Autor: Pastor Gilberto Stefano
Igreja
Batista da Fé,
Rua Jamil
Dib Lufti, nr. 165
Jardim
Santa Clara
17500-000
Marília, São Paulo
Fonte:
www.palavraprudente.com.br
[01] A ORIGEM DO APELIDO "CRISTÃO"
[02] A GRANDE DESFRATERNIZAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS
[03] A ORIGEM DOS "ANABATISTAS"
[04] AS PERSEGUIÇÕES CONTRA OS ANABATISTAS
[05] IDENTIFICANDO OS ANABATISTAS ATÉ O SÉCULO XII
[06] IDENTIFICANDO OS ANABATISTAS DO SÉCULO XII a XV
[07] OS ANABATISTAS DO SÉCULO XVI
[08] A QUEDA DO APELIDO ANABATISTA
[09] OS BATISTAS
[10] A HISTÓRIA DAS IGREJAS ERRADAS APÓS A EXCLUSÃO
Os Católicos e Os Protestantes
[11] A Igreja Adventista do Sétimo Dia e Os Testemunhas de Jeová
[12] Os Pentecostais, Os Neo-Pentecostais e Os Carismáticos
CAPÍTULO I
O significado
para a palavra cristão hoje é bem diferente do significado usado nas escrituras.
Hoje, qualquer um que segue uma religião denominada "cristã", acha se
no direito de dizer que é um cristão. Alguns são tão depravados em sua forma de
viver que de maneira nenhuma fazem jus a essa palavra. Outros são tão errados biblicamente
e mesmo assim insistem em achar-se cristãos. E aí está o problema: O próprio indivíduo
achar-se um cristão quando não o é.
A palavra cristão como é usada na bíblia é um apelido. E este apelido referia-se
aos crentes que andavam de uma forma digna. A conduta (dentro da família e da sociedade),
a transformação interior e exterior, sucediam a profissão de fé destes crentes.
Tamanha era a transformação que se tornavam impossíveis de não serem notados. Então
a própria sociedade, testemunhando esta transformação, chamava-os de "cristãos".
Assim, ser apelidado de cristão seria uma grande honra a qualquer crente.
É errado, mesmo numa igreja considerada correta, chamar pessoas não regeneradas
de cristãos. Não vemos na Bíblia um só exemplo dos apóstolos considerarem verdadeiros
crentes aqueles que ainda viviam no pecado. Paulo nos dá um grande exemplo disso
em I Co 6,9-11; quando fala que: "Os injustos não herdarão o reino de Deus", e numa lista muito
ampla dá exemplo do que é ser um injusto: "Não vos enganeis, nem impuros, nem idólatras, nem
adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados,
nem maldizentes, nem roubadores, herdarão o reino dos céus, e tais fostes alguns
de vós".
Alguns Coríntios foram achados nos pecados mencionados acima. Foram! Mas o sangue
de Jesus lavou-os, santificou-os e os justificou. O pecado era coisa do passado
na vida destes crentes. Achar que se é um cristão por pertencer a uma igreja denominada
de cristã é um grande erro. A maior igreja cristã do mundo tem um bilhão e duzentos
milhões de fiéis. Todos idólatras, ou então não estariam lá. Herdarão os mesmos
o reino dos céus? Se não herdarão os reino dos céus porque é certo chamá-los de
cristãos?
O verdadeiro significado da palavra "cristão" não está tanto neste lindo
apelido. Está na pessoa que aceita Jesus como seu salvador e vive dignamente como
um verdadeiro discípulo do Senhor Jesus Cristo.
A palavra cristão também não é um nome próprio dado por Jesus aos seus discípulos.
Ele jamais chamou um de seus apóstolos ou qualquer outra pessoa de "cristão".
Ele simplesmente chamava-os de "discípulos" ou "seguidores".
Esta palavra, no sentido que é usada na Bíblia, é nada mais e nada menos que um
apelido dado aos discípulos ou membros da igreja de Jesus Cristo.
O apelido
"cristão" surgiu pela primeira vez na cidade de Antioquia em referencia
aos discípulos de Cristo naquela cidade (At 11,26). Foram assim chamados pelos moradores
daquela grande metrópole devido ao bom exemplo que davam e por sempre testemunhar
a respeito de Jesus. Desde então o apelido pegou e suplantou os outros apelidos
que eles tinham, como por exemplo o de "nazarenos", apelido pelo qual
eram conhecidos os discípulos pelos judeus (At 24,5).O apelido cristão generalizou-se
de tal forma que em pouco tempo todos os membros das igrejas de Cristo foram assim
chamados. Não houve outro que representasse tão bem os discípulos de Cristo até
meados do terceiro século, período no qual houve a necessidade de acrescentar um
sobrenome a este apelido.
Até o século terceiro não havia nenhuma instituição denominacional como temos hoje.
Não havia a Igreja Católica, ou a Igreja Batista, ou a Igreja Anglicana. Havia apenas
a Igreja de Jesus Cristo, e como vimos, seus membros foram apelidados de cristãos.
Jesus, ao instituir sua igreja, nunca chamou-a por um nome como Católica ou Batista.
Chamava-a de "minha igreja" (Mat. 16,18), ou quando muito, colocava o
nome da cidade onde ela se encontrava, "Igreja de Esmirna" (Apoc. 2,8).
O crescimento
dos cristãos foi espantoso. O núcleo formado por Cristo em Jerusalém se espalhou
para a Judéia, Galiléia e Samaria. Não tardou muito e o evangelho atravessou as
fronteiras da Palestina atingindo a Síria, Chipre e toda a Ásia Menor. Mais algum
tempo e toda a costa norte e sul do mediterrâneo possuía grandes centros de cristãos.
Nos lugares mais longínquos não seria tão difícil encontrar um cristão professando
a fé bíblica.
O crescimento inicial foi conseqüência do espírito missionário que havia no coração
dos apóstolos. Esse espírito foi transmitido a primeira geração de convertidos,
os quais, até o segundo século, conseguiram espalhar o evangelho em quase todo o
mundo conhecido. O fator de não ter um local específico para a reunião de cultos
(ainda que havia um lugar especial onde eles se reuniam aos domingos, e a julgar
pelo que diz Paulo era sempre no mesmo local - I Co 11,18 e 20 ), facilitava o esparramar
do evangelho. O costume de prédios par as igrejas favorece no conforto e na questão
denominacional, mas desfavorece no sentido de trazer novas pessoas a Jesus. A julgar
pelas escrituras será preciso as igrejas verdadeiras repensarem o fator prédio.
O crescimento
veio acompanhado do ciúmes do judaísmo e das religiões pagãs, sendo as últimas protegidas
pelo império. De princípio o judaísmo perseguiu e fez vítimas como Estevão e o apóstolo
Tiago. Décadas depois o paganismo entrou em ação, e com o apoio dos imperadores,
suas vítimas chegaram aos milhões. Trajano, imperador entre 98 a 117, decretou um
ofício em que o cristianismo em si já constituía um crime, e todos que nele fossem
encontrados deveriam ser julgados e punidos com a morte. Ofícios como este voltaram
a ser decretados por outros imperadores, e bem como este davam força às religiões
pagãs para tentarem destruir a igreja de Cristo.
Entretanto as igrejas permaneciam de pé e aumentando cada vez mais. Tertuliano,
escreveu certa vez que: "o sangue dos cristãos era uma semente. Quanto mais matava mais crescia."
A perseguição teve seu lado positivo. Muitos por verem que os cristãos sofriam as
atrocidades calados tiveram curiosidade de conhecer o movimento. Ao conhecerem diversos
se convertiam ao Senhor. A perseguição ajudou a fortalecer a fé de muitos crentes.
É certo que muitos se desviaram, mas os fiéis se tornaram ainda mais fiéis. Além
do que, foi preciso formar um cânon do Novo Testamento, pelo qual, foi regida a
igreja primitiva e tem sido regidas as verdadeiras igrejas de Jesus até o presente.
Estas igrejas eram na sua maioria igrejas fiéis. Sempre houve as erradas. Desde
o tempo apostólico as heresias entraram e permaneceram em algumas igrejas de Cristo.
Infelizmente as heresias cresceram de tal forma que por causa delas houve no terceiro
século uma grande desfraternização das igrejas cristãs.
CAPÍTULO II
O
terceiro século é marcado por um acontecimento muito importante na história das
igrejas de Cristo. Mais exatamente no período que vai desde o ano de 225 até o ano
de 253. Neste tempo houve uma declaração de desfraternização entre
as igrejas por motivos doutrinários e organizacional.
Eram tempos difíceis. Apesar das conversões acontecerem em grande número, as igrejas
sofriam externa e internamente. Externamente, devido às perseguições já mencionadas.
Internamente, porque as igrejas estavam sendo corrompidas por dois erros absurdos
totalmente antibíblicos. Um deles chegava ao ponto de substituir a salvação que
é através da graça. O outro tirava a chefia de Cristo sobre sua própria igreja.
Desde os primórdios da igreja sempre foi um problema a questão de como o homem poderia
alcançar o céu. O ensinamento de Jesus e posteriormente dos apóstolos eram unânimes:
"Pela graça
somos salvos". O Novo Testamento nunca deixou dúvidas sobre este assunto.
Mesmo nas igrejas primitivas esse foi um problema sério. O primeiro concílio das
igrejas em Jerusalém foi realizado justamente para resolve-lo. O próprio apóstolo
Pedro, vendo que havia contenda sobre o assunto, deixou claro que: "cremos que seremos salvos pela graça". Portanto, o ensinamento
bíblico sobre a questão é que o único meio de se chegar ao céu é por Jesus, pela
graça, e, usando como meio de alcançá-la, a nossa fé.
Não contentes com esse princípio, e querendo fazer uma mudança não autorizada nas
Escrituras, muitos pastores começaram a ensinar que a salvação não era apenas pela
graça. Implantaram um novo meio de salvação: O batismo. Pensavam: "A Bíblia tem muito a dizer em relação
ao batismo. Muita ênfase é colocada na ordenança e no dever concernente a ela. Evidentemente
ela deve ter algo a ver com a salvação". Dessa forma criou corpo a ideia de REGENERACÃO BATISMAL,
ou seja, o indivíduo precisa ser batizado para ir ao céu. Colocou-se a água do batismo
no lugar do sangue de Jesus. Esse erro é pai de um erro futuro que ainda demoraria
a aparecer: O batismo infantil.
Além desse grave erro [ensino da regeneração batismal] houve um outro. Foi o surgimento
dentro das igrejas de uma hierarquia temporal. Um erro que fere a autoridade única
do Senhor Jesus Cristo sobre sua igreja. Nenhum dos apóstolos, jamais, em versículo
algum do Novo Testamento, quis a primazia entre os outros na igreja primitiva. Não
vemos na Bíblia homens como Pedro, Paulo, ou qualquer outro apóstolo subjugar seus
irmãos na fé, ou ainda requerer deles uma cega sujeição. Eles se consideram homens
comuns, sujeitos aos desejos da carne e com possibilidade de queda (At l0,15-16;
Rom 7,24).
Mas alguns pastores não entendiam dessa forma. Viam no cristianismo um meio de alcançar
a primazia entre seus semelhantes. Muitos começaram a se desviar do ensinamento
de que todos os membros são iguais dentro da igreja. O pastor começou a exercer
um papel de "chefão". Alguns historiadores relatam esse erro da seguinte
forma:
O pastor de Hermas (cerca de 150 A.D.): "Mestres dignos não faltam, mas há também tantos falsos
profetas, vãos, cúpidos (desejosos) pelas primeiras sés, para os quais a maior coisa
na vida não é a prática da piedade e da justiça senão a luta para o posto de comando."
O Historiador
Mosheim:
"Os pastores
aspiravam agora a maiores graus de poder e autoridade do que possuíam antes. Não
só violavam os direitos do povo como fizeram um arrocho gradual dos privilégios
dos presbíteros..."
Os membros já não eram considerados irmãos, mas súditos do "bispo".
[Estes] comandavam a igreja como se comanda um exército. João cita o exemplo de
um crente chamado Diótrefes. O apóstolo deixa claro que esse homem "buscava
a primazia entre eles", referindo-se, é claro, aos irmãos na fé. Diótrefes
tornou-se tão audacioso, que, quando João escrevia para a igreja ele impedia que
os irmãos lessem a carta. Esse é só um simples exemplo do que acontecia já no tempo
dos apóstolos. Pedro ao comentar o assunto diz que o pastor é o servo e não o senhor
da igreja (I Pedro 5:1-4). Aliás, a palavra por ele usada é muito clara: "Não como tendo domínio sobre
a herança de Deus". O pastor jamais deve ser o chefe da igreja, mas o servo que
irá conduzir o rebanho.
Essa terrível ideia de um bispo monárquico governar os demais pastores teve início
na pessoa de Clemente (95 A.D.), pastor da igreja em Roma. Foi ele o primeiro
a buscar a primazia entre os demais. Chegou a envolver-se num problema que não lhe
pertencia por direito, querendo mandar numa igreja a qual não pastoreava, que foi
a igreja de Corinto. Depois dele foi Inácio, bispo de Antioquia na Síria,
que viveu entre os séculos I e II. Ele exorta todos os cristãos a obedecerem o bispo
monárquico e aos presbíteros (20,2). Chegou a comparar a obediência ao bispo monárquico
com as cordas de uma harpa. Ele é o primeiro a contrastar o ofício do bispo ao do
presbítero e a subordinar os presbíteros ou anciãos ao bispo monárquico, e os membros
das igrejas a ambos. Mas deve-se a Cipriano, bispo de Cártago (morto em 258),
que foi um dos principais autores desta mudança de governo da igreja, pois pugnou
pelo poder dos bispos com mais zelo e veemência do que jamais fora empregada nessa
causa.
Como se pode observar, não foi uma lei feita do dia para a noite. Foi uma heresia
que aos poucos penetrava dentro das igrejas, a saber, nas igrejas maiores dos grandes
centros.
Esse erro [ditadura do bispo sobre os presbíteros, e destes sobre as ovelhas] veio
a favorecer a outro de tamanha maldade. Foi o erro de uma igreja ter autoridade
sobre outra igreja. A Bíblia ensina que a igreja deve ser independente ou seja:
a igreja de Antioquia não tinha autoridade sobre a igreja de Éfeso; a igreja de
Éfeso não tinha autoridade sobre a igreja de Laodicéia; e assim por diante. No livro
de Apocalipse, quando Cristo conversa com as sete igrejas da Ásia, ele trata cada
uma individualmente. Cada uma tem seu próprio anjo (pastor), e nenhuma será recompensada
ou corrigida pelo erro da sua co-irmã.
Acontece que os pastores de muitas igrejas não viam as coisas como Deus ensinou.
Viam a sua ganância acima da vontade de Deus. Os pastores das grandes igrejas como
a de Roma, Alexandria, Antioquia, e muitas outras, iniciaram um processo de subjugar
as igrejas menores. Eram tempos difíceis. O imperador perseguia a igreja. Junto
com as perseguições vinha a fome. Com isso as igrejas maiores engrandeciam-se, e
numa falsa humildade, ajudavam as menores. Foi assim que principalmente Roma passou
a gozar de uma distinção especial. Essa ajuda tinha um preço muito alto: A submissão
de muitas igrejas menores. A igreja co-irmã deixava de ser uma igual para tornar-se
vassala.
Na luta para ver qual igreja ia ser a maior entre as igrejas erradas, prevaleceu
a igreja de Roma, mas é claro, sem o consentimento dos grandes bispos monárquicos,
iniciando-se assim uma luta interna entre as igrejas heréticas. Esse assunto será
tratado mais cuidadosamente na origem da igreja Católica.
Apesar
destes dois erros terem invadido as igrejas de Cristo, houve muitas, senão a maioria,
que não admitiam os tais. Houve tentativas no sentido de trazer as igrejas desviadas
de volta ao verdadeiro costume bíblico. Entretanto, o poder político das igrejas
fiéis era quase nada. A maioria destas igrejas eram pequenas congregações, e seus
pastores [eram] homens simples com o único objetivo de fazer a vontade de Deus.
Alguns não eram tão simples assim, como o pastor Montano, que veementemente pregou
em toda a Ásia contra essas heresias (160 d.C.) e Tertuliano (a partir de 202 d.C.)
no ocidente. Este último chegou mesmo a desafiar várias vezes os pastores heréticos,
principalmente o de Roma, a voltar a obedecer às Escrituras.
O fato é que as igrejas erradas ou heréticas não voltaram a obedecer a Bíblia. Pior.
Conforme os anos passavam mais erradas elas se tornaram. O assunto chegou a um ponto
que as igrejas certas deixaram de aceitar os membros vindos das igrejas heréticas.
Essa não aceitação, que a luz das escrituras é recomendada - pois se alguém crê
que o batismo salva deixa de acreditar que só Jesus salva - foi acrescida com o
rebatismo dos membros vindos das igrejas desobedientes. Daí ter surgido o apelido
"anabatista" [rebatizador] para os seguidores de Montano e, principalmente,
para as igrejas da Ásia Menor.
O rebatismo dos membros vindos das igrejas erradas acabou se tornando o objeto da
divisão da cristandade. As igrejas erradas (por serem grandes, mais famosas e politicamente
mais aceitas) não aceitaram passivamente a atitude das igrejas que rebatizavam seus
membros. Iniciaram-se grandes controvérsias a respeito do assunto. Realizaram-se
muitos concílios para tentar resolver a situação. Dois deles se deram em Cártago
em 225, um composto de 18 e o outro de 71 pastores, em ambas as assembleias ficou
decidido que o batismo dos heréticos - que pregavam a salvação pelo batismo e iniciavam
o sistema hierárquico católico - não devia ser considerado como válido. Os historiadores
McClintock e Strong comentam como se deu essa desfraternização: V.I pg 210.
"Na Ásia Menor
e na África, onde por muito tempo rugiu amargamente o espírito da controvérsia,
o batismo só foi considerado válido quando administrado na igreja correta. Tão grandes
foram as disputas sobre a questão, que dois sínodos se convocaram para investigá-la.
Um em Icônio e outro em Sínada da Frígia, os quais confirmaram a opinião da invalidade
do batismo herético. Da Ásia passou a questão à África do Norte. Tertuliano concordou
com a decisão dos concílios asiáticos em oposição à prática da igreja Romana. Agripino
convocou um concílio em Cártago, o qual chegou a uma decisão semelhante aos da Ásia.
Assim ficou a matéria até Estevão, bispo de Roma, no ano de 253, provocado pela
ambição, que procedeu em excomungar os bispos da Ásia Menor, Capadócia, Galácia
e Cilícia, aplicando-lhes os epítetos de rebatizadores e anabatistas".
Fica evidente que entre as igrejas erradas estava a de Roma. Sendo assim, ela foi
excluída no ano de 225 juntamente com as outras igrejas heréticas. A atitude do
bispo romano de excluir os pastores da Ásia mostra a que ponto estava sua vontade
de assenhorar-se do rebanho de Deus. Mas sua atitude de nada valeria, pois, um membro
excluído não pode excluir ninguém. Outro historiador, Neander, V.I pg 318, tem o
seguinte relato sobre estes acontecimentos:
"Mas aqui,
outra vez, foi um bispo romano, Estevão, que, instigado pelo espírito de arrogância
eclesiástica, dominação e zelo sem conhecimento, ligou a este ponto (salvação pelo
batismo) uma importância dominante. Daí, pelo fim do ano de 253, lavrou uma sentença
de excomunhão contra os bispos da Ásia Menor, Capadócia, Galácia e Cilícia, estigmatando-os
como anabatistas, um nome, contudo, que eles podiam afirmar que não mereciam por
seus princípios: porque não era o seu desejo administrar um segundo batismo àqueles
que tinham sido batizados, mas disputavam que o prévio batismo dado por hereges
não podia ser reconhecido como verdadeiro. Isto induziu Cipriano, o bispo [de Cártago]
a propor o ponto para a discussão em dois sínodos reunidos em Cártago em 225 A.D.,
[tenso sido] um composto de 18, outro de 71 pastores, ambas as assembleias declarando-se
a favor das ideias de que o batismo de heréticos não devia ser considerado como
válido".
Num resumo simples destes dois relatos verifica-se que, no ano de 225 A.D., as igrejas
reúnem-se em concílios e decidem pela exclusão das igrejas que administravam o batismo
como forma de salvação, que eram, justamente, as igrejas que admitiam um bispo monárquico
sobre as igrejas. Entre as igrejas erradas estão as de Roma, Antioquia, Cártago
e muitas outras. Entre as igrejas fiéis está uma muito conhecida pelos estudantes
da Bíblia, a igreja de Éfeso.
A partir
desta data, 253 d.C., as igrejas de Cristo se dividiram em dois grandes blocos.
[De um lado,] os anabatistas, assim chamados por não aceitarem o batismo das igrejas
erradas, e [do lado oposto] os católicos, nome dado às igrejas heréticas desde o
ano de 170 por Inácio, pastor de Antioquia [ele escreveu "Onde quer que
o bispo apareça, ali deve o povo estar; como onde quer que Jesus Cristo estiver,
ali estará a Igreja Católica. Não é lícito batizar ou dar comunhão sem o consentimento
do bispo. Por outro lado, tudo o que tem a sua aprovação é agradável a Deus. Assim,
tudo o que for feito será seguro e válido." - Carta ao Esmirnaenses, 8].
O futuro destes dois grupos deu razão aos fiéis para o fato de terem excluído os
demais. Com o passar do tempo as igrejas erradas, como veremos, multiplicaram ainda
mais suas heresias. Enquanto isso, vivendo conforme as Escrituras, os cristãos anabatistas
lutavam para sobreviver e manter de pé as chamas do evangelho.
