‹‹A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo seja com todos vós. Amém›› (2Co 13.14 ACF)
Pr. Anísio Renato de Andrade
‹‹UM DEUS, TRÊS PESSOAS ››
● A doutrina da trindade é bíblica ou uma fantasia teológica?
Muitos cristãos estão acostumados com diversos conceitos teológicos, mas, se
alguém perguntar sobre o fundamento bíblico, pode não ser tão fácil demonstrar.
A palavra "trindade" não se encontra na bíblia. O termo foi criado
por Tertuliano, por volta do ano 200 d.C.. Este tem sido o argumento daqueles
que desejam negar a doutrina trinitariana, mas o fato de não existir a palavra
não garante a inexistência do conceito. Também não estão na bíblia as palavras:
arrebatamento, missionário, evangélico, milênio, espiritismo ou avivamento, mas
sabemos que os conceitos lá estão. Também não estão nas Escrituras as
expressões "José do Egito" ou "Santa Ceia", tão utilizados
pelos cristãos.
A trindade é um mistério divino. Embora possamos percebê-la nas Escrituras, sua
compreensão está além do raciocínio humano. Como três pessoas podem ser um só
Deus? Esta dificuldade aumenta a propensão à negação. É mais fácil duvidar da
doutrina para, finalmente, descartá-la, mas vamos estudar seus
fundamentos.
● MONOTEÍSMO JUDAICO
O politeísmo era a crença de muitos povos na época do Antigo Testamento. Até
Israel, embora cresse no verdadeiro Deus, também adorou outros deuses como
Moloque, Baal, Astarote etc. A idolatria, condenada pela lei mosaica e
repreendida pelos profetas, foi um dos motivos que levaram os judeus ao
cativeiro. Os que conseguiram voltar, estavam imunizados contra o politeísmo e
a idolatria. O monoteísmo tornou-se marca de Israel daí em diante. Portanto,
seria muito difícil que eles aceitassem a divindade de Jesus ou o fato de que
Deus seja composto por três pessoas. Entretando, a trindade não é politeísmo, conforme
demonstraremos a seguir.
● UNICISMO E UNITARISMO
Os unicistas crêem que Deus é uma pessoa só e que se manifestou de três formas
diferentes: Pai, Filho e Espírito Santo. Os unitaristas crêem que não existe
trindade, mas Deus e Jesus são pessoas distintas. Para eles, o Espírito Santo
seria apenas o Espírito de Deus, ou seja, o próprio Deus e não uma terceira
pessoa.
● ‹‹Procuraremos demonstrar neste estudo que a bíblia apresenta a
existência das três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), e que os três são
distintos, divinos e misteriosamente unidos. Nesta demonstração, refutaremos o
unicismo, o unitarismo, a seita das Testemunhas de Jeová e outras semelhantes››
● A EXISTÊNCIA DAS TRÊS PESSOAS
A realidade de Deus não evoluiu do Antigo para o Novo Testamento. A trindade é
eterna. O que progrediu foi a revelação, assim como um filho que adquire
lentamente o conhecimento sobre seu pai. A pluralidade que Deus contém em si
mesmo já se mostra no primeiro versículo da bíblia: "No princípio, criou Deus
os céus e a terra" (Gn 1.1). A palavra hebraica traduzida como Deus é
plural: Elohim.
Então, poderíamos traduzir assim? "No princípio, os deuses criaram os céus
e a terra"? Não podemos porque o verbo "criar" (barah) está no
singular. Enquanto o substantivo multiplica, o verbo unifica.
O mesmo acontece no relato da criação do homem: "Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26). Verifica-se agora o verbo
e o pronome no plural: "façamos" e "nossa". Há quem diga
que Deus falava com os anjos nesse momento. Entretanto, o verso seguinte une as
pessoas envolvidas ao dizer: "Criou Deus o homem, à imagem de Deus o
criou" (Gn 1.27). Novamente, o verbo criar está no singular, indicando um
só criador. Aquela imagem que era "nossa" é de um só. Além disso, o
homem não foi criado à imagem dos anjos. Então, eles não estão naquele plural
do verso anterior.
Chegando ao Novo Testamento, as evidências neste sentido tornam-se abundantes.
