Miguel Núñez
Editora Fiel
20 de Janeiro de 2014 - Vida Cristã
Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que
lamentavelmente muitos têm respondido de uma maneira emocional e não através da
análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no catolicismo sempre ouvimos que
o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa para o
inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível
despojar-se dessa ideia.
Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão
seria capaz de acabar com sua própria vida. Há outros que afirmam que um
cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação. E ainda outros
pensam que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que
isso o conduza à condenação.
Em essência temos, então, quatro posições:
1. Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o
inferno (posição Católica Tradicional).
2. Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.
3. Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.
4. Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua
salvação.
A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da
Reforma, quando a doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor
estudada e entendida. Nesse momento, tanto Lutero como Calvino concluíram que
eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia cometer
suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a
salvação das almas foi sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores
começaram a fazer conclusões, de maneira distinta, sobre a posição que a Igreja
de Roma tinha até então.
No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?
Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a partir
da revelação de Deus:
O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista). Com
isso, não queremos dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser, mas que
todas as suas capacidades estão manchadas pelo pecado: sua mente ou intelecto,
seu coração ou emoções, e sua vontade.
O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à
permanência da natureza carnal, continua com a capacidade de cometer qualquer
pecado, com a exceção do pecado imperdoável.
O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens, e a
partir desse contexto podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição
contínua da ação do Espírito Santo na conversão do homem. Outros, a partir
dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus.
Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa
incrédula.
De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida
de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.
O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados,
presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18) “13 ¶ E, quando vós
estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou
juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, 14 Havendo riscado a
cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era
contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Cl 2:13-14 ACF
“11 E assim todo o
sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos
sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; 12 Mas este, havendo oferecido para
sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, 13 Daqui em diante
esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. 14 Porque com uma só
oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados. 15 E também o
Espírito Santo no-lo testifica, porque depois de haver dito: 16 Esta é a aliança
que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em
seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: 17 E jamais me lembrarei
de seus pecados e de suas iniqüidades. 18 Ora, onde há
remissão destes, não há mais oblação pelo pecado.” (Hb 10:11-18
ACF)
O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado na
cruz, onde Cristo nos justificou, e fomos declarados justos sem de fato sermos,
e o fez como uma só ação que não necessita ser repetida no futuro. Na cruz,
Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26, Romanos
8:29-30)
“23 Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus; 24 Sendo justificados gratuitamente
pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. 25 Ao qual Deus
propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça
pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; 26 Para demonstração
da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus.” (Rm 3:23-26 ACF)
“29 ¶
Porque
os
que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que
predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou;
e aos que justificou a estes também glorificou.” (Rm 8:29-30 ACF)
A salvação e o ato do suicídio
Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos,
denominados Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da
salvação. Uma dessas diferenças, que não é a única, gira em torno da
possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria nesse
grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do
crente. Nós, que afirmamos a segurança eterna do crente (Perseverança dos
Santos), não somos daqueles que acreditam que o suicídio ou qualquer outro
pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.
Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão
jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem
bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição. Alguns,
sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há nenhum
suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de personagens
não crentes que acabaram com suas vidas. Com relação a essa observação,
gostaria de dizer que usar isso para estabelecer que um cristão não pode
cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso de um
argumento de silêncio, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias coisas
não mencionadas na Bíblia (centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso de
argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de estabelecer possíveis
verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus
rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha
capacidade para rir. Seria esse um argumento sólido? Obviamente não.
Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé
cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar antes de ir mais
além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação, ou se sua
vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que, provavelmente,
esse seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.
Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos
podem se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não
tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode
ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus
permitir acontecer pode representar parte da disciplina de Deus, por esse
cristão não ter feito uso dos meios da graça dentro do corpo de Cristo,
proporcionados por Deus para a ajuda de seus filhos.
Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no último
momento não proveu oportunidade para o arrependimento, e é isso o que termina
roubando-lhe a salvação ao suicidar-se. Eu quero que o leitor faça uma pausa
nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse exato
momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa
pergunta é evidente: Não! Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum
instante em nossas vidas em que o ser humano está completamente livre do
pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos
quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas que
nesse momento não temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão,
simplesmente porque o consideramos um pecado menos grave, ou porque estamos
esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.
A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por
nossos pecados passados, presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o
mesmo sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de
nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. A Palavra de Deus é
clara em Romanos 8:38 e 39: “38 Porque estou
certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, 39 Nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor.” (ACF) Note que o texto diz que “, nem alguma
outra criatura”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos
também que essa passagem fala que “nem o presente, nem o porvir”, fazendo
referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro lado, João
10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso Pai, e
Filipenses 1:6 diz que “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa
obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” (ACF).
Concluindo:
Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que
não conceber que potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?
Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele não
cobriria esse outro pecado?
Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de
Hebreus (7:28, 10:14), “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a
palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito
para sempre.” (Hb 7:28 ACF) “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para
sempre os que são santificados.” (Hb 10:14 ACF)
não seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum pecado rouba a nossa
salvação?
Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão
que o povo exerceu sobre ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na
condição de depressão extrema, que não tenha a força de caráter de um Moisés,
atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?
Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão interior
do ser humano, poderíamos afirmar categoricamente que alguém que deu
testemunho de cristão durante sua vida, ao cometer suicídio, realmente não era
um cristão?
Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos
concluir que o suicídio entre crentes provavelmente é uma ocorrência
extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos meios de graça
presentes no corpo de Cristo.
Pensamos que o suicídio é um pecado grave, porque atenta contra a vida humana.
Mas já estabelecemos que um crente é capaz de eliminar a vida humana, como o
fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém, como não conceber que posso
fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.
Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o
suicídio e a salvação. Tudo o que podemos fazer é raciocinar através de
verdades teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar a uma provável
conclusão sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Portanto, quanto
mais coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão
que eu chegar. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial,
unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade” NOTA.
Minha recomendação é que você possa fazer um estudo exaustivo, outra vez ou
pela primeira vez, acerca de tudo o que Deus disse sobre a salvação, que é
muito mais importante que o suicídio, que é quase nada.
Miguel Núñez
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(NOTA DE HÉLIO: Gostei deste artigo e não
tenho nada contra o autor. Eu até convivo com o calvinismo moderado, tenho
excelente e doce convívio e comunhão com muitos calvinistas que estão entre
meus melhores amigos. Mas nunca vou conseguir entender porque alguns deles (não
todos) têm que viver citando Agostinho, um padreco romanista; defensor da
tortura "em casos especiais"; defensor da “Perseguição Construtiva”,
onde o herege deve ser forçado a se retratar, ou então ser destruído; defensor
da “Censura Construtiva”, onde o herege deve ser publicamente "Exposto e
Constrangido"; Agostinho, considerado e chamado de "o Pai da Inquisição";
o originador/defensor/consolidador de muitas das heresias católicas, portanto
um herege, portanto queimando no inferno. Mesmo que ele dissesse algo correto,
citá-lo seria como citar o Padre Cícero Romão Batista dizendo a mesma coisa
correta, mas não passando de um satanista enganador de ingênuos, grande
responsável por milhares de assassinatos e, ainda depois de morto, levando ao
inferno milhares de romeiros devotos a ele.)
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em http://BibliaLTT.org, com ou sem notas.
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.