O ATO DE BEBER NA IGREJA APOSTÓLICA
A importância da Igreja Apostólica como modelo para as crenças e práticas
cristãs, vai além dos ensinamentos no uso de bebidas alcoólicas. A maneira
como os apóstolos entendiam, pregavam e praticavam o ensinos de Jesus e do
Velho Testamento (VT), relativo às bebidas alcoólicas, é fundamental para
determinar, se nós como cristãos atuais, teríamos que nos posicionar ao lado
da moderação ou da abstinência.1
As referências específicas do Novo Testamento (NT) para “vinho” (oinos)
fora dos quatro evangelhos, são trinta, oito das quais ocorre no livro do
Apocalipse, onde “vinho” é usado, na maioria das vezes simbolicamente, para
representar a depravação humana e a retribuição divina. Em acréscimo aos
textos mencionando “vinho”, especificamente no NT, são mais 20 passagens
admoestando os cristãos a serem “sóbrios” ou “temperantes”. Em muitos
casos, como veremos, estas admoestações estão relacionadas, diretamente, ao
ato de beber. Examinaremos, brevemente, primeiro alguns dos textos sobre vinho e
então “as admoestações para a abstinência”.
ATOS 2:13: “CHEIOS COM VINHO NOVO”
Os apóstolos mal começaram sua proclamação messiânica, quando foram
acusados de estarem embriagados. No dia de Pentecostes o primeiro grupo de
crentes recebeu o dom de línguas, habilitando-os a pregarem o evangelho nas línguas
dos povos reunidos na festa em Jerusalém. Enquanto milhares creram em Cristo
como resultado do milagre, outros começaram a zombar dos discípulos dizendo:
“Estão cheios de vinho novo” (Atos 2:13)
Alguns admitem que os zombadores não poderiam ter acusado os cristãos de
estarem bêbados, exceto se alguns desses cristãos tivessem bebido vinho com álcool
em ocasiões anteriores. A fragilidade desta argumentação é que eles assumem
que a acusação desses zombadores era baseada numa observação factual do ato
de beber cristão. Os escarnecedores, porém, não baseavam, necessariamente,
sua difamação numa observação factual. Além do mais, se os escarnecedores
desejassem realmente responsabilizar os discípulos como bêbados, eles poderiam
ter-lhes acusado de estarem cheios com “vinho” (oinos) e não “com
suco de uva” (gleukos)
A Ironia da Acusação. Tendo em vista o significado estabelecido de gleukos
como suco de uva não intoxicante, a ironia da acusação é evidente por si
mesma. O que os zombadores queriam dizer é “estes homens, muito abstêmios ao
toque de qualquer coisa fermentada, tiveram que se embriagar com suco de uva.”
Ou como Ernest Gordon coloca numa linguagem moderna, “estes abstêmios se
embriagaram com bebida suave”.2
Alguém dificilmente poderia deixar de ver na ironia dessa acusação de que os
apóstolos se embriagaram, com suco de uva (sua bebida comum), uma prova
indireta, mas importante, de seu estilo de vida abstinente e , por inferência,
do estilo de vida abstêmio de seu Mestre.
A confirmação histórica desta prática é provida pelo testemunho de Hegésipo,
que viveu imediatamente depois dos apóstolos3. Escrevendo
concernente a isto “Tiago, irmão do Senhor, [o qual] iria sucedê-lo na direção
da Igreja em conjunto com os apóstolos,” Hegésipo disse: “Ele foi
consagrado desde o útero de sua mãe; ele não bebeu vinho nem bebida forte e
nem comeu carne”. Podemos concluir que o estilo de vida de Tiago, que por
algum tempo trabalhou como diretor presidente da Igreja em Jerusalém, serviu
como exemplo para os cristãos apostólicos seguirem.4
EFÉSIOS 5:18: “NÃO VOS EMBRIAGUEIS COM VINHO”
Uma poderosa indicação bíblica contra o vinho intoxicante é encontrada em Efésios
5:18, onde Paulo admoesta os Efésios, dizendo: “E não vos embriagueis com
vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef. 5:18). A
passagem consiste de duas importantes declarações postas em contraste (antítese)
para cada uma: “embriagueis com vinho” contra “enchei-vos do Espírito”.
