Uma Defesa Bíblica E Histórica Do Pré- Tribulacionismo



Por Pastor Ícaro Alencar de Oliveira 

Introdução

A volta de Jesus Cristo e a Eternidade ao Seu lado é motivo de grande alegria para os crentes. Todas as tribulações que enfrentamos, enfrentamo-las confiadamente “Por causa da esperança que vos está reservada nos céus” (Col. 1.5), enquanto aguardamos pacientemente a volta de Cristo (At. 1.11). Em sua primeira vinda, Jesus Cristo proclamava o reino que se aproximou (Mat. 4.17), tinha alto padrão moral (Mat. 5-7), mas se mostrou pouco interessante aos judeus (Mat. 11.20-30). Os milagres confirmavam a revelação do Rei e do reino (Mat. 8.1-4,14-17,23-34), porém forte oposição da liderança judaica recrudescia ao ponto de acusarem Jesus de desviar o povo para longe do Deus verdadeiro e de manifestar sinais supostamente por Belzebu (Mat. 12.22-30).

Uma vez que o Rei foi rejeitado por seu povo (Jo. 1.11), o Reino Messiânico foi postergado (Mat. 11.20-24; 21.43), e Jesus Cristo passou a proclamar uma forma misteriosa de reino. Depois reação do povo judeu “Jesus abandonou aquela expectativa por causa da oposição e do desestímulo que se seguiram”. Cristo passa a falar sobre o “reino dos céus” (Mat. 13) e em Mat. 16 Jesus Cristo fala pela primeira vez da Igreja. Tal forma misteriosa do governo de Deus não pode ser confundida com o reino universal de Deus, que abarca apenas os salvos de todas as eras; não pode ser confundido também com o reino messiânico, que foi postergado naquele momento, mas não era nenhum mistério, muito pelo contrário. Pentecost afirma “que essa forma misteriosa do reino se refere a coisas que até agora não tinham sido reveladas, [e] está definitivamente limitada ao tempo e representa toda a esfera da religião na presente era”. Este reino na presente era abarca o período imediatamente anterior ao pentecostes e imediatamente posterior ao arrebatamento; vai de antes da fundação iminente da igreja até seu translado iminente. Logo, a igreja está dentro do período do reino dos céus, mas não passa pela tribulação, devido ao propósito da grande tribulação.

● I. A Iminência e a Singularidade do início e do translado da Igreja demonstram O Pré-Tribulacionismo. 

O AT não anteviu a vinda do Messias como consistindo em duas fases distintas, mas um só evento; também não antevira a existência do período parentético, o tempo dos gentios (Luc. 21.24; Rom. 11.25). Na revelação progressiva, as Escrituras demonstram que nesta era há três povos distintos: os judeus, os gentios e a Igreja de Deus (ICor. 10.32). Para cada um destes há um futuro escatológico profetizado. Os reinos gentios serão destruídos por unirem-se à Babilônia em sua derrocada contra os judeus (Ap. 17;18). Os judeus serão restaurados, provarão um avivamento, 144 mil judeus selados anunciarão o evangelho, e toda a nação clamará pelo Messias, que os restaurará, e ao terceiro dia após o arrependimento nacional voltará para salvá-los (Is. 53.1-9; Os. 5.15-6:1-3; Zc. 14.1-11; Rom. 11.25-27).

i. O início da igreja ocorreu de forma iminente e dramática no Pentecostes (At. 2.1-4). A Igreja é considerada um mistério que esteve oculto desde todos os séculos (Col. 1.24-29; Ef. 3.1-7); a igreja é formada pela união de judeus e gentios formando um só corpo (Ef. 3.1-6), batizados pelo mesmo Espírito (ICor. 12.13) neste período parentético entre a rejeição e aceitação de Jesus Cristo por Israel. A igreja está fundamentada sobre a rocha, o Messias (Mat. 16.18), sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef. 2.19,20), sendo Cristo a pedra angular (Mc. 12.10; At. 4.11; Ef. 2.20; IPed. 2.7), e de cujo edifício somos todos pedras vivas (IPed. 2.4,5). Estamos sendo edificados pelo poder do Espírito em Seus dons (ICor. 12.12,13; Ef. 4.11-13); e temos lugar preparado para nós (Jo. 14.1-3).

ii. A revelação do mistério da igreja ocorreu neste tempo presente. Adentramos ao corpo de Cristo pelo batismo do Espírito Santo. O Espírito Santo (o dentetor) será retirado. Segundo Paulo, o momento da revelação deste mistério ocorre “agora” (Col. 1.26,27; Rom. 16.25,26), i.e., na era da igreja. Estando uma vez fundamentada, “ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (ICor. 3.11). Para se fazer parte do corpo de Cristo (i.e. da igreja) deve-se ter sido batizado pelo Espírito Santo dentro deste corpo (ICor. 12.12,13). O mesmo Espírito deixará de batizar no corpo – a igreja que será arrebatada – (ICor. 15.51-54; ITes. 4.16,17) e ele, que é o detentor, será retirado da terra antes que o iníquo seja manifestado e da grande retirada e este mesmo será destruído pela resplendor da vinda do Messias, no fim da tribulação (IITes. 2.3,7,8; Ap. 19.11-21).

