De uns poucos anos para cá, quase da noite para o dia, se compararmos à idade
do cristianismo, alguns setores da igreja evangélica têm sido tomados de um
desejo incontido de crescimento a qualquer custo. O Movimento de Crescimento de
Igreja (1) tem surgido em toda a sua força, e o crescimento tem sido exigido a
qualquer preço. Por essa razão, uma coletânea enorme de metodologias e técnicas
tem sido empregada para que o sucesso da igreja apareça.
O mais lamentável é que o crescimento de algumas igrejas locais tem sido
conseguido às custas do sacrifício da verdadeira doutrina e do abandono de uma
liturgia sadia. Com isso, os templos e os salões têm ficado lotados em suas
reuniões. Como a evangelização moderna tem sido antropocêntrica, dizendo ao
ouvinte aquilo que se pensa que o incrédulo quer ouvir, também a forma do culto
tem sido elaborada de modo a atrair pessoas para adorar a Deus. A adoração
moderna é planejada para atrair pessoas (os consumidores de música
contemporânea) ao invés de ser promovida para que as pessoas levantem os olhos
para o céu para cultuar corretamente o verdadeiro Deus. Ao invés de prepararmos
pessoas para serem membros do sacerdócio real, da nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, para aprenderem sobre o verdadeiro Deus e a vida
eterna em Cristo Jesus, estamos estimulando essas pessoas a apurarem o paladar
por aquilo que o entretenimento moderno já lhes apresentou. Antes que
verdadeiros adoradores, estamos vendo pessoas preocupadas com o consumo musical
e litúrgico, querendo ouvir o que lhes agrada, e não o que agrada a Deus.
Se perguntarmos aos proponentes do Movimento de Crescimento de Igreja, "Por
que muitas pessoas hoje não freqüentam aos cultos?" A resposta pronta será:
"porque a mensagem e as músicas não são apresentadas ao gosto do público. Nada é
feito para que o público seja atraído aos cultos". A culpa toda recai sobre a
falta de atualização ou contextualização da adoração cristã. Então, no afã de se
ter a igreja lotada, tudo é formulado para agradar aos freqüentadores em
potencial. Esse é o método que os ministros ansiosos por sucesso logo buscam.
Mas eles se esquecem de que as pessoas não adoram a Deus porque não O amam
verdadeiramente, nem têm qualquer disposição para com o verdadeiro Deus, por
causa da sua natureza pecaminosa, que é oposta a Deus. Elas amam a si mesmas e
querem ser agradadas naquilo de que participam, quando Deus é quem deveria ser
amado e agradado no culto que lhe prestamos.
Atualmente, muitas pessoas, inclusive membros de igreja, não estão dispostas
a usar a mente, o corpo, a alma, enfim todo o seu ser, numa congregação onde
existe um sólido ensino da sã doutrina, uma pregação expositiva fiel da Santa
Escritura e uma adoração racional e reverente. Elas preferem uma reunião em que
a Palavra é deixada de lado, mas o "louvor" é a tônica, num encontro de fato
movimentado, ao paladar do tempo presente. Não há o verdadeiro compromisso com o
reino de Deus, mas ainda assim, o crescimento da igreja é a maior preocupação do
movimento que utiliza esse nome, mesmo que seja com o prejuízo de elementos
fundamentais da verdadeira adoração e da sã doutrina.
O Movimento de Crescimento de Igreja tem se concentrado numa forma de culto
ao gosto do espírito de nosso tempo e de uma evangelização barata, ao invés de
ser o produto da obra soberana do Espírito de Deus no meio do seu povo, e dum
posicionamento correto do seu povo para com a Palavra de Deus.
Contudo, todos os cristãos sensatos entendem que a igreja deve crescer
qualitativa e quantitativamente. Qual é, então, o modo pelo qual uma igreja deve
crescer? Precisamos de uma reforma ou de um reavivamento?
Esta pergunta não é a forma correta de levantar a questão. É absolutamente
certo que precisamos de ambos em nossa igreja contemporânea. Estas duas coisas
têm que andar necessariamente juntas. Do contrário, o reavivamento será um
fracasso em termos de correção da verdade e a reforma poderá ser um fracasso
porque a verdade poderá ser apresentada com aridez doutrinária. Portanto, há que
se ter em mente as duas coisas para o bom andamento da igreja de Deus no final
deste segundo milênio.
