"Você é um fundamentalista!" A acusação me foi dirigida quando ainda era
um calouro da universidade, recém-saído do serviço militar, em 1947. Da
maneira como ela foi feita, com tamanho desprezo, nenhuma explicação foi
necessária para compreender que ser rotulado de "fundamentalista" era
um dos mais terríveis insultos no orgulhoso mundo acadêmico. Respondi algo
como: "Se ser fundamentalista significa aderir aos sólidos fundamentos da
matemática, da contabilidade, da química ou de qualquer outra ciência, então
aceito alegremente o título. E já que a Bíblia é literalmente a Palavra de
Deus e é inerrante (sem erros), a única escolha inteligente é aceitá-la e
permanecer fiel aos seus fundamentos". Essa resposta apenas aumentou a
frustração e a ira dos que debatiam acaloradamente comigo já por duas horas.
A ocasião foi o primeiro encontro da "Hora dos Críticos", uma
novidade que havia sido criada recentemente por alunos e professores da
universidade para ridicularizar e desacreditar a Bíblia. Entre os espectadores
havia um bom número de crentes que eu conhecia do grupo cristão do campus, mas
nenhum deles disse uma palavra sequer. Fiquei sozinho naquele auditório, sendo
alvejado com argumentos de todos os lados, todos favoráveis à evolução e ao
ateísmo. Sendo um ingênuo jovem de 21 anos, fiquei chocado com a animosidade tão
abertamente demonstrada contra a Bíblia e contra o Deus da Bíblia.
Naquele ponto da minha vida, mal ouvira falar de Harry Emerson Fosdick, pastor
da Primeira Igreja Presbiteriana de Nova Iorque, uma pessoa-chave no
liberalismo/modernismo americano. Tampouco fazia idéia da crescente rejeição
da infalibilidade da Bíblia entre muitas pessoas que se chamavam cristãos. O
nome de J. Gresham Machen era-me completamente desconhecido. Portanto, nada
sabia acerca da batalha perdida que ele sustentara no Seminário de
Princeton,
na década de 1920, contra as heresias que levaram aquela escola a tornar-se
completamente liberal e que alcançaram a maioria das igrejas presbiterianas.
Os servos mais eficientes de Satanás são mestres em ambigüidades. Fosdick
reivindicava honrar a doutrina, mas ao mesmo tempo advertia sobre o "perigo
de dar ênfase demais à doutrina..." Ele afirmou que "nada realmente
importa na religião, a não ser aquelas coisas que fomentam o bem individual e
público... e o progresso social."(1) Fosdick foi reconhecido naquele tempo
pela maioria dos cristãos verdadeiros como o incrédulo que realmente era. Mas,
Norman Vincent Peale, não menos herege que Fosdick, conseguiu achar aceitação
virtualmente em toda parte, bem como seu famoso discípulo Robert Schuller.
O modernista toma as últimas idéias do mundo secular e enganosamente as veste
com linguagem cristã. Ninguém tem feito isso com maior perfeição do que os
atuais psicólogos cristãos, que de algum modo tomam teorias anticristãs de
inimigos declarados do Evangelho e as "integram" à teologia. Peale
foi o primeiro a fazer isso. Em 1937, ele fundou uma clínica "cristã"
de psiquiatria em sua igreja. A clínica tornou-se modelo para numerosas outras
semelhantes, as quais têm gerado fortunas para seus fundadores.
Machen foi exato ao demonstrar que a intimidação pela ciência e o desejo de
obter aceitação e respeito na comunidade acadêmica têm resultado em
comprometimentos, que na prática descaracterizam o Evangelho. Essa ânsia tem
influenciado cada vez mais os seminários e faculdades cristãs. Machen acusou
os liberais de "tentar remover do cristianismo todas as coisas que não
possam ser aceitas pela ciência."(2)
Muitos dos evangélicos de hoje em dia parecem pensar que os cientistas sabem
mais sobre o Universo do que o próprio Criador. Será que a Bíblia é frágil
devido à ignorância de Deus? O resultado é um comprometimento fatal para a
verdadeira fé. Temos observado isso na aceitação da evolução teísta por
parte da revista "Christianity Today" (Cristianismo Hoje), dos "Promise
Keepers" (Guardadores de Promessas) e de muitos seminários e universidades
cristãs, mesmo que ela contradiga plenamente a Bíblia e subverta o Evangelho.
