Hebreus 6:4-8 e Hebreus 10:26-31.


Pode o crente perder sua Salvação, de acordo com Hebreus 6:4-8?


“4 Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, 6 E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. 7 Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; 8 Mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.” (Hb 6:4-8 ACF)






1.) Se o verbo "recair" quer dizer "pecar", então, ninguém jamais se salvou. E ninguém jamais se salvará, porque quem não peca?

Qual o crente que não peca todos os dias? A própria Bíblia admite essa eventualidade (Prov.24:16) e em suas páginas encontramos pecados dos discípulos de Cristo:

Pedro pecou ao negar a Jesus.

A aceitar-se a interpretação apostasista de Hebreus 6:4-8 tornou-se impossível para Pedro ser outra vez renovado para o arrependimento.

Ai você pode dizer:

Mais Pedro ainda não havia sido batizado com o Espírito Santo.

Bem, Pedro muito tempo depois, na carta aos Gálatas cometeu o mesmo pecado, e [isto foi] muito tempo depois de Pentecostes. Depois de haver ele presenciado por muitas vezes a manifestação do poder de Deus, inclusive na ressurreição de Tabita, o seu pecado de dissimulação, de hipocrisia, de carência de convicção, fê-lo merecer de Paulo áspera repreensão (Gal.2:11).

Se se admitir a interpretação apostasista, nem [mesmo] Pedro está no céu. Foi-lhe inútil o sacrifício de Cristo. Ou Cristo teria voltado à terra e Se submetido a novo virtupério só para reabilitar Pedro.

Essa interpretação assaz exorbitante expõe o sacrifício de Cristo à ineficácia.

Se ela fosse certa e verdadeira, quem se salvaria? Cristo teria que estar morrendo a cada instante de cada dia e em favor de cada crente.



2.) Entendendo-se aquele verbo "recair" do v.6 por "pecar", é o caso de também se perguntar:

O que é pecado? Todos os pecados? O de adultério? O da embriaguez? O do roubo? O do homicídio? O da mentira ? O da irreverência no Culto? O da gula ? O da ociosidade? O da omissão ?

O texto não alude a qualquer espécie de pecado.

Portanto, se "recair" significa "pecar" trata-se de todo e qualquer pecado.

Esta sinonimização torna absolutamente impossível a salvação para qualquer pessoa, de vez que todos os crentes estão sujeitos à contingência de pecar. E voltamos à absurda conclusão da ineficácia do Sacrifício de Cristo.



3.) O texto, contudo, não trata de crentes. Graças a Deus!

No capítulo anterior a Epístola aos Hebreus foi endereçada a três espécies diferentes de seus destinatários: os crentes dedicados, os acomodados e os nominais (os "falsos irmãos" - II Cor.11:26).

Nos três últimos versos do capítulo 5o. Paulo menciona os "negligentes", "sempre necessitados de leite", usando o verbo na segunda pessoa do plural: "vos fizestes negligentes" (5:11), "ainda necessitais", "E vos haveis feito tais que necessitais" (5:12).

Mas, quando o Apóstolo passa a falar sobre os nominais, emprega o verbo na terceira pessoa: "os que já uma vez foram iluminados, e provaram... e se fizeram (6:4)....e provaram (6:5)...e recaíram...crucificam...expõe (6:6).

Nesses versículos dirigidos aos "falsos irmãos" ele não usa os verbos na segunda pessoa. Ele não diz: vós que uma vez fostes iluminados, e provastes, e vos fizestes, e recaistes, crucificais, expondes.

Tendo encerrado a brutal advertência para os "quase induzidos", a partir do v.9 retorna a se dirigir aos verdadeiros crentes, falando-lhes outra vez na segunda pessoa do plural: "mas vós" (6:9), "da vossa obra", "mostrastes", "servistes", "servis" (6:10).

Dirigindo-se aos verdadeiros crentes o escritor emprega a primeira pessoa do plural, do presente do indicativo, incluindo-se entre eles: "prossigamos" (6:1).

