Os Quatro Milagres Messiânicos [Exclusivos Do Messias]

2ª Versão (foi adicionado o quarto milagre messiânico)


Traduzido livremente e reescrito, com muitas adaptações, por

Pastor Luiz A. Ferraz,
a partir de

Dr. Arnold G. Fruchtenbaum

Um judeu convertido que se tornou missionário para os judeus

 

Ariel Ministries: www.ariel.org/

Título original: The Three Messianic Miracles

Extraído, traduzido e adaptado do livro

The Footsteps of the Messiah

(Os Passos do Messias

http://www.messianicassociation.org/ezine48-af-three-messianic-miracles.htm#IV._THE_FINAL_MESSIANIC_WITNESS_

 

 

INTRODUÇÃO

 

Isaias 35.5-7

“Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.” (Is 35.5-7).

Pergunta: Quais foram os três milagres messiânicos?[1] O que esses três milagres específicos transmitiram ao povo durante o tempo de Cristo? Por que eles eram tão importantes? Porque os fariseus e mestres da lei tiveram tanto medo? Que efeito isto terá no caminho da santidade nas pessoas em Is 35.8-10?

Reflexão: Quem são os leprosos espirituais em sua vida? O que você está fazendo para ajudá-los a serem curados? Como você está expressando as boas novas de Jesus Cristo (Ieshua, o Ungido) em sua esfera de influência? Antes de ser salvo, você estava espiritualmente cego. Mas depois de nascer de novo você pode ver realidades espirituais. Como isso mudou sua vida?

Mudanças ocorrerão no povo e a terra quando o Messias vier. Isaías descreve essas alterações quando ele profetiza: “Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.” (Is 35.5-7).

Estas coisas sempre são verdadeiras quando o rei está presente. Esses sinais estavam presentes em sua primeira vinda e eles estarão presentes em sua segunda vinda. Esta mensagem tem a ver com os três milagres messiânicos no judaísmo rabínico, durante a época do Ungido.

Este estudo é tomado do livro clássico do Dr. Arnold G. Fruchtenbaum: Os Passos do Messias

http://www.messianicassociation.org/ezine48-af-three-messianic-miracles.htm#IV._THE_FINAL_MESSIANIC_WITNESS_

Algum tempo antes do nascimento de Jesus, os antigos rabinos separaram os milagres em duas categorias: (1) Milagres que qualquer um capacitado por Deus seria capaz de realizar. (2) Milagres Messiânicos, que eram milagres que só o Messias seria capaz de realizar. Esses milagres messiânicos foram tirados de Isaías 35:5-6, e Jesus Cristo realizou esses três tipos de milagres, considerados messiânicos, como veremos a seguir.

 

I. O PRIMEIRO MILAGRE MESSIÂNICO: A CURA DE UM LEPROSO JUDEU

 

Isaias profetizou o que aconteceria com a vinda do Messias: “Então os coxos saltarão como cervos...” (Is 35.6).

Nos capítulos 13 e 14 de Levítico encontramos instruções detalhadas dadas aos sacerdotes sobre o que eles deveriam fazer no caso de um leproso ser curado.

Se um leproso se aproximasse dos sacerdotes dizendo que estava curado, os sacerdotes deveriam investigar três fatos: (1) Primeiro, se a pessoa era realmente leprosa.(2) Segundo, se ele era verdadeiramente leproso, e se ele foi realmente curado da lepra. (3) Terceiro, se a lepra realmente desapareceu, e quais foram as circunstâncias que envolveram a cura.

Se após sete dias de investigação eles estivessem convencidos de que o homem tinha sido um leproso, e tinha, de fato, sido curado da lepra, e que as circunstâncias da cura eram apropriadas, eles deveriam, no oitavo dia, fazer uma série de ofertas, ao todo, quatro ofertas: (1) Primeiro, havia uma oferta pelo pecado.  (2) Segundo, havia uma oferta pela culpa. (3) Terceiro, havia uma oferta queimada. (4) Quarto, havia uma oferta de cereais. Depois das ofertas, o sangue da oferta pelo pecado e o da oferta pela culpa era aplicado sobre o leproso curado. A cerimônia terminava com a unção de óleo sobre o leproso curado.

