Uma das maiores companhias comerciais no
Oeste da África iniciou como uma missão religiosa enviada pela Suíça para
pregar aos africanos. Os evangelistas tiveram que levar seus próprios
suprimentos e eles compraram quantidades extras para vender aos nativos.
Enquanto o tempo passava as atividades mercantilistas aumentavam e o trabalho
religioso diminuía. Hoje, o único vestígio do seu propósito original é um
desconto de 10% dado aos missionários de outras denominações.
Sob a influência do evangelho social, muitas instituições religiosas trocaram
seus objetivos e atividades dramaticamente, como a missão Suíça. Sua mudança
não foi notada porque elas continuaram a ser chamadas de igreja e continuaram
a operar sob um emblema religioso. Quando todos em nossa volta estão mudando é
fácil para nós mudarmos sem perceber o que está acontecendo. “Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as
coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas.”
(Heb 2:1).
Leitores desta revista não precisam ser
lembrados que o evangelho de Cristo era a boa nova de salvação do pecado pela
morte vicária , pelo sepultamento e pela ressurreição de Cristo (1 Cor 15:1-4).
As maiores preocupações do evangelho de Cristo eram eternas, não temporais:
eram voltadas para o paraíso, não para o mundo (Col 3:1-4). Seu propósito,
enquanto tratando-se desta vida, era a transformação dos espíritos dos
indivíduos na imagem de Cristo (Ef 4:11-13). Qualquer impacto para a correção
dos males sociais era atingido como um efeito colateral e secundário da
transformação destes indivíduos.
O evangelho de Cristo [conforme registrado na Bíblia] não ampara nenhuma outra
organização senão a igreja local com seus diáconos e bispos (Fp 1:1). Isto era prova
suficiente, para todos, de que o evangelho foi dado para que moldasse o caráter
individual. Atingir estas metas não requeria empreendimentos multimilionários e
edifícios de múltiplos propósitos; mas um [simples] lugar de adoração e ensino
era o suficiente.
O mundo antigo “não se importava em ter o
conhecimento de Deus” e “trocou a glória de Deus incorruptível em imagem
corruptível de homem” (Rom 1:28,23). Do mesmo jeito, homens no século corrente
ficaram insatisfeitos com o evangelho de Cristo.
Nas grandes universidades da Alemanha, objeções científicas às doutrinas
básicas da fé cristã ganharam tanto crédito nos círculos intelectuais que os
teólogos foram forçados a reexaminar suas visões tradicionais. Os credos históricos
, que defendiam a autoridade das sagradas escrituras, foram reinterpretados nos
termos do naturalismo evolucionário e imanência divina. A inspiração divina
das escrituras, a única deidade de Cristo, os milagres, a expiação dos pecados,
a ressurreição corporal do Cristo, a ressurreição dos santos, a segunda vinda
de Cristo no julgamento final, céu, inferno e qualquer vestígio sobrenatural da
fé cristã foram abandonados à nova cultura. A mente do homem tornou-se a corte
do apelo final (Christian DeForest Murch, Christians Only, p 224)
Este desenvolvimento, comumente chamado de modernismo, espalhou-se rapidamente
pelo mundo protestante. Obviamente, a rejeição dos fatos básicos do evangelho e
suas promessas e avisos fez todo o evangelho obsoleto e irrelevante.
O que os teólogos e suas igrejas poderiam fazer agora que eles renunciaram seus
credos e o evangelho nos quais eram baseados? Fechar a loja? Isto era o menos
provável. Instituições antigas raramente morrem, elas simplesmente trocam de
direção, e toda nova direção demanda atenção.
A revolução industrial no país fez surgir problemas nos negócios e éticas
políticas, nos relacionamentos empregador-empregados, competição econômica, e a
natureza da pobreza e seu remédio, os quais chocaram muitos filósofos sociais
americanos para fora de uma desgastada complacência. Não menos sérios eram os
ajustamentos sociais conectados com o crescimento desordenado das cidades.