O mesmo comprometimento ocorre quando se questiona a narrativa bíblica do dilúvio.
Billy Graham, que há décadas abandonou sua posição fundamentalista,
recentemente disse não estar certo se o dilúvio de Noé foi realmente de âmbito
mundial. O New Bible Commentary da InterVarsity também afirma: "A
narrativa (bíblica) não relata diretamente um dilúvio universal..." A Bíblia,
ao contrário, não deixa espaço para tais devaneios:
"...tudo o que há na terra perecerá" (Gn 6.17). "...e da superfície da terra exterminarei todos os seres que fiz" (Gn 7.4). "...e os montes foram cobertos. Pereceu toda carne..., ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca" (Gn 7.20-23).
As instruções de Deus para Noé, de que trouxesse um par de cada espécie para
a arca, só têm sentido se o dilúvio atingiu o mundo inteiro. Deus prometeu não
voltar a destruir a terra por água novamente (Gn 9.11), todavia têm havido
muitas enchentes regionais desde aquele tempo. A destruição futura do mundo,
conforme profetizada por Pedro, seria apenas um incêndio localizado, se o dilúvio
com que é comparado foi limitado (2 Pe 3.6-7). Finalmente, Jesus compara Seu
futuro julgamento da humanidade ao dilúvio (Mt 24.38-41).
Temos que crer na Bíblia inteira. Isto é fundamentalismo bíblico. Se Gênesis
não é exato em cada detalhe, em qual parte da Bíblia poderemos confiar, então?
Se a Bíblia está errada quanto à origem do homem e seu pecado, como poderemos
confiar no que ela diz sobre a sua redenção e seu destino eterno? Na verdade a
Bíblia está absolutamente certa em tudo que declara.
Se as últimas descobertas da ciência concordam ou não com a Bíblia, isso não
deve inquietar ao fundamentalista. Como confiamos em Deus, não somos
intimidados pelos homens. Só um tolo trocaria a Palavra infalível de Deus
pelas opiniões mutáveis e falíveis dos homens. Os cientistas cometem erros e
muitas vezes são condicionados por preconceitos. No seu livro Great Feuds in
Science, o historiador Hal Hellman documenta que até os maiores cientistas têm
sido "influenciados por orgulho, ambição, cobiça, inveja e até por
evidente impulso de estar certo".(3)
Tragicamente, diminui gradativamente o número de cristãos que ainda defendem a
inerrância bíblica e a sua suficiência, como Harold Lindsell documenta em
The
Battle for the Bible. O Seminário Teológico Fuller é um exemplo citado por
ele. Podemos dizer com certeza que para as multidões envolvidas no atual
movimento evangélico a inerrância raramente se constitui num problema, pois
tais pessoas se apóiam em experiências e emoções mais que em doutrina. Para
muitos atualmente, o amor por Jesus é um maravilhoso sentimento, divorciado
completamente da verdade que Jesus afirma ser. No livro The Bible in the
Balance, Lindsell confessa que "a palavra 'evangélico' tem se tornado tão
desonrada que perdeu sua utilidade... Talvez seja melhor adotar a palavra
'fundamentalista', mesmo com todos os ataques depreciativos que tem sofrido por
parte dos seus críticos".
O fundamentalismo tem sido estigmatizado por duas razões:
1- alguns cristãos
fundamentalistas são fanáticos e afastam-se de outros cristãos de uma forma
insensata e anti-bíblica; e
2- por causa do exemplo do fundamentalismo muçulmano,
que apregoa que todos precisam adotar as mesmas roupas e costumes que Maomé
adotou no século VII. Consagrados que são ao alvo islâmico de conquistar o
mundo pela força, esses muçulmanos fundamentalistas são responsáveis por
muitos dos atuais atos de terrorismo. Por conseqüência, também os cristãos
fundamentalistas, cuja lei maior é o amor, são freqüentemente retratados com
estas mesmas cores de fanatismo.
