Kelson Mota T. Oliveira
"Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?" (Mt 16:16)
Qualquer pessoa que se proponha a estudar a pessoa e a obra de Jesus Cristo, só terá sucesso se considerar, antes de mas nada, que sua vinda ao mundo nada teve de casual, e nem mesmo de inesperada. O plano divino da encarnação tinha sido, desde os primórdios da raça humana, anunciado de muitas formas e maneiras, por intermédio de muitas pessoas inspiradas diretamente pelo próprio Deus. E mais do que anunciado, a encarnação do Filho de Deus, com todas as suas conseqüências, havia sido planejada desde a eternidade, pelo Deus Triúno. Antes de considerarmos a pessoa de Cristo e suas obras, convém estudar as várias promessas relacionadas a sua vinda, bem como o planejamento, antes da fundação do mundo, da encarnação do Homem-Deus. Somente tendo isso claramente em nossas mentes é que conseguiremos compreender o grande mistério da encarnação do Homem-Deus.
1. As Promessas da Vinda do
Messias
2. A Vinda de Cristo Prevista desde a Eternidade
A necessidade dos eventos terem
ocorrido como de fato ocorreram (criação-queda-encarnação do Filho- salvação)
pressupunham, de antemão a vinda do Messias. E esta já estava prevista e
planejada desde a eternidade.
Antes da criação do homem já havia um plano eterno para resgatá-lo dos efeitos
malignos e tenebrosos de sua decisão rebelde. Em seu amor, Deus já havia
suprido um meio de resgatar o homem de sua condição de pecado. Alguém deveria
assumir a culpa e pagar completamente o débito devido a Deus. Como não havia
nenhum homem nessa condição, o próprio Deus, na pessoa de seu Filho, vem e
reconcilia o mundo consigo mesmo (II Co 5:18). O Filho de Deus, portanto, já
havia se disposto a sacrificar-se pelo homem antes mesmo da fundação de toda
Criação(Ap 13: 8). Não foi uma decisão obrigada, mas voluntária, pois havia uma
maravilhosa unidade nas Pessoas de Deus. E o Filho havia assumido todas as
conseqüências dessa decisão, inclusive a sua morte na cruz. Deus não teria
criado o mundo, e assim o homem, se não tivesse incluído dentro do plano da
criação, um plano de salvação. É nesse sentido que as Escrituras afirmam a
existência de um plano salvador antes da fundação do mundo (Ef 1: 4-11; 3:10; At
4:28; II Tm 1:9; I Pe 1:19). E este plano salvador se constituía em um mistério
que seria revelado em tempo oportuno, e desde eternidade estava oculto em Deus
(Rm 16:25; Ef 3:9; Cl 1:26). Sempre foi do plano de Deus que o homem estivesse
eternamente em comunhão com Ele.
Dessa forma podemos dizer que a obra de Cristo já havia sido planejada de
antemão e foi anunciada, aos homens por meio da promessa de vinda do Messias
Salvador, descrito nas Escrituras. Como prometido e planejado Ele veio, e vimos
sua glória, como o unigênito do Pai.
3. A Plenitude dos Tempos
Uma vez deliberado a vinda da
segunda Pessoa do Deus Triúno e planejado os meios de anunciamento do evento,
Deus, em sua sabedoria, determinou o tempo em que o Filho haveria de encarnar.
Este tempo não viria antes que o povo de Israel tivesse completa consciência da
Unidade e genuinidade de Deus. Para tanto Deus criou meios de preparar
adequadamente seu povo para reconhecer Aquele que seria seu Senhor e no qual
todas as nações seriam benditas.
Desde a chamada de Abraão, seus descendentes foram separados do convívio de
outras nações, e ensinados a não adorarem falsos deuses e não se deixarem
contaminar pelas práticas pagãs dos povos da terra. Em outras palavras: Deus os
santificou para seu uso exclusivo.
Com saída do povo do cativeiro
egípcio, o Senhor lhes mandou, por intermédio de Moisés, a Lei, que constava de
ordenanças, rituais e mandamentos. A instauração da Lei tinha quatro objetivos
principais:
Sendo assim, a Lei visava
levar o homem, por meio de figuras materiais, ao entendimento de verdades
espirituais. Todas as ordenanças e rituais eram uma grande e preciosa parábola
preparando o povo para a realização dela (Hb 9: 6-14). Dessa forma, a Lei só
pode ser compreendida se for considerada parte da realização da promessa, e sem
ela não faz sentido algum.
Os
profetas tiveram a missão de testemunhar ao povo sobre o verdadeiro espírito e
objetivo da Lei, rejeitando o mero legalismo interior, apontando para o pecado
do homem, bem como chamando para o arrependimento, anunciando juízo, e
prometendo perdão e restauração com o advento do Messias na plenitude dos tempos
(Is 1:1-18; 3: 1-4; 6; 8: 1-9; Jl 1-3; Gl 4:4etc.).
Uma vez cumprida a missão,
tendo-se completado o período determinado de espera, Deus envia seu Filho (Gl 4:
4-6), para resgatar todos aqueles que estavam desgarrados. A espera da plenitude
dos tempos tem a dupla função de ensinar o povo os objetivos descritos acima e
preparar geográfica, política, religiosa e culturalmente o mundo para recepção e
entendimento da mensagem eterna do Verbo encarnado.
Na época da encarnação, o
ambiente geo-político estava completamente centralizado em Roma, que dominava o
mundo conhecido. Roma tinha aberto estradas e desbravado fronteiras até aos
confins do terra de então, o que sem dúvida foi de grande serventia na
disseminação missionária dos primeiros cristãos. Culturalmente, a influência
grega tinha legado ao mundo a estrutura lógica de pensamento filosófico,
possibilitando o questionamento de velhas religiões e tradições se fundamentavam
em crendices e superstições, o que sem dúvida permitiu o reconhecimento do
pensamento cristão como algo que apela positivamente ao intelecto e fé humanas.
No aspecto religioso, os gentios estavam atolados na idolatria reinante (Rm
1:18) e cansados de rituais e ordenanças que não traziam nenhum alívio e paz
interior, o que os preparou para receber com alegria a mensagem da salvação pela
fé. Quanto aos judeus estavam imersos no legalismo e farisaísmo (Rm 2:17), mas
contudo havia ainda muitas pessoas, que a despeito da hipocrisia nacional,
esperavam a Consolação de Israel (Lc 1:6; 2: 25; Jo 1:47). Também o judaísmo,
com suas sinagogas, havia se espalhado por toda a costa do Mediterrâneo, o que
muito facilitou a pregação do evangelho pelos primeiros cristãos judeus, como
Paulo (At 13:14; 14:1; 17: 1, 2).
Sim, foi no tempo pleno
para apresentar ao mundo Seu Filho, que Deus o enviou. Nenhum período da
história universal esteve tão preparado e maduro para receber as Boas Novas,
quanto a época da manifestação do Filho de Deus aos homens.
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