Charles Hunt
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Essa questão tem motivo de muita discussão há séculos, e a muitos cristãos
ainda faltam argumentos bíblicos que comprovem o destino celestial dessas
pessoas muito estimadas. Deus, na sua sabedoria, poderia ter escondido a
resposta bíblica daqueles que a esmagariam debaixo de seus pés e a rasgariam,
criando um jogo de confusão, mas isso não é consistente com o caráter de Deus
revelado na Bíblia, que ele poderia privar crentes sinceros dessa informação,
dentre os quais alguns têm perdido seus preciosos pequeninos, com pesar.
Se não podem ser encontradas afirmações diretas sobre o assunto nas sagradas
escrituras de Deus, a resposta, então, deve ser encontrada em princípios
bíblicos claramente estabelecidos, que podem ser adequadamente aplicados ao
caso em questão. Em Romanos, capítulo nove, um lugar não esperado, encontra-se
um princípio válido e convincente. É aqui, nesse trecho em que muitos pensam
estar sendo delineado um Deus severo e irracional, que encontramos o maior
glorioso Deus de misericórdia. Esse capítulo é provavelmente uma das passagens
menos compreendidas e menos aceitas de toda a Bíblia, mesmo contendo uma pérola
preciosa de verdade com um peso substancial sobre o assunto.
Começando pelos versos 10-13, vemos o apóstolo Paulo procurando descartar as
obras como base sobre a qual Deus confere misericórdia. Jacó e Esaú eram
igualmente pecadores por natureza no ventre de Rebeca, quando Deus tornou
conhecido a ela o decreto de que Jacó seria a semente da promessa e recebedor
da misericórdia de Deus (Gênesis 25:21-23; Salmos 51:5). É plenamente sabido
que a escolha feita por Deus resulta do seu propósito de trazer glória para Si
mesmo, e não de alguma previsão dos feitos deles. Não foi a previsão das ações
e das obras do homem a motivação para Sua escolha dentre aqueles que Ele
salvaria, mas sim um conhecimento prévio que fluiu do propósito eterno de Deus
e amor eletivo (veja o versículo 13). O apóstolo afirma ainda, "Porque os que
dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
filho"
(Romanos 8:29). Esse é um ponto importante porque, se Deus tem que prever o
arrependimento e a fé de uma pessoa, o que acontece com aqueles que morrem no
ventre [de suas mães] ou na infância?
Nossa natureza pecaminosa herdada da concepção é digna da ira de Deus por toda
a eternidade, mas nosso texto mostrará que, se alguém, possuindo tal natureza,
é brecado pela morte antes que possa manifestar uma resistência pessoal
consciente a Deus, torna-se manifestadamente um vaso de misericórdia. Deus viu
a ambos Jacó e Esaú necessitados de misericórdia quando a graça eleita foi
atribuída a Jacó e retida em relação a Esaú. Fora da misericórdia de Deus, não
há esperança. O próprio arbítrio e determinação do homem são inúteis (verso
16).
Assim como Jacó é um caso clássico da graça de Deus e representa todos os
eleitos, o Faraó é um exemplo clássico de todos aqueles sobre quem Deus
exercitará sua ira. Esaú caiu nesta última categoria, mas é mencionado em nosso
texto para mostrar a benevolência da escolha de Jacó feita por Deus. Deus tinha
um exemplo melhor para demonstrar seus propósitos com relação a Sua santa ira
por meio do infame Faraó.
Deus permite que a natureza pecaminosa de alguns floresça como objetos de ira,
sobre os quais obtém glória. O versículo 17 mostra que Deus por muito tempo foi
longânimo para com a maldade crescente do Faraó, tornando-se este objeto da ira
de Deus. É crucial o entendimento do versículo 18 para compreender o princípio
sobre o qual essa passagem se constrói. Toda a raça humana se inclui nesse
pronunciamento inspirado por Deus no versículo 18. Não há uma pessoa sobre a
Terra que morre sem ser ou um vaso de misericórdia ou um vaso de ira. Ou se
experimenta a obra regeneradora do Espírito ou se permanece no processo de
endurecimento do coração. O "mesmo barro" de que se fala no versículo
21 é uma referência a toda a humanidade em seu estado de queda. O barro tem
qualidades inerentes que incluem seu endurecimento. Deixá-lo em seu estado
natural e admitir sua existência o levará ao endurecimento. O endurecimento é
atribuído a Deus, mas esse é um trabalho negativo [isto é, o trabalho de não
agir, não interferir] porque Deus permite que alguns continuem em sua natureza
arruinada até que ela manifeste resistência à justiça de Deus. Se o processo de
endurecimento do coração não é parado, tem-se uma prova de que se trata de um
vaso de ira. Se o processo de endurecimento é interrompido em alguém sobre quem
antes tinha domínio, tem-se evidência de que se trata de um vaso de
misericórdia. Apenas a graça de Deus manifestada em si mesma no novo nascimento
pode interromper a influência do endurecimento da natureza decadente do homem
(Efésios 2:1-10).