Nesse quadro das Escrituras ressaltam-se duas distintas categorias de pessoas: os crentes e os nominais. Entre o v.1 e os vv.4-8 de Hb 6, ocorre profunda diferença de experiência.



4.) - Os "quase-induzidos", ou os nominais ou "falsos irmãos" gozam de excelente oportunidade caracterizada pelas seguintes circunstâncias lembradas no texto, embora a experiência haja sido incompleta, de vez que não quiseram dar o passo definitivo da conversão.

Preferiram permanecer no subúrbios dela:

a) - "FORAM ILUMINADOS"
- Jesus Cristo é a Luz do mundo (Jo.8:12). A Luz Universal. João, no Prólogo do seu Evangelho, diz que o Verbo é a luz que resplandece nas trevas (1:5). Ele emprega o mesmo verbo de Hb.6:4 quando informa: "a Luz Verdadeira, que alumia a TODO O HOMEM que vem ao mundo (1:9).
Então todos são crentes? Estão todos salvos? Não! Mas, todos podem dela se beneficiar se A aceitarem. A todos a Luz do mundo é oferecida. O próprio escritor João reconhece que "o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam" (1:10-11). Só se tornam filhos de Deus os que recebem Jesus Cristo (1:12), conquanto haja Ele vindo para alumiar a TODO o homem.

b) - "PROVARAM O DOM CELESTIAL", ou seja, a Graça de Deus.
"Porque a Graça de Deus se há manisfestado, trazendo salvação a TODOS os homens" (Tt.2:11). " Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a Graça de Deus, e o dom pela Graça, que é dum só Homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos...por só um ato de Justiça veio a Graça sobre TODOS os homens para justificação de vida" (Rm 5:15,18). " E TODA A CARNE verá a salvação de Deus" (Lc.3:6), dizia João o Batista.

É a vontade UNIVERSAL salvífica de Deus que "quer que TODOS OS HOMENS sejam salvos e venham ao conhecimento da Verdade" ( I Tm.2:4). O Espírito Santo que opera desde o início na conversão do pecador é chamado em Hb.10:29 de "ESPÍRITO DA GRAÇA". Ao Espírito da Graça", compete convencer o MUNDO do pecado (Jo.16:8).
Há profunda diferença entre convicção e arrependimento do pecado. Quantos se convencem dos seus pecados, mas deles não se arrependem! Impedem que o Espírito Santo complete a obra da conversão.
A obra de convencer do pecado também é UNIVERSAL. Jesus disse que o Espírito Santo "convencerá o MUNDO do pecado" (Jo.16:8). Toda a pessoa a cometer certas iniquidades se convence de que errou. É a Graça de Deus. Ela, nesta circunstância, prova o dom celestial.
Lamenta-se contudo o triste fato muito comum de a maioria não se arrepender de verdade.

c) - "E SE FIZERAM PARTICIPANTES DO ESPÍRITO SANTO". Provar do dom celestial da Graça é participar do Espírito Santo (Gn.1:2 - Jó 26:13 - Sl.104:30).
No domínio espiritual, de modo particular, a operação é toda atribuída ao Espírito Santo de Deus. Receber o seu influxo é pois participar dEle. Ele age nas consciências de todos os homens, até dos piores bandidos, sem que, contudo, a maioria permita levar Ele a cabo a sua atuação culminante com a genuína regeneração.

d) - "E PROVARAM A BOA PALAVRA DE DEUS". No conjunto de tantas circunstância muitos pecadores ouvem a Palavra de Deus. Provam-na. Convencem-se dos seus pecados. A atuação do Espírito da Graça é sensível. Mas voltam atrás. Muitos até permanecem anos e anos entre os crentes sob a influência da Palavra de Deus e dela desfrutando em cada mensagem ouvida.

