Existe um grande movimento, em
assombrosa atividade, conhecido como Teologia do Dominionismo, ou do Reconstrucionismo,
ou do Reino Agora, uma mistura de teologia calvinista reformada com enorme
influência carismática. Conquanto poucos possam ser denominados
reconstrucionistas, grande porção deste movimento tem-se infiltrado nos
pensamentos e ações de muitos crentes professos, mesmo sem que o saibam.O movimento tem sido liderado por teólogos como
Rousas J. Rushdoony, Gary North, Ray Sutton, Greg Bahnsen (já falecido), David
Chilton, e por líderes carismáticos, como Earl Paulk. Suas idéias são
constantemente refletidas por cristãos não reconstrucionistas, como Pat
Robertson, Dr. James Kennedy, John Whitehead, Franky Schaffer e Jerry Falwell. [N.T.: Apesar do fato de que muitos dominionistas,
reconstrucionistas e teonomistas sejam hipercalvinistas, ao mesmo tempo, eles
escrevem e falam como se acreditassem que podem ajudar Deus a controlar as coisas
na Terra, a fim de que o Reino, conforme sua versão do mesmo, possa ser
colocado em ordem, para que o Rei possa reinar adequadamente, através deles, é
claro].
A Teologia do Domínio (o sistema
de crença por trás do Reconstrucionismo) ensina que, antes da volta de Cristo,
o crente terá domínio sobre cada área da vida. Segundo eles, já estamos agora
no Reino de Deus [N.T.: uma visão idêntica à do Movimento Vineyard, bem
como de uma pletora de cristãos, significando que já estamos vivendo no reino,
atualmente, o que nos conduz a uma posse da vitória]. Se assim fosse, já deveríamos estar reinando com
Cristo na Terra (conforme Apocalipse 5:10). O problema é saber quando
reinaremos com Cristo. Se o Reino já se encontra na Terra, já deveríamos ter o
domínio de tudo, conforme pregam os dominionistas. Muitos cristãos não
reconstrucionistas proclamam este mesmo pensamento, quando entoam o cântico
popular - Majestade - composto pelo hipercarismático Jack Hayford, o
qual nos convida a “glorificar a Cristo, o Rei”, pois no final de tudo, “a
autoridade do Reino emana do Seu trono para os que Lhe pertencem”. Com esta
autoridade do Rei, devemos reclamar a Terra para Cristo, não só
espiritualmente, mas também social, política e economicamente (Não é
coincidência que uma das organizações reconstrucionistas tenha o nome de “The
Institute for Christian Economics”.) Segundo elas, o domínio da Terra é
realizado não apenas através da oração e do evangelismo, mas também do processo
político e da reforma social (O COR - Coalizão Sobre o Reavivamento – trata
deste objetivo). Para os dominionistas, Cristo não voltará à Terra, enquanto a
igreja não completar sua tarefa.
A Teologia do Domínio é postulada sobre três crenças básicas:
1. -Satanás usurpou o domínio do homem sobre a Terra, por causa do pecado
de Adão e Eva.
2. - A igreja é o instrumento divino para retomar o domínio de Satanás.
3. - Jesus não poderá voltar, até que a igreja tenha subjugado a Terra e
conseguido o controle das instituições governamentais e sociais da mesma.
Mais especificamente, o que a Teologia do Domínio ensina? Vejamos:
1. – (segundo eles) A Lei do Velho Testamento é a nossa regra de vida
para hoje. Embora a Teologia do Domínio afirme que guardar a Lei não é
condição sine-qua-non de salvação, ela é necessária à santificação (Mesmo assim, algumas
declarações da COR aparecem citando a guarda da Lei do VT como condição
específica de salvação).
2. - Isto sem falar que a Lei do VT deve governar também a sociedade, visto
como estamos na obrigação de subjugar a Terra, conforme Gênesis 1:28. A Teologia
do Domínio ensina que a Lei de Deus deverá governar todos os aspectos da
sociedade, uma visão conhecida como Teonomia (ou Lei de
Deus), assim descrita por Greg Bahnsen: “O cristão fica obrigado a guardar
toda a Lei de Deus como modelo de santificação e esta Lei deve ser forçada pela
magistratura civil” (Theonomy, p. 34). Isto significa que os
cristãos devem guardar todas as leis do VT, exceto aquilo que o Novo Testamento
cancela, como no caso do sistema sacrifical.
3. - Uma peça central da Teologia do Domínio é a crença na Antiga
Aliança, deixando de fazer qualquer diferença entre Israel e a Igreja. (N.T.: Para os dominionistas a igreja agora é a Israel
Espiritual). A Teologia do Domínio
ensina que a igreja deve governar pelas mesmas leis, estando sujeita às mesmas
maldições e recebendo as mesmas bênçãos prometidas a Israel.
