Há pouco tempo, um amigo ouviu este admirável comentário de um membro de uma
grande igreja evangélica que está crescendo rapidamente: "Temos um pastor
maravilhoso! Ele realmente prega a Palavra; fala contra o pecado, chamando-o
pelo seu nome".Quando meu amigo perguntou sobre o conteúdo doutrinário
das mensagens ("O pastor fala sobre doutrinas como regeneração, justificação,
redenção, santificação e outras semelhantes?"), a enfática resposta
foi: "Não, ele não prega a respeito desse tipo de coisas!"Como
podemos harmonizar uma igreja crescente, com a falta de ensino doutrinário na
pregação? Se doutrinas não estão sendo ensinadas, pode qualquer igreja
considerar que está em harmonia com o padrão do Novo Testamento? Esta era a
situação em que eu me encontrava há alguns anos passados.
Retornando à Escola:
Em meu terceiro pastorado, senti-me desanimado diante da falta de crescimento
numérico em nossa igreja. Havia participado de conferências e seminários que
promoviam crescimento, crescimento, crescimento como o objetivo final para os
pastores. Ouvi pastores respeitados em nossa denominação e, com freqüência,
desejava que a minha igreja tivesse o mesmo tipo de crescimento que as igrejas
deles haviam experimentado. Por fim, meu desânimo levou-me a agir. Após
algumas mudanças radicais na organização de nossa própria igreja, vi o número
de membros aumentar. Estava satisfeito e motivado para buscar mais crescimento.
Não sou muito a favor de realizar as coisas pela metade; por isso, conclui que
a melhor mudança a fazer seria estudar o crescimento de igreja, em sua fonte, o
Seminário Teológico Fuller, em Passadena (Califórnia). O primeiro seminário,
de duas semanas, incluso no programa de Bacharel em Ministério, no Fuller, foi
ministrado por C. Peter Wagner, o principal porta-voz do Movimento de
Crescimento de Igrejas. Este havia sido missionário na América do Sul e
retornou à universidade em que estudara para ensinar juntamente com o falecido
Donald McGavran. Enquanto McGavran, que fora missionário na Índia, é bem
conhecido como o "pai do Movimento de Crescimento de Igrejas", Peter
Wagner certamente possui o título de ser o melhor proponente desse Movimento.
Em preparação para este seminário, li diversas obras escritas por Wagner e
por outros autores do Movimento.
Achei Wagner um professor interessante que se apresentava bem, alguém capaz de
produzir animadas discussões em sala de aula. Munido de transparências e
grande quantidade de anotações, Wagner começou a esclarecer aos alunos os
princípios básicos do Movimento. O pragmatismo pode resultar em crescimento
numérico, mas não pode regenerar um homem incrédulo. Percebi que estava
aceitando cada palavra falada na aula, embora, às vezes, ficasse apreensivo
diante de algumas afirmativas. Wagner jamais recuava quando, na classe, era
confrontado por causa de discordâncias, ainda que estas fossem freqüentes. Ele
afirmava que as críticas e a correção eram bem-vindas para o Movimento de
Crescimento de Igrejas, pois constituíam a melhor maneira de aprimorá-lo.
Continuei meus estudos, no Fuller, com grande ênfase em crescimento e implantação
de igrejas. Mais da metade do tempo de nossa aula dedicava-se a estudar o
crescimento de igreja. Wagner ministrava as principais aulas; o outro professor
era John Wimber, o fundador das igrejas Vineyard. Este ensinava sobre o
controverso assunto de "sinais e maravilhas" e sua relação
fundamental no crescimento de igreja. Por ocasião de minha formatura, estava
completamente encharcado com a "filosofia do Movimento de Crescimento de
Igrejas" e a ampla influência deste sobre o evangelicalismo.