Mateus nos informa que, após o batismo, Jesus saiu das águas do Jordão, o
Espírito Santo veio sobre ele em forma de pomba, enquanto uma voz do céu dizia:
"Este é o meu filho amado em quem me comprazo" (Mt 3.16-17). O Filho
está ali, o Espírito Santo vem sobre ele, enquanto o Pai brada do céu. A
existência das três pessoas fica demonstrada inequivocamente, embora ainda não
tenha ficado claro nesse texto que os três sejam unidos em um só, mas veremos
isso na sequência.
● Podemos mencionar ainda outras passagens que mostram as três pessoas:
‹‹ Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo›› (Mt 28.19 – ACF).
‹‹A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo seja com todos vós. Amém›› (2Co 13.14 – ACF). Neste e em muitos outros
textos, a palavra "Deus" refere-se ao Pai.
‹‹E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco
para sempre; O Espírito de verdade...›› (Jo 14.16-17 – ACF)
‹‹Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse
vos ensinará todas as coisas...›› (Jo 14.26 – ACF)
‹‹Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para
a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo...›› (1Pe 1.2 – ACF)
‹‹Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito
Santo; e estes três são um›› (1Jo 5.7 – ACF)
‹‹Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a
glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus›› (At 7.55 – ACF)
‹‹Que seja ministro de Jesus Cristo para os gentios, ministrando o evangelho de
Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito
Santo›› (Rm 15.16 – ACF)
● As três pessoas são mencionadas também (At 10.38; At11.16-17;
Rm14.17-18; Rm1.4; 1Ts 1.3-5; 1Ts 5.18-19)
‹‹Existem questionamentos sobre a autenticidade de (Mateus 28.19 e I João 5.7),
pois, segundo informações da alta crítica, esses versículos não estariam
presentes em todos os manuscritos do Novo Testamento, podendo ser acréscimos
posteriores. Entretanto, esta alegação de acréscimo ainda não foi provada por
ninguém››.
Mas, ainda que esses dois versos fossem desconsiderados (e não vamos fazer
isso), ainda restariam muitos outros textos e elementos que sustentam a
doutrina da trindade.
● A Trindade na salvação:
"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam
multiplicadas" (1Pe 1.2 ACF) – [grifo Meu Israel Reis].
A lei de Moisés, por exemplo, prevê uma série de situações que não se encontram
registradas nos textos históricos do Antigo Testamento. Então, podemos dizer
que elas nunca aconteceram e que aquelas leis foram desnecessárias? Não
podemos.
● Embora se diga que o mais antigo manuscrito do Novo Testamento em
que o verso de Mateus 28.19 se encontra seja do século IV, alguns pais da
igreja citaram o versículo em escritos anteriores. É o caso de Inácio de
Antioquia (35 a 107 d.C), Irineu (130 a 200 d.C.) e Tertuliano (160 a 225
d.C.). Tais citações não provam a existência do versículo, mas servem como
indício de que o versículo existia na versão de Mateus que eles tinham em mãos.
Não podemos provar isso, mas apenas considerar como possibilidade plausível.
● A ausência de um manuscrito anterior ao século IV não pode ser motivo
suficiente para rejeitarmos o texto de Mateus 28.19, pois não temos rejeitado a
bíblia como um todo pela ausência dos autógrafos (textos originais).
● O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA
Como teríamos três pessoas, se o Espírito Santo não fosse uma pessoa? Portanto,
este é um ponto importante na doutrina e precisa ser esclarecido. Há quem diga
que o Espírito é a "força ativa" de Deus. As Testemunhas de Jeová
tiveram a ousadia de alterar a própria bíblia (Versão Novo Mundo) para colocar
em Gênesis 1 essa expressão. Mas o Novo Testamento nos dá evidências de que o
Espírito Santo é uma pessoa. Uma pessoa tem sentimento, inteligência e vontade
própria, elementos que não se encontram numa força ou energia.
A bíblia nos mostra que o Espírito Santo tem todas estas características.
● Ele tem sentimentos:
‹‹E não entristeçais o Espírito Santo de Deus›› (Ef 4.30 - ACF)
● Ele tem vontade própria:
‹‹Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo
particularmente a cada um como quer›› (1Co 12.11)
‹‹Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo
algum, senão estas coisas necessárias›› (At 15.28)
Ele fala e dirige a igreja:
‹‹E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro›› (At 8.29)
‹‹E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a
Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado›› (At 13.2 – ACF)
● Parece que os apóstolos estavam lidando com uma força ou com uma
pessoa?
