André Aloísio
http://teologia-vida.blogspot.com.br/2008/06/certeza-da-salvao.html
Olá FFFF, a paz seja contigo!
Se me permite, gostaria de fazer alguns comentários sobre sua resposta ao meu
diálogo. Peço que não repare na linguagem e na estrutura do meu texto, pois o
escrevi na correria. Você escreveu:
"A Salvação é sim por meio de Jesus, mas isso também depende de
nossas atitudes."
Eu entendo sua preocupação ao escrever isso. Você tem medo, como muitos, que a
graça de Deus se transforme em dissolução (Jd.4), e que os cristãos pensem que,
afinal, podem pecar o quanto quiserem, pois são salvos pela graça. É uma preocupação
sincera, reconheço. No entanto, não posso concordar com sua frase acima, e vou
explicar o motivo.
A Bíblia é bem clara ao afirmar que nossa salvação é totalmente pela graça: “Pois todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção
que há em Cristo Jesus” (Rm.3.23-24) ; “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem
das obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2.8-9);
etc.
Nós só compreendemos corretamente essa verdade quando conhecemos qual a nossa
condição e posição diante de Deus. Já nascemos “mortos em ofensas
e pecados” (Ef.2.1), cada um de nós é “servo do pecado”
(Jo.8.34) e, por natureza, “... todos nós somos como o imundo, e todas as
nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a
folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam” (Is.64.6).
Além dessa corrupção interior, todos nós nascemos debaixo da condenação do
pecado, pois “o salário do pecado é a morte” (Rm.6.23). Em
tal situação é impossível que o homem contribua, com o mínimo que seja, em
sua salvação. Assim como um morto não pode fazer coisa alguma, um morto
espiritual não pode fazer nenhum bem espiritual.
Por isso nossa salvação depende inteiramente de Deus, que por Sua maravilhosa
graça, enviou Seu Filho ao mundo para viver e morrer em nosso lugar. E não
apenas isto, é Ele quem nos ressuscita espiritualmente (Ef.2.1) e nos traz a
Cristo. Sem essa ação de Deus, operando o novo nascimento (Jo.3.3), ninguém
viria a Cristo: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou o não trouxer”
(Jo.6.44). Nem o arrependimento e a fé podem ser considerados como uma obra
nossa da qual depende nossa salvação, pois a Bíblia ensina que até essas coisas
são dons de Deus dados a nós: “Porque a vós vos foi concedido, em
relação a Cristo, não somente crer nele, como também a padecer por
ele, ...” (Fp.1.29); “Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e
longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao
arrependimento?” (Rm.2.4). A fé não é a causa da nossa salvação, mas o
instrumento pelo qual nos apropriamos dela. Além disso, como eu disse acima, a
fé, juntamente com o arrependimento, é um dom de Deus.
Talvez você concorde com tudo o que eu disse até agora, mas afirme que se o
cristão não permanecer na fé e não for obediente em sua vida cristã poderá
perder a salvação. No entanto, ao contrário do que a maioria dos cristãos
pensam, a salvação não pode ser perdida, justamente pelo fato de a salvação
ser pela graça e não depender
de obras! Isso é ensinado em toda a Bíblia e aqui citarei apenas algumas
passagens. Jesus disse em João 6.47: “Na verdade, na verdade vos digo
que aquele que crê em mim tem a vida eterna”.
Tudo aqui está no presente. Se alguém crê em Jesus com verdadeira fé, então
ele já tem, no presente, a vida eterna. Jesus não disse que aquele que crê
n’Ele terá a vida eterna, mas que já tem aqui e agora. Ora, se a vida que o
cristão tem é eterna, é ilógico pensar que ela possa ter um fim ou que ele
possa perdê-la, afinal, ela é eterna.
Ainda sobre isso, Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e
eu conheço-as, e elas me seguem. E dou-lhes a vida eterna, e elas nunca hão de
perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai,
que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las
da mão de meu Pai ” (Jo.10:27-29) .
Jesus afirma que Suas ovelhas, que receberam a vida eterna, nunca
hão de perecer, e ninguém (inclusive as próprias ovelhas, obviamente)
poderá arrebatá-las e das mãos do Pai (e de Suas mãos, obviamente - Jo
10.30). Paulo também fala sobre isso em Filipenses 1.6: “Tendo por certo isto mesmo, de
que aquele que em vós começou boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus
Cristo”.