Muito do que aprendera era simplesmente trivial. Detalhes acerca do
estacionamento, preparo de equipe adequada, localização, otimização no uso
de equipamentos, treinamento de liderança leiga, utilização de dons
espirituais e diagnóstico de fraquezas de igrejas constituem assuntos que podem
ser facilmente encontrados em livros sobre crescimento de igrejas. Este ensino
pode tornar-se útil a qualquer líder de igreja. As igrejas devem ter sabedoria
para se avaliarem por si mesmas.
O Movimento de Crescimento de Igrejas também fornece uma boa análise sobre a
fraqueza das cruzadas evangelísticas e sobre a grande eficácia do evangelismo
pessoal. Coloca ênfase sobre alcançar os "campos que estão brancos para
a ceifa", em esforços para atingir os perdidos e fazer as igrejas
crescerem. Uma intensa ênfase sobre "fazer discípulos", em contraste
com o simples "evangelizar", ajuda a corrigir a atitude de inchar o
rol de membros da igreja com pessoas não-convertidas. As estatísticas
fornecidas pelos líderes do Movimento podem dar às igrejas uma melhor assimilação
da necessidade espiritual dos povos.
Pouco a pouco, comecei a perceber as falhas em meu próprio ministério e em
todo o Movimento de Crescimento de Igrejas. Embora tenha encontrado muitas idéias
úteis ao estudar sobre o Movimento de Crescimento de Igrejas, também percebi
que estava envolvido em uma "mentalidade" cujo preço comprovou-se
elevado. Edificar uma igreja seguindo os "princípios do Movimento de
Crescimento de Igrejas" significava anuência ao pragmatismo, ao invés de
ao cristianismo bíblico. O pragmatismo pode resultar em crescimento numérico,
mas não pode regenerar um homem incrédulo. Na qualidade de pragmatista, estava
interessado em descobrir métodos e artifícios que produziriam crescimento e em
utilizá-los plenamente em nossa igreja. Mesmo acreditando na pregação
expositiva, diminui a exposição da Palavra e segui com intensidade o apelar às
necessidades sentidas da comunidade. Isto era justificável (ou assim eu
pensava), pois estaria construindo uma grande igreja.
Reconsiderando os Princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas:
Lembro-me de, em certa noite, ter visitado um estudante de teologia que estivera
em nosso culto. Ele perguntou qual era a minha teologia. Respondi: "Tenho
uma teologia pragmática. Quero uma teologia que funciona". Mais tarde,
fiquei bravo enquanto um amigo contava-me que aquele estudante lhe dissera após
minha visita: "Phil não possui uma teologia". Infelizmente, ele
estava correto e isto mostrava de que maneira eu estava "realizando o
ministério".
Pouco a pouco, comecei a perceber as falhas em meu próprio ministério e em todo o Movimento de Crescimento de Igrejas. No cerne do ensino de Wagner e do Movimento de Crescimento de Igrejas encontram-se princípios relacionados ao evangelismo. Wagner tem promovido de modo admirável o trabalho de evangelismo como sendo um dos mais importantes na igreja local. Quando a maneira de pensar de Wagner sobre evangelismo é examinada à luz das Escrituras, surgem algumas questões sérias. Ele divide o evangelismo nas seguintes categorias (Church Growth: State of the Art, editado por C. Peter Wagner, com Win Arn e Elmer Towns, Wheaton, Tyndale House Publishers, 1988, pp. 296-297):
1. Evangelismo de Presença. Aproximar-se das pessoas e ajudá-las, fazendo o bem no mundo. Designado evangelismo "l-P".
2. Evangelismo de Proclamação. Apresentar o evangelho; a morte e a ressurreição de Cristo é proclamada; as pessoas ouvem e podem responder. Designado evangelismo "2-P".
3. Evangelismo de Persuasão. Fazer discípulos; enfatiza a importância de não fazer separação entre o evangelismo e o acompanhamento, integrando a pessoa ao Corpo de Cristo. Designado evangelismo "3-P".
Wagner ressalta que todos os três tipos de evangelismo são importantes, mas
o objetivo tem de ser a realização do evangelismo "3-P".
