L. A. Mott, Jr.
Dois apêndices ao livro de Juízes (capítulos 17-21) ilustram a treva moral e
espiritual do período. A iniqüidade desses tempos está repetidamente relacionada
com a falta de um rei em Israel (17:6; 18:1; 19:1; 21:25). Esta parte do livro
começa e termina com a mesma explicação: "Naqueles dias, não havia rei em
Israel; cada qual fazia o que achava mais reto" (17:6; 21:25).
Mas, por que era necessário um rei? Não havia Deus tomado providências para
capacitar os israelitas tanto a conhecer como fazer sua vontade? Claro que sim.
Ele tinha dado a lei e estabelecido um sacerdócio para ensinar, e festas de
comemoração para relembrar o povo. Mas o problema era que Israel não era um povo
espiritual. Era uma nação física muito parecida com a nossa própria: um povo
que, com poucas exceções, não tinha desejo de aprender e fazer a vontade de
Deus. A ordem só poderia ser mantida com um forte regente no trono, impondo a
lei com mão firme.
Josias foi o último rei forte em Judá. Ele era um homem temente a Deus que
dirigiu um Grande movimento de reforma em Judá, esforçando-se por trazer a nação
de Volta a Deus. Ele insistiu que o povo cumprisse a lei. Ele ordenou ao povo
que guardasse a Páscoa. Ele destruiu os altares idólatras e, enfim, fez um
Grande esforço para livrar o país da idolatria e das abominações associadas a
ela. O relato em 2 Reis 22-23 pode levar-nos a pensar que Judá tinha sido
totalmente limpo da apostasia. Surpreende-nos descobrir que, não obstante, a Ira
de Jeová ainda estava dirigida contra a nação, por causa das abominações
trazidas por Manassés (23:26-27; veja 24:3-4).
Jeremias dá a explicação. Sua avaliação da reforma de Josias é resumida numa
simples sentença: "Não voltou de todo o coração para mim a sua falsa irmã Judá,
mas fingidamente, diz o SENHOR" (Jeremias 3:10). Jeremias percebeu que, na maior
parte, Judá não estava realmente convertido. A idolatria e a descrença ainda
estavam nos corações do povo. O abandono de Jeová tinha sido apenas
exteriormente restringido pelo poder do trono. Como Isaías havia escrito sobre
um tempo anterior, o "temor" exterior de Jeová era somente "em mandamentos de
homens, que maquinalmente aprendeu" (Isaías 29:13). O povo não amava Deus. Tão
logo um mau rei chegasse ao trono, a idolatria que enchia os corações irromperia
e o julgamento viria nas mãos dos babilônios. A pregação de Jeremias foi um
esforço para mudar os corações do povo. Mas ele não era capaz de impedir a maré.
A nova aliança predita em Jeremias 31:31-34 não seria uma aliança nacional, mas
uma feita com indivíduos espirituais (veja 31:29-30 e Ezequiel 18) de cada
nação, cujos corações tinham sido ganhos para Jeová, um povo penitente passando
por uma experiência de conversão tão drástica que seria chamada um novo
nascimento e ele seria uma nova criação (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15). O
Espírito do próprio Jeová habitaria nos seus corações (Ezequiel 36:26-27) por
intermédio da lei que Jeová escreveria sobre seus corações (Jeremias 31:33).
Jeová realizaria tal efeito, não por alguma experiência irracional, "melhor
sentida do que falada"; mas, as pessoas eram "ensinadas por Deus" (João
6:44-46), o mesmo método que Jesus estava usando quando ele explicava isso.
Assim, a lei não seria simplesmente gravada em pedras; estaria nos corações do
povo que amava Deus e obedecia a lei pela reverência e devoção real que está em
seus corações.
Cometemos um grave erro quando abandonamos os métodos de Jeremias por aqueles de
Josias. O que Deus quer cumprido pelo povo não pode ser cumprido através de
táticas de coerção ou pressão, isto é, pressões duras a cumprir cotas; embaraço;
operações policiais utilizando-se de informações secretas para manter o povo na
linha; "parceiros de oração" que se tornam mais parecidos com cães de guarda
para impor a conformidade; qualquer coisa que ponha o livre arbítrio fora de
serviço. O trabalho de Deus somente pode ser feito através do ensinamento,
persuasão, mudança dos corações do povo e do renascimento. Nós, que nos
dedicamos ao trabalho do evangelho, precisamos ler as cartas de Paulo sobre o
ministério do evangelho (especialmente 2 Coríntios) até que seus métodos se
tornem inteiramente nossos. Ele tinha renunciado qualquer vestígio dos métodos
de manipulação dos falsos mestres e adotado o único método pelo qual o trabalho
de Deus poderia ser feito: "...nos recomendando à consciência de todo homem, na
presença de Deus, pela manifestação da verdade" (2 Coríntios 4:2). Quando ele
ensinou os coríntios sobre o Dar, ele não falou "na forma de mandamento" --pois
o que Deus queria realizar não poderia ser feito desse modo-- mas usou de um
exemplo persuasivo para trazer os coríntios a uma demonstração do amor deles (2
Coríntios 8:8). Ele tinha confiança em que podia lidar com eles desse modo, pois
tinham aprendido a dar ao pé da cruz (2 Coríntios 8:9).
E, assim, quando hoje nossos irmãos não quiserem dar ou, de outro modo,
responder, não temos que tentar imaginar um modo de forçá-los a obedecer.
Devemos sentá-los ao pé da cruz e deixar o sacrifício de nosso Salvador fundir
os corações duros.
Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.