Estudemos a necessidade tanto da reforma quanto do reavivamento para o
crescimento de nossas igrejas:
Aqueles de nós que valorizam os acontecimentos espirituais extraordinários ocorridos durante a Reforma no séc. XVI, anseiam tê-los repetidos na igreja do tempo presente. Juntamo-nos a J. I. Packer que disse:
"A palavra Reforma é mágica para o meu coração, assim como estou certo que é para o de vocês. Quando vocês falam em Reforma, imediatamente pensam naquele heróico tempo do séc. XVI, quando muitos eventos momentâneos aconteceram e que ainda brilham ardentemente em nossa imaginação." (2)
A Reforma foi um movimento histórico do séc. XVI, mas ela precisa acontecer
de novo, sempre que necessária, na vida da igreja. Precisamos desesperadamente
dela outra vez em nossas igrejas, porque estamos em tempo de confusão
doutrinária, tempos de vacilação teológica, tempos de incerteza cúltica. Alguns
ministros, porém, nem sequer sonham com uma reforma novamente. Provavelmente,
eles acreditam possuir razões teológicas para essa posição.
Para tristeza nossa, o nome "Reforma" levanta suspeitas na mente de alguns
ministros que querem o crescimento de igreja a qualquer custo, porque o nome
"Reforma" relembra um estudo sério da Palavra, compromisso inequívoco com o
reino de Deus, rompimento com o erro e com a falsa adoração. A idéia de reforma
não é bem-vinda porque vai exigir dos ministros um estudo sério das suas
posições, uma reavaliação da sua conduta litúrgica e teológica. Foi isto que a
Reforma Protestante exigiu dos ministros de Deus no séc. XVI. E nós estamos
longe daquilo que foi proposto no passado. Não obstante a opinião deles, temos
que dar uma grande ênfase à necessidade de verdadeira reforma na vida da igreja
contemporânea. Muitas coisas da Reforma histórica já foram esquecidas e deixadas
de lado. Temos que resgatar a nossa herança Reformada e trazer de volta as belas
coisas perdidas.
"Reforma é a descoberta da verdade bíblica que conduz à purificação da teologia. Ela envolve a redescoberta da Bíblia como o juiz e o guia de todo pensamento e ação; ela corrige os erros de interpretação; ela dá precisão, coerência e coragem para a confissão doutrinária; ela dá forma e energia à adoração corporativa do Deus triúno." (3)
É disto exatamente que precisamos para que a verdade de Deus seja honrada e o
povo de Deus devidamente instruído. Quando Lutero foi confrontado com a verdade
de Deus, ele nunca mais a abandonou. Mesmo quando ameaçado pelas autoridades
religiosas do seu tempo, apegado ao paradigma da verdade de Deus, Lutero dizia:
"A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é nem correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém." (4)
O norte de uma reforma dentro da igreja de Deus está, inquestionavelmente,
relacionado à volta aos princípios sadios de fé e prática, propostos pela Santa
Escritura. A fé tem que ser fundamentada numa consciência cativa à Palavra, para
que a verdadeira reforma aconteça em nosso meio.
Ao invés de analisarmos o evento da Reforma do século XVI, que alguns tomam
como sendo simplesmente um evento humano, analisaremos uma reforma descrita na
história inspirada da redenção, que teve exatamente as mesmas características da
Reforma do séc. XVI, porque ambas foram causadas pelo mesmo Deus, o Espírito.
O exemplo bem claro do que acabamos de dizer está registrado na Escritura em
eventos ocorridos no tempo do rei Josias (2 Rs 22), que passo a analisar:
Há períodos na vida da igreja em que a verdade de Deus fica escondida,
ocasionando aridez, sequidão e distância de Deus. Um exemplo bem típico disto
está na história da igreja do VT, nos tempos do rei Josias. Naqueles dias, os
homens andavam às apalpadelas, sem o conhecimento da lei do Senhor, que lhes
estava encoberta.
Ela estava escondida porque os homens ignoravam a verdade da Escritura. As
pessoas comuns do povo nem sabiam da existência do Livro da Lei. E essa ausência
da Palavra causa a distância de Deus.
Ela estava escondida por falta de interesse na Palavra. O povo ignorava a Lei
de Deus porque a liderança não estava interessada nela. Se estivesse, ela
procuraria uma cópia da Lei para dar ao povo, mas não havia qualquer interesse,
da parte da classe dominante, em que as coisas fossem mudadas. A Lei de Deus,
porém, quando levada em conta seriamente, causa mudanças nos paradigmas de um
povo. Imaginem como os sacerdotes da época poderiam conduzir o povo de Israel
sem o código de fé e prática. A que ponto pode chegar um povo sem a bússola que
lhes aponta o norte! Por essa razão havia uma enorme impiedade no meio do povo.