CAPÍTULO III
Como vimos
no final do capítulo dois, com a desfraternização dos cristãos entre os anos de
225 a 253 A.D., surgiu dois grandes blocos de cristãos. O bloco dos anabatistas
e o bloco das igrejas erradas. Neste capítulo trataremos especificamente com o futuro
que tomaram as igrejas fiéis cognominadas de "anabatistas".
Nos livros
de história e em muitas enciclopédias encontraremos algumas notas sobre quem foram
os anabatistas. Em alguns livros são chamados de "dissidentes", e em outros
de "seita de heréticos". Há escritores que, não querendo se comprometer
com sua maioria de leitores católicos ou protestantes, chama-os de "fanáticos
religiosos".
Observando estas poucas entre muitas referências erradas sobre eles, podemos analisar
cuidadosamente. Eram dissidentes? Não. Dissidente é uma pessoa que [muda seu pensamento
e, por isso,] se separa de outro por algum motivo. Eles não [mudaram de doutrina
nem, em consequência disso,] se separaram de ninguém. Apenas não concordavam com
heresias dentro da igreja. Se uma igreja tem 20 membros. Quinze resolvem mudar a
fé. Cinco permanecem fiéis. Quem dissidiu? Os quinze que estão no erro ou os cinco
que permaneceram fiéis? É evidente que dissidente é aquele que saiu daquilo que
está certo e firmado.
Chamá-los de um ajuntamento de heréticos é o mesmo que chamar os apóstolos de heréticos.
Não foram os anabatistas que mudaram de fé. Nunca foi a intenção de um anabatista
mudar aquilo que Deus ordenou. Heréticos foram os pastores e membros das igrejas
erradas, os mesmos que posteriormente foram conhecidos como católicos. Os anabatistas
não eram uma facção [de desvio] de cristãos. Eles eram os verdadeiros cristãos.
Portanto, seita foi a igreja - Católica - que surgiu tendo como membros indivíduos
e pastores excluídos por motivos biblicamente corretos.
Também não eram fanáticos religiosos. Seguir a Cristo como manda as escrituras não
é ser fanático, é ser discípulo verdadeiro. Discordar de heresias não é fanatismo,
é zelo pela palavra de Deus. Seria os apóstolos fanáticos? Zaqueu foi um fanático
por querer fazer a vontade de Deus? Paulo foi um fanático quando condenou a idolatria?
Pedro foi um fanático quando discordou da salvação pelas obras? De forma alguma.
A maior prova de que os anabatistas não eram fanáticos está no exemplo dos primeiros
cristãos mencionados no livro de Atos.
Podemos afirmar com certeza que os anabatistas foram os verdadeiros seguidores de
Jesus entre os anos de 225 até os anos de 1600. Homens que amavam servir a Cristo.
Eram cristãos que não concordavam com o erro grotesco de ver pessoas acreditando
que o batismo ajudava na salvação; Cristãos que não aceitavam em ver um bispo monárquico
querendo mandar no rebanho de Deus. Igrejas que tiveram a coragem de excluir do
meio cristão original as igrejas heréticas. Foram eles os autênticos sucessores
dos apóstolos na obediência a Jesus e a sua Palavra.
O próprio
título confessa que o sobrenome dado aos cristãos fiéis - anabatistas - é um apelido,
e tem tudo a ver com o propósito para o qual ele foi dado. Anabatistas é uma palavra
grega que significa "batizar outra vez". O prefixo "ana" quer
dizer outra vez, e a raiz "batista" significa mergulhar ou batizar nas
águas. Assim, quando uma igreja era chamada de anabatista por outra, significava
que ela batizava outra vez os membros vindos das igrejas erradas.
Este apelido
foi usado pela primeira vez na Ásia Menor para distinguir, nesta região, as igrejas
fiéis das erradas. O local mais aceito como sua origem é na Frígia, local de onde
saiu o pastor Montano para pregar contra os dois erros mencionados no segundo capítulo,
os quais, corrompiam as igrejas cristãs. Montano foi um pastor muito itinerante,
e por isso sua mensagem se esparramou por toda Ásia Menor, fazendo que as igrejas
dessa região permanecessem fiéis à doutrina recebida pelos apóstolos. Montano viveu
cerca de 156 A.D. Foi justamente nessa época que as igrejas da Ásia Menor resolveram
rebatizar membros vindos de igrejas erradas. Então pela primeira vez uma igreja
foi conhecida como "anabatista".
Oficialmente, o apelido "anabatista" é usado em 253 A.D., pelo bispo romano
Estevão que, indignado com o fato de ver sua igreja excluída pelas igrejas da Ásia,
resolveu chamá-las de "anabatistas". O fato é que, depois do bispo romano
ter se manifestado, todas as igrejas que não concordavam com a ideia de Salvação
através do batismo, nem concordavam com a necessidade de um bispo monárquico, foram
conhecidas como anabatistas.
Talvez o
leitor esteja confuso e pergunte o porquê dos cristãos terem a necessidade de receber
outro apelido além de cristão.
Um crente fiel ao Senhor tem muito amor aos ensinos da Bíblia. Jesus ao enviar a
grande comissão dá três ordens: Fazer discípulos; batizar; e ensinar as coisas que
ele ordenou. Então, uma igreja fiel irá: pregar, batizar e ensinar o que ele ordenou.
Note que ele diz: "vos tenho ordenado". Ordem é ordem. Mandamentos são
mandamentos. A igreja não pode fazer aquilo que não lhe foi ordenado, mas somente
o que Jesus mandou. Por isso as igrejas fiéis não podiam e nem podem se submeter
a erros heréticos como mudar o plano de salvação e a chefia da igreja!
A exclusão das igrejas erradas pelas igrejas fiéis, que ocorreu a partir de 225
A.D., foi uma atitude necessária para a conservação do evangelho puro e original.
Assim como um membro profano deve ser excluído do seio da igreja, da mesma forma
uma igreja profana deve ser excluída da comunhão com as outras igrejas [, as que
permanecem] fiéis. O próprio Senhor Jesus nos ensina no livro de Apocalipse que
o simples fato de uma igreja não ser fria nem quente é motivo de ser "vomitada".
Queiram os ecumênicos ou não, já no segundo século havia dois tipos de cristãos:
os fiéis ao evangelho e os infiéis. Os infiéis, excluídos em 225, já não tinham
mais o direito de batizar, ao menos que se reconciliassem. Como isso não aconteceu
perderam totalmente a ordem do batismo. Aceitar o batismo de uma igreja excluída
é o mesmo que aceitar que um crente excluído saia por aí batizando todo mundo. Conclui-se
que o rebatismo de membros vindos de uma igreja excluída é algo necessário, pois
quem não recebe o batismo de uma igreja biblicamente aceita, não recebeu o batismo
cristão.
Portanto, o apelido anabatista, só apareceu porque as igrejas erradas não quiseram
se arrepender de seus erros. Além do que, não se chamaram assim, mas foram pelas
igrejas erradas assim chamados. O fato dos anabatistas não terem repudiado o apelido
significa que o mesmo estava de acordo com uma realidade da época, ou seja, precisava
haver rebatizadores para enfrentarem as heresias das igrejas erradas.
CAPÍTULO IV
Como vimos
nos capítulos anteriores, as igrejas fiéis, a partir do ano de 253.A.D., foram decididamente
conhecidas pelas igrejas erradas pelo apelido de anabatistas. No presente capítulo
estudaremos as aflições que esses crentes passaram para permanecerem leais ao ensino
de Jesus. Foram duas fases distintas de perseguição. Na primeira fase a perseguição
foi sofrida juntamente com as igrejas erradas, pois, para todos os efeitos, os pagãos
não saberiam bem distinguir quem era o certo e quem era o errado. Aos pagãos o que
interessava era eliminar o cristianismo. Essa fase durou até o ano de 313 A.D. A
partir desta data, o Imperador Constantino fez uma proposta de casar o Estado com
a Igreja. As igrejas erradas aceitaram o convite. As fiéis não. Começou então a
segunda fase de perseguição. Neste período vemos as igrejas fiéis sofrendo perseguições
nas mãos de igrejas erradas. Abaixo temos um breve relato destas duas fases de perseguição.
Até o ano
de 313 A.D., os cristãos - fiéis ou errados - sofriam as perseguições vindas com
os editos lançados pelos imperadores. As primeiras conhecidas foram as de Nero (54-68).
Pedro e Paulo morreram nesse período. A perseguição estourou pela segunda vez em
95 durante o governo despótico de Domiciano. Foi nesse período que o apóstolo João
ficou preso em Patmos. Outras se deram em 112 por Plínio, e em 161-180 por Marco
Aurélio. Estas perseguições foram locais e esporádicas até o ano de 250, quando
se tornaram gerais e violentas, começando com uma dirigida por Décio. Muitos pastores
se desviaram nesta perseguição. Em 303, Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs,
a destruição das igrejas, a deposição dos oficiais da igreja, a prisão daqueles
que persistissem em seu testemunho de Cristo, e a destruição das Escrituras pelo
fogo. Um último edito obrigou os cristãos a sacrificarem aos deuses pagãos sob a
pena de morte, caso recusassem.
Esta primeira fase de perseguição criou dois problemas internos [aos círculos cristãos]
que necessitavam de solução. Um dos problemas foi as duas duras controvérsias que
tiveram lugar no Norte da África e em Roma, envolvendo a maneira de tratar aqueles
que tinham oferecido sacrifícios em altares pagãos, quando da perseguição movida
por Décio, e aqueles que entregaram Bíblias na perseguição dirigida por Diocleciano.
As igrejas fiéis depuseram do cargo os pastores que caíram durante este período.
Foi o caso do bispo de Cártago, Felix. Já as igrejas erradas achavam que estava
tudo bem, afinal de contas eram tempos de perseguição. Assim, apoiado pelo bispo
de Roma, Felix manteve-se no cargo de pastor. Esta atitude separou ainda mais as
igrejas fiéis das erradas. Os donatistas surgiram desta questão.
[Donatistas defendiam que o batismo administrado pelas igrejas de pastores traditores
era inválido: o pastor devia ser reexaminado e reordenado (se genuinamente arrependido),
e seus batizados deviam ser evangelizados e rebatizados. (o nome "pastores
traditores" refere-se àqueles que negaram sua fé durante a perseguição
de Diocleciano mas que, tão logo passou a perseguição e veio a bonança, foram
prontamente perdoados e readmitidos nas más igrejas)]
A perseguição movida por Diocleciano provocou o segundo problema, que foi o do Cânon
do Novo Testamento. Se o possuir epístolas podia levá-los a morte, os cristãos precisavam
estar seguros de que os livros pelos quais poderiam padecer a morte eram realmente
livros canônicos. Esta preocupação ajudou nas decisões finais acerca de qual literatura
era sagrada. Foi assim que resolveu-se aceitar os atuais vinte e sete livros do
Novo Testamento seguindo a seguinte ideia: verificar se ele tinha sinais de apostolicidade;
verificar se foi escrito por um apóstolo ou por alguém ligado intimamente aos apóstolos;
verificar a eficácia do livro na edificação da igreja quando lido publicamente;
e verificar sua concordância com a regra de fé dos apóstolos. [ver http://www.biblicaltraining.org/blog/curious-christian/7-10-2012/what-criteria-were-used-determine-canon-scripture ]
Em 313, com o edito
de Milão, Constantino fez cessar a perseguição aos cristãos em todo o império e
gradualmente foi cumulando-os de favores. O imperador logo percebeu a clara divisão
entre os cristãos. Percebera a importância de ser apoiado pela hierarquia de uma
religião poderosa. Mas precisava que essa hierarquia fosse unânime em sua fidelidade
ao Estado. Assim, embora pagão, presidiu concílios da Igreja e obrigou-a a unificar-se.
Devido a essa atitude foi prontamente contrariado pelos anabatistas. Indignado,
e aliando-se aos cristãos errados, baniu e perseguiu os fiéis que não concordaram
com sua unificação das igrejas. Começaram as terríveis perseguições das seitas cristãs
oficiais - protegidas pelo imperador - contra as não oficiais, os anabatistas, que
se mantiveram independentes do governo. Pela primeira vez na história, a partir
do ano 313, encontramos a página mais triste da história das igrejas. Encontramos
cristãos errados perseguindo os cristãos fiéis. Esta perseguição, além de visar
o extermínio dos anabatistas, também foi a mais longa. Durou mais de mil e trezentos
anos, vindo a terminar após a Reforma no século XVII.
As heresias que levaram as igrejas erradas a serem excluídas eram de princípio duas:
Salvação pelo batismo e a ideia de um bispo monárquico. Agora, com a igreja se tornando
a religião oficial do Estado, e estando sob a orientação e o comando do Imperador,
temos mais uma heresia, e esta feriu a independência da igrejas para com o Estado.
Para a infelicidade dos fiéis, era esta uma heresia que dava muita força aos cristãos
errados. Os pastores das igrejas heréticas tornaram-se mais fortes do que já eram.
O bispo de Roma logo despontou como soberano sobre os demais. Até algumas igrejas
fiéis, vendo neste casamento o cessar da perseguição, debandaram de lado, diminuindo
consideravelmente o número das igrejas fiéis às Escrituras.
Protegidos e armados com o apoio dos imperadores, as igrejas heréticas mostraram
sua verdadeira face. A face da intolerância. A face de um caráter depravado que
não tinha nada de Cristo. A face do ódio contra quem era fiel a Cristo. Liderados
pelo bispo Romano no Ocidente e pelo bispo de Constantinopla no Oriente, as igrejas
heréticas passaram a perseguir cruelmente as igrejas fiéis. Proibiu-se o direito
de culto; proibiu-se a livre interpretação das Escrituras; proibiu-se o rebatismo;
quem não pertencesse à igreja oficial - ou Católica - seria perseguido e condenado
à morte. Qualquer pessoa que fosse rebatizada pelos anabatistas sofreria a pena
de morte. Os pastores anabatistas foram a uma condenados à fogueira, ao afogamento,
à tortura e a toda sorte de assassinato e extermínio possível.
Assustados com a perseguição e na busca da sobrevivência, as igrejas fiéis fugiam
de lugar a lugar. Iniciou-se o período de migração dos anabatistas para os países
onde havia a tolerância religiosa. Portanto, a partir do século IV vamos encontrá-los
em diversos países e com diversos nomes. No capítulo seguinte serão estudadas estas
fugas mais detalhadamente.
Foi visto
no capitulo anterior que o motivo da fuga dos anabatistas deveu-se ao plano de extermínio
por parte das igrejas heréticas. O plano, primeiramente elaborado pelo imperador
Constantino, foi seguido pelos seus sucessores e levado a cabo pelos bispos das
principais igrejas heréticas, como as de Roma e Constantinopla. Em qualquer enciclopédia
o leitor poderá encontrar como foi feito este plano. Chamava-se INQUISICÃO. Durou
mais de 1200 anos e matou mais de 50.000.000 (cinqüenta milhões) de anabatistas
em todo o mundo. Vejamos o relato da enciclopédia BARSA sobre a Inquisição:
"Se bem
que a Inquisição só se apresentasse em plena pujança no século XIII, suas
origens, contudo, remontam ao século IV. A partir de então data a perseguição àqueles
que não aceitavam o credo católico. Tinham seus bens confiscados e eram
condenados à morte. As perseguições foram acentuadas no século IV e V. Do
século VI ao IX as perseguições diminuíram. Aumentaram, porém, a partir da
última parte do século X, registrando então numerosos casos de execuções de
hereges, na fogueira ou por estrangulamento. O papa Inocêncio III (1198-1215)
foi responsável por uma cruzada contra os albingenses (anabatistas do sul da
Franca), após a qual praticou execuções em massa".
Note na frase acima: "suas origens ... remontam ao século IV". Foi justamente
neste período - após 313 A.D - que os cristãos heréticos, por terem unido a Igreja
com o Estado, conseguiram forças para destruir os cristãos fiéis. Fica claro, segundo
este relato da BARSA, que o motivo ou a intenção dos cristãos heréticos era o de
exterminar os anabatistas, e o método que usaram foi a famosa INQUISICÃO.
No mesmo relato mencionado somos informados de que as perseguições foram acentuadas
nos séculos IV e V. Só Deus sabe quantos cristãos fiéis foram rudemente assassinados.
Quando diz que "do século VI ao IX as perseguições diminuíram", não foi
pelo fato de haver misericórdia por parte dos católicos. Quer dizer que não tinham
tantos anabatistas para eles matarem, pois, após trezentos anos de perseguição e
genocídio, ficaram poucos para contarem a história. A partir do século X, lá pelos
anos 900, quando em alguns países o números de anabatistas aumentava, a perseguição
recrudescia, ou seja, era mais sanguinária.
Um dos motivos pelo qual, no século XVI, os anabatistas apareceram em grande número
na Alemanha, Boêmia, Países Baixos e Inglaterra, é que nestes lugares a Inquisição
era bem menor. No sul da Europa, devido à influência papal, era quase impossível
um anabatista sobreviver.
Sem a liberdade de cultos e com a vida constantemente ameaçada, os anabatistas só
tiveram uma saída. Fugir para os montes e lugares distantes. Fugir da inquisição
promovida pela ira e maldade papal.
O motivo pelo qual os anabatistas eram perseguidos foram:
- não submissão à hierarquia religiosa;
- não aceitação do batismo como um sacramento ou algo que tenha a ver com a salvação;
- pregar que a salvação é só pela graça sem a ajuda das obras;
- negar o culto aos santos;
- negar que Maria é mãe de Deus.
CAPÍTULO V
Não é fácil
traçar um lugar exato para o movimento dos anabatistas [ou uma tabela dizendo
em que países ou regiões em que os rebatizadores estavam, a cada século], pois os
mesmos mudavam-se durante os períodos de graves perseguições. Outro problema é os
[vários] apelidos que eles levavam. Houve tempo em que mais de um apelido foi usado
para designar o mesmo grupo de pessoas, é o caso dos montanistas na Ásia,
Paulicianos na Armênia e Donatistas na África do Norte, todos viveram
na mesma época entre os séculos IV ao VIII [e tinham doutrinas muito
semelhantes nos aspectos básicos, uma vez que cada uma era procurava ser
basicamente idêntica à do Novo Testamento]. No período que vai desde o ano 160 até
1100, houve pelo menos quatro grandes e influentes grupos de anabatistas. São eles:
- os Montanistas - principalmente na Ásia Menor;
- os Novacianos - na Ásia Menor e na Europa;
- os Donatistas - por toda a África do Norte; e
- os Paulicianos - primeiramente no oriente médio, indo para o centro europeu e
de lá para os Alpes no sul e regiões campestres no norte da Europa.
Os apelidos que receberam derivavam-se ou de um nome pessoal (exemplo: Donatistas
de Donato) ou podia ser derivado de um lugar (exemplo: Albingenses da cidade de
Albi no sul da Franca). Porém, o que mais importava nestes quatro grupos, não era
o nome que recebiam, mas se realmente eram fiéis às doutrinas da Bíblia.
Oficialmente,
os "montanistas" foram os primeiros cristãos a serem chamados de anabatistas
pelos cristãos infiéis ou hereges. O apelido montanista vem do nome próprio MONTANO,
que foi um pastor frígio que viveu aí por volta de 156 A.D.
Foi um movimento que varreu toda Ásia Menor num momento em que as [demais] igrejas
estavam sendo destruídas pelas heresias da [doutrina da] salvação pelo batismo e
a ideia de um bispo monárquico. Os montanistas insistiam em que os que tivessem
decaído da primeira fé deveriam ser batizados de novo.
O historiador contemporâneo Earle E. Cairns diz que o movimento "foi uma tentativa
de resolver os problemas de formalismo na igreja e a dependência da igreja da liderança
humana quando deveria depender totalmente do Espírito Santo." E também acrescentou
que o "montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da igreja
quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espírito
Santo." (O Cristianismo Através dos Séculos, pg 82 e 83).
Como sua mensagem era uma necessidade para as igrejas, o movimento espalhou-se rápido
pela Ásia Menor, África do Norte, Roma e no Oriente. Algumas igrejas grandes chegaram
mesmas a serem chamadas de Montanistas. Foi o caso da igreja de Éfeso. Tertuliano,
considerado um dos maiores Pais da Igreja, por ser bom estudante da Bíblia, atendeu
aos apelos do grupo e tornou-se montanista. Apesar de serem radicais quanto às regras
de fé de uma igreja, formavam um povo humilde e manso.
As igrejas erradas logo reagiram contra esse movimento. No concílio de Constantinopla,
em 381 (portanto, nesta época, a igreja e o Estado já estavam casados um com o outro),
os pastores das igrejas heréticas ou católicas declararam que os montanistas deviam
ser olhados como pagãos, serem julgados e mortos [! como isto atesta que as
igrejas estatais que sistematicamente mandaram caçar e assassinar crentes
discordantes delas, buscando o extermínio total deles, tais igrejas estatais
seguiram o exemplo do fratricida Caim!]
As igrejas erradas tinham verdadeiro ódio aos montanistas. O próprio Montano é visto
[pelas igrejas erradas] como um arqui-herege da Igreja [errada, a católica]. Os
livros inventam e condenam o movimento chamando-o de pagão e anti-cristão. Na verdade,
pagãos e anti-cristãos eram os membros das igrejas erradas. Assim que as igrejas
erradas se casaram com o Estado veio a perseguição das mesmas contra os montanistas.
O segundo
grupo de anabatistas oficialmente conhecido é o dos "novacianos". Assim
como os montanistas, este apelido [novaciano] é proveniente do nome próprio "Novácio".