A antítese sugere que o contraste não está entre a moderação e o excesso,
mas entre estar cheio de vinho e cheio do Espírito. As duas declarações
apontam para uma incompatibilidade inerente a natureza e a ação entre as
fontes de tal abundância, isto é, embriagando-se com o vinho e com o Espírito
Santo. Tal incompatibilidade mútua impede a aprovação para um uso moderado de
vinho intoxicante.
O Que é Dissolução? A admoestação de Paulo “E não vos embriagueis
com vinho” é seguida de uma advertência a qual na versão RSV é traduzida
“pelo que é dissolução”. Uma tradução literal do texto em grego poderia
ser lido assim: “E não vos embriagueis com vinho, no qual [en ho] é
dissolução [asotia -- literalmente, ‘não salvo’].” A RSV traduz
“en ho -- na qual” em “para que”, torna a condição de estar bêbado
com vinho, em lugar do mesmo vinho, o assunto da “dissolução”.
Esta construção da sentença não é baseado em nenhuma necessidade exegética
do texto, mas no assunto de que o uso moderado de vinho fermentado não era
permitido nos tempos do Novo Testamento.
Historicamente numerosos tradutores e comentaristas, têm visto no “vinho”,
em vez do estado de embriaguês, a causa da dissolução. A razão é a posição
de oinos (“com vinho”), que no grego vem imediatamente antes do
pronome relativo “que”. Apoio para isto também é suprido pelo fato de que
as palavras “não vos embriagueis com vinho”, como mostra o comentário The
Interpreter's Bible, “foram citados de Prov. 23:31 (A Septuaginta concorda com
o Codex A)”5 onde o texto condena o uso de vinho intoxicante (“Não
olhes para o vinho, quando se mostra vermelho”), em vez do abuso.
Entre as traduções antigas que traduzem Efésios 5:18 como uma condenação ao
próprio vinho intoxicante, a menção pode ser feita da Vulgata Latina
(aproximadamente 400 a.D), que diz: “nolite inebriari vino, in quo est
luxuria" e não seja embriagado com vinho, o qual é voluptuoso”). A
conexão entre vino “vinho” e quo “que” é inconfundível nesta
tradução latina, porque o pronome relativo quo tem o mesmo gênero neutro de vino,
sobre o qual ele está sujeito.
Traduções Modernas. Numerosas traduções modernas seguem a Vulgata
nesta fidelidade literária. Por exemplo, a Versão Sinodal Francesa diz: “Ne
vous enivrez pas de vin: car le vin porte à la dissolution” (“Não se
embriaguem a si mesmos com vinho, pois o vinho leva à dissolução”). Para
remover qualquer possibilidade de equívoco, os tradutores têm repetido a
palavra “vinho” na cláusula relativa. A mesma clareza de conexão é
encontrada na tradução francesa de David Martin, na versão francesa de
Ostervald, no rodapé da New American Standard Bible, na tradução de Robert
Young, na Good News German Bible (“Die Gute Nachricht”), na versão
Protestante Italiana de Riveduta por Giovanni Luzzi, bem como na versão Católica
produzida pelo Instituto Pontífice Bíblico.
À luz de numerosas traduções antigas e modernas que têm traduzido a cláusula
relativa de Efésios 5:18 como uma condenação não a embriaguez, mas ao vinho
em si, poder-se-ia afirmar que por causa de sua predileção por vinho algum
tradutor inglês tenha escolhido, como Ernest Gordon expõe, “livrar a cara do
vinho enquanto se condena a embriaguez”.6
1 TIMÓTEO 5:23: “USA UM POUCO DE VINHO, POR CAUSA DO TEU ESTÔMAGO
E DAS TUAS FREQÜENTES ENFERMIDADES.