Todos que desejam confiar e obedecer à Palavra de Cristo e que querem ser Seus verdadeiros discípulos (Jo 8.31-32), precisam estar prontos a
permanecer sozinhos, como Daniel e seus amigos. Com medo de serem diferentes, muitos cristãos seguem a multidão. Famintos pelos louvores
deste mundo, eles amam "mais a glória dos homens, do que a glória de
Deus" (Jo 12.43). C.H. Spurgeon ficou virtualmente sozinho, abandonado mesmo
pelos seus ex-alunos e amigos, quando foi censurado pela União Batista Britânica, por sua indisposição em tolerar a apostasia dentro daquele
grupo. A. W. Tozer declarou, pouco antes de morrer: "por causa do que tenho
pregado não sou bem recebido em quase nenhuma igreja na América do
Norte." Que acusação contra aqueles pastores e igrejas!
Cristo advertiu: "Ai de vós, quando todos vos louvarem! porque assim procederam seus pais com os falsos profetas" (Lc 6.26). Ele afirmou que a
verdadeira fé em Deus é impossível quando nós aceitamos "glória uns
dos outros", e, contudo, não procuramos "a glória que vem do Deus único"
(Jo 5.44). John Ashbrook escreve que o "novo evangelicalismo está determinado
a impressionar o mundo com seu intelectualismo. Ele tem estado a buscar o respeito da comunidade acadêmica. Determinou ganhar glória nas fontes do
ensino secular."(4) Carl Henry observou que "em conseqüência da
crescente atitude de tolerância... a fé cristã foi embalada de forma a facilitar sua
comercialização."(5)
O único inimigo do liberalismo é a firme adesão do fundamentalismo à autoridade e suficiência das Escrituras. D. Martyn
Lloyd-Jones lamenta o
fato de que muitos evangélicos mudaram de "pregar" para
"compartilhar" a Palavra de Deus, o que sutilmente transfere a autoridade da Palavra de Deus
para a experiência e opinião humanas.(6) Tal comprometimento, além de não ajudar o incrédulo a enxergar a luz; ainda o deixa mais cego. Essa
tolerância estimula a resistência dos homens em se submeterem à autoridade de Deus. O liberalismo, inevitavelmente, endurece cada vez mais contra a
verdade. Podemos ver isso atualmente em todo o mundo.
A aceitação de homossexuais, em nome da tolerância e do liberalismo, tem produzido uma intolerância cada vez maior contra qualquer outro ponto de
vista. O mundo inteiro, que por milhares de anos considerou o homossexualismo como antinatural e vergonhoso, agora está sendo
forçado a
abandonar tal convicção. Os homossexuais, que reivindicavam tolerância, têm se mostrado totalmente intolerantes na medida em que conquistam poder. Eles
atacam com malícia, verbal e fisicamente, qualquer pessoa que queira manter uma opinião independente. O mundo tem sido coagido a garantir privilégios
especiais aos homossexuais, apesar do estilo de vida "gay" ser cheio
de práticas nocivas, levando à proliferação de doenças que ameaçam a
sociedade em geral e reduzem pela metade a expectativa de vida das pessoas. A incurável AIDS, embora se propague em proporções epidêmicas, afetando
inocentes e sendo fatal para todos que a contraem, é tratada com um sigilo perigoso e um status privilegiado, devido à sua penetração entre os
homossexuais.
Vemos a mesma intolerância nos evolucionistas que acusam os criacionistas de pensamento bitolado. A ciência deve promover a liberdade de investigar e
aceitar os fatos. Mas, em nome da ciência, a teoria da evolução é ensinada às crianças nas escolas públicas como fato, enquanto as evidências contra
ela são omitidas e a alternativa bíblica e racional da criação de Deus não é admitida nem considerada.
Numa recente viagem a Rússia, um dos principais responsáveis pelo sistema
educacional nos disse o seguinte: "Por setenta anos vimos os frutos da
imposição dogmática de apenas uma opinião aos alunos. Estamos cheios disso e
ansiosos para considerar as alternativas". O colapso do comunismo deixou um
vácuo moral que a Rússia está tentando preencher com os ensinos da Bíblia.
Paradoxalmente, as escolas da Rússia agora acolhem os mesmos ensinos morais e
da criação que estão banidos das escolas americanas! Não podemos saber
quanto tempo isso vai durar. A Igreja Ortodoxa Russa, intolerante e firmemente
contrária ao Evangelho, está procurando retomar o monopólio da religião? e
alguns evangélicos americanos estão cooperando com esse sistema anticristão.
