basílica de Aparecida, em cujo convento se fabrica, exclusivamente para o
consumo
interno, cerveja mui apreciada entre os reverendos.
No trato com os clérigos seculares, constatei a falta de amor fraterno entre
eles.
Supunha, todavia, que houvesse amor entre os regulares ou conventuais, como os
franciscanos, jesuítas, dominicanos, salesianos, redentoristas. Engano!
Entre estes últimos, que são os responsáveis pela Basílica e de quem mais me
aproximei, acontece a mesma carência, senão pior.
Lá dentro do seu convento, ao lado da Rainha do Brasil, os padres se estracinham
com
ódio extremado. Os apelidos são os mais humilhantes. Havia lá o "padre Tortinho",
o
"padre Marreta", o "padre Aventura", o "padre Zoroaide", o "Madame Fifi"... E de
cada
um havia um motivo especial indicado pelo próprio vocábulo...
Sentia, outrossim, a frieza espiritual naquele ambiente de embatinados. Sempre
os vi
tratando das coisas de sua religião com ganância sórdida. Só lhes interessa o
que dá
lucro.
A respeito de qualquer assunto, a pergunta é sempre esta: -"Quanto rende?" –
acompanhada do sinal característico de se friccionar as pontas dos dedos polegar
e
indicador.
E fazem praça disso até na sua emissora. Certa feita, chegou uma carta
perguntando
sobre as riquezas da Senhora Aparecida. Respondeu-a o padre Tortinho no seu
programa
radiofônico: -" Sim, Nossa Senhora é muito rica. Rica mesmo! Ela tem hotéis,
restaurantes,
bares, casas de aluguel – muitas casas de aluguel! – Kombi, peruas... Ela tem
muito
dinheiro... Dinheiro que os seus fiéis mandam e trazem... Ela tem muitas jóias,
anéis,
braceletes, colares. Ela tem muito ouro e pedras preciosas... Quem tem ouro e
pedras
preciosas, mande para Nossa Senhora..."
A cupidez é tamanha que as suas lojas não respeitam sequer o domingo cerrando
suas
portas.
O devoto chega para cumprir uma promessa. Compra um vela na loja pertencente aos
padres e, a propósito situada ao lado da Basílica e anexa à porta da entrada da
emissora.
Ao entrar no templo, porém, depara com a proibição terminante de acender velas.
Apresenta-se-lhe, outrossim, a solução: -"Deixar o brandão numa caixa adrede
colocada ao
lado do altar da Padroeira. O pagador de promessa sai na doce ilusão de que o
padre
vai,
em sala adequada, queimar a sua vela em honra da santa. Engana-se porque um dos
sacristãos recolhe todas lá depositadas, levando-as novamente para a loja. E a
vela do
devoto caiu no círculo rendoso dos clérigos. Sai da loja, vai para a caixa da
Basílica, volta à
loja, de novo, na Basílica... e o dinheiro cresce na caixa registradora.
Tudo lá é comercializado! E os redentoristas não admitem concorrência, nem por
parte dos seus colegas de outras igrejas. Num fim de não, um sacerdote da
Guanabara,
com
o objetivo de angariar fundos para a construção de um templo, instalou, num
terreno
alugado, um presépio mecanizado e movido a eletricidade, cobrando dos
interessados o
ingresso ao loca. Pois, os padres da Basílica protestaram e obrigaram o coitado
a
"arrumar
a trouxa e dar o fora". Todo o mundo só pode ver o presépio deles para lhes
deixar o
dinheiro. Em Aparecida, a arrecadação de esmolas é direito reservado... De todas
as
partes
afluem contribuições para os seus cofres. Mas, ninguém pode ir lá colher uma
migalha...
A ganância atinge os paroxismos da usura! Enquanto os governos retiram o pedágio
das estradas, em Aparecida é instalado para cobrar taxas exorbitantes dos
automobilistas
que lá entram.
Fui convidado para celebrar um casamento de pessoas amigas e muito ricas. Por
ser
sábado à tarde, havia muitos outros. Os noivos, meus amigos, pagaram todas as
elevadas
propinas estabelecidas pela direção do santuário aparecidano. Na conformidade em
que
os
noivos adentravam no templo, ao som da marcha nupcial, um servente da Basílica
enrolava
o grosso tapete de veludo grená. É que logo atrás, entrava um para de nubentes
pobres.
Não lhes permitiram as posses, pagar a taxa referente ao tapete e tiveram de
passar
sob os
olhares maternais da incomparável protetora dos brasileiros, por essa
humilhação. O
pior
ainda aconteceu depois! Chegados junto dos degraus do altar da Senhora
Padroeira,
foram
embargados seus passos pelo referido servente, que os encaminhou para um altar
lateral. A
noiva, desconsolada, explicou ao sacerdote celebrante de suas núpcias... que
viera do
Paraná precisamente para casar-se no altar da Rainha em cumprimento de uma
promessa.
Inúteis seus rogos e vãs suas lágrimas... O padre irritado alegou que essa
promessa
não
tinha valor algum e "mastigou", em cinco minutos, a fórmula do ritual.
Tudo isso me indignava. Mas, tudo isso consolidava ainda mais minha devoção à
Senhora Aparecida. Tornava-me compadecido dela por vê-la cercada desse deboche e
explorada por essa chusma de crápulas.
Um bispo do Interior Paulista tem carradas de razão ao afirmar que a Aparecida
do
Norte é a vergonha do catolicismo no Brasil!
Quase todos os dias freqüentava a Basílica, onde permanecia muito tempo rezando,
de joelhos, o rosário diante da imagem.
Desde tenra infância ansiei por certeza da minha salvação eterna. Procurei-a em
inúmeras devoções que me foram sugeridas. Busquei-a no exercício do ministério
sacerdotal católico. Vali-me da prática da caridade, criando e dirigindo obras
sociais. Tudo
em vão...
Tomei-me de esperanças quando cheguei em Guaratinguetá. Imensa era minha
expectativa de encontrar na Senhora Aparecida a bênção da certeza da vida
eterna.
Por isso, ia amiúde à sua igreja rezar longos rosários defronte da sua imagem,
no
aguardo de uma resposta celestial...
Numa tarde de quarta-feira, no começo do ano de 1961, em seguida às funções
rituais
da Novena Perpétua, a que eu assistira, um sacerdote – com um psiu! – tirou-me
do meu
recolhimento devoto.
Aproximei-me dele.
Peguntou-me à queima-roupa:
- O que você vem fazer aqui quase
todos os dias?
- Rezar à Nossa Senhora Aparecida,
respondi-lhe.
E, ante o sorriso gracejador do padre, esclareci:
- Sou muito devoto de Nossa Rainha e
espero dela todas as graças necessárias
para minha salvação eterna...
Não pude mais falar porque o padre me interceptou com vivacidade:
- Você parece um beato vulgar. Que
lhe poderá dar essa estátua de barro? Ela
não tem valor algum. Nós gostamos dela porque nos traz muito dinheiro.
E, levando as duas mãos aos bolsos, fez o gesto significativo de quem carreia
vultosas
somas.