Novácio foi um pastor da Ásia Menor que viveu em cerca de 251 A.D. Pouco sabemos
sobre sua pessoa, mas, a julgar pelos [testemunho dos] membros de sua igreja, ele
foi um homem fiel a Deus. Os novacianos formaram o primeiro grupo a ser chamado
de catharis, ou seja, os puros. Isso devido à pureza de vida que levavam. Temos
algumas informações a respeito destes anabatistas pelos maiores historiadores da
história da Igreja:
Mosheim, Vol. I, pag 203:
"Rebatizavam
a todos que vinham do Catolicismo".
Orchard em Allix's Piedmont C 17, pg. 176:
"As igrejas,
assim formadas sobre o plano de comunhão restrita e de rígida disciplina, receberam
a alcunha de puritanos. Formaram a corporação mais antiga de igrejas cristãs das
quais temos qualquer notícia, e uma sucessão delas, provaremos, continuou até hoje.
Tão cedo como em 254 esses dissidentes (cristãos verdadeiros) são acusados de terem
infeccionado a França com as suas doutrinas, o que nos ajudará no estudo dos albingenses...
Estas igrejas existiram por sessenta anos sob um governo pagão, durante cujo
tempo os velhos interesses corruptos em Roma, Cártago e outros lugares não possuíam
meios senão os da persuasão e da censura para pararem o progresso dos dissidentes.
Durante este período as igrejas novacianas foram muito prósperas e foram plantadas
por todo o império romano. É impossível calcular o benefício do seu serviço à comunidade.
Conquanto rígidos na disciplina, cismáticos no caráter, foram achados extensivos
e numa condição florescente quando Constantino subiu ao trono em 306 A.D."
W. N. Nevins, comenta que: "Na conclusão do quarto século, tinham os novacianos três ou quatro
igrejas em Constantinopla, assim como em Nice, Nicomédia, Cocíveto e Frigia, todas
elas grandes e extensivas corporações, além de serem muito numerosas no Império
Ocidental. Havia diversas igrejas em Alexandria no século quinto. Aqui Cirilo, ordenado
bispo dos Católicos Romanos, fechou as igrejas dos novacianos. O motivo foi o rebatismo
dos católicos. Foi lavrado um edito em 413 pelos imperadores Teodósio e Honório
declarando que todas as pessoas rebatizadas e os rebatizadores seriam punidos com
a morte. Conformemente, Albano, zeloso ministro com outros, foram assim punidos
por batizar. Como resultado da perseguição nesse tempo, muitos abandonaram as cidades
e buscaram retiro no país e nos Vales do Piemonte, onde mais tarde foram chamados
de valdenses.".
O Dr. Robinson, em Eclesiastical Reserches, 126, traça a continuidades dos
anabatistas [rebatizadores, sob diversos nomes a eles dados através dos
séculos] até à Reforma e à aparição do movimento [novamente chamado de] anabatista
do século XVI. E acrescenta: "Depois, quando as leis penais os obrigaram a se esconder em lugares
retirados e a adorarem a Deus secretamente, foram designados por vários nomes".
Parece que o movimento dos novacianos, apesar de se iniciar um século depois do
movimento montanista, cresceu mais que o primeiro, pelo menos no ocidente. Enquanto
o Montanismo crescia na Ásia Menor e no Oriente, os novacianos cresciam mais no
ocidente. Um terceiro grupo, os donatistas, crescia mais na África do Norte.
Os donatistas
formaram o terceiro grupo cujos membros eram oficialmente chamados de anabatistas.
Foram assim chamados devido serem da mesma opinião que Donato, pastor na cidade
de Cártago por volta do ano 311 A.D.
Este movimento apareceu em Cártago durante a perseguição de Diocleciano. O motivo
foi simples: Recusaram comunhão comum com os pastores apóstatas como foi o caso
de Felix, pastor da maior igreja em Cártago. Felix sacrificou [em adoração] aos
ídolos e [em adoração] ao imperador, durante a perseguição de Diocleciano. Muitos
fiéis morreram na mesma época por recusar agir da mesma forma. Findada a perseguição,
Felix ordenou ao ministério Ciciliano, que era acusado de ser um traidor. Donato
solicitou a sua deposição, pois sustentava que o fato de não ter sido fiel no tempo
da perseguição invalidava a possibilidade de Felix ordenar. Esta solicitação é justa
e bíblica. Se um pastor é deposto de seu cargo por cair na apostasia, que direito
ele terá de ordenar alguém? Apoiado pelos pastores das grandes igrejas do ocidente,
Felix permaneceu no cargo. Desapontados em ver as Escrituras sendo atropeladas,
os cristãos fiéis do norte da África fizeram o mesmo que os do Oriente, Ásia Menor
e do Ocidente: excluíram da comunhão os pastores e igrejas infiéis. Os que assim
agiram foram conhecidos como Donatistas.
Donatistas e Novacianos eram idênticos em sua doutrina e disciplina. Crispim, historiador
francês, diz deles que concordavam: "Primeiro, pela pureza dos membros
da igreja, por afirmarem que ninguém deverá ser admitido na igreja senão tais como
verdadeiros crentes santos e reais.
Depois, pela pureza da disciplina da igreja.
Terceiramente, pela independência de cada igreja. Quartamente, eles batizavam outra
vez aqueles cujo primeiro batismo tinham razão de pôr em dúvida".
Não há dúvida de que a maior identificação que liga os quatro grupos de anabatistas
primitivos - montanistas, novacianos, donatistas e paulicianos - foi a recusa em
aceitar as heresias pós-apostólicas das igrejas erradas. Isso os levou a rebatizar
os membros vindos dessas igrejas e, consequentemente, recusar a comunhão com as
mesmas. O certo é que todas [as igrejas dos quatro grupos], por defenderem as verdades
bíblicas, receberam o apelido de anabatistas [que significa rebatizadores].
Um fato interessante da história dos donatistas é a disposição de Agostinho, o tão
famoso pai da igreja, concentrar discursos públicos acusatórios contra esses fiéis,
mais precisamente contra o bispo donatista Petiliano. Agostinho tentou censurá-los
em palavras, mas diante da Bíblia não houve como vencê-los, pois a Bíblia dava-lhes
razão. Perdendo o combate em palavras, Agostinho passou a persegui-los com a espada
imperial. Condenou os donatistas nas seguintes questões:
- Eram separatistas. Negavam-se a unirem com as igrejas oficiais [aplaudamos isso!];
- Insistiam no rebatismo dos que passavam da igreja oficial para a deles [aplaudamos
isso!];
- Eram irredutíveis em questão de fé [aplaudamos isso!];
O bispo donatista Petiliano, contra quem Agostinho concentrar discursos
públicos acusatórios, assim respondeu ao bispo católico: - "Pensai vós em servir a Deus matando-nos
com as vossas mãos? Enganais a vós mesmos. Deus não tem assassinos por sacerdotes.
Cristo nos ensina a suportar a perseguição, não vingá-la". E o bispo donatista
Gaudencio diz: - "Deus não nomeou príncipes e soldados para propagarem a fé.
Nomeou profetas e pescadores".
Os bispos católicos (alguns na África) começaram uma nova moda a partir de 370 A.D.
Foi a de batizar criancinhas recém-nascidas. Uma ideia prontamente defendida por
Agostinho, que fez o seguinte comentário: "Quem não quer que as criancinhas
recém-nascidas do ventre das suas mães sejam batizadas para tirarem o pecado original...
seja anátema". Essa ideia tão antibíblica foi totalmente recusada pelos
donatistas. Aumentaram, assim, as divergências entre católicos e donatistas.
O crescimento desse grupo de anabatistas foi espantoso. No concílio feito por Teodósio
II em 441, na cidade de Cártago, compareceram 286 bispos da igreja oficial e 279
bispos donatistas. Robinson declara que: "tornaram-se tão poderosos que a corporação
católica invocou contra eles o interesse do imperador Constantino [a favor dos católicos],
pelo que os donatistas inquiriram: - que tem o imperador a ver com a igreja? Que
têm os cristãos a ver com o rei? Que têm os bispos a ver no tribunal?". O historiador
Orchard, relatou que: "tornaram-se quase tão numerosos quanto os católicos romanos". E o historiador Jones
diz na sua Conferência Eclesiástica, Vol. I, pg 474: "Rara era a cidade ou vila na África
em que não houvesse uma igreja donatista".
O crescimento foi tanto que espantou Constantino.. Este imperador, que dizia-se
cristão, encheu as igrejas oficiais de favores. Na História da Igreja Católica,
página 20, temos o seguinte relato: "O clero foi colocado no mesmo pé de igualdade dos sacerdotes
pagãos em matéria de isenção e obrigação civis. Eram permitidos os testamentos em
favor da igreja". O mesmo livro, na página 20, diz: "Constantino fez doações, saídas
do tesouro público para a igreja que começava a acumular bens e grandes rendimentos".
Estes favores porém, só eram concedidos às igrejas oficiais, justamente aquelas
que venderam a fé por privilégios humanos, aquelas que desde o princípio precisaram
ser excluídas por mudarem até o plano de salvação. Na página 24 do livro já mencionado,
segue-se o seguinte relato: "Aboliram a lei da crucificação, porém, não estendeu nenhum desses
favores aos cristãos dissidentes, os montanistas por exemplo. No seu entusiasmo
de preservar a unidade de fé e disciplina, o imperador mostrou-se tão ativamente
hostil para com os dissidentes, tais como os donatistas, que qualquer um que novamente
estivesse preocupado com a futura liberdade da igreja teria passado um mal bocado". No livro O Papado
na Idade Média, página 24, esse relato é confirmado: "Constantino não podia tolerar, especialmente
a diversidade das crenças e dos cultos que caracterizava a igreja enquanto ainda
vaga a confederação. Manifestou essa resolução imediatamente, quando, após os sínodos
poucos categóricos de Roma, Cártago, e Arles, condenou pessoalmente os donatistas
no ano de 316 A.D."
O movimento [Donatista] foi praticamente exterminado com a chegada dos muçulmanos.
Em 722 A.D., o islamismo tomou conta do norte da África. As igrejas cristãs na África,
tanto donatistas, como as católicas - tanto as de rito ocidentais como as orientais
- foram destruídas. O movimento sobreviveu com outros nomes em outros lugares. Os
[cristãos do norte da África] que conseguiram sobreviver foram para o sul da França,
em Albi, ou para os Alpes no sul da Europa, como o Piemonte. Devido aos decretos
de punição com a morte de quem não batizasse as criancinhas, ficaram os donatistas
praticamente impedidos de entrar nas cidades ocidentais e orientais da Europa.
Os Paulicianos
podem ter sido o mais antigo grupo de anabatistas que se conhece. A falta de dados
sobre o seu princípio, e o falso relato das igrejas orientais sobre eles, dificultam
uma data exata para o início desse movimento.
As tradições narradas pelos monges da igreja grega dizem que os paulicianos surgiram
na segunda metade do século sétimo, tendo como fundador um tal Constantino. Realmente
Constantino , um pastor pauliciano, existiu. Mas era simplesmente uma pastor, que,
em 690 A.D., foi morto por lapidação [apedrejamento] por ordem dos bispos gregos.
Na História de Gibbon, VI, pg 543, Gibbon classifica o paulicianismo como
a forma primitiva [isto é, original] do cristianismo: "De Antioquia e Palmira deve ter
sido espalhada para a Mesopotâmia e a Pérsia; e foi nestas regiões que se formou
a base da fé, que se espalhou desde as cordilheiras do Tauro até o monte Arará.
Foi esta a forma primitiva do Cristianismo."
Noutro lugar, V, pg 386, diz ele: "O nome pauliciano, dizem os seus inimigos que se deriva
de algum líder desconhecido; mas tenho certeza de que os paulicianos se gloriaram
da sua afinidade com o apóstolo aos gentios".
O livro A Chave da Verdade, escrito pelos próprios paulicianos, citado por
Gregório Magistos no décimo primeiro século, e descoberto pelo Sir. Fred C. Conybeare,
de Oxford, em 1891, na Biblioteca do Santo Sínodo, em Edjmiatzin da Armênia, afirma
nas páginas 76-77 que [os paulicianos] são de origem apostólica: "Submetamo-nos então humildemente
à santa igreja universal, e sigamos o seu exemplo, que, agindo com uma só orientação
e uma só fé, NOS ENSINOU. Pois ainda recebemos, no tempo oportuno, o santo e precioso
mistério do nosso Senhor Jesus Cristo e do pai celestial: a saber, que no tempo
de arrependimento e fé. Assim COMO APRENDEMOS DO SENHOR DO UNIVERSO E DA IGREJA
APOSTÓLICA, prossigamos; e firmemos em fé verdadeira aqueles que não receberam o
santo batismo (na margem: a saber, os latinos, os gregos e armênios que nunca foram
batizados); como assim nunca provaram do corpo nem beberam do santo sangue do nosso
Senhor Jesus Cristo. Portanto, de acordo com a Palavra do Senhor, devemos traze-los
à fé, induzi-los ao arrependimento, e dar-lhes o batismo - rebatiza-los." [ênfase por
Hélio]
Fica claro que eles não se denominavam paulicianos, porém, "a igreja Santa, Universal e Apostólica". As igrejas romanas,
gregas e armênias eram duramente condenadas por eles. Condenavam principalmente
o batismo por imposição (praticado pelos imperadores) e o batismo infantil. [Exemplos
de batismo por imposição: no ano 311, Constantino ordenou que todos os soldados
de seu exército passassem através de um rio (com cavalos e tudo mais!), e os declarou
batizados. Justiniano, imperador de 527 a 563, ordenou que todos os habitantes do
império fossem batizados.]
Outro relato interessante é o do professor Wellhausen, na biografia que escreveu
sobre Maomé, na Enciclopédia Britânica, XVI, pg 571, pois ali os paulicianos
são chamados de "sabian", que é uma palavra árabe que significa "batista".
Na enciclopédia acima mencionada é dito que os sabianos - ou batistas - encheram,
com seus adeptos, a Síria, a Palestina, e a Babilônia. O maior grupo estava fixado
nas regiões montanhosas do Ararat e do Tauros. O motivo de escolherem este lugar
de tão difícil acesso é a perseguição movida contra eles pelas igrejas gregas. Enquanto
Montanistas, Novacianos e Donatistas eram perseguidos mais pelas igrejas romanas,
as igrejas gregas perseguiam os paulicianos no oriente.
O crescimento não podia deixar de despertar os inimigos. No ano de 690, o já mencionado
pastor Constantino foi apedrejado por ordem do imperador, e seu sucessor foi queimado
vivo. A imperatriz Teodora instigou uma perseguição na qual, dizem, foram mortos,
na Armênia, cem mil paulicianos.
Por incrível que pareça, [os Paulicianos] foram tolerados por muito tempo pelos
maometanos. Isso os deixou à vontade e foram eles os grandes missionários da idade
das trevas entre os anabatistas. Espalharam-se pela Trácia em 970, pela Bulgária,
Bósnia e Sérvia após o ano 1100. Em todos estes lugares foram como missionários
enviados pelas igrejas paulicianas. O historiador Orchard revela que "um número considerável de paulicianos
esteve estabelecido na Lombardia, na Insubria, mas principalmente em Milão, aí pelo
meado do século onze, e que muitos deles levaram vida errante na Franca, na Alemanha
e outros países, onde ganharam a estima e admiração da multidão pela sua santidade.
Na Itália foram chamados de Paterinos e Cátaros. Na França foram denominados
búlgaros, do reino de sua emigração, também publicanos e boni homines,
bons homens; mas foram principalmente conhecidos pelo termo albigenses,
da cidade de Albi, no Languedoc superior".
Em 1154, um grupo de paulicianos emigrou para a Inglaterra, tangidos ao exílio pela
perseguição. Uma porção deles estabeleceu-se em Oxford. Willyan Newberry conta do
terrível castigo aplicado ao pastor Gerhard e ao povo. "Seis anos mais tarde outra companhia
de paulicianos entrou em Oxford. Henrique II ordenou que fossem ferreteados na testa
com ferros quentes, chicoteados pelas ruas da cidade, suas roupas cortadas até à
cintura e enxotados pelo campo aberto. As vilas não lhes deviam proporcionar abrigo
ou alimento e eles sofreram lenta agonia de frio e fome." É interessante lembrar
ao leitor que João Wycliff (1320-1384), considerado a "estrela d'alva"
da Reforma, iniciou justamente em Oxford sua luta para reformar a podridão do catolicismo.
Sem dúvida ele teve algum contato com algum sobrevivente dos paulicianos.
A partir do século XII ,o nome pauliciano foi caindo em desuso. Conforme suas emigrações
e campos missionários, foram recebendo novos nomes ou se fundindo com os outros
grupos de anabatistas da Europa. No sul o nome perdeu-se entre os albingenses
e valdenses. No centro e norte da Europa foi aos poucos prevalecendo o nome
de "anabatistas".
CAPÍTULO VI
Os anabatistas
dos séculos XII ao XV são a continuação ou os descendentes diretos dos anabatistas
primitivos. A única coisa que vai mudar é o sobrenome do apelido. Vimos que na primeira
geração de anabatistas havia quatro grandes correntes, que iam desde o Oriente Médio
até a Europa. A partir do século XII, a mais forte destas correntes (os paulicianos)
fundiu sua identidade com os irmãos europeus que serão estudados neste capítulo.
Dois grandes grupos de anabatistas apareceram neste período. Esse número pode ser
bem maior, mas me falta conhecimento para integrá-los aos demais. Não é nossa ideia
trabalhar com hipóteses. Trabalhamos com declarações e documentos de estudiosos
no assunto de história das igrejas. Por isso consideraremos apenas dois grupos como
autênticos anabatistas. São eles: os albingenses e os valdenses. A
história de amor pela palavra de Deus, e a perseguição que sofreram decorrente deste
amor, é uma das histórias mais lindas e tristes que já li.
Após os
quatro grupos primitivos de anabatistas, os albigenses é o primeiro a se destacar
como seus descendentes. Já se notou que os montanistas, donatistas e novacianos,
após a investida de Roma e Constantinopla sobre eles, foram obrigados a se refugiar
na região dos Pirineus, sul da Franca. Também os paulicianos, a partir do século
XI, se fixaram nestes lugares. Foi exatamente assim que Deus guardou sua igreja
pura e viva, para descobri-la novamente ao mundo e pregar as boas novas. Os velhos
nomes morreram, mas a fé permaneceu a mesma. A doutrina também não mudou. Também
não mudou o costume de rebatizar os católicos, e por isso todos os dois grupos eram
identificados como seus antecessores, ou seja, "anabatistas".
Alguns historiadores traçam a origem dos albigenses como tendo provindo dos paulicianos
(Enc. Brit. I, pg 45), enquanto outros afirmam que eles se achavam no sul
da França desde os primeiros dias do cristianismo. Este apelido não provém do nome
de um pastor famoso, como, por exemplo, os novacianos. É um apelido proveniente
do lugar onde os anabatistas se encontravam. Albi era uma cidade no distrito de
albigeois, no sul da França.
Após a perseguição desencadeada por Roma e Constantinopla sobre os montanistas,
novacianos e donatistas, estes três grupos, sem exceção, ficaram impedidos de pregar
nas cidades do ocidente e do oriente onde prevalecia o poder papal. A prática de
rabatizar os católicos era punida com a morte. Então, num gesto de conseguir a sobrevivência
da fé e da ordem apostólica, estes grupos procuraram esconder-se nos Alpes e nos
Pirineus. Ao chegarem nestes lugares perderam o antigo apelido e foram conhecidos
por outros apelidos: ALBIGENSES - pelo lugar onde se refugiaram; CÁTAROS - Devido
a pureza de vida que levavam; HOMENS BONS - Pela inegável integridade desses crentes;
e ANABATISTAS - por rebatizaram os que vinham do catolicismo romano ou ortodoxo.
Não existia diferença entre as doutrinas dos recém-chegados a esse refúgio - como
foi o caso dos paulicianos - e os anabatistas já instalados ali há quase um milênio
- a saber, os montanistas, novacianos e donatistas. Mesmo vindos de cantos totalmente
diferentes e de diversos lugares do mundo antigo, ao chegarem nos vales dessas montanhas,
uniam-se facilmente uns com os outros. O crescimento dos anabatistas neste lugar
fez o dr. Allix calcular o seu número em três milhões e duzentos mil pessoas só
nos Pirineus. (O Batismo Estranho e os Batistas, pg 63). É maravilhoso saber
como Deus guardou os anabatistas por tantos séculos e depois ajuntou-os num mesmo
lugar. É maravilhoso saber que a podridão do catolicismo não conseguiu penetrar
nessas igrejas de Jesus Cristo por todos estes séculos.
Qualquer pessoa pode por si mesma fazer um estudo minucioso sobre as atrocidades
cometidas contra os albigenses. O que o catolicismo fez por mais de um século contra
esse grupo de anabatistas pode ser lido em qualquer biblioteca de uma simples escola
pública. Basta pegar uma enciclopédia e abrir na página de Inocêncio III. Este papa
católico foi um dos muitos que mataram friamente anabatistas por mais de mil e trezentos
anos. Só que as atrocidades deste papa foram todas registradas e não podem ser escondidas
da sociedade. Para a igreja católica ele é um santo. Para mim, o mais usado por
Satanás, em seu tempo.
O Papa Inocêncio III (1198-1216) desencadeou contra os anabatistas de Albi o que
foi chamada de "a quarta cruzada". A chacina, iniciada em fins do século
XII, iria se prolongar até meados do século XIII. Centenas de milhares de albigenses
- também chamados de cátaros e bons homens, foram cruelmente assassinados pelo mandato
papal. Houve em 1167, na cidade de Toulouse, o chamado "Concílio Albigense".
