Algumas doutrinas em que eles divergiam:
Batismo Infantil
Tertuliano (contra)
Orígenes (a favor)
Imaculada Conceição
de Maria
Anselmo, São
Bernardo, papa leão I, papa Gregório, Inocêncio III (contra)
Ireneu, Santo Efrém (a
favor)
Virgindade Perpétua
de Maria
Tertuliano, Hegesipo, Ireneu,
Eusébio (contra)
Jerônimo, Orígenes, Epifânio
(a favor)
Os irmãos podem ver outras divergências no artigo que está no endereço:
http://www.cacp.org.br/catolicismo-dividido.htm
Elizabeth Figueiredo
Por Paulo Cristiano da Silva
"Não refutarei apenas as
acusações levantadas contra nós; farei com que elas se voltem contra seus
próprios autores" (Tertuliano, 220 d.C)
“para que sejam um, como nós somos um...” (João 17.22)
Quando Jesus proferiu estas palavras, ele contava com apenas algumas dezenas de
seguidores. Jesus deixou bem claro que uma das características pelas quais seus
seguidores seriam conhecidos seria a unidade.
Passados quase dois mil anos empós estas palavras serem ditas, o cristianismo
conta com cerca de 2,1 bilhões de adeptos, sendo que destes, 1 bilhão pertencem
à comunhão Católica Romana.
Diante desta enorme grei de fiéis, o catolicismo se ufana em ser a única igreja
verdadeira e um dos motivos invocados para sustentar tal alegação é sua suposta
unidade.
Por vezes as igrejas evangélicas são estereotipadas como instáveis,
dividindo-se, constantemente, em novas denominações, cada qual com suas
doutrinas, disciplinas e costumes. Eles mostram o contraste com a igreja
católica, a qual é retratada como sendo sólida e unificada.
Apontam ainda o credo Niceno que reza “Creio na Igreja, Una...”, para daí
tirarem a conclusão de que as igrejas evangélicas não fazem parte da verdadeira
Igreja de Cristo. Somente a Igreja Católica é Una!
Entretanto, cabe aqui algumas perguntas oportunas, qual seja: a suposta unidade
do catolicismo é sinal de ortodoxia? Existe base lógica para condenar a
diversidade nas igrejas evangélicas como sinal de heresia? Até que ponto essa
unidade alegada pelo catolicismo é verdadeira? É realmente tão grave esta
diversidade no protestantismo a ponto de não nos enquadrarmos na perícope de
João 17.22? E a igreja cristã, sempre teve essa unidade que reivindica o
catolicismo?
Estas e outras questões serão claramente respondidas no desenrolar deste artigo.
Veremos que a falsa imagem das divisões protestante e a descrição da unidade
católica apontada pelo romanismo não passam de exageros.
Diversidade
Eclesiástica
O padre Alberto Luiz Gambarini (críticando às igrejas protestantes), afirma que
Pedro é o sinal visível da unidade da igreja. Conseqüentemente, a garantia para
a unidade da igreja repousa na sucessão apostólica chegando ao papa atual.
[1] O papa, portanto, é o sinal da unidade no catolicismo. Isso também
aparece de forma explícita no Catecismo Romano. [2]
Contudo, convém esclarecer que ao contrário do que afirma a Igreja Católica, o
cristianismo primitivo não estava dividido hierarquicamente. Ademais, é um fato
incontestável que não houve episcopado monárquico no primeiro século. As igrejas
eram governadas por colegiados de bispos ou presbíteros que eram termos usados
de modo intercambiável (ver Atos 20.17 e 28; Tito 1.5 e 7). O teólogo católico
José Comblin, é concorde em dizer que: “No meio deles, Pedro tem um papel de
porta-voz.”, entretanto, alerta: “Mas ele não é como o superior.
São todos iguais.(ênfase acrescentada). Afirma ainda que nas primeiras
comunidades cristãs não havia hierarquia, pois todos estavam unidos no colegiado
apostólico e “cada igreja agia de modo independente” [3]
Um bom exemplo disso podemos ver na carta que Inácio enviou à Igreja de Roma, no
começo do segundo século, onde diz : "Inácio... à
Igreja que preside na região dos romanos..." (Inácio de
Antioquia, 107 d.C, Carta aos Romanos [Prólogo]). (ênfase nossa)
Deste
prólogo se depreende que cada igreja tinha a sua jurisdição limitada ao seu
território ou região. Possuía
autonomia eclesiástica.
Definitivamente o Novo Testamento não apóia o arquétipo eclesiástico de
uma única igreja, mas de igrejas distintas e
independentes. Por outro lado, todas elas, apesar desta diversidade, formavam a
única igreja de Cristo.
