Atirando em seus próprios feridos

David Cloud

 


Durante anos, tenho ouvido, frequentemente, a acusação de que os pregadores que admoestam os líderes cristãos são culpados de “atirar em seus próprios feridos”.>

Recentemente, recebi o e-mail abaixo que me acusava de fazer isto, referindo-se a uma exortação pública, que eu fiz sobre as “Clarence Sexton Friendship Conferences”:

“Estou profundamente consternado com a carta particular dirigida ao Dr. Sexton, a qual o senhor publicou no seu website. Agradeço-lhe por atirar no seu próximo, em vez de ter chamado, pessoalmente, o Dr. Sexton, a fim de apurar todos os fatos.  Suponho que o senhor não leia, com frequência, Mateus 18” .

A  verdade é que enviei esta carta ao Dr. Sexton, através do seu website, antes de tê-la publicado, e não recebi resposta alguma. Ele diz que não usa e-mail, o que é ótimo, mas poderia ter ditado uma resposta a um dos seus cooperadores ou secretárias. Quanto a Mateus 18, este nada tem a ver com o assunto. O Dr. Sexton não pecou pessoalmente contra mim e nem sou membro de sua igreja, para, desse modo, seguir o procedimento prescrito em Mateus 18. O assunto da Conferência não é particular, mas um  assunto público, pois o Dr. Sexton o externou através de sua influência pública. Assuntos públicos devem ser criticados publicamente, pois, do contrário, os envolvidos não ficarão cientes do desafio. O que eu precisei dizer a título de admoestação não foi somente para o Dr. Sexton, mas para os batistas independentes. Nada tenho, pessoalmente, contra o Dr. Sexton, nenhuma animosidade contra ele. Por que os homens não entendem este princípio tão simples? Estou convencido que é porque não querem entendê-lo.

Tenho sido um batista independente durante 36 anos e um dos pecados mais persistentes deste movimento, a meu ver, é a exaltação do homem. Como movimento, ele é mais centrado no homem do que em Cristo e isto para mim é idolatria.

Outro exemplo fútil de “atirar no ferido” é o do segundo e-mail, o qual foi recebido há anos:

“Cresci em Murfreesboro, TN, fui e continuo sendo associado da “Espada do Senhor” e do “Bill Rice Ranch”. Sempre odiei e continuo odiando ver um cristão atacar outro  irmão cristão a respeito de coisas, em vez de pregar e tentar ganhar almas para Cristo. Dizem que o Exército Cristão é o único exército que maltrata os seus feridos e os mata. Tenho a dizer que isto é verdade. Sou também um Marine [Fuzileiro da Marinha] e fomos ensinados a apanhar os feridos, e até os mortos, não os deixando morrer ou ser mutilados pelo inimigo. Como cristãos, muitas vezes, fazemos exatamente o contrário.”

O que significa “atirar em seus próprios feridos?” Se significa que os cristãos devem ter paciência com os fracos, podemos, certamente, afirmar que somos culpados. Se significa que, algumas  vezes, os cristãos criticam um companheiro, em vez de tentar ajudá-lo, isto acontece também, muito frequentemente, e devemos nos lembrar que Deus não Se agrada com tais coisas. Mas, por outro lado, se significa ser errado um pregador identificar e admoestar os que estão ensinando o erro e andando em comprometimento, é tolice.

Em meu ministério de admoestação, jamais maltratei uma pessoa ferida, nem jamais atirei contra qualquer pessoa, de modo algum. Acusar-me de fazer tal coisa é confundir admoestação, reprovação e correção, com ataque. Participei do exército, entendo do assunto militar e o que estou fazendo nada tem, absolutamente, a ver com “atirar nos próprios feridos”.

Os líderes que eu admoesto não estão feridos. Eles estão voluntária e decididamente aderindo ao erro e ao compromisso, influenciando os outros (neste caso, eles não tencionam revidar).

O Senhor Jesus Cristo ensinou o Seu povo a se acautelar dos falsos profetas (Mateus 7:15). “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.” (Mt 7:15 ACF)

Quando um pregador obedece a este mandamento e tenta admoestar e identificar os falsos mestres, será que está “atirando nos feridos”? Não! Mas, os que o admoestam e os que com eles simpatizam logo acusam [o pregador]  de estar fazendo isto. Na 1 e 2 Timóteo, o apóstolo Paulo nomeia os falsos mestres e os compromissados com eles, em 10 passagens diferentes, admoestando contra eles. (1 Timóteo 1:20 e 2 Timóteo 1:15; 2:17;3:8; 4:10-14).

