Dominionismo, Reconstrucionismo, Teonomia - Bênção ou Maldição?

(1) – Dominion Theology, Pr. >Gary E.Gilley, da Southern Chapel, Janeiro de 1996; (2) “Dominion Theology: Blessing or Curse?”; de Thomas Ice e H. Wayne House; “Vengeance is Ours: The church in Dominion”, de Albert James Dager.





         Existe um grande movimento, em assombrosa atividade, conhecido como Teologia do Dominionismo, ou do Reconstrucionismo, ou do Reino Agora, uma mistura de teologia calvinista reformada com enorme influência carismática. Conquanto poucos possam ser denominados reconstrucionistas, grande porção deste movimento tem-se infiltrado nos pensamentos e ações de muitos crentes professos, mesmo sem que o saibam.O movimento tem sido liderado por teólogos como Rousas J. Rushdoony, Gary North, Ray Sutton, Greg Bahnsen (já falecido), David Chilton, e por líderes carismáticos, como Earl Paulk. Suas idéias são constantemente refletidas por cristãos não reconstrucionistas, como Pat Robertson, Dr. James Kennedy, John Whitehead, Franky Schaffer e Jerry Falwell. [N.T.: Apesar do fato de que muitos dominionistas, reconstrucionistas e teonomistas sejam hipercalvinistas, ao mesmo tempo, eles escrevem e falam como se acreditassem que podem ajudar Deus a controlar as coisas na Terra, a fim de que o Reino, conforme sua versão do mesmo, possa ser colocado em ordem, para que o Rei possa reinar adequadamente, através deles, é claro].
        A Teologia do Domínio (o sistema de crença por trás do Reconstrucionismo) ensina que, antes da volta de Cristo, o crente terá domínio sobre cada área da vida. Segundo eles, já estamos agora no Reino de Deus [N.T.: uma visão idêntica à do Movimento Vineyard, bem como de uma pletora de cristãos, significando que já estamos vivendo no reino, atualmente, o que nos conduz a uma posse da vitória]. Se assim fosse, já deveríamos estar reinando com Cristo na Terra (conforme Apocalipse 5:10). O problema é saber quando reinaremos com Cristo. Se o Reino já se encontra na Terra, já deveríamos ter o domínio de tudo, conforme pregam os dominionistas.  Muitos cristãos não reconstrucionistas proclamam este mesmo pensamento, quando entoam o cântico popular - Majestade - composto pelo hipercarismático Jack Hayford, o qual nos convida a “glorificar a Cristo, o Rei”, pois no final de tudo, “a autoridade do Reino emana do Seu trono para os que Lhe pertencem”. Com esta autoridade do Rei, devemos reclamar a Terra para Cristo, não só espiritualmente, mas também social, política e economicamente (Não é coincidência que uma das organizações reconstrucionistas tenha o nome de “The Institute for Christian Economics”.)  Segundo elas, o domínio da Terra é realizado não apenas através da oração e do evangelismo, mas também do processo político e da reforma social (O COR - Coalizão Sobre o Reavivamento – trata deste objetivo). Para os dominionistas, Cristo não voltará à Terra, enquanto a igreja não completar sua tarefa.



A Teologia do Domínio é postulada sobre três crenças básicas:


1. -Satanás usurpou o domínio do homem sobre a Terra, por causa do pecado de Adão e Eva.

2. - A igreja é o instrumento divino para retomar o domínio de Satanás.

3. - Jesus não poderá voltar, até que a igreja tenha subjugado a Terra e conseguido o controle das instituições governamentais e sociais da mesma.



Mais especificamente, o que a Teologia do Domínio ensina? Vejamos:


1. – (segundo eles) A Lei do Velho Testamento é a nossa regra de vida para hoje. Embora a Teologia do Domínio afirme que guardar a Lei não é condição sine-qua-non de salvação, ela é necessária à santificação (Mesmo assim, algumas declarações da COR aparecem citando a guarda da Lei do VT como condição específica de salvação). 
2. - Isto sem falar que a Lei do VT deve governar também a sociedade, visto como estamos na obrigação de  subjugar a Terra, conforme Gênesis 1:28. A Teologia do Domínio ensina que  a Lei de Deus deverá governar todos os aspectos da sociedade, uma visão conhecida como Teonomia (ou Lei de Deus), assim descrita por Greg Bahnsen: “O cristão fica obrigado a guardar toda a Lei de Deus como modelo de santificação e esta Lei deve ser forçada pela magistratura civil”  (Theonomy, p. 34). Isto significa que os cristãos devem guardar todas as leis do VT, exceto aquilo que o Novo Testamento cancela, como no caso do sistema sacrifical.

3. - Uma peça central da Teologia do Domínio é a crença na Antiga Aliança, deixando de fazer qualquer diferença entre Israel e a Igreja. (N.T.: Para os dominionistas a igreja agora é a Israel Espiritual). A Teologia do Domínio  ensina que a igreja deve governar pelas mesmas leis, estando sujeita às mesmas maldições e recebendo as mesmas bênçãos prometidas a Israel.

