Marcelo de Oliveira Lima
O gnosticismo não obteve êxito. Os membros deste movimento ensinavam a
salvação através do conhecimento místico, e não pela fé em Jesus. Eles
constituíam grupos muito diversificados em suas doutrinas, pois diferiam de
lugar para lugar, e em seus períodos. Essa doutrina era nada mais que um enxerto
das filosofias pagãs nas doutrinas cristológicas. Negava o Cristianismo
histórico (segundo ela, o Senhor Jesus não teve um corpo, isto é, não veio em
carne, e seu corpo seria mera aparência, que chamavam de corpo docético). Seu
período áureo foi entre 135-160 d.C., mas o gnosticismo já dava trabalho às
igrejas na época dos apóstolos. O evangelista João enfatiza que "o
Verbo se fez carne" (Jo 1.14); e "todo o espírito
que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus..." (1 Jo
4.3). É bom lembrar que os escritos joaninos são do final do primeiro século,
escritos na cidade de Éfeso, então capital da Ásia menor, de onde surgiu o
gnosticismo.
A Igreja saiu ilesa nessa batalha contra o gnosticismo, mas deixou de saldo a
preocupação dos cristãos sobre a divindade do Logos e o monoteísmo. Os pais da
Igreja se empenharam muito nessa luta contra as heresias. Se Jesus é Deus
absoluto, como fica o monoteísmo judaico-cristão? Por outro lado havia outra
questão:
se o Logos é subordinado ao
Pai, não se compromete a divindade absoluta de Jesus? Havia na época os alogoi e
os ebionitas.
Os alogoi eram contra a doutrina do Logos: negavam a divindade de Jesus. Os
ebionitas constituíam a seita do segundo século, que negava a deidade absoluta
de Cristo. Formavam uma comunidade de judeus-cristãos. O nome vem do hebraico e
significa "pobre". Eles criam em Jesus como o seu Messias, mas negavam sua
deidade — o embrião da doutrina cristológica das Testemunhas de Jeová. Os
ebionitas tinham horror aos escritos paulinos, pois Paulo colocava judeus e
gentios no mesmo bojo: "todos pecaram e destituídos estão
da glória de Deus" (Rm 3.23), e pelo fato deste apóstolo pregar a
divindade de Cristo (Rm 9.5; Cl 2.9; Tt 2.13, etc.). Viviam o ritual da Lei e os
costumes judaicos, e eram hostilizados tanto pelos judeus como pelos cristãos.
Eram numerosos no final do primeiro século, mas aos poucos foram desaparecendo
do palco, sumindo de vista no cenário da história da Igreja. Hoje estão
manifestos com nova roupagem.
Nessa época surgiram os que Tertulíano chamou de monarquianistas (do grego
monarchia - governo exercido por uma única pessoa). Os monarquianistas
dinâmicos (do grego dynamis "força, poder", pois diziam que Deus deu força e
poder a Jesus, adotando-o como Filho), negavam a divindade absoluta de Jesus, e
também a Trindade. Esta heresia era o prenúncio do arianismo, que, no início de
terceiro século, negava a eternidade de Jesus, pois considerava Cristo um deus
de segunda categoria, igual ao ensino das Testemunhas de Jeová. Essa doutrina
dos dinâmicos era defendida por Teodoro de Bizâncio, Artemão e Paulo de Samosata.
Monarquianistas modais ou modalistas ensinavam que as três pessoas da
Trindade manifestavam-se de vários modos, daí o nome modalista. Defendidos por
Noeto de Esmirna e Práxeas de Cartago, ensinavam que o Pai nasceu e sofreu, e
que Jesus era o Pai. Por essa razão, no Ocidente, eles eram chamados de
patripassianistas (do latim Pater "Pai" e passus de patrior "sofrer" - o Pai
encarnou-se em Cristo e sofreu com Ele). No Oriente eram chamados
sabelianistas, pois o heresiarca Sabélio foi quem mais se destacou na
propagação dessa heresia. Segundo essa doutrina, o Pai, o Filho e o Espírito
Santo são apenas três aspectos da Divindade, sendo, portanto, uma só Pessoa.
Esse ensinamento do bispo Sabélio é hoje chamado de sabelianísmo ou
modalismo.