Quando o assunto do vinho é apresentado na Bíblia, o primeiro texto que
aparece e que vem à mente de muitas pessoas é de 1 Tm. 5:23, onde Paulo
aconselha a Timóteo dizendo: “Não continues a beber somente água; usa um
pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes
enfermidades”. Este texto tem sido usado durante os últimos dezenove séculos
por muitas pessoas para justificar sua ingestão de bebidas alcoólicas. Assim,
é importante para nós estabelecermos a natureza do conselho de Paulo e sua
implicação para os dias de hoje
A Natureza do Conselho de Paulo. O aviso de Paulo a Timóteo deve ser
considerado, em primeiro lugar, como uma expressão da preocupação paterna e não
como uma proibição obrigatória. O apóstolo não está ordenando seu filho
amado no Evangelho, para beber vinho livremente; em vez disso ele o aconselha a
usar um pouco de vinho “por causa de seu estômago e de suas freqüentes
enfermidades”.
A cautelosa precaução da linguagem do apóstolo é muito significante. Ele não
diz, “Não continues a beber água”, mas especialmente, “Não continues a
beber somente água.” Ele não disse, “Beba vinho,” mas de especialmente
“use um pouco de vinho com água.” Ele não disse, “para o prazer físico
de seu abdômen,” mas especialmente “para a utilização terapêutica de seu
estômago.” De igual modo se o “vinho” fosse fermentado, este texto não
apoiaria seu uso regular de jeito algum. Ele não diz para Timóteo, “Beba. .
.” mas “Tome. . .” O verbo “tomar” é usado por um médico quando
prescreve a dosagem de um medicamento para um paciente. Semelhantemente o
adjetivo “pouco” implica um uso muito moderado de vinho. Isto parece mais a
prescrição de um médico a um paciente do que um princípio geral para todas
as pessoas.
Timóteo Foi um Abstêmio. Um outro fator freqüentemente ignorado é que
a advertência “Não continues a beber somente água” implica que Timóteo,
como os sacerdotes e nazireus, absteve-se de vinho fermentado e não fermentado
desde a época de seu nascimento, presumivelmente em concordância com as instruções
e o exemplo de Paulo.
Anteriormente na mesma epístola Paulo disse que o que se requeria de um bispo
Cristão não era apenas ser abstinente (nephalion), mas também não
participante de bebidas em lugares e festas (me paroinon -- 1 Tm 3:2-3).
É razoável assumir que o apóstolo não poderia ter instruído a Timóteo para
requere abstinência dos líderes da igreja sem primeiro ensiná-lo com tal
princípio. O fato de que Timóteo tenha bebido apenas água, implica que ele
tinha sido seguido o conselho de seu mestre muito meticulosamente.
A abstinência de um ministro cristão era baseado, presumivelmente, na legislação
do Velho Testamento proibindo os sacerdotes de usarem bebidas intoxicantes (Lev.
10:9-10). O sentido natural poderia ser que um ministro cristão não deveria
ser menos santo que um sacerdote judeu, especialmente porque a razão para a lei
mosaica seria a mesmo: “Para fazerdes diferença entre o santo e o profano e
entre o imundo e o limpo e para ensinardes aos filhos de Israel todos os
estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio de Moisés.” (Lev. 10:
10-11) O princípio da abstinência não foi violado pela recomendação de
Paulo, porque o uso de um pouco de vinho era recomendado não para o prazer do
abdômen, mas como uma necessidade terapêutica do estômago.
O Tipo de Vinho. Admite-se, geralmente, que o vinho que Paulo recomendou
para Timóteo era alcoólico. Mas isto não é estabelecido por nenhum modo
exato, por duas razões. Primeiro, porque o termo oinos (“vinho”),
como mostramos, era usado de forma genérica para denotar tanto o vinho
fermentado como o não fermentado. Segundo, porque há testemunhos históricos
que atestam o uso de vinho não fermentado para propósitos terapêuticos.
Aristóteles (384-322 a.C.) recomenda o uso de um doce suco de uva, chamado glukus
no grego, porque, disse ele, “embora chamado vinho [oinos ], ele não
tem o efeito do vinho. . . e não é intoxicante como o vinho normal.”7
Ateneus, o gramático (280 d.C), aconselha, especificamente, o uso de “suco de
uva” não fermentado (glukon oinon) para doenças estomacais. Ele
escreve: “Deixai-o tomar um vinho doce, seja qual for, misturado com água ou
aquecido, especialmente aquele tipo chamado protropos, o doce glukus de
Lesbos, como sendo bom para o estômago; pois o vinho [oinos ] doce não
torna a cabeça pesada.”8 Aqui temos um aviso que repercute de modo
notavelmente semelhante ao de Paulo, com a diferença de que Ateneus qualifica o
tipo de vinho recomendado, ou seja, o vinho doce, chamado “lesbian”
porque seu poder alcoólico foi removido.