Essas eram as instruções da Lei, mas elas nunca foram usadas, porque desde quando a Lei foi dada, nenhum judeu leproso foi curado da lepra.[2] Por isso, os rabinos classificaram a cura de um judeu leproso como um milagre messiânico, pois somente o Messias seria capaz de realiza-lo.

Os evangelhos sinóticos relatam a cura de um leproso judeu (Mt 8.2-4; Mc 1.40-44; Lc 5.12-14). Nas três ocorrências Jesus ordenou ao leproso que se apresentasse ao sacerdote: “...mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho." (Mt 8.4; Mc 1.44; Lc 5.14). Jesus deu a mesma ordem, quando curou os dez leprosos (Lc 17.12-14). O que Jesus pretendia com isso? Era para servir de testemunho ao sacerdote, porque Jesus queria que o sacerdote seguisse os mandamentos de Moisés nos capítulos 13 e 14 de Levítico, oferecendo os dois pássaros como sacrifício conforme exigido pela Lei (Lv 14.4). Nos sete dias seguintes, ele deveria começar a investigar para verificar três fatos: (1) Primeiro, verificar se aquele homem era mesmo leproso. (2) Segundo: verificar se aquele homem estava completamente curado. (3) Terceiro, verificar se foi Jesus que o havia curado.

Alguns dias depois da cura do leproso (Lc 5.12-14), apareceram fariseus e doutores da lei de todas as partes: “E aconteceu que, num daqueles dias, estava ensinando, e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém. E a virtude do Senhor estava ali para os curar.” (Lc 5.17). Porque os fariseus e doutores da lei estavam lá em Cafarnaum? Eles estavam investigando o primeiro milagre messiânico. Eles sabiam que Jesus havia curado um leproso (Lc 5.15), e sabiam que isso era um milagre messiânico, então eles vieram de toda parte de Israel para investigar Jesus. De acordo com a lei do Sinédrio, essa investigação deveria seguir dois estágios: (1) O estágio da observação. Era formada uma delegação para investigar apenas observando, o que estava sendo dito, o que estava sendo feito e o que estava sendo ensinado. Eles não tinham permissão para fazer perguntas ou levantar objeções. Depois de observar eles voltavam para Jerusalém, levando um relatório ao Sinédrio, que dava um veredicto, se o caso deveria ser encerrado ou prosseguir. Como houve uma cura, e eles não podiam negá-la, então passaram para o segundo estágio. (2) O estágio do interrogatório. Nesse estágio eles interrogavam a pessoa, fazendo perguntas e levantavam objeções. Por isso Lucas registra que os fariseus e doutores da lei que estavam lá, e presenciaram a cura do paralítico, não fizeram nenhuma pergunta nem levantaram objeções; eles apenas arrazoavam em seus corações (Lc 5.21,22).

Na cura do paralítico, Jesus primeiro perdoou os seus pecados entes de curá-lo (Lc 5.20), e fez uma pergunta aos fariseus: O que seria mais fácil para um homem dizer?“os teus pecados te são perdoados” ou, “levanta-te, e anda”? A coisa mais fácil seria dizer: “os teus pecados te são perdoados”, porque isso não exigiria nenhuma evidência externa observável. Mas dizer a um paralítico para ele levantar e andar era algo mais difícil de se dizer, porque isso exigiria evidências externas e observáveis. Assim, Jesus provou que ele era o Messias, porque podia dizer o mais fácil: “os teus pecados te são perdoados”, e provou isso realizando o mais difícil, curando o paralítico. A cura era a evidência observável porque o homem se levantou, andou e carregou a sua cama (Lc 5.25). Se Jesus podia dizer e fazer o mais fácil (perdoar), isso provava que ele era o Messias (Lc 5.24).

Os fariseus retornaram para Jerusalém levando o relatório. Evidentemente não puderam negar o milagre, por isso passaram para a segunda fase da investigação: o interrogatório. A partir daí eles não ficariam mais em silêncio, mas fariam perguntas e levantariam objeções. Veremos os fariseus e doutores da Lei interrogando Jesus no próximo milagre messiânico, a cura de endemoninhado mudo.

 

II. O SEGUNDO MILAGRE MESSIÂNICO: A EXPULSÃO DE UM DEMÔNIO MUDO

 

O segundo milagre messiânico está registrado em Mateus 12.22-37 e Marcos 3.19-30.