As
igrejas de Corinto, Éfeso, Roma e as demais eram todas igrejas autônomas
governadas pelos líderes locais. A unidade das igrejas apostólicas repousava no
amor fraternal entre si e na doutrina dos apóstolos; Jesus era o único cabeça da
Igreja. Quando Cristo ordena João escrever às 7 igrejas da Ásia, não as colocam
sobre a jurisdição eclesiástica de nenhum apóstolo em particular a não ser dEle
mesmo.
Diversidade nos Costumes
Podemos
através do livro de Atos e de algumas epístolas paulinas formar um perfil, ainda
que imperfeito, da igreja apostólica.
Existia não pouca diversidade entre elas sobre questões de disciplina e
costumes. A adoração espontânea na igreja de Corinto estava em nítido contraste
com a das igrejas palestinas que baseavam sua adoração no modelo da sinagoga
judaica. Por exemplo, enquanto na Igreja de Corinto foi aconselhado o uso do
véu, este mesmo uso não foi seguido por nenhuma outra. As pesquisas no N.T
apontam duas tendências dentro da igreja cristã: uma judaica e outra helenista
(grega); por causa dessa diversidade começou haver divergências entre seus
membros (Atos 6). O concílio de Jerusalém deixou claro que nenhum costume
judaico seria imposto nas igrejas gentias, enquanto os cristãos judaicos
poderiam livremente praticar os costumes de sua nação, como se abster de certos
alimentos, guardar dias, participar de festas, ir ao templo etc...
Ao
entrar o segundo e terceiro séculos essas diversidades não acabaram, pelo
contrário, aumentaram. Quem nos faz saber isso são os historiadores
eclesiásticos Eusébio de Cesaréia
(c.265-340) e
posteriormente Sócrates (c.379-450) e Sozomen (c.375-447). Eles apontam grandes
diferenças quanto à celebração da páscoa, jejuns, casamento e outros costumes
seguidos pelas igrejas do oriente e ocidente. A divergência entre as várias
igrejas é sinal de que o cristianismo primitivo era diversificado. O já citado
padre comblim afirma que ainda pelo ano 150 “cada Igreja segue o seu
desenvolvimento próprio. Daí, uma notável variedade nas fórmulas de fé, na
liturgia e na organização.” [4]
De fato, havia unidade mais que uniformidade.
Diversidades de
Crenças
Também a diversidade de crenças era um fato constante entre o cristianismo
primitivo. Convém salientar que o pilar onde se apóia a unidade doutrinária do
catolicismo é a chamada “tradição”; ela é a mãe de todas as doutrinas
extrabíblicas desta igreja. Os apologistas católicos afirmam que sua igreja
possui unidade doutrinária por se basear na fé comum dos pais da igreja. Dizem
que as doutrinas sustentadas hoje por eles sempre foram a mesma da igreja
primitiva dada e sustentada pelo consenso dos pais primitivos. Contudo, o
ex-padre Aníbal P. Reis, diz que a assertiva da cúria papal de que havia
unanimidade e consenso de opinião entre os pais da igreja, tornou-se um tanto
utópica, quando se “constatou, porém, que só numa coisa eles concordavam: -
é que discordavam em tudo.” [5]
E realmente era assim, muitos pais da igreja sustentavam opiniões divergentes
entre si, não havia essa alegada uniformidade doutrinária como quer passar o
catolicismo. Observe algumas doutrinas em que eles divergiam:
Batismo Infantil
Tertuliano (contra)
Orígenes (a favor)
Imaculada Conceição de Maria
Anselmo, São Bernardo, papa leão I, papa Gregório, Inocêncio III (contra)
Ireneu,
Santo Efrém (a favor)
Virgindade Perpétua de Maria
Tertuliano, Hegesipo, Ireneu, Eusébio (contra)
Jerônimo, Orígenes, Epifânio (a favor)
Pedro é a pedra da Igreja - Mt. 16.18
Dos 77
pais que comentaram este verso apenas 17 opinaram que se refere a Pedro.
Agostinho um dos grandes vultos católicos era contra a interpretação sustentada
hoje pelo catolicismo.
Junta-se
a isto as questões sobre os livros Apócrifos, o dia da comemoração da páscoa, o
celibato, eucaristia e outras doutrinas que eram arduamente defendidas por uns e
com o mesmo zelo repudiadas por outros vultos da igreja. O que é sustentado hoje
pelo catolicismo como sinal de sua unidade doutrinária eram idéias praticamente
esfaceladas nos primeiros séculos da era cristã.