4. - A Teologia do Domínio ensina um alto nível de ativismo social e
político. Para os dominionistas, como o Reino de Deus vai dominar gradualmente
a Terra, é natural que os cristãos se engajem na mudança da sociedade, através
de novas leis e da ação social.
5. - Os seguidores do Dominionismo, como também muitos carismáticos,
especialmente os do Movimento Latter Rain, estão em busca de um grande
reavivamento no final dos tempos, através do qual as massas se voltarão para
Cristo. Isto significa que o Dominionismo descarta o Arrebatamento da
igreja. Conforme os dominionistas, o mundo está ficando um lugar melhor,
através dos esforços dos cristãos (conforme a 2 Tessalonicenses 2:1-12).
6. - Como acontece a muitos outros que seguem os ensinos de George Ladd,
a Teologia do Domínio acredita que já estamos na era do Reino e temos a
autoridade do Reino, enquanto estamos deslanchando o Reino através de nossos
esforços. “O Reino é agora, mas ainda não é” (?) é o popular slogan da Teologia
do Domínio.
7. - A Teologia do Domínio é pósmilenista em sua Escatologia. Ela acredita que a reconstrução da sociedade, conforme os princípios
bíblicos, é a demonstração final de que o Reino de Deus foi estabelecido na
Terra. Cristo não pode voltar (segundo eles), antes que aconteça na Terra uma
grande parcela de domínio pela igreja. Os dominionistas acreditam que a
maldição da Terra será lentamente removida, quando ela for dominada pela
igreja. Até mesmo a doença e a morte serão eliminadas, antes da volta de Cristo
à Terra.
8. - A Teologia do Domínio é preterista em sua
interpretação da profecia. Ela ensina virtualmente todas as profecias, as quais
os cristãos acreditam que serão cumpridas no futuro como se, de fato, já
tivessem sido cumpridas, entre os anos 30 e 70 d.C. No livro de David Chilton,
“Days of Vengeance” (Dias de Vingança), ele diz que o Livro do
Apocalipse “não trata da segunda vinda de Cristo, mas da destruição de
Israel e da vitória de Cristo sobre os Seus inimigos” (no século 1, p. 43).
9 - A Teologia do Domínio usa uma hermenêutica alegórica,
especialmente com respeito à profecia. Ela acha que a Tribulação aconteceu a
Israel, no Ano 70 d.C. [N.T.: Esta é exatamente a teoria de Agostinho de Hipona,
autor da Teologia do Domínio]. O
Anticristo significaria a apostasia da igreja, antes da queda de Jerusalém; a
besta do Apocalipse foi Nero/Império Romano, etc.
Um dos mais importantes distintivos da Teologia do Domínio é
sua crença na Teonomia. Ela ensina que os cristãos estão sob a Lei como
prática de vida e ficam obrigados a manter o mundo sob a Lei. Este conceito
está embasado, equivocadamente, em várias passagens bíblicas:
Primeira - Em Gênesis 1:28, Deus mandou que Adão subjugasse a Terra.
Adão perdeu esse direito para Satanás, depois do seu pecado. A igreja agora
está reclamando do Diabo a restituição do que Adão perdeu. (N.T.: Eis
aqui um lampejo da chamada Guerra Espiritual).
Segunda - A Grande Comissão de Mateus 28:19-20 comanda os seguidores de
Cristo a pregar o Evangelho (fazendo discípulos de todas as nações), o que
significa (segundo a Teologia do Dominionismo) ir além da transformação e
santificação pessoal, até a reforma da sociedade.
Mateus 5:17-19 é a passagem sobre a qual o sistema se apoia. Ele afirma que a
palavra “cumprir” em verdade significa “confirmar”. Desse modo, Cristo, em
hipótese alguma, cumpriu ou completou toda a Lei, mas em vez disso, confirmou-a
como nossa atual regra de vida.
>>>>A tradução normal e melhor para “plerosai” é cumprir,
não confirmar. Além disso, temos o peso do Novo Testamento ensinando
sobre a Lei. As epístolas ensinam claramente que os crentes já não estão
sujeitos à Lei de Moisés (Romanos 6:14; 7:6; 8:2-4; Gálatas 3:24-25; 5:18) e
que estamos livres do jugo da Lei, para servir sob a graça da Lei de Cristo
(Gálatas 6:2).
Além disso, se os cristãos ainda precisam guardar a Lei, por que não guardam
também as leis cerimoniais? A resposta da Teologia do Domínio é que a Lei foi
dividida em três seções: Civil, Moral e Cerimonial. A Lei Cerimonial foi
cumprida por Cristo e já não é incumbência do crente, mas o mesmo não acontece
com a Lei Moral e a Civil. Portanto, devemos viver sob a Lei Moral e buscar estabelecer
em nossa sociedade o sistema civil do Velho Testamento.