Assunto: Tratar simplesmente dos hereges anabatistas que lá viviam. O resultado
desse concílio foi a quarta cruzada, posta em vigor pelo papa Inocêncio III. Em
22 de Julho de 1209, quase toda a população de Béziers foi massacrada. O papa Inocêncio
e seus sucessores, em nome de Deus, matavam anabatistas como se mata porcos. Alguns
albigenses que conseguiram se refugiar em Montségur (foram estes os últimos albigenses
anabatistas a assim serem chamados), conseguiram sobreviver [somente] até o ano
de 1244.
O escritor Nicolas Poulain assim descreveu o seu fim:
"A 16 de Marco
de 1244, os sitiadores prepararam uma enorme fogueira no sopé do rochedo de Montségur.
Então, os 200 [últimos] sobreviventes saíram do refúgio e desceram em lenta procissão
até seus carrascos. Os sãos sustinham os enfermos; de mãos dadas, entoavam hinos
religiosos. Entre eles, havia uma mãe com sua filha doente... impassíveis, todos
entraram nas chamas... o local onde foi erguida a fogueira ainda é conhecido como
o "campo dos queimados"; ali se erigiu uma estela [um marco de pedra,
memorial ou de comemoração] funerária onde foi gravada a seguinte inscrição: "EM
MEMÓRIA DOS CÁTAROS, MÁRTIRES DO PURO AMOR CRISTÃO."
E ainda há quem defenda um homem como Inocêncio III. E ainda há quem ache a igreja
católica ser a igreja que Jesus deixou. Não, não é. Deus não tem assassinos como
pastores. Sua igreja não é uma igreja assassina, pois, "a porta do inferno
não prevalecerá contra minha igreja." Se o leitor duvida do que aqui está escrito
procure saber por si mesmo a verdade. Mas busque a verdade.
A perseguição
que o papado moveu contra os albigenses durante várias décadas levou os anabatistas
a se deslocarem para muitos lugares. O nome albigense era sinônimo de morte. Surgiu
então um outro apelido para designar os anabatistas deste tenebroso período. Foram
chamados de Valdenses.
Os livros relatam que os valdenses se originaram de um rico comerciante de Lion
em 1176. Seu nome era Pedro de Valdo, daí [vem o nome] valdenses. Mas a verdade
é que esse grupo é uma continuação dos albigenses. Vendo os anabatistas albigenses
que a perseguição no sul da França não ia ter fim - como não teve - fugiram para
outras localidades. Em suas fugas iam evangelizando e rumando sempre para o norte
da Europa. Foi onde Pedro de Valdo se converteu, e por ser famoso, os inimigos logo
apelidaram os antigos albigenses de Valdenses.
[Correção por Hélio: Até mesmo alguns reformadores (por exemplo, Beza)
reconheceram que a Igreja Valdense foi organizada não por Valdo, mas pelos
habitantes do Vale de Vaudois (donde derivou-se o nome Valdense), nos Alpes
Italianos, cerca de 120 AD, a partir de quando eles passaram de pai para filho
os ensinamentos que receberam dos apóstolos. A Bíblia Latina, a Itálica, foi
traduzida do grego (depois chamado de Textus Receptus) o mais tardar em 157 AD.
http://www.giveshare.org/library/bible/waldensesandbible.html (The
Waldenses and the Bible. The Primitive Baptist Library)]
Significativo é o depoimento de Raisero Sachoni. Ele foi por dezessete anos um dos
mais ativos pregadores dos "Cátaros" ou "Valdenses". Mais tarde
uniu-se à ordem [de frades católicos mendicantes] dominicana, apostatando da fé.
Tornou-se um acérrimo inimigo dos Valdenses, e por isso o papa o fez ser inquisitor
da Lombardia. Por muitos anos, até à sua morte, acusou e mandou matar seus ex-irmãos
anabatistas. Foi um judas. Sua opinião sobre a origem dos valdenses é como se segue:
"Entre todas
as seitas não há mais perniciosa à igreja (católica, é claro) do que os valdenses.
Por três razões:
- Primeira, porque é a mais antiga, pois alguns dizem que data do tempo de Silvestre,
325 A.D. (Silvestre foi o papa que, junto com Constantino, condenou os donatistas,
montanistas e novacianos), outros [dizem que data] do tempo dos apóstolos.
- Segunda, é a mais largamente espalhada, porque dificilmente haverá um país onde
não existam.
- Terceira, porque, se outras seitas horrorizam aos que a ouvem, os valdenses, pelo
contrário, possuem uma grande aparência de piedade. Como matéria de fato, eles levam
vidas irrepreensíveis perante os homens e no que respeita à sua fé, aos artigos
do seu credo, são ortodoxos. Sua única falta é que blasfemam contra a igreja e o
seu credo".
O testemunho desse apóstata é muito importante. Não é fácil para um prelado católico
dizer que [os anabatistas Valdenses] "datam do tempo de Silvestre (ano 325
A.D.) ou dos apóstolos".
Outro escritor, dessa vez um francês, Michelet, diz na Historie de France,
II, pg 402, Paris 1833: "Os valdenses criam numa continuidade secreta
através da Idade Média, igual à da Igreja Católica".
E
Neander adiciona na History of the Christian, pg 605, Vol. IV, 1859: "Não
é sem fundamento a afirmação dos valdenses deste período (1100 em diante), a respeito
da antigüidade de sua seita, e que tinha havido, desde o tempo da secularização
da igreja, a mesma oposição (à igreja Romana) que eles sustentavam".
Os historiadores que se tem especializado na história dos valdenses sustentam a
ideia de que as doutrinas dos valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Diz Faber,
The Waldenses and Albigenses: "A evidência que acabo de produzir,
prova, não somente que os valdenses e albigenses existiram antes de Pedro de Lião;
mas também que, no tempo do aparecimento dele nos fins do século doze, havia duas
comunhões de grande antigüidade (O autor refere-se aos albingenses e valdenses ao
dizer que existiam duas comunhões). Segue-se, portanto, que, mesmo nos séculos doze
e treze, as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem remota foi atribuída,
mesmo pelos seus inimigos inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem. Os
romanistas mais bem informados do período não ousaram fixar a data da sua origem.
Eram incapazes de fixar a data exata dessas veneráveis igrejas. Tudo que se sabe
é que eles tinham florescido ao longo do tempo, e que eram muito mais antigos do
que qualquer seita moderna".
Portanto, se alguém quer saber a origem dos valdenses, saiba que, apesar de receberem
esse apelido somente a partir de 1100, já eram conhecidos como albigenses, paulicianos,
donatistas, novacianos e montanistas. Tinham de diferente apenas o apelido, mas
eram todos de uma mesma comunhão. Também todos, sem exceção, foram chamados de "anabatistas".
O fato de aparecer paralelamente no mesmo período albigenses e valdenses, não quer
dizer que os valdenses não seja uma continuação dos albigenses. Quer dizer que durante
um período de mais ou menos meia década, enquanto o apelido albigense caía em desuso,
crescia o nome valdense. É o que chamo de período de transição. O estudante notará
que a mesma coisa aconteceu no século XVI. Neste período, enquanto caía o apelido
anabatista, surgia o apelido batista.
Suas doutrinas eram idênticas à dos primitivos anabatistas. Há dois documentos,
datados de cerca do ano 1260 A.D., escritos por católicos que descrevem os valdenses:
Um deles diz: "os valdenses se vestiam com relativa simplicidade, comiam e
bebiam moderadamente, sempre eram laboriosos estudiosos, havendo entre eles muitos
homens e mulheres que sabiam de cor todo o Novo Testamento".
O outro documento é o tratado de Davi de Augsburgo, escrito sobre os "pobres
de Lião" ou valdenses, e impregnado de ódio e antipatia. Este documento diz
que os valdenses proclamavam-se "discípulos de Cristo e sucessores dos apóstolos"
e, quando eram excomungados [pelas igrejas papistas romanistas], regozijavam-se
com o fato de terem de sofrer perseguição como outrora os apóstolos, "nas mãos
dos escribas e fariseus". O documento informa que eles rejeitavam os milagres
eclesiásticos e os festivais, ordens, bênçãos, etc., dizendo que essas coisas foram
introduzidas pelo clero cobiçoso; batizavam os que abraçavam seus princípios, dizendo
alguns deles que o batismo de crianças não vale nada, pois elas são incapazes de
crer. Não criam que o sangue e o corpo de Cristo estão na eucaristia, limitando-se
a abençoar o elemento como um símbolo. Celebravam a ceia, recitando palavras do
evangelho; negavam o purgatório, o concubinato, o sacerdotalismo, o legalismo, etc.
A Perseguição aos Valdenses
Assim como os albigenses, os valdenses foram tenazmente perseguidos pela Igreja
Católica. A Inquisição matou, queimou, afogou, esfolou, torturou e fez muito mais
para destruir os valdenses. Só para o estudante ter uma idéia, o Papa João XXII
(1316-1334), tendo um rendimento farto e regular dos impostos criados por ele mesmo,
gastava 63% do tesouro papal para financiar a guerra contra os anabatistas e os
muçulmanos. (O Papado na Idade Média, pg 140 e 143). O papado obrigou o povo
a pagar impostos com o intuito de financiar guerras visando o extermínio dos anabatistas.
Em todos os países era passada a chamada "rota romana" com os ad doc -
que significa "a isto" - pressionando e atormentando o povo a pagar o
tributo para o papa.
No final do século XV os valdenses ainda estavam de pé. Suas forças estavam nos
vales dos Alpes. Tinham uma escola prática em Milão e de ramificações em zonas distantes
como a Calária e a Apúlia. Possuidores de um noviciado e de seminários independentes,
os valdenses punham em campo uma grande quantidade de missionários itinerantes,
os quais conheciam de cor longas passagens dos evangelhos e das epístolas.
Infelizmente, muitos se ligaram com os hussitas [seguidores do mártir John
Huss] na Boêmia e com os Lolardos na Inglaterra. Isso degradou em muito a pureza
de muitas igrejas valdenses, pois estas igrejas, assim como as protestantes, pregavam
uma fé em que podia-se pegar em armas para defender direitos [ué, Hélio vê
como permitido pela Bíblia que defendamos nossa vida e da nossa família, e que,
como soldados convocados, defendamos nossa pátria contra invasores]. No século
XVI, a euforia da Reforma também varreu uma grande parte dos valdenses. Acredito
que isso destruiu o grupo como denominação. Alguns se aliaram com os luteranos na
Alemanha, outros a Zuinglio na Suíça, e uma grande parcela com Calvino. Os fiéis,
que não se misturaram, continuaram anabatistas puros. Até hoje existe algumas igrejas
com o nome denominacional "valdense" [pena que a maioria delas parece
ter se tornado ecumênica e de evangelho social, ver http://www.waldensian.org/]
CAPÍTULO VII
Tenho visto
muitos historiadores da Igreja tentando responder erroneamente a questão de onde
vieram os anabatistas do século XVI. A resposta correta é simples: Não vieram, já
estavam. O movimento anabatista do século XVI é uma continuação dos movimentos anabatistas
que atravessaram toda a Idade Média. Os costumes são iguais; a doutrina é a mesma;
os membros tinham a mesma característica diante da sociedade. O fato de sabermos
mais sobre os anabatistas do século XVI do que os anabatistas da Idade Média, não
se deve ao fato de estarmos incertos sobre a existência dos últimos. Deve-se ao
fato de que agora já tinham inventado a imprensa. E também, com a divisão do catolicismo
no advento da Reforma, teríamos informações oficiais de dois lados, o catolicismo
e o protestantismo. Além do que o século XVI está bem mais próximo de nossa época
que o século IV. Pense bem: O que você sabe sobre o papa Silvestre do século IV?
Quase nada. Que tal verificar na sua memória o que você sabe sobre Lutero, Cabral,
e outros que viveram no século XVI? Tenho certeza que as informações sobre os últimos
são bem mais amplas. Porque seria diferentes com os anabatistas?
A ORIGEM DOS ANABATISTAS DO SÉCULO XVI
Admitir
que os anabatistas atravessaram toda a idade média, mesmo que levando outros nomes,
não é uma tarefa fácil. Para igreja católica admitir isso ela estará afirmando ter
sido exclusão [da comunhão deles] em 225, além do que, [estará reconhecendo] que
ela [a igreja católica] não é a igreja mais antiga. Para os protestantes - principalmente
luteranos e presbiterianos - é dizer que não foram seus patronos Lutero e Calvino
os resgatadores da verdade.
Os anabatistas têm sua origem nas igrejas anabatistas que conseguiram escapar da
perseguição católica durante o período das Trevas, que vai desde século IV até o
século XVI. Apesar de terem outros apelidos além de anabatistas, estas igrejas eram
o verdadeiro cristianismo, e todas, sem exceção, eram chamadas de "anabatistas".
SUAS CARACTERISTICAS
ORGANIZACIONAIS E DOUTRINÁRIAS
O historiador
A.G. Dickens, no seu livro A Reforma, pg 131- 140-141, faz um relato muito
significativo sobre a origem, organização e doutrina dos anabatistas do século XVI.
Ele não defende os anabatistas, mas também não pode negar o fato de serem eles um
grupo de cristãos totalmente diferente do catolicismo e protestantismo. Eis o relato
de Dickens:
"Em que sentido
pode o anabatismo ser chamado de um movimento? Não podemos certamente falar de uma
reforma anabatista como falamos de uma reforma luterana, zuingliana ou calvinista.
Os anabatistas não tinham nenhum chefe espiritual, nenhum código de doutrina largamente
aceito, nenhum órgão central dirigente (eram independentes). Não influenciaram os
governos, não modelaram as sociedades nacionais, não conservaram uma administração
política. Nessa comunidade de crentes fora das margens [isto é, fora do
catolicismo romano], a disciplina não se limitava apenas ao batismo. A confissão
de Schleitheim, um de seus documentos mais largamente divulgados, redigida em 1527,
talvez pelo mártir Miguel Satler, reduz-se a sete artigos:
- O batismo, diz-se, só será concedido aos que conheceram o arrependimento e mudaram
de vida, e que entrem na ressurreição de Jesus Cristo.
- Os que estão no erro não podem ser excomungados antes de advertidos por três vezes,
e isto deve-se fazer antes do partir o pão, de maneira que uma igreja pura e unida
se reuna.
- A ceia do Senhor é só para os batizados, e é um serviço comemorativo.
- Os membros devem deixar o culto papista (católico) e antipapista (protestante),
não tomarem parte dos negócios públicos (que eram na sua maioria imoral), renunciam
à guerra e às diabólicas e anticristãs arma de fogo.
- Os pastores devem ser sustentados pelas congregações, afim de poderem ler as escrituras,
assegurar a disciplina da igreja e dirigir a oração. Se um pastor é expulso ou martirizado,
deve imediatamente ser substituído, e ordenado outro, para que o rebanho de Deus
não seja destruído.
- A espada destina-se aos magistrados temporais, a fim de poderem castigar os maus,
mas os cristãos não devem usá-la, mesmo em legítima defesa, como também não devem
recorrer à lei ou tomar o lugar dos magistrados.
- São proibidos os juramentos."
O estudante deste tratado pode comparar o elo que liga os anabatistas do século
XVI aos dos séculos anteriores e aos batistas. São o mesmo povo. Olhe bem para os
artigos de fé acima mencionados. Compare com as doutrinas dos batistas. Existe alguma
coisa que não está de acordo? São todos o mesmo povo. Todos eram e devem ser verdadeiros
seguidores das Escrituras Sagradas.
AS DIVISÕES ENTRE OS ANABATISTAS DO SÉCULO XVI
Muitos há
que condenam o movimento anabatista do século XVI dizendo que eles por algum tempo
apelavam para a violência. Os que assim pensam se esquecem que toda igreja tem seu
lado ruim. Veja a Igreja de Jesus. Não havia lá o Judas? Era Judas o verdadeiro
representante da igreja ou um membro errado? Sim, os anabatistas tiveram membros
e pastores que não honravam suas doutrinas. E eram justamente aqueles que estavam
misturados com as revoluções luteranas, calvinistas e zuinglianas. Foi o caso de
Melchior. Dickens afirma no seu livro A Reforma, pg 142 sobre ele:
"Pode-se dizer
que a Confissão de Schleitheim, no seu conjunto, contém muitas posições características
e que era aceita pela maior parte dos anabatistas. Fora dela havia muitos preceitos
religiosos ou sociais não aceitos por todos eles e sujeitos a controvérsias. Doutrinas
não incluídas na confissão eram rigorosamente sustentadas por certas comunidades,
como a cristologia Melchiorita [ele marcou a volta de Cristo para 1533, em
Strasbourg, que seria a nova Jerusalém. Falhou. Isto o levou a ser um dos pais
da Rebelião de Munster]."
Para quem não sabe Melchior Hoffiman é acusado de ser anabatista e de fazer um levante
contra o Estado de Lutero na Alemanha. Dickens considera-o "sectários e extremistas
à margem [isto é, fora] do anabatismo" (A Reforma pg 143). O historiador
Christian diz que ele nunca foi um anabatista.
Hoje estamos vivendo uma situação parecida. [Porventura] são batistas aqueles que
se dizem batistas e não honram os artigos de fé bíblicos? [Porventura] são batistas
os batistas que acreditam na salvação pelas obras? [Porventura] são batistas os
que acreditam na salvação pela guarda do sábado? Porém na parede da frente de suas
igrejas está escrito: Igreja Batista. Realmente, somente é batista quem realmente
vive como um batista deve viver. Foi o caso dos anabatistas do século XVI. Uma maçã
podre não invalida as maçãs boas.
OS ANABATISTAS E LUTERO
Os anabatistas
do século XVI e o reformador católico Martinho Lutero escreveram uma página especial
do cristianismo naquele período. Quando Lutero iniciou o seu movimento encontrou
nos anabatistas um apoio antipapista. [Lutero e os anabatistas] tinham de comum
o fato de saberem que o papa era um servo de Satanás. Muitos anabatistas migraram-se
para a Alemanha animados com o discurso antipapista de Lutero. A decepção não demorou
a chegar. Quando Lutero conseguiu o poder temporal ele passou a perseguir os anabatistas.
Primeiro, usando discursos inflamados. Depois usou a intimidação. E por fim, usou
a força. Para decepção de muitos de seus admiradores, Lutero não ficou devendo nada
a nenhum papa em questão de crueldade contra os anabatistas. Veja alguns relatos
sobre a perseguição de Lutero aos camponeses anabatistas feitas pelo escritor Stefan
Zweig em seu livro Os Caminhos da Verdade, páginas 184 e 198:
"Lutero abraçava,
sem restrições e definitivamente, a causa da autoridade contra o povo. O asno, dizia
ele, precisa de pauladas; a plebe deve ser governada com a força... Iniciava-se
já a perseguição aos livres pensadores e aos dissidentes, instaurava-se a ditadura
do partidarismo... Arrancava-se a língua aos anabatistas, os atenazavam com ferros
candentes e os condenavam a fogueira como hereges os seus pregadores, profanavam-se
os templos, queimavam-se os livros e incendiavam-se as cidades."
Lutero não pode ser visto como um defensor da causa de Deus. Tampouco como alguém
que resgatou o direito de ler a Bíblia. Não, de forma alguma. Ditadores não são
homens de Deus. Homens que matam por causa de doutrina não são homens de Deus. Não
vemos Jesus arrancar a língua de ninguém para pregar o evangelho. Porque então seus
pregadores agiriam dessa forma? Lutero perseguiu os anabatistas porque estes não
se sujeitaram a seus caprichos de ditador.
Em Abril de 1525, por ordem de Lutero, o qual chegou a redigir um panfleto, numa
linguagem violenta contra os anabatistas, pediu que seus súditos colocassem fim
na desordem anabatista que atormentava o seu país. Naquele mês, mais de cem mil
anabatistas morreram assassinados pelos soldados luteranos. Essa é a verdadeira
história sobre os anabatistas e Lutero.
OS ANABATISTAS E CALVINO
A relação
entre Calvino e os anabatistas do século XVI não foi diferente da que houve com
Lutero. Todo revolucionário tem a tendência de se tornar um ditador. Aconteceu primeiro
com Lutero na Alemanha. Pouco depois aconteceu com Calvino na cidade de Genebra.
Nos livros que temos sobre a reforma não se pode esconder os atos de atrocidades
que Calvino cometeu contra feiticeiros, humanistas e aos anabatistas residentes
em sua cidade. No livro O Cristianismo Através dos Séculos, pg 254, diz que:
"Para garantir
a eficácia de seu sistema (o sistema de uma cidade santa), Calvino estabeleceu penalidades
severas. Vinte oito pessoas foram executadas e setenta e seis exiladas em 1546."
Temos o relato de uma testemunha ocular dos fatos, chamado Sebastião Castellio,
que fora um pastor Calvinista e tornou-se depois um humanista, abandonando seu ministério
devido a evidências tais quais temos a seguir:
"Revolta-me
o exemplo de como se procede nesta cidade o emprego da violência contra os anabatistas.
Eu mesmo vi arrastarem para o cadafalso uma mulher de oitenta anos com sua filha,
esta mãe de seis filhos, que não cometeu outro crime senão o de negar o batismo
das crianças." (Extraído do livro Uma Consciência Contra a Violência, página
115).
Se Calvino fosse um homem de Deus certamente agiria como a Bíblia ensina. Saberia
que somente teremos uma cidade perfeita quando estivermos no céu. Saberia conceder
a liberdade religiosa a seus concidadãos. Saberia que lugar de pastor não é no comando
de cidades e sim conduzindo o seu rebanho. Quem manda matar a mãe de seis crianças
por não aceitarem o erro do batismo infantil não pode ser um homem da dispensação
da graça. Os verdadeiros batistas não tem nada a ver com o calvinismo.