e) - "PROVARAM...AS VIRTUDES DO SÉCULO FUTURO" Foi a experiência do governador Félix. No seu longo processo judiciário Paulo se defrontou com várias autoridades, dentre as quais Félix. No seu depoimento aludiu à sua esperança quanto às "virtudes do século futuro", isto é, à "ressurreição de mortos, assim dos justos como dos injustos" (At. 24:22-24). O governador se interessou por ser melhor informado do "Caminho" e quis ouvi-lo mais "acerca da fé em Cristo" (At.24:22-24). Félix se iluminara da doutrina, provara o dom da Graça tanto assim que quis ouvir mais e com todo o interesse, tornando-se, portanto, participante do Espírito Santo da Graça ao provar da boa Palavra de Deus. Dava ele todos os passos para a sua genuína conversão. Ouviu do Apóstolo ainda sobre "as virtudes do século futuro", isto é, "da justiça, e da temperança e do juízo vindouro" (At.24:25). Félix é o exemplo típico do "quase-induzido" de Hb.6:4-5. Voluntariamente, porém, rejeitou a salvação oferecida. Sua avareza, porque contava com propinas para libertar o Apóstolo, o impediu de se arrepender e confiar em Jesus Cristo.

Nestes dois versículos de Hb. 6:4-8 em que o escritor sacro descreve o evangélico nominal não existe qualquer alusão ao arrependimento e à fé salvadora em Cristo. Há apenas referência aos preâmbulos da conversão total.



5) - No v.6 o nosso Texto diz: "DEPOIS CAÍRAM" ou "RECAÍRAM".

O sentido desse verbo, segundo o grego original, não é o de "cair de novo" ou "cair outra vez", mas sim o de "SAIR PARA UM LADO", "ESGUEIRAR-SE DO CAMINHO", "DESVIAR-SE DO CAMINHO RETO", ESQUIVAR-SE".

O nosso sertanejo paulista e mineiro quando na discussão de um assunto que o pode complicar ou no fuxico de uma notícia que o pode envolver, diz: "saltei de banda".

Trata-se em nosso estudo de um desvio intectual, de "um saltar de banda" da Verdade do Evangelho. É a renúncia voluntária do conhecimento da Verdade (Hb. 10:26). É o "pisar o Filho de Deus", é o "tomar por profano o Sangue do Testamento", é o fazer "agravo ao Espírito da Graça" (Hb.10:29).

Aquelas pessoas depois de receberem tanto, descuidadas de atingirem a verdadeira conversão, abandonaram o Cristianismo e voltaram ao judaísmo.

Não se trata, pois, de alguma fraqueza ou de um pecado em que caíram.

É um ato específico e determinado da vontade pelo qual o crente nominal rejeita em definitivo o Plano da Salvação.

O termo grego "PARAPESONTAS", empregado nesta passagem e que quer dizer "CAIR PARA UM LADO", "DESVIAR-SE DO CAMINHO RETO", corresponde ao verbo "APOSTANAI" (=AFASTAR-SE) donde a palavra apostasia, que consiste no abandono, na defecção da fé, tomada no sentido de doutrina do Evagelho.

Nas Escrituras a palavra fé pode ser tomada em duplo significado: confiança e conjunto de doutrinas.

A fé-confiança o crente nunca perde. Quem confiou em Jesus Cristo como o seu Único Salvador, jamais deixará de confiar nEle.,

A apostasia ocorre quando alguém se afasta dos ensinos das Escrituras.

O indivíduo que ouve o Evangelho e, em defluência, é iluminado, prova a Graça, participa da atuação do Espírito Santo que o convence do pecado e prova a virtude do mundo vindouro como no caso do governador Félix, e antes de atingir 'a plenitude da conversão (=arrependimento e fé em Jesus como Único Salvador) afasta-se de tudo, escapa da influência da Verdade do Evangelho, apostatou retirando-se para a perdição.



6.)- Esses nominais que receberam todos os favores divinos mencionados nos vv.4-5, recuando para perdição, incorrem numa gravíssima dificuldade.

Renunciam voluntariamente o Plano de Salvação e como [POIS] poderão ser renovados para o arrependimento?