Sabélio usava a palavra "pessoa" para cada Pessoa da Trindade, mas para ele essa
"pessoa" tinha o sentido de máscara ou manifestações diferentes de uma mesma
Pessoa Divina. Na sua concepção o Pai, o Filho e o Espírito Santo são nomes de
três estágios ou fases diferentes. Ele era Pai na criação e na promulgação da
Lei; Filho na encarnação, Espírito Santo na regeneração. Essa doutrina foi
combatida por Tertuliano em Contra Prãxeas, quando pela primeira vez este
apologista usa o termo Trinitas ("Trindade") para a Divindade:
"Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o
mistério da dispensação que distribui a unidade em uma Trindade, colocando em
sua ordem os três: Pai, Filho e Espírito Santo; três contudo,... não em
substância, mas em forma, não em poder, mas em aparência, pois eles são de uma
só substância e de uma só essência e de um poder só, pois é de um só Deus que
esses graus, formas e aspectos são reconhecidos com o nome de Pai, Filho e
Espírito Santo." *
Restauração do modalismo. O sabelianismo ganhou espaço por mais ou menos cem
anos em Roma, Ásia Menor, Síria e Egito. Em 263 A.D., Dionísio de Alexandria
enfrentou o próprio Sabélio, derrotando o sabelianismo. Depois disso o
cristianismo passou a repudiar o sabelianismo, e o combate a essa heresia
continuou até que ela desapareceu completamente da história. Depois de muitos
séculos, esse ensinamento retornou das profundezas do Inferno, por John G.
Schepp, fundador da seita "Só Jesus", em 1913. Temos no Instituto Cristão de
Pesquisas (ICP) uma lista de mais de quinze seitas modalístas. Não é possível,
aqui, um comentário sobre todas elas, mas apresentaremos apenas as principais:
Fundada por John 8. Schepp em 1913, ensina que o batismo salva, igual à
doutrina da Congregação Cristã no Brasil, e deve ser realizado só em nome de
Jesus. Seus adeptos não seguem a fórmula batismal de Mateus 28.19:
"Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".
Essa seita provocou muitas divisões nas igrejas evangélicas da época. Ela mesma
depois se dividiu em várias facções, entre as quais a Igreja Pentecostal Unida
do Brasil, presente em outros países, que também é modalista e batiza só em nome
de Jesus. (Não confundir com a Igreja Unida.)
Fundado por William Marrion Branham (1906-1965), chamado por seus adeptos de
"o profeta do século e mensageiro do Apocalipse", William Marrion Branham, como
os demais funda dores de seitas, arroga para si a mesma autoridade dos profetas
e apóstolos da Bíblia e nega a doutrina bíblica da Trindade. Seus adeptos são
modalistas, pois seguem o ensino de seu líder, e o batismo nas águas é realizado
só em nome de Jesus.
Igreja que utiliza o mesmo nome do conjunto Voz da Verdade. Suas músicas são
cantadas sem restrição alguma na maioria de nossas igrejas. Muitos ainda não se
deram conta dessa gravidade. Eles são uma seita e atacam a doutrina bíblica da
Trindade, e seu batismo nas águas é realizado em nome de Jesus. Seus hinos que
enfatizam a divindade de Jesus constituem a doutrina unicista, e estão
"sacrificando o Pai", como disse Tertuliano, dos modalistas de sua época.
Conhecida por seu ônibus "Expo-livro" e por seu jornal Árvore da Vida. É a
que mais suscita problema entre os evangélicos, por causa de seu proselitismo
sectário e desleal. Eles perturbam nossas igrejas e camuflam-se facilmente em
nosso meio. Dizem que não são modalistas porque Sabélio dizia que Pai, Filho e
Espírito Santo são três aspectos temporários da Divindade, ao passo que a Igreja
Local afirma que são três aspectos eternos da Divindade. O ponto divergente
entre eles é que ambos declaram ser a Divindade uma só Pessoa. Como Sabélio,
usam com freqüência a palavra "pessoa" para cada Pessoa da Trindade, mas com
outro sentido. Empregam até o nome Trindade, mas não é o mesmo trinitarianismo
do Credo Atanasiano.
Fundado em 1987, em Curitiba, PR. Além de modalistas, pregam que o nome do
Salvador não é Jesus, mas Yehoshua, forma hebraica do nome "Josué". Os
manuscritos gregos do Novo Testamento destroem completamente essa teoria das
Testemunhas de Ierrochua. Há diversos disparates em sua doutrina.
A Bíblia apresenta o Deus verdadeiro como Pessoa, muito longe das idéias do
panteísmo, mas não há nas Escrituras uma referência sequer de que Deus seja uma
Pessoa única. Falam de um só Deus (Dt 6.4; Mc 12.29; 1 Co 8.6; Ef 4.6).