Pávido, arrisquei a pergunta:
- Mas... E os padres não crêem em
Nossa Senhora Aparecida?
Um retumbante NÃO abafou as últimas sílabas da minha interrogação.
Saí da Basílica atordoado.
Passei a noite seguinte em claro, rememorando fatos e tirando conclusões.
Aterrorizado, sentia esboroarem-se as restantes ilusões da minha vida religiosa.
Encorajado pelo propósito de servir a Deus desvencilhado de todos os embustes,
decidi levar, até às conseqüências extremas a minha investigação sobre o
assunto.
Não me foi muito difícil. Aproveitei a deixa daquele sacerdote e, noutro dia,
abordei-o
novamente.
Relatou-me ele os verdadeiros fatos relacionados com a imagem da Senhora
Aparecida. Relato esse confirmado ulteriormente, por outros sacerdotes, seus
confrades
conventuais.
Compadeço-me do brasileiro...
Povo de excepcionais qualidades. Inteligente e dotado de sentimentos primorosos.
Capaz de heroísmos e tão paciente...
Haverá, porventura, povo mais paciente que o brasileiro? Quanta esperança ele
vem
revelando em tanto sofrimento... em tanta exploração a que é submetido.
Muitas vezes ludibriado em sua boa fé, porém, sempre confiante.
É um crime de lesa-humanidade explorar-se esse povo. Por isso, estou revelando
estas
informações. Desejo ardentemente cooperar com esse povo excepcional em sua
libertação
dos embusteiros. Eu sei perfeitamente que recrudescerão as perseguições movidas
pelo
clero contra mim. Mas, vale a pena sofrer pela emancipação espiritual do Brasil.
Brasileiros, a Senhora Aparecida é uma falcatrua! É um conto do vigário!!!
Você que se supõe seu devoto está sendo enganado!
Você que tem em casa a sua imagem e lhe acende velas, está sendo ludibriado!
Você que lhe manda esmolas está sendo esbulhado!
Você que vai, em romarias, à sua Basílica, está sendo ridicularizado!
Sim, senhores! Eu vi os padres zombarem e pilhariarem dos romeiros... Vi-os
praguejar os devotos romeiros que colocam no "sagrado cofre" notas velhas e
rotas a
lhes
exigirem consumo de adesivos...
Vou relatar os fatos verídicos referentes à imagem dessa "senhora".
Localiza-se o início de sua "história" no período da Colonização Brasileira.
Corriam muitas lendas sobre descobertas de jazidas riquíssimas de ouro e outras
preciosidades. O contágio do entusiasmo atingia as vascas do fascínio. O
povo-paulista,
sobretudo, ardia numa febre desvairada provocada pelas lendas das esmeraldas, as
valiosíssimas pedras verdes, cujas montanhas se encravavam quais seios úberes em
plena
selva.
Este sonho acutilante é que produziu as maiores epopéias das nossas Bandeiras,
uma
das mais empolgantes páginas da História-Pátria. Se não descobriram as montanhas
verdes
das esmeraldas, os bandeirantes plantaram cidades e dilataram o território
nacional
apertado na faixa estabelecida pelo Tratado de Tordezilhas, imposto pelo papa
Alexandre
VI aos descobridores espanhóis e portugueses.
Sim! Essas Entradas é que desbravaram o sertão, devassando e conquistando, com
sua
audácia o imenso território do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Mato
Grosso,
do
Paraná, de Goiás e de grande parte de Minas Gerais. Porque a "bota de sete
léguas" dos
bandeirantes chutou os limites de Tordezilhas...
A miragem das montanhas de pedras verdes ardeu por várias décadas, na mente de
muitos brasileiros do Planalto de Piratininga. Fulgurou, sobretudo, no espírito
do
indônito
Fernão Dias Paes Leme, o bandeirante por autonomásia, cuja morte, em plena
selva,
transferiu para Sebastião Raposo Tavares o fascínio de desvendar o segredo
daquela
descoberta alucinante.
O fim desastrado da jornada de Raposo Tavares, em 1713, entanto, assinalou o
último
sonho das esmeraldas, que deixou, em São Paulo, qual cicatriz, um profundo
sentimento de
frustração.
É de se notar que, à exceção de uma ou outra, todas as Bandeiras iniciaram sua
jornada saindo do Planalto Piratiningano pelo Rio Paraíba, em cujo Vale
deixavam, como
rastro, uma enorme expectativa na alma do povo.
Se as esmeraldas, porém, foram uma quimera que não se transubstanciou em
realidade, não aconteceu o mesmo com o ouro explorado em Minas Gerais, o
causador do
incêndio de cobiça irresistível, origem de muitos crimes e inomináveis traições.
Naquela época em que o Brasil era Colônia de Portugal, não se repartia ele em
Províncias ou Estados como hoje. Mas, em Capitanias, dirigida cada qual por um
Governador nomeado por El Rei português e vindo diretamente de Além Mar.
O governador Dom Braz Baltazar da Silveira não conseguiu mais por cobro às
desordens reinantes na Capitania de São Paulo e Minas Gerais, de sua jurisdição,
nem
reprimir o contrabando do ouro e, muito menos, coletar os impostos estabelecidos
pela
Coroa real.
El Rei Dom João V houve por bem, nessa conjuntura, chamar o inábil Governador e
substituí-lo. E, em junho de 1717, o Capitão General, Dom Pedro de Almeida Conde
de
Assumar, aportou no Rio de Janeiro, donde via Santos, se encaminhou,
incontinenti,
para
São Paulo, sede da Capitania.
Num ambiente tranqüilo e, ainda, oprimido pelas frustrações da Bandeira de
Raposo
Tavares, o novo Governador, aos 4 de setembro de 1717, foi empossado no seu
cargo.
Ao contrário de Piratininga, nas Minas Gerais, o clima era de exaltação
incendiada
pela ganância de ouro, cuja mineração provocava os mais pacatos.
Competia ao Governador recém-empossado restabelecer a justiça, recolher os
tributos
e exigir o retorno da ordem.
O Conde de Assumar toparia com uma barreira formidável a lhe embargar a
consumação dos seus propósitos.
É que os frades eram "dos elementos mais perniciosos entre os que tinham entrado
e
continuavam a entrar com as avalanches, que enchiam aqueles distritos, e não só
porque se
entregavam desenfreadamente ao ganho como todo aquele mundo, mas ainda porque,
valendo-se do seu ascendente sobre o espírito da massa, eram quase sempre os
promotores
de todas desordens".
Desgraçadamente os compêndios de História do Brasil das nossas escolas aureolam
os
padres e os frades do tempo da nossa Colonização com as glórias de heróis. Os
seus
autores sabem q eu se disserem a
verdade, os seus livros não terão guarida nos
ginásios,
em grande parte, dirigidos, maquiavelicamente, por padres e freiras.
Aquelas nossas informações, acima entre-aspas, são de Rocha Pombo, em sua
História
do Brasil (Rio de Janeiro – 1905 – Pág. 245), cuja primeira edição deveria ser
lida
por todo o
intelectual brasileiro (Salientei a primeira edição porque as subseqüentes foram
resumidas
e mutiladas.).
