No seu livro Grace
Awakening, (Despertando a Graça) Chuck Swindoll diz: "Meu
encorajamento a vocês, hoje, é que cada um de nós busque o que nos une com os
outros, em vez de buscar as poucas coisas que nos separam... Houve um
tempo em minha vida, no qual eu tinha respostas para todas as perguntas
que ninguém estava me fazendo. Assumia uma posição tão rígida na vida que
achava que precisava brigar por causa de um jota ou de um til. Isso quer
dizer que eu não poderia listar todas as coisas pelas quais eu daria a vida.
Quanto mais velho eu ficava, mais resumida, francamente, ficou a lista."
(Grace Awakening, p. 189).
Até mesmo os
evangélicos mais conservadores, tais como Iain Murray, caem nesta armadilha.
Condenando o Fundamentalismo na América, Murray declarou: "Em sua
tendência de julgar estipulações não fundamentais à crença cristã, o
fundamentalismo se inclinou em tornar as fronteiras de Cristo limitadas
demais" (Iain Murray, Evangelicalism Divided, p. 298).
Esta é a filosofia que
está se tornando operante entre os Batistas Independentes. No livro "Thinking
Outside the Box" (Pensando Fora Da Caixa (Escravizadora)),
Charles Keen diz: "Sou um dos que aprendem devagar, mas finalmente
descobri que nem toda verdade tem o mesmo valor. Algumas verdades eu
diferencio de outras e separo aquelas pelas quais daria a vida (ou pelo menos
deveria dá-la). Com outras eu deveria me sentir desconfortável com a maneira
pela qual elas são manuseadas pelos meus irmãos, mas ainda posso ter comunhão
com eles, quer seja pessoal ou, em alguns casos, eclesiasticamente.
Precisamos desenvolver algum ecumenismo dentro dos parâmetros do
fundamentalismo... Precisamos decidir quem são os inimigos da cruz,
para nos separarmos deles. Em seguida, decidiremos quem são os amigos
da graça, a fim de os tolerar. Não precisamos nos unir, mas precisamos de
unidade." (p. 181).
O que a Bíblia diz
Primeiro, esta
filosofia é refutada pelo ensino de Cristo. Ela é refutada em Mateus 23:23,
onde Cristo ensina que embora nem tudo na Bíblia seja da mesma importância,
tudo tem alguma importância e nada deve ser desprezado ou negligenciado "Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais
o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém,
fazer estas coisas, e não omitir aquelas". Isto
é também refutado em Mateus 28:20, onde Cristo ensina que as igrejas devem
ensinar aos crentes tudo que Ele havia mandado. ["Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que eu estou
convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." (Mt
28:20 ACF)]
Segundo, esta
filosofia é refutada pelo exemplo e ensino de Paulo. Ele anunciou todo o
conselho de Deus (Atos 20:27) ["Porque nunca
deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus." (At 20:27
ACF)]. Ele ensinou Timóteo a valorizar toda a doutrina e a não
permitir que ensinassem outra doutrina (1Timóteo 1:3) ["Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses
em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina,"
(1Tm 1:3 ACF)]. Ele também ensinou Timóteo a guardar todo o mandamento
do Novo Testamento "sem mácula" (1Timóteo 6:13-14) ["13 ¶ Mando-te diante de Deus, que todas as
coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o
testemunho de boa confissão, 14 Que guardes este mandamento sem mácula
e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;" (1Tm
6:13-14 ACF)]. As máculas significam coisas pequenas, as quais parecem
insignificantes.
O contexto da instrução de Paulo na 1Timóteo 6:14 é de uma epístola que tem
como tema a igreja (1 Timóteo 3:15). Nesta epístola, encontramos instruções
como o modelo pastoral (1Timóteo 3); os diáconos (1 Timóteo 3); a restrição
divina ao trabalho das mulheres na igreja (1 Timóteo 2); o amparo às viúvas
(1 Timóteo 5) e a disciplina (1 Timóteo 5). Pois são estas exatamente as
coisas consideradas de importância secundária, hoje em dia, na igreja.