Mas o Livro da Lei foi descoberto "casualmente" pelo sacerdote Hilquias. Esta
foi a missão do sacerdote Hilquias: Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao
escrivão Safã: Achei o Livro da Lei na casa do Senhor. Hilquias entregou o livro
a Safã, e este o leu (2 Rs 22.8).
O Livro da Lei estava perdido dentro do próprio templo. Isso me faz lembrar
da velha senhora que não lia a Bíblia porque havia perdido os óculos, quando
estes haviam sido deixados dentro da própria Bíblia. Muitos ignoram a Escritura,
quando ela está bem próxima deles, à disposição deles nos lugares onde vivem e
adoram.
Os chamados "crentes", se é que são de Deus, têm que redescobrir o valor da
Palavra de Deus. Para haver uma reforma genuína, é condição indispensável que
haja uma redescoberta do valor da Santa Escritura.
Esta foi a missão da profetiza Hulda: Ide, consultai o Senhor por mim,
pelo povo e por todo o Judá, acerca das palavras deste livro que se achou;
porque grande é o furor do Senhor, que se acendeu contra nós, porquanto nossos
pais não deram ouvidos às palavras deste livro, para fazerem segundo tudo quanto
de nós está escrito (2 Rs 22.13).
Percebam que o rei Josias queria saber o significado correto daquilo que o
Senhor havia escrito no Livro da Lei. Por essa razão, os homens do rei foram
enviados para a profetiza, para que ela lhes dissesse o significado das
palavras do Livro da Lei. A palavra da profetiza ali era considerada cheia de
autoridade, e ela sabia o sentido que o Senhor queria dar às palavras. Não é
importante somente ler a Escritura, mas também entender o seu significado.
A situação da igreja hoje não é muito diferente da situação dos tempos do rei
Josias. É verdade que a Bíblia não está escondida literalmente do mesmo modo
como ficou no tempo de Josias, mas o seu real sentido e sua real mensagem estão
escondidos de muitos crentes hoje. As pessoas têm a Bíblia à sua disposição, mas
não conhecem o conteúdo real, nem possuem a hermenêutica correta para a sua
devida interpretação. A reforma de uma igreja implica na redescoberta da Palavra
de Deus. A conditio sine qua non para que a igreja cresça é o
conhecimento correto da verdade de Deus. Os crentes, em geral, precisam
redescobrir a verdade de Deus. Este é um desafio que todos nós precisamos
aceitar.
Todos hoje usam a Escritura para defender os seus pressupostos. O grande
problema, contudo, não é a citação da Escritura, mas o modo como a abordamos. A
tarefa hermenêutica da igreja é algo supremamente determinante para o correto
entendimento da verdade de Deus.
Esta era também a tarefa da Profetisa Hulda:
Ela (Hulda) lhes disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o Senhor: Eis que trarei males sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a saber, todas as palavras do livro que leu o rei de Judá. Visto que me deixaram, e queimaram incenso a outros deuses, para me provocarem à ira com todas as obras das suas mãos, o meu furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará (2 Rs 22.15-17).
A distância da Palavra de Deus faz com que um povo se afaste de Deus. Não é
possível ter uma ética sadia sem que se conheça a Palavra do Senhor que dita as
normas de comportamento. Por essa ausência da Palavra o povo estava prestes a
receber o castigo de Deus. A mensageira de Deus não teve nenhum constrangimento
em trazer a verdade da Palavra aos seus contemporâneos. Era uma mensagem dura,
mas eles precisavam ouvir o que Deus lhes tinha a dizer. A reforma proposta pela
Palavra de Deus tem que ser urgentemente proclamada por aqueles a quem Deus
chama para serem ministros da sua Palavra.
A missão de trazer de volta a Palavra de Deus ao povo está na
responsabilidade dos verdadeiros ministros da Palavra, aqueles que lidam hoje
com o ensino e com a pregação, que são os profetas de Deus. Se os ministros
negligenciarem o ensino e a pregação fiel daquilo que o Senhor diz, jamais a
igreja será reformada.
Esta foi a tarefa de Josias:
Porquanto o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor (2 Rs 22.19).
Josias foi o primeiro a arrepender-se de seu pecado de ignorância da verdade
de Deus. O verso 19 foi dito ao rei Josias, e o que aconteceu a ele, veio a
acontecer ao seu povo. Foi um arrependimento produto da obra do Espírito de Deus
no rei e no seus súditos.
Essas coisas não devem ser diferentes hoje. A igreja de Deus tem que
voltar-se para ele, tem que chorar os seu pecado de ignorância da Santa
Escritura. Somente quando houver verdadeiro arrependimento é que a Reforma terá
sido eficazmente processada.
