Pr. Alfredo de Souza
Recentemente [algum tempo atrás], um conhecido líder evangélico definiu-se
ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um
pensador independente, de
esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista.
Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados”.
[veja aqui]
Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em
enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se
constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das
claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.
Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:
Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome
muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e
à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende
unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos
eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis
financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes.
Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de frequentar a
casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos
financeiros, mas pela maneira como enriqueceram.
Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses
materiais. Mt 5:3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio
rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17
[ACF2007]): "Mas eu [sou] pobre e
necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu
libertador; não te detenhas, ó meu Deus." ”
Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de
Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos
cuidados divinos para a sua penúria.
Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza,
mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos
necessitados.
Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que
a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não
defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será
condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.
A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata
do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português,
do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou
do PSOL brasileiro, o
alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do
homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso
de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus.
Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da
esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o
humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o
neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).
Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda
clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria
social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo
Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus
patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o
usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam
cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de
Salomão, de José e de Daniel.
Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas
isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia.
Aliás, “nunca deixará de haver pobre na terra” (Dt 15: 11). A
responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede
generosamente, pois nada é nosso, tudo é d'Ele. A riqueza não deve embrutecer
ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por
isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse
contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo
principal.
Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo
manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança
social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas
uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para
a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor
constrói o significado do texto.
Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser
cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso
exista – sempre prejudicará o Evangelho e
contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer
ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.
SOLA SCRIPTURA
***
Fonte: Blog do autor, postado originalmente em 28 de julho de 2008
(ênfases acrescentadas por Hélio)
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