Uma advertência semelhante relativo ao uso do vinho como terapêutico é dado
por Plínio (79 a.D), um contemporâneo de Paulo e autor do célebre História
Natural. Ele recomenda o uso de um vinho não fermentado, fervido chamado adynamon
por pessoas doentes “para quem teme o vinho pode ser prejudicial”.9
Ele também recomenda prevenir os efeitos colaterais do álcool, usando vinhos
os quais o teor alcoólico tenha sido removido através da filtração: “Os
vinhos são muito benéficos quando toda sua força tenha sido superada pelo
coador”.10
À luz desses testemunhos, é razoável assumir que o vinho recomendado por
Paulo a Timóteo pode muito bem ter sido não fermentado. Ellen White apóia
esta conclusão, dizendo: “Paulo advertiu Timóteo para tomar um pouco de
vinho por causa de seu estômago e freqüentes enfermidades, mas ele se referia
ao suco de uva não fermentado. Ele não advertiu Timóteo a beber aquilo que o
Senhor tinha proibido”.11
ADMOESTAÇÕES PARA A ABSTINÊNCIA
As admoestações apostólicas relativas à abstinência são expressas através
do verbo grego nepho e do adjetivo nephalios (1 Tess. 5:6-8; 1 Ped.
1:13; 4:7; 5:8; 2 Tim. 4:5; 1 Tim. 3:2,11; Tito 2:2). É digno de nota a
unanimidade do léxico grego entre o significado primário do verbo nephocomo
“abster-se do vinho” e do adjetivo nephalios como “abstinente, sem
vinho”.12
Este significado é confirmado nos escritos de Josefo e Filo, que foram
contemporâneos de Pauloe Pedro. No seu “Antiquities of the Jews”
Josefo escreve dos sacerdotes: “Aqueles que se vestiam com trajes sacerdotais
estavam sem mancha e eram destacados por sua pureza e sobriedade [nephalioi],
não lhes sendo permitido beber vinho a partir do momento que eles estivesse
usando esses trajes do vestuário.”13 Semelhantemente, Filo explica
em seu “Special Laws” que os sacerdotes deveriam oficiar com nephalios,
ou seja, totalmente abstinentes de vinho, pois eles tinham que cumprir as
diretrizes da lei e deveriam estar numa posição para agirem como o último
tribunal terrestre.14
Se Josefo, Filo e uma grande quantidade de outros escritores usaram nepho/nephalios
como significado primário para “abstinente do vinho”, nós temos razões
para crer que Paulo e Pedro também usaram estes termos com o mesmo significado.
Esta conclusão é apoiada, como veremos, pelo contexto em que estes termos são
usados. Contudo estas palavras têm sido usualmente traduzidas de modo
figurativo no sentido de ser “temperante, sóbrio, equilibrado”. Essas traduções
incorretas têm corrompido muitos sinceros cristãos na crença de que a Bíblia
ensine a moderação no uso de bebidas alcoólicas, em vez da abstinência
delas. Examinemos algumas das admoestações apostólicas para abstinência.
1 Tessalonicenses 5:6-8. Em sua carta aos Tessalonisenses Paulo admoesta
os crentes para “serem sóbrios” tendo em vista a vinda súbita e inesperada
de Cristo, dizendo: “Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário,
vigiemos e sejamos sóbrios [nephomen]. Ora, os que dormem dormem de
noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam. Nós, porém, que
somos do dia, sejamos sóbrios [nephomen]. revestindo-nos da couraça da
fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação” (1 Tess. 5:
6-8)
Esta passagem consiste de um número de paraelos contrastantes: luz e trevas,
dia e noite, acordado e dormindo, sóbrio e embriagado. À luz desses contrastes
entre os filhos do dia que são sóbrios e aqueles da noite que são
embriagados, é evidente que a exortação para “ser sóbrio” não
signifique meramente para ser mentalmente vigilante, mas principalmente para ser
abstêmio fisicamente.