Não há crescimento quantitativo nem qualitativo da igreja sem que haja a
redescoberta da verdade de Deus, sem que haja a interpretação
correta da Palavra de Deus, sem que haja a proclamação fiel dela e o
conseqüente genuíno arrependimento de pecados, como produto das três
primeiras proposições.
O crescimento genuíno da igreja está vinculado a estas reformas que a Palavra
de Deus traz. É tolice pensar em crescimento da igreja sem que a base ou o
fundamento estabelecido pelos apóstolos e profetas seja devidamente
redescoberto, interpretado, proclamado e crido. Sem
estas coisas há o inchaço, não o genuíno crescimento da igreja.
O segundo grande acontecimento da vida do povo de Deus adveio da reforma da
teologia:
Uma teologia sadia leva à prática sadia. Nos tempos de Josias o culto estava
deturpado por causa de uma teologia destituída da verdade da Palavra de Deus.
Este é o resultado natural mesmo nos dias de hoje. Quando se abandona o ensino
da Escritura, quebram-se os padrões de comportamento de um povo, inclusive os
elementos constituintes da verdadeira adoração.
Depois da descoberta, da interpretação correta e da proclamação da Palavra de
Deus, e o conseqüente arrependimento da liderança do povo, houve algumas
alterações muito preciosas no culto que o povo passou a prestar a Deus:
A primeira atitude tomada pelo rei Josias foi convocar todo o povo para que
subisse à casa de Deus, para ouvir a leitura do livro da Palavra de Deus que
fora encontrado por Hilquias (2 Rs 23.2). Após ouvirem a leitura, o rei e todo
povo se dispuseram a seguir a Palavra do Senhor de todo o coração e de toda a
alma. A beleza dessa atitude, é que o povo se dispôs a obedecer a todas as
palavras, e não somente aos textos que combinavam com o que eles pensavam (2
Rs 23.4).
O resultado principal dessa disposição de obediência, após ouvirem a leitura
e a interpretação correta da Palavra, foi a reforma do culto. O culto é
essencial para a vida da igreja. Não pensem os caros leitores que o culto é de
somenos importância. É no culto que ensinamos e aprendemos. Nos hinos e nos
coros é que somos mais indelevelmente marcados doutrinariamente. Portanto, o
culto tem uma importância fundamental para a nossa fé. Nesse caso, podemos
afirmar categoricamente que, em razão de muitas coisas que estamos percebendo
nas reuniões de nossas igrejas, a reforma do culto é extremamente necessária
para a vida sadia da igreja cristã.
Para que haja a restauração da verdadeira adoração à luz da verdade bíblica,
algumas providências têm que ser tomadas:
Estas atitudes do rei foram muito duras, mas extremamente necessárias.
Provera a Deus que as autoridades eclesiásticas tivessem [aqui, hoje] a mesma santa energia
para tomar as providências necessárias para sanar os males existentes na
presente adoração cristã, para o benefício do povo de Deus, e para a honra dele.
Está evidente do texto sagrado que a atitude extrema do rei Josias com
relação aos sacerdotes idólatras, isto é, a sua eliminação do meio do povo de
Deus (2 Rs 23.20), não está em consonância com o espírito do tempo presente, mas
ao menos podemos dizer que temos que reagir fortemente aos homens que tentam
implantar algo que não combina com o que Deus prescreve na Sua Palavra com
respeito ao culto. Não se pode ficar passivo quando está em jogo o verdadeiro
culto a Deus.
O que Josias fez com relação aos sacerdotes que não cultuavam verdadeiramente
a Deus é algo que as autoridades eclesiásticas deveriam fazer. Os ministros
infiéis no serviço do culto deveriam ser destituídos de sua função por não
obedecerem os padrões gerais devidamente estabelecidos pela Escritura. Há muitos
ministros que fazem o que bem entendem e ninguém lhes põe a mão. Andam à
vontade, gesticulam como lhes agrada e agem como agrada ao povo. A falta não é
somente dos que erroneamente inovam no serviço divino, mas também daqueles que
fazem vista grossa ou que não possuem a devida coerência e noção de disciplina
cristãs para destituírem esses ministros de suas funções.
Tudo o que é estranho ao culto do Senhor deve ser eliminado dos lugares de
verdadeira adoração. Deus deveria ser adorado com os instrumentos prescritos por
Ele próprio. Era assim a regra para os cultos prescritos na Escritura do VT.
Todos os objetos que eram estranhos ao culto divino, por pertencerem aos cultos
de deuses estranhos, deviam ser terminantemente abolidos do templo e das
atividades cúlticas.
