Por Lucas Banzoli - outubro
24, 2012
[Graduado em Comunicação Institucional pela Universidade Federal do Paraná
(2014), pós-graduado em História pela Universidade Cândido Mendes (2016) e
mestrando em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (2015)]
Em suas tentativas de defender a tese de que o preterismo é a posição
apocalíptica bíblica, os seus defensores situam o livro no período do imperador
romano Nero, antes de 70 d.C. A razão pela qual eles fazem isso não provém de alguma
razão lógica ou histórica proveniente dos Pais da Igreja – todos estes afirmaram
que foi escrito no final do reinado de Domiciano, em 95 d.C – mas sim por serem
forçados a crerem em tal coisa, ou senão toda a teologia preterista se perde.
Isso porque o Apocalipse é uma visão (revelação) que João teve na Ilha de Patmos
(Grécia), sobre acontecimentos que iriam acontecer no futuro.
Ele escreve sobre as coisas que “hão de acontecer” (Ap.1:1),
ou seja, sobre uma tribulação futura que assolaria a humanidade (e que para os preteristas
se resume a Jerusalém, em 70 d.C). Mas como podemos derrubar definitivamente essa
datação preterista do livro? Embora nós tenhamos inúmeros registros históricos conservados
pelos Pais da Igreja – desde Irineu e Justino em diante – isso parece não ser suficiente
para eles. Aparentemente, é necessário algo mais. Portanto, irei mostrar aqui uma
evidência conclusiva de que o livro não foi escrito antes de 70 d.C. E ela está
em Apocalipse 2:13, que diz:
“Sei onde você vive, onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece
fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa
cidade, onde Satanás habita” (Apocalipse 2:13)
“Ok” – você pode pensar – “mas como
este versículo prova que o Apocalipse não foi escrito antes de 70 d.C”?
Isso nós descobrimos quando analisamos a época que este mártir da Ásia, Antipas,
foi morto. Aqui João está escrevendo cartas direcionadas às sete igrejas da Ásia.
Essa carta foi direcionada aos cristãos de Pérgamo. Nela, João faz menção de um
acontecimento passado que certamente ainda estaria conservado na mente dos cristãos
daquela cidade, que foi o martírio de um de seus maiores líderes, Antipas, que foi
bispo da cidade de Pérgamo.
Acontece que, se João escreveu antes de 70 d.C e relata a morte que
já tinha acontecido de Antipas, isso significa obrigatoriamente que – de acordo
com a datação preterista – esse Antipas tem que ter morrido antes de 70 d.C, evidentemente.
Porém, a tradição histórica da Igreja em seu testemunho unânime (inclusive por fontes
católicas) em uma só voz proclama que Antipas foi martirizado durante o reinado
de Domiciano, e não de Nero!
Aqui nós temos que fazer uma pequena pausa para uma observação histórica.
Se João escreveu antes de 70 d.C, então ele escreveu na época do imperador romano
Nero, que reinou em Roma entre 13 de Outubro de 54 até 9 de Junho de 68. Porém,
ele relata o martírio de Antipas que havia ocorrido alguns anos antes. Portanto,
Antipas deve, pela lógica preterista, ter sofrido o martírio durante o reinado de
Nero. Entretanto, o que vemos é que o consenso unânime entre os Pais da Igreja,
os Doutores da Igreja Católica e os historiadores, conforme a tradição da Igreja,
é que Antipas não foi martirizado durante o reinado de Nero, mas sim de Domiciano.
Ora, Domiciano reinou em Roma entre 14 de Setembro de 81 até 18 de
Setembro de 96. Portanto, se Antipas morreu durante o reinado de Domiciano e João
escreveu o Apocalipse depois disso (citando a morte de Antipas que já tinha ocorrido),
então logicamente João escreveu bem depois de 70 d.C! Ele necessariamente escreveu
depois de 81 d.C, quando Domiciano começou a reinar em Roma, perseguir os cristãos
e matar Antipas. As provas disso são abundantes, tanto em fontes evangélicas, como
também em fontes da Igreja Ortodoxa e da Igreja Romana. Vejamos algumas delas.
-Na Igreja Ortodoxa:
O principal site da Igreja Ortodoxa em português (http://ecclesia.com.br/) faz
uma extensa biografia da vida de Antipas, e não deixa de narrar que foi durante
o reinado de Domiciano que começou a perseguição aos cristãos, quando posteriormente
Antipas derramou seu sangue em martírio:
“O Santo e glorioso mártir Antipas foi contemporâneo dos apóstolos
que o tinham posto à frente da Igreja de Pérgamo. Na época da perseguição
de Domiciano (c. 83), mesmo já sendo de idade avançada, o santo bispo
foi levado à prisão pelos pagãos por negar-se a oferecer sacrifícios aos ídolos.
O Santo foi então arrastado diante do governador que havia antes tentado persuadi-lo
a renegar sua fé em Cristo, dizendo que a adoração aos ídolos era mais antiga e,
portanto, mais respeitável do que aquela nova religião pregada por pescadores e
gente humilde.
Santo Antipas respondeu lembrando a história de Caim que, embora
tenha sido antepassado da humanidade, era, no entanto, abominável e desprezível
por ter assassinado seu irmão. Que, mesmo as crenças dos helênicos, também muito
antigas, não eram menos desprezível para os que receberam a revelação da plenitude
da Verdade nos últimos tempos. Ao ouvir estas palavras, o governador e os pagãos
encheram-se de ódio e o jogaram numa fornalha ardente.
