Júlio Severo
O Cristianismo deve ser estendido a toda a sociedade. Para essa finalidade,
existe a evangelização, onde o Senhor Jesus Cristo comissionou seus discípulos a
ir a todo o mundo e pregar o Evangelho a todas as pessoas. Nada e ninguém deve
ficar de fora da influência do Evangelho.
No começo, o método exclusivo de evangelização usado era simplesmente a pregação
do Evangelho, por meio dos líderes e do testemunho pessoal dos membros comuns.
Desse jeito, a mensagem sobre o ministério, vida, morte e ressurreição do Senhor
Jesus Cristo experimentou uma propagação extraordinária na sociedade, atingindo
até mesmo as autoridades — sempre porém com muitas perseguições. A expansão do
Cristianismo ocorreu basicamente por causa dessas perseguições. O crescimento do
Evangelho foi regado com o sangue dos mártires.
Já bem estabelecido em muitos setores da sociedade do Império Romano, o
imperador Constantino, depois de se converter, teve a iniciativa de oferecer
privilégios e favores especiais a todos os cidadãos romanos que resolvessem se
converter para o Cristianismo. Por mais boa intenção que ele tivesse, a obra da
conversão pertence exclusivamente ao Espírito Santo, com a colaboração dos
cristãos, que têm a missão de dar bom testemunho a fim de atrair os descrentes à
esfera do Evangelho.
O que aconteceu foi que as igrejas cristãs começaram a se paganizar, pois os
pagãos passaram a ser cristãos, por causa dos favorecimentos dados para quem se
convertesse, e trouxeram consigo suas práticas pagãs.
Assim, a tentativa de utilizar o governo para empurrar as pessoas para se
converter foi um fracasso, pois o governo é incapaz de cumprir o que não tem
chamado para cumprir. Com essa experiência política dos cristãos romanos,
aprendemos que o governo não pode e não tem chamado nenhum para ocupar o lugar
da Igreja do Senhor Jesus Cristo na sua missão de evangelizar.
Então, com esses erros do passado, os cristãos hoje aprenderam a lidar de modo
correto com as questões políticas? No que se refere à evangelização, a lição
parece que foi realmente aprendida.
No entanto, os erros de hoje não são iguais aos erros do passado. Enquanto no
passado, cristãos bem intencionados tentaram atribuir ao governo a função de
evangelização, que pertence exclusivamente à Igreja do Senhor Jesus Cristo, os
cristãos bem intencionados de hoje tentam atribuir ao governo algumas funções da
família e da Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Esses cristãos acham que o governo tem a função de:
Reabilitar criminosos (função exclusiva do Senhor Jesus Cristo, através da Sua
Igreja).
Alimentar os pobres (função de cada pessoa de acordo com sua própria consciência
e liberdade moral).
Dar saúde a todos (função em parte de cada pessoa e também da Igreja do Senhor
Jesus Cristo).
Dar educação (função da família e também da Igreja do Senhor Jesus Cristo).
Redistribuir renda. (Nem mesmo a Igreja do Senhor Jesus Cristo tem essa função,
pois todos os ricos são chamados, de acordo com sua consciência e liberdade
moral, de ajudar os necessitados. Assim como o governo não pode obrigar as
pessoas a se converter, também não pode obrigá-las a ajudar os outros, mediante
cobrança forçada de impostos pesados e iníquos.)
Assim como o erro do passado, esse erro também tem como causa as boas intenções
de alguns cristãos. Assim como no passado, esses cristãos querem que o governo
ocupe funções que Deus jamais lhe deu, de modo que não foi de estranhar que o
Império Romano tenha fracassado em seus esforços humanos de converter os
cidadãos pagãos e de modo que não será de admirar que o governo de hoje
experimente igual fracasso em suas tentativas de usurpar o chamado das famílias
e da Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Não é preciso entrar em detalhes para explicar qual é o chamado do cristão na
sociedade. Sua missão é permitir que o Espírito Santo o use continuamente para
pregar a Palavra de Deus a todos os pecadores.
Onde há perdição, ele leva a luz do Evangelho, como Jesus ensinou.
Onde há doenças, ele ministra aos doentes, como Jesus ensinou.
Onde há necessidades materiais, ele pratica e ensina o amor ao próximo, como
Jesus ensinou.
Entretanto, qual é o papel do governo e, de modo particular, qual deve ser o
papel do cristão na política?
A Bíblia ensina que a função do governo e seus governantes é serem servos de
Deus. O que é então o governo ser servo de Deus? Pregar o Evangelho? Alimentar
os pobres? Cuidar dos doentes? Reabilitar os criminosos? Educar as crianças?