OS ANABATISTAS E ZUINGLIO
Zwinglio
(ex-sacerdote católico) foi um grande reformador e da mesma época que Lutero. Zurique
foi a cidade que ele escolheu para fazer notório o seu movimento reformador. Muitos
anabatistas foram para lá pensando justamente na liberdade religiosa que os reformadores
pregavam antes de se tornarem cruéis ditadores. No começo houve uma grande amizade
entre os anabatistas (principalmente os valdenses) e os simpatizantes de Zwinglio.
Muitos anabatistas inclinaram-se para o zwinglianismo, principalmente em setembro
de 1532. Parece que a maioria dos valdenses seguiram Zwinglio por este tempo. Mas
foram decepcionados. Zwinglio aceitou a adesão dos que queriam, mas condenou aqueles
que não quiseram se juntar a ele.
Assim que Zurique ficou em suas mãos, Zwinglio iniciou uma perseguição contra os
indomáveis anabatistas. Por sua ordem, o senado promulgou uma lei, segundo a qual
aquele que se atrevesse a batizar alguém que tivesse sido batizado antes, na infância,
fosse afogado. Suas ideias se espalharam por todas as cidades suíças de ascendência
alemã, e consequentemente, nestes lugares, os anabatistas eram afogados por batizarem
seus membros.
PORQUE OS ANABATISTAS NÃO SE UNIRAM COM OS REFORMADORES?
Uma igreja
que representa a pura doutrina deixada pelo Senhor Jesus não poderia se unir com
nenhum movimento reformador do século XVI.
- Primeiro, porque, como o próprio nome diz, era uma reforma da igreja Católica.
Se queriam reformá-la é porque admitiam que ela era uma igreja de Jesus, quando,
na verdade, tinha deixado de ser desde 225.
- Segundo, porque quando os reformadores vieram da igreja Católica, não houve entre
seus pastores iniciantes uma conversão de seus pecados. O que houve foi uma convicção
da parte deles de que a igreja católica estava errada. Até os católicos tinham essa
convicção.
- Terceiro, que, não se convertendo, também não foram e nem podiam ser batizados,
ordenança pela qual um crente professa publicamente que está aceitando Jesus e sua
Igreja. Se não foram batizados com que autoridade podiam ministrar o batismo ou
passar esta autoridade a outros?
As igrejas que saíram da reforma cometiam erros que jamais podiam ser aceitos como
sendo realizados pela igreja de Jesus.
- O primeiro é o batismo infantil. Todas as igrejas da Reforma batizavam crianças
recém-nascidas. A Igreja de Jesus nunca realizou e nem permitiu o batismo infantil.
- O segundo erro é a formação de uma igreja oficial [estatal, intimamente
ligada ao governo, idealmente controlando-o]. Por exemplo: Luterana na Alemanha;
Anglicana na Inglaterra; Presbiteriana na Escócia; Jesus nunca quis casar sua igreja
com o Estado. Antes ensinou: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus".
- Terceiro é a formação de uma hierarquia dentro da igreja, colocando uma igreja
acima da outra e pastores comandando outros pastores.
- O quarto erro é o uso de armas para impedir a liberdade religiosa e se meter em
guerras contra católicos.
- O quinto erro é o de praticarem o batismo por aspersão e não por imersão.
Por estes e outros motivos os anabatistas jamais poderiam ter se aliado com as igrejas
da reforma.
A OPINIÃO DE HISTORIADORES DA IGREJA SOBRE OS ANABATISTAS
Apesar de
não concordar com os historiadores convencionais a respeito da história dos anabatistas
(pois eles tratam os tais como dissidentes e hereges), penso ser importante a opinião
destes homens sobre os anabatistas.
A opinião
de A.G. Dickens, no livro a Reforma: "Durante os últimos anos fizeram-se estudos que
nos levam a ver com novo respeito o sopro do idealismo cristão que alimentava os
anabatistas. As horríveis crueldades de que foram alvo por parte dos católicos e
dos protestantes chocam mesmo aqueles que os estudos dos costumes do século XVI
endureceu... a maioria destes sectários era constituída por homens sinceros e pacíficos,
que teriam podido ser dirigidos sem recorrer ao fogo e ao afogamento... Haveria
muito a dizer, se nos quiséssemos referir aos seus descendentes espirituais, as
seitas do século XVII, da Inglaterra e da Nova Inglaterra (os batistas e menonitas),
e para podermos afirmar que os anabatistas deram grande contribuição à liberdade
religiosa e cívica." (página 143).
"Uma revisão realista obriga-nos a acrescentar que nenhuma outra seita religiosa
mostrou maior heroísmo passivo, face à perseguição." (página 141).
Quando afirmamos que os anabatistas são os sucessores autênticos dos apóstolos não
estamos idealizando uma fantasia. Estamos relatando uma verdade que jamais será
publicada nos livros de história eclesiástica.
CAPÍTULO VIII
Na metade
do século XVI, e no princípio do século XVII, há uma súbita queda do apelido "anabatista"
e o aparecimento rápido do apelido "batista" em toda a Europa. Muitos
procuram ligar a fundação das igrejas batistas à pessoa de John Smith (morto em
1612). Grandes historiadores como Orchard e Christian já fizeram o favor de desmentir
essa teoria. Qualquer estudante da história das religiões, se agir com sinceridade,
descobrirá que os batistas são o fim dos anabatistas. Os batistas são a junção de
diversos grupos anabatistas em torno desse nome com a queda do prefixo "ana".
E isso não aconteceu de repente ou de uma só vez. Foram necessário quase um século
para que a junção dos anabatistas ao nome batista fosse possível. E só se tornou
possível devido ao laborioso trabalho de resgate de pastores itinerantes que, levantados
por Deus, uniram os diversos grupos ao nome batista e também, ao nome "menonita".
POR QUE O APELIDO ANABATISTA CAIU?
Vimos que
no início do século XVI, muitos anabatistas, iludidos com o aparecimento de alguns
líderes da reforma, saíram de seus esconderijos e foram habitar nas cidades e povoações
onde a reforma explodia. Não demorou muito e toda a Europa Central foi minada com
a chegada desses cristãos. No sul da Alemanha, na Boêmia, na Suíça, na França, na
Hungria e nos países baixos [a Holanda], os anabatistas estavam fortemente organizados.
Animados com a chance de novamente poderem pregar publicamente - isso depois de
1200 anos - deixaram os Pirineus e os Alpes e marcharam rumo ao norte da Europa.
O sucesso foi imediato. As conversões multiplicavam-se. A cidade de Estraburgo,
na França, chegou a ter mais de dez por cento de sua população anabatista. Só na
Morávia, o pastor Jacob Hutter, organizou mais de oitenta igrejas em menos de dez
anos. Hutter foi morto em 1526 pregando o evangelho. O pastor Hans Huth, encadernador
itinerante, estendeu o evangelho por numerosos países da Europa. Abriu centenas
de igrejas no sul da Alemanha e na Áustria. Em 1527 ele foi preso em Ausburgo, interrogado
e submetido a tortura; morreu no mesmo ano, devido a queimaduras publicamente sujeitado.
O pastor Hubmaier teve grande participação dos trabalhos na Morávia, onde encontrou
auditório e leitores para seus panfletos. Em 1528 ele foi queimado na cidade de
Viena. Sua esposa foi lançada ao Danúbio com uma grande pedra no pescoço.
Cálculos menores indicam que só nos Países Baixos [Holanda] morreram mais de 30.000
anabatistas em menos de cinco anos de perseguição. A perseguição foi brutal e desumana.
Além dos casos mencionados acima temos um muito famoso: O martírio de Miguel Satler.
Este era um pastor batista. Sendo um homem de muita sabedoria, coube a ele, em 1527,
redigir a Confissão de Schleitheim, o credo anabatista. Foi o documento mais largamente
divulgado entre os anabatistas, o qual, como já mencionamos, era um precioso resumo
dos artigos de fé das igrejas anabatistas e posteriormente batistas. O ato lhe custou
o martírio. No livro Breve História dos Batistas, pg 59, temos um comentário
extraído de sua sentença de morte:
"Miguel Satler
deverá ser entregue ao carrasco. Este o levará até a praça e aí primeiro lhe cortará
a língua. Depois o amarrará a uma carroça e com tenazes incandescentes tirará, por
duas vezes, pedaços de seus corpo. Em seguida, a caminho do lugar da execução fará
isso cinco vezes mais e depois queimará seu corpo até o pó como um arqui-herege"
Assim ele morreu. Quando já na fogueira, as chamas queimaram as cordas que lhe prendiam
as mãos, e ele levantou os dedos indicadores. Era o sinal combinado com os irmãos
anabatistas para indicar que os sofrimentos eram suportáveis.
Os anabatistas cresceram tanto no século XVI que despertou o ódio dos católicos
e protestantes. A ilusão de que a reforma os ajudaria transformou-se numa grande
desilusão. Os protestantes do norte da Europa fecharam-lhe as portas e iniciaram
um período de perseguição intimidadora, que visava apenas fazerem parar de crescer.
Não adiantou. Continuaram a crescer. Foi Lutero, em 1525, que desencadeou uma perseguição
em massa. Essa perseguição atravessou as fronteriras da Alemanha e o apelido "anabatista"
tornou-se um sinônimo de morte. O historiador Dickens relata sobre esse fato escrevendo
um comentário de Bullinger, um escritor luterano contemporâneo de Lutero: "Por
toda a parte, tanto a católicos como a protestantes, estes sangrentos sucessos -
referindo-se à chacina causada por Lutero - serviram de aviso. Deus abriu os olhos
dos dirigentes, e de futuro ninguém poderá acreditar num anabatista, mesmo nos que
se dizem inocentes."
Bullinger deixa claro o que Lutero fez aos anabatistas no dia 25 de Junho de 1535
na cidade de Munster ao chamar o ato de "sangrentos sucessos". Sua ironia
em comentar o caso mostra que o reformador tinha pleno apoio de seus seguidores.
Além do que a opinião de Bullinger foi certeira no que se refere ao futuro difícil
que os anabatistas teriam pela frente. Após a chacina, até o ano de 1566, tanto
católicos como protestantes buscaram tenazmente a destruição das igrejas anabatistas.
Assustados, os anabatistas começaram a deixar de usar este apelido. Sabiam que a
simples identificação como anabatista bastava-lhe para ser morto. A partir de 1533,
tanto católicos como protestantes resolveram que iriam exterminar o anabatismo.
Por isso, eles se refugiaram pelos Países Baixos e já não podiam pregar publicamente.
Na busca pela sobrevivência espalharam-se como uma denominação organizada. Alguns
pastores, tentando evitar o martírio, mudavam-se de lugar e de nome também. Os pastores
mais famosos eram os mais procurados. Foi o caso de João de Leida, que fugindo de
Munster, instalou-se em Basiléia. Lá, gozando de uma certa liberdade, trocou seu
nome para David Joris, e pregava na clandestinidade. Considerado o mais famigerado
de todos os anabatistas, depois de morto, seu corpo é retirado do túmulo e queimado
junto com seu livro "Wonderboek".
O que aconteceu a João de Leida foi a realidade de milhares de anabatistas do mesmo
período. Mas tinha um problema. Mudavam de lugar e de nome, porém, como mudar de
Senhor? Como não rebatizar os católicos e protestantes que eram convertidos na clandestinidade?
Por onde iam, acabavam sendo descobertos pelo fato de batizarem por imersão os seus
membros. Foi assim que seus inimigos começaram a chamá-los de "batizadores"
ou "batistas".
Earle Cairns, em seu livro O Cristianismo Através dos Séculos, página 248,
afirma que: "os anabatistas são os ancestrais diretos das igrejas menonitas
e batistas hoje espalhadas pelo mundo."
O RESGATE DOS ANABATISTAS
Com a dispersão
dos anabatistas, muitos acabaram em lugares longínquos. Foi preciso haver um "resgate"
dos membros dispersos. Muitos anabatistas foram encontrados e resgatados às fileiras
da fé pela ação itinerante de pastores que viajavam por toda a Europa em busca das
ovelhas dispersas. Veja o relato de Dickens:
"Sabe-se que,
durante estes anos (de 1536 a 1561), Menon Simon viaja infatigavelmente através
da Alemanha e dos Países Baixos, confirmando e estendendo os grupos que haviam conseguido
escapar à perseguição... O pintor de Vitrais David Joris (morto em 1556) tornou-se
também um outro organizador itinerante. Foi finalmente obrigado a fugir para Basiléia,
onde, escondido durante largos anos, conseguiu evitar a fogueira."
Assim fica claro que, após a perseguição desencadeada de 1533, os anabatistas que
se dispersaram foram reagrupados por pastores itinerantes. Os resgatados por Menon
Simon - nem todos - acabaram sendo conhecidos por menonitas, e existem como denominação
até hoje. Os que foram resgatados por David Joris, e muitos outros pastores anabatistas,
ficaram sendo conhecidos como "batistas".
A ÉPOCA DA MUDANÇA OFICIAL DO APELIDO ANABATISTA PARA
BATISTA
A época
exata da mudança do apelido anabatista para batista está entre os anos de 1533 até
o ano de 1638. Temos relatos de que o nome batista era usado já no século XVI, e
também que o apelido anabatista ainda foi usado no século XVII. Para se ter uma
idéia clara sobre esse assunto basta o estudante lembrar que David Joris, que morreu
em 1556, agrupava os anabatistas em torno do nome "batista". Mas por outro
lado, a primeira Igreja Batista dos Estados Unidos, em Rhode Island, antes de ser
chamada de batista era formada por crentes "anabatistas", isso no ano
de 1638.
Relatos oficiais dos batistas norte-americanos nos informam que: Nos Estados Unidos,
na província de Rhode Island, foram fundadas as duas primeiras igrejas batistas
da América. Uma em 1638 e a outra em 1639. A primeira em Newport e a segunda em
Providence. A primeira, quando foi fundada em 1638 pelo pastor John Clark, foi conhecida
como "Igreja Anabatista". Já em 1648, talvez pela tendência que todas
as igrejas anabatistas tomavam, eles já tinham mudado o nome para "Igreja Batista".
A segunda igreja, de Providence, é na verdade filha da primeira. Roger Williams,
um de seus memoráveis fundadores, foi batizado por John Clark em 1638. Assim, a
autoridade da ministração do batismo dos batistas americanos foi concedida diretamente
de autênticos pastores anabatistas e que depois foram conhecidos como batistas.
Também na Inglaterra, a primeira igreja tida oficialmente como "batista",
foi formada por membros que receberam o batismo dos anabatistas resgatados por Menon
Simons. O nome do primeiro pastor desta igreja é Tomaz Hellys, convertido em 1612.
Portanto, a partir de 1612 na Inglaterra e de 1638 nos Estados Unidos, já estava
definitivamente caído o prefixo "ana" dos anabatistas. Ficou somente a
raiz da palavra, "batistas", apelido este que o precursor de Jesus já
levava por seu costume de batizar crentes arrependidos de seus pecados.
CAPÍTULO IX
[O
início de] a história dos batistas coincide com o final da história anabatista do
século XVI. Na verdade, é uma clara continuação das igrejas fiéis desde os tempos
apostólicos até hoje. Escritores há que, movidos de inveja, e até mesmo de uma certa
ignorância do caso, e outros, batistas, que não se importam com a origem de sua
denominação, desejam dar aos batistas um começo no século XVII. Para tanto distorcem
a história de algumas igrejas batistas, principalmente da Inglaterra, usando ora
John Smith, ora Tomas Hellys como fundadores do movimento. Sinto em informar aos
que concordam com essa ideia que estão errados ou mal intencionados a respeito da
origem e história dos batistas.
A ORIGEM DOS BATISTAS
Podíamos
simplificar e dizer que os batistas se originaram com os apóstolos. E é a pura verdade,
pois, os apóstolos foram batistas, ou seja, batizavam [as pessoas que tinham
crido biblicamente, depois tinham pedido o batismo]. Mas os batistas têm sua origem
nas igrejas antes denominadas de "anabatistas". É uma continuação do apelido.
A única coisa que muda é o prefixo "ana", e este não caiu de uma hora
para outra, foi um processo que levou quase cem anos para acontecer. A prova disso
é a declaração do bispo Hosius, no concílio de Trento que chamou os anabatistas
de "batistas", já em 1554. E nos Estados Unidos, a Igreja Anabatista de
Newport foi fundada em 1639, e dez anos depois mudaria seu nome para igreja batista
de Newport. Portanto, são 85 anos de transição de um nome para o outro.
O fundador da Igreja Batista foi Jesus Cristo. Continuada pelos apóstolos ela teve
uma grande ruptura em 225, quando as igrejas infiéis precisaram ser excluídas -
que eram os católicos romanos e ortodoxos. Outra ruptura veio em 313, quando muitas
igrejas fiéis aceitaram se unir com o Estado. Foram os batistas massacrados pelas
igrejas infiéis durante treze séculos, tendo como apelido mais comum o epíteto de
"anabatistas". No século XVII ela tem novo apelido, que é o de batista.
Continuou sendo perseguida e só teve paz no século XVIII. Foi a partir dessa época
que ela realmente conseguiu uma certa liberdade e cresceu, chegando hoje a milhões
de adeptos espalhados em mais de duzentos países. Foi a primeira denominação a lançar
um missionário na era moderna com Willyan Carey. Foi a primeira denominação a requerer
liberdade religiosa para todas as denominações. É e continuará sendo uma igreja
que segue princípios puramente bíblicos, os mesmos princípios dos seus antepassados
anabatistas, os quais herdaram os princípios das igrejas apostólicas.
A DECLARAÇÃO DE ESCRITORES NÃO BATISTAS SOBRE SUA ORIGEM
O Cardeal
Hosius, católico, 1554, presidente do Concilio de Trento, escreveu: (Orchard's History
of Baptists, seção 12, parte 30, página 364): "Não fosse o fato de terem os batistas
sido penosamente atormentados e apunhalados durante os doze últimos séculos e eles
seriam mais numerosos mesmo que todos os que vieram da Reforma".
Notem que a data é de 1554, ou seja, quase setenta anos a menos que os escritores
errados afirmam [ter sido] o início da primeira igreja batista. Este bispo já chamava
os anabatistas de batistas, e para ser bem sincero, é mesma coisa na prática religiosa.
Sou batista porque? Porque batizo todas as pessoas que desejam fazer parte de uma
igreja batista. Eles eram anabatistas porque? Porque rebatizavam os católicos. Não
é de fato a mesma coisa?
Outra coisa interessante dessa declaração (e é preciso lembrar que foi o presidente
de um concílio católico que durou de 1545 até 1563) foi o fato de Hosius mencionar
a data de quanto tempo eles já haviam sido perseguidos, ou seja, doze séculos antes
desta data. Então, 1554, menos 1200 anos, é igual a 324, data do início da perseguição
das igrejas fiéis (ou anabatistas) pelas igrejas infiéis ou erradas (os católicos).
Note que ele não diz a data da origem dos batistas. Diz a data da origem da perseguição
que eles sofreram. A data, como já dissemos, está primeiramente em Jesus, e depois
na exclusão das igrejas infiéis em 225.
O bispo Hosius também faz uma diferença clara entre "batistas" e os que
"vieram da Reforma". Hosius sabia muito bem que os batistas não eram reformistas
nem protestantes. Eram a igreja original, não poluída, não dividida, a verdadeira
igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Moshein,
um dos maiores escritores da história luterana, testifica (Eccl. Hist. Cent. 16,
secção 3, parte 2, capítulo III. Fuller Church History B.4): "Antes de se levantarem Lutero
e Calvino, estavam ocultas, em quase todos os países da Europa, pessoas que seguiam
tenazmente os princípios dos modernos Batistas Holandeses".
"Vasto número
dessa gente, em quase todos os países da Europa, preferiam perecer miseravelmente
por afogamento, fogueira ou decapitação, do que renunciar às opiniões que abraçaram...
É realmente verdade que muitos anabatistas foram mortos, não por serem maus cidadãos,
nem membros malfazejos da sociedade civil, mas apenas por serem hereges incuráveis,
condenados pelas antigas leis canônicas. Pois o erro de batismo de adultos era,
naquela época, considerado uma ofensa terrível"
Esta declaração é muito útil porque vem de um autêntico protestante. Já que muitos
gostam de afirmar que os batistas são protestantes, esse protestante, um luterano,
está afirmando que os batistas já existiam antes de se levantarem Lutero e Calvino.
Enciclopédia
de Endinburg (autor presbiteriano). "Nossos leitores percebem agora que os
batistas são a mesma seita dos cristãos que antes foram descritos como Anabatistas.
Realmente parece ter sido o seu princípio dominante desde o tempo de Tertuliano
até o presente".
Apesar de chamar os batistas de "seita", este presbiteriano, querendo
[nós] uma veracidade de datas em sua narração da origem dos batistas, não pode negar
de onde eles surgiram, ou seja, das igrejas anabatistas. Ele é firme em afirmar
que "são a mesma seita", para nós, a mesma igreja. Além do que ele garante
que já havia anabatistas nos dias de Tertuliano (160-230 d.C.). Essa é a data que
este tratado dá para o aparecimento do primeiro grupo de anabatistas - os montanistas,
em cerca de 160 (ver [nossa] página 11, sobre os montanistas).
Sir Isaque
Newton, 1710, escreveu. "Os batistas são o único corpo de cristãos que nunca tiveram
similitudes com Roma".
Este anglicano, um grande inventor, nada tem a ver com a história da religião. O
que vale a pena ressaltar é a data de sua declaração e a firmeza em que ele separa
os batistas como a única igreja que não saiu de Roma. Nessa época havia mais cinco
denominações reconhecidas: Luteranos, Anglicanos, Congregacionais, Presbiterianos
e Ortodoxos.