Oremos pela Rússia.
O "cristianismo" foi introduzido em 988 d.C. no país que mais tarde
se tornou a Rússia, pelo príncipe Vladimir. Antes ele havia considerado o
islamismo, já que suas vinte esposas não causavam problema para aquela "fé".
Mas como o islamismo proíbe o álcool, ele acabou abraçando o
"cristianismo" da Igreja Ortodoxa, onde o álcool corria livremente
(muitos monges e sacerdotes bebem intensamente) e onde a opulência dos rituais
tem um apelo misterioso. Ele decretou uma esposa como "oficial",
mantendo as outras dezenove como concubinas, enquanto usava o álcool
livremente. Foi assim que a Rússia "converteu-se" ao
"cristianismo". Em 1988, o milésimo aniversário desse evento foi
celebrado com pompa e ritual. Billy Graham esteve presente para trazer suas
congratulações. Na ocasião, ele disse: "Sinto-me profundamente honrado
em congratular-me com vocês nesta histórica e alegre ocasião em que se
comemora o milésimo aniversário do batismo da Rússia, proporcionado pelo
batismo do príncipe Vladimir, de Kiev..."(7)
A Igreja Ortodoxa, assim como o catolicismo romano, é inimiga jurada do
Evangelho. Ela tem mantido o povo russo na escravidão e na superstição,
ensinando-o a buscar nela a salvação, beijando seus ícones, pagando por orações
e sacramentos. Embora rejeite o purgatório do catolicismo, ensina que, através
de nossas orações, as almas podem ser resgatadas do inferno para o céu.
Visitamos, nas proximidades de Moscou, o centro da Igreja Ortodoxa, com seu
seminário e muitas igrejas. Monges com quem falei explicaram que a morte de
Cristo possibilitou a nossa entrada no céu, desde que fôssemos batizados,
participássemos dos sacramentos e "vivêssemos o Evangelho". Para
eles, a porta que Cristo abriu está no cume duma alta escada que precisamos
subir pelos nossos próprios esforços, obedecendo à Igreja e auxiliados por
ela.
Fui um dos preletores numa conferência em Moscou que atraiu pastores e membros
de igrejas de toda a Rússia. Havia uma indisfarçável expectativa de que a
Palavra de Deus fosse ensinada. Eu expus abertamente os ensinos e práticas não-bíblicas
da Igreja Ortodoxa Russa que (como a Igreja Católica no Ocidente) perseguiu e
assassinou multidões de verdadeiros cristãos. A Igreja Ortodoxa, que
estabeleceu parceria tanto com os czares como com os comunistas que os
sucederam, pressionou o presidente Yeltsin a favor da nova lei que suprime a
liberdade religiosa (essa lei está sendo atualmente implementada em pequenas
cidades fora de Moscou). Centenas de fitas de vídeo e de áudio de nossa conferência
estão sendo distribuídas por toda a Rússia. Oremos para que dêem frutos!
Como avisamos aos irmãos e irmãs da Rússia, o verdadeiro "crer no Senhor
Jesus Cristo" para a salvação tem que ser uma profunda convicção e não
apenas uma mera preferência. E esta corajosa convicção certamente será
seguida de grande oposição e terrível violência da parte de Satanás e da
carne. Lembrando que a eternidade nos espera em breve, jamais devemos trocar o
eterno "muito bem, servo bom" de Deus pela aprovação dos homens
nesta vida tão curta. A plenitude de vida, tanto agora como por toda a
eternidade, tanto para nós mesmos como para as pessoas a quem temos a
oportunidade e a responsabilidade de influenciar, depende desta verdade inegociável.
Notas:
- Christian History, Edição 55, Vol. XVI, No. 3, p. 36.
- Ibid.
-
The Bulletin, (Bend, OR, 4/7/98), A7.
- New Neutralism II, 8.
- World (11/3/89), 7.
- Ian Murray, David Martyn Lloyd-Jones: The Fight of Faith, p. 667.
- Foundation (9/98), 4.
Autor: Dave Hunt;
artigo enviado por Anderson A. Silva
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.