4. - A Teologia do Domínio ensina um alto nível de ativismo social e político. Para os dominionistas, como o Reino de Deus vai dominar gradualmente a Terra, é natural que os cristãos se engajem na mudança da sociedade, através de novas leis e da ação social.

5. - Os seguidores do Dominionismo, como também muitos carismáticos, especialmente os do Movimento Latter Rain, estão em busca de um grande reavivamento no final dos tempos, através do qual as massas se voltarão para Cristo.  Isto significa que o Dominionismo descarta o Arrebatamento da igreja.  Conforme os dominionistas, o mundo está ficando um lugar melhor, através dos esforços dos cristãos (conforme a 2 Tessalonicenses 2:1-12).

6. - Como acontece a muitos outros que seguem os ensinos de George Ladd, a Teologia do Domínio acredita que já estamos na era do Reino e temos a autoridade do Reino, enquanto estamos deslanchando o Reino através de nossos esforços. “O Reino é agora, mas ainda não é” (?) é o popular slogan da Teologia do Domínio.

7. - A Teologia do Domínio é pósmilenista em sua Escatologia. Ela acredita que a reconstrução da sociedade, conforme os princípios bíblicos, é a demonstração final de que o Reino de Deus foi estabelecido na Terra. Cristo não pode voltar (segundo eles), antes que aconteça na Terra uma grande parcela de domínio pela igreja. Os dominionistas acreditam que a maldição da Terra será lentamente removida, quando ela for dominada pela igreja. Até mesmo a doença e a morte serão eliminadas, antes da volta de Cristo à Terra.

8. - A Teologia do Domínio é preterista em sua interpretação da profecia. Ela ensina virtualmente todas as profecias, as quais os cristãos acreditam que serão cumpridas no futuro como se, de fato, já tivessem sido cumpridas, entre os anos 30 e 70 d.C.  No livro de David Chilton, “Days of Vengeance”  (Dias de Vingança), ele diz que o Livro do Apocalipse “não trata da segunda vinda de Cristo, mas da destruição de Israel e da vitória de Cristo sobre os Seus inimigos” (no século 1, p. 43).

9 - A Teologia do Domínio usa uma hermenêutica alegórica, especialmente com respeito à profecia. Ela acha que a Tribulação aconteceu a Israel, no Ano 70 d.C. [N.T.: Esta é exatamente a teoria de Agostinho de Hipona, autor da Teologia do Domínio]. O Anticristo significaria a apostasia da igreja, antes da queda de Jerusalém; a besta do Apocalipse foi Nero/Império Romano, etc.
         Um dos mais importantes distintivos da Teologia do Domínio é sua crença na Teonomia. Ela ensina que os cristãos estão sob a Lei como prática de vida e ficam obrigados a manter o mundo sob a Lei. Este conceito está embasado, equivocadamente, em várias passagens bíblicas:

Primeira - Em Gênesis 1:28, Deus mandou que Adão subjugasse a Terra. Adão perdeu esse direito para Satanás, depois do seu pecado. A igreja agora está reclamando do Diabo a restituição do que Adão perdeu.  (N.T.: Eis aqui um lampejo da chamada Guerra Espiritual).

Segunda -
  A Grande Comissão de Mateus 28:19-20 comanda os seguidores de Cristo a pregar o Evangelho (fazendo discípulos de todas as nações), o que significa (segundo a Teologia do Dominionismo)  ir além da transformação e santificação pessoal, até a reforma da sociedade. 


Mateus 5:17-19 é a passagem sobre a qual o sistema se apoia. Ele afirma que a palavra “cumprir” em verdade significa “confirmar”. Desse modo, Cristo, em hipótese alguma, cumpriu ou completou toda a Lei, mas em vez disso, confirmou-a como nossa atual regra de vida. 
>>>>A tradução normal e melhor para “plerosai” é cumprir, não confirmar. Além disso, temos o peso do Novo Testamento ensinando sobre a Lei. As epístolas ensinam claramente que os crentes já não estão sujeitos à Lei de Moisés (Romanos 6:14; 7:6; 8:2-4; Gálatas 3:24-25; 5:18) e que estamos  livres do jugo da Lei, para servir sob a graça da Lei de Cristo (Gálatas 6:2).

Além disso, se os cristãos ainda precisam guardar a Lei, por que não guardam também as leis cerimoniais? A resposta da Teologia do Domínio é que  a Lei foi dividida em três seções: Civil, Moral e Cerimonial. A Lei Cerimonial foi cumprida por Cristo e já não é incumbência do crente, mas o mesmo não acontece com a Lei Moral e a Civil. Portanto, devemos viver sob a Lei Moral e buscar estabelecer em nossa sociedade o sistema civil do Velho Testamento.