Esta conclusão é apoiada pela ligação entre sobriedade e vigilância:
“Vigiemos e sejamos sóbrios” (v. 6). O primeiro verbo, gregoromen,
refere-se à vigilância mental e o segundo, nephomen, a abstinência física.
De qualquer forma isto poderia ser uma repetição desnecessária (tautologia):
“Vigiemos e sejamos sóbrios”. É evidente que Paulo faz a ligação da
vigilância mental com a abstinência física, porque as duas andam juntas.
Vigilância mental no Novo Testamento é ligado, freqüentemente, como veremos,
com a abstinência física. Isto se tornará mais claro quando consideramos as
outras passagens em questão.
1 Pedro 1:13. A admoestação para a abstinência física, expresso através
do verbo grego nepho , ocorre outras três vezes na primeira epístola de
Pedro (1:13; 4:7;5:8). É importante notar que em todos os três textos, a
exortação de Pedro à abstinência é dada no contexto da prontidão pelo
iminente retorno de Cristo. Isto implica que Pedro, assim como Paulo, fundamenta
seu chamado a uma vida de abstinência e santidade na certeza e na iminência do
retorno de Cristo.
O primeiro uso de nepho por Pedro ocorre em 1 Pedro 1:13: “Por isso,
cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios [nephontes] e esperai
inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus
Cristo.” Aqui Pedro, como Paulo, correlaciona a vigilância mental
(“cingindo as vossas mentes”) com a abstinência física (“sede sóbrios”).
A advertência para “ser abstinente” assume uma forma radical em 1 Pedro
1:13 porque ele é seguido imediatamente pelo advérbio “teleios”,
que significa “perfeitamente” ou “completamente”. Assim, a tradução
correta é, “sede completamente ou perfeitamente abstinentes.” Muitos
tradutores, presumivelmente por causa de sua predileção em beber, escolheram
fazer de teleios um modificador do verbo seguinte elpisate (“esperai
inteiramente”), assim, traduzindo-o “esperai completamente” (RSV) ou
“espera até o fim” (KJV). Mas a expressão idiomática usada em outro lugar
no Novo Testamento para “até o fim” não é teleios em si, mas uma
combinação de mechri telous ou heos telous (Heb. 3:6, 14; 1 Cor. 1:8; 2
Cor. 1:13).
É notável que a Vulgata, a famosa tradução do latim de Jerônimo que
trabalhou como oficial da Bíblia Católica durante séculos, traduziu teleios
como um modificador de nephontes, assim, “sobrii perfecte”
(“perfeitamente sóbrio”). Na minha visão a tradução de Jerônimo reflete
exatamente a intenção de Pedro, que repetiu seu apelo à abstinência outras
duas vezes em sua epístola. Então, a tradução correta deveria ser: “Por
isso, cingindo o vosso entendimento, sede completamente abstinentes, e esperai
na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.”
1 Pedro 4:7. O segundo uso de nepho ocorre em 1 Pedro 4:7: “Ora,
o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos [sophronesate]
e sóbrios [nepsate] a bem das vossas orações.” Aqui Pedro exorta
outra vez os cristãos a serem mentalmente vigilantes e fisicamente abstinentes.
O significado de nephocomo abstinência ao vinho é sugerido, também,
pelo contexto, onde Pedro contrasta o estilo de vida passado de “dissoluções,
concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis
idolatrias” (1 Ped. 4:3) com o novo estilo de vida de temperança e abstinência.
A passagem pode ser parafraseada como segue: “O fim de todas as coisas está
nas nossas mãos; portanto seja sóbrio na mente e abstêmio na vida para que
possamos manter uma vida devocional saudável neste tempo crítico.”
1 Pedro 5:8. O terceiro uso de nepho ocorre em 1 Pedro 5:8:
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor,
como leão que ruge procurando alguém para devorar.” Da mesma maneira que nos
dois exemplos anteriores, Pedro também associa a vigilância mental com a
abstinência física, porque os dois são mutuamente dependentes. Bebidas
intoxicantes diminuem o poder da consciência e da razão, enfraquecendo assim
as restrições para praticar o mal. O resultado final é que Satanás é mais
competente “para devorar”, literalmente, cada pessoa “submetida a
bebida” (katapino).