"RENOVADOS PARA O ARREPENDIMENTO" quer dizer retornar ao anterior estado de interesse quando chegaram à beira da conversão.

Revela frisar que eles, conquanto atingidos por tantas bênçãos e se aproximando do reino, não haviam chegado ao arrependimento. Estiveram naquela situação de "tão perto do reino mas sem salvação".

Com a apostasia o autor sagrado assegura a impossibilidade de renovarem a situação espiritual anterior que os propicie a luz suficiente para o arrependimento, a fim de que mudem sua atitude mental. Jamais se renovarão para que se arrependam.

É impossível este renovamento para que se arrependam porque aos apostatarem estão se identificando como os algozes crucificadores de Jesus Cristo, expondo-O ao virtupério. É este o significado da expressão: "estão crucificando de novo o Filho de Deus" (v.6), pois é evidente que não se repete jamais o fato da cruz.

Expô-lo ao ludíbrio ou ao virtupério é porque a apostasia O ofende e O deprecia publicamente como contra Ele se comportaram os algozes ao escarnecerem dEle (Mt.27:39-44).

Esse afastamento de Cristo com a renúncia do Seu Plano Salvífico é o pecado irremissível contra o Espírito Santo (Mt.12:31-32).

Na parábola das dez virgens encontram-se as cinco insensatas que se viram privadas de nova oportunidade (Mt.25:1-13).

Na parábola das bodas há um conviva a participar das festas nupciais. As circunstâncias agraciaram-no sobremodo, mas foi excluído sem qualquer oportunidade por lhe faltar vestimenta adequada (Mt.22:11-13).

Na parábola do semeador há um tipo de coração semelhante aos pedregais. Ouve a Palavra e, "LOGO COM PRAZER"  a recebe (Mc.4:16). Estes, porém, "não tem raiz em si mesmos, antes são temporãos, depois sobrevindo A TRIBULAÇÃO ou PERSEGUIÇÃO por causa da Palavra, logo se escandalizam" (Mc.4:17). Escandalizados abandonam os primeiros influxos do Espírito Santo e retornam à vida antiga.

Ao relatar a situação destes corações semelhantes aos pedregais, de certo, Jesus já prognosticava aquele grupo dos destinatários da Epístola aos Hebreus.

E a condição deles se torna pior do que a anterior. Pior "porque àquele que tem se dará e terá em abundância, mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt.13:12).

E o demônio retorna a essa pessoa. "Acha-a varrida e adornada" porque aquela influência espiritual promoveu-lhe certa limpeza e lhe reparou alguns estragos deixados por pecados anteriores. "Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam alí, e o último estado desse homem é pior do que o primeiro" (Lc.11:26).

Essa dolorosa experiência se repete a cada dia.É se ter olhos para ver!

EM CONCLUSÃO:  a períscope de Hb. 6:4-8, mesmo considerada em si mesma, separada do seu contexto e fora do teor de todas as Escrituras sagradas concernentes à Vida Eterna, não permite fundamentação alguma para se afirmar as hipóteses da amissibilidade da salvação para o crente na contingência de pecar e da possibilidade de perder ele a fé em Jesus Cristo.

Deus nosso Senhor, todavia, permitiu Hb.6:4-8 como uma esplêndida oportunidade de provarmos a nossa fé na segurança da Sua gloriosa promessa fundamentada em solene juramento.

Fim do comentário da passagem de Heb.6:4-8

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E Hebreus 10:26-31?

“26 Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, 27 Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários. 28 Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. 29 De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça? 30 Porque bem conhecemos aquele que disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. 31 Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10:26-31 ACF)



Hebreus 10:26-31 é a conclusão de Hb.6:4-8.