iii. A natureza da igreja demonstra que ela não tem o mesmo fim que Israel. Israel passará pela grande tribulação para ser restaurado, salvo, e adentrar ao reino (Rom. 11.25-32; Ap. 20.1-6). A igreja, por sua vez, tem promessa de que será livrada da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo (Ap. 3.10), que é a ira futura (ITes. 1.10; 5.9). Os judeus e gentios fora do corpo de Cristo (i.e. da igreja) passarão pela grande tribulação para que o propósito escatológico de Deus seja cumprido em ambos os povos; já a igreja fiel recebeu a seguinte promessa da parte de Cristo: “Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos; o qual nos livrou de tão grande morte e livra; em quem esperamos que também nos livrará ainda” (IICor. 1.9,10); ainda diz mais: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap. 3.10); o fim escatológico da igreja é o arrebatamento, evento que ocorre inesperadamente (ICor. 15.51-54; ITes. 4.13-18).

● II. A ausência da Igreja em Apocalipse 4 ao 19 indica a ausência da Igreja na Grande Tribulação. 

Em Apocalipse 1 a 3 o termo “igreja” aparece dezoito vezes. No capítulo 4 João é arrebatado (v.2) e como um expectador privilegiado, vê a ira de Deus sendo derramada sobre a terra, dos capítulos 4 ao 19, mencionando apenas Israel e os gentios, mas nunca a igreja na terra(Ap. 4.4; 11.16), até o capítulo 19.1-10 e em 22.16. O arrebatamento de João pode ser considerado como indício de nossa transladação antes da tribulação; isso está de acordo a promessa de um lugar preparado por Cristo (Jo. 14.1-3) e da promessa de livramento do tempo da ira futura (ITes. 1.10; 5:9), quando nos reuniremos iminentemente com ele (ICor. 15.51-54; ITes. 4.16,17; IITes. 2.1).

● II. A ausência da Igreja em Apocalipse 4 ao 19 indica a ausência da Igreja na Grande Tribulação.
Em Apocalipse 1 a 3 o termo “igreja” aparece dezoito vezes. No capítulo 4 João é arrebatado (v.2) e como um expectador privilegiado, vê a ira de Deus sendo derramada sobre a terra, dos capítulos 4 ao 19, mencionando apenas Israel e os gentios, mas nunca a igreja na terra(Ap. 4.4; 11.16), até o capítulo 19.1-10 e em 22.16. O arrebatamento de João pode ser considerado como indício de nossa transladação antes da tribulação;[v] isso está de acordo a promessa de um lugar preparado por Cristo (Jo. 14.1-3) e da promessa de livramento do tempo da ira futura (ITes. 1.10; 5:9), quando nos reuniremos iminentemente com ele (ICor. 15.51-54; ITes. 4.16,17; IITes. 2.1).

● III. A Natureza da Grande Tribulação em nada diz respeito à Igreja.

O fim escatológico de Israel é a grande tribulação, para que estes sejam restaurados e assim, ambos os povos, a Igreja e Israel, reinem com Cristo ao final da septuagésima semana (ICor. 6:9,10; 15:50; Gál. 5:21; Ef. 5:5; ITes. 2:12; IITes. 1:5; IITim. 2:12; 4:1,18; Heb. 12:28; Tg. 2:5; IIPed. 1:11; Ap. 5:10). Quanto à septuagésima semana, lemos em Daniel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo [Israel] e sobre a tua santa cidade [Jerusalém]” (Dan. 9:24). Visto que a igreja é um mistério oculto desde todos os séculos, nenhuma profecia do AT concernente a Israel passando pelo período tribulacional tem aplicação para a igreja. Logo, não há razões nem propósitos para uma suposta permanência da Igreja na Grande Tribulação.

● IV. Existe Evidência Histórica do Ensino de um Livramento e Translado Pré-Tribulacional da Igreja?
Muitos têm acusado o Dispensacionalismo de ensinar uma doutrina nova, que jamais fora ensinada em toda a história da igreja, a qual passou a ser difundida por John Nelson Darby no séc. XIX. A doutrina conhecida como rapto secreto, ou arrebatamento (ITes. 4:13-18) ganhou notoriedade com o advento do Dispensacionalismo no fim do séc. XIX e início do Séc. XX. Diferente daquilo que afirmam os opositores do Dispensacionalismo, existem evidências na patrística de que, tanto a doutrina do quiliasmo, bem como a doutrina da iminente transladação pré-ira da igreja, eram tanto ensinadas quanto cridas ainda no início da igreja.