Marcos registra que até os familiares de Jesus queriam fazê-lo parar (Mc 3.21), possivelmente com medo da ameaça dos fariseus. Mas nessa ocasião surge um endemoninhado, uma ótima oportunidade para Jesus provar sua divindade. “Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo; e, de tal modo o curou, que o cego e mudo falava e via.” (Mt 12.22). Expulsar demônios era algo comum no mundo judeu daquele tempo. Até mesmo os fariseus e rabinos tinham a capacidade de expulsar demônios, mas eles só podiam expulsar demônios seguindo um ritual judaico obrigatório, que exigia três etapas: (1) Primeiro, o exorcista tinha que estabelecer comunicação com o demônio. (2) Segundo, tinha que descobrir o nome do demônio. (3) Terceiro, ele tinha que expulsar o demônio, usando o nome que havia descoberto.

Em Marcos 5 Jesus estabeleceu comunicação e perguntou o nome do demônio: “Qual é o teu nome?” (Mc 5.9), como determinava o ritual judaico. Mas havia um tipo de demônio que deixava a pessoa possessa totalmente muda, e ela não podia falar. Como o possesso ficava mudo, não havia possibilidade de estabelecer comunicação com esse tipo de demônio, e descobrir o seu nome, para poder expulsá-lo, pois eles acreditavam que para exercer autoridade sobre um demônio, era preciso saber seu nome. Portanto, seguindo o rito exorcista do judaísmo, era impossível expulsar um demônio mudo. Mas os rabinos ensinavam que quando o Messias viesse, ele seria capaz de expulsar esse tipo de demônio.

Isaías escreveu que quando o Messias viesse “...a língua dos mudos cantará...” (Is 35.6). A reação dos judeus, ao ver Jesus curar um endemoninhado mudo, foi de grande agitação: "E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o Filho de Davi?" (Mt 12.23). Eles estavam se perguntando se Jesus não seria o Messias. Afinal, ele tinha realizado um milagre que o profeta Isaias disse que somente o Messias faria. Eles não fizeram essa pergunta quando Jesus expulsou outros tipos de demônios. Mas agora, que Jesus havia expulsado um demônio mudo, a pergunta era pertinente, pois eles haviam aprendido dos próprios rabinos que este era um milagre messiânico.

Os fariseus não se dobraram e não quiseram reconhecer que Jesus era o Messias, mas como ele havia feito um milagre messiânico, eles precisavam dar uma explicação ao povo, de como Jesus havia conseguido realizar aquele milagre. Eles explicaram que Jesus estava possuído por demônios: "Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios." (Mt 12.24; Mc 3.22; Lc 11.15-16; Jo 7.20). Eles alegaram que Jesus estava possuído, não por um demônio comum, mas pelo príncipe dos demônios, Belzebu, o senhor das moscas.

Jesus respondeu de duas maneiras.

Primeiro, ele se defendeu com quatro declarações (Mateus 12.25-29).

1) Jesus disse que Satanás não se divide contra si mesmo (Mt 12.25,26).

2) Jesus disse que eles mesmos reconheciam que expulsar demônio era um dom de Deus, e que até mesmo seus seguidores eram capazes de expulsar demônios, embora estes não fossem demônios mudos (Mt 22.27).

3) Jesus disse que este milagre comprovou que ele era o Messias (Mt 22.28).

4) Jesus disse que era mais forte que o Diabo em vez de ser subserviente a Satanás (Mt 22.29).

Segundo, Jesus condenou os fariseus (Mateus 12.30-37). Ele disse que eles eram culpados de pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo.

Porque esse pecado era imperdoável? Porque, com a rejeição do Messias, a nação seria colocada debaixo do julgamento divino. Esse julgamento veio quarenta anos depois, em 70 dC., com a destruição de Jerusalém e do Templo. O pecado imperdoável não é um pecado individual, mas um pecado nacional. Foi cometido pela geração judaica nos dias de Jesus e não pode ser aplicado a gerações judias subsequentes. O pecado imperdoável foi a rejeição nacional de Israel de Jesus como o seu Messias, e ocorreu enquanto ele estava presente. Não é possível alguém cometer esse pecado hoje. O próprio Jesus disse que todo pecado é perdoável (Mt 12.31), portanto,o pecado imperdoável só ocorreu naquela época, e foi imperdoável para a nação judia.