Nesta última passagem o autor sacro enfileira os grandes favores concedidos ao cristão nominal e apresenta o motivo pelo qual ele jamais poderá ser salvo se, evitando a conversão, descambar para a apostasia, ou seja, se, desprezando tantos benefícios espirituais, der as costas a Jesus Cristo ao invés de aceitá-Lo em definitivo como seu Salvador Único. Só no v.8 há uma suscinta alusão aos castigos decorrentes da rebeldia.

Já Heb 10:26-31, conquanto mencione com vivas pinceladas em expressões contudentes a apostasia, se alonga em considerar os pavorosos castigos.

As duas períscopes, portanto, se completam.



a) Paulo, ao longo dos capítulos da Epístola, objetivou fortalecer as convicções dos seus destinatários sujeitos a uma conjuntura de indizíveis provações a fim de se manterem fiéis ao Evangelho por ser Este muito Superior ao Judaísmo.

O Evangelho é muito mais excelente por ser Jesus Cristo infinitivamente superior a Moisés e aos anjos. O sacerdócio de Cristo é infinitivamente Superior ao sacerdócio da Antiga Aliança. O sacrifício de Jesus Cristo é infinitamente superior aos sacrifícios do culto mosaico.

Do v.1 do capítulo 8 até o v.18 do capítulo 10 o Apóstolo desenvolve um profundo tratado de teologia do Sacrifício de Cristo, com o Qual Ele efetuou o Seu sacerdócio.



b) - É nessa tessitura teológica sobre a unicidade do sacrifício do redentor que, aplicando os princípios para a vida prática, em outras digressão, alude aos castigos que serão cominados contra os que pisam o Filho de Deus, tendo por comum o Seu sangue e agravado o Espírito da Graça.

Frequentadores das igrejas da Judéia haviam com o perigo de se deixarem mover pela lembrança da suntuosidade do culto mosaico o qual no passado praticaram. Se retornassem a ele estariam considerando comum o sangue de Cristo (v.29), visto que o reputariam em nada acima do sangue dos touros e bodes.

As ofertas de animais, contudo, se repetiam por serem incapazes de remover o pecado (Hb.10:4), enquanto o sacrifício de Cristo foi oferecido uma única vez e pode salvar perfeitamente. Se alguém O despreza, renega-O, estará em definitivo perdido porque Ele não pode se renovar. Cristo não morrerá outra vez (9:25-26 - 10:14 - Rm 6:9).

Repelindo-se esse sacrifício de valor infinito não há outro que o possa substituir (v.26). Recusando-se o sangue pelo o qual Jesus nos obteve a "renovação eterna" (9:12) e com o qual sancionou a Nova Aliança (9:15-18), JÁ NÃO EXISTE NENHUMA OUTRA PERSPECTIVA SENÃO A DO TERRÍVEL JUÍZO DIVINO (V.27).



c) - Em versículo algum de Hb.10:26-31 o autor dá qualquer margem a se ler pelo menos nas suas entrelinhas uma informação quanto à não-perseverança do crente. Ele, isto sim, discorrendo sobre os pavorosos castigos dos apóstatas, confirma a unicidade do sacrifício de Cristo por ser de valor infinito e infinitamente superior aos sacrifícios do culto da aliança caduca.



d) - Ao analisarmos o Texto em si consideraremos o próprio pecado e os castigos dele decorrentes.

( A )

Em Hb.6:4-8 Paulo Apóstolo minuciou os dons concedidos por Deus aos cristãos nominais. Em Hb10:26,31 menciona o pecado em si.

Ele, a partir de 10:19, está exortando os verdadeiros crentes. E do v.26 ao 31, numa nova digressão passa a falar aos "quase-induzidos" a fim de lhe mostrar a situação de perigo que se encontram e de estimulá-los a uma pronta e legítima conversão evangélica.


a) - "SE PECARMOS" (v.26) - É uma suposição. Uma hipótese inexequível para o crente na circunstância de pecar para perder a salvação.

Paulo usa a primeira pessoa do plural numa forma literária de argumentar. Um pregador ao se dirigir a um auditório heterogêneo pode dizer, por exemplo: se nos envenenarmos, se fumarmos, se usarmos entorpecentes...É um modo de chamar a atenção dos ouvintes. É claro que ele não está afirmando que em pessoa fará uma dessas coisas.