A maioria dos patrícios supõe que naqueles tempos Portugal açambarcava todo o
ouro bateado pelos lavageiros ou garimpado nos veios das rochas. Supõe, também,
que,
em
tempos posteriores, a Inglaterra usurpou-o das bruacas lusitanas. Verdade é que
o
Reino
estabelecia impostos, arrecadados pela quintagem, com o fim de beneficiar o seu
erário.
Os frades, porém, não vieram para o Brasil com a missão de catequizar. O
historiador
Rocha Pombo, no mesmo espaço referido, informa-nos de que o Conde de Assumar,
dentre
as questões a enfrentar, tinha de se haver com a da "expulsão de todos os
religiosos
regulares" (Frades na conceituação clerical católica.) que não tivessem naquela
província
do seu domínio uma função certa, própria do seu apostolado".
Tinham esses religiosos outra incumbência bem diversa da apregoada e que causou
graves prejuízos ao Brasil. Vieram carrear ouro para o papa e para os seus
conventos
na
Europa!
O ouro do Brasil em grande parte, encontra-se ainda hoje, em poder do Vaticano,
que
o faz ocupar o segundo lugar mundial no mercado desse valor precioso, cujas
reservas o
papa deposita no Federal Reserve Bank, em Washington. O papado não ocupa o
primeiro
lugar no mundo nesse mercado porque preferiu trocar uma parte do seu ouro com
outros
valores, como dólares, que atingem a cifra astronômica de 15 bilhões, e em
títulos de
sociedades italianas avaliados em 1 trilhão de liras e de sociedades de outros
países cotados
em 2 bilhões de libras esterlinas. E essa riqueza fabulosa e atual do Vaticano o
faz
no maior
acionário do mundo!
Enquanto os brasileiros lutam desesperados para escaparem dessa situação de sub-
desenvolvimento, estrangulante de nossas energias, o Ali-Babá do Vaticano se
enriquece
cada vez mais à custa dos investimentos do ouro e outra riquezas que os seus
padres
levaram do Brasil.
Convencido da gravidade da situação em Minas Gerais e da sua responsabilidade no
termo da mesma, o conde de Assumar decidiu interferir pessoalmente.
Deixando como seu substituto em São Paulo, o oficial de grande patente, Manuel
Bueno da Fonseca, partiu em fins do mesmo mês de sua posse (setembro de 1717),
com
destino a Ribeirão do Carmo (hoje Mariana), em Minas Gerais.
Naqueles remotos tempos essa viagem só podia ser feita via Vale do Paraíba
(Norte
do Estado de São Paulo).
Guaratinguetá é uma das cidades desse Vale. Foi fundada à margem direita do Rio
Paraíba, em 1641, pelo Capitão-Mor Dionísio da Costa, lugar-tenente do donatário
e,
por
isso, gozava de grande prestígio até os fins do regime das Capitanias.
O Conde Assumar chegou, com sua comitiva, nessa cidade, aos 12 de outubro.
Prontamente, as autoridades locais, que o aguardavam, promoveram-lhe toda sorte
de
homenagens e repeitos.
Por ser o catolicismo a religião oficial do Reino, o vigário destacava-se nas
cidades
como a autoridade mais importante. O "batizado" pelo padre equivalia ao registro
civil. O
casamento era só no religioso. Quem não era católico era considerado como um
criminoso
de lesa-pátria, não podia casar-se e nem registrar os filhos...
Esta posição do catolicismo outorgava aos vigários, o ensejo de serem ótimos
arrecadadores de riquezas para o pontífice de Roma.
Em Guaratinguetá, encontrava-se, como vigário, o jovem padre José Alves Vilela.
Como todo clérigo, conhecia perfeitamente a arte de bajular.
Pelo próprio fato de ser o catolicismo romano a religião oficial do Reino de
Portugal, a
nomeação dos bispos dependia inteiramente da indicação feita pelo Rei.
O padre Vilela sofria de "bispite" aguda. Do desejo desenfreado de ser bispo!
Percebeu na passagem do Conde de Assumar por sua paróquia, uma extraordinária
oportunidade de, sabujando, credenciar-se às boas graças do Governador, que o
apontaria
a El Rei como candidato à mitra.
E mãos à obra! A par das demonstrações cívicas de respeito ao Governador
promovidas pela Câmara, o padre Alves Vilela, como autoridade mais importante do
lugar, programou festas religiosas de grande aparato para impressionar o
homenageado.
Desde sempre o clero gostou de se valer de sue ritualismo litúrgico para engodar
as
autoridades civis com o objetivo de sugar-lhes subvenções ou propiciar clima
para se
manter prestigiado. Num dos nossos Estados, os bispos condenaram a candidatura
de
certo
cidadão à governança. Feridas as eleições e vitorioso o candidato anatematizado,
os
"amantíssimos ordinários" (Ordinário é o termo canônico designativo de bispo
diocesano.)
promoveram-lhe demonstrações de "afeto e deferência", culminando a sabujice, no
dia de
sua investidura, com uma missa de "ação de graças" mui solene.
Para se colocar bem diante do Conde Governador, preocupado e zangado com os
clérigos baderneiros de Minas Gerais, "promotores de todas as desordens" (Rocha
Pombo –
loc. cit.), o padre Vilela tomou atitude oposta aos seus colegas. Reconheceu na
sua
subserviência ao chefe da Capitania uma oportuníssima manobra para
conquistar-lhe a
simpatia.
Entre o clero há traidores dos padres traidores!
Enquanto os frades de Minas traíam sua posição aparentemente de catequistas,
causando baderna, o padre Vilela manifestava-se servil.
Nas águas turvas da situação de descrédito em que se imergiam os frades, o padre
Vilela quis pescar um peixe gordo. O peixe de uma posição perante o Governador
favorabilíssima às suas pretensões "bispais".
E como o peixe se pega pela boca, alvitrou oferecer ao Conde um opíparo
banquete.
Mas, um desses banquetes de assinalar marco na história da culinária!
Notabilizara-se o Rio Paraíba pelas suas águas piscosas. Por isso, os pratos em
peixe
distinguiam a cozinha vale-paraibana. O banquete oferecido pela comunidade
guaratinguetaense ao ilustre viajante, pois na programação estabelecida pelo
incensador
padre Vilela, se revelaria por grande fartura de peixes nas mais diversas
modalidades de
temperos.
O jovem e pretensioso vigário divisou no ambiente uma circusntância
especialíssima
para ser aproveitada naquele acontecimento. E decidiu capitalizar a seu favor a
frustração
do povo do Vale pelos insucessos das últimas Bandeiras, cujas miragens de
esmeraldas
se
esboroarem.
Decepcionado, todavia, não se descoroçoara o povo. Esperava encontrar alguma
coisa
de notável.
Desde o princípio do seu paroquiato travara o padre Vilela conhecimento com os
pescadores de sua freguesia e da região. Deles, e somente deles, é que esperava
a mais
decidida cooperação nas suas festividades religiosas porque a pesca, naqueles
tempos,
acima mesmo da agricultura incipiente, se estabelecia como a mais importante
fonte de
riquezas do Norte da Capitania.