Poucos discordariam do fato que o evangelismo "1-P" não pode
adequadamente anunciar o evangelho ao incrédulo; e que sem a presença visível
daqueles que foram despertados pelo evangelho, todo o outro evangelismo seria
anulado. O maior problema surge no entendimento de Wagner referente ao
evangelismo "2-P". De acordo com a definição, parece ser mais do que
uma pregação ou um testemunho verbal dos fatos do evangelho. Por conseguinte,
o incrédulo pode determinar se os fatos apresentados são dignos de sua decisão
de aceitar o evangelho.
O evangelismo "3-P" constitui o ponto central dos proponentes do
Movimento de Crescimento de Igrejas. Realmente envolve tanto a presença quanto
a proclamação, mas isto não é tudo. O evangelista precisa usar todos os
meios à sua disposição para persuadir o incrédulo a converter-se de seu
pecado e crer em Jesus, de modo que torne-se um discípulo.
Em suas aulas, Wagner serve-se da palavra grega peitho e seu emprego no livro de
Atos. Ele cita Atos 13.43; 17.4; 18.4; 26.28 e 28.23-24, onde peitho é
utilizada como uma referência ao apelo evangelístico. Wagner constantemente
retrata esta palavra com o significado de "persuadir". Portanto, o
evangelismo adequado é o evangelismo de persuasão.
O Novo Testamento está repleto de passagens referindo-se ao trabalho de
evangelismo. Existem vários problemas na dedução de Wagner extraída destas
passagens do livro de Atos.
No século 19, Charles Haddon Spurgeon foi conhecido como o supremo exemplo
de um verdadeiro evangelista. O alcance de seu evangelismo tornou-se mais amplo
do que o de qualquer outro em seus dias. Ele poderia ter sido acusado de usar de
manipulação ou métodos emocionais de evangelismo centralizados no homem.
Todavia, ninguém o acusaria de proclamar o evangelho sem amor e persuasão. O
próprio evangelho, ao ser anunciado de maneira correta, é persuasivo! E este
evangelho, quando crido para a salvação, devido à obra de regeneração
realizada pelo Espírito Santo, produz verdadeiros discípulos. O verdadeiro
evangelismo se esforça por anunciar, com amor e clareza, todo o evangelho de
Cristo, na dependência do Espírito Santo para salvá-los.
Finalmente, ao mesmo tempo em que concordo com Wagner, ao afirmar que temos de
ser persuasivos ao apresentar o evangelho, a ênfase dele coloca indevida
confiança na habilidade do evangelista para realizar conversões. Tal confiança
não corresponde ao ensino das Escrituras (ver 1 Co 2.1-16; cf. também a
excelente discussão de Iain Murray sobre este assunto, em Revival and
Reavivalism [Avivamento e Avivalismo], Banner of Truth Trust, 1994, pp. 161,
ss.). O apóstolo Paulo estava tão dominado pela certeza do julgamento divino,
que afirmou: "Conhecendo o temor do Senhor, persuadimos os homens" (2
Co 5.11). O significado natural deste versículo é este: Paulo compreendia que
os pecadores compareceriam diante do Deus justo e santo, por isso se esforçava
para "conquistar os homens para Cristo". Ele procurava os perdidos,
anunciava-lhes com intenso amor o evangelho, mas dependia do poder do Espírito
Santo para salvá-los. Aqueles que o Espírito salvasse inevitavelmente se
tornariam parte da igreja visível.
O verdadeiro evangelismo se esforça por anunciar, com amor e clareza, todo o
evangelho de Cristo, na dependência do Espírito para salvá-los. Esse
evangelismo resultará na obra de integrar o novo crente à igreja. A
disparidade ocorre quando o evangelista considera a si mesmo e aos seus métodos
como chaves para a salvação dos homens, ao invés da obra regeneradora da
parte do Espírito Santo. Somente por meio do ato regenerador proveniente do Espírito
Santo, o pecador realmente pode ter uma mudança de natureza.