Conquanto saibamos que as doutrinas bíblicas não têm [todas elas] a mesma
importância (Exemplo: João 3:16é mais importante do que a 1 Coríntios
11:14-15) ["14 Ou não vos ensina a mesma
natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? 15 Mas ter a mulher cabelo
crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu."
(1Co 11:14-15 ACF)], cada ensino da Escritura tem sua importância e em
parte nenhuma somos ensinados a desprezar coisa alguma que Deus tenha dito,
nem mesmo por amor a uma unidade dos Batistas Independentes ou de Missões
Mundiais e nem por qualquer outra razão.
Creio que Romanos 12:2 (Não sede conformados
com este mundo) e 1 João 2:15-17 (Não
ameis o mundo) são ensinos muito essenciais e estes ensinos
condenam a filosofia contemporânea, a qual está se espalhando rapidamente
entre as igrejas batistas independentes. O mesmo se aplica ao que a Palavra
de Deus diz a respeito da música sacra, das vestes modestas, da eclesiologia,
do arrependimento, da preservação da Escritura, ou de qualquer outra coisa.
Terceiro, Devemos entender que nem todas as heresias têm o mesmo peso
destrutivo, porém todas devem ser refutadas. Uma heresia é um erro
doutrinário. A palavra descreve a vontade própria, a qual caracteriza um pecado.
Um "herege" é aquele que exerce a vontade própria sobre a
Palavra de Deus, preferindo o erro à verdade. O erro pode ser tão sério como
negar a divindade de Cristo ou tão banal como permitir que a mulher exerça
autoridade sobre os homens.
Existem as "heresias de perdição"
(2Pedro 2:1), as quais são heresias que afetam a salvação eterna. A "heresia
de perdição" descrita por Pedro era a negação do Senhor Jesus
Cristo. O apóstolo João também descreveu a doutrina de Cristo como sendo uma
doutrina crucial (2João 9). Em outras passagens, vemos que as "heresias
de perdição" estão especialmente relacionadas à Pessoa de Cristo, ao
Evangelho e ao Espírito Santo; portanto, à Pessoa e natureza de Deus,
inclusive a doutrina da Trindade (2Coríntios 11:4).
Existem também heresias menos destrutivas: 1 Coríntios 11:19-21: "E até importa que haja entre vós
heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. De sorte que,
quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque,
comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome
e outro embriaga-se". Nesta passagem Paulo estava se
referindo aos erros da Igreja de Corinto e, no imediato contexto, ele se
refere à Ceia do Senhor.
Que nem todas as
heresias têm as mesmas consequências não significa que algumas devam
ser ignoradas. Todo vento de doutrina deve ser recusado (Efésios 4:14).
David Nettleton
refutou a filosofia neo-evangélica em sua mensagem "A Limited Message
ou a Limited Fellowship" (Uma Mensagem Limitada? Ou Uma Comunhão
Limitada?), a qual descreve suas experiências num ministério
interdenominacional da juventude, nos anos 1950. Vejamos o excerto desta
mensagem:
"Esta
mensagem, como muitas, nasceu de uma experiência. Pode ser que alguns outros
venham a passar pela mesma experiência. Portanto, vou contar novamente a
experiência que gerou esta mensagem.
Cresci numa igreja
presbiteriana. Fui salvo num colégio interdenominacional, no corpo
estudantil, mas era dirigido por uma igreja dos Irmãos. Dali fui para um
seminário que não era interdenominacional e, em seguida, para um Seminário
Presbiteriano Unido. Entrei no pastorado batista apenas com o que trazia da
leitura das Escrituras.
Alguns anos mais
tarde, fui conduzido a um movimento interdenominacional, onde me deram a
liderança de um rally, num sábado à noite. Cooperei com qualquer um que não
era evangélico, independentemente de suas associações. Fui aconselhado pelos
principais líderes do movimento a buscar os nomes dos modernistas de
projeção para o meu comitê de aconselhamento. Não o fiz. Porém segui o
conselho de mandar todos os convertidos às igrejas de sua preferência, as
quais, em alguns casos, eu sabia que eram liberais. Isto perturbou
demais minha consciência, orei e refleti sobre o assunto.