A partir da rejeição do milagre messiânico, e da negação de sua messianidade, Jesus mudou a forma de ministrar, e essa mudança ocorreu em quatro maneiras:

1) Propósito: Jesus mudou o propósito de seus milagres. Antes de sua rejeição Jesus realizava milagres com o propósito de autenticar que ele era o Messias.

2) Pessoas: Jesus mudou o alvo de seus milagres. Antes da rejeição Jesus realizava milagres em benefício de Israel, e não pedia a ninguém demonstração de fé. Depois da rejeição Jesus passou a realizar milagres individualmente, exigindo fé das pessoas. Antes Jesus realizava milagres PARA a fé, mas agora Jesus passa a realizar milagresPELA fé. Antes Jesus não exigia fé, mas realizava os milagres para servir de sinal aos judeus.

3) Mensagem: Jesus mudou a forma de sua mensagem. Antes da rejeição, quando Jesus realizava milagres ele dizia: “vá e conte” (Mc 5.19,20; Lc 8.39) para servir de testemunho aos judeus. Mas como os judeus o rejeitaram, não há mais necessidade de testemunho, então, a partir de agora, Jesus ordena que o milagre não seja divulgado (Mt 16.20; Mt 17.9; Mc 8.30; Mc 9.9; Lc 8.56; Lc 9.21; Lc 9.36).

4) Método: Jesus mudou o método de sua mensagem. Antes Jesus ensinava claramente, para que fosse entendido, mas por causa da rejeição (Jo 12.37-41) Jesus passa a falar por parábolas. No mesmo dia em que Jesus foi rejeitado, ele começou a falar em parábolas (Mt 13.1-3, 34-35; Mc 4.34).

 

III. O TERCEIRO MILAGRE MESSIÂNICO: A CURA DE UM HOMEM NASCIDO CEGO

 

Isaías escreveu que na vinda do Messias, “os olhos dos cegos serão abertos (Is 35.5). O terceiro milagre messiânico é a cura de um homem que nasceu cego. Os rabinos ensinavam que qualquer pessoa capacitada por Deus poderia curar alguém que tinha ficado cego. Mas somente o Messias seria capaz de curar alguém nascido cego. Jesus realizou este terceiro milagre, e está registrado em João 9.1-38: “E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo." (Jo 9.1-5).

 

III.1. A PERGUNTA DOS DISCÍPULOS

Os discípulos perguntaram a Jesus: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9.2). A torá diz que Deus pune o pecado dos pais no filho até a quarta geração: "Passando, pois, o SENHOR perante ele, clamou: O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade. Que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração." (Ex 34.6,7). O pensamento dos discípulos era de que o homem havia nascido cego porque seus pais haviam pecado. Achar que os pais haviam pecado, e por isso ele tinha nascido cego, não era totalmente estranho. A parte estranha da pergunta era se o próprio cego havia pecado e por isso havia nascido cego: “quem pecou, este ou seus pais?” (Jo 9.2). Como ele poderia ter pecado antes de nascer cego?

Esta pergunta refletia a teologia do judaísmo farisaico da época. Os rabinos ensinavam que, antes da concepção, o feto tem duas inclinações, em hebraico yetzer hara eyetzer hatov, sendo uma a inclinação do bem e outra a inclinação do mal. Essas duas inclinações estão presentes dentro do novo ser humano ainda quando concebido dentro do útero. Durante o desenvolvimento de nove meses, o feto trava uma luta entre as duas inclinações. Os rabinos diriam então que, no caso do homem cego, a inclinação do mal superou a do bem e o feto, influenciado por ela, teria chutado a mãe no útero. Este seria o pecado que ele teria cometido antes de nascer.

Os discípulos cometeram dois erros: acreditar que uma pessoa podia nascer cego por causa do pecado de seus pais, e aceitar o ensinamento farisaico de que aquele homem poderia ter pecado no ventre da mãe e, portanto, tinha nascido cego. Jesus imediatamente rejeitou o falso ensinamento judaico, e respondeu: “Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais...” (Jo 9.3).

Aquele homem havia nascido cego pela vontade de Deus, Deus, para que Deus fosse glorificado através da cura que Jesus iria realizar: “...mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo 9.3).