O problema com esta visão é que em parte nenhuma da Bíblia podemos encontrar que a Lei foi dividida em três seções. Isto é uma teoria inventada pelos homens. Sempre que a Lei é mencionada nas Escrituras, ela se refere à Lei como uma unidade. Os judeus eram obrigados a guardar todo o sistema sacrifical, os mandamentos referentes aos alimentos e ao vestuário (Lei  Cerimonial) bem como os 10 Mandamentos (Lei Moral). Se o Novo Testamento afirma que Cristo cumpriu toda a Lei, isto significa que os cristãos estão libertos de toda a Lei do Velho Testamento. Os santos da era da igreja não são obrigados a cumprir lei alguma do VT. Ninguém tem o direito de, arbitrariamente,  afirmar que fomos libertos apenas de uma parte da Lei. Os crentes foram libertos de toda a Lei (Romanos 7:4-6) ou então de lei nenhuma. (Conforme Thomas Ice, “a Lei de Moisés foi dada a um povo específico (o judeu); num lugar específico (a nação de Israel); para tratar de uma situação específica. Desse modo, a Lei não pode ser obedecida hoje em dia, pela igreja, conforme era exigido de Israel, quando ela foi dada à nação”  (Biblical Perspectives, Vol. II, No. 6).

Pelo lado positivo, Ice comenta: “O ensino de Paulo em Gálatas 3 e 4,  é que Cristo nos libertou da maldição da Lei, mas não que ficamos sem lei, conforme insistem os reconstrucionistas; mas que devemos andar em novidade de vida, motivados pelo Espírito Santo”. (Ibid, p. 2).

Existem muitos efeitos negativos provocados pelos ensinos  da Teologia do Domínio, no Cristianismo evangélico de hoje.  Quatro desses efeitos são:

1.- Os reconstrucionistas ensinam que a missão da igreja vai além da transformação espiritual dos indivíduos, como um mandato para mudar a sociedade, um “patriotismo moral”, se ela quiser se opor ao Humanismo. Para que Cristo fique satisfeito com os cristãos, nesse caso, eles devem se engajar no ativismo político e social. Conforme esta visão, os cristãos devem mudar as leis de sua terra, esforçando-se para eleger candidatos cristãos e buscando geralmente exercer o seu domínio no mundo, colocando-o sob a Lei de Moisés. Vemos a influência deste pensamento até mesmo naqueles que pouco conhecem a Teologia do Domínio... James Dobson, Larry Burkett, the Christian Coalition, Pat Robertson, Promise Keepers, Charles Colson e o documento Evangélicos e Católicos Juntos (ECT), e a Operação de Resgate são apenas alguns do chamado mundo  evangélico.

2.- A motivação para uma vida piedosa embasada na bendita esperança - do retorno de Cristo (Tito 2:13) - é substituída pela tarefa de reestruturar a sociedade. Este mandato cultural para restaurar a sociedade é uma tarefa que pode levar milhares de anos (aproximadamente 36.000 anos, conforme David Chilton).

3.-
Se já estamos no Reino de Deus, então os carismáticos estão certos, quando ensinam que a saúde e a prosperidade são um direito de todo crente. Daí porque os calvinistas do Reconstrucionismo e os carismáticos do Reino Agora  formaram pelo menos uma unidade não específica, pois têm ambos a mesma visão. Eles não estão aguardando o retorno de Cristo para estabelecer o Seu Reino; estão tentando estabelecê-lo para Ele.

4. - Um anti-semitismo teológico existe no plano dominionista no sentido de substituir o Israel do Velho Testamento pela igreja, sendo esta o “Novo Israel” (Esta é a Teologia da Substituição de Agostinho de Hipona, na qual a nação de Israel já não tem um futuro no plano divino.)

         Historicamente, a Teologia da Substituição tem sido o fundamento teológico sobre o qual o anti-semitismo tem sido construído ao longo dos séculos pelo Cristianismo professo. Mesmo acreditando que os judeus - como indivíduos - possam se converter em massa a Cristo, eles não creem num futuro para Israel, assumindo que a igreja herdou completamente todas as promessas feitas a Israel como nação. (O reconstrucionista David Chilton afirma que a Israel étnica foi excomungada pela sua apostasia e jamais voltará a ser novamente o Reino de Deus e que na Bíblia não se encontra coisa alguma sobre o futuro de Israel como uma nação especial).  Os reconstrucionistas acreditam que a igreja é agora a nova nação, porque Cristo destruiu o estado judeu. Os reconstrucionistas  DeMar e Leithart disseram: “Ao destruir Israel, Cristo transferiu as bênçãos do reino de Israel para um novo povo, a igreja”.





Obs. - Parte deste material é um excerto ou adaptação de três fontes: (1) – Dominion Theology, Pr. Gary E.Gilley, da Southern Chapel, Janeiro de 1996; (2) “Dominion Theology: Blessing or Curse?”; de Thomas Ice e H. Wayne House; “Vengeance is Ours: The church in Dominion”, de Albert James Dager.

Biblical Discernment Ministries.



Tradução, adaptação e comentários de Mary Schultze, 12/10/2009.

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Todas as citações bíblicas são da ACF (Almeida Corrigida Fiel, da SBTB). As ACF e ARC (ARC idealmente até 1894, no máximo até a edição IBB-1948, não a SBB-1995) são as únicas Bíblias impressas que o crente deve usar, pois são boas herdeiras da Bíblia da Reforma (Almeida 1681/1753), fielmente traduzida somente da Palavra de Deus infalivelmente preservada (e finalmente impressa, na Reforma, como o Textus Receptus).



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