Hoje, nos tempos da adoração cristã, devemos ter o mesmo cuidado e o mesmo
zelo. Não existe a idolatria nos mesmos moldes daquela época, mas há coisas que
se evidenciam bastante estranhas ao culto de nosso Deus e do Salvador Jesus
Cristo. Não me refiro simplesmente a objetos como os mencionados no texto
analisado, embora os leitores já tenham ouvido de lenços ou copos de água serem
ungidos, ou ainda óleo trazido de Israel servindo de amuleto para a cura de
muita gente, ou ainda vinho de Israel, e coisas que tais. Com relação ao culto,
então, há a introdução de elementos estranhos que são uma imitação clara daquilo
que é usado para as mais loucas manifestações musicais de que se tem notícia em
todas as épocas, músicas essas que servem não só para o entretenimento, mas
também para manifestações cúlticas ligadas ao maligno. Certamente há algumas
coisas que precisam ser revistas em nossa adoração hoje. O problema não é de
simples inovação, mas também é de desprezo ao que é antigo, um desprezo à
história, ao que nossos ancestrais na fé nos legaram, que podem perfeitamente
ser preservados. Da mesma forma que no tempo de Josias os sacerdotes se
esqueceram das prescrições antigas, assim os de hoje se esquecem, também.
Josias também aboliu as cerimônias pagãs que campeavam em todo o seu reino.
Num tempo assim, as reformas tinham que ser drásticas. Não havia meio de se
suportar elementos dos cultos pagãos misturados com o santo culto divino.
As reformas propostas por Josias foram radicais e, conseqüentemente,
benéficas para todo o povo. Antes de reimplantar o que era santo, Josias teve
que eliminar o que era impuro. Esta era uma atitude óbvia. Não há modo de se
implantar o certo sem retirar o errado.
É assim que a igreja de Cristo tem que proceder. Não podemos mais tolerar
aqueles que querem permanecer no nosso meio alterando aquilo que é certo pelo
errado, e ainda colocando-nos na posição de errados, como se estivéssemos na
qualidade de "coisas antigas", coisas ultrapassadas. Antigüidade não é sinônimo
de obsolescência. Se assim fosse, o que haveríamos de fazer com o evangelho? Se
o problema é a importação de cultura estrangeira, a americanização ou a
europeização em nosso culto, temos de abandonar a cultura judaico-cristã, que
tanto influenciou a nossa maneira de pensar e de cultuar a Deus. O que é
estranho ao culto cristão tem que ser tirado, não as influências benéficas que
recebemos de outros povos que nos trouxeram o santo evangelho.
Na reforma do culto, não houve a necessidade de inovação, mas da restauração
daquilo que era antigo e verdadeiro. Essas coisas precisavam ser trazidas de
volta. Eles haviam se esquecido das santas prescrições, das ordenanças antigas
da Palavra de Deus. Josias ordenou a volta da celebração cerimoniosa da Páscoa,
o ritual que lhes lembrava a redenção! (2 Rs 23.21-22) Aquele momento de culto
foi o mais significativo de todas as celebrações desde os dias dos juizes de
Israel. Eles celebraram a páscoa do Senhor conforme estava prescrito no livro do
Pacto, que provavelmente era o Pentateuco. As celebrações cúlticas devem sempre
ser de acordo com as regras de Deus: há preceitos gerais estabelecidos, há
regras a serem obedecidas. E elas são bem antigas. Tudo deveria ser feito com
ordem e decência, para que o Senhor fosse honrado pela maneira dos homens Lhe
cultuarem. Será que hoje tem que ser diferente?
Uma reforma, contudo, tem que ser acompanhada de um verdadeiro espírito de
amor a Deus e de serviço cristão. A Reforma do séc. XVI não foi uma mera
purificação teológica ou litúrgica, mas ela foi acompanhada e seguida de um doce
espírito de amor a Jesus Cristo, o Salvador, e um grande amor pelos pecadores
ignorantes. Milhares de milhares foram trazidos a Cristo naquela época. O Santo
Espírito varreu aquelas regiões onde a Reforma chegou. Sem dúvida, foi um tempo
de grande reavivamento espiritual.
Um período de reavivamento costumeiramente é precedido de um período de
reforma. Um reavivamento sem reforma pode trazer distúrbios teológicos muito
grandes, assim como uma reforma sem reavivamento pode ser comparado ao que
aconteceu à igreja de Éfeso, que possuía solidez doutrinária, mas sem o primeiro
amor (Ap 2.2-4).