Além disso, o Espírito Santo intercede por nós
‹‹E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não
sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por
nós com gemidos inexprimíveis›› (Rm 8.26)
● O Espírito Santo falou por meio do profeta Isaías: At 28.25-26. Força
não fala.
● A INDIVIDUALIDADE DAS TRÊS PESSOAS
Existem nuances no texto que precisam ser observadas para não cairmos no
engano. Os unicistas admitem a existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
mas dizem que os três são, na verdade, uma só pessoa, ou seja, três
manifestações da mesma pessoa. Então, Jesus seria o próprio Pai encarnado. O
Espírito Santo seria o próprio Pai e também o Filho.
Se Jesus é o próprio Pai, por quê ele precisaria orar? Por quê elevaria seus
olhos ao céu para agradecer? Seria um teatro para impressionar e ensinar os
discípulos? De modo nenhum. Por quê ele diria então; "Deus meu, Deus meu,
por quê me desamparaste"? (Mt 27.46).
● ‹‹Por quê teria dito que "o Pai me enviou" (João 20.21) ou
"eu rogarei ao Pai para que lhes envie outro Consolador"? (João
14.16). Se os três fossem uma só pessoa, não haveria diálogo entre eles e um
não enviaria o outro. A palavra "outro", lida no texto de João 14.26,
mostra que não é o "mesmo". Então, são pessoas distintas››
● Estes textos também dizem que o Pai enviou o Filho: (Rm 8.3; I Jo 4.4).
São, portanto, pessoas distintas.
‹‹Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos
para ele, e faremos nele morada›› (João 14.23). Este versículo mostra que o
filho e o pai não são a mesma pessoa.
Quando Jesus diz "aquele Espírito da verdade" (João 16.13), fica
claro que não está se referindo a sim mesmo.
● A separação entre as três pessoas da trindade fica evidente no já citado
texto de Mateus 3:
‹‹E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus,
e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma
voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo›› (Mt 3.16-17)
● Vejamos ainda o que disse Jesus:
‹‹Eu falo do que vi junto de meu Pai...›› (João 8.38).
‹‹E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu
faço sempre o que lhe agrada›› (João 8.29). Seria muito diferente, se ele dissesse:
"Eu que me enviei estou comigo e não tenho me deixado só, porque faço
sempre o que me agrada". Não faria sentido.
● Estevão viu Jesus à direita do Pai. Então, são duas pessoas distintas.
Ele não estaria à direita de si mesmo (At 7.55).
● At 10.40 diz que Deus ressuscitou a Jesus. Então, enquanto um estava
morto, o outro estava vivo.
Jesus fez grande diferença entre a blasfêmia contra ele, que seria perdoada, e
contra o Espírito Santo, para a qual não haveria perdão. Portanto, são pessoas
distintas (Mt 12.32).
● É dito também que o Espírito Santo estava sobre Jesus e o conduzia (Mt
4.1 e Lc 4.1,18). Jesus estaria conduzindo a si mesmo? Se for isso, os textos
bíblicos prestam informações falsas.
● A DIVINDADE DAS TRÊS PESSOAS
A divindade do Pai é ponto pacífico. Nenhum crente discute isso. Geralmente,
quando o texto bíblico fala de Deus, está falando do Pai. Isso parece favorecer
a doutrina unitarista. Entretanto, devemos verificar se temos argumentos para
demonstrar biblicamente a divindade de Jesus e do Espírito Santo.
● A DIVINDADE DO FILHO é apresentada nas seguintes passagens:
Isaías profetizou que um menino seria chamado "Deus forte" (Is 9.6).
Esta afirmação maravilhosa e surpreendente aponta para a humanidade e divindade
de Cristo.
O mesmo profeta disse que o Messias seria chamado Emanuel, que quer dizer
"Deus conosco" (Is 7.14; Mt 1.23).
Temos ainda a abertura contundente do evangelho de João: ‹‹No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus›› (João 1.1).
Tomé declara que Jesus é "Senhor meu e Deus meu" (João 20.28).
Inúmeras vezes, Jesus é chamado de Senhor. Alguém pode dizer que o substantivo
"senhor" é apenas um tratamento respeitoso como o que usamos hoje com
qualquer homem adulto. Se fosse assim, não faria sentido o que Paulo escreveu
aos coríntios:
‹‹...ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo›› (ICo
12.3).