A expressão: "SE PECARMOS" é uma suposição apresentada pelo futuro do subjuntivo do verbo.

Releva notar-se que não está no futuro do indicativo: PECAREMOS, o que denotaria disposição de pecar.

b) - "VOLUNTARIAMENTE" (v.26) - E escritor sagrado na língua original, ao sabor idiomático do grego, coloca este advérbio (ekousíos) em primeiro lugar na frase com o intuito de ressaltá-lo. É o mesmo vocabulário encontrado em I Pd.5:2 que também poderia ser traduzido por "espontaneamente", "livremente"

Esse advérbio destaca a contumacidade, a malícia do pecado de deserção.

Com efeito, o pecador recebeu de Deus todos os preâmbulos da fé: foi iluminado, provou o dom celestial, a boa Palavra de Deus e as virtudes do século futuro, fez-se participante do Espírito Santo (Hb.6-4-5). Sua apostasia, ou seja, o seu abandono de todos estes favores só é resultado de uma particular, pessoal e contumaz voluntariedade.

c) - 'DEPOIS DE RECEBIDO O CONHECIMENTO DA VERDADE" (v.27) - Não vem ao caso qualquer outro pecado senão só o da recusa da verdade do Evangelho no tocante ao autêntico sacrifício de valor expiatório infinito.

Este é o pecado imperdoável. Irremissível!

É a resistência à Graça do Espírito. É o pecado contra o Espírito Santo. É a blasfêmia contra Ele.

A blasfêmia é o máximo ultraje assacado contra Deus (Mt.12:32 - Mc.3:29).

Essa iniqüidade implica três aspectos:

O de atribuir a satanás as obras de Deus como faziam os fariseus procrastinadores sempre a exigir de Jesus sinais apesar de verem-no tantos (Mt.12:22-32 - Mc.3:22-30). O de fazer passar-Se por mentiroso, se se nega a segurança ou a preservervação eterna do salvo ("Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho, quem a Deus não crê MENTIROSO O FEZ, porquanto não creu no testemunho" quanto à vida ETERNA, é o "pecado para a morte", ou imperdoável.

E o de recusar em definitivo Jesus Cristo como Salvador único, fato este que significa atribuir a satanás as obras de Deus ao pisar o Seu Filho tendo por profano ou comum o sangue do testamento.

Aqueles antigos fariseus apesar de agraciados com o contemplar fisicamente o Mestre e presenciar a vista os Seus prodigiosos sinais, não tinham recebido os maiores dons que os cristãos nominais recebem.

Afinal de contas estes "quase-induzidos",  como resultado de tantas graças (Hb.6:4-8), tornaram-se "amigos do Evangelho" enquanto aqueles fariseus sempre foram inimigos acirrados de Cristo.

Incidiram no pecado irremissível de injúria ao Espírito Santo por acusarem Jesus Cristo de operar sob o impulso do diabo e por resistirem ao testemunho evidente dos Seus sinais.

Com mais vigorosos motivos cometem o pecado para a morte os "temporãos" do Evangelho quando dEle apostatam, pois foram participantes do Espírito Santo.

Contra este Espírito blasfemam eles porquanto Deus, pelo testemunho do Seu Espírito Santo, lhes tem revelado intimamente.

Assemelhou-os Jesus Cristo àquele servo mau e negligente a quem o Senhor dera um talento, que, pela sua incúria, se tornara inútil e réprobo das trevas (Mt.25:24-30).

O pecado imperdoável tratado nesta ocasião (Hb.10:26) é, por conseguinte, o da rejeição da Verdade depois de conhecê-la.

 

( B )
 

1) - Do pecado de defecção da Verdade do Evangelho as sanções são as mais pavorosas.

a) - Toda a sociedade bem organizada ao código civil anexa o código penal para as infrações da lei.

