por
Olavo de Carvalho em 25 de abril de 2007
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Resumo: A quintessência da
boiolice não tem nada a ver com sexo. É uma covardia abjeta, um
desfibramento da alma, uma pusilanimidade visceral – que os
educadores de hoje em dia consideram o suprassumo da perfeição moral
e os engenheiros sociais da ONU gostariam de espalhar por toda a
humanidade.
© 2007 MidiaSemMascara.org
Mal eu havia
acabado de escrever que os alunos das escolas americanas são
“sitting ducks”, e um dos sobreviventes do massacre da Virginia
Tech apareceu no show Today, da MSNBC, dizendo a mesma
coisa. Mas justamente esse, Zach Petkewicz, não foi pato nem ficou
sentado. Encostou uma mesa na porta e impediu que Cho Seung Hui
fizesse na sua sala de aula o que acabara de fazer nas salas
vizinhas. Salvou uma classe inteira. Por que tão poucos, entre
milhares de alunos, professores e funcionários, tiveram idêntica
presença de espírito? Por que ninguém atacou o coreano maluco
enquanto ele recarregava sua pistola automática ou trancava as
portas com correntes?
Meu filho Pedro, que suportou pacientemente um ano e meio de escola
pública na Virginia, garante: “É uma educação para boiolas.” O
equivalente inglês da palavra é sissies. Uma sissy não é
necessariamente um gay. Sujeitos que nunca tiveram um único impulso
homossexual podem ser sissies perfeitas. Basta lhes ensinar que o
macho branco heterossexual cristão americano é o bicho mais
desprezível da face da Terra e que, se ele for exatamente um deles,
deve fazer o possível para parecer outra coisa. Aos mais sortudos
dentre eles ocorrerá a idéia, ridícula mas inofensiva, de usar
trancinhas afro nos cabelos louros. Outros tentarão formas de
adaptação mais incisivas – e, dentre elas, a mais popular e
politicamente correta é tornar-se tão tímidos, fracotes e efeminados
quanto possível. Depois de alguns anos desse adestramento, o sujeito
está pronto para desmaiar, ter crise histérica ou ficar paralisado
de medo ante o agressor, exibindo ainda mais fragilidade na
esperança insensata de comovê-lo.
Impossível, diante do espetáculo de pusilanimidade coletiva na
Virginia Tech, não recordar aquela vovó tagarela e empombada do
conto “A Good Man is Hard to Find”, de Flannery O’Connor, que,
diante do assassino armado que acaba de matar a tiros toda a sua
família, se apega até o último instante à crença idiota de que ele é
no fundo um homem bom, incapaz de lhe fazer dano. Mais ou menos a
mesma idéia com que aqueles cabeças-de-toucinho do Viva Rio
subiram o morro levando flores no "Dia do Carinho" – e foram
expulsos a bala.
Há gays valentes e heterossexuais boiolas. A quintessência da
boiolice não tem nada a ver com sexo. É uma covardia abjeta, um
desfibramento da alma, uma pusilanimidade visceral – que os
educadores de hoje em dia consideram o suprassumo da perfeição moral
e os engenheiros sociais da ONU gostariam de espalhar por toda a
humanidade. É a fórmula da pedagogia usada nas escolas públicas
americanas. É por isso que o pessoal cristão foge delas, preferindo
o homeschooling. Os meninos educados em casa só vão à
escola no fim do ano, fazer exame, e tiram sempre melhores notas do
que os trouxas que ficaram lá o ano inteiro só aprendendo boiolice.
Para os negros, as mulheres, os gays e os membros de “minorias” em
geral, o establishment usa uma outra receita corruptora,
simetricamente inversa. Lisonjeia-os até enlouquecê-los por
completo. Infla seus egos até à divinização. Ensina-os a achar que
são credores do universo, que o simples fato de dirigirem a palavra
a um branco adulto é um ato de generosidade imperial. O fato de que
negros e asiáticos, aqueles vindos nas tropas muçulmanas, estes nas
hordas bárbaras, tenham atacado e escravizado milhões de europeus
séculos antes de que o primeiro português desembarcasse na África é
suprimido da História como se jamais tivesse acontecido. O branco –
e, por ironia, especialmente o americano, dos povos ocidentais o que
escravizou menos gente e por menos tempo – é definido como
escravagista por natureza, o escravagista eterno, herdeiro de Caim,
só digno de viver por uma especial concessão da ONU. Cada página dos
manuais didáticos usados nas escolas americanas traz essas crenças
insinuadas nas entrelinhas. Cada vez que um professor abre a boca em
sala de aula, espalha mais um pouco desse entorpecente pedagógico
nos cérebros infanto-juvenis. A coisa foi evidentemente calculada
para estragar as almas, para alimentar o ódio e o ressentimento,
para destruir o país por desmontagem sistemática.