 

III.2. O TANQUE DE SILOÉ

A cura ocorreu num dia de sábado, na época da Festa dos Tabernáculos, o que tornava o sábado um sábado especial. Por isso, Jesus, depois de curar o cego, untando seus olhos com barro e cuspe, enviou-o ao tanque de Siloé (que quer dizer enviado - Jo 9.6-7). O tanque de Siloé era de difícil acesso, especialmente para um cego, mas Jesus enviou o homem para lá, porque sabia que os sacerdotes estariam lá, pois durante a Festa dos Tabernáculos havia um ritual feito pelos sacerdotes, chamado o derramamento da água. Os sacerdotes desciam do Monte do Templo até o Tanque de Siloé, enchiam os jarros com a água, e marchavam de volta ao Monte do Templo, e, por fim, despejavam a água na bacia de bronze dentro do Templo. Jesus queria que os sacerdotes vissem o terceiro milagre messiânico.

O homem foi até o tanque de Siloé, lavou os olhos e, quando os abriu, pela primeira vez em toda a sua vida, pôde ver. Todos o conheciam e sabiam que ele havia nascido cego, e isso causou uma grande agitação. Uns perguntavam: “Não é este aquele que estava assentado e mendigava?" (Jo 9.8). Outros diziam que não era ele, mas que se parecia com ele: “Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu." (Jo 9.9). Quando ele disse “sou eu”, então lhe perguntaram: “Como se te abriram os olhos?" (Jo 9.10). O homem que fora curado respondeu: “O homem, chamado Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi." (Jo 9.11). Eles sabiam que esse era um milagre messiânico, por isso lhe perguntaram: “Onde está ele? Respondeu: Não sei." (Jo 9.12). Ele não sabia quem era, porque quando foi enviado ao tanque de Siloé, ainda era cego, e ainda não tinha visto Jesus.

Então o homem é interrogado pela primeira vez (Jo 9.13-17). Por ser um milagre messiânico, o homem foi levado aos fariseus para investigação e explicação. Por Jesus ter curado o homem num sábado, houve uma agitação, por isso os fariseus sabiam que tinham que tomar alguma providência, e quando começaram a interrogar o homem, os membros do Sinédrio se dividiram.

Alguns dos fariseus diziam: “Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado.” (Jo 9.16). Eles achavam que a cura no sábado era uma violação da Torá, por isso eles não criam que Jesus pudesse ser um homem de Deus, muito menos o Messias.

Outros diziam: “Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles." (Jo 9.16). Observe a ênfase, não apenas sinais, porque os falsos profetas também faziam milagres, mas tais sinais, ou seja, os milagres messiânicos.

Quando eles perguntaram ao homem que nasceu cego qual era sua opinião sobre Jesus, o homem concluiu que, no mínimo, ele era um profeta. Um profeta podia fazer milagres, como Elias e Elizeu fizeram, mas não fazer um milagre messiânico. Assim, o primeiro interrogatório do homem não levou a nenhuma conclusão específica.

Surge entre os fariseus a possibilidade de ter sido um milagre falso. E se o homem nunca nasceu cego e tudo era apenas um truque? Eles decidiram interrogar os pais (Jo 9.18-22). Os pais confirmaram duas coisas: primeiro, que aquele homem era seu filho, e, segundo que ele nasceu cego. Assim a suspeita de fraude foi removida.

Eles então perguntaram aos pais como o filho deles, que nasceu cego, podia ver. Eles se recusaram a responder por medo de serem expulsos da sinagoga (Jo 9.22).

 

iii.3. A EXCLUSÃO DA SINAGOGA

No judaísmo farisaico, havia três níveis específicos de excomunhão.

primeiro nível é chamado de heziphah, que é simplesmente uma repreensão que durava de sete a trinta dias. Era pronunciada por três rabinos. Temos um exemplo de heziphah em 1Tm 5.1.

segundo nível era o niddui, que significa jogar fora. Durava no mínimo trinta dias. Um niddui tinha que ser pronunciado por dez rabinos. Temos um exemplo de niddui em 2Ts 3.14-15 e outro em Tt 3.10.

terceiro era o cherem, o pior tipo de excomunhão, que significa ser dedicado à destruição. Este terceiro nível era permanente, a pessoa era expulsa do Templo e separado da comunidade judaica. Para os judeus uma pessoa sob a maldição do cherem era considerado morto e, por isso nenhuma comunicação ou relacionamento era feito com esta pessoa. O cherem é encontrado em 1Co 5.1-7 e Mt 18.15-20. Em casos extremos, o cherem significaria morte como em Josué 6:18 a 7:26.