As
divisões na história da igreja foram muitas. Mas apenas três merecem nossa
atenção:
No
século V houve a separação das igrejas da Síria e do Egito;
No
século XI houve o grande cisma entre as Igrejas do Oriente e do ocidente;
No
século XVI houve a Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero.
Após a Reforma as igrejas protestantes se subdividiram em muitas. David
Barret, em sua “Enciclopédia das Religiões”, registra a existência de
30.880 (trinta mil oitocentos e oitenta) denominações cristãs.
Contudo essa cifra é veementemente contestada pelo apologista protestante Dr.
Eric Svendsen em seu livro “Sobre Esta Rocha Escorregadia” (Calvary
Press, 2002), onde numa pesquisa minuciosa reduz para menos de 10.000 esse
número.
Por exemplo, algumas são variações das mesmas denominações, a lista de Barret
apresentava várias espécies diferentes de igrejas batistas, presbiterianas,
luteranas etc...Mas eram apenas igrejas da mesma denominação com a mesma
doutrina. Uma comparação similar pode-se ver na natureza: existe uma enorme
diversidade entre os felinos, cães e peixes, mas todos sendo cada qual da mesma
espécie e não de espécies diferentes. Há por exemplo, dentro da família dos
felinos os tigres, as onças, os leões e os gatos. Ainda dentro do grupo dos
gatos existem os subgrupos ou raças, os siameses, angorás etc...
Os apologistas católicos agem como se as diferenças entre as igrejas
protestantes fossem tão grandes, como as diferenças entre gatos e cavalos, e
entre pássaros e cães. Na realidade, elas são como as diferenças entre os
diferentes tipos de gatos “siamês" ou de "angorá" (ou seja, pequenas variações
em coisas que são essencialmente as mesmas, fato este já notado em toda a
história da igreja como mostramos acima).
Razões das divisões dentro do protestantismo
Nossos antagonistas gostam de jogar em rosto a desagregação protestante,
apontando que ela é fruto do “livre exame da Bíblia” ensinado por Lutero.
Contudo esta acusação leviana desconsidera vários aspectos dentro do contexto
histórico protestante. Muitos católicos pensam que o protestantismo foi fundado
por Martinho Lutero e daí se fragmentou. Mas o caso é que a reforma iniciou
praticamente na mesma época em vários lugares diferentes por líderes diferentes
que às vezes nem ao menos se conheciam. Martinho Lutero na Alemanha, Zuinglio na
Suíça, Calvino na França e Henrique VIII na Inglaterra é um exemplo disso. Há
uma diversidade de fatores que poderíamos citar como explicação para este
fenômeno, contudo, creio que a principal se encontra na liberdade de expressão,
de culto e consciência defendida pelos reformadores. É sabido que o catolicismo
na idade média erigiu uma verdadeira ditadura religiosa. Ninguém podia discordar
das doutrinas católicas, caso contrário, sofreria as conseqüências nos tribunais
da Inquisição. Assim o medo se espalhou por toda a idade média. Muitos foram
mortos devido a esta nefanda política religiosa sustentada por Roma de proibir a
liberdade religiosa. A unidade era imposta pelo terror!
Contra a liberdade de Consciência se levantou o papa Gregório XVI em sua Carta
encíclica “Mirari Vos” promulgada em 15 de agosto de 1832. Dizia ele sobre a
liberdade de consciência :
“Este erro corrupto abre alas, escudado na imoderada liberdade de opiniões que,
para confusão das coisas sagradas e civis, se estendo por toda parte, chegando a
imprudência de alguém se asseverar que dela resulta grande proveito para a causa
da religião.” Também na mesma carta ele condena a liberdade de imprensa.
Não podemos descartar que a virtude da liberdade está dentro da própria
filosofia protestante, talvez isto explique um pouco essa diversidade dentro do
universo protestante. Seja como for, não há de se negar o fato de que é
repugnante e inadmissível à qualquer espírito religioso sustentar a unidade às
escoras da censura. Os papas deveriam saber que não se pode curar a dor de
cabeça cortando fora o pescoço!
Outrossim, o fato de que a verdade não pode coexistir com o erro é outro fator
preponderante na questão.
O
catolicismo nos acusa de termos separado da igreja romana onde supõe estar o
verdadeiro vínculo da unidade, a comunhão com o sucessor de Pedro – o bispo
romano. Porém, o que ocorreu, é que Roma, e não nós, que se separou da
verdadeira doutrina bíblica e apostólica. Ela tem sido a maior causadora de
schisma [divisões] nestes 15 séculos de cristianismo. Por isso o mandamento é
apartar daqueles que não andam conforme a doutrina (Romanos 16.17). “Porventura
andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3:3).
