Rev. Ronaldo P. Mendes
Se o Senhor deseja que o louvor seja oferecido em espírito e em verdade (João
4.24), por que tantos crentes acham necessário usar as mãos, os braços e
movimentos corporais para “entrar no ritmo de adoração”? Por que esta
insistência em obter uma dimensão física, a qualquer custo? Mas a Bíblia não dá
base para levantarmos as mãos? Existem várias referências nos salmos e uma no
Novo Testamento, mas estas referências não dizem respeito ao culto
congregacional, conforme mostraremos, e são tiradas do contexto por ensinadores
carismáticos. Não é possível que o Senhor exija o levantar as mãos em sua
igreja, em contradição à sua regra “em espírito e em verdade”.
Por que Davi levantava a suas mãos, conforme
relatamos nos salmos? O que significava sua atitude? Salmos 28.2 afirma: “Ouve a voz das minhas súplicas, quando a ti clamar,
quando levantar as minhas mãos para o teu santo oráculo.” (Sl 28:2) Davi estava
longe de Jerusalém, provavelmente fugindo de Absalão. Em sua vocação pessoal,
Davi levantava suas mãos em direção ao lugar do sacrifício em Jerusalém. Ele
fazia isso com o objetivo de se identificar com o sacrifício oferecido pelo
sacerdote. Davi não podia estar presente, mas demonstrava sua identificação com
a oferta. É importante lembrar que ele não teria feito isso, se estivesse em
Jerusalém, visto que apenas o sacerdote oferecia sacrifício. Assim, a atitude
de Davi era apenas um ato de identificação da parte de um homem ausente. Isso
não era algo realizado habitualmente na adoração.
Em Salmos 63.4, Davi disse: “... em teu nome levantarei as minhas mãos.” (Sl 63:4). Nesta ocasião, ele estava no deserto de Judá e,
novamente, sozinho, longe do lugar do sacrifício. Davi almejava estar no
santuário; e isso é expresso no verso 2. No momento do sacrifício, ele levantou
mais uma vez as mãos para identificar-se com a oferta da noite.
Em Salmos 141.2, Davi é bastante claro no que se
refere ao assunto. Estando novamente longe do Tabernáculo, ele roga que sua
oferta suba como incenso e: “... as minhas
mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde.” (Sl 141:2 ACF) Quando estava longe do Tabernáculo, era por meio desta
atitude que Davi expressava sua unidade com o sacrifício vespertino. Sua
atitude não era uma atividade congregacional, e sim um gesto pessoal que tinha
um significado específico e limitado. A questão é: devemos fazer o mesmo? É
claro que não, visto que os sacrifícios já se consumaram. Jesus Cristo cumpriu
todas as leis e símbolos envolvidos nos sacrifícios; e o sacrifício vespertino
não é mais oferecido. Esta é a razão porque não encontramos no Novo Testamento
instruções a respeito de levantar literalmente as mãos durante o louvor.
Levantar as mãos (da maneira como Davi fez) reavivaria o ritual envolvido nos
sacrifícios, menosprezando o grande sacrifício oferecido uma vez por todas, a
morte expiatória de Jesus Cristo.
Hoje, quando pessoas levantam as mãos, elas não fazem
como Davi, para identificarem-se com o sacrifício. Elas fazem com um propósito
completamente diferente, ou seja, obter um sentimento de “contato” com Deus. É
um recurso físico para produzir sentimentos. Esse não era o propósito de Davi.
Três outros salmos mencionam o levantar as mãos, mas
se referem a outras questões. Salmos 119.48 fala em levantar as mãos em
obediência diária a Deus – tão somente como refere-se aos sacerdotes oferecendo
literalmente o sacrifício. Salmos 143.6 descreve a Davi estendendo
figurativamente (e não de modo literal) as mãos a Deus, como uma criança indefesa
tenta alcançar sua mãe.
Quando Paulo (1Timóteo 2.8) exortou os crentes a
orarem “levantando mãos santas”, ele sem dúvida falava em linguagem figurada. Oferecer a
Deus “mãos puras” num sentido literal, como crianças que mostram aos pais que
lavaram as mãos antes da refeição, seria um absurdo. As mãos representam nossos
feitos, e Paulo quer dizer que devemos nos esforçar por santidade, antes de
orarmos. A ilustração mais semelhante está em Salmos
24.3-4: “Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo
lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração.”
Levantar as mãos é apenas outro exemplo de atividade
carismática fundamentada no uso superficial, e talvez ridículo, dos textos
bíblicos. Do modo como é feito em nossos dias, levantar as mãos é um artifício
humano sem base bíblica e tem o propósito de ajudar as pessoas a entrarem num
estado quase místico de emoções estimuladas. Isto é feito em desafio ao
princípio “em espírito e em verdade”. Portanto, em vez de promover o louvor ao Senhor, induz
as pessoas ao emocionalismo auto-indulgente. Muitos crentes sinceros são mal
orientados e aceitam essa prática como algo útil ao senso de comunhão, mas, na
verdade, ela é um obstáculo, uma vez que encoraja o uso das emoções em nível
humano, e não em um nível espiritual.
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Fonte: Louvor em Crise, Perter Masters, resumo e adaptação para o
blog: Rev. Ronaldo P Mendes, título original: “Por que levantar as mãos?”.
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.