Jesus é o Filho do Pai (2 Jo 3) e não próprio Pai. Basta uma leitura simples
da Palavra de Deus, principalmente dos quatro evangelhos, para descobrir o
absurdo dessa doutrina sabelianista. No batismo de Jesus manifestam-se as três
pessoas distintas da Trindade - o Pai falando do Céu, o Filho saindo das águas
do Jordão, e o Espírito Santo repousando sobre Ele (Mt 3.16,17). Como os três
podem ser uma só Pessoa? Nos evangelhos encontramos com freqüência Jesus
referir-se a seu Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se dirigiu ao Pai em
oração (Jo 17). Afirmar que Pai e Filho são uma mesma Pessoa é um disparate. *
Jesus disse que o Pai era outra Pessoa
Jesus disse que era uma Pessoa, e o Pai outra (Jo 8.17,18). Cristo declarou: "E
na vossa lei também está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me
enviou" (Jo 8.17, 18). Jesus falava de duas pessoas, e não de uma. Ele
afirmou que veio do Pai e voltava para Ele (Jo 8.42; 16.5; 17.3, 8). Mais de 80
vezes Cristo afirmou que não era o Pai.
Os adeptos das seitas unicistas defendem o batismo somente em nome de Jesus.
Essa prática é um desvio da Palavra de Deus. A Bíblia não nos autoriza esse
procedimento. A fórmula determinada por Jesus foi "em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19).
O Didache, palavra grega que significa "ensino", pronuncia-se "didaquê", também
chamado "Ensino dos Doze Apóstolos", documento encontrado em Constantinopla em
1785 e datado de 150 A.D., que, juntamente com todos os pais da Igreja, fala do
batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Reconhecemos que a Bíblia
é a palavra final. A patrística pode, às vezes, servir como jurisprudência.
Longe de fundamentar nossa doutrina em outra fonte que não seja a Palavra de
Deus. Essas citações servem para mostrar que a Bíblia é confirmada pela história
da Igreja.
Esses unicistas apelam para quatro passagens no livro de Atos, as quais fazem
menção do batismo em nome de Jesus (At 2.38; 8.16; 10.48, 19.5). A
inconsistência dessa doutrina unicista é que essas passagens bíblicas não nos
concedem a fórmula batismal. A prova disso é que em Atos 2.38 se diz: "em
nome de Jesus Cristo"; 8.16: "em nome do Senhor
Jesus"; 10.48: "em nome de Jesus Cristo";
19.5: "em nome do Senhor Jesus". As versões que
seguiram o texto grego de Erasmo (Textus Receptus) trazem Atos 10.48 : "em
nome do Senhor", como a Almeida Corrigida. Dessas quatro passagens três
são diferentes, ou duas, dependendo da versão. Se elas revelassem a fórmula
batismal, seriam iguais, pois o método é padronizado. Isso mostra que não se
trata de uma fórmula batismal. Revela que essas pessoas eram batizadas na
autoridade do nome de Jesus.
A Bíblia diz que negar o Pai e o Filho traz a condenação (1 Jo 2.22, 23). Os
sabelianistas mutilam a personalidade do Pai e do Filho, com a doutrina das
"manifestações", que é uma maneira camuflada de negar Jesus como o Filho de Deus
(1 Jo 5. 5, 9). O "Jesus" dos sabelianistas não é o Jesus da Bíblia (1 Co 11.4).
Todas as seitas pinçam a Bíblia aqui e ali em busca de subsídios para
consubstanciar suas heresias e assim poderem dar às suas doutrinas uma roupagem
bíblica. A expressão "Pai da eternidade" (Is 9.6) não afirma que o Filho seja o
Deus-Pai, mas que Ele tem si mesmo a eternidade, pois é o Senhor da mesma. Assim
Ele pode dar a vida eterna aos que nele crêem. Costumam citar João 10.30: "Eu e
o Pai vida eterna aos que nele crêem. somos um; no grego é (Ego kai ho pater hen
esmen). O texto prova que Jesus é Deus absoluto igual ao Pai, e não a mesma
Pessoa do Pai. "Um" no grego, nesse versículo, está no neutro, hen, e não no
masculino, heis, e mostra assim duas pessoas numa só Deidade. Além disso, o
verbo está no plural "somos" e não no singular "sou" não pode, portanto, Pai e
Filho serem a mesma Pessoa. O Espírito Santo é assunto registrado em outras
passagens, principalmente nos capítulos 14,15 e 16 de João.
Jesus disse a Filipe: "Quem me vê a mim vê o Pai" (Jo 14.8, 9). Isso foi usado
pelo próprio Sabélio para consubstanciar o seu unicismo. Esta passagem, como a
de João 10.30, é ainda hoje usada pelos modernos sabelianistas para justificar a
sua falsa doutrina, O versículo seguinte destrói completamente os argumentos
sabelianistas: "As palavras que eu vos digo, não as digo
de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras" (v. 10)
(Fonte: Instituto Cristão de pesquisa ICP )
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.