A unidade básica
entre os protestantes
Existem algumas crenças que definem o Cristianismo. Estas incluem algumas
doutrinas que consideramos essenciais como a hamartiologia (doutrina sobre o
pecado), a soteriologia (doutrina da salvação), cristologia (doutrina sobre
Cristo) teologia (doutrina sobre Deus), a pneumatologia (a doutrina sobre o
Espírito Santo). Dependendo de como a pessoa encara alguns assuntos doutrinários
tais como Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a morte vicária de
Cristo, a salvação através da fé, a ressurreição de Jesus e a nossa, a
autoridade única das Escrituras, a mediação única de Cristo, o Inferno de fogo;
fornece o parâmetro para aferirmos se uma pessoa é Cristã ou não. Estes itens
não são negociáveis. Qualquer pessoa que não acreditar neles não é cristã.
Por outro lado, algumas coisas são negociáveis. Estas incluem assuntos como o
batismo, o tipo de música na adoração, a forma da estrutura e organização da
igreja, a definição da relação entre o livre arbítrio e a predestinação, a
escatologia. Estes itens são importantes. Contudo, não determinam se uma pessoa
é ou não é cristã. São áreas em que os cristãos podem concordar ou não (Romanos
14).
As diferenças entre os protestantes genuínos ocorrem na segunda área, nos itens
negociáveis.
Os primeiros Credos cristãos como o credo dos Apóstolos e os Credos Nicenos
também fornecem uma base para o protestantismo atual, pois neles está a fórmula
de fé professada pelas igrejas primitivas. Muitas crenças abordadas pelo
catolicismo atual não encontram guarida nestes credos. Contudo, o credo
obedecido hoje pelas igrejas protestantes é concorde com aqueles. Em outras
palavras: pode haver união em tudo o que é mais importante, embora haja
diferença em alguns pontos secundários.
Unidade ou uniformidade ?
A falta de uniformidade no universo protestante não prejudica sua unidade.
É uma unidade no Espírito, pois é a vontade de
Deus para seu povo (Efésios 4.3 - João 17.
11,20,21).
Assim, a verdadeira igreja de Cristo é invisível e
espiritual composta de todas as demais igrejas visíveis pelo vínculo da paz
(Hebreus 12.23).
Contudo
essa unidade não implica em uniformidade total. É um fato independente da
diversidade exterior. A igreja é comparada a um corpo diversificado (I Coríntios
12.13-26) com diversos ministérios e dons; é a diversidade na unidade.
Um bom
testemunho disso tem sido a “Marcha para Jesus”, um evento que é realizado no
mundo todo e tem tido um crescimento vertiginoso a cada ano. Essa manifestação
que inclui centenas de denominações evangélicas é um fato incontestável do que
estamos falando.
[6]
Todavia,
essa unidade é mediante a fé. Deve haver não só unidade espiritual, mas também
unidade bíblico-doutrinária; e isso, com exceção das falsas igrejas (seitas), as
igrejas evangélicas possuem de fato.
Por isso
o catolicismo labora em grave erro ao definir o termo “unidade” de forma
particular.
John
Ankerberg e John Weldon distinguiram nove categorias de grupos católico romano
no mundo inteiro. Dos quais destacamos os principais. Todavia, alertam que “As
diferenças entre as mesmas não são claras, porque se sobrepõe ou se fundem entre
si”. Ei-las:
Catolicismo nominal
ou social: o
catolicismo romano da maioria não comprometida, aqueles que talvez nasceram ou
se casaram na Igreja, mas têm pouco conhecimento da teologia e que são, na
prática, católicos somente de nome.
Catolicismo
Sincretista ou eclético:
o catolicismo que está
misturado ou foi absorvido, em diferentes graus, pela religião pagã da cultura
nativa em que ele existe [como, por exemplo, no México, Brasil - Bahia] .
Catolicismo
tradicional ou ortodoxo:
o ramo poderoso e conservador
do catolicismo romano que sustenta as doutrinas históricas da Igreja, tais como
as que foram reafirmadas no Concílio de Trento no século XVI.
Catolicismo
moderado: o
catolicismo romano do Vaticano II, o qual não é completamente tradicional nem
inteiramente liberal.
Catolicismo
modernista ou liberal:
o catolicismo romano
“progressista”, posterior ao Vaticano II, que rejeita até certo ponto a doutrina
tradicional. [7]
Essa
diversidade dentro do catolicismo pode até ser negada, porém não mais escondida.