E dentre os pescadores seus conhecidos, três se distinguiam pela espontaneidade
em
auxiliar, pela singeleza de usa fé e, sobretudo, pelo seu acatamento às
solicitações
do
vigário. Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, os seus nomes!
Procurou-os, então, o padre Vilela, incumbindo-lhes da pesca para o banquete-
homenagem.
Nem estranharam a dedicação e o interesse do seu vigário por aquela pesca.
Supunham-no desejoso realmente de exaltar à visita do Governador as qualidades
da
cozinha da Vila, de lhe demonstrar respeito e, certamente, creditar a região a
favores
futuros.
Admirados, contudo, receberam no dia do banquete (13 de outubro de 1717), manhã
cedo, as ordens do vigário no sentido de que lançassem suas redes no Porto de
Itaguassu,
próximo do morro dos Coqueiros. Como ativos pescadores, sabiam que os peixes
permanecem mais nas partes clamas do rio e não é possível pesca alguma junto de
um
porto, onde há tanta movimentação.
Toda aquela zona dispunha do Rio Paraíba como principal via de comunicações e
transportes. E, dentre os portos, o de Itaguassu se destacava por servir vasta
extensão.
Em vista da sua própria profissão, entendêramos pescadores a ineficácia da ordem
extravagante do vigário. Mas, ingênuos e submissos, obedeceram. Não lhes
convinha
desacatar o sacerdote ameaçador e capaz de pragueja-los e amaldiçoa-los.
Lançaram a rede na convicção de nada apanhar. Surpresos, porém, retiraram das
águas uma imagenzinha, de 0,30 m de altura, talhada, em terra cota escura, nos
moldes da
Madona de Murilo, que o clero se utiliza como símbolo da "Imaculada Conceição"
de
Maria.
Decidiram guardar a imagem aparecida nas águas dentro do embornal e prosseguir
além sua tarefa.
Obtida a quantidade de pescado exigida pelo clérigo anfitrião, foram à sua
residência
fazer-lhe a entrega.
E, jubilosos e na sua crença ingênua, mostraram ao padre, misturado na comitiva
do
Governador, a imagem aparecida.
Enternecido o vigário pelo sucesso do seu empreendimento, pois ninguém soubera e
nem desconfiara de sua ida durante a madrugada ao Porto de Itaguassu para deixar
nas
águas aquela imagem, despejava suas expressões religiosas e deslambidas
acentuando o
"fator milagre" daquela descoberta.
Todo o povo daquela região, presente em Guaratinguetá, para conhecer o
Governador, Conde de Assumar, ludibriado em sua credulidade, exultou com o
"milagre"
sucedido, vinculando-o à santidade do seu vigário e divulgou a notícia à
distância.
- Arre! Se falharam as aventuras em
busca de esmeraldas, o "milagre"
interveio para dar ao povo desiludido uma preciosidade muito maior!!!" -
Parafusava o padre, que, de propósito, havia colocado a imagem nas
águas do Porto de Itaguassu.
Na intenção de valorizar o enredo do seu estratagema religioso achou melhor
entregar
a estátua a um dos pescadores, Felipe Pedroso, residente no sopé do morro dos
Coqueiros.
Retirando-se o Conde de Assumar no seguimento de sua viagem, os fiéis, em
procissão, aocmpnharam o felizardo pescador, que, piedosamente, colocou, sob a
emoção
dos circunstantes, a imagem aparecida entre os "santos" do seu tosco oratório.
Inglórios os esforços do padre Vilela junto ao Governador! Tão assoberbado de
problemas em sua curta estadia no Brasil à testa da Capitania São Paulo, não
teve
sequer a
lembrança de sugerir a El Rei o nome do clérigo Vilela como candidato a bispo de
alguma
diocese do Reino.
Não se desesperançou o padre. Decidiu incentivar a devoção da senhora aparecida,
promovendo atos religiosos na casa de Felipe Pedroso. Quem sabe se o seu nome
assim
ligado à estátua aparecida "milagrosamente", se encheria de fama e repercutiria
nos
ouvidos do supersticiosíssimo El Rei Dom João V, que ouvia missas sobre missas,
distribuía
dinheiro a rodo a quantos santos figuravam no calendário, enchia de ouro os
conventos e,
enlevado por violenta paixão à sua amante, a freira Paula, do convento de
Odivelas,
alcançou do papa o título de Rei Fidelíssimo.
As esmolas lançadas, em grande cópia, no oratório da santa, permitiram ao
vigário
sonhador da mitra episcopal, repartir com o devoto Felipe Pedroso, que pode
obter
numerário para comprar uma pequena fazenda e construir casa nova em Ponte Alta,
também nas proximidades do Porto de Itaguassu, onde entronizou, em oratório
novo, a
imagem de terra cota aparecida.
A devoção mais importante e mais concorrida nesse local acontecia aos sábados à
noite.
Sucedeu a Felipe Pedroso, após a sua morte, na incumbência religiosa, o seu
filho
Atanásio. Um pouco arredio a essas beatices, este herdeiro achou melhor
construir
fora de
sua casa uma capelinha para se ver livre das importunações dos devotos e
transferiu à
Silvana da Rocha o mister de puxar as rezas e os cânticos. Primava a
rezadeira-mor,
Silvana, em dirigir o rosário dos sábados, incrementando a afluência dos
humildes com
animados bailes regados à pinga após a reza na intenção de alegrar os devotos
caboclos
desprovidos de outros divertimentos.
Os anos se passaram e o nome do padre Alves Vilela, sem ser sugerido nas
eleições
dos bispos!
Em 1742, Dom João V foi acometido de uma paralizia que o imobilizou para sempre
apesar de suas treze jornadas às Caldas da Rainha (Nas proximidades de Leiria,
ainda
é das
mais importantes estações termais de Portugal), escoltado por um exército de
freiras e
padres interesseiros.
O vigário de Guaratinguetá, agora já encanecido, porém esperançoso, mantinha-se
ao
par de todas as notícias vindas de Além Atlântico.
Conhecedor da carolice de El Rei e sua magnanimidade em proveito dos clérigos,
urdiu outra investida com o objetivo de atrair as atenções "majestáticas" sobre
si.
Certo sábado, em 1743, quando os devotos chegaram à capela, surpresos, deram
pela
falta da santa aparecida. Atônitos ficaram quando Silvana Rocha desconhecia
também o
seu paradeiro mesmo depois de se informar com Atanásio. Desesperados, correram
falar
com o vigário que se fingiu surpreendido. Aconselhou-os, porém, a que dessem uma
batida
nas redondezas e que não se esquecessem de ir até o alto do morro dos Coqueiros.
Dóceis à
orientação do padre, vasculharam todos os recantos, e, por fim, subiram os
rapazes ao
morro, onde, para alívio geral, encontraram a imagem encostada em uma pedra.
Nessa
noite, o rosário foi rezado com mias fervor, os hinos mias vibrantes e o baile
mais
animado
com pinga distribuída abundantemente na algazarra do reencontro da Senhora
Aparecida.
Noutros sábados, o fato misterioso se repetiu sem que os pobres devotos
percebessem
a mão do vigário atrás de tudo.