A Escritura inspirada tem exemplos dessa natureza. Um deles é o acontecido
nos tempos do rei Asa. A reforma que veio ao povo de Israel nos tempos do rei
Asa durou algum tempo antes do reavivamento começar. Primeiro Asa fez as
reformas religiosas instando o povo a buscar a Palavra do Senhor (2 Cr 14.4),
fazendo também a reforma do culto (como no tempo de Josias), que constou da
derrubada dos altares (2 Cr 14.3, 5). Após essa reforma que trouxe prosperidade
ao povo (2 Cr 14.6-7) e vitória sobre as outras nações inimigas (2 Cr 14.9-15),
começou o despertamento espiritual do povo, a começar do rei.
Este orou humildemente ao Senhor confessando a impotência deles e o poder
ilimitado de Deus (2 Cr 14.11). A reforma pode começar com o apego à Lei de
Deus, que leva aos atos de retidão, mas o reavivamento começa no coração das
pessoas com o senso de sua própria impotência e o conseqüente reconhecimento do
poder de Deus. Por isso é dito que Asa "clamou ao Senhor". Estas não são
palavras jogadas ao vento. Elas expressam o grito inquieto de um coração
anelante por Deus e o reconhecimento que de Deus vêm todas as coisas, e que a Ele
deve ser dada a glória de todas as coisas. O reavivamento do tempo de Asa também
foi vinculado à Palavra de Deus que veio ao povo. Isto aconteceu através do
profeta Azarias (2 Cr 15.1). Após a palavra profética de Deus, houve grande
alegria no meio do povo, porque eles aprenderam que Deus manda reavivamento não
somente quando o povo está abatido, mas também quando o povo está cheio de
vitórias e de coragem (2 Cr 15.1-19).
A palavra "Reavivamento" soa mais docemente aos ouvidos dos crentes hoje por
causa dos santos anelos de vigor espiritual que muitos crentes realmente
possuem, mas infelizmente, esse termo tem sido usado impropriamente por alguns
advogados aficionados ao movimento do crescimento da igreja. Precisamos
desesperadamente de um reavivamento genuíno, e é por isto que verdadeiramente
oramos. Sem ele, a igreja do tempo presente, sob muitas pressões teológicas e
litúrgicas estranhas de todos os lados, está destinada ao amargamento ou ao
conservadorismo árido, do qual todos nós queremos ficar longe.
Uma definição de reavivamento pode ter várias conotações, dependendo do
ângulo abordado. Uma reavivamento tem tantas facetas maravilhosas, que poucos
podem defini-lo exaustivamente.
O historiador da igreja James Buchanan disse que "reavivamento é a
comunicação da vida àqueles que estão mortos, e a comunicação da saúde àqueles
que estão moribundos."(5) Esta é uma idéia absolutamente correta, mas
reavivamento vai muito mais além disso.
Alguns têm confundido reavivamento com campanhas evangelísticas ou com
conferências missionárias. Essas coisas são organizadas pelos homens e Deus pode
abençoá-las ou não. Um reavivamento também não é um movimento onde muitas
pessoas se encontram para um entretenimento religioso, para que multidões fiquem
delirantes com as músicas cantadas e loucamente executadas pela parafernália
instrumental muito comum hodiernamente, levantando as mãos como sinônimo de
adoração verdadeira. Estas coisas atingem somente um grupo de interessados e
amantes das coisas que são apresentadas. Diferentemente de tudo isso,
reavivamento é algo provocado pelo Santo Espírito, não o produto daquilo que os
homens fazem. Reavivamento é uma onda do Espírito que varre sem que alguém tenha
domínio sobre o que Ele faz.
Estritamente falando, reavivamento é algo que acontece unicamente no meio da igreja, pois a própria palavra trata de tornar vivo aquilo que já vivera antes. Reavivamento é uma palavra da igreja; ela tem a ver com o povo de Deus. Você não pode reavivar o mundo; ele está morto em delitos e pecados; você não pode reavivar um cadáver. Mas você pode revitalizar onde há vida...(6)
Neste sentido, a igreja amortecida e tristemente doente é a beneficiária
direta do reavivamento.
Contudo, falando de um modo mais lato, o reavivamento é o movimento de Deus
no meio do Seu povo, mas que tem um impacto extremamente positivo na comunidade
onde o povo de Deus vive. As pessoas em geral, nunca dantes interessadas em
coisas espirituais, voltam-se para Deus num ato-resposta de fé à Sua maravilhosa
atuação.