Deus não colocou uma maldade nova no coração do Faraó e nem mesmo no coração de
qualquer um. "Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada
um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência" (Tiago 1:13b-14).
O pecador não ajudado pela graça da eleição de Deus continuará em seu
endurecimento até que alguma medida da horrível resistência à justiça de Deus
apareça. Todos os humanos são, estando no processo de endurecimento, um vaso de
ira, ou, estando sob o trabalho de regeneração que pára o endurecimento, um
vaso de misericórdia.
Os vasos de ira devem ser encaminhados para a destruição (a punição eterna
resultante do julgamento procedido por Deus). Nenhum vaso que não foi preparado
para a destruição terá parte no julgamento de Deus com vistas a destruição
(verso 22). Nenhuma pessoa perdida deixa de ir para o inferno se não tem sido
objeto da paciência e da longanimidade de Deus. Nem todos serão submetidos à
mesma medida de ira, assim como nem todo vaso de misericórdia manifestará o
mesmo grau de absolvição. Romanos 2:3-6 ensina que, quanto mais o coração de
alguém resiste ao arrependimento, mais a ira de Deus recairá sobre ele.
Em Mateus 18:1-6, Jesus usa crianças como ilustração de algumas qualidades que
existem no reino de Deus. O que foi que Jesus viu nessas crianças? Não uma
natureza pecaminosa, porque todos são pecadores desde o tempo de sua concepção.
Aquilo a que Jesus se referiu nas crianças foi essa falta de resistência
consciente, o processo de endurecimento falado em Romanos, capítulo nove. O que
há em comum entre o salvo e as crianças? Ambos têm uma natureza pecaminosa, a
regeneração também tem uma natureza sagrada que exercita um poder que breca o
processo de endurecimento, tornando-o como as crianças. Aquilo que comumente se
chama idade da responsabilidade é, na verdade, aquele ponto na vida quando a natureza
de uma criança pecadora conscientemente, isto é, pessoalmente, resiste em
testemunhar a justiça de Deus. Deve ser observado que o argumento desenvolvido
neste parágrafo recai não sobre a falta de responsabilidade de um bebê ou uma
criança, mas sobre a prova de que são recebedores de misericórdia.
Aqui está a pérola preciosa encontrada em Romanos nove que responde nossa
pergunta. Se Deus, que sustenta a vida de todos em Suas mãos, escolhe tirar
desse mundo alguém cuja idade, entre a concepção e a morte, não lhe permitiu
tempo para experimentar esse duro processo, não é digno da ira de Deus, e,
conseqüentemente, é um vaso de misericórdia. Deus não receberia glória de
alguém que não foi justamente preparado para o inferno. A longanimidade de Deus
não é mostrada em ação até esse duro processo começar. Se alguém morre antes
desse duro processo começar a tomar lugar, cai na categoria daqueles que são
vasos de misericórdia. Ninguém merece a salvação, nem mesmo aqueles que ainda
estão no ventre [de suas mães]. Mas há um grupo que deixa esse mundo antes
mesmo que lhe possa ser dito que, aos olhos de Deus, cometeu alguma bondade ou
maldade como uma ação pessoal conscientemente contra Deus. É nessa categoria
que Jacó e Esaú estavam quando ainda estavam no ventre. Nos ensinamentos de
Jesus concernente ao reino, no qual usou crianças como seus objetos de
comparação, parece evidente que jovens crianças, pecadoras por natureza, podem
também estar nesse grupo.
Todas as pessoas, sem exceção, quando morrem, morrem como alguém que é vaso de
misericórdia ou vaso de ira. O princípio de verdade ensinado em Romanos nove
estabelece que jovens e crianças que morrem antes que seus corações comecem a
robustecer contra a Deus incluem-se na categoria daqueles sobre quem Deus
mostrou misericórdia. A morte deles testifica que Deus deve tê-los preparado
instantaneamente para o céu através da limpeza e regeneração, sabendo que
morreram despreparados para a ira. Mateus 21:16b é uma conclusão adequada,
"pela
bocas dos meninos e das criancinhas no peito tiraste o perfeito louvor". O louvor deles
pela glória de Deus será ouvido no céu, não no inferno.
Autor:
Pr Charles Hunt
Pastor
Charles Hunt é pastor da Igreja Batista Pleasant View, Bromley, Kentucky
Tradução:
Albano Dalla Pria, 2002
Revisão:
Calvin G Gardner, 2004
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
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