Wagner fundamenta sua classificação de evangelismo na "Escala de Engel"
, que é um "modelo do processo de decisão espiritual" desenvolvido
por James Engel. A escala tem uma série de números negativos e positivos que
descreve o processo de evangelismo:
-8 Consciência de um Ser Supremo, mas não um conhecimento eficaz do evangelho.
-7 Conhecimento inicial do evangelho.
-6 Conhecimento dos fundamentos do evangelho.
-5 Assimilação das implicações do evangelho.
-4 Atitude positiva para com o evangelho.
-3 Reconhecimento do problema pessoal.
-2 Decisão de fazer algo.
-1 Arrependimento e fé em Cristo.
Regeneração - Uma "Nova Criatura"
+1 Avaliação após a decisão.
+2 Integração no Corpo
+3 Início do crescimento informativo e comportamental.
O problema básico na "Escala de Engel"é a reversão da ordem bíblica
referente ao arrependimento e fé em Cristo e à Regeneração - uma "Nova
Criatura". Seguindo a lógica desta escala, alguém poderia imaginar que um
pecador precisa apenas começar a entender as implicações fundamentais do
evangelho, reconhecer seu "problema pessoal" (uma maneira amena de se
transmitir a idéia de "pecado") e tomar a decisão de ser salvo.
Aquilo que Wagner admite concernente à regeneração implica em que um pecador
não tem de ser totalmente depravado ou morto em seus delitos e pecados.
Ao contrário disso, a regeneração antecede o arrependimento e a fé, conforme
está claramente ensinado nas Escrituras, em muitas passagens que falam sobre a
regeneração (observe os seguintes versículos que a ela se referem: Tito 3.5,
onde o vocábulo grego paliggenesia significa "um novo nascimento"; Efésios
2.5 e Colossenses 2.13, sunezoopoisen significa "vivificar juntamente
com"; João 3.3 e 5, gennao significa "ser nascido, gerado";
Tiago 1.18 apekuasen significa "dar à luz", "gerar").
"Nenhum rio pode, de si mesmo, correr em uma direção mais elevada do que
sua nascente..."
A grande premissa de Wagner é esta: se o incrédulo for persuadido a tomar a
decisão de se arrepender e crer, então será regenerado. A atitude do pecador,
por conseguinte, causa a sua própria regeneração. Ele tem a capacidade de
fazer uma escolha voluntária e apropriada em relação ao evangelho, se receber
evangelismo de persuasão ou "3-P". De que maneira a natureza do
pecado o torna bastante capaz de arrepender-se e crer? Se o problema espiritual
do pecado resulta não somente de seu comportamento pecaminoso mas também de
sua natureza corrupta, concluímos: até que sua natureza seja mudada, ele não
haverá de arrepender-se e crer; fazer isto será contrário à sua própria
natureza. Além disso, como pode um morto vivificar a si mesmo (o que ocorre na
regeneração)? Isto é apresentado com clareza em Efésios 2.1-5, onde Paulo
afirma duas vezes que a pessoa não-regenerada está morta. "Se o homem está
realmente morto em delitos e pecados, ele é incapaz de manifestar qualquer
virtude que contenha, em si mesma, o elemento da verdadeira santidade ou vida
espiritual." C. R. Vaughan, em The Gifts of the Holy Spirit (Os Dons do Espírito
Santo), explica a incapacidade do homem em libertar-se de sua natureza
pecaminosa e seguir a fé, o arrependimento e a santidade: "Nenhum rio
pode, de si mesmo, correr em uma direção mais elevada do que sua nascente;
nenhuma natureza pode transcender a si mesma na manifestação de suas energias.
Se o homem está realmente morto em delitos e pecados, ele é incapaz de
manifestar qualquer virtude que contenha, em si mesma, o elemento da verdadeira
santidade ou vida espiritual" (Banner of Truth Trust, 1984, p. 175).