Favelas, alcoolismo, prostituição, crime organizado, delinqüência juvenil, desprezível
pobreza, e todos os problemas das cidades esparramadas e sujas eram realidades
convincentes que demandavam que algo deveria ser feito (Ed Harrel, Gospel Guardian,
Vol XII, p.255),
Os teólogos responderam com o “evangelho social”, definido pelo dicionário
internacional Webster como “movimento na América Cristã Protestante iniciado no
final do século 19 que atingiu seu zênite na primeira parte do século 20 e
dedicado ao propósito de trazer a ordem social em conformidade com os ensinos
de Jesus Cristo”.
Não temos dúvida de que Jesus ensinou algumas coisas relevantes sobre esses
assuntos, mas Ele não o fez para uma abordagem organizacional para tais
problemas, e eles certamente não formam a carga, a preocupação de Seu
evangelho. Em uma ocasião, quando a abordagem era a injustiça social, Ele
recusou se envolver num nível pessoal, dizendo ao que perguntou para tomar
cuidado com a cobiça. (Luc 12:13-21).
Como o evangelho social estava lidando com
novos problemas, foram requeridas novas e imaginativas soluções. As provisões
do antigo evangelho de Cristo não eram mais suficientes. Como abandonaram sua
fé no evangelho antigo, os proponentes do novo evangelho não pouparam tempo em
redesenhar suas provisões.
Congregações locais se adequaram para a transformação dos indivíduos, mas os
problemas sociais eram muito grandes para qualquer assembleia. As organizações
centrais das várias denominações tomaram um novo significado enquanto
multiplicavam departamentos e agências pelos quais as igrejas locais poderiam
fazer seu trabalho. Tudo isto não era o suficiente. O Conselho Federal de
Igrejas de Cristo foi formado para unir os esforços das denominações para um
impacto mais efetivo.
Obviamente, “evangelistas, pastores e professores” estavam fora de seu elemento
em lidar com problemas sociais muito complexos, então, agora a igreja precisava
de novos diretores, trabalhadores do bem-estar, conselheiros para casamentos,
educadores, diretores de atividades e um monte de outros “ministros” na equipe.
Os edifícios antigos e suas dependências simples para adoração e ensinamento
bíblico estavam fora de moda. Novos edifícios multifuncionais eram necessários,
uma vez que a igreja objetivava ministrar para o “homem por inteiro”. Lester Macllister,
um autor favorável a estes desenvolvimentos escreve:
“A idéia de
fazer a congregação o centro dos serviços da comunidade veio do movimento do
evangelho social... entre as características enfatizadas por uma igreja
institucional estavam livrarias, refeições para aqueles que precisavam,
ginásios e outras dependências para recreação para os jovens. Algumas igrejas
patrocinaram uma “troca de trabalhos” para ajudar a encontrar empregos para os
desempregados (Journey in Faith, pp 287-88).”
Além do mais, a revolução social que era o
objeto do evangelho social requeria mais do que oração. Requeria ação política,
campanhas na mídia, boicotes, marchas e um monte de táticas de pressão para
atingir seu propósito. Não demorou muito para envolver as igrejas em tais
atividades.
As Igrejas de Cristo foram influenciadas
pelo movimento do evangelho social? Quem poderia negar isto? Não foi no zênite
do movimento (como identificado na definição de dicionário mencionada acima)
que as primeiras instituições para serviços sociais foram construídas e
anexadas às igrejas? O número agora se multiplicou. Um registro de igrejas [o
autor se refere somente à denominação “Igreja de Cristo”] de 1983 lista 19
colégios de artes liberais e universidades, 96 agências para cuidar de crianças
e dependências, 37 instituições de cuidados com idosos, muitas das quais
recebem suporte da igreja de um jeito ou de outro. O registro não considera a
lista de centros de cuidados (creches, day care), jardins de infância, escolas
elementares e de ensino médio que recebem suporte de igrejas. Nenhum destes
existia antes do movimento do evangelho social.