E aos Filipenses:
‹‹Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na
terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o
Senhor, para glória de Deus Pai›› (Fp 2.10-11 - ACF).
Portanto, este "Senhor" precisa ser algo muito acima do sentido
comum, uma referência à divindade de Cristo.
A seu respeito, João escreveu: "Este é o verdadeiro Deus" (IJoão
5.20).
Paulo se referiu a ele como ‹‹...glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus
Cristo›› (Tito 2.13).
No salmo 110.1, Davi escreveu: "Disse o Senhor ao meu Senhor". Se
Deus é o Senhor, como poderia haver dois na mesma frase? Jesus citou esse texto
em referência a si mesmo (Mt 22.41-46). O autor da carta aos Hebreus também viu
nesse salmo uma alusão a Cristo (Hebreus 1.13). A "amarração"
verificada entre Mateus, Hebreus e Salmos é muito importante na demonstração da
trindade na bíblia e, especialmente da divindade de Jesus Cristo. A única forma
de anularmos esta conclusão é jogando fora a bíblia.
Pedro começa assim sua segunda carta: "Simão Pedro, servo e apóstolo de
Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do
nosso Deus e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 1.1).
"Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos
a ele, e faremos nele morada" (João 14.23). Este versículo mostra apenas
duas pessoas: o filho e o Pai. Se Jesus fosse apenas homem, como ele poderia
fazer moradas nas pessoas?
A humanidade de Cristo não é negada pela afirmação de sua divindade. Ele possui
duas naturezas.
"Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com
seu próprio sangue" (At 20.28). Como Deus pode ter sangue? Trata-se do
sangue de Jesus. Portanto, Jesus é Deus.
● A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO
Já demonstramos que o Espírito Santo não pode ser uma força pois ele tem
características pessoais. Além disso, o tratamento que lhe é dado pelos
escritores do Novo Testamento nos fazem concluir que o Espírito Santo é
Deus.
Os unitaristas aceitam esta afirmação, mas sob outra ótica. Eles dizem que o Espírito
Santo é o próprio Deus e não uma terceira pessoa da trindade. Então, o Espírito
Santo seria o próprio Pai. Isso não combina com os textos já apresentados que
demonstram a individualidade das três pessoas. Já vimos que o Espírito Santo
foi enviado pelo Pai. Logo, são pessoas distintas. O Espírito Santo, embora não
seja o próprio Pai, é tratado como Deus nas Escrituras, conforme as seguintes
passagens:
Quando Ananias e Safira mentiram a Pedro, este afirmou que, de fato, a mentira
era direcionada a Deus e não aos homens. Depois, diz que eles mentiram ao
Espírito Santo. Então, para Pedro, o Espírito Santo era Deus (At 5.1-5).
Em Atos 28.25-26, o apóstolo Paulo citou a profecia de Isaías 6.9-10. Se
consideramos que Isaías era um profeta de Deus, entendemos que era Deus quem
falava por intermédio dele. Em Atos, Paulo disse que o Espírito Santo falou
através do profeta. Portanto, o Espírito Santo é Deus. O mesmo entendimento se
obtém da comparação entre Hebreus 10.15-16 e Jeremias 31.31-34.
A UNIDADE DAS TRÊS PESSOAS
Depois de termos demonstrado a existência das três pessoas e que elas não são a
mesma, precisamos demonstrar que elas se reúnem em um só Deus.
● Jesus disse: "Eu e o pai somos um" (João). Como podemos
conciliar tal afirmação com aquela, quando Cristo disse:
"O Pai me enviou". Se não existe trindade, então Jesus teria mentido.
O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três e, ao mesmo tempo, são um. Se assim
não fosse, teríamos três Deuses no Novo Testamento e o cristianismo seria
politeísta.
Chegamos ao cerne do mistério da trindade, mas a dificuldade de compreendê-la
não nos permite negá-la, pois estaríamos contra as Escrituras. A mesma
dificuldade tem levado muitos a negarem a criação, o nascimento virginal, a
ressurreição, a ascensão, etc..
"Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito
Santo e estes três são um" (I João 5.7).
Dizer que o fato dos três serem um seja evidência de que não são três pessoas
mas uma só é ir contra todas os textos bíblicos que mostram os três separados e
individualizados.
