Por Clóvis
Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É
lícito, se crês de todo o coração" At 8:36-37
Antes de mais nada, o que é um
credobatista? É uma pessoa que crê que o batismo deve ser realizado apenas em
pessoas crentes, em termos práticos, que fizeram confissão de fé. Difere do
batismo de adulto por não estabelecer uma idade mínima para realização do
batismo e do pedobatismo por entender que uma criança não exerce fé
pessoal, que é um pré-requisito para o batismo. As razões que me fazem um
credobatista são bíblicas, teológicas e históricas.
Argumentos bíblicos
1. As prescrições do batismo
A Bíblia traz várias orientações sobre o batismo, as quais acabam por
requerer que o candidato ao mesmo tenha primeiramente crido. Na Grande Comissão
Jesus garantiu que "quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado" (Mc
16:16). A ênfase recai sobre o ato de crer, sendo o batismo consequência natural.
Tanto que na oração seguinte, sequer se fala do batismo, que é irrelevante se
alguém não tem fé. Na inauguração da igreja Pedro instou com o povo
dizendo "arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo" (At 2:38). Vemos em seguida que "foram
batizados os que de bom grado receberam a sua palavra" (At 2:41).
Crer, arrepender-se e receber de bom grado a Palavra são coisas que antecedem o
batismo.
Na repreensão de João Batista vemos o mesmo princípio. Ele
diz "à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de
víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento" (Lc 3:7-8). O precursor de
Jesus exigia conversão de todos quantos quisessem descer às águas do batismo. O
batismo cristão segue o mesmo princípio. Quando o eunuco perguntou o "que
impede que eu seja batizado?" Filipe respondeu "É
lícito, se crês de todo o coração" e somente quando o eunuco
confessou "creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus" é
que "desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o
batizou" (At 8:36-38). Portanto, o crer em Cristo é condição sine
qua non para o batismo.
2. Os exemplos bíblicos
Os exemplos de batismos registrados na Bíblia corroboram o credobatismo. Os que
eram batizados por João Batista o eram "confessando os seus
pecados" (Mt 3:6; Mc 1:5) e "justificaram a
Deus" (Lc 7:29). Atos registra que "como
cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus, e do nome de Jesus
Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres" (At
8:12). Continua o historiador dizendo que "creu
até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe" (At
8:13) e que "os coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados" (At
18:8). Não há um só registro positivo de batismo de não crentes sendo
batizados.
Argumentos teológicos
1. O significado do batismo
O batismo é o primeiro das duas ordenanças de Cristo à Igreja. O
significado teológico do batismo varia conforme a tradição evangélica. Para os
credobatistas, o batismo é principalmente um sinal e um testemunho externo da
obra de Deus realizada na regeneração. Como a Ceia do Senhor representa a obra
de Cristo na cruz, o batismo representa a obra do Espírito Santo no coração do
crente. Temos então que o batismo é um símbolo exterior que representa uma
realidade interior, sendo a fé o vínculo entre o símbolo e a coisa significada.
Sem fé, o batismo não é um sacramento. Não é de se estranhar, portanto,
que todos os batismos registrados na Bíblia sejam de crentes.
2. Depoimentos teólogos
Mesmo autores não credobatistas tem que reconhecer que o batismo de não
crentes, especialmente o de recém-nascidos, não tem amparo bíblico direto.
Creio que pela palavra de três pedobatistas este fato fica confirmado. O
Dr. A. Plummer (Igreja da Inglaterra) diz que "dos
que recebem o batismo cristão é requerido que se arrependam e creiam" (Dictionary
of the Bible). M. W. Jacobus (Congregacional) reconhece que "nós
não temos nenhum registro no Novo Testamento do batismo de infantes" (Standard
Bible Dictionary). E o presbiteriano Scott McKnight afirma que "o
Novo Testamento não contém referência explícita ao batismo de infantes ou de
criancinhas"(Dictionary of de the Bible).
Argumentos históricos
1. O Didaquê
O Didaquê ou Ensinamento dos Doze Apóstolos, escrito entre os anos
145-150 dC, traz a seguinte orientação: "Quanto ao
batismo, batize assim: tendo primeiro ensinado todas essas coisas, batize em
água corrente, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (VII,
1). A expressão "tendo primeiro ensinado" deixa
claro que o batismo é precedido de ensinamento. A prescrição seguinte também
pressupõe pessoas crentes sendo doutrinadas "antes
de batizar, tanto aquele que batiza como o batizando, bem como aqueles que
puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um
ou dois dias" (VII, 4). Portanto, no segundo século, o
costume da igreja era batizar crentes professantes.
2. Pais da Igreja
O Dictionary of Christianity in America diz que algum
tempo depois do segundo século é que o batismo de infantes foi introduzido na
igreja, mas que a prática do batismo de crentes continuou como de uso geral até
a Idade Média. Não ignoro as referências de Orígenes (185-253), Tertuliano
(160-240), Ireneu (125-190) e Justino Mártir (c. 138) ao batismo infantil. Mas
elas estão invariavelmente ligadas ao erro da regeração batismal ou são
incertas. Orígenes diz que crianças são batizadas para perdão dos pecados.
Tertuliano reprovava o batismo infantil, por considerar que o batismo lava os
pecados passados, então aconselhava postergar o ato. Ireneu até mesmo usa o
termo regeneração como significando batismo. E Justino diz que "muitas
pessoas, de ambos os sexos, algumas com seis ou sete anos de idade, foram feitas
discípulos de Cristo desde sua infância". Porém não há referência
ao batismo aqui e a expressão "foram feitas discípulos" parece
apontar para a conversão e o ensino.
Conclusão
O fato é que a Bíblia exige fé e arrependimento de quem se apresenta para o
batismo e não registra nenhum caso de não crente ou infante sendo batizado. A
história revela que a prática do batismo infantil não remonta aos apóstolos e
que se iniciou com uma visão distorcida de seu significado teológico. Por estas
razões, sou credobatista. E por outras não sou pedobatista. Mas isto é assunto
para outro artigo.
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