Não existe dúvida. Os batistas são a continuação das igrejas fiéis (ou anabatistas)
que excluíram as igrejas infiéis (ou católicas) em 225. Sua origem é esta. Somente
os opositores, e os batistas ecumênicos, serão contrários a esta tão grande realidade.
Enciclopédia
Britanica Barsa, relata: "Esse nome é uma forma abreviada da palavra anabatista. É um
nome dado pelos seus adversários às várias seitas que negavam a validade dos batismo
das crianças".
PERSEGUIÇÃO AOS BATISTAS
A história
dos batistas é toda regada com o sangue dos seus mártires. Da mesma forma que seus
antepassados, os mártires que que seguiram logo após os apóstolos, os
anabatistas sofreram nas mãos do judeus e do império, que os colocou nas prisões
e nas arenas para serem engolidos pelos leões. E [tal como] seus antecessores, os
anabatistas, sofreram toda sorte de atrocidades e torturas nas mãos dos católicos,
também os batistas sofreram horrores nas mãos dos católicos e protestantes por um
longo período de tempo. Onde uma igreja batista era descoberta ou estabelecida,
logo vinha a perseguição, e com ela a morte dos batistas.
A Perseguição
na Inglaterra
Até o ano de 1534 a Inglaterra foi um país católico. A partir desta data, liderados
pelo rei Henrique VIII, os ingleses passaram a ser protestantes, mais precisamente
pertencentes à Igreja da Inglaterra, conhecida como Episcopal ou Anglicana. Os templos
católicos tornaram-se templos anglicanos. Padres foram muitas vezes transformados
em pastores. O batismo foi o mesmo dos católicos, infantil e por aspersão. Os batistas,
vendo tanta coisa errada, nunca aceitaram a igreja anglicana como uma igreja de
Jesus. Seus pastores batizavam todos os que vinham do catolicismo ou do anglicanismo.
Isso pareceu ruim aos olhos do rei e dos pastores anglicanos. Por isso ficou resolvido
pelos anglicanos que os batistas precisavam morrer.
Muitos pastores e membros das igrejas batistas foram cruelmente mortos pela igreja
anglicana. De 1534 até 1688 a igreja anglicana comandou o ato de intolerância contra
as igrejas batistas. Foi nesta época que viveu John Bunyan. Neste período a perseguição
era geral. As igrejas batistas não tinham o direito legal de existir, e quando descobertas,
eram fechadas e destruídas. Não é por um acaso que muitas igrejas batistas, tanto
na Inglaterra como no País de Gales, mudavam-se inteiramente para a América do Norte.
A partir de 1688 foi permitido aos batistas realizarem seus cultos publicamente,
sem é claro, atormentar a igreja anglicana. Isso era coisa impossível aos batistas.
Como pregar Jesus sem mostrar o pecado? Como ensinar a Bíblia sem mostrar o erro?
O ensinamento da Bíblia, foi, muitas vezes, o fator principal das perseguições contra
os pastores batistas. Apesar dessa tolerância, era negado aos batistas o direito
de ter acesso a cargos públicos, bem como ao parlamento. Somente em 1818 foram os
batistas munidos deste direito. Mesmo assim não eram considerados válidos o registro
de nascimento (pois negavam dar suas criancinhas ao batismo anglicano), e o registro
de casamento (pois não casavam-se diante de um pastor anglicano e numa igreja anglicana).
A intolerância do registro de nascimento só foi revogada em 1836, e a de casamento
em 1844. Porém ainda não podiam ser aceitos nas Universidades de Cambridge e Oxford.
Até este tempo os filhos dos dissidentes não possuíam o direito de acesso a nenhuma
das grandes instituições. O ato de libertação veio somente no ano de 1854.
Alguns escritores tem revelado ao mundo um pouco das atrocidades sofridas pelos
batistas nas mãos dos católicos e dos protestantes da Inglaterra.
O Missionário W.C. Taylor relata no Manual das Igrejas Batistas, pg 149-151,
que: "Desde
o século XII até o século XVII, muitos batistas sofreram perseguição e morte por
meio da fogueira, do afogamento, da decapitação, além de outros métodos, que algumas
vezes importavam em torturas desumanas. E isso sofreram [tanto] dos papistas como
dos protestantes..."
Escreve Brande que: "No ano de 1538, trinta e um batistas, que haviam fugido da Inglaterra,
foram executados em Delf, na Holanda; os homens foram decapitados, e as mulheres
foram afogadas (History of Reformers pg 303)..."
O bispo Latimer declara que: "Os batistas que foram queimados em diferentes partes
do reino, seguiam para a morte intrepidamente, sem qualquer temor, durante o tempo
de Henrique VIII. (Neals History of Puritans, V. III, pg 356)..."
O Dr. Featley, um dos seus mais figadais inimigos, escreveu a respeito deles, em
1633: "Essa
seita, entre outras, até agora tem presumido da paciência do Estado, a ponto de
organizar convenções semanais, rebatizar centenas de homens e mulheres juntos, de
madrugada, em riachos, e em alguns braços do Tâmisa e noutros lugares, imergindo-os
completamente. Têm imprimido diversos panfletos em defesa de sua heresia; sim, e
tem desafiado alguns de nossos pregadores a disputa. (Eng. Bapt. Jubilee
Memor. Benedicts Hist. Baptist, pg 304)."
Das muitas histórias de pastores e igrejas batistas perseguidos na Inglaterra durante
os anos de 1534 a 1688, há uma que até hoje tem comovido o mundo todo. É a história
do pastor John Bunyan, ganho para Cristo após o árduo trabalho de sua esposa (uma
batista), que lhe trazia a Bíblia e livros para ler. Em 1653 ele batizado foi pela
Igreja de Bedford. Desde então sua vida é um exemplo de fé e firmeza nas tribulações.
O relato abaixo foi extraído do livro "A História das Religiões",
de Cherles Francis Pother, páginas 468-469, de 1944:
"Pregava havia
já quatro anos quando Carlos II subiu ao trono na Inglaterra e restaurou o episcopalismo.
Os pregadores puritanos teriam de conformar-se ou suspender os sermões. John Bunyan
recusou-se a obedecer, sendo condenado a doze anos de prisão. Lograria a soltura
em qualquer tempo desde que se comprometesse a não mais pregar, mas dizia com desassombro
que, uma vez livre, pregaria na primeira oportunidade. Não o demoveu fome da esposa
e dos filhos, sendo um deles uma menina, cega. Conseguiu ganhar algum dinheiro na
cadeia fabricando cadarço compridos de fio de linho de pontas rematadas, os quais
eram vendidos por sua filhinha cega.
Até na prisão Bunyan pregava aos companheiros. Tinha consigo apenas dois livros:
Livro dos Mártires, de Fox, e a Bíblia. Veio então grande inspiração e escreveu
O Peregrino. Promulgada a declaração de indulgencias, foi Bunyan posto em liberdade,
e logo depois eleito pastor de sua velha igreja. Três anos depois a declaração foi
renovada, voltando Bunyan para a prisão por ser pastor não conformista".
John Bunyan não foi o único. Simplesmente é o mais conhecido. Antes de Bunyan muitos
batistas padeceram o martírio. Tomas Hellys por exemplo, apenas três anos após a
fundação da Igreja Batista de Spitalfields, em 1612, foi martirizado a mandato dos
bispos anglicanos em 1615. John Smith, outro fundador de igrejas batistas, e um
autêntico anabatista por ter sido batizado na época em que as igrejas batistas ainda
eram chamadas por esse epíteto, foi martirizado em 1612, apenas três anos após da
fundação de sua primeira igreja. Edward Wightman, de Burton-sobre-o-Tento, condenado
pelo bispo de Coventry, foi queimado em Litchfield, a 11 de Abril de 1612. Estes
são alguns dos muitos casos de pastores ou membros batistas mortos por católicos
e protestantes.
A Perseguição
na Nova Inglaterra (Estados Unidos).
Como as perseguições na Inglaterra estavam aumentando no período de 1534 a 1688,
foi o jeito de muitos anabatistas-batistas deixarem este país e rumarem para os
Estados Unidos. Viam na América uma nova Canaã. E acertaram. Muitos pastores pregavam
a emigração em massa. Igrejas inteiras foram transferidas da Inglaterra e do País
de Gales para os Estados Unidos.
O primeiro grupo de batistas a emigrarem ainda eram conhecidos como anabatistas.
Veja o relato do livro "A História das Religiões" página 489:
"Um outro grupo
correu para Providence, logo nos primórdios da existência deste centro, não só foi
bem acolhido por Roger Williams, como logrou sua adesão. Este grupo era o dos Anabatistas,
ou, como são mais conhecidos, batistas".
Provavelmente esse grupo veio junto com os puritanos do Mayflower em 1620. Mas,
descobertos pelos puritanos de Boston, foram expulsos de lá em pleno inverno rigoroso
de 1638. Negavam-se a entregar suas crianças para o batismo infantil dos presbiterianos
e dos congregacionalistas. Encontraram em Roade Island um abrigo para sua fé. Formaram
uma igreja anabatista em Newport neste mesmo ano. No ano seguinte fundaram uma igreja
batista em Providence. Tinham como pastor John Clark, um homem de princípios e verdadeiro
baluarte da fé. Também é desta igreja o conhecido Obadias Holmes, que foi o sucessor
de John Clark no ministério. O pastor J.M. Carrol, no seu livro O Rasto de Sangue,
página 47, assim narra as perseguições sofridas por Holmes e seus companheiros diante
da Igreja Congregacional em Massachussets Bay:
"Com respeito
às perseguições em algumas das colônias americanas vamos mencionar alguns exemplos.
De certa feita, estava enfermo um dos membros da Igreja de John Clark. A família
morava na Colônia e um pregador visitante de nome Crandall e um leigo de nome Obadias
Holmes, foram visitar a família enferma. Enquanto eles estavam realizando um culto
de oração com a família doente, um oficial ou oficiais da colônia prenderam-nos
e mais tarde foram apresentados perante o tribunal para serem processados. Também
está dito na história que para arranjar uma acusação mais forte contra eles, foram
levados para uma reunião religiosa da Igreja Congregacional, tendo as mãos amarradas.
A acusação deles foi a de não tirarem seus chapéus num serviço religioso.
Todos foram processados e condenados. O governador Endicott está presente. Zangado
disse a Clark, durante o julgamento: - Tendes negado o batismo infantil (isto não
era acusação contra eles). - Mereceis morrer. Não quero um traste deste na minha
jurisdição. Como pena deviam pagar uma multa ou serem açoitados. A multa de Crandall
(o visitante) foi de cinco libras; A pena de Clark foi de 20 libras; A multa de
Holmes (os registros dizem que ele foi congregacional antes de se tornar um batista)
foi de 30 libras. As multas de Clark e Crandall foram pagas por amigos. Holmes recusou
igual obséquio alegando que não havia errado, razão porque foi bastante chicoteado.
Os arquivos dizem que ele se despira até a cintura e que foi açoitado (com chicote
tipo especial) até que o sangue lhe cobriu as costas, descendo pelas pernas até
lhe encher os sapatos! "
O Dr. J.M. Carrol ainda relata outra história de perseguições sofridas pelos batistas
na América, e desta feita o perseguido é o pastor Jaime Ireland, página 49:
"A Virgínia
foi o segundo lugar no mundo onde a liberdade religiosa foi adotada, seguindo a
Rhode Island. Mas isto foi um século mais tarde. Antes disto, cerca de trinta pregadores
em tempos diferentes foram presos, tendo como única acusação contra si o fato de
pregarem o Evangelho do Filho de Deus. Jayme Ireland é um exemplo. Ele foi preso...
Depois disto os seus inimigos tentaram matá-lo a pólvora. Tendo falhado neste primeiro
esforço quiseram sufocá-lo até a morte, usando enxofre, que ardia sob as janelas
da prisão. Tendo falhado outra vez, tentaram envenená-lo com o auxílio de um médico.
Tudo falhou. E Ireland continuou a pregar para o seu povo das janelas da prisão.
Um muro foi construído em redor da cela para impedir que o povo o visse ou fosse
visto por ele, mas esta dificuldade foi vencida. O povo amarrou um lenço à ponta
de uma comprida vara a qual era levantada para mostrar a Ireland que todos estavam
reunidos. As pregações continuaram."
Hoje os Estados Unidos é o país mais evangelizado do mundo. Os batistas são o maior
corpo denominacional do país, com milhões e milhões de adeptos esparramados em todo
canto das terras americanas. Mas nem sempre foi assim. A liberdade aos batistas
só veio em plena pujança no século XVIII. O Dr. J.M. Carrol traça um exemplo de
como o Estado da Virgínia chegou a dar liberdade religiosa aos batistas, página
49:
"Em Virginia
foi promulgada uma lei dando permissão aos municípios de terem um pastor batista,
mas somente um. O pastor poderia pregar uma só vez de dois em dois meses. Mais tarde
esta lei foi modificada permitindo a pregação uma vez cada mês. Mais ainda assim
em um só lugar do Município e um único sermão naquele dia mas nunca pregado à noite.
Outras leis foram passadas não somente na Virgínia, mas em outros lugares, proibindo
qualquer trabalho missionário".
Hoje muitos desprezam o sentido denominacional dos batistas. Eles se esquecem que
se hoje a Bíblia pode ser lida com liberdade é fruto de um laborioso trabalho de
persistência dos batistas, sim, daqueles pastores que deram seu sangue para podermos
receber a Bíblia, o livre direito de culto e o correto ensino das escrituras. Dependesse
de Calvino e Lutero estaríamos presos às correntes da escravidão protestante que
varreu o norte da Europa. Dependesse do catolicismo estaríamos presos às correntes
da escravidão e idolatria que sempre habitou no Sul da Europa e de lá foi transportada
para as Américas.
O TRABALHO MISSIONÁRIO DOS BATISTAS
Não podemos
chamar a vinda dos batistas ingleses para a América como uma obra missionária. Podemos
chamá-la de uma emigração. Dois fatores contribuíram para uma demora de uma organização
missionária dos batistas.
- Primeiro, que a Inglaterra era um país com grande influência no mundo. Aparentemente
isso poderia ajudar na obra missionária dos batistas. Mas é só nas aparências. Sua
influência podia ajudar os anglicanos e posteriormente os metodistas. Já os batistas
não impunham a sua fé a ninguém. Aos batistas importava propor e não impor o evangelho
aos países conquistados pelos ingleses. Devido a antipatia dos morados nativos pelos
ingleses as missões tipo da dos batistas eram muito difíceis.
- O segundo fator era a pobreza que pairava nas igrejas batistas. Com seus direitos
civis cassados, a maioria dos seus membros era gente pobre e humilde.
Mesmo assim, enfrentando todos estes obstáculos, cabe aos batistas o troféu de serem
a primeira denominação cristã a enviar um missionário na Era Moderna.
MISSÕES BATISTAS NA ÍNDIA
No final
do século XVIII, o elemento humano usado por Deus para o início da obra missionária
foi um jovem pastor chamado Willyan Carey. Ele foi mencionado no livro Instituições
Religiosas, pg 103, onde se lê: "Os batistas ingleses foram os primeiros, como Willyan
Carey, a organizar, em 1792, missões em países não cristãos (África, China, Índia)
por intermédio da Baptist Missionary Sociat". Era ele sapateiro de profissão, mas
como tinha intensa curiosidade intelectual, extraordinária vontade de pregar, logo
se tornou conhecido das igrejas e foi ordenado ao ministério batista. Como as igrejas
que pastoreavam eram pobres e não podiam dar sustento integral, permaneceu durante
algum tempo como sapateiro. Junto à sua banca de sapateiro tinha mapas, por ele
mesmo confeccionados, em que fitava constantemente os países do mundo até onde o
evangelho não tinha chegado. Sentia profundo amor no coração pelos pagãos que estavam
morrendo sem Cristo. Finalmente conseguiu transmitir suas preocupações a diversos
colegas de ministério, e assim foi fundada, em 1791, uma sociedade missionária.
Willyan Carey foi nomeado missionário, juntamente com John Thomas, e, em 1793, seguiram
para a Índia. A ida de Carey para as Índias não agradou os comerciantes ingleses
[nas Índias]. Estes não viam com bons olhos a obra dos missionários, porque temiam
que, convertendo-se ao cristianismo, os nativos se tornassem menos fáceis de ser
explorados. A Companhia das Índias tudo fez para prejudicar os missionários e, finalmente,
conseguiu um decreto pelo qual não era permitido mais o embarque de missionários
da Inglaterra para a Índia. Nada impedia, entretanto, que os candidatos a obra missionária
embarcassem para a América e de lá, para a Índia. Foi o que fizeram. Na América,
entretanto, enquanto esperavam navios que os levassem à Índia, punham-se em contato
com as igrejas batistas norte-americanas, e esse contato incentivou a realização
de um trabalho missionário próprio dessas igrejas.
MISSÕES BATISTAS NA BIRMÂNIA
As Índias
não foram o único alvo missionário dos batistas. William Ward, companheiro de Carey,
encontrou com um missionário Congregacionalista no navio para as Índias. Admirado
da fé de Willyan, o missionário Adoniram Judson e sua esposa Ana, converteram-se
e foram batizados. Naquele tempo, a maioria dos batistas faziam a coisa certa, davam
muita consideração à forma, ao desígnio, ao candidato, e ao administrante de um
batismo. Coisa semelhante aconteceu com outro pastor congregacionalista, Luther
Rice, que também no navio converteu-se juntamente com Adoniram e foi batizado. Assim,
em 1813, Adoniram foi para a Índia, e seguiu um pouco além para a Birmânia, onde
se tornou um grande missionário. Sua história pode ser encontrada em livros como
"Ana de Ava", uma autobiografia do trabalho feito pela sua própria esposa.
Adoniram Judson, além de missionário foi também um homem "das letras".
Fez um dicionário birmanes e traduziu a Bíblia para esse idioma.
A UNIÃO DAS IGREJAS BATISTAS EM PROL DAS MISSÕES
Luter Rice
voltou aos Estados Unidos, onde pediu ajuda das igrejas batistas da América para
se sustentar. Seu pedido foi prontamente atendido, e o maravilhoso trabalho desempenhado
por Judson e Rice fizeram que as igrejas batistas se organizassem numa Associação
para poderem melhor atender às necessidades dos missionários, como também para a
formação de novos missionários americanos. Essa associação foi denominada Convenção
Geral da Denominação Batista nos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro. Não
podemos confundi-la com as atuais convenções batistas hoje existentes nos Estados
Unidos. Esta missão tinha um sentido puramente missionário. Visava os missionários.
Era uma coisa simples e quando deixou de existir (foi substituída por outra) contava
com 99 missionários no estrangeiro e 82 igrejas organizadas.
A Sociedade fundada por Willyan Carey não era exatamente uma cooperativa de igrejas.
Era uma sociedade onde pessoas se juntavam para mandar missionários. A de Carey
tinha doze pessoas quando foi fundada.
O TRABALHO MISSIONÁRIO BATISTA NOS DIAS ATUAIS
Atualmente
existem várias convenções e missões batistas organizadas em prol da evangelização
dos perdidos. A maior de todas é a Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos.
Todas elas têm desempenhado um papel importante em abrir novos trabalhos batista
pelo mundo. Para poderem melhor se organizarem e melhor organizarem seus trabalhos
foi formada a Aliança Batista Mundial em 1905. A intenção inicial era a de ligar
as igrejas batistas numa cooperativa de igrejas que juntam-se para realizarem trabalhos
missionários e outras atividades adjacentes.
Porém a existência da Aliança Batista Mundial é uma faca de dois gumes. Por um lado
é bom, pois dá oportunidade de convenções se unirem e juntarem forças para trabalhos
mais complicados. Também é bom para que cada convenção ou missão se conheça melhor.
A Bíblia diz que é melhor serem dois do que um, e uma liga de três não se quebra
tão facilmente. Muitos trabalhos missionários, em lugares estratégicos, têm sido
abertos e sustentados pela Aliança. Não podemos deixar de dizer o quanto isso é
maravilhoso diante dos olhos de Deus. Por outro lado, causa um certo temor. Muitos
batistas errados estão infiltrados nesta Aliança. Não dá para saber quem é quem.
Outro fator negativo é que o trabalho algumas vezes é direcionado para o lado ecumênico,
o que faz o nome Batista estar ajuntado com outras denominações erradas e antibíblicas.
Outro lado ruim é a visão missionária da Aliança. Muitas vezes, na intenção de formar
organizações para-eclesiásticas, o trabalho missionário fica em segundo plano.
Afora as convenções e missões existentes, os batistas têm o privilégio de terem
muitos pastores independentes. São missionários enviados por igrejas não filiadas
a uma missão ou convenção. Não são poucos no Brasil, e estão espalhados em diversos
pontos do mundo. A forma mais original dos batistas estão bem exemplificados no
comportamento e nas igrejas edificadas por estes pastores. O fruto destes é um fruto
permanente, e Deus tem certamente um plano especial para esta forma primitiva de
ser cristão, e quem sabe o resgate da denominação num futuro próximo. Da mesma forma
que as muitas convenções se gabam de ter grandes homens que trabalharam para o Senhor,
os independentes muito mais, pois, cada missionário independente tem que ser homem
de muita coragem e de muita fé no Senhor Jesus.
CAPÍTULO X.A
Como dissemos, a história das igrejas erradas diferem
muito da história das igrejas fiéis. Assim como os fiéis que foram apelidados de
"anabatistas", elas também tiveram um apelido. Foram conhecidos por Católicos.