Os judeus tinham decidido aplicar a pena mais severa, o cherem, a quem confessasse que Jesus era o Cristo (Jo 9.22). Por isso os pais decidiram não fazer mais nenhum comentário (Jo 9.23). Eles apenas confirmam que o cego curado por Jesus era filho deles e que ele nasceu cego. Portanto, a segunda interrogação (dos pais), como a primeira (do cego), também termina inconclusiva. Isso levou os judeus a uma segunda interrogação do homem curado (Jo 9.24-25).

Os fariseus queriam que o cego concordasse com eles dizendo que Jesus era pecador: “Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador." (Jo 9.24).

O homem que tinha sido curado deu uma resposta que não agradou os judeus: “Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo." (Jo 9.25). Essa resposta não foi apenas uma declaração do fato, mas um desafio para os fariseus. Em sua resposta, nas entrelinhas, ele estava afirmando que ele não era simplesmente cego, mas que havia nascido cego, e que havia sido curado. Ele sabia que esse era um milagre messiânico, pois havia aprendido isso dos próprios fariseus, que agora o estavam questionando. Insatisfeitos com a resposta, os fariseus perguntam novamente: “Que te fez ele? Como te abriu os olhos?” (Jo 9.26). A resposta do cego curado, mais uma vez, deixou os fariseus indignados: “Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também seus discípulos? 28 Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés. Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é.” (Jo 9.27-29). O homem cego como que “zombando” dos fariseus declara: “Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e, contudo, me abrisse os olhos.” (Jo 9.30). Para os fariseus Moisés era de Deus, mas Jesus não era (Jo 9.29).

A resposta do homem foi surpreendente, e demonstrou mais conhecimento teológico do que os fariseus: “Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve.” (Jo 9.31). Por fim ele declara implicitamente aos fariseus que o milagre que Jesus fez, era um milagre messiânico:“Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.” (Jo 9.32), e que cria que Jesus era de Deus: “Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer” (Jo 9.33). Os fariseus inconformados expulsaram o homem da Sinagoga (Jo 9.34). O cego encontra-se com Jesus, e recebe agora a cura espiritual, e como resultado adora Jesus (Jo 9.35-38).

 

4. O QUARTO MILAGRE MESSIÂNICO: A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

 

Há ainda um quarto milagre, que não consta na profecia de Isaias (Is 35.5-7), mas que foi realizado por Jesus como uma prova de sua messianidade. Quando Jesus foi rejeitado como o Messias, após a realização do segundo milagre, ele fez dois pronunciamentos: (1) Jesus pronunciou o julgamento sobre a nação de Israel, pelo cometimento do pecado imperdoável – a blasfêmia do Espírito Santo. (2) Jesus pronunciou que, por causa daquela rejeição, não haveria mais sinais para a nação, exceto um, o sinal do profeta Jonas, que é o sinal da ressurreição. Esse sinal foi dado com a ressurreição de Lázaro, e está registrado em Em João 11.1-44

O livro de Hebreus declara que "As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos..." (Hb 11.35), referindo-se a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, feita pelo profeta Elias (1Rs 17.22-23) a ressurreição do filho da sunamita, feita pelo profeta Eliseu (2Rs 4.35-36). O Antigo Testamento cita ainda outro milagre de ressurreição ocorrido quando um homem morto, que sendo lançado na sepultura de Eliseu, ao tocar nos ossos do profeta, ressuscitou dos mortos (2Rs 13.21).

Então como pode a ressurreição de Lázaro ser considerado um milagre messiânico, se os profetas Elias e Elizeu também realizaram o milagre da ressurreição? Jesus ressuscitou Lázaro dos mortos depois de estar morto por quatro dias. O fato de Lázaro estar morto quatro dias torna a ressurreição de Lázaro única e distinta dos demais milagres de ressurreição.