O padre Vilela, ao sentir-se seguro do êxito de seu plano, num sábado, foi até
Ponte
Alta puxar ele a reza. Desta feita, ainda outra vez, a busca da imagem fugidiça
precedeu o
ato religioso, porque o padre mandara ainda outra vez, retira-la às ocultas e
leva-la para o
cume do morro. Então, na qualidade de vigário e ministro de Deus, aconselhou o
povo
devoto que se construísse lá no alto do morro um templo para a santa.
De imediato, foram abundantes os donativos. Todos queriam concorrer a fim de
contentar os desejos da santa aparecida no sentido de que lhe construíssem um
templo
no
alto do Morro dos Coqueiros, conforme havia interpretado o vigário aquelas fugas
constantes.
Em cumprimento de exigências eclesiásticas, o padre José Alves Vilela valeu-se
do
bispado do Rio de Janeiro (O bispado de São Paulo, a cuja jurisdição pertenceram
Aparecida do Norte e Guaratinguetá, somente foi criado em 1745.) , a cuja
jurisdição
canônica se submetia para requerer a devida licença a fim de erigir o templo. Na
esperança
de divulgar nas altas rodas clericais, o valor sobrenatural da sua santa
aparecida,
o que lhe
poderia render prestígio junto a El Rei, salientou em seu requerimento:"...que
pelos
muitos
milagres que tem feito a dita Senhora, a todos aqueles moradores, desejam erigir
uma
capela com o título da mesma Senhora da Conceição Aparecida, no distrito da dita
freguesia em lugar decente e público por concorrerem muitos romeiros a visitar a
dita
Senhora que se acha até agora em lugar pouco decente..."
A provisão de licença foi passada na chancelaria do bispado do Rio de Janeiro,
em 5
de maio de 1743. E tudo se tornou mui fácil, porquanto, Dona Margarida Nunes
Rangel,
proprietária do Morro dos Coqueiros, houve por magnanimidade, fazer doação de
toda a
colina.
Afluíram donativos abundantes e, a 26 de julho de 1745, o padre Vilela benzeu o
templo e rezou nele a primeira missa, suspirando para que El Rei, o beato sonso
Dom
João
V, se lembrasse dele nas escolhas dos bispos.
Já alquebrado pela idade avançada, morreu como simples vigário de Guaratinguetá,
o
padre ambicioso, e a Aparecida caiu na vala comum das pequenas capelas do
Interior
brasileiro.
Em fins do século passado, Aparecida foi tirada da sua insignificância, onde
permanecera por mais de cem anos após a morte do seu criador, Padre José Alves
Vilela.
Em 8 de dezembro de 1888, o bispo de São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho,
benzeu um novo templo construído em substituição do anterior erigido pelo
sacerdote
inventor da "santa" e resolveu entrega-lo à administração de alguma ordem ou
congregação religiosa.
A congregação dos padres redentoristas gozava, na época, de grande nomeada nos
círculos romanistas, pois o seu fundador, o italiano Afonso de Liguori, além de
ser
canonizado santo, em 1839, havia sido, em 1781, proclamado pelo papa Pio IX,
"doutor
da
igreja". Dentre as sua diversas ob rãs literárias, destacam-se a "Teologia
Moral" e as
"Instruções e Método para os Confessores", pelo seu conteúdo referto de normas
utilizáveis com grande resultado no confessionário, o instrumento infernal da
escravização
das consciências.
Por causa da "importância" de Liguori, cresceu a influência de sua ordem
religiosa, e
também em razão de sua finalidade, que consiste em dispor os padres,k seus
membros, a
pregar missões populares. Distinguem-se estas por uma série de pregações
retumbantes e
fantasmagóricas como arremates de procissões imbecilizadoras.
Liguori estabeleceu a sua congregação para a Itália Meridional do seu tempo, com
uma população rural ignorante e de sangue quente. Referindo-se a esses
italianos, o
padre
redentorista Hitz, observa: "...gostam das manifestações fortes... São
superficiais,
levianos,
desmazelados, supersticiosos, e apegam-se sobretudo às práticas exteriores da
religião (P.
Hitz, sacerdote redentorista – "A pregação Missionária do Evangelho" – Livraria
Agir
Editora – Rio
de Janeiro – 1962 – pág. 181. Seria de ótimos resultados para os padres da
Aparecida
do Norte a
leitura desse livro, máxime do seu capítulo III). Foi para conservar esse povo
agrilhoado às
superstições romanistas, assim considerado pelos seus líderes religiosos, que
Liguori
determinou, com minúcias, os temas e os esquemas dos sermões das "santas
missões" as
serem pregadas por seus padres. No plano do fundador dos padres redentoristas,
os
fiéis
devem, ao final desse trabalho, ser encaminhados ao confessionário para que se
consume o
seu cativeiro espiritual.
As "santas missões" dos redentoristas fundam-se num moralismo antropocêntrico,
infinitamente distante do cristianismo. Aliás, servem bem ao romanismo, cujo
ritual
coloca
o endeusamento da criatura acima de tudo.
O bispo de São Paulo, Dom Lino Deodato de Carvalho, julgou os brasileiros
semelhantes aos depreciados italianos meridionais por estarem também, os nossos
patrícios, seus contemporâneos, encharcados das superstições católicas. E
entregou o
templo da Senhora Aparecida à direção dos padres redentoristas, em fins de 1894.
Esses padres, incontineti, começaram suas incursões fanatizadoras pelo Interior
dos
Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro, por meio das
missões
populares, quando divulgaram profusamente as lendas referentes à Senhora
Aparecida. O
nosso povo, humilde e distante das fontes puras da Bíblia, aceitou ingenuamente
es em
qualquer exame, essa fábula, que, também eu, em criança ouvi.
Pelo confessionário, os redentoristas impunham aos fiéis, narcotizados pelas
suas
mentiras e modelados aos seus caprichos, penitências de rezar fórmulas especiais
à
Aparecida e de ir ao seu santuário em romarias.
O povo desprovido dos recursos essenciais a uma sub-existência condigna e imerso
nas trevas do analfabetismo é sempre presa fácil dos embusteiros, máxime quando
se
apresentam revestidos de roupagens exóticas e com a voz repassada de acentos
ameaçadores.
Os pregoeiros do "aparecidismo" espalharam entre o nosso pobre e abandonado
povo, no intuito de fanatiza-lo e escraviza-lo mais, aquela deslambida "Oração a
Nossa
Senhora Aparecida para pedir a Sua Proteção", que começa assim: "Ó Incomparável
Senhora Conceição Aparecida, Mãe de Deus, rainha dos anjos, advogada dos
pecadores..."
Em seguida a esta relação de tantas heresias, o pobre brasileiro suplica-lhe que
o
livre "da
peste, fome, guerra, trovões, raios, tempestades e outros perigos e males que
nos
possam
flagelar".
Aconselhado pelo missionário, o simplório cola o papel dessa reza atrás das
portas de
sua casa e se supõe imunizado, protegido e livre de todas as desgraças.