Todos os preconceitos que existem no mundo surgiram espontaneamente
dos conflitos entre os seres humanos. Agora, pela primeira vez na
História, há o preconceito planejado, calculado matematicamente por
engenheiros comportamentais e inoculado com requintes de técnica
pedagógica nas cabeças da molecada. É por isso que há aqui um
verdadeiro abismo entre as gerações. As pessoas de quarenta anos
para cima são simpáticas, prestativas, generosas e patriotas. Os
jovens são ranhetas insuportáveis, tanto mais pretensiosos e
arrogantes quanto mais dependentes, incapazes de cuidar de si
próprios e defender-se nas situações difíceis. Falo, é claro,
daqueles que foram educados nas escolas públicas. Os que não querem
ficar como eles buscam refúgio nas escolas particulares
conservadoras (que existem aos montões mas são caras), nas igrejas,
no homeschooling e nas Forças Armadas.
Alguns anos atrás, a escritora Christina Hoff Sommers, em The
War Against Boys: How Misguided Feminism is Harming Our Young Men
(Simon & Schuster, 2000) já advertia contra a epidemia de frescura
planejada que educadores e psicólogos feministas, desarmamentistas,
pacifistas, gayzistas etc. estavam montando, muitos deles imbuídos
da alta missão de amansar por meio da castração generalizada a
“cultura americana da violência” – um estereótipo hollywoodiano em
cuja realidade acreditavam piamente pelo simples fato de ter sido
inventado por feministas, desarmamentistas, pacifistas, gayzistas
iguais a eles. Asinum asinus fricat, já observavam os
romanos: o asno afaga o asno – um panaca esquerdista inventa uma
lenda difamatória, os outros levam a coisa mortalmente a sério, e
dali a pouco há milhares de teses universitárias a respeito, com
ares de profunda ciência social, e comissões técnicas pagas a peso
de ouro pelas fundações beneméritas para criar soluções geniais. O
resultado é Cho Seung Hui. Cada um desses garotos que de repente
saem matando gente a esmo tem a cabeça cheia de ódio ao país que lhe
deu tudo. Tim McVeigh queria derrubar o sistema, os meninos de
Columbine eram gays intoxicados de falatório anticristão, Cho Seung
Hui sonhava em tornar-se um vingador ismaelita para fazer o Ocidente
em cacos. Cada um foi educado e doutrinado para fazer o que fez.
Enquanto uns intelectuais iluminados lhe infundiam o desejo de
vingança contra quem nunca lhe fez mal algum, outros votavam leis
que desarmavam os professores e funcionários nas escolas, os padres
e pastores nas igrejas. Uns preparavam psicologicamente o assassino,
outros amarravam as mãos das vítimas. Vocês já repararam que os
invasores armados de pistolas e rifles só atacam igrejas e escolas?
Já ouviram falar de algum que invadisse um clube de caça, um estande
de tiro, uma assembleia da National Rifle Association? Aí vigora o
princípio do “loco si, pero no tonto”. O país está repleto de
estandes de tiro ao pato – e os Zachs Petkewicz se tornam cada vez
mais raros. E depois aqueles que criaram propositadamente essa
situação saem diagnosticando o fenômeno como produto da “cultura
americana”, recomendando mais desarmamento civil, mais
anti-americanismo, mais efeminamento compulsório da juventude nas
escolas. Tiram proveito publicitário retroativo da sua própria
maldade. É a receita infalível da propaganda revolucionária:
“Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”
Mas o pessoal por aqui já começou a perceber o truque, ainda que com
um bocado de atraso. Allen Hill, um consultor de segurança
entrevistado no mesmo programa que divulgou o episódio de Zach
Petkewicz, declarou alto e bom som que as escolas têm de ensinar os
meninos a ser mais valentes e agressivos. “Os bandidos estão
contando com que os americanos fiquem sentados e não façam nada.”
“Os maus planejam seus ataques. As escolas têm de planejar sua
defesa e reagir com igual agressividade. O treinamento tem de ser
tão intensivo e levado tão a sério quanto o assassino leva a sério
sua missão de matar.”
Há um país da América do Sul que, se ouvisse esse conselho, talvez
não fosse vítima de cinqüenta mil homicídios por ano. Com uma
diferença: ali os jovens não são tão fracotes. A boiolice está
espalhada entre os homens adultos, nas ruas, nas fábricas, nos
escritórios. Essa gente tem medo de armas até quando vistas pelo
lado do cabo. E o governo, a Rede Globo e a Folha de S.
Paulo querem lhe infundir mais medo ainda. É uma situação muito
mais desesperadora que a dos americanos. Com o dobro da população
brasileira, os EUA têm cinco vezes menos crimes violentos do que o
Brasil.
Publicado pelo
Diário do Comércio em 23/04/2007
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