“Porque ela [a potestade] é ministro de Deus para teu bem.
Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro
de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.” (Romanos 13:4 ACF, o
destaque é meu.)
Ser servo de Deus é o governo fazer a vontade de Deus se ocupando com a função
que Deus lhe deu. Parece que bem poucos cristãos sabem ou lembram que Deus já
estabeleceu uma função para o governo.
Seja cristão ou não, o presidente, governador ou outra autoridade política tem
chamado de Deus para cumprir sua obrigação de castigar os maus e elogiar os
bons. Nem mais, nem menos.
“Porque os magistrados não são terror para as boas obras,
mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás
louvor dela.” (Romanos 13:3 ACF)
Cumprindo tal função, o governo não precisará mais se intrometer em áreas que
não lhe competem e áreas em que seu fracasso é mais que evidente, como educação,
saúde, etc. Cessando tal intromissão, o governo deverá parar de cobrar
incessantes, pesados e abusivos impostos com o suposto objetivo de investir na
saúde, educação, etc., livrando os trabalhadores da escravidão como
financiadores involuntários de todo tipo de programa governamental social
absurdo.
Assim, o governo terá tempo para se ocupar exclusivamente com sua missão de dar
segurança à população. Por sua vez, tendo mais segurança e tendo muito menos de
seu dinheiro desperdiçado no pagamento de impostos, a população terá muito mais
liberdade para procurar ou estabelecer os serviços que lhe são essenciais, como
saúde, educação, etc.
Quando o governo se envolve em funções que não lhe competem, o resultado é
insegurança: os maus não são castigados e os bons cidadãos não são elogiados. Em
casos extremos, o governo castiga os bons cidadãos e elogia os maus! Não muito
diferente do que ocorre no Brasil de hoje, onde certos indivíduos que promovem o
“direito” ao aborto, ao homossexualismo e a outros males são elogiados, enquanto
os bons cidadãos que se manifestam contra essas práticas nocivas são tratados
como preconceituosos e até pior. Enquanto os maus são elogiados por promoverem o
homossexualismo e camisinhas nas escolas, famílias inocentes são impedidas de
exercer seu direito de deixar de mandar seus filhos ao péssimo ambiente escolar
que o governo está proporcionando às crianças. Essas famílias são perseguidas
por optarem pela educação escolar em casa.
Entretanto, os problemas não param por aí. Enquanto mais de cinqüenta mil
pessoas são assassinadas por ano no Brasil, o governo se prepara para punir
severamente — não os criminosos e assassinos, mas as famílias que prosseguirem
na milenar prática da disciplina física nos filhos. O clima é de muita
insegurança e caos. Mas o governo tentará mostrar que está trabalhando. Se não
puder perseguir e punir os verdadeiros criminosos, o governo simplesmente, por
suas próprias leis absurdas, transformará em criminoso toda mãe ou pai
disciplinador ou todo cidadão bom que ousar se opor aos programas governamentais
de favorecimento ao homossexualismo e outros pecados.
Se os cristãos não ajudarem o governo a cumprir sua missão, inevitavelmente o
governo tentará impedir os cristãos de cumprirem sua própria missão. Caso um
governo, por causa de sua confusão moral, tenha se esquecido ou nem mesmo saiba
mais seu dever natural, os bons cidadãos devem lembrar aos governantes sua
responsabilidade de:
(1) castigar, punir, penalizar e fortemente desencorajar os assassinos, os
ladrões, os estupradores, os adúlteros, os pedófilos, os seqüestradores, os
abortistas e outros maus.
(2) elogiar os bons que se opõem a esses males e ajudam os pobres, os órfãos, as
vítimas de violência sexual, os oprimidos pelo homossexualismo, etc.
Portanto, os cristãos devem cuidar da evangelização, cada família deve cuidar de
suas necessidades de saúde e educação e o governo deve ter como missão exclusiva
o único chamado que Deus lhe deu: castigar os maus e elogiar os bons.
Que os cristãos na política então se lembrem de deixar o governo ser apenas um
bom servo de Deus na sua própria esfera, para a segurança de toda a população.
Uma versão deste artigo, com o título “A função do Estado”, também escrito por
Julio Severo, saiu na revista Evangelizar, edição nº 6 (maio/junho de 2006),
publicada pela AMME.
www.juliosevero.com.br
(nota: o autor usou outras versões da Bíblia, Hélio as modificou para a ACF)