Quando eu era pároco em Guaratinguetá, num domingo, fui rezar missa numa capela
da zona rural. Desabara durante a noite precedente, um horrendo temporal. E a
notícia
lúgubre enchia de tristeza todos os moradores da região! Um raio penetrara numa
choça e
fulminara todos os seus moradores. Encaminhei-me para lá. Entrei no casebre.
Olhos
esgazeados de pavor, encontrei três corpos esturricados no chão. E atrás das
portas
toscas a
protetora reza da "incomparável...".
As primeiras "santas missões" populares produziram os frutos esperados. Já em
1900
começaram as romarias. O novo bispo de São Paulo, Dom Antonio Cândido de
Alvarenga,
continuou o interesse de seu antecessor, Dom Lino, pela Aparecida do Norte, pois
previa os
seus resultados financeiros como comércio da credulidade das massas. Em
conseqüência,
não só incentivou os vigários das paróquias a promoverem romarias,k mas, ele
pessoalmente organizou uma.
A comercialização e a traficância da devoção à Senhora Aparecida tornaram-se
rendosas, além de todas as estimativas, que o bispo de São Paulo não admitiu se
tornasse
ela paróquia da Diocese de Taubaté.
Com efeito, em junho de 1908, o papa Pio X desmembrou da Diocese de São Paulo,
que abrangia todo o território do Estado, as dioceses de Botucatu, Campinas, São
Carlos,
Ribeirão Preto e Taubaté. Esta incluía todo o Norte do Estado de São Paulo,
desde o
Município de Jacareí, inclusive, até o limite do Estado Fluminense, à exceção de
Aparecida
do Norte que , apesar de encravada bem no centro do bispado de Taubaté,
continuava
pertencendo à jurisdição eclesiástica do arcebispado de São Paulo. Ocorreu esta
anomalia
escandalosa como resultado da ganância do arcebispo, ávido de se locupletar com
as
fortunas continuamente depositadas nos cofres da Senhora Aparecida.
Em 1931, conforme já referimos, vieram sua proclamação e coroação como padroeira
e
rainha do Brasil, em execução de uma astúcia política.
Antes, o padroeiro do Brasil era São Pedro de Alcântara, que por haver sido
membro
de ilustre e principesca família espanhola, durante o domínio da Espanha sobre o
Reino de
Portugal, obtivera de Roma esse "padroado".
Os tempos eram outros e o povo brasileiro não se tornara fã do frade espanhol.
Então,
os ordinários brasileiros decidiram aposentá-lo e arranjar do papa um outro
padroeiro.
Afora o prestígio popular, o candidato, por certo, precisaria satisfazer
injunções
políticas e ter a sua Meca localizada onde houvesse maior concentração
demográfica.
A paraense Senhora de Nazaré, a capixaba Senhora da Penha e o baiano Senhor do
Bomfim, se bem que prestigiados popularmente em suas regiões, careciam
satisfazer as
outras condições.
Cumprindo-as todas, a Senhora Aparecida foi a eleita.
Mais recentemente, em 1958, o papa Pio XII criou a Arquidiocese de Aparecida,
com o
território da paróquia do mesmo nome desmembrando da Arquidiocese de São Paulo e
de
outras paróquias retirando da Diocese de Taubaté.
Em ritmo acelerado, prosseguem as obras de construção da nova basílica no sopé
do
Morro, antigamente cognominado dos Coqueiros.
Na falcatrua da Senhora Aparecida há a lenda de sua mudança "invisível" de
capela
em Ponte Alta para a cumiada da colina. Por isso mesmo é que foi erigido o
templo no
alto.
A crer-se nas informações clericais, essa imagem saiu do lugar escolhido por ela
própria,
apenas duas vezes: - 0 quando de sua coroação no Rio de Janeiro e, em 14 de
julho de
1945,
quando, em São Paulo, esteve numa manifestação político-católica. Efetivamente,
se os
padres acreditassem no "milagre" de haver ela própria escolhido o seu trono no
alto da
colina, como pregam, a nova basílica seria construída lá encima mesmo. Se a
estão
construindo embaixo, atestam sua descrença daquele "fato". Outra demonstração de
sua
impostura!
Os padres redentoristas, hoje em dia, por considerarem antiquado o método, não
se
utilizam tanto das missões populares inculcadas pelo seu fundador nos estatutos
da
congregação. Prevalecem-se de meios mecânicos de divulgação como o jornal e o
rádio. A
sua emissora é potente em alcance e seria capaz de conservar o povo brasileiro
na
masmorra espiritual de suas superstições se não estivesse abrindo os olhos.
Já rareiam os fanáticos que chegam à Aparecida e pedem às oficinas de consertos
de
rádio que lacrem seus receptores na "estação de Nossa Senhora".
Aliás, outro sintoma desfavorável para os padres é o decréscimo do número de
peregrinos em proporção do aumento populacional do País e da propaganda imensa,
desfraldada até com larga distribuição de imagens fac-símiles. Inclusive, ainda
não
conseguiram fixar uma data para a celebração do dia da padroeira em que as
multidões
acorressem como desejam os reverendos. Sem o êxito desejado, já mudaram a data
por
várias vezes.
Não obstante todas as promoções em torno da divulgação dos "fatos" relacionados
com a Aparecida, das demonstrações de fé na mesma, das romarias, de suas imensas
riquezas... Não obstante os padres afirmarem – da boca p'ra fora! – que crêem na
aparição
prodigiosa da Senhora Aparecida, até hoje o Vaticano não se pronunciou a
respeito.
Desafio a qualquer padre da Aparecida a que me apresente um documento do
pontífice romano pelo qual haja se pronunciado sobre a autenticidade dos
"acontecimentos
prodigiosos" que divulgam entre o povo.
Eles não aceitam o desafio porque nem o papa crê nesse "prodígio". Bem ao
contrário!
Ele sabe que tudo é falcatrua. E falcatrua tão mal engendrada que nem é capaz de
forjar
documentos, tática de sua índole.
Só
as pessoas fanaticamente narcotizadas pela idolatria não querem enxergar e
continuam devotas da Aparecida.
A fim de dar aos padres reptados uma colher de chá de malva, que é clamante,
apresento-lhes o parecer do monge beneditino, Estevão Beteencourt: "As
autoridades
eclesiásticas não se empenham por definir a autenticidade de tais portentos, nem
mesmo a
dos episódios concernentes à aparição da Senhora Imaculada no Porto de Itaguassu
em
1717... A santa igreja, de modo nenhum, entende fazer de tais relatos matéria de
fé...
(Pergunte e Responderemos – 71/1963, qu. 5).
Católico! Não continue enganado! Use sua cabeça para raciocinar e não vá mais no
conto do vigário! O próprio monge Estevão Bettencourt declara que aquilo tudo
não é
"matéria de fé". Ele não crê! Nem o papa e nem os padres prestam fé aos seus
relatos
sobre
a Senhora Aparecida!
O melhor processo criado pelo inferno para enganar os inadvertidos, anestesiar a
consciência do pecador e confundir a pureza límpida do Evangelho foi a dos
"prodígios
miraculosos".
O milagre autêntico só pode ser realizado pelo poder de Deus, pois se trata de
um
fenômeno que se dá além ou acima das leis da natureza, mudando o seu curso
normal num
caso particular.