Outro problema conectado a este
trabalho foi o meu fracasso em instruir os convertidos sobre o tipo de
batismo cristão, que nas Escrituras é o primeiro teste de obediência. Senti
que deveria fazê-lo, visto como Pedro e Paulo o fizeram. Mas, como poderia
fazê-lo, quando no comitê do trabalho havia amigos íntimos que não
acreditavam nisso?
Por causa disso eu
havia diluído minha mensagem e o meu ministério [omitindo] importantes verdades
bíblicas, as quais eram chamadas "não essenciais".
No trabalho
seguinte, não era conveniente falar da segurança eterna, na presença de
obreiros cristãos, os quais odiavam até o nome desta doutrina. Desse modo, o
ministério ficou reduzido ao evangelho, exatamente como se não existisse a
Grande Comissão sobre batizar os convertidos e doutriná-los. Pelo menos eu
havia encontrado um denominador comum e estava permanecendo nele. Porém,
minha consciência não me dava sossego.
Mais tarde foi que Atos 20:27
significou algo para mim. O grande apóstolo jamais havia permitido ser
conduzido a coisa alguma que pudesse limitar a sua mensagem. Ele podia dizer
de consciência limpa: Portanto, no dia de
hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei
de vos anunciar todo o conselho de Deus. Por que será que
muitos não podem dizer exatamente isto, nos dias de hoje? Em meu caso e no de
muitos outros pode ser pelo desejo de ensinar a uma audiência maior e de
trabalhar com um grupo maior de cristãos.
Muitos têm se desviado da
completa obediência por causa de um moto {*} aparentemente nobre, o qual tem
sido aplicado ao trabalho cristão: "Nos essências, unidade; nos não
essenciais, liberdade e em todas as coisas, caridade" [Agostinho de
Hipona]. {* Nota: "moto" é uma frase que se torna o principal
objetivo, o lema da vida de uma pessoa. Esta a repete e defende muito
frequentemente}
Algumas coisas não
são essenciais à salvação, porém são essenciais à obediência completa e Deus não
deu permissão para o cristão escolher o que é essencial e o que não é
essencial nas Escrituras. Nosso dever é "anunciar todo o
conselho de Deus", fazendo isso onde quer que estejamos.
Hoje em dia,
estamos escolhendo entre duas alternativas: UMA MENSAGEM LIMITADA OU UMA
COMUNHÃO LIMITADA. Se pregamos as verdades bíblicas, existem os lugares onde
jamais seremos convidados a pregar novamente. Se damos as mãos às multidões [pregando
o que esta deseja escutar], estaremos limitando a mensagem bíblica.
Coloquem isto em mente! O batista fundamentalista é que está fazendo
concessões! Pensem nisto e verão que é verdade. Acreditamos no batismo do
crente. Acreditamos na separação. Pregamos a segurança da vida eterna.
Acreditamos na iminente vinda de Cristo. Consideramos como ato de obediência
reprovar a descrença nos círculos religiosos. Os saduceus e os fariseus devem
ser rotulados. Mas, conforme a filosofia atual, devemos deixar de lado todas
as coisas por amor a uma esfera mais ampla de serviço.
O que é mais
importante, obediência completa ou uma esfera mais ampla de serviço? Também
não acredito muito que haja apenas duas alternativas. Nosso principal dever é
obedecer a Deus em todas as coisas, em seguida permitir que Ele nos indique
os locais de serviço. Charles Haddon Spurgeon não viajava tanto como os
homens [pregadores] de hoje, porém os seus sermões têm viajado muito mais
longe do que os sermões desses homens". (David Nettleton, "A
Limited Message or a Limited Fellowship" (Uma Mensagem Limitada? Ou
Uma Comunhão Limitada?) - GARBC [Associação Geral de Igrejas Batistas
Regulares]).
A necessidade de
pastorear e discipular o povo de Deus exige que o protejamos de "pequenos"
comprometimentos e do erro dos "não essenciais".
"E ele [Cristo] é a cabeça do corpo, da igreja; é
o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
preeminência" (Colossenses 1:18).
É preferível errar por
ficar do lado do excessivamente estrito e separado demais da transigência do
batista independente, do que ser tolerante demais e não ficar suficientemente
separado.
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