Por isso Deus promulgou sanções para a sociedade israelita da Antiga Aliança.

O Apóstolo menciona a penalidade máxima para os infratores de certos artigos da Lei: "QUEBRANDO ALGUÉM A LEI DE MOISÉS, MORRE SEM MISERICÓRDIA, SÓ PELA PALAVRA DE DUAS OU TRÊS TESTEMUNHAS" (V.28).

Naquele código veterotestamentário havia crimes passíveis de pena de morte: os pecados de contumaz malícia (Nm.24:13-16), as violações sexuais de adultério, incesto, sodomia e bestialidade (Lv.20:11-17), a insolência contra os sacerdotes (Dt.17:12), a profecia falsa (Dt.18:20), o homicídio voluntário (Nm.35:30), a idolatria (Dt.13:7-12 - 17:2-7), a feitiçaria (Êx.22:18), a maldição contra os próprios pais (Êx.21:17).

Nesse casos o criminoso, "SEM MISERICORDIA" era condenado à morte sob "a palavra de duas ou três testemunhas" (v.28), memora Paulo Dt.19:15.

b) - Será, porém, muito maior a inexorabilidade da punição contra quem comete o maior crime. Crime muito maior do que aqueles da velha legislação e que exigiam a pena capital: "DE QUANTO MAIOR CASTIGO CUIDAIS VÓS SERÁ JULGADO MERECEDOR AQUELE QUE PISAR O FILHO DE DEUS" (V.29).

"PISAR" ou pisotear, calcar, espezinhar, no grego original (katapatésas) tem algo de onomatopéico. Ao pronunciar o vocábulo grego tem-se a impressão de se estar ouvindo o sapatear do pisar ou conculcar com os pés.

"PISAR" é o ato de supremo desprezo, de aviltamento, de humilhação, de quando se calca sob os pés o sal insosso (Mt.5:13) ou de quando os porcos, animais imundos, pisam as pérolas preciosas (Mt.7:6).

A essa repulsa ao Filho de Deus depois de havê-Lo conhecido como Único Salvador, assemelha-se o gesto insano dos porcos que desprezam as gemas de alto valor.

c) - O apóstata considera "PROFANO O SANGUE DO TESTAMENTO" (v.29). Recusa-O como de valor propiciatório por tê-lO por comum, vulgar, vil. Renega o sangue redentor do homem e santificador do testamento (Ef.1;7 - Rm.3:25 - Cl.1:14,20 - Ap.1:5 - 5:9).

d) - O desertor da Verdade do Evangelho pisa o Filho de Deus, equipara o sangue do testamento ao sangue vil e comum e faz "AGRAVO AO ESPÍRITO DA GRAÇA" (v.29).

Lá em Hb.6:4-8, o autor da Epístola se refere às bênçãos outorgadas ao coração empedernido do "amigo" do Evangelho. Aqui ele procura demonstrar a extrema malícia desse "quase-induzido" na eventualidade de desprezar aquelas bênçãos ao procrastinar.

Esta resistência ao Espírito da Graça por haver este cercado o apóstata com a Sua gratuita benevolência.

e) - A tremenda realidade do castigo divino é ameaçada pela própria infalível Palavra de Deus: "POR QUE BEM CONHECEMOS AQUELE QUE DISSE" (v.30).


No Antigo Testamento se precisava do depoimento de duas ou três testemunhas. Agora a Palavra de Deus é além de suficiente.

A Palavra de Deus que disse: "Minha é a vingança, Eu darei a recompensa" (v.30). Expressões estas do Cantigo de Moisés (Dt.32:25)

E disse "outra vez: O Senhor julgará o Seu Povo" (v.30).

A punição cabe ao próprio Deus Justo!


2) - A pena é tão pavorosa que está fora do alcance da nossa imaginação. Tão indizível que a própria espera dela já se torna tremendo castigo.


a) - "UMA CERTA EXPECTAÇÃO HORRÍVEL DE JUÍZO" (V.27) - é o aguardo, a espera da chegada do Juízo. Angustiosa, ela é terrível e temível.