Jesus ao praticar muitos milagres tinha em mira patentear a Sua Divindade.
Nicodemos mesmo reconheceu-a por isso (João 3:2).
O cristão aceita o milagre; porém, dentro das normas da Bíblia, a sua Única e
Exclusiva Regra de Fé e Prática.
Portanto, todo o prodígio contrário às normas e aos ensinamentos da Revelação
Divina contida na Bíblia, não procede de Deus. Com efeito, Deus ameaça com
terríveis
castigos aqueles que acrescentarem ou retirarem dela qualquer coisa (Apoc. 22:18
e
19).
Ninguém tem o direito de acrescentar nada à Palavra de Deus e quem o fizer é
mentiroso
(Prov. 30:6).
Em matéria religiosa, tudo o que estiver fora da Bíblia é um acervo de mentiras.
Satanás tem muito interesse em perverter as almas, apresentando-lhes doutrinas
espúrias, contrárias à Revelação de Deus. Os seus sequases andam soltos, fazendo
prodígios até em Nome de Deus!
Relativamente a estes é que Jesus advertiu: "Muitos me dirão naquele dia:
Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios?
e
em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos
conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." (Mateus 7:22 E 23)
Esses prodígios são iniqüidades!!! Mesmo feitos em Nome de Deus, mas contra a
Sua
Santíssima Vontade revelada na Bíblia!
É uma iniqüidade o que o clero pratica no Brasil, ludibriando o povo!
A Bíblia é categórica em proclamar: "Porque há um só Deus, e um só Mediador
entre
Deus e os homens, Cristo Jesus, homem," (I Timóteo 2:5)
A Bíblia é peremptória ao proclamar: "De tanto melhor concerto Jesus foi feito
fiador...
Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a
Deus, vivendo
sempre para interceder por eles." (Hebreus 7:22 a 25)
A Bíblia, repito, é explícita em anunciar: "... se alguém pecar, temos um
Advogado
para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos
pecados..." (I João
2:1 e 2).
Todo o Novo Testamento revela a Total-Suficiência de Jesus Cristo, como
Salvador,
Mediador e Advogado.
Enganaram-se muitos evangélicos ao supor que o romanismo com seu Concílio
Ecumênico Vaticano II estaria disposto a reformar suas doutrinas nefastas,
aproximando-se
da Palavra de Deus e aceitando Jesus como Único e Todo-Suficiente Salvador,
Mediador,
Intercessor e Advogado.
O romanismo, porém, confirmou os seus velhos dogmas, contrários à Bíblia, e
engendrou outros...
Negando ao Nosso Bendito Salvador a exclusividade restrita e conseqüente de
todos
aqueles atributos, em discrepância absurda da Bíblia, exalta Maria como
Advogada,
Auxiliadora, Protetora, Medianeira... (Constituição Dogmática "Lumen Gentium",
(§
62), o
mais importante documento do Vaticano II, promulgado em 21 de novembro de 1964),
aberrando
dos ensinamentos claros de Deus.
Engajada nesse mesmo torvelinho de heresias está a Senhora Aparecida sobre quem
o
cardeal Vasconcelos Mota, arcebispo de sua arquidiocese, escreveu, em 1º de
janeiro de
1967, para comemorar o 250º aniversário da falcatrua, uma carta pastoral,
classificada pelo
chaleirismo do órgão católico: "O São Paulo" (22 de janeiro de 1967), como "um
tesouro de
magistério".
Nesse "tesouro de magistério" – magistério do inferno porque absolutamente
contrário à Revelação Divina e, ignominiosamente, depreciador de Jesus Cristo! –
nesse
"tesouro de magistério", repito, falando da Senhora Aparecida, como Medianeira,
Advogada e Intercessora, saiu-se o cardeal aparicipolitano com esta heresia
blasfêmia:
"Ora, intercedendo por nós, embora pecadores, a maior santidade, o maior nome e
a
maior
dignidade (refere-se à Senhora Aparecida, isto é, à sua Padroeira), como poderá
resistir a Justiça
Divina ou negar a Sua Misericórdia a uma tão forte, suave e poderosa
intercessão?
Intercessão é o meio entre dois extremos; para ser poderosa e eficaz, há de
tocar a
ambos:
Deus, a quem intercede, e os pecadores, por quem intercede. E a Senhora posta
entre
Deus
e os pecadores, quão chegada é a um e a outro extremo? É tão chegada a Deus, que
só
lhe
falta ser Deus; é tão chegada aos pecadores que só lhe falta o pecado".
Confrontem-se essas expressões pos-conciliares com a doutrina de Deus
demonstrada
nos versículos bíblicos acima citados (Apoc. 22:18 e 19; Prov. 30:6; I Timóteo
2:5;
Hebreus
7:22 a 25; I João 2:1 e 2). São incompatíveis!
Torna-se evidente que os "milagres" da Aparecida não procedem do poder de Deus
porque não são consentâneos com Sua Vontade expressa em Sua Revelação, a Bíblia
Sagrada.
As afirmações que não encontram evidência na Bíblia procedem, sim, do inferno
para
perverter as almas! Constituem-se na marca da apostasia!!!
Os seus pregoeiros e divulgadores se aliam com os falsos profetas referidos por
Jesus
Cristo (Mateus 24:24).
A religião dos crendeiros aparicidanos consiste em fazer promessas e esperar
milagres.
Anestesiados pelas mentiras ridículas com que os padres ludibriam, por qualquer
pretexto, fazem seus votos à santa pescada em Itaguassu.
A excêntrica "sala de milagres" revela como são entorpecidos na prática de uma
religião de fábulas e embustes.
O devoto faz a sua promessinha de mandar uma fotografia para ser exposta na
"sala
de milagres", mas, ao mesmo tempo, coloca na pereba a pomada que o "doutor"
receitou.
Quando sara, foi milagre da Aparecida. Se não melhora, o médico é que não
presta!
A moça se apavora com a possibilidade de ficar solteira e embarca, para se
livrar
dessa conjuntura, no primeiro bonde que aparece; e manda as tranças dos seus
cabelos,
como ex-votos, para serem dependuradas na "sala dos milagres".
Um time de futebol sagra-se campeão de qualquer torneio, os seus jogadores vão
em
romaria, levar à santa aparecida, as esmolas de promessa.
No concurso de miss-Brasil, em 1956, ouvi pelo rádio o General Profírio da Paz,
devotíssimo aparicidano, invocar as bênçãos da Senhora Aparecida em favor das
beldades
semi-nual.
Durante três anos freqüentei assiduamente a basílica e jamais vi um milagre...
Milagre, milagre mesmo, isto é, ressuscitar um morto sepultado, como Lázaro, dar
vista a um cego de nascimento, fazer aparecer um braço no lugar do amputado,
colocar
um
pulmão novo no lugar do extraído... ela nunca fez!
A Senhora Aparecida é tão incapaz em matéria de milagre que é uma coitada!
Garnato
que, se cair do seu nicho, espatifar-se-á no chão!!!
A sua cidade está cheia de aleijados, estropiados e cegos a mendigar esmolas
pelas
ruas. Se o padres abastados de ouro e dinheiro não os socorre porque são
avarentos, a
Senhora Aparecida, de sua parte, nem lhes dá atenção aos gemidos.