O contraste entre nepsate (de ne piein, “não beber”) e katapiein
(de kata piein “beber de uma só vez”) foi reconhecido por Adam
Clarke, que comenta: “Não é todo indivíduo que pode ingerir. Aqueles que são
sóbrios e vigilantes são a prova contra isso; estes não podem ser devorados.
Aqueles que se embriagam com os cuidados deste mundo e não são vigilantes,
poderão ser devorados. Há uma beleza neste verso, e uma impressionável
justaposição entre as primeiras e as últimas palavras, que acho que não
foram notadas; -- Ser sóbrio, nepsate, de ne não e piein,
beber--não ingerir--e a palavra katapiein, de kata, de uma vez e
piein beber. Se você ingerir fortemente uma bebida, o diabo devorará você. Ouçam
isto, bebedores, bêbados, beberrões, seja lá qual for o nome conhecido na
sociedade ou entre seus companheiros--pecadores, bebida forte não é apenas o
seu caminho para o mal, mas o caminho do mal em você. Isto é como o mal
particularmente pode engoli-lo”.15
Resumindo, as cinco pasagens de nepho , duas de Paulo (1 Tess 5:6-8) e três
de Pedro (1 Ped 1:13; 4:7; 5:8), todas mostram com inacreditável consistência
o encorajamento à vigilância mental e à abstinência física. É também
significativo que todas as cinco passagens para abstinência foram dadas no
contexto da preparação para o iminente retorno de Cristo.
Nephalios como Abstinência Física. O adjetivo nephalios
é usado três vezes por Paulo em sua descrição das qualificações desejadas
dos bispos, mulheres e anciãos. O primeiro dos dois exemplos ocorre em 1 Timóteo
3:2,11: “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de
uma só mulher, temperante [nephalion], sóbrio [sophrona],
modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho [me paroinon]
. . . Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis,
não maldizentes, temperantes [nephalious], e fiéis em tudo.” O
terceiro exemplo é encontrado em Tito 2:2, “Quanto aos homens idosos, que
sejam temperantes [nephalious], respeitáveis, sensatos [sophronas],
sadios na fé, no amor e na constância.”
Anteriormente observamos que o adjetivo nephalios é usado por autores
contemporâneos como Filo e Josefo para denotar abstinência ao vinho. Esta
interpretação literal é apoiada pelo fato de que em 1 Tim. 3:2 e Tito 2:2 o
adjetivo nephalios ocorre juntamente com sophron, o primeiro para
denotar abstinência física e a segunda para vigilância mental. A ligação
entre as duas requer uma interpretação literal de nephalios, como
abstinência ao vinho
“Não Beber”. Alguns argumentam que a interpretação literal de nephalios
como abstinente é contestado pelo me par oinos , traduzido “não
beber” pela RSV. Eles argumentam que Paulo não poderia ter imposto ao bispo
primeiro para ser abstinente então para “não beber”, que é, o uso
moderado do vinho. Esta aparente contradição é resolvida reconhecendo que o
significado de paroinos vai além “adicionar vinho, embriagar-se”16
para complemntar a idéia de ser para “perto” oinos “vinho”, que
é, perto a um lugar onde o vinho é consumido. “O antigo paroinos ,”
como Lees e Burns explicam, “era um homem acostumado a freqüentar e a beber
em festas e, como conseqüência, ficava intimamente associado a bebida
forte.”17
Albert Barnes, um respeitado comentarista do Novo Testamento, explica o
significado de paroinos dizendo: “A palavra grega (paroinos ). .
. significa, propriamente, através do vinho; que é, falado daquele que toma o
lugar ou é envolvido pelo vinho, como em orgias, canções de bebedeira, etc.
Isto denota, como feito aqui, alguém que senta através do vinho; ou seja, está
habituado a beber. . .