O problema com esta visão é que em parte nenhuma da Bíblia podemos encontrar
que a Lei foi dividida em três seções. Isto é uma teoria inventada pelos
homens. Sempre que a Lei é mencionada nas Escrituras, ela se refere à Lei como
uma unidade. Os judeus eram obrigados a guardar todo o sistema sacrifical, os
mandamentos referentes aos alimentos e ao vestuário (Lei Cerimonial) bem como
os 10 Mandamentos (Lei Moral). Se o Novo Testamento afirma que Cristo cumpriu
toda a Lei, isto significa que os cristãos estão libertos de toda a Lei do
Velho Testamento. Os santos da era da igreja não são obrigados a cumprir lei
alguma do VT. Ninguém tem o direito de, arbitrariamente, afirmar que fomos
libertos apenas de uma parte da Lei. Os crentes foram libertos de toda a Lei
(Romanos 7:4-6) ou então de lei nenhuma. (Conforme Thomas Ice, “a Lei de
Moisés foi dada a um povo específico (o judeu); num lugar específico (a nação
de Israel); para tratar de uma situação específica. Desse modo, a Lei não pode
ser obedecida hoje em dia, pela igreja, conforme era exigido de Israel, quando
ela foi dada à nação” (Biblical Perspectives, Vol. II, No. 6).
Pelo lado positivo, Ice comenta: “O ensino de Paulo em Gálatas 3 e 4, é que
Cristo nos libertou da maldição da Lei, mas não que ficamos sem lei, conforme
insistem os reconstrucionistas; mas que devemos andar em novidade de vida,
motivados pelo Espírito Santo”. (Ibid, p. 2).
Existem muitos efeitos negativos provocados pelos ensinos da Teologia do
Domínio, no Cristianismo evangélico de hoje. Quatro desses efeitos são:
1.- Os reconstrucionistas ensinam que a missão da igreja vai além da
transformação espiritual dos indivíduos, como um mandato para mudar a
sociedade, um “patriotismo moral”, se ela quiser se opor ao Humanismo. Para que
Cristo fique satisfeito com os cristãos, nesse caso, eles devem se engajar no
ativismo político e social. Conforme esta visão, os cristãos devem mudar as
leis de sua terra, esforçando-se para eleger candidatos cristãos e buscando
geralmente exercer o seu domínio no mundo, colocando-o sob a Lei de Moisés.
Vemos a influência deste pensamento até mesmo naqueles que pouco conhecem a Teologia
do Domínio... James Dobson, Larry Burkett, the Christian Coalition, Pat Robertson, Promise Keepers, Charles Colson e o documento Evangélicos e Católicos Juntos (ECT), e a
Operação de Resgate são apenas alguns do chamado mundo evangélico.
2.- A motivação para uma vida piedosa embasada na bendita esperança - do
retorno de Cristo (Tito 2:13) - é substituída pela tarefa de reestruturar a
sociedade. Este mandato cultural para restaurar a sociedade é uma tarefa que
pode levar milhares de anos (aproximadamente 36.000 anos, conforme David
Chilton).
3.- Se já estamos no Reino de Deus, então os carismáticos estão certos,
quando ensinam que a saúde e a prosperidade são um direito de todo crente. Daí
porque os calvinistas do Reconstrucionismo e os carismáticos do Reino
Agora formaram pelo menos uma unidade não específica, pois têm ambos a
mesma visão. Eles não estão aguardando o retorno de Cristo para estabelecer o
Seu Reino; estão tentando estabelecê-lo para Ele.
4. - Um anti-semitismo teológico existe no plano dominionista no
sentido de substituir o Israel do Velho Testamento pela igreja, sendo esta o
“Novo Israel” (Esta é a Teologia da Substituição de Agostinho de Hipona,
na qual a nação de Israel já não tem um futuro no plano divino.)
Historicamente, a Teologia da Substituição tem sido o
fundamento teológico sobre o qual o anti-semitismo tem sido construído ao longo
dos séculos pelo Cristianismo professo. Mesmo acreditando que os judeus - como
indivíduos - possam se converter em massa a Cristo, eles não creem num futuro
para Israel, assumindo que a igreja herdou completamente todas as promessas
feitas a Israel como nação. (O reconstrucionista David
Chilton afirma que a Israel étnica foi excomungada pela sua apostasia e jamais
voltará a ser novamente o Reino de Deus e que na Bíblia não se encontra coisa
alguma sobre o futuro de Israel como uma nação especial). Os reconstrucionistas acreditam que a igreja é agora
a nova nação, porque Cristo destruiu o estado judeu. Os reconstrucionistas
DeMar e Leithart disseram: “Ao destruir Israel, Cristo transferiu as bênçãos
do reino de Israel para um novo povo, a igreja”. |