● IMPLICAÇÕES DE UMA VISÃO UNITARISTA DO NOVO TESTAMENTO
Se não houver trindade, alguns textos bíblicos que citam o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, tornam-se desnecessariamente redundantes, além de estranhos:
(Mt 3.16-17; Mt 28.19; 2Co 13.13-14; At 11.15-17; Rm 8.9; Rm 14.17-18; Rm
15.16; Rm 1.1-4; ITs 1.3-5; ITs 5.18-19).
● Este texto de Romanos 8, por exemplo, seria um amontoado de
redundâncias e pleonasmos:
‹‹Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não
estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós.
Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo
está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito
vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos
ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a
Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós
habita›› (Rm 8.8-1)
A doutrina da trindade concilia textos que apontam para um só Deus com outros
que reconhecem a divindade dos três separadamente. Se cremos na divina
inspiração das Escrituras, creremos na coexistência e coerência desses
textos.
Render-se a qualquer dificuldade em torno do assunto e rejeitar a doutrina da
trindade leva o indivíduo a ver politeísmo e antropolatria no Novo Testamento.
Assim, o cristianismo perde o sentido para o indivíduo. Quem se posiciona desta
forma, não pode ser chamado de cristão. O unitarista continua crendo em Deus.
Sua fé é coerente apenas com o Antigo Testamento, tornando-o adepto de uma
espécie de judaísmo tardio, deturpado e piorado.
Mas precisamos observar também que, descartando-se o Novo Testamento e a pessoa
de Jesus, o Antigo Testamento fica comprometido. Quem seria então o Messias
prometido? Se não é Jesus, devemos esperar outro? Muitos estão esperando.
● DESCONSTRUINDO A REVELAÇÃO BÍBLICA
A bíblia apresenta a revelação progressiva dada por Deus ao homem no decorrer
da história. Vamos comparar esta revelação a uma árvore. Unitarismo e unicismo
lhe arrancam os frutos, folhas e galhos. O liberalismo teológico arranca o
tronco. O ateísmo arranca as raízes. É o que acontece no coração daqueles que
aceitam tais doutrinas.
Esses tipos de fé (ou incredulidade) inutilizam pouco a pouco as Sagradas
Escrituras e produzem uma "vida espiritual" cada vez mais vazia e sem
sentido.
Eliminando a essência da cristologia e da pneumatologia, inutiliza-se o Novo
Testamento. É cair da graça de Deus (Gl 5.4).
O unitarismo é um retrocesso ao nível de revelação do Antigo Testamento sem,
contudo, produzir os efeitos práticos daquela época.
● SE JESUS NÃO É DEUS, TORNA-SE HOMEM COMUM
Se a trindade não existe, Jesus não é Deus. Seria razoável admitir que ele,
mesmo sendo apenas um homem como nós, tenha nascido sem uma relação sexual?
- Jesus seria ainda o salvador da humanidade?
- Sua morte na cruz teria valor diante de Deus?
- Ele teria ressuscitado dentre os mortos e subido ao céu e estaria assentado à
direita do Pai?
- Mesmo sendo homem comum, Jesus apareceu a Paulo no caminho de Damasco? Então
nossa doutrina se tornaria espírita? Paulo teria visto um fantasma? Teria sido
uma alucinação?
- Jesus voltará nas nuvens para buscar os salvos e julgar o mundo?
Se tudo isso perde o valor, o cristianismo se destrói.
Se Jesus não é Deus, inúmeros textos bíblicos perdem o sentido. O Novo
Testamento estaria então aprovando a antropolatria (adoração a um homem),
dizendo, inclusive que os anjos devem adorar a esse homem chamado Jesus
(Hb1.6).
● Se o unicismo/unitarismo estivessem certos, Deus não precisaria ter
enviado Jesus nem o Espírito Santo.
Se o Espírito Santo não é Deus, os dons espirituais são automaticamente
descartados e o cristianismo torna-se apenas uma religião teórica e sem poder.
O unitarismo traz graves implicações pessoais, pois está escrito: "Aquele
que nega o Filho, também não tem o Pai" (IJo 2.23). Tal afirmação
encontra-se no contexto de combate aos anticristos do primeiro século.
(Todos textos bíblicos são da tradução ACF DA SBTB)
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.