O verdadeiro cristão comprometido com as Escrituras deve ser caracterizado pelo
espírito combativo. É ser fundamentalista. Ser fundamentalista é ter convicção de
que os preceitos da Palavra de Deus revelado nas Escrituras são infalíveis e historicamente
precisos, ainda que contrários ao entendimento das teologias modernas. O cristão
fundamentalista se preocupa em voltar ao que é considerado princípios fundamentais
das Escrituras. O termo fundamentalista, em oposição ao modernismo teológico
e negativista, já indica que o seu portador é um combatente pela fé.
O termo fundamentalista que emprego neste artigo não faz referência aos movimentos
religiosos que têm como característica as ameaças que grupos religiosos fanáticos
fazem àqueles que não fazem parte da sua religião. Ser fundamentalista não significa
fazer parte de grupos extremistas, com interesses em atos de violências físicas
ou verbais contra os oponentes. As Escrituras nos advertem a amarmos até mesmo os
nossos inimigos! O que está em jogo aqui não é o ataque à pessoa, e sim às idéias.
Mesmo que seja impossível separar a pessoa da sua idéia, não nos é permitido fazer
qualquer mal, físico ou verbal, à pessoa.
Ser fundamentalista é ser guerreiro, é saber manejar bem as Escrituras, significando
não somente a aceitação das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus, mas também
a defesa intransigente, protegendo-as dos ataques das teologias liberais e modernistas.
O cristão fundamentalista precisa saber atacar e defender. Estar na ofensiva e na
defensiva.
O nosso espírito combativo deve existir em função de uma causa sublime e nunca em
função de nosso personalismo. Ser combativo não é ser briguento, no sentido contencioso.
Existem pessoas com um espírito combativo tão extremo que chegam ao ponto de descerem
do pedestal da ética cristã até o terreno escorregadio da polêmica baixa, desonesta
e contenciosa. Quando o espírito combativo perde a verdadeira noção de uma polêmica
elevada, honesta, que tem como motivo as causas sublimes, e se limita a ataques
pessoais, já não mais as consideramos polêmicas. Este espírito contencioso é condenado
na Palavra de Deus (Tg 3.13-18).
No entanto, os erros de alguns que pensam que são polemistas
[1] e vivem brigando com
todo o mundo não são motivos para nos tornarmos avessos às controvérsias. Um erro
não justifica o outro. As atitudes extremadas de alguns que pensam que são polemistas
criam inimizades, prejudicam a causa e impedem a conversão das almas, dificultando
o evangelismo. Por outro lado, não concordamos com a inércia de alguns que não fazem
questão de polemizar [em] questões doutrinárias. Os que não se esforçam em defender
a fé confundem polêmica com contenção. Negar a necessidade da controvérsia é negar
o caráter essencial da vida cristã. A vida cristã é uma vida de lutas. Temos que
ser combativos. Não há lutas sem combates! O cristão precisa ser combativo pelo
próprio imperativo de ser cristão.
Os que são contra o espírito combativo e dizem que não têm tal espírito, não enxergam
a tamanha ironia em que caíram. Eles fazem verdadeira apologia em torno de sua posição
não combativa, atacando, ao mesmo tempo, os que combatem o mal e inovações! Não
são combatentes, mas atacam os que combatem. Combatentes pacifistas! São contraditórios
por excelência. Para defenderem a doutrina eles não têm espírito combativo, mas
o têm para defender as suas próprias idéias e opiniões. Onde há contradição, há
engano; onde há engano, há falsidade; onde há falsidade, não existe a verdade, porque
esta não admite contradição.
Não podemos permitir pacifistas em nossas igrejas. No cristianismo não há lugar
para tímidos e medrosos. Imaginem um exército cheio de timidez. Imaginem um pelotão
de soldados com medo de enfrentar o inimigo em uma guerra. Temos que ser corajosos
e desinibidos, pois somos soldados de Cristo.
Através da história, notamos que o evangelho tem triunfado por meio do combate ao
mal. Se Lutero não fosse combativo, não teria se processado a Reforma Protestante
do século XVI. Não somente Lutero, mas Zwiglio, Huss, Savonarola, Calvino, Knox,
Beza e tantos outros que deram suas vidas pela causa de Cristo {*}.
Jesus Cristo foi um combatente. O apóstolo Paulo também o foi, como se percebe através
de suas epístolas, entre elas a carta aos Gálatas, que é uma verdadeira polêmica
contra os legalistas fanáticos. Na carta aos Romanos o apóstolo faz uma verdadeira
apologia em torno da justificação pela fé.
Onde encontramos na Bíblia a base para a acomodação doutrinária? Se o indivíduo
não é capaz de defender as próprias doutrinas que aceita e atacar as doutrinas contrárias,
onde estão então as suas convicções? O verdadeiro cristão fundamentalista e com
um espírito guerreiro não fica calado quando vê que a doutrina de Cristo está sendo
ultrajada, espezinhada e combatida pelo inimigo. Covardia e medo são o que caracterizam
o “cristão” passivista. São como Pedro, quando foi interrogado pela criada (ver
Mateus 26.69-75). Como pode um crente conformar-se com aqueles que negam a inspiração
verbal e plenária da Bíblia, que negam a divindade de Cristo, seu nascimento virginal,
sua ressurreição, e o castigo eterno? Não se pode ficar inerte diante das heresias,
ou então será tido por traidor.
Não servem como exemplo aqueles que vivem procurando briga e gastam tempo escrevendo
calúnias contra os outros, quando deveriam estar pregando o evangelho. Não são polemistas
ou combativos, mas paroleiros [2]. São os que promovem
facções e divisões na igreja de Cristo. A verdadeira fidelidade doutrinária é aquela
que se revela num inconformismo santo contra o erro. Não podemos ficar em paz com
a nossa consciência cristã, ao verificar tantos abusos contra a doutrina e a moral
cristã, e permanecer sem dar o grito de alerta.
A consequência da oposição ao espírito combativo é o afrouxamento doutrinário, a
indisciplina, a quebra do Dia do Senhor, a falta de comunhão, os aumentos do modernismo
teológico, da teologia liberal, do mundanismo etc. Mas o principal motivo pelo qual
as igrejas não estão interessadas no espírito combativo é o medo da possibilidade
de ter igrejas vazias. É preferível ter igrejas cheias a ter igrejas compromissadas
com a Verdade.
Que o Senhor não permita que nós deixemos a sua Igreja ser destruída pelo “espírito
pacifista”, que não se esforça por proteger o Corpo de Cristo dos ataques dos seus
inimigos.
|