Reavivamento é a restauração graciosa daquele primeiro amor, do entusiasmo do
crente pela expansão do reino, do desejo de viver santamente por amor a Deus,
coisas essas que têm sido perdidas na igreja de Deus no correr dos anos, e
também consiste no doar divino de uma disposição espiritual intensa e extensa
àqueles que nunca tiveram qualquer interesse nas coisas de Deus. Em outras
palavras, o reavivamento começa na igreja e termina na comunidade maior onde ela
vive. Os efeitos do reavivamento são muito mais perceptíveis nas mudanças morais
que acontecem na região ou num país onde ele acontece. Ele não se limita
simplesmente aos membros das igrejas atingidas pela obra de Deus. Ele causa
impacto em toda a comunidade onde a igreja de Deus está inserida.
Um reavivamento que é produto da obra do Espírito Santo na igreja, certamente
tem sua ênfase naquilo que têm sido
esquecido por muito tempo: a Palavra de Deus. A autoridade da Palavra de Deus
passa ser algo extremamente forte num movimento genuíno de reavivamento. A
Bíblia passa novamente a ser honrada como a única Palavra inspirada de Deus.
A reforma religiosa e o despertamento espiritual estão intimamente ligados à
busca que o povo tem da Palavra do Senhor. O rei Asa "ordenou a Judá que
buscasse o Senhor Deus de seus pais, e que se observasse a lei e o mandamento"
(2 Cr 14.4). Um reavivamento sem a palavra fica sem norte, sem um rumo a seguir.
Por isso, os grandes homens de Deus em tempos de reavivamento, sempre conduziram
o povo dentro das prescrições das Santas Escrituras.
Os ensinos da Bíblia não são verdades que atingem meramente o intelecto, mas
elas descem ao coração, fazendo com que elas se evidenciem em matéria prática de
vida. Nas palavras de Nettles, "reavivamento é a aplicação da verdade da Reforma
à experiência humana."(7) Via de regra, um reavivamento genuíno vem com
internalização das doutrinas apreendidas pela Reforma. Uma igreja e uma
comunidade atingidas pelo Espírito de Deus possuem verdade descoberta na Reforma
experiencialmente crida e vivida pelos seus membros.
O reavivamento é a descida ao coração humano da verdade de Deus que está
clara na Escritura, por obra do Santo Espírito. É a teoria tornada experiência.
A maioria dos grandes despertamentos espirituais mencionados na Escritura é uma
preciosa combinação de verdadeira reforma e reavivamento.
As pessoas atingidas pela obra do Espírito passam a viver santamente, tendo
seriedade com as verdades das Escrituras como um todo e levam a sério o destino
eterno delas. Um senso de profundo arrependimento pelos pecados e anelos de
santidade enchem o coração dos atingidos pelo reavivamento. Isso diz respeito à
vida dos crentes que até então estavam amortecidos.
Com respeito à comunidade maior, aos alienados da igreja, surge uma
preocupação pelas coisas espirituais nunca outrora vista. O espírito de
seriedade para com o destino eterno dessas pessoas é produto direto de uma ação
de Deus nelas. Então, elas passam a buscar a verdade e a ter um real desejo da
salvação em Cristo. O evangelho lhes é pregado, e muitos são trazidos a Cristo
Jesus.
O Velho Testamento está cheio de exemplos da atuação especial de Deus na vida do povo. O
texto de 2 Cr 29.36, dá-nos uma descrição típica de um reavivamento, porque nos
diz que Deus fez algo subitamente no meio do povo. Um reavivamento não é
provocado por nada neste mundo e, freqüentemente, nem é esperado. Ele vem de
repente, numa manifestação graciosa do Todo-Poderoso. Ele simplesmente acontece!
A igreja não pode criar reavivamento. Ele é obra exclusiva de Deus, o Senhor.
Quando há esse impacto da obra do Espírito de Deus na vida da igreja e da
comunidade maior, os resultados imediatos do reavivamento na vida da igreja e da
comunidade são sentidos: senso inequívoco da presença de Deus; oração fervente e
louvor sincero; convicção de pecado na vida das pessoas; desejo profundo de
santidade de vida; aumento perceptível no desejo de pregação do evangelho.
Não há meio de se separar reforma de reavivamento. São irmãos gêmeos nas
grandes obras de Deus. Esta talvez seja a ênfase que mais nos interessa neste
momento, porque as muitas coisas que estão acontecendo no meio da igreja
brasileira necessitam de uma definição como esta, que lhes faça plena justiça.