Numa entrevista que o
historiador católico John Cornwell, autor do polêmico livro “O papa de
Hitler” concedeu à revista “Isto É” ele deixou bem claro essa questão
quando falou sobre a árdua tarefa que o próximo papa terá de enfrentar.
“Ele
terá de se esforçar para amolecer as facções em conflito até que a Igreja possa
chegar a um novo concílio, ou pelo menos a uma reunião dos bispos do mundo, que
decida as atuais disputas, como afirmo em Quebra da fé.” [8]
Sublinha-se ainda que esta confissão não é caso isolado, mas uma constante cada
vez mais presente dentro do novo perfil católico. Veja esse depoimento logo
abaixo que colhemos em um site católico de tendência conservadora:
“Recentemente um médico amigo meu contou-me que, no hospital em que trabalha,
algumas enfermeiras lhe perguntaram qual era a sua religião. Ele respondeu com
ufania: "Sou Católico Apostólico Romano". E elas, então, como se não
entendessem, lhe disseram: "Mas católico... de que tipo?".
E a pergunta deixava clara a tragédia causada pelo Vaticano II: depois desse
Concílio surgiram tantas divisões entre os católicos, nasceram tantos tipos
diferentes e tantos modos diversos de ser católico, que a definição normal já
não diz nada para as pessoas comuns. Ficou necessário acrescentar um outro
adjetivo à expressão da única religião e da única fé verdadeiras. E o acréscimo
necessário para se definir qual a religião católica que se tem, demonstra que se
perdeu a unidade da Fé.” [9]
A aparência de unidade entre os católicos é mal conduzida. Na realidade, existem
diferenças importantes em sua teologia e prática. Vou discutir apenas algumas
delas, como exemplo. O livro mais recente de Malachi Martin (padre católico,
teólogo e professor, residente no Vaticano e confessor do papa João XXIII), "Windswept
House" (A Casa Em Desordem) trata de algumas outras diferenças. Embora seja
uma novela, ele trata de assuntos da vida real.
Os protestantes que têm diferenças nas crenças e nas práticas identificam-se por
nomes diferentes. Reconhecem publicamente suas diferenças. Contudo, os
católicos que têm diferenças nas práticas e nas crenças, continuam se chamando
pelo mesmo nome (católicos romanos), afirmando que o papa é o seu líder. Isso dá
uma falsa impressão de unidade.
Apesar de afirmarem verbalmente que o papa é o seu líder, existem padres e
teólogos católicos que desafiam, publicamente, a autoridade do papa. Malachi
Martin fala de alguns destes em seu livro "The Jesuits:The Society of Jesus
and the Betrayal of the Roman Catholic Church" (Os Jesuítas: A Sociedade de
Jesus e a Traição à Igreja Católica Romana). Também existem as freiras
feministas que desafiam publicamente o papa.
Um grupo ultraconservador conhecido como "True Cahtolic" (Católicos Verdadeiros)
acredita que João Paulo II não é um papa legítimo, porque ele tem promovido a
"heresia" (o que contraria a doutrina católica, a qual foi declarada
"infalivelmente" pelos papas que o antecederam). Eles crêem que, em razão disso,
a cadeira papal ficou vaga. E para sanar esta situação, elegeram um outro papa.
Como veremos, alguns padres e freiras católicos ensinam coisas totalmente
contrárias à doutrina católica. Contudo ainda lhes permitem ensinar em nome da
ICR, mantendo posições de influência e autoridade. [10]
Como se já não bastasse por volta de 1945 o catolicismo se dividiu mais uma vez.
Estamos falando da criação da Igreja Católica Apostólica Brasileira fundada pelo
ex-bispo católico romano Dom Carlos Duarte Costa. Fora esta existe ainda a
Igreja Católica Liberal e outras.
Diversidade de
ritos, regras e fórmulas
Muitos desconhecem que a diversidade de igrejas que comporta hoje o catolicismo
romano é cada vez maior. Trata-se de igrejas cismáticas ou até mesmo
consideradas heréticas que voltaram ao seio da igreja romana, mas que ainda
permaneceram com seus ritos e fórmulas de fé variados. [11] Ao se
submeteram à autoridade do papa, a qual é considerada a pedra de toque da
verdadeira unidade passam a ser consideradas parte da igreja católica romana. A
título de ilustração, temos as mais diferentes igrejas com uma enorme e complexa
diversidade de ritos dentro da Igreja Católica que se proclama “Una”.