A obra O Pastor de Hermas (séc. II d.C.) fala da esperança de um livramento da tribulação, afirmando: “Vós escapastes da Grande Tribulação em virtude da vossa fé, e porque não duvidastes na presença de tal Besta. Ide, portanto, e contai aos eleitos do Senhor os seus atos poderosos, e dizei a eles que esta Besta é um tipo de Grande Tribulação que está se aproximando. Se então vos preparardes, e vos arrependerdes de todo o vosso coração, e vos converterdes ao Senhor, será possível escapardes dela; sim, se o vosso coração for puro e imaculado, e passardes o resto dos dias das vossas vidas servindo ao Senhor irrepreensivelmente”.

Efrém de Nisíbis (306-373 d.C.) em seu SermãoSobre os Últimos Dias, o Anti-Cristo e o Fim do Mundo, afirmou a iminência do rapto pré-ira, sustentando o mesmo que o Dispensacionalismo, concordando também com um parêntese entre a 69ª semana e a 70ª de Daniel; ele afirma o seguinte: “Todos os santos eleitos de Deus serão reunidos antes da Tribulação que está por vir, e serão levados ao Senhor, para que em nenhum momento possam ver a confusão que domina o mundo por causa dos nossos pecados”.[viii]
O irmão Dolcino (1250-1307 d.C.) fundou um grupo, chamado Irmãos Apostólicos, no norte da Itália. Um indivíduo ligado ao movimento afirmou sua esperança pré-tribulacional: “O Anti-Cristo estava entrando neste mundo dentro dos limites do dito período de três anos e meio; e depois de sua vinda, então ele [Dolcino] e seus seguidores seriam transferidos para o Paraíso, no qual estão Enoque e Elias. E desse modo seriam preservados ilesos da perseguição do Anti-Cristo”. Francis Durmelock afirma que os Dolcinianos no séc. XIV defendiam um esquema escatológico semelhante ao Dispensacionalismo moderno[x]. Outros eruditos tem afirmado que grupos como os Albiguenses e os Waldenses também possuíam uma esperança pré-milenial.

● Já no tempo da Reforma Protestante, Joseph Mede (1568-1638) escreveu a obra pré-milenial Clavis Apocalyptica, a qual defende de forma erudita a interpretação literal do Apocalipse. O teólogo francês Pierre Jurieu (1637-1713) escreveu em sua obraApproaching Deliverance of the Church, publicada em 1687, também ensinou o arrebatamento dos santos, afirmando que este evento era uma espécie de “vinda encoberta de Cristo”, além de afirmar que Cristo volta para o céu antes do Armagedom e que “os santos reinarão com Cristo por mil anos”. Paul Benware afirmou que “James Macknight (1763) e Thomas Scott (1792) ensinaram que os justos serão transportados para o céu, onde estarão seguros até que o tempo do juízo termine”.

● V. Conclusão
Cristo trouxe alento aos seus discípulos ao dizer-lhes: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (Jo. 14.1-3).

O nosso salvador prometeu-nos um fim escatológico em que não teríamos de passar pela grande tribulação, mas nós, a Igreja, temos em nós, esta certeza da parte de Deus: “E esperar dos céus o seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (ITes. 1.10). À igreja de Filadélfia, e por extensão, a igreja fiel, seremos transladados pois fiel é o que ,prometeu dizendo: “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap. 3.10).

Paulo, em sua esperança pré-tribulacional, disse: “Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino” (IITim. 4.1), tinha esperança de que “se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará” (IITim. 2.12); Paulo, que fazia parte da igreja, afirmou esta mesma esperança que há em nosso coração hoje: “E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja  glória para todo o sempre. Amém” (IITim. 4.18). Tal esperança de livramento e transladação antes da tribulação é que tem nutrido o coração de cada membro da igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por isso clamamos: “Maranata! [Vem, Senhor!]” (ICor. 16.23b).

📚NOTAS:
WALVOORD, John F. Todas as profecias da Bíblia. São Paulo: Vida, 2002. p. 320-328.
PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia: Uma análise detalhada dos eventos futuros. São Paulo: Editora Vida, 2006. p. 457-485.
Ibid. p. 170.
WALVOORD, John F. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2000. p. 472-476.
PENTECOST, J. Dwight. Ibid. p. 219; LAHAYE, Tim; HINDSON, Ed. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 81-89.
O Pastor de Hermas (1.4.2), citado por Thomas Ice e James Stitzinger, em LAHAYE, Tim; HINDSON, Ed. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 90-94.
GUMERLOCOK, Francis X. The Day and the Hour: A Chronicle of Christianity’s Perennial Fascination with Predicting the End of the World[O Dia e a Hora: Uma Crônica da Cristã Fascinação Perene com a Predição do Fim do Mundo]. Powder Springs, GA: American Vision, 2000. p. 80, citado por Thomas Ice em A BriefHistoryofRapture [Uma Breve História do Arrebatamento].
LAHAYE, Tim; HINDSON, Ed. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 90-94. Citado por Thomas Ice e James Stitzinger em História o Arrebatamento, em LAHAYE, Tim; HINDSON, Ed. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 90-94. 

🖋Autor: ÍCARO ALENCAR DE OLIVEIRA

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