Tão horrorosa que Paulo nem sequer ousa qualificá-la ou defini-la. Restringe-se a designá-la genericamente de "UMA CERTA".

Já presenciei a morte de apóstata. De pessoas esclarecidas no tocante à verdade do Evangelho por elas "voluntariamente" (v.26) recusada. Sob o terror do Juízo iminente e pavoroso castigo!

Conquanto conheçam o plano de salvação e apesar da certeza do Juízo horrendo, cristalizadas para as penas eternas, são incapazes de se arrepender. Estrangula-lhes  a consciência em pânico a "ESPECTAÇÃO HORÍVEL DO JUÍZO".

b) - "ARDOR DE FOGO QUE HÁ DE DEVORAR OS ADVERSÁRIOS" (V.27) - é a realidade da punição muito mais terrível do que a expectação.

Este "ARDOR" ou "FUROR DE FOGO" é a pena da ira de Deus, o Qual castiga com fogo (Mt.25:41 - Mc.9:44, 46,48 - Ap.11:5). Fogo inextinguível (Is.66:24).

c) - A expectação do juízo é horrível (v.27). Porém supremamente "HORRENDA COISA É CAIR NAS MÃOS DO DEUS VIVO (v.31).

A perícope digretória é concluída com esta sentença inimaginável o cérebro humano.

Se é horrível a espera, a expectação da sentença em sua terribilidade ultrapassa todos os limites.

Se as mãos onipotentíssimas de Deus guardam o crente (Jo.10:28-29), essas mesmas mãos infinitamente justas e justiceiras vingarão o sangue do Cordeiro naquele que dEle apostatarem.

Davi numa circunstância de perplexidade angustiosa, quando ameaçado de disciplina por haver desagradado ao Senhor, alvitrou cair nas mãos de Deus, "Estou com grande angústia, porém caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as Suas Misericórdia, mas nas mãos dos homens não caia eu" (II Sm.24:14).

Com efeito, as mãos de Deus são paternais, são de misericórdia para com os crentes, os que pela fé evangélica, honram o sangue do Cordeiro. A Sua disciplina é de bênçãos e de recondução às sendas do crescimento na Graça.

São elas, contudo, de extrema vingança para os apóstatas.

Com o v.31, posto o fecho da digressão, nos vv, 32 e seguintes o escritor retoma o fio de suas exortações de cunho moral dirigidas aos genuínos crentes:"LEMBRAI-VOS, porem... (v.32).

E no v.39, para não deixar margem alguma a possíveis dúvidas, relembra a divisão entre os salvos e os "falsos irmãos" apostatados: "NÓS, porem, NÃO SOMOS DAQUELES QUE SE RETIRAM (apostatam) PARA A PERDIÇÃO, mas DAQUELES QUE CRÊEM PARA A CONSERVAÇÃO DA ALMA"





Retirado das páginas do Livro 268 a 277 do Livro  "O Crente Pode Perder a Salvação?" de 350 páginas. Edição "Caminho de Damasco Ltda - 1987.

www.gilsonsantos.com.br/pdfs/anibal_pereira_reis_doutrinas_da_graca.pdf


Dr. Anibal Pereira dos Reis (Ex-padre).
Outros livros do Dr. Anibal Pereira dos Reis
 Livros do Dr. Anibal:
http://www.desafiodasseitas.org.br/ex-padre-anibal.htm


 



Todas as citações bíblicas são da ACF (Almeida Corrigida Fiel, da SBTB). As ACF e ARC (ARC idealmente até 1894, no máximo até a edição IBB-1948, não a SBB-1995) são as únicas Bíblias impressas que o crente deve usar, pois são boas herdeiras da Bíblia da Reforma (Almeida 1681/1753), fielmente traduzida somente da Palavra de Deus infalivelmente preservada (e finalmente impressa, na Reforma, como o Textus Receptus).



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