Contudo, no paradigma de Wagner, o evangelista tenta convencer um pecador a
fazer algo que não deseja. Sua natureza exige que ele se rebele contra o
evangelho, ao invés de aceitá-lo. Somente por meio do ato regenerador
proveniente do Espírito Santo, o pecador realmente pode ter uma mudança de
natureza; isto o leva a perceber que está separado de Deus, por causa do
pecado, e, em seguida, a apropriar-se da obra propiciatória de Cristo em favor
dele, de modo que, com alegria, ele se arrepende e crê em Cristo. Assim como no
vale de ossos secos contemplado por Ezequiel, o pecador está morto para as
coisas de Deus, até ser despertado pelo Espírito, que outorga a vida, no novo
nascimento (compare João 3.1-7 com Ezequiel 37, onde "o Espírito" e
"o vento" referem-se à mesma Pessoa divina e sua obra).
A prioridade no evangelismo "3-P", do Movimento de Crescimento de
Igrejas, demonstra que o evangelismo "2-P" não é capaz de realizar a
obra. O evangelismo de proclamação apenas abre a porta para fazer a luz do
evangelho entrar, de modo que o incrédulo possa ouvi-lo bem, mas fica aquém de
se tornar um discípulo. O evangelista tem de utilizar os métodos, as
abordagens e as técnicas corretas para realmente fazer um discípulo. Precisa
apelar às necessidades sentidas do pecador, para que este se interesse pelo
evangelho.
Neste ponto, o Movimento apresenta um amplo conjunto de princípios e axiomas
que, empregados corretamente, podem quase garantir os resultados. O Movimento de
Crescimento de Igrejas prosperou fundamentado nesse ponto de vista extremamente
arminiano acerca do evangelismo. Seminários, conferências, palestras, livros,
módulos com esse tipo de abordagem inundaram o cristianismo evangélico. Os
crentes de todas as denominações estão utilizando os princípios do Movimento
de Crescimento de Igrejas para conquistar grandes números e estabelecerem
igrejas enormes. A proclamação da Palavra de Deus não possui mais o lugar
central nessas igrejas. O ensino da sã doutrina é considerado algo desnecessário
e antiquado. Em seu lugar, métodos e grandes realizações se tornaram o
atrativo para as pessoas freqüentarem as igrejas e decidirem tornar-se membros
delas. Enquanto estas igrejas falam sobre a obra do Espírito Santo,
negligenciam sua dependência da obra regeneradora proveniente dEle.
Revolução Teológica
Após concordar com a teologia bíblica dos fundadores de nossa denominação,
comecei a duvidar dos princípios do Movimento de Crescimento de Igrejas, os
quais eu havia aprendido. Enquanto estudava e pregava expositivamente sobre Efésios,
todo o meu conceito acerca daquele Movimento foi estilhaçado pela verdade da
Palavra de Deus. Estudando, com intensa meditação, Efésios 1.1-14, durante um
período de dois meses, tive de concordar com algumas doutrinas que, durante
alguns anos, eu evitara cuidadosamente. Pensei muito sobre a soberania de Deus e
a depravação do homem, crendo nessas verdades tanto quanto podia entendê-las.
Porém, deixara de perceber que, se acreditava no ensino bíblico a respeito da
soberania de Deus e da total depravação do homem, a conclusão lógica a que
eu deveria chegar era o equilíbrio das "Doutrinas da Graça", que
Edwards, Whitefield, Spurgeon, Boyce e outros ensinaram. Qualquer coisa inferior
a isso retrataria Deus como alguém não completamente soberano, e o homem, não
totalmente depravado.
Minha teologia precisava determinar minha atitudes no ministério e vida diária.
Por conseguinte, deparei-me com a pergunta: se a conversão é totalmente uma
obra da graça divina, então quem sou eu para imaginar que minhas técnicas e métodos
podem converter uma alma sequer? Compreendi que minha teologia precisava
determinar minha atitude no ministério e vida diária ou seria um hipócrita em
ambos. Comecei a abandonar a maioria dos ensinos que havia recebido em meus anos
de estudo no Movimento de Crescimento de Igrejas (exceto os princípios de bom
senso e aqueles apresentados claramente nas Escrituras). Procurei concentrar-me
em ensinar a Palavra de Deus, com clareza, pureza e amor, abordando as doutrinas
encontradas nos textos dos sermões de cada semana. Voltei à minha tarefa de
pregação com uma nova convicção de pregar "todo o desígnio de
Deus".