Por
exemplo, alguns da Igreja Nestoriana voltaram para o seio da igreja romana, mas
conservando o rito caldeu e malabar. [12]
Parte
dos Jacobitas, ou monofisitas sírios, voltaram ao catolicismo, mas voltaram com
seu rito próprio, formando o chamado rito siríaco puro.
Já os
melquitas se separaram do catolicismo em 1054, seguindo as demais igrejas de
rito bizantino. No entanto, em 1724 o novo Patriarca Melquita de Antioquia
decidiu voltar ao Catolicismo. E voltou, formando o rito Melquita.
Fora
estes ainda existe os de ritos maronitas, o Ambrosiano, existente só na cidade
de Milão, o Ítalo-Greco, que é rezado em latim ou italiano, mas seu ritual é
bizantino. Nasceu da parte sul da Itália, que sempre teve forte influência
bizantina e finalmente o moçárabe, existente na Espanha, e rezado em árabe.
Todas
elas realizam de modos diferentes, com cerimônias diferentes e em línguas
diferentes seu culto. A eucaristia é celebrada numa diversidade assombrosa. Uma
diversidade que nunca se viu entre as igrejas evangélicas.
Além
destas diferentes igrejas, que comporta o catolicismo debaixo de seu lábaro
papal, ainda temos as mais variadas ordens dentro do catolicismo romano tais
como os Jesuítas, dominicanos, carmelitas, franciscanos, agostinianos, marianos
e outras mais, com uma rica diversidade de regras de vida, ritos, fórmulas,
festas, deveres religiosos, dias santos, práticas e pontos de vistas diferentes.
É notória a diferença destas ordens entre si, muitas vezes com uma rivalidade
vituperiosa, a ponto de chegarem a se digladiar por pontos periféricos de
disciplina. Um exemplo prático disso foram as constantes disputas entre jesuítas
e dominicanos e entre estes e os franciscanos.
Diferença aparente ou real ?
Os
católicos levantam a acusação de que existem muitas igrejas protestantes
diferentes umas das outras, na liturgia e disciplina, por isso não há unidade,
conseqüentemente não poderia ser a igreja verdadeira que Cristo deixou. Apesar
de os católicos alardearem de que conservam a mais perfeita união, contudo, não
há assunto divergente dentro das igrejas evangélicas que não o seja também entre
os romanistas.
Muitos ficaram surpresos quando Mel Gibson revelou que estava construindo uma
igreja para ele mesmo, apelidada pela mídia de San Mel. Mas não se trata de uma
nova seita, e sim de um outro tipo de catolicismo que a maioria dos católicos
desconhecem. Gibson segue a linha conservadora do catolicismo oposta ao Vaticano
II, por isso as missas na igreja de Gibson serão rezadas em latim, fiel ao rito
tridentino. [13]
Este é
apenas um exemplo da divisão dentro do catolicismo que os teólogos católicos não
querem admitir, mas que é fato notório. As igrejas que voltaram à comunhão
católica, mencionadas acima, tem a total liberdade de praticar liturgias
diferentes, e ter idéias diferentes em relação a pontos periféricos de doutrinas
contanto que se submetam à sede papal.
Indubitavelmente, nem a diversidade e muito menos a unidade católica é
substancialmente diferente da nossa. Pondere por um instante sobre a diferença
que há entre o protestantismo tradicional e o pentecostal, porventura não seria
a mesma que há entre o catolicismo tradicional e o carismático?
Ainda dentro da Renovação Carismática podemos distinguir dois grupos, os de
tendência pentecostal e os notadamente de raízes católicas [14]
Uma
diferença que poderíamos mencionar aqui também é quanto à conservação de alguns
artefatos religiosos como o crucifixo que perduraram nas igrejas luteranas e
anglicanas, mas que estão ausentes nas demais igrejas evangélicas.
Não
consta o mesmo entre as igrejas católicas dos países latinos que geralmente são
repletas de imagens, mas que estão praticamente ausentes entre os católicos
norte-americanos?
É digno
de nota que enquanto os católicos brasileiros se dobram perante pedaços de ossos
e panos antigos qualificados como relíquias, os católicos ingleses repudiam tal
prática. Pergunto: onde está a tão famigerada unidade apregoada pelo
catolicismo? Na prática, simplesmente, ela não existe!
Todavia,
alguém poderia objetar dizendo que as diferenças se concentram apenas no campo
das disciplinas, mas nunca no da fé ou doutrina.
Mais uma
vez esta objeção falha por não corresponder aos fatos. E para surpresa e
decepção de nossos antagonistas, divergências doutrinárias sempre estiveram
presentes dentro do catolicismo romano, ainda que de modo camuflado.