Mas talvez a passagem mais forte sobre o assunto se inicie no capítulo 5 de
Romanos, onde Paulo começa a argumentar sobre a certeza da salvação. Do
versículo 6 ao 11 Paulo apresenta um argumento incrível a respeito disso, que
eu não irei repetir pois já o expliquei no meu Diálogo Sobre a Salvação pela
Graça e Suas Conseqüências (http://teologia-vida.blogspot.com.br/2008/02/dilogo-sobre-salvao-pela-graa-e-suas.html). Do
versículo 12 ao 21 Paulo faz um paralelo entre Adão e Cristo, e mostra que,
assim como o pecado de Adão foi imputado a todos os seus descendentes
resultando em condenação, assim também a justiça de Cristo é imputada a todos
aqueles que creem, resultando em salvação. Isso acontece por causa de nossa
união com Cristo; nós estamos n’Ele e, graças a essa união, nossos pecados
foram imputados a Cristo, e a justiça d’Ele foi imputada a nós.
Depois de um parêntese nos capítulos 6 e 7, Paulo continua o tema da certeza da
salvação no capítulo 8 da mesma epístola, e inicia o capítulo dizendo: “Portanto, agora
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo
a carne, mas segundo o Espírito”. Ele continua o assunto e no versículo
30 afirma: “E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a
estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”.
Veja o que ele afirma: os mesmos que são justificados (todos os que crêem)
serão glorificados, isto é, terão seus corpos transformados quando Cristo
voltar. Ele não disse que apenas alguns dos justificados serão
glorificados, mas que todos os que são justificados serão glorificados. E para
mostrar a certeza disso, ele até coloca a glorificação como um fato já
consumado, utilizando o verbo no passado: “a estes também glorificou” (e
não glorificará). Paulo encerra toda esta argumentação sobre a certeza da
salvação com uma passagem muito conhecida, mas pouco compreendida, para a qual
peço que você dedique a máxima atenção:
“Que
diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele
que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos
nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é
que condena? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou
dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a
perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está
escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte todo o dia, fomos considerados
como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que
vencedores, por aquele que nos amou. Porque eu estou certo de que, nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades,
nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor” (Rm.8.31-39) .
Paulo mostra na passagem acima que nossa salvação depende totalmente de Deus
e do Seu amor por nós, que foi demonstrado na obra que Cristo realizou em
favor dos Seus escolhidos. E esse amor é tão grande que absolutamente nada –
nada mesmo, nem mesmo nós – pode nos separar dele! Em nenhum momento Paulo afirma
que a salvação depende de nossas atitudes. O grande problema de muitos
cristãos é achar que a salvação depende daquilo que fazem, e não daquilo que
Deus fez em Cristo de uma vez por todas. Às vezes pensam e falam de tal forma
que parecem crer que eles mesmos se salvam. No entanto, nossa salvação é, do
começo ao fim, uma obra exclusiva de Deus, como Jesus, Paulo e todos os
demais apóstolos demonstram várias vezes. “Do Senhor vem a salvação” (Jn.2.9).
"Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef.2.9).
Somente quando compreendemos tudo isso é que entendemos o que significa ser
salvo pela graça e podemos louvar a Deus juntamente com Paulo, humilhados e
agradecidos diante do Trono da Graça: “Ó profundidade das riquezas, tanto da
sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? Ou
quem foi o seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele para que lhe
seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm.11:33-36) .
Depois de tudo isso talvez você volte à preocupação inicial sobre a graça
transformada em dissolução. Pois se a salvação não depende em nada de nós,
parece que podemos fazer o que quisermos e isso não fará diferença nenhuma. Mas
Paulo responde a essa questão no capítulo 6 de Romanos, demonstrando que não
é possível que aqueles que foram salvos continuem a viver no pecado, porque
eles estão unidos com Cristo em Sua morte e ressurreição. Eles não apenas foram
justificados, mas também regenerados. A velha natureza dos cristãos foi
crucificada e agora eles têm uma nova. Não são mais servos do pecado, mas da
justiça (Rm.6.18). O prazer deles não é mais o pecado, mas a santidade.
A obediência e as boas obras surgem agora naturalmente, frutos de um coração
que foi transformado por Deus: “Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para
as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”
(Ef.2.10). Assim como uma árvore boa produz bons frutos, um verdadeiro
cristão produz boas obras (Mt.12.33).