Isto significa que alguém que está habituado a beber vinho ou que esteja
acostumado a sentar com aqueles que cedem nisto, não deveria ser admitido no
ministério. O modo no qual o apóstolo menciona o título aqui, deveria nos
levar a supor corretamente que ele não pretendesse recomendar seu uso em
qualquer sentido; o que ele observa como perigoso e que ele desejaria aos
ministros da religião para que evitassem isto completamente”.18
O significado de paroinos como “próximo do vinho”, ou seja,
aproximar-se de um lugar bebendo, é apoiado pelo léxico grego antigo e
moderno. O Lexicon Graeci Testamenti Alphabeticum, publicado em 1660,
define paroinos no Grego e no Latim como “para to oino, apud vinum”,
que poderia ser traduzido “próximo ou na presença do vinho”.19
Liddell e Scott definem a palavra próximo como “adequado a uma festa com
bebidas”.20
Entendido neste sentido, me paroinos não enfraquece nephalios.
Pelo contrário, isto o fortalece. O que Paulo está dizendo é que o bispo não
deveria ser apenas abstinente, mas também evitar sua presença e aprovação em
lugares e associações nas quais poderia tentar sua abstinência ou de outros.
Isto se ajusta muito bem à admoestação de Paulo em 1 Coríntios 5:11, “Mas,
agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão,
for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador;
com esse tal, nem ainda comais”.21
A razão fundamental dada por Paulo para viver uma vida abstinente e piedosa é
escatológica: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas,
vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a
bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador
Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade
e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”
(Tito 2: 11-14). Vida saudável e santa comentada na Escritura não é somente
por causa da saúde pessoal e da bondade, mas principalmente por causa do desejo
de Deus em morar conosco nesta presente vida (1 Cor. 3:16-17; 6:13) e no
companheirismo conosco na vida por vir.
É esta esperança de ser preparado para receber a Cristo e para ser recebido
por Ele no dia de Seu glorioso aparecimento, que deveria motivar a cada cristão
para “a si mesmo se purificar como ele é puro.” (1 João 3:3) É esta a
esperança que Pedro apela quando ele encoraja por vigilância mental e abstinência
física nos três textos examinados anteriormente. Ele admoesta para “cingindo
o vosso entendimento, sede completamente sóbrios” é seguido, imediatamente,
pela exortação “e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida
na revelação de Jesus Cristo” (1 Ped. 1:13)
Para os cristão que crêem na certeza e iminente Retorno de Cristo, as admoestações
apostólicas para abstinência às bebidas intoxicantes, assume significância
adicional: eles representam uma resposta tangível ao convite de Deus para fazer
uma preparação concreta para a Segunda vinda de Cristo.
CONCLUSÃO
Os ensinamentos bíblicos relativos ao uso de bebidas alcoólicas pode ser
resumido em uma sentença: a Escritura é consistente em ensinar a moderação
no uso saudável, de bebidas não fermentadas e à abstinência ao uso de
bebidas fermentadas intoxicantes. A implicação prática desta conclusão pode
também ser estabelecida em uma sentença: quando aceitamos os ensinos bíblicos
de que bebidas alcoólicas não são apenas prejudiciais, mas também moralmente
errado, sentiremo-nos compelidos a não sermos apenas abstinentes por nós
mesmos à substâncias intoxicantes, mas também a ajudar a outros da mesma
forma.
NOTAS
1. Rom 14:21; Efe. 5:18; 1 Tim 3:8; 5:23; Tito 2:3; Apoc. 6:6; 14:8; 14:10;
16:19; 17:2; 18:3, 13; 19:15.
2. Ernest Gordon, Christ, the Apostles and Wine. An Exegetical Study (Filadélfia,
1947), p. 20.
3. Citado por Eusébio, História da Igreja 2, 23, 4 ed. Philip Schaff e
Henry Wace, Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church (Grand
Rapids, 1971), vol. 1, p. 125. 1971), vol. 1 p. 125.
4. Uma investigação no estilo de vida de cada seita judaica cristã como os
Ebionitas, os Nazarenos, os Elkesiates e o Encratites, poderiam prover apoio
considerável à abstinência ao vinho fermentado na Igreja Apostólica. Um
pouco de informação nesta consideração é suprida por G. W. Samson, The
Divine Law as to Wines (Nova York, 1880), pp. 197-210. O valor da pesquisa,
porém, é reduzido pela falta de referências precisas.