As equipes de muitas “Igrejas de Cristo” são expandidas para incluir todo o
tipo de “ministros” encontrados em alguma outra igreja do movimento do
evangelho social. As escolas oferecem agora treinamentos para “obreiros” numa
grande variedade de campos. Veja os novos edifícios que são erguidos com
escritórios para os vários ministros e conselheiros, cozinhas e dependências
para banquetes, centros de convivência para a família e ginásios equipados com
tudo desde o basquete aos vídeo games. Tais coisas eram desconhecidas antes do
advento do movimento do evangelho social e eram raramente vistas 20 anos atrás.
Considere a publicidade nacional recentemente atribuída a “Igreja de Cristo em
oposição à pornografia.” Como ela se opôs? Ensinando cada indivíduo cristão a
manter seu “coração com toda diligência” e a controlar sua TV ou rádio? Sem
dúvida algo disto foi feito, mas a publicidade nacional foi feita para combinar
esforços de muitas congregações para ações políticas, boicotes, campanhas em
cartas escritas que direcionavam a pornografia como o mal social – claramente
uma posição do evangelho social.
Com toda a justiça devemos afirmar que estas igrejas não fizeram a mesma rota
que a maioria das denominações. A maioria não negou o coração do evangelho e a
maioria ainda acredita na inspiração das escrituras. Estas influências vêm de
dois canais: Primeiro, um monte de novos pregadores foram treinados por
professores que receberam seus treinamentos em seminários modernos onde o
evangelho social era totalmente aceito. Segundo, as congregações para as quais
eles pregavam eram na maioria cristãos de segunda e terceira geração que
fizeram um pequeno estudo padrão sobre o Novo Testamento e tiveram a idéia do
que a igreja precisava ser para seus vizinhos. De fato, eles ficam um pouco embaraçados
se a “Igreja de Cristo” não tiver todas estas facilidades, equipes, programas
e instituições que seus vizinhos ostentam.
Ainda desejando possuir práticas baseadas nas escrituras, baterias de pregadores
procuram diligentemente justificar estas inovações pelas escrituras, e eles têm
sucesso para a satisfação dos inovadores. Mas seus argumentos, como as práticas
que defendem, não eram ouvidas nas igrejas de Cristo durante os 1900 anos de
suas existências. É claro que este conceito de práticas originou na mente do
homem, não na mente de Deus.
Nenhum de nós está fora do alcance da influência do evangelho social. Aqueles
de nós que resistiram fortemente a algumas facetas deste evangelho podem ser
tentados por outras. Nossos sentimentos fortes contra aborto, comunismo,
pornografia, venda de álcool, e outros males sociais podem nos tentar a
envolver a igreja num ataque típico do evangelho social, e não lidar com eles
numa base individual como a igreja foi designada a fazer. Encontramos-nos mais
preocupados em encontrar um modelo nas escrituras para lidar com os problemas
sociais como fome na Etiópia do que quando usamos a abordagem das escrituras
com o problema das almas perdidas em todos os países.
Os problemas reais do mundo são
espirituais. A igreja local é a organização de Deus para lidar com tais
problemas e o evangelho de Cristo é o meio que Ele nos deu para enfrentar tais
problemas. Dez mil outras organizações estão se dedicando somente ou
principalmente aos problemas sociais de nossos dias, usando todo recurso
concebível. É urgente que não permitamos nós mesmos sermos distraídos da única
missão ou desiludidos com o único método de Deus.
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois
é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e
também do grego. “ (Rom 1:16)
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos
anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.”
(Gal 1:8)
Guardian of Truth XXX: 1, pp 11-12
Janeiro 2, 1986
Sewell
Hall
Atlanta, Geórgia
Traduzido por Daniel Castro, 2005.
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
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