De acordo com os ensinamentos do judaísmo farisaico, quando um homem morria, o espírito do homem pairava sobre o corpo durante os primeiros três dias. Durante esses três dias, sempre havia a possibilidade de que a ressuscitação pudesse trazê-lo de volta. No quarto dia, o espírito do homem descia ao sheol (o mundo dos mortos), e a partir de então, a ressurreição era impossível. Somente o Messias poderia realizar o milagre da ressurreição num caso desses. Foi por isso que Jesus esperou passar três dias (Jo 11.6), e realizou a ressurreição de Lázaro somente no quarto dia (Jo 11.17). 

Lázaro já estava morto há quatro dias. Sua ressurreição realizada pelo Messias no quarto dia, criou uma grande agitação entre os fariseus. João informa que logo após este milagre, o Sinédrio se reuniu para planejar a morte de Jesus (Jo 11.45-54), e, posteriormente a morte de Lázaro (Jo 12.9).

Apenas um de cada um dos quatro tipos de milagres messiânicos (a cura de um leproso, um endemoninhado mudo, um cego de nascença, e um morto ressuscitado) não foram suficientes para convencer os fariseus. Então Jesus realizou dez curas ou dez milagres messiânicos. Desta vez, não foi apenas um, mas dez leprosos foram curados por Jesus (Lc 17.11-19). Mais uma vez Jesus ordenou que os leprosos se apresentassem aos sacerdotes: "E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos." (Lc 17.14).

Jesus realizou dez milagres messiânicos diante dos olhos dos sacerdotes, e agora, eles deveriam passar sete dias investigando os dez milagres messiânicos. Dez vezes, eles tiveram que decretar que os dez leprosos estavam limpos e curados de sua lepra. Dez vezes, eles tiveram que decretar que Jesus havia realizado o milagre. Dessa vez sua messianidade não foi proclamada pela boca de duas ou três testemunhas, mas pela boca de dez testemunhas, e essas testemunhas foram eles mesmos. Portanto, mais uma vez Jesus provou à liderança de Israel que eles não tinham base nenhuma para rejeitá-lo como Messias.

 

CONCLUSÃO

 

Quando João Batista enviou seus discípulos para se certificar de que Jesus era o Messias: “E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos. A dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?" (Mt 11.2,3), Jesus respondeu citando os quatro milagres messiânicos: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: (1) Os cegos vêem, e os coxos andam; (2) os leprosos são limpos, e (3) os surdos ouvem; (4) os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt 11.4,5). Veja também Lc 7.22.

A primeira parte da profecia de Isaias (Is 35.5,6a): 5Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. 6Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará...” (Is 35.5-7), já se cumpriu na 1ª Vinda de Jesus.

A segunda parte desta profecia (Is 35.6b,7): ...porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. 7E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos” (Is 35.5-7), se cumprirá na segunda vinda de Jesus.

Isso significa que quando o Messias voltar a esta Terra, haverá abundância de água. A água jorrará no deserto do Negev e nas correntes do deserto do Aravah.

O Negev é agora um deserto arenoso que não pode produzir. Ele tem bom solo, mas tem falta de água. Isso será resolvido no reino milenar. Israel está fazendo o deserto florescer, mas o Negev ainda é improdutivo. A área norte que é produtiva nunca foi parte do deserto, mas lá só há pântanos que precisavam ser drenados.

O Aravah tem o mesmo problema do Negev, e sofre pela falta de água. No reino milenar, o solo produzirá mananciais de água. Não só isso, mas “nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.” (Is 35.7). Nos lugares onde os chacais outrora jaziam em Babilônia e Edom, a grama, o junco e o papiro crescerão.

FIM



Pastor Luiz A. Ferraz


[1]     Esta pergunta fala apenas de três milagres, porque tanto a matéria quanto o título original desse estudo, se baseou no texto de Isaias 35.5-7 onde apenas três dos milagres messiânicos foram mencionados. Há um quarto milagre messiânico que não consta na profecia de Isaias, e também não constou na primeira versão dessa matéria, mas foi adicionado agora nessa segunda edição, ao final deste artigo, como o quarto milagre messiânico realizado por Jesus.

[2]     Miriam foi curada antes da Lei ser completada, e Naamã era um gentio sírio e não um judeu: E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio (Lc 4.27).

 



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