O Catolicismo Original
Em nosso país se conhece apenas o catolicismo romano. No entanto ele não é o único
nem primeiro. O catolicismo primitivo foi uma organização eclesiástica a qual pertenciam
várias igrejas. Estas igrejas estavam espalhadas por todo o Império Romano. Após
a morte dos apóstolos muitas igrejas sofreram a influência maligna do paganismo.
Seus membros, instigados pelos falsos pastores, foram vítimas de ensinamentos errados
a respeito da autoridade de Cristo sobre Sua igreja e também a respeito de como
se chegar até o céu. Tais pastores desviaram grandes igrejas sendo que muitas delas
um dia foram grandes baluartes da fé. A própria igreja de Roma é um exemplo. O apóstolo
Paulo chegou a escrever uma carta a esta igreja. Porém, devido ao mau uso do púlpito,
os falsos pastores desviaram completamente o rebanho; [portanto,] devido a terem
aceitado heresias, estas igrejas foram excluídas pelas igrejas fiéis em 225.
Igreja Católica significa "Igreja Universal".
E, apesar deste apelido ter sido usado pela primeira vez em 170 pelo bispo de Cártago,
referindo-se a todas as igrejas cristãs, ela não tinha a idealização que tem hoje.
Este nome começou a ganhar força a partir de 313 quando as igrejas erradas aceitaram
ser servas do imperador. Aí sim ficou decidido que a igreja tinha que ser Universal.
Tornou-se tão Universal que quem não pertencesse a ela seria punido com a morte.
Este pensamento fez com que estas igrejas enchessem suas fileiras de pessoas não
convertidas. Em algumas épocas a conversão chegou a ser nacional e não pessoal.
Se o rei do país se tornasse católico ele obrigava todo seu povo a ser católico
também. O evangelho a partir de 313 deixou de ser proposto para ser imposto sobre
todos os moradores do Império Romano.
O catolicismo original contava com cinco patriarcados (ou igrejas mais importantes).
Eram eles: Jerusalém, Roma, Constantinopla, Antioquia e Alexandria. Estas cinco
igrejas brigavam entre si para ver qual delas teria a primazia sobre as demais.
Esse quadro começou a mudar com o advento do islamismo [depois do ano 600 A.D.].
A nova religião praticamente destruiu a importância de três patriarcados: Jerusalém,
Antioquia e Alexandria. Isso polarizou o catolicismo em duas grandes correntes.
A corrente grega reunia sob sua autoridade as igrejas do Oriente e foram lideradas
pela igreja de Constantinopla. Já a corrente latina reunia sob a sua autoridade
as igrejas do ocidente e foram lideradas pela igreja de Roma. Essas duas igrejas
foram rivais até o século IX. Nesse tempo o catolicismo se dividiu.
A Divisão do Catolicismo
No ano de 869 os bispos de Roma e Constantinopla tiveram um grande atrito entre
eles. No final da confusão os pastores de Roma e Constantinopla se excomungaram
mutuamente. Desde este dia estas duas igrejas se separaram e até hoje existem dois
tipos de Catolicismo. O Catolicismo Oriental - representado pelas igrejas de rito
grego - também chamado de Igreja Ortodoxa Grega; e o Catolicismo Ocidental - representado
pelas igrejas de rito latino - também conhecido como Igreja Católica Apostólica
Romana.
Algumas Diferenças dos Dois Catolicismos
A infalibilidade papal e a supremacia universal da jurisdição de Roma constituem
a diferença essencial, que a igreja ortodoxa não admite, pois ferem a Santa Escritura;
A Sagrada Escritura e a santa tradição representam o mesmo valor como fonte de revelação,
segundo a igreja ortodoxa. A romana, no entanto, considera a tradição mais importante
que a sagrada escritura.
A virgem Maria, igual às demais criaturas, foi concebida em estado de pecado original.
A igreja romana, em 1854, proclamou o dogma de fé na Imaculada conceição da Virgem
Maria [isto é, que ela foi concebida sem pecado original].
Os sacerdotes ortodoxos podem optar livremente entre o celibato e o matrimônio.
A Igreja Ortodoxa só admite ícones nos templos e o batismo é por imersão - mas é
infantil. [um ícone é uma pintura plana (não um objeto tridimensional) de
Jesus, Maria, ou outro santos]
Na Igreja ortodoxa não existem as devoções ao sagrado coração de Jesus, Corpus Christi,
Via Crucis, Rosário, Cristo Rei, Imaculada Conceição, Coração de Maria entre outras.
Na igreja ortodoxa o chefe principal é chamado de Patriarca e ele deve-se submeter
a decisão do Santo Sínodo Ecumênico, que compõe todos os patriarcas chefes das Igrejas
Autônomas.
Na Igreja Romana o chefe principal é chamado de Papa e a ele se submetem todas
as igrejas.
A igreja Ortodoxa segue o ritmo do Catolicismo original compondo-se de diversas
igrejas autônomas e nacionais (Ex. Igreja da Rússia, Igreja da Armênia, Igreja Copta).
Já a igreja Romana considera-se uma igreja Una, sendo ela mãe e não igual a todas
as outras igrejas.
A Igreja Católica Realmente Precisava ser
Excluída em 225?
Pode parecer maldade das igrejas fiéis o fato de terem excluídos de sua comunhão
as igrejas erradas em 225. Mas os fatos que se sucederam mostraram que as igrejas
fiéis realmente tinham razão.
A primeira razão está no espírito que movia [as
igrejas erradas]. Não era o espírito de Deus. Seus pastores geralmente eram homens
cruéis e sanguinários. Os papas foram os maiores perseguidores das igrejas fiéis
que o mundo conheceu. Por mais de 1300 anos perseguiram e mataram cruelmente os
membros das igrejas fiéis. Com a introdução do batismo infantil seus membros acabaram
todos sendo cristãos sem precisarem se converter de seus pecados.
Na questão doutrinária os erros aumentam ainda mais. Os dois primeiros erros --
formação da hierarquia e salvação pelo batismo -- logo foram seguidos por muitos
outros. Para que os bárbaros, acostumados com os cultos às imagens, pudessem realmente
ser atendidos pela igreja Católica, muitos lideres eclesiásticos entenderam ser
necessário materializar a liturgia. Surgiu a idolatria. A veneração de anjos, santos,
relíquia, imagens e estátuas foi uma conseqüência lógica deste procedimento. Os
pagãos, acostumados à veneração de seus heróis, quando vinham para a igreja católica,
pareceu-lhes natural substituir os seus heróis pelos santos e lhes dar um status
de semi-divindade. Não tardou e em 590 já veneravam até relíquias, cadáveres, dentes,
cabelos ou ossos dos considerados "santos". Ações de graças ou procissões
de penitência tornaram-se parte do culto a partir de 313. A oficialização do batismo
infantil foi feita a partir de 370. Em 471 foi promulgado o dogma de que Maria é
mãe de Deus. Assim, por volta de 590 se desenvolveu rapidamente a veneração a
ela. A doutrina da Imaculada Conceição só apareceu em 1854, e de sua miraculosa
assunção em 1950.
A cada ano que passa estas igrejas tornam-se cada vez mais longe das escrituras.
Apesar de existir muita gente boa em suas fileiras é impossível alguém que cumpra
certo suas doutrinas chegar ao céu. Não se pode servir a dois senhores.
A ORIGEM DAS IGREJAS PROTESTANTES
No século
XVI, por volta de 1500, a igreja Católica Romana passou por uma crise interna que
resultou na dissidência de quase metade de seus fiéis. Essa dissidência foi chamada
de "Reforma Protestante". Foi dessa reforma que surgiram as Igrejas Luterana,
Presbiteriana, Anglicana e a Reformada da Holanda. Todas essas igrejas foram reformadas
por padres ou com a ajuda de padres. Os mesmos já não agüentavam tanta heresia e
opressão que vinha do Catolicismo Romano. Certos [extremos] absurdos tais como mariolatria,
purgatório, adoração de santos e imagens e as indulgências, eram erros tão graves,
que mesmo um católico bem informado não pode suportar.
A ORIGEM DA IGREJA LUTERANA
A primeira
igreja protestante a surgir foi a Igreja Luterana. Esta igreja leva o nome e as
características de seu fundador, [o frade agostiniano] Martinho Lutero. Lutero era
um homem muito inteligente, porém agressivo. Não concordava com a venda de indulgências
e outras heresias da igreja de Roma. Contudo, nunca quis abandoná-la. Sua vontade
era reformá-la.
Em 1512, Lutero começou a pregar contra a salvação pelas obras. Fez muitas conferências
confirmando que o justo iria viver da fé. E nisso ele tinha razão. Em vários sermões
ele condenou a prática da venda da indulgência. Em 31 de Outubro de 1517 ouviram-se
fortes marteladas na porta da Igreja de Wittenberg. Era Lutero condenando o Papa
Leão X e seus legados numa bula de 95 teses. Entre estas teses, algumas eram especialmente
desafiadoras:
"Os pregadores de indulgências erram quando declaram que o perdão do Papa livra
o pecador da penitência e assegura-lhe perdão".
"Os que se julgam seguros da salvação pelas cartas do Papa, serão amaldiçoados
eternamente , e na companhia de seus mestres.
"Por que o Papa não esvazia o purgatório pelo amor?"
Devido a essa bula Lutero foi excomungado pelo Papa em 1519. Mas, apoiado pelos
imperadores regionais e pelo povo de muitas cidades alemãs, Lutero levou a afinco
suas ideias. Ao meio de muita confusão e guerras ele conseguiu reformar a igreja
católica na Alemanha em 1521. Essa igreja foi chamada de Luterana.
Seus seguidores foram chamados de luteranos. Na Alemanha e em alguns outros países
do norte europeu ela se tornou a religião oficial do pais. A maioria das igrejas
católicas que existiam nesses países - contanto os fiéis, prédios e padres - simplesmente
se tornaram luteranos. Geralmente as freiras se casaram com ex-padres. O termo missa
foi conservado. As formas litúrgicas de dirigir a missa quase não mudou. O batismo
infantil era uma lei que devia ser cumprida. A hierarquia continuava a mesma, sendo
o primeiro chefe da igreja Luterana o próprio Lutero.
A igreja luterana matou e perseguiu os batistas na Alemanha e em todos os países
em que ela se tornou a igreja oficial do país. No ano de 1525, Lutero ordenou a
morte de mais de cem mil anabatistas no sul da Alemanha. Seu ódio aos batistas estava
fundamentado no fato que estes, por obedecerem a Bíblia, nunca o aceitaram como
um servo de Deus.
A ORIGEM DA IGREJA ANGLICANA
Em 1531,
o rei da Inglaterra, Henrique VIII, queria se divorciar de sua esposa para se casar
com outra mulher. O Papa não autorizou o feito. Essa recusa aborreceu o rei, e então
ele, que chegou a ser inimigo da reforma proclamada de Lutero, reformou a Igreja
Católica na Inglaterra. Essa nova Igreja foi chamada de Anglicana (ou Episcopal).
No princípio, a única coisa que diferia da Igreja Católica era o fato de não ter
papa. Depois, com o passar do tempo, os anglicanos adotaram muitos princípios de
Calvino.
Assim como os luteranos e os presbiterianos, ela usa o erro do batismo infantil.
Também possui uma hierarquia quase igual à do catolicismo. Devido às conquistas
da Inglaterra sobre muitos países, essa igreja foi muito favorecida. Está representada
em quase todos os países do mundo e é muito forte onde a Inglaterra mantém o seu
controle. A igreja Anglicana tem muitas filhas. A mais conhecida em nosso país é
a Igreja Metodista.
A Igreja Anglicana tornou-se tão intolerante para com os batistas como foi o catolicismo.
No País de Gales havia um grande número de batistas e, por causa da perseguição,
quase todos tiveram que fugir para a América. A perseguição dos anglicanos aos batistas
durou até o ano de 1688. Grandes pastores como Tomas Hellys e John Bunyan fizeram
história devido a perseguição que o anglicanismo lhes moveu.
A ORIGEM DA IGREJA PRESBITERIANA
A Igreja
Presbiteriana foi fundada por João Calvino [que havia estudado para ser padre].
Ele foi um grande teólogo no sentido teórico, porém, um péssimo executor no sentido
prático. Assim como Lutero, ele buscava uma reforma dentro da Igreja Católica. Não
o conseguindo, acabou se rebelando, e, em 1541 formou uma igreja na cidade de Genebra,
Suíça. Essa igreja no princípio não tinha um nome definido, mas João Knox
(ex-padre católico), um grande seguidor das ideias de Calvino, chamou-a de PRESBITERIANA.
Nesta cidade de Genebra, Calvino impôs as suas ordenanças eclesiásticas. Eram leis
extremamente rígidas e severas. Ali o evangelho não era pregado mas ordenado [imposto]
aos cidadãos. Proibiu as diversões, as festas, os enfeites e as críticas ao seu
governo. Aqueles que eram considerados infratores recebiam duros castigos, inclusive
a morte na fogueira. Agindo dessa forma ele queimou feiticeiros, humanistas e batistas.
Sua cidade era tão santa que, na hora de casar ,ele não quis uma membra de sua igreja.
Casou-se com a viúva de um pastor anabatista.
Como foi dito sua teologia era apenas teórica. Calvino teve verdadeiro ódio pelos
batistas, pois os mesmos não aceitarem sua igreja como sendo uma igreja biblicamente
correta. Os batistas viam na igreja Presbiteriana alguns erros que não podiam ser
deixados de lado.
- O primeiro era o batismo infantil.
- O segundo consistia dela ter se tornado uma religião do Estado [a oficial, a
única permitida no país, sustentada pelo governo, e que, sempre que possível,
governava o governo].
- O terceiro foi a formação de uma hierarquia esquematizada em presbitérios.
A Igreja Presbiteriana é a religião oficial da Escócia e está bem organizada
em muitos países do mundo inteiro. Hoje ela divide-se principalmente em Igrejas
Nacionais (Exemplo: Igreja Presbiteriana do Brasil), as Independentes, e as Renovadas.
A ORIGEM DA IGREJA METODISTA
Muito próximo
do século XVIII nasceram três meninos na Inglaterra. Eram eles: John Wesley, Carlos
Wesley e George Whitefield. Estes três se tornaram pais e fundadores de um movimento
que mais tarde foi conhecido como metodismo.
John Wesley se tornou pastor anglicano em 1728. Apesar disso, só recebeu Jesus [como
Salvador pessoal e como Senhor absoluto] em 1738, ou seja, dez anos após a sua ordenação
ao pastorado. Em 1739 ele foi ser capelão nos EUA. Na viagem de navio, como uma
tempestade lhes sobreveio, teve medo de morrer. Acabou notando que havia no navio
um grupo de pessoas que não temiam a morte. Esse grupo cantava e orava alegremente
no momento da tempestade. Essas pessoas eram os Irmãos Morávios (os mesmos que receberam
a influência dos paulicianos no século XII). John aprendeu muito com esse grupo
e, provavelmente, foi por eles batizado.
Neste mesmo ano John encontrou-se com George Whitefield. George convidou-o para
participar de uma pregação ao ar livre. Carlos também se juntou ao grupo. Assim
os três iniciaram um reavivamento na Igreja Anglicana. John Wesley nunca rompeu
com a igreja da Inglaterra. Ele não queria formar uma nova religião. Contra sua
vontade, no ano de 1784, formou-se a Igreja Metodista na cidade de Baltimore, nos
EUA.
Os metodistas nunca perseguiram os batistas. Na verdade, o seu começo está ligado
a pessoas que realmente tiveram uma transformação em suas vidas. O erro desta igreja
é que conservaram o sistema Episcopal da Igreja Anglicana e o costume de batizar
crianças.
CAPÍTULO X.B
A ORIGEM DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
A Igreja
Adventista tem duas origens distintas. A primeira está ligada ao nome ADVENTISTA.
Não era para ser uma nova igreja, mas era uma crença na segunda vinda de Cristo
pregada pelo pastor Guilherme Miller. A segunda está ligada ao nome Sétimo Dia,
totalmente contrária a fé de Miller e implantado por uma mulher chamada Ellen G.
White.
A crença do adventismo foi iniciada em 1818, por Guilherme Miller, um fazendeiro
americano. Sua família foi toda batista. Havia entre seus primos alguns que eram
pastores batistas. Mesmo assim desviou-se em 1810, e só regressou depois de ter
servido o exército em 1814. Ao receber Jesus [como Salvador pessoal e como
Senhor absoluto], mergulhou ele num profundo exame da Bíblia. Atraíram-no particularmente
as passagens de Daniel e do Apocalipse, levando-o a investigar a data mais provável
do fim do mundo.
Já em 1818, fixara Miller a data do fim do mundo (ou advento, de onde vem o nome
adventistas), para o ano de 1843. Diz ter ouvido uma voz interior que lhe insistiu:
"Vá e di-lo ao mundo". Desde então, ajudado por muitas igrejas batistas,
metodistas e congregacionais, proclamava o ADVENTO. Pregou o advento durante dez
anos por toda a costa oriental dos EUA. Muitos de seus ouvintes começaram a pregar
também. Assim o advento se espalhou como uma febre epidêmica.
Pessoas houve que começaram a preparar o vestuário para o dia da ascensão. Passando
o ano de 1843 sem o fim do mundo, o profeta Miller marcou-o para o dia 21 de Março
de 1844. Neste dia, milhares de pessoas, vestidas de branco, passaram a noite toda
esperando Jesus. Foram decepcionados. Miller descobriu que estava errado. Voltou
à sua congregação e pediu desculpas por tão grave erro. Até voltou a ser um pastor
batista. Infelizmente, o mesmo não se deu com alguns de seus seguidores, que, a
partir de 1844, formaram o movimento do ADVENTISMO.
De 1844 a 1860, os seguidores de Miller, sendo uma boa porcentagem deles batistas
excluídos, foram conhecidos apenas como adventistas. Continuaram na insistência
por datas. Quase uma por ano até o ano de 1877.
Entre os fiéis seguidores de Miller estava a senhora Ellen G. White, que, depois
de ver fracassadas outras tentativas de marcação de datas, afirmou ter tido visões
dos céus que lhe revelara toda a verdade. Afirmava ela que o santuário de Daniel
8:13-14, está no céu e não na terra.
13 Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele tal que
falava: Até quando durará a visão do sacrifício contínuo, e da transgressão desoladora, para que sejam entregues o
santuário e o exército, a fim de serem pisados ?14 E ele me disse: Até duas mil
e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será purificado.
Cristo
teria vindo em 22 de Outubro de 1844 a esse santuário celestial. A próxima visão
de Ellen foi sobre a guarda do sábado, de onde surgiu o complemento do nome Adventista
do Sétimo Dia. Diz a Sra. White que teve uma visão onde havia uma arca no céu e
nela estavam escritos os dez mandamentos. Dos mandamentos se destacava o quarto,
porque se apresentava dentro de um círculo de luz. Entendeu ela que esse mandamento
precisava receber maior atenção que os outros. Sua mensagem foi aceita pelos membros
do adventismo e foi assim que surgiu a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A ORIGEM DOS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
Esta seita
foi formada por um homem que sentia verdadeiro ódio pelas comunidades cristãs. Seu
nome era Charles Taze Russel, nascido na Pensilvânia em 1852. De origem presbiteriana,
passou pela igreja Congregacional e se tornou membro da nova seita, a dos adventistas
do sétimo dia. Durante muito tempo foi um verdadeiro fã do adventismo. Tomando o
seu próprio caminho, começou a fazer estudos bíblicos semanais com um grupo composto
inclusive de pessoas de outras igrejas evangélicas. Não demorou muito, lançou sua
própria profecia, em nítida semelhança ao fundador do adventismo: "A segunda
vinda de Cristo se daria em 1914".
Logo começou a discordar de muitos pontos doutrinários dos adventistas e, em 1872,
reunindo alguns simpatizantes de suas ideias, começou a organizar o movimento que
hoje é conhecido como "Testemunhas de Jeová". Antes desse nome tiveram
muitos outros. Somente entre os anos de 1917 a 1926, mudaram suas doutrinas nada
menos que 148 vezes. Negam que Jesus é Deus. Dizem que o Espírito Santo não é uma
pessoa inteligente. Jesus seria o arcanjo Miguel [portanto, criado por Deus,
não eterno, não criador]. Não existe inferno, além de muitas outras heresias que
só eles mesmos para acreditar. Pior: como tudo que é errado, tendem a crescer cada
vez mais.
CAPÍTULO X.C
OS PENTECOSTAIS
[Segundo
alguns pentecosttais,] as primeiras manifestações pentecostais podem remontar até
ao século XVIII, quando o metodismo foi implantado. Wesley, ao comentar algumas
pessoas que entraram em êxtase em um de seus cultos comentou: "Essas manifestações
podem ou não ser verdadeiras".
A ORIGEM DO PENTECOSTALISMO
O primeiro
grupo de pentecostais era constituído de pessoas que antes eram membos de igrejas
Holiness [Santidade] Wesleyanas - um grupo de metodistas - e, em muitos casos, de
pessoas que, por terem se renovado, tinham saído, tinham deixado suas igrejas (batistas,
metodistas, presbiterianas). O primeiro grupo enfatizava o falar em línguas estranhas
como [indispensável] evidência do Batismo no Espírito Santo. Em termos de data,
foi provavelmente a abertura do Bethel Bible College em Topeka, Kansas, dirigido
por Charles Parhan, em outubro de 1900.
Em primeiro de Janeiro de 1901 os alunos deste colégio estavam estudando a obra
do Espírito Santo, e uma das alunas, Agnes Osman, pediu aos seus colegas que lhe
impusessem as mãos para que ela recebesse o Espírito. Ela falou em línguas, e mais
tarde, outros estudantes falaram em línguas também.