Diz
certa obra católica que “O longo pontificado de Pio VI foi marcado por profundas
divergências no campo doutrinal”. Ainda essa mesma obra afirma que o papa João
Paulo II foi atacado por um padre de uma ordem rival ligado a uma corrente
contrária a reforma do Concílio Vaticano II em uma de suas viagens à Fátima.
[15]
Os
“Flagelantes” foi duramente combatido pelo papa Alexandre IV que os considerou
heréticos. Eles faziam parte do grande movimento do “pauperismo”, que foi uma
reação contra a vida de enriquecimento do clero na idade média. Francisco de
Assis sairá deste movimento para fundar sua ordem que depois também iria se
subdividir. Outra questão de divisão foi quanto ao “conciliarismo”, teoria que
prevaleceu por algum tempo, a qual pretendia a superioridade do Concílio sobre o
papa. O papa Martinho V chegou a se submeter a esta doutrina.[16]
Considere mais alguns exemplos:
Na época
em que foi proposto o dogma da infalibilidade papal houve não pouca divergência
entre os líderes católicos de diversos países. Sinal que não havia nenhum
consenso doutrinário ainda entre eles. Assim também foi em relação aos livros
apócrifos dogmatizados no concílio de Trento e com o dogma da “Imaculada
Conceição” de Maria. Sempre havia disputas teológicas em cima destes pontos
considerados essenciais para a fé católica atual. É sabido que quanto a este
último houve uma acerada disputa entre os franciscanos e dominicanos se
vilipendiando mutuamente.
Ora, a
mesma controvérsia doutrinária que houve entre Jesuítas e Jansenitas não foi a
mesma que houve entre Calvinistas e armenianos a respeito da predestinação?
Hoje em
dia existem os teólogos católicos que pregam a teologia da libertação cujo
evangelho difundido por eles é contextualizado com ideais socialistas. Um dos
representantes mais proeminentes desta corrente aqui no Brasil é o frei Leonardo
Boff que não poupa críticas quanto a postura da igreja católica frente ao
evangelho socialista apregoado por esta corrente doutrinária.
Sem
falar nos polêmicos padres parapsicólogos que além de ir contra muitas doutrinas
da igreja católica, chegam até mesmo a desmentir a própria Bíblia Sagrada. O
mais popular deles aqui no Brasil, o jesuíta Oscar G. Quevedo, foi até proibido
pelo Vaticano de pregar suas teorias, pois colidia com os ensinos da igreja.
[17]
Outra:
enquanto, algumas paróquias católicas realizam a festa de “santo reis”
perpetuando a crença nessa religião popular, ela é repudiada por tantos outros
dessa mesma igreja. Aliás, nunca foi oficializada pelo papa.
Enquanto
a igreja católica do México sanciona tradições religiões bárbaras como as
auto-flagelações e auto-crucificações com o fito de apagar os pecados dos fiéis,
isto é altamente repudiado pela igreja católica brasileira.
Poderíamos aumentar essa lista com mais exemplos, como o do teólogo católico
alemão Eugen Drewermann, crítico ferrenho do Vaticano,
mas por
enquanto ficamos somente com estes. Contudo, já deu para perceber que a suposta
unidade católica rui por terra ante a verdade dos fatos. Ela não funciona na
prática...
Qual
a verdade dos fatos?
Depois
de tudo que foi exposto acima concluímos que a igreja romana não tem envergadura
moral e menos razão do que qualquer outra da cristandade para acusar às outras
igrejas de suas diferenças e divisões. [18] É hipocrisia apelar para a
diversidade das outras, acusando-as de falta de unidade enquanto tolera estas
mesmas diferenças em seu próprio seio debaixo de eufemismos terminológicos.
A
verdade é esta: os católicos têm suas divergências e diferenças, mas não
admitem, pois concordam em submete-las todas à decisão da sede papal, que é para
eles o centro da unidade.; os evangélicos têm também as suas, mas submetem-nas
todas ao único líder – Jesus – cuja autoridade das Escrituras, compõe o centro
dessa unidade.
Quanto
às diferenças entre as igrejas evangélicas, não passam de meras diferenças na
forma de seu culto. São coisas que não afetam os principais artigos de fé de
nossas igrejas. Estas e outras são os únicos ou principais pontos de
divergências que existem entre os evangélicos. Importante ressaltar que quando
falamos em artigos de fé estamos nos reportando aos nossos credos. Assim as
igrejas evangélicas ou protestantes seguem na mesma linha reta em relação ao que
crêem. É claro que pode haver diferença a respeito da aplicação de algumas
palavras, mas todas estão de acordo no principal. É só comparar os credos das
várias denominações protestantes entre si.