“E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.” (1Tm 1:20 ACF)

 “Bem sabes isto, que os que estão na Ásia todos se apartaram de mim; entre os quais foram Figelo e Hermógenes.” (2Tm 1:15 ACF)

 “E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto;” (2Tm 2:17 ACF)

 “E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé.” (2Tm 3:8 ACF)

 “10 Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. 11 Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. 12 Também enviei Tíquico a Éfeso. 13 Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. 14 Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras.” (2Tm 4:10-14 ACF)

Todos os homens sobre os quais Paulo admoestou afirmavam ser cristãos e parece que Paulo estava sendo injusto e sem compreensão, ao denunciá-los.  Quando Paulo admoestou Timóteo a respeito de Demas tê-lo desamparado, “amando o presente século”, (2 Timóteo 4:10), Paulo não estava atirando no  Demas ferido, mas no Demas mundano, e os seus associados poderiam tê-lo acusado [Paulo] disto.

O Senhor ordenou que as assembleias disciplinassem os membros da igreja que não se arrependem, quando estão comprometidos com o pecado e o erro crasso. (1 Coríntios 5; Tito 3:10, 11). “1 ¶ GERALMENTE se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. 2 Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. 3 Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, 4 Em nome de nosso SENHOR Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, 5 Seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR Jesus. 6 Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? 7 ¶ Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. 8 Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. 9 ¶ Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; 10 Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. 11 Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. 12 Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? 13 Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo.” (1Co 5:1-13 ACF)

 “10 Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, 11 Sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado.” (Tt 3:10-11 ACF)

Isto é “atirar nos feridos”?  Muitas vezes, os que assim o consideram são os alvos da disciplina e os que simpatizam com eles. Mas, a apropriada disciplina da igreja, mesmo quando severa, não é destrutiva. Ela tem um objetivo triplo: glorificar Cristo em Sua igreja; purificar a congregação e conduzir o pecador ao arrependimento. 

O Senhor nos instruiu a identificar os que são salvos, mas estão andando em desobediência (2 Tessalonicenses 2:6). “E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.” (2Ts 2:6 ACF)

Isto é “atirar nos feridos”?  Em geral, os desobedientes confundem correção com perseguição e reprovação com ataque.


Paulo censurou o pecado nas igrejas, através de cartas que eram tudo, menos privadas. Suas epístolas às igrejas individuais eram distribuídas em todas as igrejas (Colossenses 4:16). “E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também.” (Cl 4:16 ACF)

Desse modo, quando Paulo descreveu como Demas o havia desamparado, “amando o presente século”, o assunto se tornou público. Quando ele censurou os crentes de Corinto pelo seu pecado e compromisso com o erro, o assunto se tornou público. Quando ele admoestou Alexandre o latoeiro, a admoestação se tornou pública.


Alguns assuntos são privados e deveriam ser tratados confidencialmente; porém, outros são públicos e devem ser tratados publicamente.  Quando um homem exerce um ministério público, o qual tem influência sobre os outros, esse ministério deve ser criticado publicamente.

O evangelista Chuck Cofty é um oficial da Marinha Americana, altamente condecorado, o qual sobreviveu a muitas experiências nos campos de batalha. Visto como ele entende extremamente bem deste assunto, pedi-lhe para responder a acusação feita no segundo e-mail, o qual foi citado no início deste artigo. Vejamos sua reposta:

“Caro irmão Cloud:

A meu ver, você não tem agredido nem ferido violentamente pessoa alguma com ataques. Sem dúvida, ele está se referindo às muitas verdades que aparecem em seus escritos, com referência à teologia contemporânea, que você citou. Talvez alguns, talvez até mesmo este homem, sejam tão tímidos que, quando a verdade é revelada, eles acham difícil aceitá-la e continuam tolerando o erro ou a ignorância, com receio de ofender alguém. Quando homens são nomeados, lugares identificados e o erro revelado, isto se torna um transtorno para os “moderados” em sua posição.

Irmão Cloud, a verdade é que os marinheiros jamais abandonam seus mortos no capo de batalha e, se for o caso, até prestam socorro ao inimigo ferido. Contudo, isto depende da situação e da condição, pois deixar de prestar essa ajuda, da qual somos incumbidos, nos rebaixa, prejudica a missão ou atrapalha o nosso sucesso. Nosso desejo de servir ao nosso amado Senhor deve ser o mesmo. Pessoalmente, acho que a analogia deste irmão é pobre e sua acusação, infundada”.

Dennis Costella, Diretor da Fundamental Evangelistic Association, na Califórnia, acrescenta:

“É lamentável que uma exortação bíblica seja igualada a “atirar contra o outro”. A Palavra de Deus diz: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”. (2 Timóteo 4:2). Com respeito ao irmão  desobediente: “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão”(2 Tessalonicenses 3:6, 14-15).


Isto não significa “atirar contra o ferido”, mas é empregar a metodologia de sanar a brecha causada pelo afastamento do modelo divino.

 

“Shooting Their Own Wounded” - David Cloud.


Traduzido por Mary Schultze, em 10/03/2010

www.maryschultze.com

 

 


 

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