Quando falamos de crescimento de igreja temos que olhá-lo como uma moeda com
dois lados. De um lado é a Reforma; do outro e o Reavivamento. A primeira traz a
solidez e a pureza doutrinárias, elementos essenciais para que a igreja cresça
qualitativamente; a segunda traz a verdade doutrinária extrema viva e
ardente em nossos corações, impulsionando o povo de Deus a uma vida limpa e de
testemunho sincero e voluntário da experiência vivida com Deus e a pujante
proclamação da verdade da Escritura, elementos absolutamente vitais para o
crescimento da igreja. Isto faz com que a igreja também cresça
quantitativamente. Perceba que os dois elementos, reforma e reavivamento,
são entrelaçados e inseparáveis, porque são causados pelo mesmo Deus. Não há
volta à verdade sem Deus e muito menos amor à verdade sem Ele. O curioso é que
esses dois elementos estavam presentes em todas os grandes movimentos da
história do povo de Deus no Velho Testamento, no Novo Testamento , na Reforma Protestante do século XVI, no
período dos Puritanos, do Pietismo e do Metodismo, além dos reavivamentos
posteriores na Grã- Bretanha e nos Estados Unidos.
Reforma e Reavivamento dizem respeito à volta às antigas e sãs doutrinas e
zelo ardente e cheio de amor por elas e pelo povo de Deus. Não é disso que
precisamos novamente? Ainda pairam dúvidas na mente dos leitores sobre a
necessidade dessa "dobradinha" de Deus, reforma e reavivamento, para que haja o
crescimento genuíno da igreja no Brasil? Por que, então, continuar na ênfase de
movimentos que não trazem crescimento qualitativo? Isso não é justo para com o
povo de Deus e, muito menos, com o Deus desse povo, de Quem tanto precisamos!
A tônica tanto de reforma como de reavivamento é vinculada à Palavra de Deus.
A Palavra de Deus é referencial tanto para uma coisa quanto para outra. A
Escritura é a norma de conduta para toda a igreja, e quando o Espírito a usa
como a espada, ela causa tanto a purificação da doutrina na reforma como a
descida dessas verdades à experiência cristã no reavivamento.
Portanto, embora reforma e reavivamento sejam absolutamente necessários para
a vida do povo de Deus, logicamente aquela precede este. Cada um desses
movimentos de per se não basta. É necessário que um venha acompanhada do
outro. Esse foi o caso de Asa, mas sempre deverá ser a regra em todos os casos
para que haja equilíbrio, sensatez, e a verdade seja manifesta de uma forma
experiencial.
Numa reforma sem reavivamento pode haver uma exatidão dos conceitos, mas
certamente haverá aridez no pensamento; num reavivamento sem reforma, poderá
haver o desequilíbrio emocional e o perigo da distorção da verdade. Na verdade,
estas coisas vêm juntas, inseparáveis, como dois dons gêmeos de Deus para o
enriquecimento do Seu povo. O poder de Deus num reavivamento tem que ser
experimentado à luz das próprias diretrizes doutrinárias que têm origem numa
reforma teológica e litúrgica sadias baseadas na Santa Escritura.
Essas duas coisas absolutamente necessárias para a vida sadia da igreja são
causadas pelo Espírito Santo mediante o uso de Sua Palavra. Perceba que é
difícil estabelecer uma linha divisória absoluta entre reavivamento e reforma.
Por isso ambos devem andar juntos e inseparáveis.
O que você pode fazer para que essa dobradinha de Deus venha em sua igreja?
Comece a estudar a Escritura muito seriamente. Leve em conta tudo o que Deus diz
em Sua Palavra. De resto, continue em compasso de esperança, mas fazendo o que
fez Habacuque, dizendo incansavelmente: Aviva Senhor a tua obra, ó Senhor, no
decorrer dos anos, e no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira,
lembra-te da misericórdia (Hc 3.2).
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Notas
1 Esse movimento teve início nos Estados Unidos com o
missionário Donald A. McGavran. Coube a C. Peter Wagner, que o substituiu como
diretor e professor da Escola de Missões Mundiais e do Instituto de Crescimento
de Igreja, ambos ligados ao Seminário de Fuller, sistematizar e popularizar os
conceitos de Crescimento de Igreja. Seus livros têm sido traduzidos e distribuídos
no Brasil. Para uma avaliação crítica do atual movimento ver ainda
Theological Perspectives on Church Growth, editado por Harvey Conn
(Philadelphia: Presbyterian and Reformed, 1977).
2 J.I. Packer, Laid Back Religion? (Leicester,
England: Intervarsity Press, 1993) 145.
3 Tom Nettles, "A Better Way: Church Growth Through Revival and
Reformation", em Power Religion, editado por Michael Scott Horton,
(Chicago: Moody Press, 1992) 162.
4 Citado por Packer, Laid Back Religion?, 145.
5 Citado por Brian H. Edwards, Revival! A People Saturated
with God (England: Evangelical Press, 1990) 26.
6 Ibid., 27.
7 Nettles, "A Better Way," 166.
Heber Carlos de Campos
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Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.