5. The Interpreter's Bible (Nova York, 1970), vol. 11, p. 714.
6. Ernest Gordon (n. 2), p. 31.
7. Aristóteles, Meteorologica 387.b. 9-13.
8 Ateneus, Banquet 2, 24.
9 Plínio, História Natural, 14,18.
10. Ibid., 23, 24.
11. Ellen G. White, "The Marriage in Cana of Galilee", The Signs of
the Times (6 de setembro de 1899): 6.
12. Ver, por exemplo, G. W. Lampe, A Patristic Greek Lexicon (Oxford,
1961), s. v. “nepho ”; James Donnegan, A New Greek and English
Lexicon, 1847 edition, s. v. “nepho ”; Thomas S. Green, A
Greek-English Lexicon to the New Testament, 1892 edição, s. v. “nepho
”; E. Robinson, A Greek and English Lexicon of the New Testament (Nova
York, 1850), s. v. “nepho ”; G. Abbott-Smith, A Manual Greek
Lexicon of the New Testament, 1937 edição, s. v. “nepho ”;
Hesychius of Alexandria, Hesychii Alexandri Lexicon, 1858 edição, s. v.
“Nephalios”; Demetrios C. S. Byzantios, Lexicon Epitomou tes
Ellenikes Glosses, 1939 edição, s. v. “Nephalios.”
13. Josefo, Antiquities of the Jews 3, 12, 2, tradução William Whiston,
Josephus Complete Works (Grand Rapids, 1974), p. 81
14. Filo, De Specialibus Legibus 4, 183.
15. Adam Clarke, The New Testament of Our Lord and Saviour Jesus Christ.
(Nova York, 1938), vol. 2, p. 869.
16. Henry G. Liddell e Robert Scott, A Greek-English Lexicon, 1968 edição,
s. v. “paroinos ”
17. Frederick R. Lees and Dawson Burns, The Temperance Bible-Commentary (Londres,
1894), p. 367.
18. Albert Barnes, Notas, Explanatory and Practical on the Epistles of Paul
to the Thessalonians, to Timothy, to Titus and to Philemon (Nova York,
1873), p. 140.
19. Lexicon Graeci Testamenti Alphabeticum, 1660 edição, s. v. “Paroinos
.”
20. Henry G. Liddell e Robert Scott, A Greek-English Lexicon, 1968 edição,
s.v. “Paroinios” O mesmo significado é dado no moderno Léxico
Grego-Inglês de G. Giannakopoulou e E. Siapenou, Ariston Ellenoaggaikon Lexicon,
1971 edição, s. v. “Paroinos .”
21. Ênfase suprida.
Dr. Samuele Bacchiocchi (*)
Traduzido por Prof. Azenilto G. Brito (*)
Ministério Sola Scriptura
[Não confundir com solascriptura-tt]
(*) Nota de Hélio de M. Silva: Esta pessoa é ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, seita
combatida por nós neste site. O fato de citarmos as palavras de alguém não
necessariamente significa que temos a mínima identificação com seu autor em
áreas outras que o principal assunto da citação. Neste caso, discordamos
radicalmente e estamos em campos de batalha opostos, quanto a áreas extremamente
importantes. Somente estamos usando as palavras dessa pessoa por ela bem atacar
um grave erro. Leia nossa posição em
http://solascriptura-tt.org/ConfissaoDoutrinariaHelio.htm.
Só use as duas Bíblias traduzidas rigorosamente por equivalência formal a partir do Textus Receptus (que é a exata impressão das palavras perfeitamente inspiradas e preservadas por Deus), dignas herdeiras das KJB-1611, Almeida-1681, etc.: a ACF-2011 (Almeida Corrigida Fiel) e a LTT (Literal do Texto Tradicional), que v. pode ler e obter em BibliaLTT.org, com ou sem notas).
(Copie e distribua ampla mas gratuitamente, mantendo o nome do autor e pondo link para esta página de http://solascriptura-tt.org)
(retorne a http://solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/
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Somente use Bíblias traduzidas do Texto Tradicional (aquele perfeitamente preservado por Deus em ininterrupto uso por fieis): BKJ-1611 ou LTT (Bíblia Literal do Texto Tradicional, com notas para estudo) na bvloja.com.br. Ou ACF, da SBTB.