Isso não significa que os que foram salvos não pecam mais, pois o próprio
apóstolo João reconhece que isso ainda irá acontecer: “Se dissermos que
não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós
[...] Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não
está em nós” (I Jo.1.8,10). Então, nós podemos perder a nossa
salvação, devido aos pecados que ainda cometemos? Não, e nessa mesma passagem João
apresenta a solução: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça [...] Meus filhinhos,
estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; E, se, alguém pecar, temos
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação
pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o
mundo” (I Jo.1.9; 2.1-2). O sacrifício de Cristo é suficiente para nos perdoar de todos os
nossos pecados, passados, presentes e futuros. Além disso, Jesus ainda está
diante do Pai, como nosso Advogado.
Mas e se não confessarmos os nossos pecados a Deus, seremos perdoados? Primeiramente,
aquele que foi verdadeiramente salvo confessa seus pecados a Deus. Isto é
natural para ele. No entanto, é óbvio que há muitos pecados que
cometemos e não lembramos. E é possível que um salvo morra sem ter
confessado seus últimos pecados. Em tais casos obviamente a pessoa é perdoada,
porque o perdão não está alicerçado em sua confissão, mas na obra objetiva de
Cristo em Sua vida e morte. Nossos pecados foram imputados sobre Cristo e
Ele já levou a condenação por eles. Por outro lado, a justiça de Cristo é
imputada a nós quando cremos, e graças a isso recebemos a vida eterna.
Retomando o que já foi dito, “Portanto, agora nenhuma condenação...” (Rm.8.1).
Se nossa salvação dependesse em algum momento de nossas obras todos estaríamos
perdidos, pois mesmo as nossas melhores obras que praticamos como cristãos
ainda são imperfeitas. Quantas vezes ajudamos o nosso próximo com o fim de
cumprir o mandamento de Cristo de amarmos o nosso próximo como a nós mesmos,
mas quando olhamos para dentro de nós encontramos uma raiz de interesse
próprio? Quantas vezes nós, que somos ministros de louvor, fomos tomados de
orgulho em meio à adoração, pelo fato de Deus nos usar como instrumentos para
edificação da igreja? Sejamos sinceros, mesmo as nossas melhores obras não
chegam aos pés do que é exigido pela lei de Deus: "Conforme ao
mandado da lei que te ensinarem, e conforme ao juízo que te disserem, farás; da
palavra que te anunciarem te não desviarás, nem para a direita nem para a
esquerda". Citando novamente o profeta Isaías: “Mas todos nós
somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Is.64.6).
Resumindo tudo o que foi dito até agora, a salvação depende inteiramente de
Deus e é totalmente pela Sua graça, sem nenhuma contribuição de nossa parte.
Todas as demais coisas que você escreveu em seu comentário, falando sobre a
necessidade do cristão se santificar, foram respondidas por tudo o que eu disse
acima. A santificação não é a causa de nossa salvação, mas uma conseqüência.
Só se santifica quem já foi salvo. E quem já foi salvo
necessariamente se santifica. Por isso, todo aquele que foi salvo verá a Deus e
pode ter certeza de sua salvação. Jesus já fez tudo por nós. Portanto,
descansemos n’Ele pela fé.
Meu desejo é que este texto possa esclarecer essas verdades a você e a todos os
cristãos que, por não compreenderem a graça de Deus e a justiça de Cristo,
ainda vivem temendo a morte e o inferno!
“Ora,
àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos
irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus
sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora,
e para todo o sempre. Amém”. (Jd.24-25)
Abraços,
André Aloísio
O principal dos pecadores (I Tm.1.15)
Todas as
citações bíblicas são da ACF (Almeida Corrigida Fiel, da SBTB). As ACF e ARC
(ARC idealmente até 1894, no máximo até a edição IBB-1948, não a SBB-1995) são
as únicas Bíblias impressas que o crente deve usar, pois são boas herdeiras da
Bíblia da Reforma (Almeida 1681/1753), fielmente traduzida somente da Palavra
de Deus infalivelmente preservada (e finalmente impressa, na Reforma, como o
Textus Receptus).
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo
link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
(retorne a http://solascriptura-tt.org/ SoteriologiaESantificacao/
retorne a http:// solascriptura-tt.org/ )
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.