Quanto aos pontos de disciplina é difícil determinar em qual das igrejas há
maior divergência! [19]
Notas bibliográficas
[1] Ganbarine, Alberto Luiz, Quem
Fundou a sua Igreja? Itapecirica da Serra: Ágape pp. 21-25.
[2] “O Novo Catecismo”, São Paulo: Ed. Herder, 1969, pp.424-26. Obs:
Curiosamente o “Catecismo da Igreja Católica” - edição revisada de acordo com o
texto oficial em latim. São Paulo: Ed. Loyola, 1999, pp.233-36, quando toca na
questão da unidade da Igreja, não enfatiza tanto a figura do papa. Influências
do ecumenismo?!
[3] Comblin, José, A Hierarquia – curso popular de
história da igreja. São Paulo: Ed. Paulus 1993 2ª ed. pp. 18,19.
[4] Ibid., p. 20.
[5] Reis, Aníbal Pereira dos, O Vaticano e a Bíblia, São Paulo: Ed. Caminho de
Damasco, 1969 p.58.
[6] Segundo o site oficial, a “Marcha para Jesus” reuniu em 2004 só na
cidade de São Paulo, mais de dois mil evangélicos de centenas de denominações.
Site:
http://www.marchaparajesus.com.br/
[7] Ankerberg, John e Weldon, John, Os Fatos sobre o
Catolicismo Romano, Porto Alegre Obra Missionária Chamada da Meia-Noite 1997 pp.
19-20.
[8] Op. Cit.,
edição de 09/08/2002, sob o título “É Preciso
Unir a Igreja”.
[9]
http://www.montfort.org.br/index.html
[10] Citado no livro “O Espírito do Catolicismo”, da ex-freira Mary Ann
Collins, traduzido por Mary Schultze, versão on-line. Este livro está disponível
no site
www.cacp.org.br.
[11] Os católicos costumam distinguir entre heréticos e cismáticos. Herético é
aquele que ensina doutrinas errôneas, seria o apóstata. Já o cismático é aquele
que apesar de estar no cisma com o catolicismo, não ensina, todavia, erros
doutrinários. Obs: Enquanto o Concílio de Trento considerou os protestantes
heréticos, o Vaticano II revogou esse termo para um menos ofensivo de “irmãos
separados”.
[12] O site desta igreja:
http://www.chaldeansonline.net/.
[13]
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0%2C%2COI273197-EI312%2C00.html.
[14] Miranda, D.Antonio Afonso de, O que é preciso saber sobre a Renovação
Carismática. Aparecida–SP, Ed. Santuário, p. 58.
[15] Pintonello, Aquiles,
Os Papas. São Paulo: Ed. Paulinas 1986 2ª edição, pp. 140-98.
[16] Ibid pp.55-85
[17] Aquino, Felipe Rinaldo Queiros de, Falsas Doutrinas – Seitas & Religiões.
Lorena: Ed. Cléofas 2002, p.47.
[18] Entre os anos de 50 e 60 houve grandes disputas entre as facções católicas
aqui no Brasil, especialmente em Belo Horizonte como mostra a “Revista de
História Regional” sob um enfoque sociológico. O trabalho na íntegra pode ser
visto no site
http://www.rhr.uepg.br/v3n1/matta.htm#34.
Outra opção para quem queira se aprofundar no assunto é ler o livro de Arnaldo
Lemos Filho, “Os Catolicismos Brasileiros” da editora Alínea, onde mostra os
diferentes tipos de catolicismos existentes no Brasil.
[19] Seymour, M.H, Noite com os Romanistas – Coleção Vaticano II. Ourinhos:
Edições Cristãs 1998.
Paulo Cristiano, é
presbítero da Igreja Evangélica Assembleia de Deus e há mais de dez anos
pesquisador de seitas;palestrante co-fundador e vice-presidente do CACP (Centro
Apologético Cristão de Pesquisas). É membro da comissão revisora do curso
teológico do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em São José do Rio Preto(IBADERP).
Já desenvolveu pesquisas e escreveu artigos sobre temas relacionados à fé cristã
em diversos periódicos evangélicos e
seculares. Dentre os muitos publicados na revista
Defesa da Fé. Leciona Heresiologia, Angelologia e Novo Testamento na
Faculdade de Teologia da Assembleia de Deus do Calvário (FATAC). É autor do
livro “Desmascarando a Idolatria”, ainda sem data prevista para lançamento.
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.