Essa radical mudança na teologia aconteceu no outono de 1990. Precisava
participar de dois seminários para meu diploma de bacharel, mas alegremente eu
os dispensei em troca da bênção de passar quinze meses estudando Efésios. A
cada semana examinando o texto grego, lendo Martin Lloyd-Jones, John MacArthur,
Leon Morris, John Stott e outros forneceu-me um claro entendimento de toda a
gloriosa mensagem de redenção. Voltei à minha tarefa de pregação com uma
nova convicção de pregar "todo o desígnio de Deus" (At 20.27).
Sabia que nem todos receberiam com satisfação aquilo que eu estava pregando,
mas tinha a responsabilidade de, paciente e transparentemente, anunciar a
Palavra, deixando o Espírito fazer a obra necessária.
Esta mudança aconteceu com a aprovação de todos em nossa igreja?
Absolutamente, não! Na verdade, descobri uma disposição em muitos que sentiam
intenso desejo para que a verdade de Deus fosse proclamada sem apologia ou temor
dos homens. Alguns adquiriram uma maravilhosa liberdade de andar na verdade de
Deus. Outros lutaram contra a Palavra de Deus, perseverando com firmeza em crenças
que haviam sido danificadas pela experiência e pelas tradições.
Descobri que afastar-me das práticas do Movimento de Crescimento de Igrejas,
para realizar um ministério de acordo com o legado dos fundadores de nossa
denominação, poderia não alcançar as massas (embora esteja orando e
esperando para ver muitos virem a Cristo e serem trazidos à igreja). Em alguns
casos, realmente enfrentamos oposição. Todavia, a grande motivação do meu
coração e mente é que um dia terei de responder ao soberano Senhor pela
maneira como realizei minha chamada. Minha observação é que muito freqüentemente
os pastores conduzem seus ministérios de acordo com as expectativas de outros.
A pressão exercida sobre os ministros, para que edifiquem igrejas enormes,
conquistem grandes números de ouvintes e produzam uma multidão de convertidos
constrange alguns a beberem tudo que procede das fontes do Movimento de
Crescimento de Igrejas. Quando isso acontece, o ministro inevitavelmente
compromete sua responsabilidade de pregar a Palavra e depender da obra do Espírito
Santo. Ele corre de uma técnica para outra, agarrando cada nova idéia vinda
dos proponentes do Movimento.
Qual é a motivação do ministro do evangelho para fazer tudo o que ele faz? É realmente a glória de Deus e o amor pelo seu reino? Alguns podem admirar-se de mim e perguntar: "Você acredita em crescimento de igreja?" Com certeza, eu acredito. Desejo muito ver o crescimento realizado pela obra do Espírito Santo e a proclamação fiel da Palavra de Deus. Porém, se a Palavra e o Espírito não podem realizá-lo, não o quero! De fato, um dia, eu creio, nosso Senhor se deleitará em agir sobre nossa congregação e comunidade com poder, e esse poder despertará os homens. Então, eles saberão que a salvação dos pecadores não vem por meio de nossas técnicas perspicazes, nem por implementarmos os princípios de crescimento de igreja, e sim pela soberana graça do todo-glorioso Deus.
Deus não pode enviar a uma nação ou a um povo maior bênção do que dar-lhes ministros fiéis, sinceros e retos, assim como o maior anátema que Deus possa dar ao povo deste mundo é dar-lhes guias cegos, não-regenerados, carnais, mornos e ineptos. George Whitefield
O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice. Charles Haddon Spurgeon
autor: Phil A. Newton
tradutor: anônimo
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.