De lá, Santo Antipas elevou uma fervorosa oração ao Senhor, dando
graças por sofrer por amor e testemunhar assim que o amor de Deus é mais forte que
a morte. Assim, entregou sua alma nos braços do Senhor e seu corpo foi sepultado
na igreja de Pérgamo. De seu túmulo, um suave odor de bálsamo exalou durante anos,
produzindo excelentes efeitos terapêuticos para o consolo dos cristãos na cidade
e muitos peregrinos que para lá acorriam de todos os lados, para venerar a memória
do santo” (Ecclesia – Arquidiocese Ortodoxa Grega)
-Na Igreja Evangélica:
Os sites evangélicos também não deixam de ressaltar o fato de que
Antipas, bispo de Pérgamo, foi morto durante o reinado de Domiciano, em 92 d.C,
sendo assado vivo por não renunciar a sua fé em Cristo:
“Pouco se sabe a respeito de Antipas. A Bíblia o menciona uma única
vez no Livro de Apocalipse. Nele, Jesus o desceveu como Sua Testemunha e Seu fiel.
e que mesmo em face da morte decidiu que não negaria o Filho de Deus. No entanto,
a história e a tradição nos revelam outros detalhes: Ele era o líder religioso da
Igreja de Pérgamo e por causa de seu testemunho foi perseguido e morto
no ano de 92 d.C. Segundo a tradição, Antipas foi supostamente assado
vivo em um touro oco, em tamanho real, de bronze, que tinha uma fogueira em seu
ventre, porque recusou a renunciar à sua fé em Cristo Jesus”(Caminhos e Veredas)
-Em outras fontes:
Embora não haja nenhuma Enciclopédia em português que faça uma biografia
de Antipas, a Enciclopédia Livre Online da Wikipédia, em inglês, faz uma biografia
deste mártir baseando-se nos dados fornecidos pela própria Igreja Católica (como
fonte), e confirma que ele foi martirizado durante o reinado de Domiciano, em 92
d.C:
“Many Christian traditions believe Saint Antipas to be the
Antipas referred to in the Book of Revelation (Revelation 2:13) as the
"faithful martyr" of Pergamon, "where Satan dwells". According
to Christian tradition, John the Apostle ordained Antipas as bishop of Pergamon
during the reign of the Roman emperor Domitian. The traditional
account goes on to say Antipas was martyred in ca. 92 AD by
burning in a brazen bull-shaped altar used for casting out demons worshiped by the
local population. There is a tradition of oil ("manna of the saints")
being secreted from the relics of Saint Antipas. On the calendars of
Eastern Christianity, the feast day of Antipas is April 11” (Antipas
of Pergamum)
-Na Igreja Romana:
Como se tudo isso não bastasse, a própria Igreja Católica Romana
confirma em suas fontes oficiais de que, de acordo com a sua tradição, Antipas foi
martirizado durante o reinado do imperador Domiciano. A própria Enciclopédia
Católica afirma expressamente isso nas seguintes palavras:
"Following is a list of other saints from whose relics or
sepulchres oil is said to have flowed at certain times: 1) St. Antipas, Bishop
of Pergamum, martyred under Emperor Domitian” (“Oil
of Saints”, in Catholic Encyclopedia, "Acta SS.," April, II, 4)
O site New Advent, que é católico e possui o maior e mais completo
compêndio de obras patrísticas e de outros documentos históricos importantes na
história da Igreja, também fala sobre Antipas baseado nos dados fornecidos pela
tradição da Igreja Romana encontrados na Enciclopédia Católica e diz:
“Santo Antipas, o Bispo de Pérgamo, martirizado sob imperador
Domiciano” (New Advent)
Portanto, vemos que é um consenso unânime entre todas as igrejas
de que historicamente Antipas foi martirizado durante o reinado de Domiciano, aproximadamente
em 92 d.C. Isso é confirmado pela tradição da Igreja Ortodoxa (território onde Antipas
havia sido martirizado, em Pérgamo), confirmado também pela tradição da própria
Igreja Romana que confirma essa data, e confirmada também pelos evangélicos e pelos
historiadores eclesiásticos da Igreja primitiva.
Diante de todas essas provas abundantes, apenas alguém extremamente
tendencioso que iria negar todas essas evidências esmagadores e dizer que estão
todas erradas, e ainda por cima situar a morte de Antipas não durante o reinado
de Domiciano, mas durante o reinado de Nero, o que não é confirmado por absolutamente
nenhuma fonte histórica de ordem religiosa nenhuma!
Seria negar a validade da tradição histórica da própria Igreja deles,
seria colocar em cheque as obras oficiais da Igreja Católica e seria um golpe de
morte em cima da autenticidade da tradição, pois, se a tradição pôde errar em termos
tão simples quanto dizer a época em que um conhecido bispo da Ásia morreu, muito
mais poderia errar em termos teológicos complicados e divergentes. Se todas essas
afirmações sobre Antipas estão erradas, então não podemos confiar em absolutamente
nenhuma informação histórica de que temos certeza hoje.
Os católicos não colocam dúvidas sobre a época do martírio de Inácio,
Policarpo e outros mestres da Ásia que viveram aproximadamente na mesma época, então
por que deveriam questionar a validade do mesmo testemunho histórico relacionado
à Antipas? Como vemos, apenas o completo desespero em conciliar o preterismo com
a História da Igreja que poderia cegar alguém a tal ponto de negar todas as tradições
históricas a este respeito (inclusive da sua própria Igreja!) para situar em um
tempo totalmente remoto e sem confirmação nem apoio nenhum, apenas para salvaguardar
uma doutrina herética que entra em total conflito com a Bíblia e com a história
eclesiástica.
Portanto, do ponto de vista histórico, o preterismo não passa de
um conto de fadas muito bem maquiado para conseguir sobreviver mesmo diante de tantas
esmagadoras provas históricas e bíblicas que o desmentem inteiramente, e que seus
adeptos continuam ignorando sistematicamente para conseguirem manter este engodo
de pé.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.