Ela é tão coitada que não tem poder nem de retirar as lombrigas das crianças dos
seus
devotos. Por isso, a sua emissora faz propaganda de vemífugos.
Frusta-se o diabético que se socorreu de sua valia... Os padres da basílica,
então,
reconhecem-na tão fraquinha que, por meio do seu jornal, lhe recomenda o "copo
medicinal".
Reconhecem-na tão ineficiente que, aos devotos alcoólatras, aconselham produtos
farmacêuticos.
O "Santuário de Aparecida", órgão "oficial da basílica nacional de N. Senhora da
Aparecida," desapontou-se tanto com a impotência da incomparável milagrenta que,
a par
da propaganda de produtos farmacêuticos, veiculada em suas poucas e
desengonçadas
páginas, abriu um "Consultório de Medicina Caseira", sob a responsabilidade do
Frei
Esculápio.
Ainda mais desapontados devem estar os seus devotos com a recentíssima
demonstração de impotência da "incomparável senhora" verificada na oportunidade
da
fuga do urso "Negrito" de sua jaula.
Os supersticiosos cismam com o dia 13 e pior ainda quando cai na sexta-feira.
Para
aumento do medo deles o fato ocorreu no último dia 13 de setembro, sexta-feira.
Durante 3
horas o urso "Negrito", foragido das grades, roncou pelas ruas centrais da
"capital
marina"
do Brasil, levando o pânico às autoridades. E porque ninguém confia mesmo na
"santa"
Cidoca, apelou-se para o Corpo de Bombeiros de São Paulo, convocaram-se os
elementos
da Força Pública sediados em Taubaté e mobilizaram-se os recursos da Escola de
Especialistas de Aeronáutica de Guaratinguetá. Quando se conjecturava lançar
bombas de
gás lacrimogênio para apanhar a fera, um domador entrou em cena e encurralou-o.
A
população ficou aliviada do susto, enquanto a padroeira foi desmoralizada com as
manchetes de alguns jornais: "Diabo esteve à solta 3 horas em Aparecida do
Norte".
A santa aparecida no Porto de Itaguassu, em 13 de outubro de 1717, foi um
estratagema do falsário e ambicioso padre José Alves Vilela. A sua trapaça,
porém,
foi tão
mal feita que o clero, nesse legado de abusões, não encontrou ainda elementos
para
transformar a fraude em matéria de fé. Até mesmo para esconder a estátua
disforme,
cobrem-na, de alto a baixo, com um manto azul, preso com a coroa de ouro, o que
lhe
dá o
formato de um triângulo.
Apesar de tudo, porém, vão os padres enganando o povo credeiro.
A atitude favorável a essa devoção, por parte do clero visa exclusivamente a
exploração comercial dos supersticiosos.
O monge beneditino, Estevão Bettencourt, sócio dessa empresa de
especulação da
credulidade pública, afirma que "a bem da verdade, deve-se notar que tal atitude
favorável
é independente de qualquer pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a
genuinidade dos prodígios que se narram em torno da Virgem e do santuário de
Aparecida" (Pergunte e Responderemos – 71/1963, qu. 5).
"A bem da verdade..." Leia de novo as declarações do monge Bettencourt!
Que coisa!!! Os reverendos proclamam tanta a eficácia da devoção à virgem
aparecida,
divulgam os seus "milagres" e expõem, em sala adequada, tantos ex-votos e não
podem
sair desta: Nem esses "milagres" merecem qualquer pronunciamento oficial sobre a
sua
genuinidade...
É mesmo uma trapaça essa aparecida!
Desde menino, ouvi muitas vezes o milagre da libertação de um escravo na hora de
ser, preso ao tronco, retalhado com chicote em estifo de sua fuga.
Foi mentira! Isso não aconteceu.
Se quem nega a veracidade desse fato, fosse um evangélico, longo sofreria
insultos
dos carolas fanáticos. Mas, quem diz ser isso uma mentira, uma lenda fantasiosa
é o
devoto
Fred Jorge, em seu livro: "Aparição e Milagres de N. S. Aparecida" (Editora
Prelúdio
Ltda. –
São Paulo – 1954 – pág. 20), que recebeu o "Imprimatur" do cônego J. Lafayette
(hoje
bispo
auxiliar na Capital paulista), por delegação do cardeal e sob a chancela da
cúria
metropolitana de São Paulo.
Esse mesmo livro, sacramentado, indulgenciado e "águabentado", por um solene
"Imprimatur" do ordinário paulista, diz que "para enumerar todas as graças
concedidas
seria preciso milhares de páginas e muitos volumes..." Propõe-se Fred Jorge
colher
alguns
dentre aquela quantidade enorme, a fim de apresenta-los aos leitores. Contudo,
por
falta de
autenticidade e seriedade nesses tantos, apresenta, uns poucos apenas,
esclarecendo
a sua
necessidade de usar de fantasia (Pág. 22).
Teve razão aquele padre da basílica que, em princípios do ano de 1961 me disse,
referindo-se à Aparecida: "Ela não tem valor algum. Nós gostamos dela porque nos
traz
muito dinheiro".
LIVRO: A SENHORA APARECIDA – OUTRO CONTO DO VIGÁRIO
AUTOR: EX-PADRE CATÓLICO ROMANO ANÍBAL PEREIRA DOS REIS
APÊNDICE:
Deixei definitivamente o sacerdócio romanista no dia 12 de maio de 1965, depois
de
exercê-lo durante quinze anos. Prestei-lhe, nesse período, larga folha de
serviços.
Em minha biografia: " Um Padre Liberto da Escravidão do Papa" relaciono farta
documentação a fim de demonstrar meu devotamento e integridade moral como padre.
Deixei a batina por uma única razão. É que me converti a Jesus Cristo,
aceitando-O
como
Único e Todo-Suficiente Salvador. Em resultado, decidi pautar minha vida,
exclusivamente, pela Vontade de Deus, exarada em Sua Bíblia.
Com crente em Jesus Cristo – é evidente! – não poderia permanecer no labirinto
das
superstições católicas, incompatíveis com a Bíblia.
Se até o último dia que servi à seita do papa fui sempre considerado um
sacerdote
exemplar, recebendo constantes elogios, não aconteceu o mesmo depois de a haver
abandonado.
Os vassalos de Roma desencadearam sobre mim infernal perseguição, sobretudo pelo
seu método comum, isto é, a calúnia, a aleivosia e o achincalhe.
Poderão mobilizar todas as suas hostes satânicas que não me arredarão do
propósito de
continuar, Bíblia em punho, por todo o Brasil, proclamando Cristo, a Única
Esperança.
Ao invés, suas diatribes mais me estimulam...
Mais me enchem de gozo, consoante as palavras do meu, Bendito Salvador: "Bem-
aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem
todo
o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos porque é grade o vosso
galardão
nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós". Mateus
5:11
e 12:26
DR. ANÍBAL PEREIRA DOS REIS
(Edições " CAMINHOS DE DAMASCO" – 1968 – 2ª EDIÇÃO)
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.