Parhan abriu outra escola em 1905, na cidade de Houston, Texas. Foi de lá que William
J. Seimor, um aluno negro, ao receber o mesmo dom, tornou-se mais tarde o líder
de uma missão no número 312 da Rua Azusa em Los Angeles, no ano de 1906. Falar em
línguas se tornou comum nessa missão. Pessoas que vinham visitá-la tiveram experiências
similares e levaram a mensagem para outros países. Pode-se dizer que a Missão da
rua Azusa é a mãe do pentecostalismo mundial. Essa missão chamava-se "MISSÃO
APOSTÓLICA DA FÉ". Este nome durou até 1914 quando foi mudado para "ASSEMBLÉIA
DE DEUS".
Muitos jovens pregadores e aspirantes a pregadores iam ter com William J. Seimor
para receber os dons. Foi assim que Gunnar Vingren e Daniel Berg, os fundadores
da Assembléia de Deus no Brasil, tornaram-se pentecostais em 1908,
Em 1907, um pastor chamado William H. Durhan, recebeu de Seimor os dons. Durhan
abriu sua própria missão também em Los Angeles. Ficava na North Ave, 943. Foi nesta
missão que Louis Francescon, futuro fundador da Congregação Cristã do Brasil, recebeu
os seus dons.
OS PENTECOSTAIS NO BRASIL
O pentecostalismo
no Brasil se divide em três grupos distintos que surgiram em três épocas diferentes.
São eles:
- Os pentecostais históricos que surgiram na primeira década deste século (Assembléia
e Cristã).
- Os pentecostais da segunda Geração, surgidos a partir da década de 50 (Quadrangular,
Brasil para Cristo, Casa da Benção, Deus é Amor); e
- Os neopentecostais, surgidos a partir da década de setenta, sendo a principal
a Universal do Reino de Deus.
A ORIGEM DA CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL
A Congregação
Cristã foi a primeira igreja pentecostal a se instalar no Brasil. Foi fundada no
Brasil pelo missionário Louis Francescon, um italiano nascido em Cavasso Novo, Udine.
Veio para os EUA em 1890. Lá se tornou presbiteriano em 1891. Nessa igreja chegou
a ser diácono e, na ausência do pastor, causou distúrbios à fé presbiteriana, indo-se
batizar por imersão juntamente com outros 18 membros. Um irmão de sua igreja batizou-os
em 1903, mesmo não sendo ordenado para o ato. Em 1907 recebeu os dons na Igreja
de William H. Durhan. Nesta mesma igreja foi-lhe revelado que deveria pregar à colônia
italiana, o que fez com presteza.
Francescon visitou a Argentina em setembro de 1909 e em janeiro de 1910. Chegou
ao Brasil em março de 1910 na cidade de São Paulo. Através de um contato direto
foi parar em Santo Antônio da Platina, Paraná, onde organizou sua primeira igreja
no Brasil com colonos italianos. Foram onze ao todo. O crescimento desta igreja
foi tímido até o meado dos anos 50. A partir desta data cresce expressivamente.
No Sul e Sudeste do pais, muitas igrejas do interior que professavam a fé presbiteriana
foram alvos de renovação por parte dos adeptos da Congregação.
Interessante é notar o dom de línguas que possuía. Em seu diário ele diz que por
suas mãos muitas pessoas conseguiram estes dons. Mas acaba entrando em contradição
na página 23 do mesmo. Lá ele diz: "Outra dificuldade que encontrei foi não
conhecer uma palavra do idioma portuguesa, se achar sem dinheiro, e doente".
E o dom de línguas que possuía, servia para que?
A ORIGEM DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO BRASIL
Em 19 de
Novembro de 1910 chegaram ao Brasil dois pastores. O primeiro era Gunnar Vingren,
um ex-pastor batista que fora excluído do ministério pela Igreja Batista de Michigan.
O segundo era Daniel Berg que também fora excluído da comunhão batista. Depois de
receberem os dons de William Seimor, e para atender a um sonho de um irmão chamado
Adolf Uldin, vieram para o Brasil.
Chegando em Belém de Pará se apresentaram a Eurico Nelson, um missionário batista
no Amazonas. Identificando-se como batistas, ofereceram-se para ajudar no trabalho
e pediram hospedagem. Como não tinham carta de recomendação, e nem podiam ter pois
eram excluídos, o missionário deixou-os usar o porão da igreja como casa.
Logo depois Eurico Nelson precisou viajar para o sul. Essa viagem deu oportunidade
para que os dois recém chegados pedissem ingresso na igreja, declarando-se membros
de uma igreja nos Estados Unidos. Vingren declarou sua condição de pastor e a igreja
recebeu-os com alegria. Como não sabiam falar português e nem os membros inglês
- com exceção de um - tudo ficou muito fácil. Nota-se uma certa desonestidade em
como eles conseguiram a entrada na igreja. Primeiro que não falaram que eram membros
excluídos. Depois, porque não esperaram a volta do pastor titular que, naquele tempo,
tinha que fazer a viagem de Belém de Pará ao Sul de navio, e levaria meses para
voltar.
Os dois foram mais desonestos ainda quando começaram a fazer cultos no porão da
igreja. Só alguns membros eram convidados e as reuniões começavam após o término
dos cultos regulares da igreja. Nessas reuniões havia estranhas línguas e estranhos
ruídos. Alguns membros da igreja começaram a adotar as ideias dos falsos irmãos.
Aumentando o número e chegando ao ponto de haver manifestações pentecostais numa
reunião de oração da igreja, o evangelista Raimundo Nobre convocou, com o apoio
da maioria dos diáconos, uma sessão extraordinária, e os adeptos de Vingren e Berg
foram excluídos. Ao todo foram treze pessoas excluídas. (dezenove segundo o MP 06-96).
No meio deles estava o moderador da Igreja, substituto direto de Eurico Nelson,
José Plácito da Costa, homem culto e o provável tradutor das mensagens pentecostais
nas reuniões do porão. A igreja contava com 170 membros, assim, é estranho que o
historiador pentecostal, Emilio Conde, diga que a minoria excluiu a maioria.
Vingren e Berg não pararam por aí. Continuaram a fazer o trabalho de proselitismo
dentro das igrejas batistas. Percorreram o Brasil inteiro na busca de novas renovações.
Pode-se dizer que em muitos casos foram bem sucedidos. O próprio Vingren afirma
em seu diário que: "Por onde íamos, buscávamos nas igrejas e nas casas dos
batistas infundir o novo batismo". Este novo batismo constituía de doar aos
crentes já convertidos o dom de línguas.
Nisso Vingren também entra em contradição na questão dos dons de língua. Ele considerava-se
o doador do dons de línguas a muitos crentes. Pois bem. Na página 34 de seu diário
ele relata: "Agora, com esforço começamos a estudar a língua, e durante esse
tempo participamos dos cultos da Igreja Batista. Por não termos dinheiro para pagar
as aulas, Daniel teve de conseguir um emprego na fundição. Ali ele trabalhava de
dia, enquanto eu estudava o idioma. Depois eu lhe ensinava de noite o que aprendera
de dia. Assim, com esforço aprendemos o português." Esse foi o mesmo erro de
Francescon. Que dom era esse que não foi usado para o fim que a Bíblia deixou, pois,
em Atos 2, diz que as línguas faladas pelos apóstolos coincidia com a necessidade
de cada ouvinte; os romanos ouviram [palavras pronunciadas] em Latim. Os gregos
ouviram [palavras pronunciadas] em grego. E nenhum dos apóstolos teve que entrar
na escola para aprender idioma nenhum. Em 1911 os dois fundaram a Missão de Fé Apostólica
que, posteriormente, mudou de nome para Assembléia de Deus. Cresceram muito após
a década de 50 e são hoje o maior grupo de pentecostais no Brasil, chegando a mais
de três milhões de adeptos.
A ORIGEM DOS PENTECOSTAIS DA SEGUNDA GERAÇÃO
A partir
de 1950 multiplicou-se o número de denominações pentecostais. Esse fato deve-se
principalmente às incentivadas cruzadas nacionais de evangelização que percorreram
todo o país. Usavam-se tendas como templos improvisados e grandes anúncios nas rádios
da época. Esse período é conhecido como a segunda geração de pentecostais.
Foi assim que nasceu a IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR. Ela foi fundada no Brasil
pelo missionário americano Harold Williams em 1953 na cidade de São Paulo. Foi inovadora
em alguns pontos cruciais do pentecostalismo. Não eram tão intransigentes no uso
da roupa e do cabelo como os membros da Assembleia de Deus e os membros da
Congregação Cristã do Brasil. Seus cultos eram ainda mais desorganizados que o de
seus antecessores. Deixando a recomendação de Paulo em I Tm 2:8-13, atropelaram
as escrituras e ordenam mulheres para o ministério, dando a estas o título de pastoras.
Seus templos estão situados principalmente no Sul e Sudeste do país.
8 Desejo, pois, os varões orarem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem
questionamentos.9 Do mesmo modo, também aspiro as mulheres ataviarem a si mesmas em vestido decoroso, com pudor e sobriedade-
autocontrole, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestuário caro,10 Mas, sim, (como convém a mulheres que estão professando o temor- a- Deus) através de
boas obras.11 A mulher aprenda em silêncio, em toda a sujeição.12 Ademais, não permito mulher
ensinar, nem usar de autoridade sobre varão, mas , sim, estar em silêncio,.13 Porque primeiramente foi
formado Adão, depois Eva,
A febre do pentecostalismo estava a toda nessa época. Em 1956 o ex-pastor assembleiano
e depois quadrangular, Manuel de Melo, iniciou uma divisão nestas duas igrejas.
Dessa divisão surgiu a IGREJA "O BRASIL PARA CRISTO". Esta igreja foi
um pouco mais rígida que a quadrangular e um pouco menos exigente que a Assembléia.
Seu crescimento foi espantoso. Na época áurea de Manuel de Melo ele chegou a ordenar
mais de trezentos pastores num só dia (a maioria ex-presbíteros da Assembléia de
Deus). Chegaram a ter o maior templo protestante no Brasil na cidade de São Paulo.
Seus programas de rádio eram largamente ouvidos em todo o país. Chegaram a ter mais
de um milhão de membros. Na última pesquisa feita o número foi de 197.000. Com a
morte do missionário o trabalho deixou de ter o crescimento expressivo que marcou
o seu início. Tem perdido muitos membros para as divisões das assembléias e para
os neopentecostais.
As igrejas pentecostais continuaram a rachar. Em 1960 surgiu a IGREJA NOVA VIDA
no Rio de Janeiro. O missionário David Martins Miranda, que tem origem assembleiana,
deixou-a e fundou a IGREJA DEUS É AMOR em 1962. Esta igreja ainda está em ascensão
[numérica]. Cresce muito entre a população mais carente do país. O fato de seu fundador
e líder ainda estar vivo ajuda muito à sua propagação. Seus programas de rádio têm
grande audiência na camada mais pobre, e principalmente, nos moradores da zona rural.
Muito parelha a esta igreja em doutrinas e costumes a IGREJA "SÓ O SENHOR É
DEUS", que tem como fundador o missionário Miranda Leal ( Que dizem ser primo
de Davi Miranda). Esta igreja que tem a sua sede em Maringá, no Paraná, e seus templos,
quando construídos por Miranda Leal, tem a forma de uma Arca, como a de Noé. Em
1964 surge A CASA DA BENÇÃO, fundada pelo missionário Doriel de Oliveira. É quase
inexpressiva nas cidade de pequeno porte, mas é bem representada nos grandes centros.
Esta igreja até hoje costuma usar tendas improvisadas como templos para iniciar
seus trabalhos.
OS NEOPENTECOSTAIS
Neopentecostalismo
é o nome que se dá aos pentecostais da terceira geração. São assim chamados porque
diferem muito dos pentecostais históricos e dos da segunda geração. Realmente, é
um novo pentecostalismo. Não se apegam a questão de roupas, de televisão, de costumes,
e têm um jeito diferente de falar sobre Deus. Dualizam o mundo espiritual dividindo-o
entre Deus e o Diabo. Para eles o mundo está completamente tomado por demônios,
e é sua função expulsá-los. Pregam a prosperidade como meio de vida. Pobreza é coisa
de Satanás. Doença só existe em quem não acredita em Deus e sua origem é o demônio.
Seus cultos são sempre emotivos objetivando uma libertação do mundo satânico. Em
muitos pontos pode-se dizer que suas doutrinas são bem parecidas com as doutrinas
das religiões orientais, tais como Seicho-No-Ê, induísmo e budismo. Para eles o
crente não pode sentir dor, ser pobre ou estar fraco.
Este movimento começou no início da década de setenta. Seu crescimento deve-se muito
aos programas de rádio e televisão, os quais, devido ao anúncio de curas e milagres,
tiveram uma grande audiência. Seus ouvintes e telespectadores geralmente são recrutados
para dentro de suas igrejas. O sistema de testemunho é forte, e isso certamente
encoraja outros a tomar o mesmo caminho.
No Brasil a maior igreja neopentecostal é a UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (IURD). Já
conta com mais de dois mil templos em todo o Brasil e é a terceira maior igreja
evangélica do país, ficando atrás apenas da Assembléia e da Congregação Cristã.
Fundada em 1977 pelo bispo Edir Macedo, tem procurado estabelecer um sistema episcopal
como o católico. Possui um forte esquema de comunicação (rádio, televisão,
jornal, internet), que é sem dúvida o fator de peso na divulgação e crescimento
de seus trabalhos.
Depois da Universal, a maior igreja neopentecostal no Brasil é a IGREJA INTERNACIONAL
DA GRAÇA. Esta igreja foi fundada em 1980 pelo missionário R. R. Soares no Rio de
Janeiro. Na intenção de imitar o trabalho de Kenneth Hagen (um dos maiores apresentadores
de igrejas televisionadas dos EUA), Soares investe muito na apresentação de seus
programas [na televisão]. Outra Igreja forte no ramo neopentecostal é a RENASCER
EM CRISTO, que trabalha principalmente com a camada alta da sociedade. Há pouco
tempo quase comprou uma rede de Televisão. A tendência é crescer. Seu fundador se
auto declarou "apóstolo".
AS DIVISÕES DO PENTECOSTALISMO
O pentecostalismo
é um mal.
- Primeiro, porque causa divisão.
- Segundo, porque causa confusão.
Só no Brasil são mais de duas mil denominações registradas em cartório como autênticas
pentecostais. Por exemplo: A Assembléia nasceu em 1910. Só que hoje existem diversas
Assembléias e todas nascidas de um racha dentro de outra Assembléia. A Congregação
Cristã é uma renovação da igreja presbiteriana. Mas hoje já existe a Congregação
Cristã Renovada. Esse tipo de comportamento só serve para causar confusão. O método
de aceitar membros de qualquer outra igreja, sem saber qual era sua vida na sua
igreja de origem, faz com que prevaleça a desordem e a descrença denominacional.
Os pentecostais alegam que o aparecimento do Espírito Santo dentro das igrejas surgiu
como resposta de Deus ao modernismo teológico (MP pg 04, 06-96). Quer dizer que
o Espírito Santo tinha sumido das igrejas por quase dois mil anos? Poucos sabem,
quando afirmam uma coisa dessas, que quando os pentecostais estavam renovando os
trabalhos batistas no começo do século, estes mesmo "crentes frios", estavam
dando suas vidas em campos missionários de todo o mundo. Antes de dividir as igrejas
de Jesus seria bom que lessem Provérbios 6:19.
A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.
OS BATISTAS RENOVADOS
A renovação
das Igrejas Batistas no Brasil como denominação começou no ano de 1958. Desde esta
data até o ano de 1965, quando realmente houve a divisão, muitas reuniões foram
feitas no intuito de evitar o racha nas igrejas batistas de todo Brasil.
O iniciador do movimento divisório nas igrejas batistas do Brasil foi um pastor
da Igreja Batista de Vitória da Conquista chamado José Rego do Nascimento. Era um
grande orador e logo conseguiu fazer fileiras e conquistar algumas pessoas de nome
para o seu movimento. Foi o caso do pastor Enéias Tognini, pastor da Igreja Batista
de Perdizes. Essa união de forças levou o caso a ser analisado várias vezes. Houve
muitas reuniões de um comitê organizado para este fim, formado por 11 membros, buscando
uma solução conciliadora para a questão pentecostal dentro das igrejas batistas.
A decisão estabeleceu que: "A atuação do Espírito Santo na vida dos crentes
se faz através de um processo chamado santificação progressiva; que manifestações
emotivas, por mais sinceras que sejam, não podem ser apresentadas como um padrão
a ser seguido por todos; que a ênfase dada a doutrina do batismo no Espírito Santo
tem causado reuniões barulhentas, carregadas de emocionalismo e provocado manifestações
de orgulho espiritual, bem como proselitismo de crentes que não adotam tais idéias."
Isso aconteceu em 1963.
Em 1965, ao realizar-se a Convenção em Niterói, com 3.035 mensageiros, as preocupações
maiores era a grande Campanha de Evangelização marcada para o mesmo ano. No plenário
mais uma vez surgiu o problema da renovação. O presidente, vendo que isso atrapalharia
a campanha, pediu que a questão fosse resolvida no ano seguinte. Porém a intransigência
dos reavivalistas foi tanta, que precisou ser resolvida naquela convenção. Decidiu-se
então por excluir da comunhão as igrejas renovadas. Só naquele ano mais de trezentas
igrejas se rebelaram e tiveram que ser excluídas. Juntas, formaram uma convenção
a qual denominaram CONVENÇÃO BATISTA NACIONAL. Assim, pela primeira vez, houve uma
divisão entre os batistas brasileiros como um grupo.
OS CARISMÁTICOS
O movimento
pentecostal iniciado em 1900 por Parhan conseguiu invadir todas as denominações
antigas (batistas, presbiterianas, congregacionais, metodistas, etc.). Até então
falar em línguas era para os pregadores pentecostais uma resposta de Deus condenando
as denominações tradicionais. Todos os grupos renovados que saiam de suas igrejas
originais condenavam os que não aceitavam o pentecostalismo. De repente o mundo
pentecostal teve uma surpresa. Essa surpresa foi a chegada dos pentecostais católicos,
ou CARISMÁTICOS.
No início de 1960, explodiu a mania carismática nas antigas denominações Episcopais
da Califórnia. Seu líder principal foi Dennis Bennet de Van Nuys. Um discípulo dele,
Jean Stone, espalhou o seu ensino através da revista Trinity entre os anos de 1961-66.
Por esse mesmo período, Larry Christensen liderou o avivamento carismático entre
as igrejas luteranas nos E.U.A.
Em 1967, foi a vez da Igreja Católica Romana formar seu grupo de carismáticos. Tudo
começou num retiro de universitários na Universidade [católica] de Duquesne, Pittsburgh.
Houve muitos que falaram em línguas naquele retiro. O primeiro grande líder dos
carismáticos Católicos parece ter sido Ralph Keifer. Em fevereiro de 1967, ele levou
a mensagem carismática para a Universidade [católica] de Notre Dame [South
Bend, Indiana],
e muitos alunos e professores falaram em línguas.
De princípio, tanto os pastores pentecostais como padres católicos condenaram o
mais novo movimento pentecostal. Na verdade, os padres até tinham uma certa razão,
pois [pentecostalismo] era um ensino totalmente contrário as doutrinas do Vaticano.
Já os pastores pentecostais condenavam [os carismáticos, católicos] mais por ciúme,
afinal, a grande vantagem de falar em línguas, que foi a bandeira dos pentecostais
por mais de seis décadas, estava agora na boca dos idólatras católicos. A diferença
dos carismáticos com os pentecostais é:
- Primeiro que carismáticos se renovam e permanecem nas suas próprias congregações,
enquanto os pentecostais históricos dividiam as igrejas.
- Os carismáticos usualmente pertenciam à classe média, são separatistas, urbanizados,
de tendência ecumênica e pluralistas em sua teologia. As igrejas pentecostais clássicas
eram originalmente constituídas de operários e eram barulhentas em seus cultos.
Na questão de barulho os carismáticos atuais já alcançaram seus primos pentecostais
clássicos.
- Os carismáticos são idólatras e os pentecostais não.
No demais, são bem parecidos.
Os carismáticos católicos só conseguiram o agrado do Papa - não o aval - em 1975.
Neste ano o movimento reuniu dez mil carismáticos em Roma. Num pronunciamento ecumênico
o Papa Paulo falou simpaticamente à assembléia. Foi uma vitória ao movimento carismático.
De princípio, João Paulo II não aprovou muito o movimento. Mas atualmente ele é
favorável, principalmente porque os carismáticos já se organizaram em quase todo
o mundo, e, no Brasil, que é o maior país Católico do mundo, o movimento está esparramado
em quase todas as suas paróquias. Para dizer com mais sinceridade, é o movimento
carismático que está conseguindo deter o movimentos pentecostal e neopentecostal
na América Latina, que aliás, é o grande reduto católico do mundo.
A grande pergunta é:
- Estavam certos os pentecostais em condenar o movimento tradicional?
- Que dizer de uma pessoa que acredita em purgatório, santos e imagens, cultos aos
mortos, adoração de Maria, entre outras barbaridades, falar em línguas também?
É preciso ter muito cuidado quando falamos desse assunto. Mais uma coisa é certa.
O pentecostalismo só causou divisão nas igrejas. No princípio, quando as igrejas
são rachadas, sempre fica a mágoa e a rixa dos grupos divididos. E isso eu posso
afirmar com certeza, que tudo que divide o corpo de Cristo não é do agrado de Deus.
Se você deseja
saber mais sobre a origem das igrejas cristãs escreva para:
Autor: Pastor Gilberto Stefano
Igreja Batista da Fé,
Rua Jamil Dib Lufti, nr. 165
Jardim Santa Clara
17500-000 Marília, São Paulo
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.